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1 
 
 
 
 
 
 
 
Prefeitura de Cascavel-CE 
 
 
Educação, Escola, Professores e Comunidade; ................................................................. 1 
Papel da Didática na Formação de Educadores; .............................................................. 19 
A Revisão da Didática; ...................................................................................................... 34 
O Processo de Ensino; Os Componentes do Processo Didático: Ensino e Aprendizagem 42 
Tendências Pedagógicas no Brasil e a Didática; .............................................................. 53 
Aspectos Fundamentais da Pedagogia; ............................................................................ 69 
Didática e Metodologia; .................................................................................................... 76 
Disciplina, uma questão de autoridade ou de participação?; ............................................. 79 
O Relacionamento na Sala de Aula; ................................................................................. 87 
O Processo de Ensinar e Aprender; .................................................................................. 94 
O Compromisso Social e Ético dos professores; ............................................................ 103 
O Currículo e seu Planejamento; .................................................................................... 112 
O Projeto Pedagógico da Escola; ................................................................................... 129 
O Plano de Ensino e Plano de Aula; ............................................................................... 142 
Relações Professor-Aluno: A atuação do Professor como incentivador e aspectos 
socioemocionais. ................................................................................................................. 148 
O Planejamento Escolar: Importância; Requisitos Gerais; .............................................. 153 
Os Conteúdos de Ensino; A Relação Objetivo-Conteúdo - Método; ................................ 170 
Avaliação da Aprendizagem; Funções da Avaliação; Princípios Básicos da Avaliação; .. 177 
Superação da Reprovação Escolar; ................................................................................ 193 
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Lei Nº 9.394/96, de 20/12/96; Do Ensino 
Fundamental; Da Educação de Jovens e Adultos; Da Educação Especial; A LDB e a Formação 
dos Profissionais da Educação. ........................................................................................... 196 
Temas contemporâneos: bullying, o papel da escola, a escolha da profissão. ................ 201 
Teorias do currículo. ....................................................................................................... 218 
Acesso, permanência com sucesso do aluno na escola. ................................................ 222 
Gestão da aprendizagem. ............................................................................................... 223 
Planejamento e gestão educacional. ............................................................................... 243 
Avaliação institucional, de desempenho e de aprendizagem. ......................................... 252 
O Professor: formação e profissão. ................................................................................. 264 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1658330 E-book gerado especialmente para SMAEL MAICON DE SOUSA LIMA
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Olá Concurseiro, tudo bem? 
 
Sabemos que estudar para concurso público não é tarefa fácil, mas acreditamos na sua 
dedicação e por isso elaboramos nossa apostila com todo cuidado e nos exatos termos do 
edital, para que você não estude assuntos desnecessários e nem perca tempo buscando 
conteúdos faltantes. Somando sua dedicação aos nossos cuidados, esperamos que você 
tenha uma ótima experiência de estudo e que consiga a tão almejada aprovação. 
 
Pensando em auxiliar seus estudos e aprimorar nosso material, disponibilizamos o e-mail 
professores@maxieduca.com.br para que possa mandar suas dúvidas, sugestões ou 
questionamentos sobre o conteúdo da apostila. Todos e-mails que chegam até nós, passam 
por uma triagem e são direcionados aos tutores da matéria em questão. Para o maior 
aproveitamento do Sistema de Atendimento ao Concurseiro (SAC) liste os seguintes itens: 
 
01. Apostila (concurso e cargo); 
02. Disciplina (matéria); 
03. Número da página onde se encontra a dúvida; e 
04. Qual a dúvida. 
 
Caso existam dúvidas em disciplinas diferentes, por favor, encaminhar em e-mails separados, 
pois facilita e agiliza o processo de envio para o tutor responsável, lembrando que teremos até 
cinco dias úteis para respondê-lo (a). 
 
Não esqueça de mandar um feedback e nos contar quando for aprovado! 
 
Bons estudos e conte sempre conosco! 
1658330 E-book gerado especialmente para SMAEL MAICON DE SOUSA LIMA
 
1 
 
 
 
EDUCAÇÃO - SOCIEDADE - COMUNIDADE123 
 
Concepção de Sociedade 
 
Vivemos num mundo onde a informação é diversificada e atualizada rapidamente, o mundo mudou, as 
pessoas mudaram e, ao constatar a velocidade com que ocorrem transformações em nossa vida 
cotidiana, podemos afirmar que estamos diante de um novo tempo, uma outra realidade que nos envolve 
e nos desafia. 
A forma com que compreendíamos a vida e tudo que acontecia, já não parece ser o que prevalece 
hoje. Vivemos uma nova era, onde o conhecimento que tínhamos como entendimento de se estar no 
mundo (algo pronto e acabado), não é mais aceito e absorvido pela maioria das instituições, como 
também pelo processo que configura a produção do conhecimento. 
Isto significa que a sociedade atual exige uma prática pedagógica que assegure a construção da 
cidadania, fundada na criatividade, criticidade, nas responsabilidades advindas das relações sociais, 
econômicas, políticas e culturais. Essas reais exigências cognitivas e atitudinais requeridas nos permitem 
o questionamento: o que tem a educação a refletir sobre as relações e transformações em curso e a 
formação do homem? 
A educação e a escola, por sua importância política, merecem um papel de destaque numa proposta 
de sociedade. Neste esforço de reorganização da vida social e política, velhas instituições e antigos 
conceitos são redefinidos de acordo com essa lógica. Portanto, “o que está em jogo não é apenas uma 
reestruturação das esferas econômicas, sociais e políticas, mas uma reelaboração e redefinição das 
próprias formas de representação e significação social”. 
A escola tem muito que refletir sobre sua organização curricular, a começar pela compreensão de que 
a sua ação passa a ser uma intervenção singular no processo de formação do homem na sociedade atual. 
Nesse paradigma, o professor já não pode ser considerado como único detentor de um saber que 
simplesmente lhe basta transmitir, mas deve ser um mediador do saber coletivo, com competência para 
situar-se como agente do processo de mudança. 
Assim, concebemos que a educação, a escola e o objeto de conhecimento constituem os elementos 
essenciais para o processo de formação de homens e mulheres que contribuirão para a organização da 
sociedade. 
 
Concepção de Homem 
 
Partindo do que diz Morin4 ao se referir sobre a complexidade do ser humano: "ser, ao mesmo tempo, 
totalmente biológico e totalmente cultural", apresentamos nossa concepção de homem e, em 
consequência, as aspirações pretendidas em relação ao cidadão que queremos formar. Entendendo o 
sujeito tanto biológico como social, temos por objetivo desenvolver no aluno a consciência e o sentimento 
de pertencer ao mundo, de modo que possa compreender a interdependência entre os fenômenos e seja 
capaz de interagir de maneira crítica, criativa e consciente com seu meio natural e social. 
Alguns desafios são fundamentais no que se refere à formação do sujeito, desenvolver competências 
para contextualizar e integrar,para situar qualquer informação em seu contexto, para colocar e tratar os 
problemas, ou seja, o grande desafio de formar sujeitos que possam enfrentar realidades cada vez mais 
complexas. Assim, acreditamos na possibilidade de formar um cidadão mais indignado com as 
manifestações e acontecimentos da vida cotidiana, um cidadão que saiba mediar conflitos e propor 
soluções criativas e adequadas a favor da coletividade, que tenha liberdade de pensamento e atitudes 
autônomas para buscar informações nos diferentes contextos, organizá-las e transformá-las em 
conhecimentos aplicáveis. 
Para o educador Paulo Freire, o homem só começa a ser um sujeito social, quando estabelece contato 
com outros homens, com o mundo e com o contexto de realidade que os determina geográfica, histórica 
 
1https://bit.ly/2QyKpYU 
2 https://bit.ly/3lzqxDx 
3 https://bit.ly/32yCVdZ 
4 MORIN, Edgar. A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. 
Educação, Escola, Professores e Comunidade; 
 
1658330 E-book gerado especialmente para SMAEL MAICON DE SOUSA LIMA
 
2 
 
e culturalmente, é nessa perspectiva que a escola se torna um dos espaços privilegiados para a formação 
do homem. 
 
Concepção de Escola 
 
A Escola é um espaço privilegiado para o desenvolvimento das relações sociais e, é nesse ambiente 
que a criança e o jovem interagem com grupos de sua idade, criam vínculos e laços de convivência, além 
de desenvolverem habilidades e competências para continuar seu processo de aprendizagem. 
Sabemos que os modos de vida também são vivenciados pela escola. São variantes de diversos 
matizes, que se multiplicam a cada dia e esses acontecimentos não podem ser desprezados. As ações 
educativas vinculadas às práticas sociais compõem o rol de compromissos da educação formal. Por isso, 
o cotidiano escolar exerce um papel expressivo na formação cognitiva, afetiva, social, política e cultural 
dos alunos que passam parte de suas vidas nesse ambiente pedagógico e educativo. 
Sendo assim, a Escola é um espaço privilegiado para o desenvolvimento das relações sociais. É nesse 
ambiente que a criança e o jovem interagem com grupos de sua idade, criam vínculos e laços de 
convivência, além de desenvolverem habilidades e competências para continuar seu processo de 
aprendizagem. 
 
Concepção de Educação, Ensino e Aprendizagem 
 
O caráter eminentemente pedagógico da Educação no contexto escolar fundamenta-se numa 
perspectiva de considerar que a criança está inserida em determinado contexto social e, portanto, deve 
ser respeitada em sua história de vida, classe social, cultura e etnia. Nesse sentido, a escola é vista 
como espaço para a construção coletiva de novos conhecimentos sobre o mundo, na qual a sua 
proposta pedagógica permite a permanente articulação dos conteúdos escolares com as vivências 
e as indagações da criança e do jovem sobre a realidade em que vivem. 
Podemos considerar os processos interativos, a cooperação, o trabalho em grupo, a arte, a 
imaginação, a brincadeira, a mediação do professor e a construção do conhecimento em rede como eixos 
do trabalho pedagógico voltado para o desenvolvimento da criança e do jovem visando à constituição do 
sujeito solidário, criativo, autônomo, crítico e com estruturas afetivo-cognitivas necessárias para operar 
sua realidade social e pessoal. 
O processo de desenvolvimento, na perspectiva histórico-cultural, é compreendido como o 
processo por meio do qual o sujeito internaliza os modos culturalmente construídos de pensar e 
agir no mundo. Este processo se dá nas relações com o outro, indo do social para o individual. 
O caminho do objeto do conhecimento até o indivíduo e deste até o objeto passa através de uma outra 
pessoa. Essa estrutura humana complexa é o produto de um processo de desenvolvimento 
profundamente enraizado nas ligações entre história individual e história social. 
Além dos aspectos abordados, importante lembrar que nos processos de aprendizagem e 
desenvolvimento, os ambientes educacionais são espaços que possibilitam ampliar suas experiências e 
se desenvolver nas diferentes dimensões humanas: afetiva, motora, cognitiva, social, imaginativa, lúdica, 
estética, criativa, expressiva e linguística. 
As abordagens dos conteúdos não se limitam a fatos e conceitos, mas também aos procedimentos, 
atitudes, valores e normas que são entendidos como conteúdos imprescindíveis no mesmo nível que os 
fatos e conceitos. Isto [...] pressupõe aceitar até as suas últimas consequências o princípio de que tudo o 
que pode ser aprendido pelas crianças e jovens podem e devem ser ensinado pelos professores. 
 
A) Conteúdos relacionados a fatos, conceitos e princípios - correspondem ao compromisso 
científico da educação: transmitir o conhecimento socialmente produzido. 
B) Conteúdos relacionados a procedimentos - que são os objetivos, resultados e meios para 
alcançá-los, articulados por ações, passos ou procedimentos a serem implementados e aprendidos. 
C) Conteúdos relacionados a atitudes, normas e valores - correspondem ao compromisso filosófico 
da educação: promover aspectos que nos completam como seres humanos, que dão uma dimensão 
maior, que dão razão e sentido para o conhecimento científico. 
 
 
 
 
 
 
1658330 E-book gerado especialmente para SMAEL MAICON DE SOUSA LIMA
 
3 
 
Sociedade Contemporânea 
 
O sociólogo e filosofo polonês Bauman5 apresenta a sociedade caracterizando-a como modernidade 
líquida, utiliza assim está metáfora para explanar o advento de uma sociedade mais leve em detrimento 
da chamada modernidade sólida. Atualmente o que se vivencia difere de tempos passados, que ganham 
novas formas. Portanto, a modernidade sólida possui características contrárias aos novos tempos. 
Para Bauman, vive-se hoje, uma modernidade líquida que é marcada pela instantaneidade e pela 
liquidez. O conceito de liquidez utilizado pelo teórico destaca uma sociedade que não mantém sua forma, 
não é estável, mas é marcada por transformações, desestabilidades, construções e desconstruções, 
imprevisibilidade, não se atendo a um só formato, ao contrário de solidez que se refere à metáfora das 
marcas da modernidade, adjetivado por aspectos de durabilidade, de controle, de estabilidade. 
A esse respeito, afirma: “Se o sociólogo empregou a metáfora da solidez como marca característica 
da modernidade nas primeiras décadas do século XX (destruir a tradição e colocar outra, potencialmente 
superior e mais sólida, em seu lugar), na transição para o século XXI ele destacará o novo aspecto da 
condição moderna, desta vez baseado na metáfora da liquidez. Por isso a modernidade líquida passou a 
ser a denominação preferencial de Bauman para referir-se ao contemporâneo. É essa oposição entre 
solidez e liquidez que permite a ele explicar a distinção entre o nosso modo de vida moderno e aquele 
vivido por nossos antepassados”. 
Entretanto, diante dos conceitos sólido e líquido, apresentados por Bauman, é importante considerar 
aquilo que Berman, enfatiza como conceito de solidez. Ao contrário de Bauman, assinala que o sólido 
também pode sofrer alterações. O conceito de sólido tratado por Berman difere da definição criada por 
Bauman na medida em que, para o primeiro, as bases sólidas, os valores fundados na sociedade moderna 
são permanentes e imutáveis, já na pós-modernidade, difundiram-se, sofreram alterações marcadas 
pelos novos pressupostos da vida moderna. Para Bauman, somente a metáfora da liquidez se compara 
a esse processo de transformação. Percebe-se, entretanto, que, referindo-se às características gerais da 
modernidade, os autores compartilham as mesmas definições, apresentando o mesmo painel sobre os 
tempos modernos. 
O sentido da modernidade apresentada por Berman é o mesmo em comparação ao que apresenta 
Bauman, na medida em ambos ressaltam que esta modernidade é passível de transformações, de 
mudanças, de desintegração de ambientes, de construção de novas formas de vida. Destacam-se,nesse 
movimento, algumas características, como: crescente explosão demográfica, grandes descobertas nas 
ciências, crescimento acelerado da tecnologia e dos sistemas de comunicação de massa e expansão do 
mercado capitalista mundial. Esses fatores, por sua vez, influenciam a vida das pessoas e geram novas 
formas de adaptação, de movimento, de poder e de sobrevivência. Em tempos como esses, “o indivíduo 
ousa individualizar-se”. De outro lado, esse ousado indivíduo precisa desesperadamente “de um conjunto 
de leis próprias, precisa de habilidades e astúcias, necessárias à autopreservação, à autoimposição, à 
autoafirmação, à autolibertação.” 
Retornando às características subjacentes à modernidade líquida de Bauman, o tempo é um fator que 
assinala esta modernidade, marcada fortemente por fatos instantâneos. 
 
[...] os fluidos não se atêm muito a qualquer forma e estão constantemente prontos e propensos a 
mudá-la; assim, para eles, o que conta é o tempo, mais do que o espaço que lhes toca ocupar; espaço 
que, afinal, preenchem apenas “por um momento”. 
 
As pessoas que comandam o mundo são aquelas que agem com maior rapidez, que mais se 
aproximam do momentâneo. A instantaneidade auxilia a dominação, no sentido de que o indivíduo que 
domina é aquele que tem capacidade para adaptar-se a novas formas de vida, novos lugares, que 
consegue decidir rapidamente e agir aceleradamente. Nesse sentido, sobre a instantaneidade associada 
à flexibilidade, 
Bauman enfatiza: “neste mundo, tudo pode acontecer e tudo pode ser feito, mas nada pode ser feito 
uma vez por todas - e o que quer que aconteça chega sem se anunciar e vai-se embora sem aviso”. 
Para o autor, compreende-se que a modernidade líquida demarca uma grande transformação nos 
âmbitos social, político, econômico, ambiental, sempre no sentido de esquecer o passado, ou seja, aquilo 
que significava importante nas ações dos indivíduos e agora acaba perdendo seu efeito. As possibilidades 
de criar novas formas de vida são aceitas e o mundo movimenta-se conforme as demandas imediatas. É 
o mundo do imediatismo, das coisas descartáveis. A diferença da modernidade sólida para a modernidade 
líquida é a duração da ação. Na modernidade líquida, a ação é imediata, em curto prazo. 
 
5 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. 
1658330 E-book gerado especialmente para SMAEL MAICON DE SOUSA LIMA
 
4 
 
Ainda, tomando-se em consideração os novos formatos e relações estabelecidas pelas novas 
tecnologias, surgem novas relações oferecidas pela internet. Esse recurso oferece meios de conexão 
com o mundo todo, levando os indivíduos a estarem constantemente em movimento, mesmo 
permanecendo no lugar onde se encontra. A internet também favorece novas formas de relações entre 
as pessoas, sendo que, a comunicação ocorre por intermédio de meios eletrônicos, a qualquer tempo, 
descartando outras formas de contato. A mídia, assim como a internet, possibilita também repassar 
informações em um curto espaço de tempo em uma grande velocidade, permitindo a sensação de 
mobilidade. “O espaço deixou de ser um obstáculo - basta uma fração de segundo para conquistá-lo”. 
Com esse aspecto de instantaneidade, Berman destaca que é preciso adaptar-se às novas 
transformações, considerando-as como novos processos que necessitam ser imbuídos na vida pessoal 
e social: 
 
Homens e mulheres modernos precisam aprender a aspirar à mudança: não apenas estar aptos a 
mudanças em sua vida pessoal e social, mas ir efetivamente em busca das mudanças, procurá-las de 
maneira ativa, levando-as adiante. Precisam aprender a não lamentar com muita nostalgia as “relações 
fixas, imobilizadas” de um passado real ou de fantasia, mas a se deliciar na mobilidade, a se empenhar 
na renovação, a olhar sempre na direção de futuros desenvolvimentos em suas condições de vida e em 
suas relações com outros seres humanos. 
 
Referindo-se aos modos de trabalho, o ser humano busca o progresso, sendo visualizado como um 
caminho sem fim, que deve ser alcançado constantemente, através do esforço do homem. Para o alcance 
do progresso, novos valores passam a permear as relações de trabalho: a competição e a individualização 
que concorrem, simultaneamente, para o alcance deste progresso. Todos esses processos mudam o 
modo de vida humana, sendo que cada indivíduo é responsável por encontrar meios para o alcance de 
melhores condições de vida. 
 
Bauman destaca: [...] são homens e mulheres individuais que às suas próprias custas deverão usar, 
individualmente, seu próprio juízo, recursos e indústria para elevar-se a uma condição mais satisfatória e 
deixar para trás qualquer aspecto de sua condição presente de que se ressintam. 
 
O trabalho, na modernidade sólida, era considerado uma virtude, sendo fundamental para a vida nos 
tempos modernos para alcançar status. Capital e trabalho eram interdependentes. Os trabalhadores 
dependiam do emprego para sobreviver e o capital dependia dos trabalhadores para seu crescimento. 
Com o trabalho, o trabalhador comandava seu próprio destino. Como o modelo fordista, o trabalhador 
iniciava sua carreira em uma empresa e lá permanecia, ficando “preso” em seu lugar, impedindo a sua 
mobilidade. Porém, na contemporaneidade, o trabalho não é mais um projeto de vida, uma base sólida, 
mas um significado de satisfação, assim como, não significa estabilidade, como nos tempos passados. 
“Neste mundo, estabilidade significa tão somente entropia, morte lenta, uma vez que nosso sentido de 
progresso e crescimento é o único meio que dispomos para saber, com certeza, que estamos vivos”. 
Da Era Industrial passa-se à Era do Acesso, sendo que, nesta, máquinas inteligentes, na forma de 
programas de computador, da robótica, da biotecnologia, substituíram rapidamente a mão-de-obra 
humana na agricultura, nas manufaturas e nos setores de serviços. Segundo a lógica reinante do mundo 
globalizado, comandado pelas linhas mestras da tecnologia, uma multidão de seres humanos encontra-
se sem razão para viver neste mundo. A ideologia de sustentação da economia do mercado é excludente 
e busca eliminar quem não entra e consegue seguir seus parâmetros. Deve-se executar o ofício de 
separar e eliminar o refugo, o descartável. Tudo se estrutura a partir do privilégio e do padrão de vida e 
consumo. 
Assim, mudar de emprego tornou-se algo comum, reafirmando o conceito de transitoriedade e 
flexibilidade que marcam a denominada modernidade líquida. “A vida de trabalho está saturada de 
incertezas”. As incertezas são marcadas pelo descontrole e desconhecimento das situações. Não há, 
neste tempo, segurança em relação ao trabalho, no sentido de permanecer nele a vida toda. 
Os conceitos de emancipação e individualidade ganham um peso maior nesta sociedade, sendo que 
o coletivo e a comunidade passam a ser conceitos abstratos, aquilo que vem depois das escolhas 
individuais. A solidariedade é um valor que não possui mais fundamento. O indivíduo é capaz de decidir 
sobre as ações e fins. 
Cabe ao indivíduo descobrir o que é capaz de fazer, esticar essa capacidade ao máximo e escolher 
os fins a que essa capacidade poderia melhor servir - isto é, com a máxima satisfação concebível. 
Nesse sentido, nada está pronto e acabado. As oportunidades são infinitas ao indivíduo e sua liberdade 
de escolha favorece um estado de ansiedade e incertezas. 
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5 
 
O sentimento de felicidade está, em muitos casos, ligado a situações de consumo. “O consumo é um 
investimento em tudo que serve para o ‘valor social’ e a autoestima do indivíduo”. Neste sentido, o 
consumismo passa a ser algo de desejo imediato. Consome-se mais e, geralmente, para satisfazer 
desejos instantâneos e individuais. A sociedade do consumo privilegia não só aquisição de bens e 
produtos, mas a busca incessante de novas receitas para uma vida melhor; novos exemplos, novas 
habilidades,novas competências em detrimento daquilo que ainda o indivíduo não é, para aparentar uma 
imagem, mostrar aos outros aquilo que não é, para agradá-los ou como um modo de atrair atenção. O 
consumo não é mais caracterizado como a satisfação das necessidades, mas serve para satisfazer os 
desejos insaciáveis. As necessidades são sólidas, inflexíveis, já o desejo é marcado pela fluidez, são 
flexíveis, mutáveis e podem ser substituídos. 
Desse modo, estar na sociedade de consumidores requer estar adaptado aos novos padrões do 
mercado. Consumir é estar de acordo com aquilo que o mercado impõe como símbolo de comodidade, 
de autoafirmação, de conforto, de emancipação dos indivíduos. 
Bauman acrescenta a esses aspectos outros fatores que auxiliam a compreender a configuração da 
nova sociedade. Ressalta que a comunidade como defensora do direito à vida decente transformou este 
projeto em promover o mercado como garantia de auto enriquecimento, gerando maiores sofrimentos 
entre aqueles que não podem consumir como o mercado demanda. Ele completa essa ideia, enfatizando 
que, na sociedade pós-moderna nenhum emprego é garantido, nenhuma posição é segura. Além disso, 
ressalta: 
Em sua versão presente, os direitos humanos não trazem consigo a aquisição do direito a um emprego, 
por mais que bem desempenhado, ou - de um modo mais geral - o direito ao cuidado e à consideração 
por causa de méritos passados. Meio de vida, posição social, reconhecimento da utilidade e merecimento 
da autoestima podem todos desvanecer-se simultaneamente da noite para o dia e sem se perceber. 
Bauman6 enfatiza que as relações entre as pessoas também se dão de forma diferente, dependendo 
da situação econômica das mesmas, do usufruto de bens e da posição de conforto que possuem. Noutras 
palavras, dependendo da posição que se ocupa, as pessoas são consideradas como “estranhos”, pois 
não ocupam a mesma posição social e servem apenas para oferecer serviços e bens para o consumo, 
conforme afirma 
Para alguns moradores da cidade moderna, seguros em suas casas à prova de ladrões em bairros 
bem arborizados, em escritórios fortificados no mundo dos negócios fortemente policiado, e nos carros 
cobertos de engenhocas de segurança para levá-los das casas para os escritórios e de volta, o “estranho” 
é tão agradável quanto a praia da rebentação [...]. Os estranhos dirigem restaurantes, prometendo 
experiências insólitas e excitantes para as papilas gustativas, vendem objetos de aspecto esquisito e 
misterioso, [...], oferecem serviços que outras pessoas não se rebaixariam ou se dignariam a oferecer, 
acenam com guloseimas de sensatez, revigorantemente diversas da rotina e da chateação. 
O poder de consumo avalia a posição social dos indivíduos. Aquelas pessoas que não possuem certa 
posição de conforto na sociedade e que não detêm um mínimo de condições de escolha de consumo, 
acabam muitas vezes demonstrando revolta, estranheza para muitos e violência, assim, como ao que se 
assiste nos novos tempos. 
Uma vez que as únicas senhas para defender a liberdade de escolha, moeda corrente na sociedade 
do consumidor, estão escassas em seu estoque ou lhes são inteiramente negadas, elas precisam recorrer 
aos únicos recursos que possuem em quantidade suficientemente grande para impressionar. Elas 
defendem o território sitiado através de “rituais, vestindo-se estranhamente, inventando atitudes bizarras, 
quebrando normas, quebrando garrafas, janelas, cabeças, e lançando retóricos desafios à lei”. Reagem 
de maneira selvagem, furiosa, alucinada e aturdida [...]. 
Além disso, cresceram as taxas de desemprego e um grande número de excluídos socialmente, pois 
os empregos tomaram novas configurações, não sendo possível projetar uma vida em longo prazo, com 
projetos e planejamentos. 
De acordo com estas características, Bauman destaca que aqueles que não possuem emprego não 
são considerados como “desempregados”, mas sim como consumidores falhos, pois não desempenham 
a função ativa de consumir e, portanto, não são aptos de usufruir dos bens e serviços que o mercado 
pode oferecer, sendo definidos como os “pobres” da sociedade atual. Ele enfatiza a esse respeito. 
Antes de mais nada, os pobres de hoje (ou seja, as pessoas que são “problemas” para as outras) 
são “não-consumidores”, e não “desempregados”. São definidos em primeiro lugar por serem 
consumidores falhos, já que o mais crucial dos deveres sociais que eles não desempenham é o de ser 
comprador ativo e efetivo dos bens e serviços que o mercado oferece. Nos livros de contabilidade de uma 
 
6 BAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1998. 
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6 
 
sociedade de consumo, os pobres entram na coluna dos débitos, e nem por exagero da imaginação 
poderiam ser registrados na coluna dos ativos, sejam estes presentes ou futuros. 
Nesse panorama da sociedade de consumidores e busca pela satisfação pessoal, alguns valores e 
princípios passaram a tomar outras configurações. O valor da responsabilidade, por exemplo, que, em 
outros tempos, residia no dever ético e na preocupação pelo outro, atualmente, configurou-se em relação 
a si próprio, levando o indivíduo a compreender-se como único responsável por seus atos e deveres, 
excluindo a responsabilidade pelos interesses, necessidades e desejos do outro. 
Entretanto, observa-se que, neste período atual, há certa ambiguidade em torno da vida responsável, 
pois surgem reflexões, organizações e movimentos em favor da vida, do respeito à natureza, à 
sustentabilidade. Enquanto se afirma que o indivíduo se preocupa com si mesmo, ao mesmo tempo, 
surgem preocupações acerca do outro e do mundo. Percebe-se que há uma evolução para a possibilidade 
de construção de uma vida responsável. 
O panorama apresentado até aqui, certamente, não contempla todos os aspectos referentes à 
sociedade contemporânea, mas apresenta definições importantes que levam a analisar e refletir sobre a 
configuração subjacente aos tempos atuais e que podem instigar a questão referente à tarefa da escola 
frente a tais aspectos presentes na sociedade atual. 
Desse modo, é urgente compreender sua missão como instituição educativa que, assim como outras 
instâncias, desempenha um papel importante na formação dos sujeitos. 
 
A Tarefa da Escola 
 
Compreender a missão da escola perante as novas configurações da sociedade, torna-se essencial 
para avaliar a sua tarefa, diante das transformações sociais e culturais e de suas implicações no processo 
educativo atual. 
Desse modo, diante dos processos sociais que se desencadeiam na atualidade, surgem algumas 
questões que se referem ao processo educativo escolar: qual é o papel da escola? A escola está 
preparada para formar sujeitos oriundos da sociedade descrita por Bauman? A educação escolar dá conta 
de compreender esses processos de transformação? 
Essas questões remetem à reflexão sobre a verdadeira missão da escola frente aos processos de 
mudança e ao contexto atual que, de maneira geral, recebe as influências das mudanças, passando a 
adquirir novos pressupostos, novos objetivos, novas concepções. Diante dos temas que perfazem a 
realidade, a educação é vista como um meio indispensável na constituição da sociedade e passa a ocupar 
um papel fundamental. 
Nestes tempos de mutações profundas e de incerteza acentuada, deve-se investir muito na educação, 
facilitando assim o emprego, despertando as mentes e as consciências diante dos novos desafios, 
facilitando o acesso à cultura e reduzindo a exclusão. A educação é o melhor investimento social. 
Sabe-se que, entre outros fatores, pontos, movimentos e tendências, o cientificismo positivista impôs 
a fragmentação do conhecimento, sustentando a ordem econômica e social da modernidade. Atualmente, 
não se pode mais conceber que esta fragmentação dê conta de formar e desenvolver o homem na nova 
ordem social vigente. Como se vê,muitas transformações têm surgido ao longo dos tempos: as novas 
tecnologias, as comunicações, a preocupação com o meio ambiente, a produção econômica cada vez 
mais crescente e diversificada com novos produtos no mercado, demandando novos cursos de 
capacitação e aperfeiçoamento, entre tantas outras mudanças as quais a escola deve acompanhar e 
produzir reflexões acerca destes novos elementos. 
Além disso, a escola, mergulhada neste contexto, não pode ficar alheia às transformações sociais e 
culturais advindas da sociedade. Mas, pelo contrário, a escola pertence ao meio social e, por isso, sofre 
as influências do meio. “A escola é uma comunidade. Como parte da sociedade, ela está normalmente 
estruturada de forma a reproduzir a estrutura social.” Nesse sentido, Bauman destaca que, muitas 
transformações estão permeando a sociedade contemporânea e essas acabam por invadir todos os 
contextos, inclusive a escola. O processo educativo escolar, de acordo com as novas estruturas, procura 
desenvolver um currículo que considera as mudanças e atenda aos novos conceitos, novos pressupostos 
e novas demandas. 
Relacionando os conceitos apresentados, pode-se dizer que a escola, na sociedade sólida, 
referenciando Bauman, era aquela que educava para toda a vida. A escola era um espaço que tinha como 
propósito estabelecer a ordem. A formação dos indivíduos era responsabilidade de toda a sociedade, dos 
governantes e do Estado, com vistas a formá-los para um comportamento correto e moralmente aceitável. 
Desse modo, somente os professores eram capazes de fornecer esta formação para uma integração 
social, destacando uma vida correta e moral, disciplinada e eficiente. Além disso, o conhecimento era um 
produto duradouro e a qualidade da escola era medida pela transmissão deste conhecimento de valor 
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adaptado ao mundo sólido. As pessoas se ajustavam ao mundo pela educação, entendendo que este 
mundo era imutável e consideravelmente manipulável. O professor detinha o poder de transmitir o 
conhecimento ao aluno, compreendendo este conhecimento como justo e confiável. 
Para Pourtois e Desmet7, a escola contemporânea continua a repetir os princípios defendidos pela 
escola moderna, na qual enfatizava o modelo de que o aluno deveria aprender as regras da vida em 
sociedade e o pensamento racional, sendo disciplinado por meio de recompensas ou castigos, sendo que 
a personalidade individual deve ser ocultada atrás da moral do dever. Para esses autores, a pedagogia 
moderna ainda está fortemente enraizada nas práticas escolares. 
Na passagem da modernidade sólida para a líquida, de acordo com a visão de sociedade de Bauman, 
a escola assume outras características, sendo que a ordem social, sólida e imutável não é mais aceita na 
chamada modernidade líquida. O mundo é diferente daquele em que a escola estava preparada para 
formar os alunos. “Em tais circunstâncias, preparar para toda a vida, essa invariável e perene tarefa da 
educação na modernidade sólida, vai adquirir um novo significado diante das atuais circunstâncias 
sociais.” O conhecimento não será mais considerado como um produto conservado, pronto e acabado 
para toda a vida, assumindo, muito mais um caráter inconcluso, podendo ser substituível. O conhecimento 
passa a ter o objetivo de oferecer eficiência, criatividade, competitividade, habilidades básicas para o 
mundo do trabalho. Em síntese, o conhecimento se transforma em informação que logo será substituída, 
por considerar que rapidamente estará ultrapassado. 
A escola então, transmissora deste conhecimento, passa agora a não ser a detentora do saber, pois 
as novas tecnologias oferecem as informações em um rápido espaço de tempo, no qual todos têm acesso 
ao “conhecimento”. Os professores perdem a autoridade sobre o domínio exclusivo dos saberes. A nova 
dinâmica do mercado passa a ter autoridade, decidindo sobre as formações de opiniões, verificação de 
valores, definindo o que é bom ou mal, belo ou feio, verdadeiro ou falso. Os alunos passam a dar atenção 
àqueles que oferecem várias possibilidades de experiência, prazer e proveito (geralmente a mídia - 
televisão, internet), os seduzindo para a arte de saber viver. O professor, desse modo, não é mais aquele 
conselheiro que orientava os alunos a seguirem, de modo seguro, sua vida, através de seus estudos e 
saberes. Nesse sentido, a não mais inquestionável autoridade do professor em orientar a lógica da 
aprendizagem compete, [...], com as sedutoras e muito mais atraentes mensagens das celebridades, 
sejam jogadores de futebol, artistas, frequentadores de reality shows ou políticos oportunistas. 
Diante de todos esses desafios, Almeida8 enfatiza que, ao mesmo tempo em que Bauman apresenta 
tais aspectos, o próprio autor também oportuniza uma solução para a escola poder enfrentá-los, 
destacando o poder da escola de facilitar a socialização entre os indivíduos e de promover uma 
sensibilização acerca do mundo atual e conscientizar para a busca de novas formas de relações em 
suprimento das relações individualistas. Almeida afirma: 
 
[...] além de promover a socialização, ou seja, preparar as pessoas para o mundo cambiável em que 
vivemos, a individualização pressuposta nos mecanismos educacionais, ao mesmo tempo em que evita 
decretar o que é certo ou verdadeiro e provocar sua manifestação, consiste no exercício de “agitar” os 
estudantes e incitar-lhes a dúvida sobre a imagem que têm de si e da sociedade em que estão inseridos 
e, nesse movimento, desafiar o consenso prevalecente. Os professores seriam, assim, intelectuais que 
ajudam a assegurar que a consciência moral de cada geração seja diferente da geração anterior. 
 
A escola, articulada como uma instituição, em harmonia com a preparação de indivíduos adequados a 
habitar um mundo ordenado, não se configura nos tempos atuais. Configura-se hoje como um espaço 
destinado a dar oportunidades iguais a todos, inclusive às minorias e aos excluídos, sendo um ambiente 
no qual se recebe uma pluralidade de culturas e valores de uma mesma sociedade, respeitando 
diferenças e enfatizando os princípios de solidariedade. 
Nesse enredo, Gadotti9 enfatiza que esta época de rápidas transformações acaba por demandar uma 
nova configuração da educação na busca de um melhor desempenho do sistema escolar: 
Neste começo de um novo milênio, a educação apresenta-se numa dupla encruzilhada: de um lado, o 
desempenho do sistema escolar não tem dado conta da universalização da educação básica de 
qualidade; de outro, as novas matrizes teóricas não apresentam ainda a consistência global necessária 
para indicar caminhos realmente seguros numa época de profundas e rápidas transformações. 
Para esse propósito, é necessário que a escola fortaleça seu projeto educativo, relacionando-o com o 
contexto social e suas características, sendo este um princípio da educação contemporânea, no mesmo 
 
7 POURTOIS, Jean-Pierre; DESMET, Huguette. A Educação pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1999. 
8 ALMEIDA, Felipe Quintão de; BRACHT, Valter; GOMES, Ivan Marcelo. Bauman e a educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. 
9 GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais da educação. São Paulo Perspec]. 2000.. 
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modo que esta educação possa sempre superar os limites impostos pelo mercado, buscando a 
transformação social. 
Seja qual for a perspectiva que a educação contemporânea tomar, uma educação voltada para o futuro 
será sempre uma educação contestadora, superadora dos limites impostos pelo Estado e pelo mercado, 
portanto, uma educação muito mais voltada para a transformação social. 
Nesse sentido, a educação, na era contemporânea, deve apropriar-se das informações e refletir sobre 
elas. O contexto deve ser de um agir comunicacional, ou seja, comunicação intersubjetiva em que os 
outros constituem uma forma de mediação entre saberes existentese os saberes de base do sujeito. O 
ato educativo deve ter sentido no contexto social atual e deixar transparecer seus objetivos. 
Além disso, com as novas configurações da sociedade, a escola passou a aceitar todas as visões de 
mundo que chegam até ela, sem desconsiderar os direitos de propriedade das mais diversas 
comunidades. Na modernidade, a construção da ordem era estabelecida pelos intelectuais, ou seja, 
professores e teóricos educacionais detinham a função de “legislar acerca do modo correto de separar a 
verdade da inverdade das culturas [...].” Atualmente, a escola enfrenta o desafio de aceitar a multiplicidade 
de culturas e verdades que perpassam os saberes escolares, pois a verdade do conhecimento torna-se 
questionável nesse novo contexto. 
Almeida, parafraseando Bauman, destaca esta nova configuração da escola em detrimento de um 
espaço multicultural que aposta na pluralidade de culturas, no intuito de compreendê-las, fortalecê-las e 
relacioná-las com outras culturas, assinalando-as como parte de um diálogo que enriquece os saberes 
educativos: 
Diante dos inúmeros “textos” que escrevem o mundo, a arte da conversação civilizada é algo que o 
espaço da escola necessita de maneira urgente. Dialogar com as distintas tradições que chegam até ela, 
sem combatê-las; procurar entendê-las, sem aniquilá-las ou descartá-las como mutantes; fortalecer sua 
própria perspectiva (a do professor, por exemplo) com o livre recurso às experiências alheias (a dos 
alunos e suas culturas, por que não?). Levando isso em conta, extraímos da posição de Bauman o 
seguinte imperativo para a educação escolarizada na sociedade líquida: conversar ou perecer! 
 De acordo com essa nova forma curricular, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), de acordo 
com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Federal n. 9.394/96) destacam a valorização 
dos temas transversais, os quais possuem a intenção de responder aos novos pressupostos e novas 
configurações da educação escolar. Dentre os temas transversais salientam-se a Ética e a Pluralidade 
Cultural. De acordo com o enredo apresentado, entende-se que a educação escolar deve preocupar-se 
com as condutas humanas e não só com o desenvolvimento de habilidades e competências técnicas, 
mas referenciar valores que valorizem a relação com o outro, já que ética e valores estão imbuídos no 
currículo escolar e nas relações entre os indivíduos. 
Segundo Gómez10, a função educativa da escola deve cumprir não só o processo de socialização, mas 
oferecer às futuras gerações a possibilidade de questionar a validade dos conteúdos, de elaborar 
alternativas e tomar decisões autônomas acerca das transformações sociais e culturais. O conjunto de 
conhecimentos adquiridos na escola só será válido se oferecer ao indivíduo um modo consciente de 
pensamento e ação. Afirma o autor que: A formação de cidadãos autônomos, conscientes, informados e 
solidários requer uma escola onde possa-se recriar a cultura, não uma academia para aprendizagens 
mecânicas ou aquisições irrelevantes, mas uma escola viva e comprometida com a análise e a 
reconstrução das contingências sociais, onde os estudantes e os docentes aprendem os aspectos mais 
diversos da experiência humana. 
Nesse sentido, salienta-se que a existência da escola perante a todas as transformações culturais e 
sociais, deve assumir uma postura, não só de transmissão de conteúdos sem significados, de 
aprendizagens mecânicas, sem sentido, somente para atender às influências do mercado competitivo, 
mas assumir a condição de um espaço no qual valorize as experiências trazidas pelas culturas e assim, 
construir uma interlocução entre elas, permeadas pela reflexão, pela socialização e pela relação de 
valores indispensáveis à formação do homem. 
 
Educação e Sociedade no Brasil 
 
Nas últimas duas décadas do século XX assistiu-se a grandes mudanças tanto no campo 
socioeconômico e político quanto no da cultura, da ciência e da tecnologia. Ocorreram grandes 
movimentos sociais, como aqueles no leste europeu, no final dos anos 80, culminando com a queda do 
Muro de Berlim. Ainda não se tem ideia clara do que deverá representar, para todos nós, a globalização 
 
10 GÓMEZ, A. I. Pérez. A Cultura escolar na sociedade neoliberal. Tradução: Ernani Rosa. Porto Alegre: Artmed, 2001. 
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capitalista da economia, das comunicações e da cultura. As transformações tecnológicas tornaram 
possível o surgimento da era da informação. 
É um tempo de expectativas, de perplexidade e da crise de concepções e paradigmas. É um momento 
novo e rico de possibilidades. Por isso, não se pode falar do futuro da educação sem certa dose de 
cautela. É com essa cautela que serão examinadas, neste artigo, algumas das perspectivas atuais da 
teoria e da prática da educação, apoiando-se naqueles educadores e filósofos que tentaram, em meio a 
essa perplexidade, apesar de tudo, apontar algum caminho para o futuro. A perplexidade e a crise de 
paradigmas não podem se constituir num álibi para o imobilismo. 
No início deste século, H. G. Wells dizia que “a História da Humanidade é cada vez mais a disputa de 
uma corrida entre a educação e a catástrofe”. A julgar pelas duas grandes guerras que marcaram a 
“História da Humanidade”, na primeira metade do século XX, a catástrofe venceu. No início dos anos 50, 
dizia-se que só havia uma alternativa: “socialismo ou barbárie” (Cornelius Castoriadis), mas chegou-se 
ao final do século com a derrocada do socialismo burocrático de tipo soviético e enfraquecimento da ética 
socialista. E mais: pela primeira vez na história da humanidade, não por efeito de armas nucleares, mas 
pelo descontrole da produção industrial, pode-se destruir toda a vida do planeta. Mais do que a 
solidariedade, estamos vendo crescer a competitividade. 
Hoje muitos educadores, perplexos diante das rápidas mudanças na sociedade, na tecnologia e na 
economia, perguntam-se sobre o futuro de sua profissão, alguns com medo de perdê-la sem saber o que 
devem fazer. Então, aparecem, no pensamento educacional, todas as palavras citadas por Abbagnano e 
Aurélio: “projeto” político-pedagógico, pedagogia da “esperança”, “ideal” pedagógico, “ilusão” e “utopia” 
pedagógica, o futuro como “possibilidade”. Fala-se muito hoje em “cenários” possíveis para a educação, 
portanto, em “panoramas”, representação de “paisagens”. Para se desenhar uma perspectiva é preciso 
“distanciamento”. É sempre um “ponto de vista”. Todas essas palavras entre aspas indicam uma certa 
direção ou, pelo menos, um horizonte em direção ao qual se caminha ou se pode caminhar. Elas 
designam “expectativas” e anseios que podem ser captados, capturados, sistematizados e colocados em 
evidência. 
 
Educação Tradicional 
Enraizada na sociedade de classes escravista da Idade Antiga, destinada a uma pequena minoria, a 
educação tradicional iniciou seu declínio já no movimento renascentista, mas ela sobrevive até hoje, 
apesar da extensão média da escolaridade trazida pela educação burguesa. A educação nova, que surge 
de forma mais clara a partir da obra de Rousseau, desenvolveu-se nesses últimos dois séculos e trouxe 
consigo numerosas conquistas, sobretudo no campo das ciências da educação e das metodologias de 
ensino. O conceito de “aprender fazendo” de John Dewey e as técnicas Freinet, por exemplo, são 
aquisições definitivas na história da pedagogia. Tanto a concepção tradicional de educação quanto a 
nova, amplamente consolidadas, terão um lugar garantido na educação do futuro. 
A educação tradicional e a nova têm em comum a concepção da educação como processo de 
desenvolvimento individual. Todavia, o traço mais original da educação desse século é o deslocamento 
de enfoque do individual para o social, para o político e para o ideológico. A pedagogia institucional é um 
exemplo disso. A experiência de mais de meio século de educação nos países socialistas também a 
testemunha. Aeducação, no século XX, tornou-se permanente e social. É verdade, existem ainda muitos 
desníveis entre regiões e países, entre o Norte e o Sul, entre países periféricos e hegemônicos, entre 
países globalizadores e globalizados. Entretanto, há ideias universalmente difundidas, entre elas a de 
que não há idade para se educar, de que a educação se estende pela vida e que ela não é neutra. 
 
Educação Internacionalizada 
No início da segunda metade deste século, educadores e políticos imaginaram uma educação 
internacionalizada, confiada a uma grande organização, a Unesco. Os países altamente desenvolvidos já 
haviam universalizado o ensino fundamental e eliminado o analfabetismo. Os sistemas nacionais de 
educação trouxeram um grande impulso, desde o século passado, possibilitando numerosos planos de 
educação, que diminuíram custos e elevaram os benefícios. A tese de uma educação internacional já 
existia deste 1899, quando foi fundado, em Bruxelas, o Bureau Internacional de Novas Escolas, por 
iniciativa do educador Adolphe Ferrière. Como resultado, tem-se hoje uma grande uniformidade nos 
sistemas de ensino. Pode-se dizer que hoje todos os sistemas educacionais contam com uma estrutura 
básica muito parecida. No final do século XX, o fenômeno da globalização deu novo impulso à ideia de 
uma educação igual para todos, agora não como princípio de justiça social, mas apenas como parâmetro 
curricular comum. 
 
 
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Novas Tecnologias 
As consequências da evolução das novas tecnologias, centradas na comunicação de massa, na 
difusão do conhecimento, ainda não se fizeram sentir plenamente no ensino - como previra McLuhan já 
em 1969 -, pelo menos na maioria das nações, mas a aprendizagem a distância, sobretudo a baseada na 
Internet, parece ter sido a grande novidade educacional nos últimos tempos. A educação opera com a 
linguagem escrita e a nossa cultura atual dominante vive impregnada por uma nova linguagem, a da 
televisão e a da informática, particularmente a linguagem da Internet. A cultura do papel representa talvez 
o maior obstáculo ao uso intensivo da Internet, em particular da educação a distância com base na 
Internet. Por isso, os jovens que ainda não internalizaram inteiramente essa cultura adaptam-se com mais 
facilidade do que os adultos ao uso do computador. Eles já estão nascendo com essa nova cultura, a 
cultura digital. 
Os sistemas educacionais ainda não conseguiram avaliar suficientemente o impacto da comunicação 
audiovisual e da informática, seja para informar, seja para bitolar ou controlar as mentes. Ainda se trabalha 
muito com recursos tradicionais que não têm apelo para as crianças e jovens. Os que defendem a 
informatização da educação sustentam que é preciso mudar profundamente os métodos de ensino para 
reservar ao cérebro humano o que lhe é peculiar, a capacidade de pensar, em vez de desenvolver a 
memória. Para ele, a função da escola será, cada vez mais, a de ensinar a pensar criticamente. Para isso 
é preciso dominar mais metodologias e linguagens, inclusive a linguagem eletrônica. 
 
Paradigmas Holonômicos 
Entre as novas teorias surgidas nesses últimos anos, despertaram interesse dos educadores os 
chamados paradigmas holonômicos, ainda pouco consistentes. Complexidade e holismo são palavras 
cada vez mais ouvidas nos debates educacionais. Nesta perspectiva, pode-se incluir as reflexões de 
Edgar Morin, que critica a razão produtivista e a racionalização modernas, propondo uma lógica do 
vivente. Esses paradigmas sustentam um princípio unificador do saber, do conhecimento, em torno do 
ser humano, valorizando o seu cotidiano, o seu vivido, o pessoal, a singularidade, o entorno, o acaso e 
outras categorias como: decisão, projeto, ruído, ambiguidade, finitude, escolha, síntese, vínculo e 
totalidade. 
Essas seriam algumas das categorias dos paradigmas chamados holonômicos. Etimologicamente, 
holos, em grego, significa todo e os novos paradigmas procuram centrar-se na totalidade. Mais do que a 
ideologia, seria a utopia que teria essa força para resgatar a totalidade do real, totalidade perdida. Para 
os defensores desses novos paradigmas, os paradigmas clássicos - identificados no positivismo e no 
marxismo - seriam marcados pela ideologia e lidariam com categorias redutoras da totalidade. Ao 
contrário, os paradigmas holonômicos pretendem restaurar a totalidade do sujeito, valorizando a sua 
iniciativa e a sua criatividade, valorizando o micro, a complementaridade, a convergência e a 
complexidade. Para eles, os paradigmas clássicos sustentam o sonho milenarista de uma sociedade 
plena, sem arestas, em que nada perturbaria um consenso sem fricções. Ao aceitar como fundamento da 
educação uma antropologia que concebe o homem como um ser essencialmente contraditorial, os 
paradigmas holonômicos pretendem manter, sem pretender superar, todos os elementos da 
complexidade da vida. 
Os holistas sustentam que o imaginário e a utopia são os grandes fatores instituintes da sociedade e 
recusam uma ordem que aniquila o desejo, a paixão, o olhar e a escuta. Os enfoques clássicos, segundo 
eles, banalizam essas dimensões da vida porque sobrevalorizam o macroestrutural, o sistema, em que 
tudo é função ou efeito das superestruturas socioeconômicas ou epistêmicas, linguísticas e psíquicas. 
Para os novos paradigmas, a história é essencialmente possibilidade, em que o que vale é o imaginário 
(Gilbert Durand, Cornelius Castoriadis), o projeto. Existem tantos mundos quanto nossa capacidade de 
imaginar. Para eles, “a imaginação está no poder”, como queriam os estudantes em maio de 1968. 
Na verdade, essas categorias não são novas na teoria da educação, mas hoje são lidas e analisadas 
com mais simpatia do que no passado. Sob diversas formas e com diferentes significados, essas 
categorias são encontradas em muitos intelectuais, filósofos e educadores, de ontem e de hoje: o “sentido 
do outro”, a “curiosidade” (Paulo Freire), a “tolerância” (Karl Jaspers), a “estrutura de acolhida” (Paul 
Ricoeur), o “diálogo” (Martin Buber), a “autogestão” (Celestin Freinet, Michel Lobrot), a “desordem” (Edgar 
Morin), a “ação comunicativa”, o “mundo vivido” (Jürgen Habermas), a “radicalidade” (Agnes Heller), a 
“empatia” (Carl Rogers), a “questão de gênero” (Moema Viezzer, Nelly Stromquist), o “cuidado” (Leonardo 
Boff), a “esperança” (Ernest Bloch), a “alegria” (Georges Snyders), a unidade do homem contra as 
“unidimensionalizações” (Herbert Marcuse), etc. 
Evidentemente, nem todos esses autores aceitariam enquadrar-se nos paradigmas holonômicos. 
Todas as classificações e tipologias, no campo das ideias, são necessariamente reducionistas. Não se 
pode negar as divergências existentes entre eles. Contudo, as categorias apontadas anteriormente 
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indicam uma certa tendência, ou melhor, uma perspectiva da educação. Os que sustentam os paradigmas 
holonômicos procuram buscar na unidade dos contrários e na cultura contemporânea um sinal dos 
tempos, uma direção do futuro, que eles chamam de pedagogia da unidade. 
 
Educação Popular 
O paradigma da educação popular, inspirado originalmente no trabalho de Paulo Freire nos anos 60, 
encontrava na conscientização sua categoria fundamental. A prática e a reflexão sobre a prática levaram 
a incorporar outra categoria não menos importante: a da organização. Afinal, não basta estar consciente, 
é preciso organizar-se para poder transformar. Nos últimos anos, os educadores que permaneceram fiéis 
aos princípios da educação popular atuaram principalmente em duas direções: na educação pública 
popular - no espaço conquistado no interior do Estado -; e na educação popular comunitária e na 
educação ambiental ou sustentável, predominantemente não governamentais. Durante os regimes 
autoritários da América Latina, a educação popular manteve sua unidade, combatendo as ditaduras e 
apresentandoprojetos “alternativos”. Com as conquistas democráticas, ocorreu com a educação popular 
uma grande fragmentação em dois sentidos: de um lado ela ganhou uma nova vitalidade no interior do 
Estado, diluindo-se em suas políticas públicas; e, de outro, continuou como educação não-formal, 
dispersando-se em milhares de pequenas experiências. Perdeu em unidade, ganhou em diversidade e 
conseguiu atravessar numerosas fronteiras. Hoje ela incorporou-se ao pensamento pedagógico universal 
e orienta a atuação de muitos educadores espalhados pelo mundo, como o testemunha no Fórum Paulo 
Freire, que se realiza de dois em dois anos, reunindo educadores de muitos países. 
As práticas de educação popular também constituem-se em mecanismos de democratização, em que 
se refletem os valores de solidariedade e de reciprocidade e novas formas alternativas de produção e de 
consumo, sobretudo as práticas de educação popular comunitária, muitas delas voluntárias. O Terceiro 
Setor está crescendo não apenas como alternativa entre o Estado burocrático e o mercado insolidário, 
mas também como espaço de novas vivências sociais e políticas hoje consolidadas com as organizações 
não-governamentais (ONGs) e as organizações de base comunitária (OBCs). Este está sendo hoje o 
campo mais fértil da educação popular. 
Diante desse quadro, a educação popular, como modelo teórico reconceituado, tem oferecido grandes 
alternativas. Dentre elas, está a reforma dos sistemas de escolarização pública. A vinculação da educação 
popular com o poder local e a economia popular abre, também, novas e inéditas possibilidades para a 
prática da educação. O modelo teórico da educação popular, elaborado na reflexão sobre a prática da 
educação durante várias décadas, tornou-se, sem dúvida, uma das grandes contribuições da América 
Latina à teoria e à prática educativa em âmbito internacional. A noção de aprender a partir do 
conhecimento do sujeito, a noção de ensinar a partir de palavras e temas geradores, a educação como 
ato de conhecimento e de transformação social e a politicidade da educação são apenas alguns dos 
legados da educação popular à pedagogia crítica universal. 
 
Universalização da Educação Básica e Novas Matrizes Teóricas 
 
A educação apresenta-se numa dupla encruzilhada: de um lado, o desempenho do sistema escolar 
não tem dado conta da universalização da educação básica de qualidade; de outro, as novas matrizes 
teóricas não apresentam ainda a consistência global necessária para indicar caminhos realmente seguros 
numa época de profundas e rápidas transformações. Essa é uma das preocupações do Instituto Paulo 
Freire, buscando, a partir do legado de Paulo Freire, consolidar o seu “Projeto da Escola Cidadã”, como 
resposta à crise de paradigmas. A concepção teórica e as práticas desenvolvidas a partir do conceito de 
Escola Cidadã podem constituir-se numa alternativa viável, de um lado, ao projeto neoliberal de educação, 
amplamente hegemônico, baseado na ética do mercado, e, de outro lado, à teoria e à prática de uma 
educação burocrática, sustentada na “estatolatria” (Antônio Gramsci). É uma escola que busca fortalecer 
autonomamente o seu projeto político-pedagógico, relacionando-se dialeticamente - não mecânica e 
subordinadamente - com o mercado, o Estado e a sociedade. Ela visa formar o cidadão para controlar o 
mercado e o Estado, sendo, ao mesmo tempo, pública quanto ao seu destino - isto é, para todos - estatal 
quanto ao financiamento e democrática e comunitária quanto à sua gestão. 
Seja qual for a perspectiva que a educação contemporânea tomar, uma educação voltada para o futuro 
será sempre uma educação contestadora, superadora dos limites impostos pelo Estado e pelo mercado, 
portanto, uma educação muito mais voltada para a transformação social do que para a transmissão 
cultural. Por isso, acredita-se que a pedagogia da práxis, como uma pedagogia transformadora, em suas 
várias manifestações, pode oferecer um referencial geral mais seguro do que as pedagogias centradas 
na transmissão cultural, neste momento de perplexidade. 
 
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Sociedade da Informação e Educação 
Costuma-se definir nossa era como a era do conhecimento. Se for pela importância dada hoje ao 
conhecimento, em todos os setores, pode-se dizer que se vive mesmo na era do conhecimento, na 
sociedade do conhecimento, sobretudo em consequência da informatização e do processo de 
globalização das telecomunicações a ela associado. Pode ser que, de fato, já se tenha ingressado na era 
do conhecimento, mesmo admitindo que grandes massas da população estejam excluídas dele. Todavia, 
o que se constata é a predominância da difusão de dados e informações e não de conhecimentos. Isso 
está sendo possível graças às novas tecnologias que estocam o conhecimento, de forma prática e 
acessível, em gigantescos volumes de informações, que são armazenadas inteligentemente, permitindo 
a pesquisa e o acesso de maneira muito simples, amigável e flexível. É o que já acontece com a Internet: 
para ser “usuário”, basta dispor de uma linha telefônica e um computador. “Usuário” não significa aqui 
apenas receptor de informações, mas também emissor de informações. Pela Internet, a partir de qualquer 
sala de aula do planeta, pode-se acessar inúmeras bibliotecas em muitas partes do mundo. As novas 
tecnologias permitem acessar conhecimentos transmitidos não apenas por palavras, mas também por 
imagens, sons, fotos, vídeos (hipermídia), etc. Nos últimos anos, a informação deixou de ser uma área 
ou especialidade para se tornar uma dimensão de tudo, transformando profundamente a forma como a 
sociedade se organiza. Pode-se dizer que está em andamento uma Revolução da Informação, como 
ocorreram no passado a Revolução Agrícola e a Revolução Industrial. 
Ladislau Dowbor11, após descrever as facilidades que as novas tecnologias oferecem ao professor, se 
pergunta: o que eu tenho a ver com tudo isso, se na minha escola não tem nem biblioteca e com o meu 
salário eu não posso comprar um computador? Ele mesmo responde que será preciso trabalhar em dois 
tempos: o tempo do passado e o tempo do futuro. Fazer tudo hoje para superar as condições do atraso 
e, ao mesmo tempo, criar as condições para aproveitar amanhã as possibilidades das novas tecnologias. 
As novas tecnologias criaram novos espaços do conhecimento. Agora, além da escola, também a 
empresa, o espaço domiciliar e o espaço social tornaram-se educativos. Cada dia mais pessoas estudam 
em casa, pois podem, de casa, acessar o ciberespaço da formação e da aprendizagem a distância, buscar 
“fora” - a informação disponível nas redes de computadores interligados - serviços que respondem às 
suas demandas de conhecimento. Por outro lado, a sociedade civil (ONGs, associações, sindicatos, 
igrejas, etc.) está se fortalecendo não apenas como espaço de trabalho, em muitos casos, voluntário, mas 
também como espaço de difusão de conhecimentos e de formação continuada. É um espaço 
potencializado pelas novas tecnologias, inovando constantemente nas metodologias. Novas 
oportunidades parecem abrir-se para os educadores. Esses espaços de formação têm tudo para permitir 
maior democratização da informação e do conhecimento, portanto, menos distorção e menos 
manipulação, menos controle e mais liberdade. É uma questão de tempo, de políticas públicas adequadas 
e de iniciativa da sociedade. A tecnologia não basta. É preciso a participação mais intensa e organizada 
da sociedade. O acesso à informação não é apenas um direito. É um direito fundamental, um direito 
primário, o primeiro de todos os direitos, pois sem ele não se tem acesso aos outros direitos. 
Na formação continuada necessita-se de maior integração entre os espaços sociais (domiciliar, 
escolar, empresarial, etc.), visando equipar o aluno para viver melhor na sociedade do conhecimento. 
Como previa Herbert McLuhan, o planeta tornou-se a nossa sala de aula e o nosso endereço. O 
ciberespaçonão está em lugar nenhum, pois está em todo o lugar o tempo todo. Estar num lugar 
significaria estar determinado pelo tempo (hoje, ontem, amanhã). No ciberespaço, a informação está 
sempre e permanentemente presente e em renovação constante. O ciberespaço rompeu com a ideia de 
tempo próprio para a aprendizagem. Não há tempo e espaço próprios para a aprendizagem. Como ele 
está todo o tempo em todo lugar, o espaço da aprendizagem é aqui - em qualquer lugar - e o tempo de 
aprender é hoje e sempre. A sociedade do conhecimento se traduz por redes, “teias” (Ivan Illich), “árvores 
do conhecimento” (Humberto Maturana), sem hierarquias, em unidades dinâmicas e criativas, 
favorecendo a conectividade, o intercâmbio, consultas entre instituições e pessoas, articulação, contatos 
e vínculos, interatividade. A conectividade é a principal característica da Internet. 
O conhecimento é o grande capital da humanidade. Não é apenas o capital da transnacional que 
precisa dele para a inovação tecnológica. Ele é básico para a sobrevivência de todos e, por isso, não 
deve ser vendido ou comprado, mas sim disponibilizado a todos. Esta é a função de instituições que se 
dedicam ao conhecimento apoiado nos avanços tecnológicos. Espera-se que a educação do futuro seja 
mais democrática, menos excludente. Essa é ao mesmo tempo nossa causa e nosso desafio. 
Infelizmente, diante da falta de políticas públicas no setor, acabaram surgindo “indústrias do 
conhecimento”, prejudicando uma possível visão humanista, tornando-o instrumento de lucro e de poder 
econômico. 
 
11 DOWBOR, L. A reprodução social. São Paulo, Vozes, 1998. 
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A educação, em particular a educação a distância, é um bem coletivo e, por isso, não deve ser regulada 
pelo jogo do mercado, nem pelos interesses políticos ou pelo furor legiferante de regulamentar, 
credenciar, autorizar, reconhecer, avaliar, etc. de muitos tecnoburocratas. Quem deve decidir sobre a 
qualidade dos seus certificados não é nem o Estado e nem o mercado, mas sim a sociedade e o sujeito 
aprendente. Na era da informação generalizada, existirá ainda necessidade de diplomas? 
O que cabe à escola na sociedade informacional? Cabe a ela organizar um movimento global de 
renovação cultural, aproveitando-se de toda essa riqueza de informações. Hoje é a empresa que está 
assumindo esse papel inovador. A escola não pode ficar a reboque das inovações tecnológicas. Ela 
precisa ser um centro de inovação. Temos uma tradição de dar pouca importância à educação 
tecnológica, a qual deveria começar já na educação infantil. 
Na sociedade da informação, a escola deve servir de bússola para navegar nesse mar do 
conhecimento, superando a visão utilitarista de só oferecer informações “úteis” para a competitividade, 
para obter resultados. Deve oferecer uma formação geral na direção de uma educação integral. O que 
significa servir de bússola? Significa orientar criticamente, sobretudo as crianças e jovens, na busca de 
uma informação que os faça crescer e não embrutecer. 
Hoje vale tudo para aprender. Isso vai além da “reciclagem” e da atualização de conhecimentos e muito 
mais além da “assimilação” de conhecimentos. A sociedade do conhecimento possui múltiplas 
oportunidades de aprendizagem: parcerias entre o público e o privado (família, empresa, associações, 
etc.); avaliações permanentes; debate público; autonomia da escola; generalização da inovação. As 
consequências para a escola e para a educação em geral são enormes: ensinar a pensar; saber 
comunicar-se; saber pesquisar; ter raciocínio lógico; fazer sínteses e elaborações teóricas; saber 
organizar o seu próprio trabalho; ter disciplina para o trabalho; ser independente e autônomo; saber 
articular o conhecimento com a prática; ser aprendiz autônomo e a distância. 
Neste contexto de impregnação do conhecimento, cabe à escola: amar o conhecimento como espaço 
de realização humana, de alegria e de contentamento cultural; selecionar e rever criticamente a 
informação; formular hipóteses; ser criativa e inventiva (inovar); ser provocadora de mensagens e não 
pura receptora; produzir, construir e reconstruir conhecimento elaborado. E mais: numa perspectiva 
emancipadora da educação, a escola tem que fazer tudo isso em favor dos excluídos, não discriminando 
o pobre. Ela não pode distribuir poder, mas pode construir e reconstruir conhecimentos, saber, que é 
poder. Numa perspectiva emancipadora da educação, a tecnologia contribui muito pouco para a 
emancipação dos excluídos se não for associada ao exercício da cidadania. 
Como diz Ladislau Dowbor, a escola deixará de ser “lecionadora” para ser “gestora do conhecimento”. 
Segundo o autor, “pela primeira vez a educação tem a possibilidade de ser determinante sobre o 
desenvolvimento”. A educação tornou-se estratégica para o desenvolvimento, mas, para isso, não basta 
“modernizá-la”, como querem alguns. Será preciso transformá-la profundamente. 
A escola precisa ter projeto, precisa de dados, precisa fazer sua própria inovação, planejar-se a médio 
e a longo prazos, fazer sua própria reestruturação curricular, elaborar seus parâmetros curriculares, enfim, 
ser cidadã. As mudanças que vêm de dentro das escolas são mais duradouras. Da sua capacidade de 
inovar, registrar, sistematizar a sua prática/experiência, dependerá o seu futuro. Nesse contexto, o 
educador é um mediador do conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua própria formação. Ele 
precisa construir conhecimento a partir do que faz e, para isso, também precisa ser curioso, buscar 
sentido para o que faz e apontar novos sentidos para o que fazer dos seus alunos. 
Em geral, temos a tendência de desvalorizar o que fazemos na escola e de buscar receitas fora dela 
quando é ela mesma que deveria governar-se. É dever dela ser cidadã e desenvolver na sociedade a 
capacidade de governar e controlar o desenvolvimento econômico e o mercado. A cidadania precisa 
controlar o Estado e o mercado, verdadeira alternativa ao capitalismo neoliberal e ao socialismo 
burocrático e autoritário. A escola precisa dar o exemplo, ousar construir o futuro. Inovar é mais importante 
do que reproduzir com qualidade o que existe. A matéria-prima da escola é sua visão do futuro. 
A escola está desafiada a mudar a lógica da construção do conhecimento, pois a aprendizagem agora 
ocupa toda a nossa vida. E porque passamos todo o tempo de nossas vidas na escola - não só nós, 
professores - devemos ser felizes nela. A felicidade na escola não é uma questão de opção metodológica 
ou ideológica, mas sim uma obrigação essencial dela. Como diz Georges Snyders no livro ‘A alegria na 
escola, precisamos de uma nova “cultura da satisfação”, precisamos da “alegria cultural’. O mundo de 
hoje é “favorável à satisfação” e a escola também pode sê-lo. 
O que é ser professor hoje? Ser professor hoje é viver intensamente o seu tempo, conviver; é ter 
consciência e sensibilidade. Não se pode imaginar um futuro para a humanidade sem educadores, assim 
como não se pode pensar num futuro sem poetas e filósofos. Os educadores, numa visão emancipadora, 
não só transformam a informação em conhecimento e em consciência crítica, mas também formam 
pessoas. Diante dos falsos pregadores da palavra, dos marketeiros, eles são os verdadeiros “amantes da 
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sabedoria”, os filósofos de que nos falava Sócrates. Eles fazem fluir o saber (não o dado, a informação e 
o puro conhecimento), porque constroem sentido para a vida das pessoas e para a humanidade e 
buscam, juntos, um mundo mais justo, mas produtivo e mais saudável para todos. Por isso eles são 
imprescindíveis. 
 
Educação do Futuro 
Jacques Delors12, coordenador do “Relatório para a Unesco da Comissão Internacional Sobre 
Educação para o Século XXI”, no livro Educação: um tesouro a descobrir, aponta como principal 
consequência da sociedade do conhecimento a necessidadede uma aprendizagem ao longo de toda a 
vida (Lifelong Learning) fundada em quatro pilares que são ao mesmo tempo pilares do conhecimento e 
da formação continuada. Esses pilares podem ser tomados também como bússola para nos orientar rumo 
ao futuro da educação. 
 
Aprender a conhecer: prazer de compreender, descobrir, construir e reconstruir o conhecimento, 
curiosidade, autonomia, atenção. Inútil tentar conhecer tudo. Isso supõe uma cultura geral, o que não 
prejudica o domínio de certos assuntos especializados. Aprender a conhecer é mais do que aprender a 
aprender. Aprender mais linguagens e metodologias do que conteúdos, pois estes envelhecem 
rapidamente. Não basta aprender a conhecer. É preciso aprender a pensar, a pensar a realidade e não 
apenas “pensar pensamentos”, pensar o já dito, o já feito, reproduzir o pensamento. É preciso pensar 
também o novo, reinventar o pensar, pensar e reinventar o futuro. 
 
Aprender a fazer: é indissociável do aprender a conhecer. A substituição de certas atividades 
humanas por máquinas acentuou o caráter cognitivo do fazer. O fazer deixou de ser puramente 
instrumental. Nesse sentido, vale mais hoje a competência pessoal que torna a pessoa apta a enfrentar 
novas situações de emprego, mas apta a trabalhar em equipe, do que a pura qualificação profissional. 
Hoje, o importante na formação do trabalhador, também do trabalhador em educação, é saber trabalhar 
coletivamente, ter iniciativa, gostar do risco, ter intuição, saber comunicar-se, saber resolver conflitos, ter 
estabilidade emocional. Essas são, acima de tudo, qualidades humanas que se manifestam nas relações 
interpessoais mantidas no trabalho. A flexibilidade é essencial. Existem hoje perto de 11 mil funções na 
sociedade contra aproximadamente 60 profissões oferecidas pelas universidades. Como as profissões 
evoluem muito rapidamente, não basta preparar-se profissionalmente para um trabalho. 
 
Aprender a viver juntos: a viver com os outros. Compreender o outro, desenvolver a percepção da 
interdependência, da não-violência, administrar conflitos. Descobrir o outro, participar em projetos 
comuns. Ter prazer no esforço comum. Participar de projetos de cooperação. Essa é a tendência. No 
Brasil, como exemplo desta tendência, pode-se citar a inclusão de temas/eixos transversais (ética, 
ecologia, cidadania, saúde, diversidade cultural) nos Parâmetros Curriculares Nacionais, que exigem 
equipes interdisciplinares e trabalho em projetos comuns. 
 
Aprender a ser: desenvolvimento integral da pessoa: inteligência, sensibilidade, sentido ético e 
estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade, pensamento autônomo e crítico, imaginação, 
criatividade, iniciativa. Para isso não se deve negligenciar nenhuma das potencialidades de cada 
indivíduo. A aprendizagem não pode ser apenas lógico-matemática e linguística. Precisa ser integral. 
Iniciou-se este texto procurando situar o que significa “perspectiva”. Sem pretender fazer qualquer 
exercício de futurologia e muito mais no sentido de estabelecer pontos para o debate, serão apontados 
aqui algumas categorias em torno da educação do futuro, que indicam o surgimento de temas com 
importantes consequências para a educação. 
 
As categorias “contradição”, “determinação”, “reprodução”, “mudança”, “trabalho”, “práxis”, 
“necessidade”, “possibilidade” aparecem frequentemente na literatura pedagógica contemporânea, 
sinalizando já uma perspectiva da educação, a perspectiva da pedagogia da práxis. Essas categorias 
tornaram-se clássicas na explicação do fenômeno da educação, principalmente a partir de Hegel e de 
Marx. A dialética constitui-se, até hoje, no paradigma mais consistente para analisar o fenômeno da 
educação. Pode-se e deve-se estudá-la e estudar todas as categorias anteriormente apontadas. Elas não 
podem ser negadas, pois ajudarão muito na leitura do mundo da educação atual. Elas não podem ser 
negadas ou desprezadas como categorias “ultrapassadas”. 
 
12 DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. São Paulo: 
Cortez, 1998. 
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Porém, também podemos nos ocupar mais especificamente de outras, ao pensar a educação do futuro, 
categorias nascidas ao mesmo tempo da prática da educação e da reflexão sobre ela. Eis algumas delas 
a título de exemplo: 
a) Cidadania: o que implica também tratar do tema da autonomia da escola, de seu projeto político-
pedagógico, da questão da participação, da educação para a cidadania. Dentro desta categoria, pode-se 
discutir particularmente o significado da concepção de escola cidadã e de suas diferentes práticas. Educar 
para a cidadania ativa tornou-se hoje projeto e programa de muitas escolas e de sistemas educacionais. 
b) Planetaridade: a Terra é um “novo paradigma” (Leonardo Boff). Que implicações tem essa visão 
de mundo sobre a educação? O que seria uma ecopedagogia (Francisco Gutiérrez) e uma ecoformação 
(Gaston Pineau)? O tema da cidadania planetária pode ser discutido a partir desta categoria. Podemos 
nos perguntar como Milton Nascimento: “para que passaporte se fazemos parte de uma única nação?” 
Que consequências podemos tirar para alunos, professores e currículos? 
c) Sustentabilidade: o tema da sustentabilidade originou-se na economia (“desenvolvimento 
sustentável”) e na ecologia, para se inserir definitivamente no campo da educação, sintetizada no lema 
“uma educação sustentável para a sobrevivência do planeta”. O que seria uma cultura da 
sustentabilidade? Esse tema deverá dominar muitos debates educativos das próximas décadas. O que 
estamos estudando nas escolas? Não estaremos construindo uma ciência e uma cultura que servem para 
a degradação/deterioração do planeta? 
d) Virtualidade: esse tema implica toda a discussão atual sobre a educação a distância e o uso dos 
computadores nas escolas (Internet). A informática, associada à telefonia, nos inseriu definitivamente na 
era da informação. Quais as consequências para a educação, para a escola, para a formação do professor 
e para a aprendizagem? Consequências da obsolescência do conhecimento. Como fica a escola diante 
da pluralidade dos meios de comunicação? Eles abrem os novos espaços da formação ou irão substituir 
a escola? 
e) Globalização: o processo da globalização está mudando a política, a economia, a cultura, a história 
e, portanto, também a educação. É um tema que deve ser enfocado sob vários prismas. A globalização 
remete também ao poder local e às consequências locais da nossa dívida externa global (e dívida interna 
também, a ela associada). O global e o local se fundem numa nova realidade: o “global”. O estudo desta 
categoria remete à necessária discussão do papel dos municípios e do “regime de colaboração” entre 
União, estados, municípios e comunidade, nas perspectivas atuais da educação básica. Para pensar a 
educação do futuro, é necessário refletir sobre o processo de globalização da economia, da cultura e das 
comunicações. 
f) Transdisciplinaridade: embora com significados distintos, certas categorias como 
transculturalidade, transversalidade, multiculturalidade e outras como complexidade e holismo também 
indicam uma nova tendência na educação que será preciso analisar. Como construir interdisciplinarmente 
o projeto pedagógico da escola? Como relacionar multiculturalidade e currículo? É necessário realizar o 
debate dos PCN. Como trabalhar com os “temas transversais”? O desafio de uma educação sem 
discriminação étnica, cultural, de gênero. 
g) Dialogicidade, dialeticidade: não se pode negar a atualidade de certas categorias freireanas e 
marxistas, a validade de uma pedagogia dialógica ou da práxis. Marx, em O capital, privilegiou as 
categorias hegelianas “determinação”, “contradição”, “necessidade” e “possibilidade”. A fenomenologia 
hegeliana continua inspirando nossa educação e deverá atravessar os anos. A educação popular

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