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CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE OU VALORES-NOTÍCIA 
 
“Vários estudos sobre o jornalismo demonstram 
que os jornalistas têm uma enorme dificuldade 
em explicar o que é notícia, de explicar quais 
são os seus critérios de noticiabilidade, para 
além de respostas vagas do tipo ‘o que é 
importante’ e/ou ‘o que interessa ao público’” 
(TRAQUINA, 2005, p.62). 
 
Vamos trabalhar com a lista de valores-notícia produzida por Traquina (2005), 
porque entendemos que é, na verdade, uma composição das várias sistematizações já 
propostas somadas às contribuições do próprio pesquisador. Ela segue, por exemplo, a 
separação em duas categorias propostas pelo italiano Mario Wolf: os valores-notícia 
de seleção e os valores-notícia de construção. Os primeiros referem-se aos critérios 
usados pelos jornalistas para seleção dos acontecimentos que serão transformados em 
notícia (em detrimento de outros). Eles estão divididos em critérios substantivos 
(dizem respeito à avaliação direta do acontecimento em termos de sua importância ou 
interesse como notícia) e critérios contextuais (estão ligados ao contexto de produção 
da notícia). Os de construção, por sua vez, são relativos aos critérios de seleção dos 
elementos dentro do acontecimento dignos de serem incluídos na elaboração da notícia 
(funcionam como um guia, sugerindo o que deve ser realçado, omitido ou ainda 
prioritário na construção do acontecimento como notícia, a fim de que ele tenha mais 
chances de ser notado pelo público). Para Wolf, tais valores
1
, os de seleção e os de 
construção, estão presentes ao longo de todo o processo de produção jornalística. 
 
Valores-notícia de Seleção e Construção 
 
 Os critérios substantivos dos valores-notícia de seleção são, segundo Traquina 
(2005), a morte, a notoriedade, a proximidade, a relevância, a novidade, o tempo, a 
notabilidade, o conflito ou a controvérsia e a infração. O pesquisador defende que a 
morte é um valor fundamental para os jornalistas - “onde há morte, há jornalistas” 
 
1
 Pena (2010), embora apenas apresente a sistematização proposta por Mauro Wolf, também afirma – 
assim como Vizeu (2001) e Traquina (2005) – que a noticiabilidade é negociada durante todo o processo 
de produção da notícia. Segundo ele, isso faz com que todos os critérios sejam variáveis, porque, uma vez 
inseridos na rotina dos profissionais, passam a fazer parte do que se costuma chama de senso comum das 
redações. 
(TRAQUINA, 2005, p.79), o que explicaria o “negativismo” do mundo jornalístico 
apresentado ao público (a divulgação ou não da “morte” depende, no entanto, de outros 
critérios. Entre eles, da notoriedade do morto em questão). A notoriedade diz respeito à 
importância hierárquica dos indivíduos envolvidos no acontecimento (o nome e a 
posição da pessoa são importantes como fator de noticiabilidade). A proximidade pode 
ser geográfica ou cultural. Já a relevância refere-se à preocupação de informar, de falar 
sobre acontecimentos que são considerados importantes porque têm um impacto na vida 
das pessoas. 
Outro critério substantivo é a novidade, mostrar o que há de novo e pela primeira 
vez. O fator tempo pode ser compreendido no que concerne à atualidade, como gancho 
(no caso das efemérides, para justificar falar de novo sobre um mesmo assunto, como o 
aniversário de morte de um ícone da literatura nacional) e ainda numa forma mais 
estendida, quando um assunto ganha noticiabilidade e permanece com valor-notícia por 
um tempo mais dilatado (o autor cita o caso do Timor Leste, que após um massacre 
ocorrido em um cemitério do país, ganhou noticiabilidade e virou tema recorrente 
durante muito tempo em Portugual, independente de a questão estar relacionada ou não 
ao fato inicial). 
A notabilidade é a qualidade de ser visível, tangível. Envolve a quantidade de 
pessoas que o acontecimento implica (quanto maior o número de vítimas de um 
acidente ou a presença de nomes conhecidos, maior a notabilidade), a inversão ou o 
contrário do “normal” (ou seja, o insólito), a falha (os acidentes) e o excesso/escassez 
(enchentes/seca). O inesperado é um mega-acontecimento
2
 que subverte a rotina e 
provoca caos nas redações (os ataques terroristas do dia 11 de setembro de 2001, nos 
Estados Unidos, por exemplo). Outro valor-notícia é o conflito ou a controvérsia, que 
dizem respeito à violência física ou simbólica e a uma ruptura na ordem social. Ligado 
ao critério da violência, segundo Traquina (2005), está o da infração, isto é, a violação e 
a transgressão de regras (um escândalo encaixa-se no critério da infração). 
 
2Traquina (2005) descreve os mega-acontecimentos como eventos não programados e opostos aos 
acontecimentos de rotina. Os “acontecimentos mediáticos”, descritos por Dayan e Katz (apud 
TRAQUINA, 2005), são mega-acontecimentos. Porém, nem todo mega-acontecimento encaixa-se na 
categoria dos acontecimentos mediáticos. A explicação para isso está no fato de que estes últimos, de 
acordo com os autores, são necessariamente enquadrados no tempo e no espaço, pré-planejados e pré-
anunciados, a fim de que sua transmissão pela televisão seja direta ou, no jargão dos profissionais da área, 
ao vivo. Assim, enquanto a cobertura de uma guerra é um mega-acontecimento, uma Copa do Mundo 
seria o melhor exemplo do que Katz e Dayan chamam de acontecimento mediático. Retomaremos este 
assunto nas análises das situações específicas que analisamos neste trabalho. 
Para Traquina (2005), os critérios contextuais dos valores-notícia de seleção são 
a disponibilidade, o equilíbrio, a visualidade, a concorrência e o dia noticioso. A 
disponibilidade é a facilidade com que é possível fazer a cobertura do acontecimento 
(quais são os meios que a cobertura exige, qual o seu custo). O equilíbrio diz respeito à 
quantidade de notícias sobre um acontecimento ou assunto (o jornalista pode não querer 
dar um determinado assunto, porque o veículo falou há pouco tempo sobre ele). A 
visualidade está relacionada a elementos visuais como filmes ou fotografias. No 
telejornalismo, em particular, esse critério é fundamental (veremos, mais adiante, como 
o Jornal Nacional lida com essa questão). A concorrência revela sobre a competição 
entre as empresas jornalísticas, o valor que é dado ao “furo”, o sair na frente com 
material exclusivo. O último valor-notícia desse grupo, o dia noticioso, trata de 
demonstrar que, no jornalismo, cada dia é um dia e que há dias ricos em acontecimentos 
com valor-notícia e outros não. Um evento planejado, como uma coletiva de imprensa 
de um presidente da República, pode ser preterido pela cobertura de algo inesperado, 
como o desabamento de um prédio com vítimas. Até mesmo um telejornal inteiro pode 
“cair” e seu conteúdo ser substituído pela cobertura do que Traquina (2005) chama de 
mega-acontecimento. 
Foi o que aconteceu com o Jornal Nacional no dia 20 de junho de 2013, por 
exemplo, quando jovens de todo o país endossaram o movimento que havia começado 
em São Paulo, saindo às ruas com uma pauta extensa e diversificada de reinvindicações, 
que ia da redução das tarifas do transporte público ao combate à corrupção na política. 
Neste dia, a cobertura ao vivo que a Globo fazia das manifestações, com a jornalista e 
apresentadora do JN Patrícia Poeta, estendeu-se pelo horário normalmente ocupado pelo 
telejornal na grade de programação
3
 da TV Globo. Em determinado momento, William 
 
3 A grade de programação é um sistema de organização do fluxo televisivo, de forma que o público e os 
profissionais de TV possam sabero horário e a duração dos programas. Um meio é considerado de fluxo 
se ele se baseia na reprodução incessante de conteúdo, de modo independente do espectador (ele é 
unidirecional, pois parte apenas da TV para o público). “O fluxo temporal é organizado pelo modelo 
convencional de repetição: cada dia tem 24 horas, cada semana tem sete dias. Ou seja, a cada período pré-
fixado, o evento se repete, sem ser o mesmo – eis o princípio em que se baseia a grade televisiva” 
(CANNITO, 2010, p.51). Na grade de programação da Rede Globo, por exemplo, o Jornal Nacional 
ocupa um horário que é considerado nobre, a faixa das 20 horas. De segunda a sábado, a equipe envolvida 
na produção prepara o telejornal para que ele possa ser apresentado, ao vivo, a partir das 20h30 (horário 
de Brasília). Os telespectadores, há muito habituados com o JN, sabem que ao ligarem suas TVs nesse 
horário (que sofre pequenas variações de tempos em tempos), no canal da Globo em suas cidades, vão 
poder assistir ao telejornal. Eles sabem também que se ligarem mais tarde ou se não ligarem, o programa 
estará sendo exibido de qualquer forma, porque isso é algo que independe de sua ação. 
Bonner, editor-chefe e também apresentador do Jornal Nacional, ocupa seu lugar na 
bancada ao lado de Patrícia Poeta e explica para os telespectadores que a equipe estava 
preparando a edição daquele dia, mas que – dadas as circunstâncias – fazia mais sentido 
que o telejornal deixasse de lado sua previsão e seguisse acompanhando os fatos que 
estavam em desenvolvimento na tela da televisão. 
Por fim, os valores-notícia de construção, que interpretamos como estratégias 
construídas pelos jornalistas com o objetivo de que as notícias sejam notadas pelo 
público. Segundo Traquina (2005), compreendem a simplificação, a amplificação, a 
relevância, a personalização e a dramatização. Sobre a simplificação, o autor descreve 
que a lógica é a seguinte: “quanto mais o acontecimento é desprovido de ambiguidade e 
de complexidade, mais possibilidades tem a notícia de ser notada e compreendida. Uma 
notícia facilmente compreensível é preferível a uma outra cheia de ambiguidade” 
(TRAQUINA, 2005, p.91). A amplificação diz respeito às possibilidades de uma notícia 
ser notada, seja pela amplificação do ato, do interveniente ou das consequências do ato 
(por exemplo, “Brasil chora a morte de jovens em Santa Maria”). Quanto mais 
amplificado é o acontecimento, mas chances de a notícia ser percebida. 
Outro valor-notícia de construção é a relevância. Neste caso, cabe ao jornalista 
mostrar a relevância do fato ou acontecimento para as pessoas, demonstrar que tem 
significado para elas. O valor-notícia da personalização, por sua vez, valoriza as pessoas 
envolvidas no acontecimento. Traquina (2005) parte do princípio que quanto mais 
personalizado é o acontecimento mais possibilidades tem a notícia de ser notada, pois as 
pessoas se interessam por outras pessoas. A dramatização refere-se ao reforço dos 
aspectos mais críticos, do lado emocional do acontecimento (costumamos chamar esse 
“reforço” de sensacionalismo). E, por fim, a consonância, que implica a inserção do fato 
novo dentro de um contexto já conhecido, familiar ao público. Mais uma vez, esta é 
uma estratégia que aumenta a possibilidade de a notícia ser percebida, porque insere o 
acontecimento numa “narrativa” já estabelecida (falar em Irangate evoca, por exemplo, 
uma narrativa do escândalo, porque nos remete a um caso anterior e de grande 
repercussão, Watergate). 
 
 
 
 
 
O Jornal Nacional como exemplo: os critérios de seleção das notícias que são 
apresentadas no telejornal 
 
Como editor-chefe do Jornal Nacional, uma das atribuições de Bonner é 
coordenar e orientar sua equipe a respeito dos critérios adotados pelo telejornal para a 
seleção diária dos fatos e acontecimentos (mais importantes do dia) que serão 
apresentados aos telespectadores do JN. Os primários, usados para separar aquilo que 
será publicado daquilo que não será, são cinco: a abrangência, a gravidade das 
implicações, o caráter histórico, o peso do contexto e a importância do todo. Já os 
secundários, empregados para decidir como as notícias serão levadas ao público – com 
qual formato e com quanto tempo – segundo Bonner, são dois: a complexidade e o 
tempo (BONNER, 2009). 
Antes, de avançarmos, no entanto, destacamos, aqui, o que Bonner (2009) 
chama de notícias com “valor absoluto” – uma categoria que, segundo ele, destaca-se de 
imediato por reunir os critérios de abrangência, gravidade das implicações e por seu 
caráter histórico. Como exemplos desse tipo de notícia, que tem uma cobertura ampla 
garantida no JN, o editor-chefe do telejornal cita a morte de um Papa, a conquista de 
uma Copa do Mundo pela seleção brasileira e a posse presidencial de um ex-
metalúrgico. Aqui, pode-se inferir que as três situações citadas por Bonner revelam 
muito sobre o que de fato importa ao JN enquanto produto da TV Globo. No que diz 
respeito à fé, a valorização das manifestações da Igreja Católica; no que se refere aos 
esportes, a massificação dos eventos de futebol, anunciado como uma “paixão nacional” 
(cuja transmissão em TV aberta no território brasileiro, via de regra, cabe 
exclusivamente à TV Globo); e, nas questões relacionadas à política nacional, a 
necessidade de sinalizar uma (tentativa de) aproximação ao grupo que ocupa o Poder no 
país (neste caso específico, talvez até como forma de compensar erros do passado
4
). 
Retornando aos critérios, a abrangência refere-se ao universo de pessoas 
atingidas por um fato, que tem maior probabilidade de ser divulgado quanto maior for 
esse número. Embora valha como regra para assuntos nacionais, nos internacionais essa 
questão nem sempre é decisiva (porque cada caso é avaliado individualmente e os 
editores do telejornal também podem levar em conta a disponibilidade de tempo e de 
 
4 No documento que reúne seus princípios editoriais, as Organizações Globo se apresentam como laicas 
(item 09 do atributo isenção), apartidárias (item 10), independentes de governos (item 12), bem como de 
grupos econômicos (item 13) e afirmam que todos os seus veículos devem se esforçar para serem vistos 
dessa maneira. Sobre a questão política, Cf. Porcello (2006, p. 145-165). 
imagens, bem como a complexidade do tema). A gravidade das implicações 
complementa o primeiro critério: quanto mais grave um fato, maior a sua possibilidade 
de ser apresentado no Jornal Nacional. No caráter histórico inserem-se fatos com “valor 
absoluto”, como os mencionados no parágrafo anterior e que, além de garantirem 
espaço no telejornal, determinam uma cobertura diferenciada. 
 
Fatos dessa magnitude têm lugar assegurado no noticiário – mas 
também ocupam muito mais tempo que os demais numa edição. Porque 
a relevância absoluta deles esmaga notícias que, até então, tinham peso 
suficiente para garantir presença no espelho. Na seleção de assuntos, é 
preciso considerá-los, todos, sob uma perspectiva histórica e se 
perguntar: “Daqui a 50 anos, o que é que um pesquisador buscará na 
edição do JN de hoje?”. A resposta poderá derrubar notícias de grande 
abrangência ou gravidade, mas de relevância histórica menor, num dia 
como o da eleição do primeiro presidente negro dos Estados Unidos 
(BONNER, 2009, p.99, grifo nosso). 
 
A partir das palavras de Bonner, fica claro que o caráter histórico de um fato, 
para o JN, é um critério primário que se impõe sobre a abrangência ou a gravidade,porque há dias em que “o jornalismo registra fatos que, no futuro, serão contados nos 
livros – e serão guardados por gerações. Nesses dias, o que o Jornalismo faz é escrever a 
história
5” (BONNER, 2009, p.97). 
O peso do contexto é um critério que revela o quanto a avaliação comparativa do 
conjunto de notícias é uma atividade corriqueira no Jornal Nacional (e na cultura 
jornalística de um modo geral). Bonner (2009, p.101) explica que “um fator que não 
pode ser desprezado quando se elegem os assuntos que serão destacados por uma edição 
jornalística é a importância relativa de uma notícia quando comparada às demais 
daquele dia”. E, por fim, a importância do todo. Esse critério funciona como uma 
orientação geral da TV Globo, em relação aos seus telejornais, para que as notícias 
sejam apresentadas dentro de seu contexto e organizadas de forma lógica, facilitando a 
sua compreensão pelo público. Para cumprir essa orientação é que, segundo Bonner 
(2009), algumas notícias são mais “bem-vindas” do que outras no espelho6 do Jornal 
Nacional. 
 
 
5 Foi com essas palavras que Fátima Bernardes abriu a edição de 05 de novembro de 2008, o dia em que 
Barack Obama foi eleito o primeiro presidente negro dos Estados Unidos. 
6 “Espelho é a relação e a ordem de entrada das matérias no telejornal, sua divisão por blocos, a previsão 
dos comerciais, chamadas e encerramentos. Como a própria palavra indica, reflete o telejornal” 
(PATERNOSTRO, 2006, p.204). 
Ao montar o espelho de cada dia, a prioridade absoluta é para os temas 
factuais da maior relevância, ou de relevância mais óbvia (aquelas 
notícias de valor “absoluto”, que contemplam, de imediato, os primeiros 
critérios que já mencionei: abrangência, gravidade de implicações, 
caráter histórico). Mas, em circunstâncias normais, eu diria que esse 
elenco de assuntos ocupa de 75% a 80% do tempo total do Jornal 
Nacional. Portanto, em dias “normais”, o espelho poderá incluir outras 
reportagens, não necessariamente factuais, ou que não contemplem 
necessariamente os critérios primários de avaliação. E elas serão mais 
“bem-vindas” se ajudarem o telespectador a enxergar com amplitude 
maior o contexto de uma notícia do “primeiro time” (BONNER, 2009, 
p.104). 
 
 Aqui, Bonner deixa claro que a maior vocação do telejornal são as notícias do 
dia (embora não seja a única). É curioso observar que essa “vocação” seja apresentada 
por Bonner, ao longo do livro, de forma semelhante ao objetivo do telejornal. Ou seja, 
com o cuidado da reiteração. Os temas do dia, “quentes” ou de valor absoluto são 
sempre chamados de factuais. Já as matérias que no jargão jornalístico são conhecidas 
como “frias”, produzidas ou de “gaveta” – pois não têm urgência de ir ao ar, uma vez 
que não perdem sentido ou envelhecem de um dia para o outro – são chamadas de 
“temas de atualidade” ou de não factuais (esta, inclusive, não é uma expressão usual 
para os jornalistas). 
Parece-nos que a ideia é contribuir para a consolidação da imagem de que o 
telejornal, de fato, apresenta aquilo que de mais importante acontece no Brasil e no 
mundo todos os dias. Aceitar publicamente que os “temas de atualidade” são temas frios 
seria um passo no sentido contrário e desconstruiria esse compromisso maior do JN. 
Reforçando ainda mais essa intenção, Bonner (2009, p.106) explica que as reportagens 
não factuais têm sempre uma função no programa: elas “apoiam as factuais para dar ao 
público a oportunidade de refletir mais detidamente sobre problemas importantes como 
o transporte público”. Também entram no espelho quando ajudam a equilibrar o 
“clima” do telejornal. 
 
Num dia de noticiário predominantemente violento, é desejável que 
tenhamos algum contraponto jornalisticamente importante. Mas que não 
seja tão “leve” a ponto de sugerir alguma forma de escapismo tolo, ou 
que resvale para a pieguice barata. Às vezes, essa é a tarefa mais difícil 
na composição de um espelho
7
 (BONNER, 2009, p.105). 
 
7
 As escolhas do JN, nessa busca por um “equilíbrio” entre a apresentação de notícias “pesadas” e 
“leves”, repercutem negativamente com certa frequência. Um caso emblemático da era pré-Bonner foi a 
cobertura do nascimento de Sasha, filha da apresentadora Xuxa, em 1998. O livro Jornal Nacional: a 
notícia faz história (2004) resgata essa situação, tentando justificar a aposta do telejornal em cobrir com 
tanto destaque e alguns de seus melhores repórteres – Ari Peixoto, Marcelo Canellas e Roberto Kovalick, 
 
Os critérios de seleção secundários são dois, como já foi dito aqui: a 
complexidade e o tempo. A complexidade de um assunto, por exemplo, influencia 
muito na decisão sobre como ele será apresentado. Isso significa, segundo Bonner 
(2009, p.108), que “quanto mais complexo um assunto, maior a probabilidade de ser 
tratado numa reportagem maior, com um repórter que a conduza, com entrevistas que a 
balizem, com imagens e recursos de arte que a ilustrem”. Assim, o JN anuncia que a 
complexidade de um tema gera, na verdade, um desafio para a equipe do telejornal e 
que esta fará todo o esforço necessário para “traduzir” as informações da melhor 
maneira possível para o telespectador. E, assim, o telejornal valoriza o seu pacto com o 
público brasileiro: não descarta o que pode ser difícil e complexo, pelo contrário, 
esforça-se ainda mais para incluir no seu noticiário o que de mais importante acontece 
no Brasil e no mundo. Em cada edição do JN têm prioridade de tempo os assuntos 
factuais considerados mais relevantes. 
A quantidade de temas factuais relevantes vai influenciar no tempo 
disponível para os demais assuntos do dia. Num dia cheio, serão ainda 
mais seletivos na escolha do que entra e de como entra. Mesmo quando 
só podem dispor de trinta segundos para uma nota simples, se a 
informação for considerada importante, ela será dada nesse formato, 
porque é objetivo do JN “permitir ao público tomar conhecimento 
daquilo que de mais importante aconteceu no dia” (BONNER, 2009, 
p.110). 
 
Causa surpresa o fato de que a disponibilidade de imagens não seja para um 
telejornal um critério primário ou até mesmo secundário (seguindo a sistematização dos 
valores-notícia apresentada por Bonner) para selecionar o que vai ser apresentado no 
JN. A questão da imagem é colocada por último, sem nenhum destaque, apenas como 
algo residual e que poderia ser encaixado como um terceiro critério secundário. 
Observamos que, assim, Bonner (2009) ajuda a passar uma mensagem diferente da que 
habitualmente recebemos de programas jornalísticos de televisão (essencialmente 
audiovisuais) e quebra, de certa forma, uma expectativa implícita de que num telejornal 
a imagem tenha, sim, um peso preponderante. Para justificar esse posicionamento, o 
 
a expectativa da mãe na maternidade, o primeiro banho da recém-nascida e o sentimento do pai de 
primeira viagem, Luciano Szafir (este último, ao vivo). 
argumento é que a prioridade do Jornal Nacional, segundo seu editor-chefe, é fornecer 
informação de qualidade ao telespectador, com ou sem imagem. 
Aí o leitor poderá perguntar: mas se o JN é um programa de televisão, 
como é que a ausência de imagens pode ser uma questão secundária, e 
não primária? Respondo: o JN é um programa jornalístico de televisão. 
Sua natureza básica, sua vocação inicial é fornecer informação 
qualificada ao telespectador (compromisso número 1: aquilo que de 
mais importante se deu no Brasile no mundo no dia). Portanto, a falta 
de imagens não determina se publicaremos uma notícia ou não. Mas tão 
somente como a publicaremos. E estão revogadas todas as disposições, 
as lendas e os preconceitos em contrário (BONNER, 2009, p.110, grifo 
do autor). 
 
 
Traquina Vs. Valores-notícia do JN 
 
Podemos facilmente encontrar pontos de aproximação e outros de afastamento 
entre os valores-notícia anunciados por William Bonner (2009) e os sistematizados por 
Traquina (2005). Vale lembrar que este não fez sua lista pensando especificamente em 
nenhum veículo (jornal, TV, rádio etc.), mas, sim, tratou de reunir práticas que 
costumam estar enraizadas na comunidade jornalística de modo geral. 
 Os critérios primários para a seleção de notícias no JN, embora recebam nomes 
diferentes, assemelham-se pela lógica e por algumas de suas características ao que 
Traquina chama de valores-notícia de seleção – substantivos ou contextuais –
empregados para separar o que entra do que não entra no telejornal. Dentre eles, por 
exemplo, o dia noticioso (critério contextual do valor-notícia de seleção) e o peso do 
contexto (critério primário), pois ambos assumem como prática rotineira a comparação 
do conjunto de informações de cada edição/dia. Por outro lado, a visualidade (critério 
contextual do valor-notícia de seleção), que Traquina (2005) diz ser um fator 
especialmente importante para os telejornais, nem entra na lista principal do Jornal 
Nacional. Também não aparece a disponibilidade (trata de avaliar os meios que uma 
cobertura exige para ser realizada, a sua facilidade). Com relação a esta última, 
entendemos que o telejornal não anunciaria que existem avaliações desse tipo, pois isso 
comprometeria a imagem de que apresenta as notícias mais importantes do dia, embora 
não explique de que forma negocia a logística para cumprimento desse objetivo. 
Um valor-notícia de construção, a simplificação (quanto mais um acontecimento 
é desprovido de ambiguidades e complexidades, mais tem chance de ser notado e 
compreendido pelo público) pode ser associado ao critério da complexidade 
(secundário) do JN. Porém, de maneira inversa. Bonner (2009), como já mostramos, diz 
que quanto mais complexo um assunto, mais chances ele terá de ser trabalhado numa 
reportagem maior e com mais recursos. Assim, o JN anuncia que a complexidade de um 
tema gera, na verdade, um desafio para a equipe do telejornal e que esta fará todo o 
esforço necessário para “traduzir” as informações da melhor maneira possível para o 
telespectador. E, assim, o telejornal mais uma vez valoriza o seu acordo com o público 
brasileiro: não descarta o que pode ser difícil e complexo, pelo contrário, esforça-se 
ainda mais para incluir no seu noticiário o que de mais importante acontece no Brasil e 
no mundo. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
BONNER, Wiliam. Jornal Nacional: Modo de Fazer. São Paulo: Editora Globo, 2009. 
 
CANNITO, Newton. A televisão na era digital: interatividade, convergência e novos 
modelos de negócio. São Paulo: Summus, 2010. 
TRAQUINA, Nelson. A tribo jornalística: uma comunidade interpretativa transnacional. 
Florianópolis: Insular, 2005.

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