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NARRATIVA HISTÓRICA Historia do Direito

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NARRATIVA HISTÓRICA: A GUERRA DO PARAGUAI E SEUS DESDOBRAMENTOS.
Para iniciarmos a discussão, válido seria nos atentarmos para o trecho abaixo extraído de um livro didático, que retrata o fato histórico sobre a Guerra do Paraguai.
IMAGEM 1 – RECORTE DE UM LIVRO DIDÁTICO
Fonte: Disponível em: <http://www.cneceduca.com.br/ebooks/ensino-fundamental/9o-ano-historia-volume-1/9a-md-historia-vol115.pdfd>. Acesso em 28 de fevereiro de 2017. 
	Tal recorte se faz necessário para os questionamentos que se farão presentes mais adiante e, fundamentais para compreender o que nos fala Gustavo Siqueira, quando nos diz que “Os manuais fazem um desserviço aos estudantes, eles ensinam errado. Ensinam uma abordagem histórica sem método, sem lógica, sem historicidade” e o que corrobora FONSECA quando nos diz que “a apropriação teórica será intuitiva, logo irrefletida e, portanto, prenhe de consequências teóricas e práticas indesejadas”.[1: Pequeno Ensaio sobre como o Direito Ensina Errado a História ou Algumas Dicas para Quem Faz Um Trabalho Acadêmico.]
	Isto se comprova quando nos perguntamos, através deste recorte apresentado, algumas ideias como:
Porque o Brasil havia invadido Uruguai? Teria esta invasão sido um ato agressivo que originaria a guerra?
A quantidade de mortes realmente chegou a 60 e 70% dos habitantes?
Que parcela da sociedade fazia parte desta guerra?
Escravos foram enviados para participarem da guerra?
E assim poderíamos prosseguir com milhares de questionamentos, mas o que percebemos é que tal recorte em momento nenhum se aprofundou em uma pesquisa, em momento algum questiona ou problematiza a história que é contada.
Segundo FONSECA “A ênfase que damos na formulação de novas perguntas é deliberadamente maior que no oferecimento de respostas, pois um saber tanto é mais instigante quanto mais tenha capacidade de formular questões novas, às vezes inusitadas e surpreendentes, diante de uma realidade que às vezes é sempre batida por um mesmo tipo de olhar”. E foi através de um recorte como esse que inúmeros pesquisadores buscaram, investigaram e desmontaram muitas mentiras contadas na história da Guerra do Paraguai.
A começar pela quantidade de mortos, a historiadora americana Vera Blinn Reber fez, em 1988, um estudo detalhado sobre a estimativa da população paraguaia usando taxas demográficas da época para calcular a população. Segundo ela, os paraguaios não passavam de 318 mil pouco antes da guerra. E as perdas humanas durante o conflito seriam de 8,7% da população. No máximo, 18%, chutando para cima.
Isso nos mostra o que de fato é a pesquisa, outro aspecto a ser observado é a busca de documentos da época, como forma de documentar informações e prestar esclarecimentos verdadeiros. É o que se observa em um anúncio no jornal Dezenove de Dezembro que informa que durante a guerra um escravo fugiu de seu proprietário para se alistar no Exército. 
Nas palavras de Edilson Brito “Isso mostra como a escravidão no Brasil era perversa, já que muitos escolhiam servir na guerra do que viver sob o jugo do cativeiro”. FONSECA se faz muito claro quando nos diz que “Não se pode fazer história do direito sem prestar atenção nas contribuições, nas pesquisas, nas abordagens e nas metodologias específicas que os historiadores "gerais" utilizam”, vemos que na Guerra do Paraguai muitos pormenores foram colocados de lado, e sem prestar atenção nessas contribuições, a história que se constrói é inverídica e condenável.
SIQUEIRA já havia dito, de que “reduzir a história do direito à história das leis pode não demonstrar como o direito existia em um período”. Porque se levarmos em conta, a abolição da escravidão já era assunto em pauta, com a Bill Aberdeen (1845) e a Lei Eusébio de Queirós (1851), mas não era um direito que de fato existia naquela época.
E nessa pesquisa toda, o que falar a respeito das mulheres? Alguns historiadores indicam que nos últimos meses de guerra, mulheres e crianças famintas e em farrapos abordavam os soldados aliados. Ocorreram estupros e assassinatos de paraguaias indefesas, assim como casos de ajuda humanitária e até casamentos. O historiador gaúcho Fernando Ortolan descobriu certidões de mais de trezentos casamentos de soldados brasileiros com paraguaias logo que a guerra acabou.
Concluímos então aquilo que SIQUEIRA elucidou em toda a sua tese, de que “num trabalho acadêmico o que importa é a pesquisa e não o que ela conclui. Pesquisar é ir atrás do desconhecido, é buscar respostas que ainda não foram dadas e estar aberto para as descobertas”.
FONSECA nos alerta que “não há um único caminho para o conhecimento histórico (como não pode haver um único caminho para o saber)”. É nesse sentido que faço dele, as minhas palavras, pois uma abordagem meramente transmissiva não nos possibilita a dúvida construtiva, quem dirá uma investigação histórica. Acabamos por não nos preocuparmos com a problematização que promove novos resultados, estes afetados por cada tempo presente. 
Temos que aguçar o nosso olhar, pois o passado pode se modificar dependendo das fontes que são utilizadas para interpretação e para explicação do que aconteceu. E isso, isso não é ensinar história. Nas palavras de FONSECA é necessário “alterar o foco onde tradicionalmente os holofotes teóricos se dirigem”. Afinal de contas, ainda se aprende na escola que o Brasil praticou um genocídio no Paraguai durante uma guerra que teria sido criada pela Inglaterra.
REFERÊNCIAS
ANTONELLI, Diego. Feridas abertas da Guerra do Paraguai. Disponível em:<http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/especiais/guerra-doparaguai/adios-paraguai.jpp>. Acesso em 28 de fevereiro de 2017.
CUNHA, José Ricardo (Organizador). Epistemologias Críticas do Direito. Lumen Juris, Rio de Janeiro, 2016. 
FONSECA, Ricardo Marcelo. Introdução teórica à história do direito. Disponível em:<http://www.historiadodireito.com.br/mostra_textos.php?opcao=mostra_texto&id_textos=16>. Acesso em 05 de março de 2017.
NARLOCH, Leandro. Guia politicamente incorreto da história do Brasil. LEYA, São Paulo, 2009.
STOCHERO, Tahiane. Após 150 anos, estopim da Guerra do Paraguai ainda gera controvérsia. Disponível em: <http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/12/apos-150-anos-estopim-da-guerra-do-paraguai-ainda-gera-controversia.html>. Acesso em 28 de fevereiro de 2017.
TORAL, André Amaral de. A participação dos negros escravos na guerra do Paraguai. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/eav/article/view/8880/10432>. Acesso em 28 de fevereiro de 2017.
ALUNA: DAYANE KELLY RONCOVSKY SOBZAK, 1º período Direito.

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