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EDUCAÇÃO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES PROFª. ESP. DÉBORA FELICE MATILHA “A Faculdade Católica Paulista tem por missão exercer uma ação integrada de suas atividades educacionais, visando à geração, sistematização e disseminação do conhecimento, para formar profissionais empreendedores que promovam a transformação e o desenvolvimento social, econômico e cultural da comunidade em que está inserida. Missão da Faculdade Católica Paulista A v. Cristo Rei, 305 - Banzato, CEP 17515-200 Marília - São Paulo. www.uca.edu.br Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. Todos os gráficos, tabelas e elementos são creditados à autoria, sal- vo quando indicada a referência, sendo de inteira responsabilidade da autoria a emis- são de conceitos. Diretor Geral | Valdir Carrenho Junior EDUCAÇÃO EM AMBIENTES NÃO ESCOLARES PROFª. ESP. DÉBORA FELICE MATILHA SUMÁRIO AULA 01 AULA 02 AULA 03 AULA 04 AULA 05 AULA 06 AULA 07 AULA 08 AULA 09 AULA 10 AULA 11 AULA 12 AULA 13 AULA 14 AULA 15 AULA 16 EDUCAÇÃO É PARA A VIDA REENCANTAR PARA A VIDA EDUCAÇÃO FORMAL, NÃO FORMAL E INFORMAL EDUCAÇÃO ATUAL OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO PARA O FUTURO QUATRO PILARES DO CONHECIMENTO OS SETE SABERES EDUCAÇÃO POPULAR E A LUTA PELA EDUCAÇÃO PARA TODOS PEDAGOGIA: CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS BRASILEIRAS LEGISLAÇÃO E ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES CAMPOS DE ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NOS AMBIENTES NÃO ESCOLARES CURADORIA DE CONTEÚDOS E MAPAS DE APRENDIZAGEM REPENSANDO A INTELIGÊNCIA A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO FERRAMENTA DO EDUCADOR A CONDUTA DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES 6 12 17 22 29 35 41 48 55 61 66 72 79 86 94 100 FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 4 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA INTRODUÇÃO Fonte: https://pixabay.com/illustrations/narrative-history-dream-tell-794978/ Nesta obra vamos procurar entender a atuação do pedagogo em espaços não esco- lares e como esta não é uma forma de atuação tradicional, precisamos fundamentar alguns conceitos primários e estabelecer algumas relações fundamentais. Para promover este caminho didático precisamos revisitar significados e rememorar o papel do educador nos diferentes processos formativos, suas diferentes abordagens e suas transformações durante o processo histórico. A educação como processo formativo que promove a integralidade humana é uma formulação contemporânea que começa a se realizar nos consensos científicos, na produção e execução de políticas públicas, na diversificação das legislações e na prática pedagógica escolar e extraescolar. A diversificação da atuação do pedagogo é resultado de um entendimento que relaciona diretamente a prática educativa de hoje com os enfrentamentos necessários para garantir a sobrevivência de nossa espécie no futuro. Precisamos corrigir rotas e encontrar novas direções para construir uma sociedade cada vez mais democrática e comprometida com a equidade e o respeito pela diversidade humana. Estas são urgências que o trabalho do educador precisa projetar em seu cotidiano profissional, atuando em espaços escolares ou não. https://pixabay.com/illustrations/narrative-history-dream-tell-794978/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 5 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA A expansão de um campo profissional produz sempre novas dificuldades e desafios, mas também promove novas competências e oportunidades. Quando um educador atua também em espaços não escolares ele experimenta métodos, transforma estratégias, reestabelece metas e amplia os horizontes da ciência da educação. No futuro estaremos hiper conectados através de campos de atuação virtual, mas precisamos garantir que nossas relações sejam reais e duradouras. Novas técnicas e suas tecnologias estarão a nosso dispor, mas não podemos e nem devemos depor de valores ancestrais que nos trouxeram até aqui. A educação para o futuro se realiza hoje e a educação do futuro precisa come- çar agora. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 6 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA AULA 1 EDUCAÇÃO É PARA A VIDA Pode-se considerar que o desenvolvimento e a aprendizagem estão inter-relacio- nados desde o momento do nascimento do ser humano. Mesmo antes de chegar à escola primária uma criança carrega consigo uma série de conhecimentos acumulados através de suas experiências iniciais. O modelo escolar é um processo racionalmente planejado e relativamente novo na história de nossa espécie. Trata-se de um ambiente artificialmente construído para produzir um efeito catalisador nesta capacidade de transformar experiências em conhecimento. Algumas das características que marcam a constituição atual deste ambiente como o controle e a sua sistematização curricular foram desenvolvidas no desenrolar da história de nossas organizações sociais e surgem de demandas que respondem a regimes políticos e diferentes modelos de interação social. Mas para pensar a educação como processo formativo humano é preciso ir além do modelo escolar. Para compreender profundamente o conceito de educação é impor- tante que saibamos que nossa espécie depende fundamentalmente do processo de aprendizagem, somos uma espécie que precisa aprender para sobreviver. Esta é uma realidade biológica que nos coloca em uma situação favorável em relação a muitos outros animais, mesmo entre os mamíferos. Nascemos com muito pouca autonomia e podemos afirmar que um bebê humano não pode sobreviver sem suporte parental por todos os anos de sua infância. Mesmo em comparação com os primatas nossa prole é muito menos preparada e desprovida de instintos básicos. Grande parte do sucesso de nossa espécie no planeta pode ser creditado à nossa capacidade de aprender e ensinar e não aos nossos instintos ou sentidos aguçados, como é o caso de outros predadores. Nosso diferencial sempre foi esta capacidade de nos organizarmos com coesão em grandes grupos sociais, tão grandes que hoje podemos ser contados aos bilhões. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 7 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA 1.1 Tecnologias primitivas e o processo formativo O ensino nos primórdios de nossa história como espécie se concentrava no desen- volvimento de habilidades básicas de sobrevivência e mais tarde com o advento da agricultura tratava de transmitir e apurar as técnicas necessárias à manutenção dos meios de sobrevivência das famílias ou clãs. É difícil reconhecer com exatidão quando o saber passou a fazer parte dos sistemas de educação, ou como uma parte do ensino se tornou responsabilidade de educadores e da escola. A aquisição do saber passa também por uma evolução, primeiro por especialistas que serviam a todos em determinado grupo, mas que não era privilégio de todos os membros deste grupo. Com o tempo surgiram os saberes dos artistas, magos, feiti- ceiros, artesãos e sábios da tribo. Entretanto, após a revolução neolítica, os homens passaram a dominar meios e técnicas que estabilizaram os grupos sociais e surgiram os profissionais de trabalhos simbólicos, com especialidades próprias. Mas foi a cerca de 10.000 a 15.000 anos atrás que vieram transformações na vida social. A agricultura é a prática mais antiga desenvolvida pelo homem. Desde o período Neo- lítico, técnicas e materiais para cultivar as plantas e confinar animais foram utilizadas levando o homem a se fixar em uma localidade, formando as primeiras civilizações. E, conforme essas sociedades ou civilizações se modernizaram em suas técnicas e tecno- logias, houve uma evolução, uma melhoria nas técnicas do manejo agrícola, o que levou à produção de excedentes, que mais tarde vai iniciar o desenvolvimento do comércio. Após as conquistas tecnológicas dos homos que nos antecederam, dos homens de Cro-Magnon que já utilizavam o fogo, construíam casas rústicas, caçavam, coletavam e se tornavamagricultores, pastores e criadores, de início para produzir a própria comida e só depois torná-las mercadorias para troca. É quando o homem domina a natureza e passa a formar suas aldeias, suas cidades, que o ensino se torna educação. É o homem neolítico que constrói aldeias que se tornam cidades, para se tornarem impérios. Essas Cidades serão guardiãs da riqueza do que se produzia no campo e do poder dos senhores destas riquezas. Com o tempo, para proteger estas riquezas e o poder, os senhores da cidade criaram o Estados, as milícias, a religião, as ciências e a arte, que levaram a multiplicar ofícios FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 8 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA e profissionais dividindo de um lado o emissário àquele que tem o poder, o que manda e, de outro, o responsável pela produção, ou seja, o que trabalha. A escola que era privilégio de nobres, sacerdotes, escribas, legisladores, passou pouco a pouco a dar lugar à educação popular como prática social, onde a reprodução do saber é comunitária e o indivíduo descobre o saber de como pode ser em um mundo de desigualdades. Do saber ensinado como segredo (exemplo: costumes de uma tribo) onde há os privilegiados, partimos para o saber de consenso, aquele saber erudito dominante onde o trabalho exige que se aprenda o necessário para melhor produzir na sociedade, daí levando a educação como a prática do saber e a escola o lugar físico para se conquistar tal saber. Há então um saber erudito onde o conhecimento é associado às diferentes formas de poder, e, o popular, onde as camadas subalternas da sociedade é que são alcançadas para seu melhor desempenho nestes ambientes. Desde o surgimento da linguagem, a educação em sua forma mais ampla passa a ser uma prática de sobrevivência, através dela o ser humano adquire habilidades e conhecimentos que são passados de geração em geração. As informações eram transmitidas de forma oral e espontânea pelos familiares, as lições eram sobre caça, pesca e as informações fundamentais para o cultivo do solo. Uma divisão educativa acontecia paralelamente à divisão do trabalho, pois havia a necessidade de instruir as pessoas conforme suas funções e atividades. Era preciso ensinar e treinar cada um para suas respectivas atividades e papéis a serem desempe- nhados: o homem, a mulher, os especialistas do sagrado, o responsável pela defesa, os grupos de produtores. Era preciso ensinar sobre a família como reprodutora da cultura e estabelecer o papel sexual e social de cada indivíduo. A magia e o mistério sempre foram temáticas importantes no processo formativo Relações causais e explicações sobre como as coisas funcionam, sempre foram ensinadas através de narrativas míticas que integravam e geravam sentido para a constituição da realidade local. Portanto, quando os primeiros modelos de instituições formais de educação sur- gem com os primórdios da civilização ocidental nas cidades-estados da Grécia Antiga, Esparta e Atenas, o ser humano já ensinava a sua prole há milhares de anos. O diferencial é que junto com as primeiras “instituições” nasce também a ideia de modelo formativo humano ou formação humana. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 9 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA Trata-se da ideia de que existe um modelo de formação ideal. No caso dos gregos, acreditava-se que seguindo este modelo seria possível produzir as virtudes funda- mentais que um cidadão necessitava. Entre os espartanos estas virtudes estavam relacionadas à guerra, mas para os atenienses tratava-se da arte, da retórica e do pensamento abstrato. Portanto, desde a época de sua fundação este modelo já apre- sentava divergências. Durante toda a idade média a educação formal esteve sob o jugo da igreja, e um cidadão que desejasse uma formação considerada superior precisava frequentar os monastérios ou grande abadias. Com as grandes navegações o modelo de educação fundamentado na escolástica medieval desembarca em terras que mais tarde se tornaram brasileiras. Em meados de 1549, chegam os primeiros padres jesuítas com a pretensa missão de catequizar a população indígena que aqui habitava e sua missão, posteriormente, passa a ser de instruir os filhos dos colonos, fornecendo-lhes meios de desenvolver a escrita, os conceitos matemáticos e geográficos. 1.2 - A condição humana e o processo permanente de formação A palavra educação se origina no latim EDUCARE, “Educação” que deriva de EX com significado de “fora”, “Exterior”, mais DUCERE que tem o significado de “instruir”, “condu- zir”, levar o indivíduo a olhar para fora e compreender criticamente o que está a sua volta. Todo processo formativo concentra-se no ensino e na interiorização das regras necessárias para o funcionamento de um sistema de relações sociais. O indivíduo como pessoa é formado por condições humanas, emocionais e necessita buscar condições para compreender a essência da sua existência, incluindo seu nascimento, crescimento, aspirações, conflitos, emoções e morte. Biologicamente podemos considerar o crescimento da criança como um processo de formação que leva de um ser imaturo a um ser independente. É a educação na infância e na juventude que faz com que os indivíduos desenvolvam suas capacidades pessoais e sociais. A imaturidade refere-se a esta potencialidade para o desenvolvimento das capacida- des, pois um bebê depende totalmente do adulto para sobreviver, e esta dependência parental revela sua fragilidade. Mas, com o tempo esse bebê vai se socializando com FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 10 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA outros seres e sua fragilidade vai sendo superada pela inteligência, desenvolve-se a linguagem, aprende-se o afeto. Esta proximidade com outros seres permite ao indivíduo potencializar suas capacidades, sua resistência e aprender a superar as dificuldades impostas pela natureza e pela sociedade. Sem dispensar a proteção adulta e através de seus laços sociais, a criança vai se tornando forte e seu aprendizado vai se aperfeiçoando. Existe na verdade nessa relação inicial entre a criança e seus pais uma Interdependência que prove afeto e sentimento de realização para os pais e as necessidades fundamentais para a criança. Podemos até mesmo afirmar que o sorriso de uma criança leva um adulto a ser mais sensível, menos duro e mais flexível, melhorando seu relacionamento até mesmo com outros adultos. Enquanto a criança aprende com o adulto a simpatia, o adulto se sensibiliza, trata-se de uma formação para a convivência. Mas é claro que neste processo também exis- tem as angústias, as frustrações, e muitas vezes, a educação precisa se concentrar em proteger a criança de vícios da corrupção do adulto para que isto não afete seu comportamento ou seu caráter. Para Vygotsky o aluno inicia seu aprendizado muito antes de chegar à escola e o aprendizado escolar é que vai introduzir elementos novos para o seu desenvolvimento. Pode-se considerar que a aprendizagem é um processo contínuo e a educação é carac- terizada pela qualidade de um nível de aprendizagem a outro. Sendo assim, o desenvol- vimento e a aprendizagem estão inter-relacionados desde o momento do nascimento. Portanto, o meio físico ou social influencia no aprendizado das pessoas, pois estas ao irem à escola já apresentam uma série de conhecimento, e a sala de aula se torna o local em que a criança desenvolverá esses conhecimentos. Concluindo, a condição humana e seu processo permanente de formação deverá ser analisada em diferentes perspectivas: religiosa, filosófica, histórica, estética (arte e literatura), antropológica, psicológica e biológica para compreendermos como poderá o ser humano em formação desenvolver suas capacidades pessoais e sociais. Isto está na rede No link abaixo poderemos conhecer a história de Dina Sanichar, conhecido como o menino lobo. Esta história nos relata a condição física,psíquica e emocional deste rapaz sem acesso a troca de experiência e aprendizagem e as consequências para nós. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 11 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA https://tinyurl.com/yyptdmf7 Isto acontece na prática Além da história de Dina Sanichar podemos conhecer sobre as meninas Amala e Kamala que foram privadas do contato humano por um período significativo de suas vidas. Com esses relatos temos a certeza que o desenvolvimento e a aprendizagem estão inter-relacionados desde o momento do nascimento do ser humano até o findar da sua existência. Assim com o correr do tempo esse desenvolvimento e aprendizagem se aperfeiçoa, e, se transforma como podemos refletir nesta aula. Portanto, a educação formal, não formal, direta ou indireta é essencial para o desenvolvimento do indivíduo se relacionar em sociedade. Hoje um ado- lescente ou criança que se envolve em situações ou apresenta condutas não adequadas na sociedade e na escola foram privados por seus familiares quanto ao conhecimento ético, moral e de empatia. Anote isso Atenção ao texto grifado Fonte: https://picjumbo.com/butterfly- -drinking-nectar-from-a-lavender-flower/ https://picjumbo.com/butterfly-drinking-nectar-from-a-lavender-flower/ https://picjumbo.com/butterfly-drinking-nectar-from-a-lavender-flower/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 12 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA AULA 2 REENCANTAR PARA A VIDA Na atualidade existe um evidente desencantamento das pessoas em relação à edu- cação. Trata-se de uma valorização excessiva do potencial pragmático deste processo como meio de ascensão social e de escolha profissional, ao mesmo tempo em que temos uma desvalorização notória da capacidade da educação em promover a autor- realização e a produção de sentido e propósito na vida das pessoas. Quando o processo educativo se restringe a cumprir tarefas instrutivas que dizem respeito ao preparo profissional e técnico ele torna-se incapaz de estabelecer um sen- tido compartilhado da realidade ou um sentido para a vida, algo como um propósito. Sem esta direção ou horizonte de sentido que sempre foi característica marcante dos processos educativos no passado, nós não conseguimos dar um mínimo de uni- dade ou convergência aos fatos e experiências, e passamos a viver em uma realidade fragmentada que nomeamos como cotidiano. Precisamos reconhecer este tipo de capacidade superior da prática educativa, mas para que ela possa ser colocada em prática, precisamos antes reencontrar consensu- almente sentidos para a vida. 2. 1 - Em busca de um sentido para a vida Muito do que consideramos como sentido para a nossa existência são apenas meios para garantir nossa sobrevivência. Não podemos ter como meta de vida somente o consumo de mercadorias e a capacidade de prover nosso sustento. Se a nossa relação de consumo com os recursos ou mercadorias assumir uma conotação de sentido último da vida, então somos conduzidos a viver um vazio insu- perável de propósito, o que produz um esvaziamento de sentido e a aniquilação da automotivação em busca da realização. O meio em que vivemos está em mudança constante, o que nos força a estar em processo de permanente adaptação. Os estímulos externos e as necessárias corre- ções de percurso diárias nos impulsionam a buscar o prolongamento da vida e a evitar FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 13 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA tudo que venha a ameaçá-la. Mas é preciso desejar mais do que estar somente vivo é necessário buscar sentir que vale a pena estar vivo. Precisamos interagir socialmente através da dimensão ética ou moral, sentindo que estamos plenos, libertos e em pro- cesso de autorrealização. Para que esta autorrealização humana aconteça é primordial diferenciar aquilo que é o certo do que é o errado e este tipo de reconhecimento precisa ser compartilhado com os demais. O ser humano entende que sua vida está plena de sentido quando suas ações são direcionadas por este sentimento ético de participação e transformação do mundo, através de suas próprias escolhas. Somos animais socialmente colaborativos e pre- cisamos deste tipo de propósito compartilhado para seguirmos de forma saudável o percurso de nossa vida. 2.2 - Em busca de um sentido para a educação Uma das características que imprime ao processo educativo uma dimensão transfor- madora diz respeito à nossa capacidade de usar símbolos linguísticos para transmitir significados e valores. Esta competência na manipulação e transmissão de significados é também o meio pelo qual criamos narrativas e estabelecemos consenso fundamental para criar a coesão e promover a paz, tanto para grupos sociais como para o próprio indivíduo em relação à sua atuação no mundo. Somos seres capazes de nos colocarmos na “pele mental” de outra pessoa, de modo que não só aprendemos com o outro, mas também através do outro. Isto nos permite lutar contra os impulsos egoístas, pois nos abrimos para o sofrimento das outras pessoas. Esta é uma das maravilhas do conhecimento humano. Esta forma específica de cognição que pressupõe a empatia é que nos dá a capacidade de promover a com- paixão, exercitar o amor desinteressado e a solidariedade. Somente este impulso de desprendimento pode impulsionar uma educação que revigore as relações, compartilhe sentido e propósito e reencante a todo momento a vida. A educação precisa ser capaz de ensinar que o sentido da vida não deve ser bus- cado e nem encontrado, mas sim produzido, inventado e criado. Por isso é necessário compartilhar o rigor da técnica e as metas profissionais com a função transformadora FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 14 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA e libertadora da arte. O processo educacional precisa ser capaz de levar o educando a conhecer e construir um sentido humanizado, que faça valer a pena lutar pela vida. Assim, necessitamos de uma educação capaz de fazer o indivíduo contemporâneo superar a cultura do consumo que só faz satisfazer as funcionalidades da vida. Temos a necessidade de entender o sentido das coisas, dos fatos humanos e das ações sociais. É necessário estar capacitado para explicar os confrontos ideológicos que enfrentamos como indivíduos e nação. 2.3 - O pensamento mítico Compartilhamos narrativas que estabelecem valores e propósitos para a vida, por- tanto, somos criadores e criaturas do reino do mito e da magia, mas também da razão e da técnica. Essa capacidade mítica nos confere uma dimensão de espiritualidade, que pode promover a paz e o entendimento, mas também a discórdia e o conflito. Os sistemas ideológicos capturam esta dimensão para produzir encantamento e engajar os indiví- duos em disputas políticas ou até mesmo para justificar guerras. Este encantamento muitas vezes pode ser promovido em relação ao consumo de objetos ou até mesmo pelo dinheiro. O encantamento pelo consumo provoca o desen- canto da vida e, portanto, da educação. É a força do mito que nos encanta e reencanta, mas é também ela que pode nos desencantar. Nosso pensamento mítico não pode ser extinto, mas pode ser educado para que mesmo a força destas narrativas compartilhadas não promovam a indiferença que produz a morte em nossa sociedade. É preciso superar essa cultura de consumo, assim como esta subordinação cega ao cálculo financeiro e às leis do mercado, caso contrário, o encantamento das mer- cadorias e a fé no mercado vão acabar por desencantar todo o resto. 2.4 - Reencantar para a sustentabilidade O reencantamento da vida através da educação é uma tarefa emergencial, haja vista que o modo como conduzimos nossas vidas e, portanto, nossa economia e nossas FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 15 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA atividades produtivas se dão muitas vezes de modo imediatista, o que inviabiliza o entendimento destageração como a provedora das próximas. Nosso consumo cada vez mais acelerado e as práticas irresponsáveis de nossa geração pode findar os recursos de nosso planeta e condenar as gerações futuras a um futuro sem esperança. Neste aspecto, o pensamento sustentável e o entendimento de nosso planeta como um lugar compartilhado com todos de nossa espécie, tanto do passado como do futuro é o motor que nos conduz a construir uma cultura para sustentabilidade. 2.5 - A sustentabilidade está relacionada a três dimensões: Ambiental: que é a preservação do ambiente. Onde nossa sociedade equilibra suas necessidades com o uso racional dos recursos naturais para não prejudicar a natureza. Social: relacionada ao desenvolvimento social, com a contribuição e participação ativa da população elaborando propostas para o bem-estar e igualdade de todos. Pre- servando a natureza. Econômica: explorando os recursos naturais sem prejudicar o atendimento às necessidades da futura geração. É urgente superar a cultura do consumismo para garantir nosso futuro e o de nosso legado humano. Por fim, quanto ao reencantamento da educação para a vida Sung (2012) nos mostra que se o processo educacional não for capaz de desenvolver conhecimentos e construir um sentido humanizado para a vida valer a pena, nada terá sentido. O importante é preparar o educando para uma nova maneira de ser e estar no mundo, um novo jeito de pensar, construindo-se com a vida cotidiana, com o saber, com a prá- tica, para assim abrir novas possibilidades, novos sentidos quanto aos fatos humanos e sociais que envolvem o nosso sentido de vida. Isto está na rede Escritores da liberdade, um longa-metragem de 122 min, dirigida por Richard LaGravenese, é um drama que se passa na cidade de Los Angeles e conta FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 16 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA a história de uma professora que por meio de sua atuação comprometida busca reestruturar a vida de jovens alunos. Isto acontece na prática No link abaixo poderemos ouvir a entrevista de 29 minutos e 6 segundos feita com dois professores pelo programa Trialogo. Neste programa o entrevistador buscou indicações de professores que encantaram e marcaram seus alunos, assim os reencantando para a vida. Após esse levantamento o apresentador chamou os entrevistados para partilhar essa experiência. Disponível em: https://youtu.be/HiUGIJLVPiI Anote isso Atenção ao texto grifado. Fonte: https://www.pexels.com/pt-br/foto/acao-apolice-biblioteca-contemporaneo-351265/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 17 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA AULA 3 EDUCAÇÃO FORMAL, NÃO FORMAL E INFORMAL As modalidades pelas quais consideramos a educação se dividem em não intencional e intencional. A não intencional se refere à educação informal ou paralela, enquanto a intencional se refere a não formal e formal. Educação Não Intencional I. Educação Informal ou Paralela Educação Intencional: I. Educação Formal II. Educação Não Formal A seguir descrevemos: 3.1- Educação Não Intencional Desde Marx e Engel que a educação é compreendida como produto do desenvolvi- mento social e é regida pelas relações sociais que interessa a cada sociedade. Mas, num sentido mais amplo a educação não está só relacionada aos fatores e interesses sociais como também as influências do meio natural que o homem vive. Há, portanto, na educação influências do meio natural e social. Os fatores relacionados ao clima, à paisagem e aos fatos biológicos e físicos vão influenciar para uma ação ativa na educação, enquanto os valores, ideias, costumes, religiões, organização social, sistema de governo, leis movimentos sociais, meios de comunicação social e práticas de criação dos filhos condicionam uma prática educativa. Uma boa parte destas influências são não intencionais e ocorrem de forma não sistemáticas e não planejadas, atuando na formação da personalidade do ser humano e com seu caráter informal atuam no processo de socialização. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 18 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA 3.2 - Educação Informal ou Paralela Como educação informal podemos considerar as nossas tradições culturais e comportamentais que fazem parte de cada comunidade, onde o agente educador são os pais, a família, os amigos, os vizinhos, colegas de escola, a igreja e os meios de comunicação em massa. Trata-se de uma educação que ocorre espontaneamente através de conversas, da exploração e ampliação de experiências vivenciadas no cotidiano, que não fazem parte dos espaços formais. Mesmo fora dos muros da escola este tipo de educação resulta em práticas, experiências e conhecimentos que não se vincula a uma instituição e nem são organizadas ou intencionais. Segundo Nassif (1980, p. 277 apud Libâneo, 2004 p.90), a educação informal se refere ao processo contínuo de aquisição de conhecimentos e competências não adquiridos num ambiente intencional como é a escola. As práticas educativas fazem parte do meio ambiente e os indivíduos precisam se adaptar nelas. Além do ambiente ou meio natural elas envolvem relações socioculturais e políticas da vida individual e coletiva, mas sem objetivos definidos de forma consciente, sem finalidades pré-estabelecidas. A não intencionalidade e não institucionalização da educação informal a faz ultra- passar as modalidades da educação formal e não formal quanto ao contexto da vida social, política, econômica e cultural do ser humano. Nos espaços de convivência social, na família, nas escolas, nas fábricas e nas instituições sociais, esta educação não intencional surge colaborando na aquisição de experiências, modos de pensar, normas de conduta, regras de convivência que vão repercutir na personalidade do indivíduo, levando-o assim aos processos educativos, que inevitavelmente influenciam na educação formal, intencional. 3.3 - Educação Intencional Ao se referir à formação como construção do homem, desenvolvendo sua consciên- cia crítica, suas qualidades intelectuais, estamos falando de uma educação com atos intencionados, isto é, de uma educação formal que determina então seus objetivos com certo grau de direção e estruturação, mas que depende, em certa medida, de ações não intencionais, como já afirmamos anteriormente. Isso nos faz perceber que a tomada FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 19 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA de consciência do contexto global da vida social requer da prática educativa processos orientados e objetivados, com conteúdo e ações para atender a estes objetivos, inves- tigando os efeitos dos elementos informais da educação nos processos cognitivos e nestes conteúdos e sua metodologia. Desse modo, é possível delinearmos para uma pedagogia crítico social, ou seja, formar o ser humano cientificamente para conquistar a consciência crítica, não se conformando apenas com o que lhe impõe seu meio social. A educação intencional surge com a complexidade da vida social e cultural, com a modernização das instituições, com o progresso técnico e científico que levam a neces- sidade de um maior número de pessoas ter que participar nas decisões e, portanto, dos processos educacionais. 3.4 - Educação Formal O termo “formal” implica tudo que é estruturado, assim sendo, a educação formal é aquela organizada, planejada, estruturada e sistematizada intencionalmente. A edu- cação formal é aquela que é dada na escola, onde o ensino é sistematizado. Contudo, pode ser encontrada fora do ambiente escolar, desde que se faça presente a intencio- nalidade, as condições previamente preparadas e a sistematização. A educação de adultos, a educação sindical e a educação profissional constituem exemplos desse tipo de educação formal. 3.5 - Educação Não Formal Denominamos de educação não formal aquela que tem intencionalidade, mas com um baixo nível de estruturação e sistematização,implicando relações pedagógicas não formalizadas. Exemplos: movimentos sociais do campo e da cidade, trabalhos comunitá- rios, animação cultural, o lazer envolvendo cinemas, praças, áreas de recreação e museus. É possível também encontramos a educação não formal, quando o professor decide levar os alunos para visitar espaços diferentes, tais como as feiras de ciências, as feiras culturais, os museus e os teatros, dentre tantos outros espaços de cultura. Provando assim que pode haver o intercâmbio entre o formal e o não formal. Temos ainda o exemplo de uma associação de bairro onde se é possível realizar uma educação não formal, mas que pode usar os procedimentos didáticos da educação formal, por FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 20 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA exemplo, quando promove um curso para as gestantes sobre o aleitamento materno tendo definido objetivos, conteúdos e métodos de ensino. A escola não pode deixar de lado a educação não formal sob pena de empobrecer a visão contextualizada da prática educativa escolar. Propõe-se aqui uma educação for- mal interligada com a informal. É a não intencionalidade da educação contribuindo para sua intencionalidade, desenvolvendo então o ser social em todas as suas dimensões. 3.6 - O papel da Família na educação A família é o primeiro e principal contexto de socialização do indivíduo, porque é no período inicial da existência humana que se estabelecem os fundamentos da per- sonalidade. É a família que liga o indivíduo à sociedade, ela é o seu primeiro grupo de pertencimento, por isso é impossível pensar em qualquer forma de organização social se o indivíduo é carente de estrutura familiar, e aqui não nos referimos a modelos de família e sim a necessidade de suporte parental estabelecido por figuras de confiança, pelas quais a criança consiga desenvolver afeto. Portanto, a família é vinculada à edu- cação não formal, mas também é responsável pela educação formal de seus filhos. Isto está na rede Neste curta metragem de 1 minuto e 2 segundos poderemos sistematizar a Educação formal, não formal e informal. https://youtu.be/2XwilFcV2Uw Isto acontece na prática Na construção da sociedade e pensando no desenvolvimento do aluno como pertencente à sociedade e agente transformador dela, cabe ao professor relacionar essas três formas de educação. Na escola buscando práticas de engajamento e métodos formais para a aprendizagem do aluno, na não formal, promovendo visitas a museus, parques temáticos e na educação informal se interagir com os familiares para conhecer a vida e suas relações fora da escola. https://youtu.be/2XwilFcV2Uw FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 21 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA Ao se interessar por seu aluno em suas relações e voltar a ele este olhar, per- cebo que ele se aproximará com mais confiança do educador assim refletindo na educação não formal e na formal. Muitos alunos considerados “problemas” com condutas inadequadas na sala de aula por muitos professores, ao se deparar com um professor que se interessa por ele, que busque conhecer sua essência se transforma dentro da sala de aula e busca melhorar por causa daquele educador que usou a educação não formal, a informal para galgar a formal. Anote isso Atenção ao texto grifado. Fonte: https://pixabay.com/illustrations/paper-messy-notes-abstract-3033204/ https://pixabay.com/illustrations/paper-messy-notes-abstract-3033204/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 22 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA AULA 4 EDUCAÇÃO ATUAL O processo educativo ainda guarda todas estas funções ancestrais já colocadas, mas hoje precisamos conviver em meios muito mais complexos e estamos rodeados por um número muito maior de dilemas morais e éticos. Nossas escolhas precisam se funda- mentar em um número muito grande de informações e de conhecimento prático/teórico. Produzimos novas tecnologias a todo instante e as mudanças na sociedade na forma de pensar do indivíduo estão em constante mudança. Nossa educação precisou, portanto, superar esta visão limitada de preparar o indivíduo para tarefas cotidianas, necessitando transformar-se para capacitar as pessoas para a convivência em ambien- tes repletos de diversidade Cada vez mais a educação do século XXI deve necessariamente conduzir o indivíduo para uma formação ampla e humanística, capaz de ensinar a compreensão de fenô- menos complexos e produzir autonomia. A busca pela automotivação na necessidade de aprender e se qualificar. Já não podemos pensar sequer em uma educação voltada somente para as imposições pro- fissionais, pois muitas delas não mais existirão no futuro. Existem questões fundamentais e emergenciais que precisam promover a educa- ção como um processo que permita à construção de uma realidade social mais justa e menos excludente. Trata-se da produção de uma ideia de educação feita para todos e que alcance a todos. A educação nos tempos atuais toma um caráter de manutenção e transformação de um futuro que se mantivermos a mesma conduta trilhada até o presente momento, pode ser sombrio. As questões relacionadas com a sustentabilidade de nosso planeta e nossa capaci- dade de produzir e reproduzir coesão social podem estar em jogo. Nos últimos séculos caminhamos velozmente em direção ao progresso, em busca da prosperidade. Contudo, já não temos como continuar explorando recursos terrestres da mesma maneira e como a mesma voracidade com que fizemos no passado. Nossa coesão social tem se baseado em uma prosperidade criada pelo crescimento constante e pela distribuição FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 23 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA dessas riquezas. Já existem sinais que demonstram que esta estratégia se encontra esgotada ou precisa de um ponto de inflexão. Se faz necessário garantir a presença de alguns valores em nossos sistemas educa- tivos para que consigamos encontrar soluções para os dilemas que nos são impostos como espécie, tais valores devem contemplar: 4.1 - Educação para a equidade Precisamos ensinar e conquistar a equidade nos sistemas de educação universa- lizada. É preciso promover a educação de qualidade para todos e de forma exemplar ensinar a equidade em nossas relações sociais. A educação de qualidade precisa estar disponível para todos no planeta, mas que para isso aconteça precisamos ensinar a equidade como um valor fundamental. Para realizarmos a equidade precisamos aprender coletivamente sobre sua impor- tância e sua capacidade de garantir nosso futuro como espécie. A BNCC (Base Nacional Curricular Comum) tem por objetivo promover a qualidade e equidade na educação, pois todos devem ter os mesmos direitos de aprendizagem, não importa a que classe socioeconômica e cultural pertença e até mesmo em que local estudam. Para isto acontecer os Estados e Municípios devem reelaborar os currículos tanto da escola pública como da privada, dar formação continuada para professores e revisar os projetos pedagógicos destas instituições. 4.2 - Educação para a diversidade Precisamos ensinar o respeito à diversidade, promover a inclusão dos saberes diver- sos para que possamos promover o enfrentamento da discriminação e do preconceito. Precisamos cuidar para que a educação de hoje garanta um futuro onde a diversidade de ideias e as diferenças possam tornar-se um elemento enriquecedor e combustível para a criatividade Sendo assim, a inclusão destes saberes diversos e o enfrentamento da discriminação e do preconceito, como apresenta a LDB (Leis de Diretrizes e Base) estão condicionadas à inclusão de aspectos da história e cultura indígena e negra que muito contribuíram na área social, econômica e política de nosso país. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 24 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA 4.3 - Educação para a democracia Quando ensinamos a equidadee a diversidade já estamos capacitando as pessoas para a convivência pacífica e colaborativa, mas é preciso também capacitar as pessoas nos valores republicanos, instruindo sobre as formas de poder e participação de nossa sociedade. É preciso que a educação prepare toda uma nova geração para a tomada de decisões políticas. Educar para a democracia implica duas dimensões: (1) a formação para valores republicanos e democráticos levando ao conhecimento do poder que rege nossa sociedade e suas mudanças culturais; (2) a formação para se tomar decisões políticas, pois ninguém nasce sabendo ser governante ou governado. Os conhecimentos devem balizar nossa relação enquanto indivíduos, uns com outros e com os governantes. 4.4 - Educação: conservar e progredir A Educação sempre se caracterizou pela necessidade de uma meta dupla: é neces- sário conservar e progredir. 4.4.1 - Educação para conservar A capacidade de conservar as tradições culturais e religiosas ligadas aos grupos sociais e suas necessidades organizativas que produzem estabilidade social e promo- vem a coesão entre as pessoas. Esta meta é fundamental para permitir a construção do sentido de unidade, sem este tipo de produção de sentimento de pertencimento ao coletivo não se consegue afirmar conceitos importantes como identidades grupais e até mesmo o sentido de nação que precisa estar presente no imaginário das pessoas para que elas colaborem e compartilhem valores e sistemas suficientemente eficientes para produção de governos e mandatos. A educação como produtora de identidade e meio de disseminação de ideias e iden- tidades que orbitam as necessidades da organização social. Esta é uma das questões fundamentais dos esforços coletivos na construção de espaços escolares e ambientes FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 25 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA formais pensados para os processos didáticos. Neste tipo de abordagem, o processo pedagógico sempre foi um importante meio de estabilização social. Este papel já foi largamente utilizado através das escolas e suas variantes, tendo como fundadores os religiosos com suas metas confessionais e doutrinárias. Assim, podemos dizer que apesar do paradigma científico ter se tornado o fio condutor do processo pedagógico, o ensino de valores e a transmissão de tradições permanece presente em toda a prática educativa de qualquer escola ou faculdade. Anteriormente já chamamos à atenção para os perigos deste tipo de meta conser- vadora do processo educativo, mas na realidade esta será sempre uma necessidade real de qualquer programa curricular. Isto fica evidenciado na necessidade urgente de qualquer esforço escolar em produzir cidadãos engajados e participativos nos modelos atuais de organização social além de um esforço notório dos modelos educacionais em promover a adaptação e a conformidade dos cidadãos com as regras de conduta e o seguimento das leis aceitas por este agrupamento em seus diferentes níveis como cidades, estados ou até mesmo nações. 4.4.2 - A armadilha do dogmatismo A educação quando se volta somente para a dimensão conservadora de defender a tradição e exigir conformidade pode se transformar em um processo de doutrina- ção baseado em dogmas que se fortalecem e estagnam a sociedade, promovendo a manutenção de práticas de opressão e condições de exclusão. Esta educação unidimensional normalmente torna-se ufanista e proselitismo de valores que rechaçam a diversidade e suas nuances. Trata-se de uma prática que inviabiliza a democracia em um de seus pilares mais basilares, que é a aceitação e o diálogo entre os indivíduos e seus grupos identitários. 4.4.3 - Educação para progredir A educação também possui uma abordagem transformadora, crítica e emancipadora que permite a transformação de regras, modelos e práticas sociais injustas ou ineficientes. Este tipo de abordagem da educação precisa produzir um ensino que forme pessoas adaptadas ao convívio social, mas também preparadas para reavaliá-lo e FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 26 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA propor transformações, mudanças de sentido ou atualizações nas regras ou com- portamentos vigentes. É preciso, portanto, imprimir ao processo educativo a capacidade de atualização destas identidades e práticas sociais e uma competência ao indivíduo para superar as limitações e as injustiças inerentes aos modelos ou práticas sociais vigentes. Esta meta transformadora também é o motor inovador da sociedade, uma educação que permita o novo, que deseje e cultive a transformação é uma educação que cultiva o futuro e o mundo que ainda estamos por construir. As constantes mudanças tecnológicas e a velocidade da atualização de práticas sociais relacionadas aos aspectos morais e comportamentais são pressões inerentes à educação no que diz respeito a este aspecto do progresso. Tais pressões também se direcionam num sentido de que a educação extrapola os ambientes escolares e acadêmicos e se faz presente em ambientes que antes eram entendidos como exclu- sivos do trabalho. O processo de ensino-aprendizagem contemporâneo precisa dar conta das deman- das dos novos letramentos e do desenvolvimento de competências que habilitem os alunos ou estudantes a buscar uma atitude de abertura às novas tecnologias, capaci- tando-os ao bom desempenho, em uma estrutura social que passa por transformações vertiginosas e cada vez mais aceleradas. Por isso este processo não pode mais estar confinado aos ambientes escolares ou estritamente aos espaços acadêmicos. Faz-se necessário uma atuação pedagógica e programática atrelada à busca cotidiana do indivíduo que consiga direcioná-lo a um permanente aprimoramento. 4.4.4 - A armadilha da Liquidez da Modernidade Uma educação unidimensional somente voltada para a renovação ou com um viés futurista pode cair na armadilha da liquidez, nos termos criados pelo sociólogo Zyg- munt Bauman (2000). O conceito de liquidez apresentado por este autor denuncia a forma como valores e relações podem assumir uma característica líquida, de perma- nente adaptação e transformação o que inviabiliza a capacidade humana de construir comunidade ou aprofundar relações de afeto e respeito. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 27 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA Construir o futuro deve ser uma tarefa que coaduna o respeito ao passado dos nos- sos ancestrais e a consideração pelos habitantes do futuro. Trata-se de um equilíbrio difícil, mas necessário e que deve contemplar questões fundamentais, tais como o meio ambiente e a sustentabilidade do planeta. Enfim, a educação nos dias de hoje em suas especificidades precisa educar o ser humano por inteiro, para atender às necessidades e expectativas que vão surgindo nas instituições e às mudanças que ocorrem na sociedade de forma global e local. Isto está na rede Neste link, através de uma entrevista do apresentador Jô Soares com o edu- cador Roberto Carlos Ramos, apresenta a educação e suas transformações em sua vida. https://youtu.be/WtjvG3aKhSU Isto acontece na prática “Roberto Carlos nasceu em uma família muito humilde da capital mineira, sendo o mais novo de 10 filhos. Viveu com a família até os seis anos de idade, quando, passando muitas necessidades, e sem ter como os pais criar tantos filhos, foi separado de seus irmãos, onde cada um seguiu um destino diferente. Roberto foi entregue por sua mãe a uma instituição, a Fundação para o Bem-estar do Menor (Febem), que mais tarde tornou-se a Fundação CASA onde desesperada, sua mãe possuía a esperança de que lá pudesse garantir um futuro melhor para o filho. Falava-se na época que a Febem era uma instituição pre- ocupada com o bem-estar das crianças -- era o local onde recebiam boa alimentação e educação escolar. A mãe e o filho estavam esperançosos, embora tristes por se separarem. O menino pensava que estava deixando para trásuma vida miserável, e a mãe achava que um dia pode- ria reencontrar o filho, e que ele seria um grande doutor (ROBERTO CARLOS RAMOS). Até os treze anos Roberto Carlos viveu na Febem entre fugas e retornos. Teve 132 fugas registradas, não se alfabetizou, envolveu-se com drogas e em atos infracionais pelas ruas de Belo Horizonte. Foi classificado pela instituição https://pt.wikipedia.org/wiki/Febem https://pt.wikipedia.org/wiki/Funda%C3%A7%C3%A3o_CASA https://pt.wikipedia.org/wiki/Funda%C3%A7%C3%A3o_CASA https://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9dico https://pt.wikipedia.org/wiki/Alfabetiza%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/Droga_il%C3%ADcita https://pt.wikipedia.org/wiki/Belo_Horizonte FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 28 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA como “irrecuperável”. De volta À instituição foi adotado em 1978, aos treze anos, por uma pesquisadora francesa, Margherit Duvas que estava visitando a Febem para sua tese de Doutorado e acabou se encantando pelo menino, e comovida com sua história de vida entrou na justiça para adotá-lo e lhe dar uma nova chance de vida. Ela passou a viver em Belo Horizonte, pagou seus estudos e tratamento contra as drogas. Um ano depois, em 1979, já alfabetizado, Margherit conseguiu oficialmente a guarda de Roberto e o levou para a cidade francesa de Marselha, onde o menino aprendeu a falar francês e concluiu os estudos. Roberto viveu nesta cidade por sete anos, até 1986, ano que completou vinte e um anos, ficando muito abalado pelo falecimento de sua mãe. Decidiu então deixar a Europa para retornar ao Brasil, onde conseguiu passar no vestibular e cursou Pedagogia na Universidade Federal de Minas Gerais. Ao concluir o curso, retornou à Febem como estagiário e adotou lá o primeiro dos 13 filhos que veio a adotar ao longo de sua vida. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Roberto_Carlos_Ramos Anote isso Atenção ao texto grifado. Fonte: https://unsplash.com/photos/YvLd3xbo0ac https://pt.wikipedia.org/wiki/Ado%C3%A7%C3%A3o https://pt.wikipedia.org/wiki/1978 https://pt.wikipedia.org/wiki/Fran%C3%A7a https://pt.wikipedia.org/wiki/Doutorado https://pt.wikipedia.org/wiki/1979 https://pt.wikipedia.org/wiki/Marselha https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_francesa https://pt.wikipedia.org/wiki/1986 https://pt.wikipedia.org/wiki/Europa https://pt.wikipedia.org/wiki/Brasil https://pt.wikipedia.org/wiki/Vestibular https://pt.wikipedia.org/wiki/Pedagogia https://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade_Federal_de_Minas_Gerais https://pt.wikipedia.org/wiki/Universidade_Federal_de_Minas_Gerais https://pt.wikipedia.org/wiki/Roberto_Carlos_Ramos https://unsplash.com/photos/YvLd3xbo0ac FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 29 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA AULA 5 OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO PARA O FUTURO A chave para abrir as portas do século XXI está no ato de englobar os processos educacionais que levam as pessoas, da infância ao fim da vida, a um conhecimento dinâmico do mundo, dos que estão ao seu redor e de si mesmos. Contudo, não podemos deixar de valorizar e dar importância aos espaços e tempos de educação moderna, para chegar ao equilíbrio pessoal e social, cultural e econômico, destacando uma educação ao longo da vida, isto é, uma educação para o futuro. 5.1 - Educar ao longo da vida para combater as desigualdades de oportunidade Com esta educação temos mais oportunidades, devido às alterações na vida social e progressos das ciências e da tecnologia para todos se beneficiarem da diversidade do patrimônio cultural mundial, e, ao mesmo tempo, de sua própria história. Até mesmo os adultos procuraram entrar em escolas para suprir suas necessidades sociais. A família é a primeira responsável por educar uma criança. Assim sendo, cabe a ela assegurar a ligação entre o cognitivo e o afetivo, transmitir os valores e normas, para que este ser humano possa, posteriormente, aproveitar as oportunidades oferecidas pela sociedade em que vive. Esse tipo de educação, ao longo da vida, é que colabora para a educação futura. A educação ao longo da vida é tratada no relatório Delors (2012) como responsável pela formação total e subjetiva fazendo do indivíduo um cidadão do mundo e com responsabilidades individuais e coletivas para o bem da sociedade e deste mundo. Neste relatório, Delors (1998) enfatiza os problemas educacionais e sociais rela- cionados à pobreza, à exclusão e ao desemprego dos indivíduos, como responsável pelas tensões e conflitos, e, se resolvidos, formaremos pessoas capazes de mudar sua FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 30 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA realidade, superar suas dificuldades e criar suas oportunidades, o que nos é apresentado pela educação que não tem começo e nem fim. Contrabalanceando as relações econômicas e tecnológicas trazidas pelo mundo da globalização, a proposta desta educação deverá resgatar o caráter humano de convi- vência social, fortalecer os vínculos entre as pessoas e contribuir para a humanização das relações. O processo de educação do futuro depende do sujeito ser um indivíduo crítico e empreendedor enquanto cuida da sociedade, e que ao mesmo tempo trabalhe para o desenvolvimento econômico e social através de suas ações. A educação necessita de novos sentidos e novos olhares para formar o homem para o século XXI. O papel da educação frente às novas realidades econômicas, políticas e culturais busca a compreensão da situação histórico social global em que o indivíduo se insere e atua. Desenvolver o ser humano em sua razão para inseri-lo na vida social, o domínio deste ser sobre a natureza, as transformações históricas pela ação humana, o progresso da ciências, a capacidade do homem em gerir seu próprio destino tendo autodomínio e se comprometendo com o destino da história pensando e sendo crítico é o que esperamos da educação para o futuro. Diante da desconfiança implementada pela noção modernista do que se refere a uma vida pública, à recusa de lutar pela igualdade e liberdade tem motivado a educação a rever suas estratégias, a fim de poder subsidiar as escolhas do ser humano, frente às vivências democráticas. A escola, nesse sentido, assume um lugar de luta pela justiça social e pela liberdade. 5.2 - Garantir a educação de qualidade Além deste processo de construção democrática, deve haver políticas educacionais sólidas, que proporcionem uma melhor qualificação da escola pública e o resgate do prestígio do profissional na área da educação. A racionalidade moderna apresentou seus valores, mas também acarretou injustiças, desigualdades, ilusões e exclusão social. Esperamos que a pós-modernidade, nos ajude a fazer cobranças quanto ao que a modernidade prometeu e não cumpriu, garantindo a formação intelectual e afetiva através do conhecimento científico e tecnológica, o FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 31 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA investimento na liberdade subjetiva, na autonomia do aprendiz, além da formação para conquistar sua cidadania crítica e participativa, sem desconsiderar o valor do educador com suas experiências e como parceiro para o educando ter suas capacidades cogniti- vas e operacionais desenvolvidas. O que vai fazer nossa educação futura e para o futuro. Com as transformações do mundo contemporâneo ocorridas na sociedade, na política, na economia e nas culturas os sistemas educacionais e de ensino também foram afetados. As urgentes transformações, incluindo a globalização do mercado, a revolução nas comunicações e na informática, as mudanças nos meios de produção com novos processos de trabalho, as alterações relacionadas ao campo de valores e atitudes constituíram um sistema de economia mundial que pede a reciclagem na educação. A educação deve assumir seu papel no interior dessas mudanças, no sentido de oferecer um conhecimento com qualidade: a formação de seres humanoscapazes de atuar, intervir e analisar de forma crítica o mundo por meio da ação criativa. A educação não pode deixar a escola se tornar uma instituição sem a preocupação com a qualidade. O estado, por sua vez não pode deixar de apoiar esta instituição para garantir a qualidade, que é o que acontece em tempos atuais. Numa época de tantas mudanças temos possibilidades de determinar os objetivos da educação nas perspectivas do futuro e compreender o país num contexto global, adotando estratégias de superação das desigualdades sociais, fortalecendo os espaços de participação sociais, dando condições de saúde, de emprego e de educação básica. Enfim, para o futuro deve-se preparar o ser humano para o mundo do trabalho, oferecendo-lhe uma formação geral e uma preparação tecnológica para ser capaz de tomar decisões. Isso implica em formar este ser humano para a cidadania crítica tornando-o capaz de intervir na realidade e transformá-la não sendo formado apenas para se integrar no mercado de trabalho. A escola deve investir nos alunos para que saibam lutar pela justiça social no momento certo, motivar sua cidadania e torná-los competentes, críticos e produti- vos. Que tenham uma participação social nos interesses comunitários do bairro da região, das organizações civis e até mesmo das entidades não governamentais. Para desenvolver competências quanto às relações grupais ou intergrupais, de liderança, de iniciativa, de solução de problemas e em processos democráticos e eficazes para a tomada de decisões. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 32 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA 5.3 - Educar para a o comportamento ético Um dos pontos fortes para a educação do futuro é a formação ética, que leva à formação dos valores e atitudes para o ser humano interagir no mundo da política, da economia, do consumismo, do sexo, das drogas, da devastação ambiental, da violência e das formas de exploração no capitalismo. Deve haver uma reabilitação da sociedade quanto à esfera pública, cada um participa das decisões sem que haja imposição, dialogando e buscando um consenso com o uso da razão e das normas jurídicas, compartilhando com o bem comum e se relacionando com o outro. Levando em conta as organizações ultratecnicistas do futuro, o relacionamento entre os seres humanos poderá criar vários problemas de interação, o que pede novas qualificações, a partir de uma perspectiva mais comportamental do que intelectual, atendendo também à demanda dos não diplomados, dos que têm um despreparo no curso superior, pois a intuição, o jeito, a capacidade de julgar e de manter uma equipe unida não é qualidade só daqueles que têm estudos superiores qualificados. Este será o olhar para a educação do futuro, a saber, qualificar o ser humano para desenvolver ações comportamentais eficientes num contexto que necessitamos também do desen- volvimento intelectual. Quanto ao educador, podemos dizer que ele compartilha do mundo cultural e cien- tífico, mas suas condições de trabalho e salariais não permitem com que ele participe da produção cultural e artística do mundo das teorias e dos discursos, restando-lhe os treinamentos ou o uso de meios de comunicação como a TV. Ele é difusor da cultura e ao mesmo tempo consumidor da informação eletrônica, portanto pode-se tornar indiferente às mudanças da sociedade contemporânea que afetam sua vida e de seus alunos. Precisamos enfrentar as mudanças produzidas pela sociedade industrial avançada e formarmos o cidadão crítico utilizando a formação geral e a técnica ampla, para desenvolver o pensamento abstrato e que abrange todos os ângulos com uma flexi- bilidade intelectual e a capacidade de responder com criatividade às novas situações, para caminharmos rumo à educação do futuro. Para isto há a necessidade do professor para o futuro ser muito bem preparado. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 33 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA 5.4 - Investir na educação Professores bem formados devem ter condições materiais e culturais bem estabe- lecidas para poder compartilhar com a escola e os educandos uma transformação na educação do futuro, onde levarão à inserção do país num contexto de mundialização, de educação aos processos de transformações científicas e tecnológicas, de reorien- tação ético valorativa, enfrentando questões físicas e materiais da escola, problemas profissionais e de gestão da escola, assim como os estruturais que envolvem a pobreza, a miséria e o desemprego. A melhor qualidade do ensino para a educação futura, exige o compromisso pedagó- gico, a melhoria das práticas de gestão da escola que anteriormente fixavam no caráter centralizador e autoritário, e, por outro lado, com a perda desta autoridade, da compe- tência e da responsabilidade levaram os dirigentes do processo educativo a perder o equilíbrio entre o lado político e o lado técnico, causando mais uma lacuna negativa na educação, quando não mais planejavam e nem direcionaram suas estratégias. Portanto, os processos democráticos de gestão devem ter sua eficácia nos órgãos centrais e intermediários do sistema insistindo na formulação de políticas e diretrizes quanto à estrutura física e material da escola, quanto ao currículo, assistência peda- gógica ao professor, supervisionar e avaliar todo o processo de ensino aprendizagem. Não será possível prepararmos para a modernidade, para o futuro, se não houver um investimento grandioso na educação formal, para conquistar habilidades, proce- dimentos, atitudes e convicções. Somente por meio de investimentos em inovações pedagógicas, articulando o ensino sistematizado com o processo de construção de conhecimentos, com as experiências do mundo vivido pelo educando que será possível construir uma educação do futuro, conforme já tratamos anteriormente. Isto acontece na prática Encontraremos na rede diversas histórias como do estudante Wester Silva Vieira que sempre estudou no sistema de escola pública e continuará na universidade pública ao passar em quarto para cursar medicina. De uma família humilde a reportagem conta sua história de dedicação e esforço para alcançar tal objetivo. Mas além de sua dedicação, fala sobre a importância da educação de qualidade com professores que trabalham com foco em uma educação que transforma a vida de seus educandos, fala do papel do FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 34 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA professor em lhe ajudar a encontrar os caminhos certos do estudo e sobre a importância deste ensino que busca incentivar, transformar e construir alunos críticos, inovadores e construtores de seu futuro. Confira a reportagem de Wester no link abaixo. Disponível em: https://vestibular.uol.com.br/noticias/redacao/2015/02/12/ ex-aluno-de-escola-publica-conta-como-passou-em-4-faculdades-de-medi- cina.htm Anote isso Atenção ao texto grifado.. Fonte: https://pixabay.com/vectors/court-house-government-capitol-25061/ https://vestibular.uol.com.br/noticias/redacao/2015/02/12/ex-aluno-de-escola-publica-conta-como-passou-em-4-faculdades-de-medicina.htm https://vestibular.uol.com.br/noticias/redacao/2015/02/12/ex-aluno-de-escola-publica-conta-como-passou-em-4-faculdades-de-medicina.htm https://vestibular.uol.com.br/noticias/redacao/2015/02/12/ex-aluno-de-escola-publica-conta-como-passou-em-4-faculdades-de-medicina.htm FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 35 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA AULA 6 QUATRO PILARES DO CONHECIMENTO O próximo século vai nos oferecer novos meios e tecnologias para circular, comu- nicar e armazenar as informações em uma escala nunca sonhada pela humanidade. O processo educativo precisa ser capaz de transmitir o saber e adaptá-lo a esta nova civilização cognitiva, ensinando hoje competências fundamentais para o amanhã. Portanto, cabe à educação futura fornecer os mapas para este mundo complexo em que viveremos.A educação praticada hoje precisa ser uma bússola que vai permitir o ser humano navegar neste novo mundo. Precisamos eliminar o paradigma da educação quantitativa que fabrica uma baga- gem escolar cada vez mais pesada. Não basta mais acumular conhecimentos, preci- samos aprender a nos adaptar a este mundo de mudanças. Para termos êxito nessa missão, a educação deve se organizar em torno de aprendiza- gens fundamentais que vão acontecer durante todo o percurso da vida de uma pessoa. A escola atual se preocupa muito com o aprender a conhecer e o aprender a fazer, mas tem deixado de lado outros aspectos que consolidam uma educação global. Precisamos que uma abordagem pedagógica produza de uma aprendizagem global tanto no plano cognitivo como no prático, desenvolvendo o ser humano como pessoa e membro ativo da sociedade. Para enfrentar os desafios do próximo século precisamos refazer e realinhar nossos objetivos. É urgente descobrir como reanimar e fortalecer a criatividade, revelando o tesouro escondido em cada um, superando a visão puramente instrumental da educa- ção, ensinar a plenitude, a realização e a humanidade em sua totalidade. Não podemos continuar ensinando somente em vista de resultados econômicos e financeiros, precisamos ir além destas expectativas, pois desta forma ensinaremos hoje algo que não terá nenhuma função no futuro. No futuro a educação vai ser um processo permanente e contínuo. As pessoas vão permanecer aprendendo durante toda a vida. Precisamos aprender a conhecer, explo- rar, atualizar, aprofundar e enriquecer conhecimentos de forma permanente. É preciso FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 36 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA educar para este mundo de mudanças em uma era de tecnologia avançada e muita complexidade. Compreenderemos melhor estas transformações necessárias se analisarmos os Quatro Pilares de uma Educação para o Século XXI enumerados na obra “Educação: um Tesouro a Descobrir”, Jacques Delors (1998): 1. Aprender a conhecer 2. Aprender a fazer 3. Aprender a viver juntos, aprender a viver com os outros. 4. Aprender a ser A seguir descrevemos: 6.1 - Aprender a conhecer Aprender a conhecer e explorar o mundo que nos rodeia. Para desenvolvermos as capacidades profissionais do futuro será preciso compreensão do processo e um constante estado de descoberta. Precisamos promover a curiosidade intelectual, esti- mulando o sentido crítico que permite ao sujeito compreender o real com autonomia e discernimento. Alguém motivado pela curiosidade nunca para de aprender, permanece descobrindo e melhorando no trabalho e na vida. Quando formos capazes de ensinar o aprender a conhecer seremos capazes de garantir dignidade a todas as camadas sociais. A vida vai exigir o exercício do pensa- mento crítico, analítico, do aguçamento da atenção e da memória. Em uma realidade em constante mudança essas características são basilares. Isto quer dizer que não devemos ensinar somente saberes codificados, mas também o domínio dos instru- mentos do conhecimento. O saber é meio e a finalidade da vida. Enquanto meio ele permite compreender e desvelar o mundo, o que nos garante a possibilidade de viver dignamente. Enquanto finalidade nos leva ao prazer que é o conhecer e a capacidade de realização pessoal e profissional que esta permanente descoberta nos oferece. Quando despertamos a curiosidade intelectual promoveremos o acesso às meto- dologias científicas, pois “aprender a conhecer” supõe o “aprender a aprender”. Para permanecer aprendendo é preciso dominar e treinar a atenção produzindo o foco. Esse FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 37 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA exercício pode ser feito no cotidiano de nossas atividades como nos jogos, nos está- gios, nas empresas, nos trabalhos práticos e até mesmo nas viagens que fazemos. O exercício da atenção do pensamento que leva à descoberta são recursos necessários para transitar entre o concreto e o abstrato. Tanto no ensino como na pesquisa é necessário aprender o método indutivo, pois através da observação podemos inferir uma verdade, chegar a conclusões mais segu- ras e verdadeiras. O processo de conhecimento nunca será finalizado, pois existe uma permanente possibilidade de enriquecê-lo com novas experiências. Cabe à educação, especialmente a escolar, transmitir este impulso. 6.2 - Aprender a fazer O aprender a fazer é indissociável do aprender a conhecer está ligado também à for- mação profissional, mas vai ensinar o aluno a colocar em prática seus conhecimentos, adaptando a educação ao futuro do trabalho. Este tipo de aprendizagem está ligado ao aprender a conhecer na medida em que aquilo que o indivíduo conheceu deve ser capaz de levar à prática, deve ser capaz de executar. Precisamos estar em permanente transformação social e abertos desta para novos fazeres. Ao longo do século XX houve uma substituição gradual do trabalho humano pelas máquinas. As pressões socioeconômicas criaram uma urgência pela inovação. O que deve produzir novos modelos de empresas e novos tipos de empregos. O aprender a fazer não é somente preparar alguém para uma tarefa, para a fabricação de produtos ou execução de tarefas profissionais. O progresso técnico vai exigir novas qualificações e novos processos de produção intelectual. No futuro vamos comandar máquinas, realizar a sua manutenção e monitorar seu desempenho. Características como se comunicar bem, trabalhar em equipe e resolver conflitos devem ser evidenciadas e no trabalho do setor de serviços. Desta forma, precisamos ensinar também, além de competências intelectuais, as habilidades comportamentais. A educação precisa produzir qualificação na formação técnica e profissional, no comportamento social e uma aptidão ao trabalho em equipe. Será necessário saber gerenciar riscos e promover iniciativas. FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 38 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA No aprender a fazer também é capaz de interligar à aquisição da cultura científica, promovendo o acesso às inovações tecnológicas. Será preciso produzir criatividade para estimular o desenvolvimento também no contexto local. 6.3 - Aprender a viver juntos, aprender a viver com os outros. Este é um dos maiores desafios da educação. A educação deve ensinar a descoberta progressiva do outro e capacitar o aprendiz para que ele exercite isto por toda a vida. Pois no futuro devemos ser mais competentes em evitar ou resolver conflitos, para produzir projetos coletivos. Mas a descoberta do outro depende da descoberta de si mesmo é preciso ensinar a empatia que nos qualifica no reconhecimento das reações. Aprender a trabalhar em equipe através de projetos motivadores e inovadores, nos permite reduzir as diferenças e os conflitos interpessoais. Precisamos aprender a superar o individualismo e valorizar o que é comum, aprendendo a discernir e respeitar as diferenças. Em nossa sociedade moderna esta é uma aprendizagem de suma importância, pois aprender a viver com o outro exige muito conhecimento, habilidade e atitude. Trata-se do desenvolvimento de uma educação para a paz, que respeite a diversidade. Precisamos conseguir oferecer condições para que todos participem dos processos educacionais com autonomia, e que esta autonomia gere um bem maior que é a sobrevivência da humanidade. Para incentivar esta aprendizagem, a educação formal deve reservar ocasiões para iniciar seus educandos em projetos de cooperação com atividades desportivas e cul- turais. É preciso estimular a participação em atividades sociais, ações humanitárias e ajudar aos desfavorecidos, por meio da solidariedade. Nesta dinâmica precisamos ser capazes de enriquecer e valorizar a relação professor-aluno como algo fundamental e perene na vida do educando. 6.4 - Aprender a ser Precisamos educar pela inteligência, mas também pela sensibilidade, sentido esté- tico, responsabilidadepessoal e espiritual. O educando precisa ser capaz de, através do pensamento autônomo, formular seus próprios juízos de valores, de modo que possa FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 39 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA decidir por si mesmos e saiba agir de forma correta em diferentes circunstâncias. Precisamos cuidar para que a educação não produza ou valorize a desumanização do mundo diante da evolução técnica pela qual passamos. No aprender a ser a educação tem como papel essencial dar a todos a liberdade de pensamento, o discernimento dos sentimentos, da imaginação, para desenvolver os seus talentos individuais e para que permaneçam senhores de seus próprios destinos. A arte e a poesia precisam ter maior relevância no processo educativo. Precisamos oferecer às crianças e jovens, descobertas e experimentações em diferentes áreas: a científica, a social, a cultural, a desportiva, a estética e a artística. Desta forma, seremos capazes de permitir o desenvolvimento da imaginação e da criatividade, revalorizando a cultura oral e aproveitando experiências prévias da criança e do adulto. Nesse sentido, o desenvolvimento do ser humano, desde o nascimento até a morte, será uma descoberta sobre conhecimento de si e do outro. Um processo realizado pelo indivíduo, mas que permitirá a emergência de uma construção social interativa. O aprender a ser somado aos demais pilares é capaz de levar o indivíduo a construir seu próprio projeto de vida, elaborando pensamentos críticos, formulando seus valores com liberdade e discernimento, se desenvolvendo de forma integral em relação com sua comunidade. Fomenta-se assim a criatividade, domina-se os sentimentos e treina-se a imaginação, produzindo uma percepção real de si mesmo e dos outros. Na organização dos espaços educativos formais e não formais há de se considerar estes quatro pilares, como alicerces para as práticas pedagógicas e para a formação de um novo modelo social onde a educação é compreendida como um todo e os fazeres educacionais se complementam. Precisamos produzir uma educação integral e não excludente. Isto está na rede Nesta curta metragem de 2 minutos e 57 segundos poderemos assistir Celso Antunes falando sobre a UNESCO e os Quatro Pilares da Educação. https://youtu.be/IQF8mVF3j84 https://youtu.be/IQF8mVF3j84 FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 40 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA Anote isso Atenção ao texto grifado Fonte:https://pixabay.com/pt/photos/l%C3%A1pis-l%C3%A1pis-de-madeira-educa%C3%A7%C3%A3o-1486278/ https://pixabay.com/pt/photos/l%C3%A1pis-l%C3%A1pis-de-madeira-educa%C3%A7%C3%A3o-1486278/ FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 41 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA AULA 7 OS SETE SABERES Neste capítulo vamos estudar o que enuncia Edgar Morin em sua obra Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. Além dos quatro pilares fundamentais à educação, como já vimos no capítulo anterior, precisamos conhecer os setes saberes necessários para a formação do homem futuro. Com a prática destes sete saberes, novos caminhos se abrirão para aqueles que se preocupam com o futuro das crianças e dos adolescentes em nossa sociedade. Segundo Morin (2000), existem sete buracos negros em nossos sistemas de educa- ção, eles devem ser avaliados e superados para que possamos responder às expecta- tivas de uma educação para o futuro. Estes buracos negros só serão vencidos a partir de ação reflexiva e fundamentada por estes saberes: • As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão; • Os princípios do conhecimento pertinente; • Ensinar a condição humana; • Ensinar a identidade terrena; • Enfrentar as incertezas; • Ensinar a compreensão; • A ética do gênero humano. 7.1 - As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão Precisamos ensinar que todo conhecimento é tradução e reconstrução, que ele deve ser transmitido para preparar o ser humano para o mundo. Este conhecimento pode nos chegar por diferentes meios como: informações em jornais, livros, manuais escolares, internet, entre outros, mas em todos os casos ele pode nos oferecer também erros e ilusões. É absurdo pensar que a educação transmite somente conhecimentos inequívocos, que ela é totalmente apartada dos erros e desvios humanos. Por ser um produto de nossa humanidade todo conhecimento possui uma tendência ao erro e à ilusão. Assim, FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 42 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA a educação não pode ser considerada uma entidade ou uma instância livre de direcio- namento ou enviesamento. Conhecer e a forma como conhecemos é a garantia de que estaremos sempre dispostos a enfrentar os erros e as ilusões que fazem parte da mente humana. Para a educação esta prerrogativa da possibilidade do erro da ilusão deve ser um princípio e uma prática permanente. Quando o erro e a ilusão são considerados uma impossibilidade, algo presente somente no mundo exterior nós abandonamos ou inibimos nossa autonomia e deixa- mos de buscar a verdade. Cabe à educação promover a lucidez, a dúvida e o ceticismo produtivo que se promova uma permanente investigação da verdade. Para nos afastarmos desta cegueira do conhecimento é importante que a educa- ção futura considere as implicações culturais, mentais e cerebrais do conhecimento humano. Precisamos estudar nossos sistemas sociais, econômicos, ambientais, espa- ciais e culturais, constantemente para que possamos aferir sucessos e insucessos, investigando erros, corrigindo rotas e promovendo restaurações. A produção dos saberes enunciados por Morin se dá na prática educativa, portanto, ao final de cada item vamos fazer um quadro sintético daquilo que devemos evitar no processo de ensino/aprendizagem e do que devemos promover em nosso cotidiano de educadores. O que devemos evitar: A negação do erro ou a infalibilidade do conhecimento O que devemos promover: A curiosidade O questionamento permanente em busca da verdade 7.2 - Os princípios do conhecimento pertinente O conhecimento precisa ser pertinente, isto quer dizer que a educação precisa capa- citar as pessoas para uma visão global de sua realidade, evitando uma abordagem fragmentada, cartesiana ou parcial dos problemas cotidianos. O conhecimento precisa representar a complexidade do mundo e precisamos ensinar esta complexidade. Todo processo educativo deve buscar a integralidade da realidade FACULDADE CATÓLICA PAULISTA | 43 NORMAS E PROCESSOS DE CERTIFICAÇÃO PROF. ESP. JULIANO BERTOLOTTI MOURA terrena é importante que a educação promova esta integração através de uma visão contextualizada do mundo. Quando compartimentalizamos o conhecimento em diferentes realidades e os iso- lamos em disciplinas como, biologia, sociologia, matemática, geografia etc., perdemos o verdadeiro sentido do mundo porque o fragmentamos e reduzimos. Precisamos capacitar os alunos a estabelecer as relações entre os fragmentos de conhecimento para produzir contexto através de uma abordagem global. O conhecimento deve ser promovido de forma que o indivíduo seja capaz de resolver seus problemas fundamentais que são considerados globais, para que ele se capacite no enfrentamento das dificuldades específicas, consideradas parciais ou locais. Toda problemática humana deve ser situada em contextos globais, geográficos e his- tóricos para que se entenda sua pertinência. Trata-se de uma dinâmica que produz um movimento que vai das partes para o todo, buscando a complexidade de toda realidade. Para garantir a capacidade de conhecer o mundo como ele realmente se apresenta é necessária uma capacidade intelectual que promova uma aptidão para organizar e contextualizar as informações, buscando inadequações e fragmentações. Quando dividimos saberes ou compartimentamos o conhecimento de forma isolada deixamos de enxergar suas características multidisciplinares, transversais, planetários ou globais.
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