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*Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Disciplina Estado e Relações de Poder O pensamento de Maquiavel Prof. Giorgio Romano 28 de maio de 2010 http://tidia.ufabc.edu.br:8080/ Membership: Prof. Giorgio Romano *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Contexto histórico – 2ª metade sec. XV Grande mudanças em governos e ideias sobre o governo Época medieval: Poder político disperso (feudalismo). Sociedade medieval era local (reflexo organização econômica/ transporte) *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Contexto histórico – 2ª metade sec. XV (2) Novidade: unidade nacional + Rei superação ideias sobre papel igreja e império Organização comércio em âmbito nacional + comércio longa distância. Era necessário poder político nacional => Monarquias absolutas substituíram as cidades livres e o sistema feudal (revolucionando instituições e civilização medieval) *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Contexto histórico – 2ª metade sec. XV (2) Classe emergente dos comerciantes , inimiga dos nobres, aliou-se ao Rei. Espanha: união Fernando Aragão/Isabella Castilla Inglaterra: Henry VII – reino absoluto Tudor França: exemplo mais clássico de surgimento consolidação poder centralizado: tributação nacional para financiar o exército cidadão *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Preocupação Maquiavel E a Itália? País dividido entre cinco centros de poder: Veneza, Milão, Florença (Firenze), Roma e Nápoles Lógica política: Evitar invasões estrangeiras Manutenção do equilíbrio de poder *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Preocupação Maquiavel Itália deve adaptar-se à nova situação: precisa de um líder para criar um Estado nacional. A organização das cidades livres não poderia resistir. No livro “Comentários (Discorsi) sobre a primeira década de Tito Lívio”: Um país nunca pode ser unido e feliz quando não obedece um só governo, republicano ou monárquico, como nos casos da França e Espanha. *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Preocupação Maquiavel O que diferencia Espanha e França da desordem e corrupção na Itália? É que eles têm um rei que os une. Percepção do novo fenômeno das nações- Estado. Cap XXVI: É preciso um novo monarca na Itália (um libertador). Uma nova forma de governo. E para isso fala-se até em “guerra justa”. *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * O Príncipe Combinação de: Experiência concreta Observação processos políticos Estudo da história Dirigido ao Lorenzo de Medici (potencial “salvador” da Itália) Empirismo senso comum: não há ainda tentativa de empirismo indutivo (testar hipóteses). Exemplos históricos são selecionados para sustentar suas teses. *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * O Príncipe Sucesso ou fracasso da política depende do líder. O Princípe é o governante, o poder Executivo, a autoridade legítima. Logo no início do Cap II: “Discorrerei somente sobre os principados, examinando de que modo suas várias modalidades...podem ser mantidas e governadas”. *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * O Príncipe O livro pode ser lido de várias formas Na tradição diplomática (precursora RI), balanço de poder entre cidades-estados Manual sobre liderança (psicologia superficial) Tratado político sobre a oportunidade histórica de criar um Estado na Itália e a necessidade de um príncipe assumir essa tarefa *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Fortuna e Virtú: contra o determinismo Virtú => capacidade de realizar; poder humano de efetuar mudanças Fortuna=> o acaso; o curso da história Entre Fortuna e Virtú: a oportunidade “...não devemos nada à fortuna, senão à oportunidade (l´ocassione)...” “...sem sua virtude, a ocasião teria vindo em vão”. *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Fortuna e Virtú: contra o determinismo Maquiavel se posiciona contra o fatalismo que se conformava com o comando do mundo pela Providência divina (determinismo) ou pelo acaso. Por isso a importância do conhecimento do mundo: apoderar-se da oportunidade, permacendo imunes às surpresas do acaso => Política como exercício da escolha É preferível o príncipe ser audacioso do que prudente. *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Fortuna e Virtú: contra o determinismo Cap XXIV/ XXV: Sorte - mostra todo o seu poder quando não foi posto nenhum empenho para lhe resistir. Considerar em tempos tranquilos as coisas que podem mudar (“lembrar da tempestade durante a calmaria”) => defesa de planejamento (p. 145/146) *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Fortuna e Virtú: contra o determinismo Quem sabe faz a hora, não espera acontecer (Geraldo Vandré) Que Deus me dê a serenidade de aceitar as coisas que não posso mudar, coragem de mudar as coisas que posso e a sabedoria de ver a diferença. (Francisco de Assis, Sec XII/XIII) *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Realismo político Descrição das coisas como são, não a defesa do que elas deveriam ser. Objetivo da política: a conquista do poder e a sua manutenção. O Príncipe como estudo sobre a dinâmica do poder: disputa de poder permanente Elemente a-histórico: condição humana, independe de lugar e época. *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Realismo político “...exaggerate the importance of the game for its own sake and to minimize the purposes for which the game is presumably played. Politics is an end in itself”. (Sabine/Thorson) Governo de sucesso garante segurança da propriedade. “O homem mais facilmente esquece do assassinato do pai do que do confisco do seu patrimônio” => desenvolvido por Thomas Hobbes (meados século 17) *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Realismo político Cap III Organização de colônias Cap VI Fala na dificuldade de instituir uma nova ordem das coisas. Quem toma tal iniciativa suscita a inimizade de todos os que são beneficiados pela ordem antiga. Cap XII/ XIII Não confiar em tropas mercenárias e/ou forças auxiliares (de vizinhos poderosos). *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Natureza humana Profetas armados vencem, são arruinados os desarmados. Justificativa: “...a natureza dos povos é lábil: é fácil persuadi- los de uma coisa, mas é difícil que mantenham sua opinião. Por isso, convém ordenar tudo de modo que , quando não mais acreditam, se lhes possa fazer crer pela força”. *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Natureza humana Cap XVIII Príncipe não precisa agir com boa fé: “...quando, para fazê-lo, precisa agir contra seus interesses...Este preceito não seria bom se todos os homens fossem bons”. Cap XXIII “...os homens falam sempre com falsidade, a não ser quando a necessidade os obriga a serem verídicos” (Na mesma linha: conselheiros/assessores pensam todos nos seus próprios interesses) *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Ética e Moral em Maquiavel Thomaso de Aquino (século 13) em “Sobre a Realeza” dava conselhos ao príncipe cristão: piedade, moderação, caridade, generosidade, honestidade. Maquiavel: “...para se manter o príncipe deve adquirir a capacidade e não ser bom, e que faça ou não uso dela de acordo com a necessidade”. *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Ética e Moral em Maquiavel O Bem e o Mal não têm sentido na vida sociopolítica se forem abstratamente dissociados. Indiferença ao uso de meios imorais para objetivos políticos: o governo depende de força. Critério de legitimidade do mal: uma minimização do uso dos instrumentos de poder + maximização da eficácia dos resultados (proporcionalidade) *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Ética e Moral em Maquiavel Cap VIII - “Uso adequado ou não da crueldade”. Usar a crueldade bem: “...uma só vez, com o objetivo de se garantir, sem dar-lhe continuidade, mas ao contrário substituíram por medidas tão benéficas a seus súditos quanto possível”.Crueldade mal-empregada: “...a que sendo a princípio pouca, cresce com o tempo, em vez de diminuir”. “praticar todas as necessárias crueldades ao mesmo tempo”. (pg 68/69) *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Ética e Moral em Maquiavel Nos Comentários Tito Lívio: “...enquanto o ato o acusa, o resultado o escusa..(ações repreensíveis podem ser justificadas por seu efeito) quando o resultado for bom, como o caso do Romulus, ele sempre justifica a ação. Pois censurável é o homem que usa da violência para estragar as coisas, e não aquele que faz uso dela para consertá-la.” *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Ética e Moral em Maquiavel Cap XVIII Evitar desviar-se do bem quando foi possível, mas guardando a capacidade de praticar o mal, se forçado pela necessidade: “...os fins justificam os meios”. Cap XIX “..quando um partido cujo apoio lhe seja necessário para manter sua posição é corrupto, precisa amoldar-se a ele e satisfazê-lo...” *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Ética e Moral em Maquiavel Não a ética da consciência, dos valores. Mas, a ética dos resultados, das conseqüências da ação. A moral cristã não serve por ser de outro mundo. Não é a intenção que valida o ato, mas seu resultado (the proof of the pudding is in the eating) Por isso não condena a força quando necessária. Mas necessária para que? *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Ética e Moral em Maquiavel Abstração da política: non-moral mais que imoral? Aristótoles, na sua obra sobre a política: considerações sobre a preservação dos Estados em referência a bem ou mal. Cap XVII: “O príncipe, portanto, não deve se incomodar com a reputação de cruel, se seu propósito é manter o povo unido e leal.” *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Ética e Moral em Maquiavel Cap. XV O Príncipe “...não deverá se importar com a prática escandalosa daqueles vícios sem os quais seria difícil salvar o Estado”. Poder pelo poder? Objetivo do príncipe: uma ordem estável em meio a um mundo de contingência e acaso. Somente por esse propósito é que a prática da tirania pode ser usada. *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Ética e Moral em Maquiavel Robert Chisholm: A ética política de Maquiavel tem como um de seus componentes a lealdade e alguma instituição que vai além da fortuna pessoal. Ou seja: não é somente a conquista e a manutenção do poder. Ele coloca a ambição necessária do príncipe acima de interesses imediatos: estabelecimento da ordem temporal. Não fornece a base para uma moralidade universal, apenas para as relações entre as cidadãos e entre governante e governado. *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Princípios democráticos em Maquiavel? Entusiasmo para governos populares como na república romana desaparece no Príncipe: seria impraticável naquela época na Itália. Era preciso um príncipe absoluto. Um nome forte, porque precisará combater as elites aristocráticas que impedem a consolidação de um Estado republicano. *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Princípios democráticos em Maquiavel? Porém: afirma no Príncipe a importância fundamental do consentimento e apoio populares para o êxito de qualquer política: o consentimento das massas é a melhor garantia de estabilidade (precursor da tradição democrática moderna?) *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Princípios democráticos em Maquiavel O príncipe precisa do apoio do povo Cap III “...o príncipe precisará sempre do favor dos habitantes de um território para poder dominá-lo, por mais poderoso que seja seu exército”. “...precisa tratar bem os homens ou então aniquilá-los”. Cap IX: “...é necessário que o príncipe tenha o favor do povo, senão, não encontrará seu apoio na adversidade.” Cap XX: “...a melhor fortaleza é a construída sobre a estima dos súditos, pois as fortificações não salvarão um príncipe odiado pelo povo”. *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Princípios democráticos em Maquiavel O príncipe precisa do apoio do povo Cap IX Governo civil – poder pelo favor de seus concidadãos. Em todas as cidades duas facções: o povo e os poderosos. “Quando os ricos percebem que não podem resistir à pressão da massa, unem-se, prestigiando um dos seus e fazendo o príncipe, de modo a poder perseguir seus propósitos à sombra da autoridade soberana.” Mas: “Quem chega ao poder com a ajuda dos ricos tem maior dificuldade em manter-se no governo do que quem é apoiado pelo povo”. *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * Princípios democráticos em Maquiavel O príncipe precisa do apoio do povo Cap XVII É preciso evitar o ódio abstiver de atentar contra o patrimônio e suas mulheres quando for preciso executar um cidadão, que haja uma justificativa e uma razão manifesta. alcançar prestígio e grande reputação instituir prêmios para quem melhore sua cidade ou estado (Cap XXI) organizar festas e espetáculos (Cap XXI) dar atenção a todos as classes, corporações, reunir-se com seus membros (Cap XXI) *Giorgio Romano, 14.maio.2008 * * O Mito do líder Ênfase na importância da liderança: impor confiança, governar é decidir. Só inspira credibilidade na massa quem age com decisão. Mito do líder absoluto que defende o destino da nação (despotismo iluminado)
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