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Indaial – 2021 Estratégias dE LEitura JornaLística Profª. Camila Maurer 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2021 Elaboração: Profª. Camila Maurer Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: M453e Maurer, Camila Estratégias de leitura jornalística. / Camila Maurer – Indaial: UNIASSELVI, 2021. 175 p.; il. ISBN 978-65-5663-688-7 ISBN Digital 978-65-5663-686-3 1. Técnicas de redação jornalística. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CDD 070 aprEsEntação Acadêmico, bem-vindo ao Livro Didático de Técnicas de Redação Jornalística. Este livro vai ajudá-lo a entender a lógica do texto jornalístico, os formatos nos quais ele se apresenta e seus objetivos de comunicação. O conteúdo presente neste livro será usado por você em todos os momentos da sua carreira como jornalista e, com a experiência, a aplicação das técnicas que você aprenderá aqui será internalizada e se tornará quase automática. Como você vai ver, existem muitos formatos de texto jornalístico. E cada um desses formatos integra um gênero jornalístico, ou seja, uma categoria mais ampla que reúne textos com objetivos de comunicação similares. Neste livro, vamos estudar mais profundamente os três principais gêneros jornalísticos: informativo, opinativo e interpretativo. Na Unidade 1, vamos estudar o gênero informativo. Você vai conhe- cer as características que definem essa categoria, vai entender os critérios usados pelos jornalistas para definir o que é notícia e, principalmente, vai aprender a escrever notas, notícias e reportagens factuais. A Unidade 2 é dedicada ao gênero opinativo, que compreende formatos como o editorial, os artigos e as crônicas. Você vai estudar as características e funções dos textos jornalísticos que emitem opiniões e entender a importância da separação entre informação e opinião no jornalismo moderno. Também vai aprender as técnicas específicas de redação dos formatos que compõem o gênero opinativo. Na Unidade 3, vamos estudar o gênero interpretativo, do qual fazem parte as reportagens em profundidade, as reportagens explicativas e os perfis, por exemplo. Você vai ver que esse gênero tem ganhado força no contexto atual, em que há abundância de informação disponível e as pessoas anseiam não apenas por conhecer a notícia, mas principalmente por compreendê-la em suas mais variadas implicações. O terceiro tópico de cada unidade é sempre dedicado às técnicas de redação específicas do gênero estudado. Assim, este livro foi pensado para ser usado como uma espécie de manual de redação, ao qual você pode voltar sempre que precisar escrever um texto jornalístico. Aproveite este livro ao máximo! Bons estudos! Profª. Camila Maurer Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE sumário UNIDADE 1 — JORNALISMO INFORMATIVO ............................................................................ 1 TÓPICO 1 — A INFORMAÇÃO NO JORNALISMO ..................................................................... 3 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 3 2 GÊNEROS E FORMATOS JORNALÍSTICOS .............................................................................. 3 3 GÊNERO INFORMATIVO .............................................................................................................. 5 3.1 FATO JORNALÍSTICO ................................................................................................................... 6 4 NOTICIABILIDADE E VALORES-NOTÍCIA .............................................................................. 7 4.1 VALORES-NOTÍCIA ...................................................................................................................... 7 4.1.1 Valores notícia de seleção: critérios substantivos .............................................................. 8 4.1.2 Valores-notícia de construção: critérios contextuais ....................................................... 13 4.1.3 Valores-notícia de construção ............................................................................................ 14 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 15 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 16 TÓPICO 2 — FORMATOS JORNALÍSTICOS INFORMATIVOS ............................................. 19 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 19 2 NOTÍCIA ............................................................................................................................................ 19 2.1 ESTRUTURA DA NOTÍCIA: A PIRÂMIDE INVERTIDA ...................................................... 20 2.2 TIPOS DE NOTÍCIAS .................................................................................................................. 22 2.2.1 Notícias sintéticas e analíticas ............................................................................................ 22 2.2.2 Notícias previsíveis, imprevisíveis e mistas .................................................................... 22 2.2.3 Notícias quentes e frias ....................................................................................................... 23 2.3 EXEMPLOS DE NOTÍCIAS ......................................................................................................... 23 3 NOTA ..................................................................................................................................................25 4 REPORTAGEM .................................................................................................................................. 26 5 SUÍTE ................................................................................................................................................... 28 5.1 EXEMPLO SUÍTE .......................................................................................................................... 29 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 33 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 34 TÓPICO 3 — TÉCNICAS DE REDAÇÃO DE TEXTOS INFORMATIVOS ............................. 37 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 37 2 LINGUAGEM JORNALÍSTICA ..................................................................................................... 37 3 DIRETRIZES PARA REDAÇÃO DE TEXTOS JORNALÍSTICOS INFORMATIVOS ............. 38 3.1 LEAD E PIRÂMIDE INVERTIDA .............................................................................................. 39 3.1.1 Tipos de lead ........................................................................................................................ 40 3.2 ORGANIZAÇÃO DO TEXTO INFORMATIVO ...................................................................... 41 3.2.1 Dicas para ter em mente durante a redação .................................................................... 42 3.3 DIFERENÇAS ENTRE TEXTOS PARA MEIOS IMPRESSOS, ELETRÔNICOS E DIGITAIS ....................................................................................................... 45 3.3.1 Dicas gerais para redação de textos informativos para rádio ....................................... 46 3.3.2 Dicas gerais para redação de textos para televisão ......................................................... 48 3.3.1 Dicas gerais para redação de textos para internet .......................................................... 49 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 51 RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 54 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 55 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................................... 57 UNIDADE 2 — JORNALISMO OPINATIVO ................................................................................ 59 TÓPICO 1 — A OPINIÃO NO JORNALISMO .............................................................................. 61 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 61 2 GÊNERO OPINATIVO ..................................................................................................................... 61 2.1 QUEM OPINA NO JORNALISMO BRASILEIRO .................................................................. 64 3 A SEPARAÇÃO ENTRE INFORMAÇÃO E OPINIÃO ............................................................. 65 3.1 JORNALISMO COMO FÓRUM DE IDEIAS ............................................................................ 66 RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 68 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 69 TÓPICO 2 — FORMATOS JORNALÍSTICOS OPINATIVOS .................................................... 71 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 71 2 EDITORIAL ....................................................................................................................................... 71 2.1 LINGUAGEM E TEMAS ............................................................................................................ 72 2.2 CARACTERÍSTICAS DO EDITORIAL ...................................................................................... 74 3 ARTIGO ............................................................................................................................................... 75 4 COLUNA ............................................................................................................................................. 79 5 COMENTÁRIO .................................................................................................................................. 82 6 RESENHA ............................................................................................................................................ 83 7 CRÔNICA ............................................................................................................................................ 85 8 CARTA ................................................................................................................................................. 90 9 CHARGE .............................................................................................................................................. 91 10 CARICATURA ............................................................................................................................... 92 RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 95 AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 96 TÓPICO 3 — TÉCNICAS DE REDAÇÃO DE TEXTOS OPINATIVOS .................................... 99 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 99 2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS TEXTOS OPINATIVOS ................................................ 99 3 ARGUMENTAÇÃO ........................................................................................................................ 101 4 ESTRUTURA DO TEXTO OPINATIVO ..................................................................................... 102 5 OPINIÃO NO RÁDIO E NA TV .................................................................................................. 105 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 108 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 113 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 114 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 116 UNIDADE 3 — JORNALISMO INTERPRETATIVO .................................................................. 117 TÓPICO 1 — INTERPRETAÇÃO E EXPLICAÇÃO NO JORNALISMO ................................ 119 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 119 2 GÊNERO INTERPRETATIVO: CARACTERÍSTICAS E FUNÇÕES ..................................... 119 2.1 FRONTEIRAS ENTRE OPINIÃO, INFORMAÇÃO E INTERPRETAÇÃO ...................... 120 3 JORNALISMO INTERPRETATIVO NO BRASIL: INCURSÕES PIONEIRAS .................. 122 3.1 CARACTERÍSTICAS DOS TEXTOS INTERPRETATIVOS................................................... 124 RESUMO DO TÓPICO 1................................................................................................................... 127 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 128 TÓPICO 2 — FORMATOS JORNALÍSTICOS INTERPRETATIVOS ..................................... 131 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 131 2 GRANDE REPORTAGEM ............................................................................................................. 131 3 REPORTAGEM INVESTIGATIVA .............................................................................................. 135 4 REPORTAGEM LITERÁRIA ......................................................................................................... 139 5 LIVRO-REPORTAGEM .................................................................................................................. 139 5.1 LIVRO-REPORTAGEM NO BRASIL E NO MUNDO ........................................................... 141 6 PERFIL ................................................................................................................................................ 142 7 TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS: JORNALISMO EXPLICATIVO E JORNALISMO LONGFORM ..................................................................................................... 145 RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 148 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 149 TÓPICO 3 — TÉCNICAS DE REDAÇÃO DE TEXTOS INTERPRETATIVOS ..................... 151 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 151 2 DIFERENÇAS ENTRE FORMATOS CONVENCIONAIS E FORMATOS LITERÁRIOS ........................................................................................................ 151 3 TÉCNICAS DE REDAÇÃO DE FORMATOS CONVENCIONAIS ...................................... 152 4 TÉCNICAS DE REDAÇÃO DE FORMATOS LITERÁRIOS .................................................. 155 LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 164 RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 170 AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 171 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 173 1 UNIDADE 1 — JORNALISMO INFORMATIVO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • distinguir o gênero informativo de outros gêneros presentes no jornalismo brasileiro; • reconhecer formatos jornalísticos que integram o gênero informativo; • identificar as características específicas de cada um dos formatos jornalísticos informativos; • aplicar as técnicas de redação de textos jornalísticos informativos. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – A INFORMAÇÃO NO JORNALISMO TÓPICO 2 – FORMATOS JORNALÍSTICOS INFORMATIVOS TÓPICO 3 – TÉCNICAS DE REDAÇÃO DE TEXTOS INFORMATIVOS Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 — UNIDADE 1 A INFORMAÇÃO NO JORNALISMO 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, neste tópico, você vai conhecer quais são os gêneros e for- matos existentes no jornalismo brasileiro. Vamos nos aprofundar nos estudos do gênero informativo, que é o tema desta unidade, e entender porque a informação é o elemento fundamental do jornalismo moderno. Vamos abordar as principais características do gênero jornalístico informativo, que passou a ser dominante na imprensa a partir do final do século XIX e início do século XX. Verá que a primazia da informação sobre a opinião é uma invenção do jornalismo moderno e que, até a década de 1830, a opinião e a defesa de causas políticas era a prática dominante nos jornais. Também vamos conhecer os critérios que os jornalistas usam para hierarquizar os fatos do mundo e transformá-los em notícia. Esses critérios são chamados valores-notícia e são um conjunto de regras compartilhadas pela comunidade jornalística desde o início do século XX. A partir do estudo desses critérios, você vai entender porque alguns acontecimentos se transformam em notícia e outros não. 2 GÊNEROS E FORMATOS JORNALÍSTICOS Todos os textos jornalísticos podem ser classificados de acordo com, no mínimo, dois fatores: o gênero do qual faz parte e o formato em que se apresenta. Muitos autores se dedicaram ao estudo dos gêneros e formatos jornalísticos. Nos estudos de jornalismo realizados no Brasil, destacam-se os trabalhos de Luiz Beltrão (1980) e José Marques de Melo (2003). Os gêneros refletem aquilo que os cidadãos querem e precisam saber/ conhecer/acompanhar, porque justamente nos gêneros esse público encontra respaldo para suas ações cotidianas ou, mesmo, para o exercício da cidadania. Atender às finalidades condensadas nessas cinco vertentes é a razão de ser do trabalho da imprensa, que foi se construindo ao passo do próprio desenvolvimento da sociedade (ASSIS; MELO, 2016, p. 49-50). UNIDADE 1 — JORNALISMO INFORMATIVO 4 Assis e Melo (2016) explicam que cada gênero é definido a partir de duas características básicas: sua capacidade para agrupar uma variedade de formatos com características comuns e sua função social. Assim, o modelo classificatório proposto por Melo (2003) considera a existência de cinco gêneros jornalísticos, cada um deles destinado a suprir uma necessidade social: • Informativo: vigilância social. • Opinativo: fórum de ideias. • Interpretativo: papel educativo, esclarecedor. • Diversional: distração, lazer. • Utilitário: auxílio nas tomadas de decisões cotidianas. Os formatos jornalísticos, por sua vez, são os modos como a informação é construída para ser apresentada ao público. Essa construção obedece a normas e parâmetros estruturais que dizem respeito tanto ao modo de apresentação do texto quanto ao próprio processo de coleta de informação. A classificação de Melo (2003) sugere a seguinte distribuição de formatos em cada um dos gêneros já citados: • Gênero informativo: nota, notícia, reportagem e entrevista. • Gênero opinativo: editorial, comentário, artigo, resenha, coluna, caricatura, carta e crônica. • Gênero interpretativo: análise, perfil, enquete, cronologia, dossiê. • Gênero diversional: história de interesse humano e história colorida. • Gênero utilitário: indicador, cotação, roteiro e serviço. A obra de Luiz Beltrão (1980), anterior à de Marques de Melo (2003), defende a existência de três gêneros jornalísticos: informativo, opinativo e inter- pretativo. Para o autor, os formatos jornalísticos são assim distribuídos: • Gênero informativo: notícia, reportagem, história de interesse humano e informação pela imagem. • Gênero opinativo: editorial, artigo, crônica, opinião ilustrada e opinião do leitor. • Gênero interpretativo: reportagem em profundidade. Neste livro, vamos estudar com mais profundidade os gêneros informati- vo, opinativo e interpretativo. Cada um deles será contemplado em uma unida- de. É importante que você tenha em mente, ao estudar o assunto, que jornalismo não é uma ciência exata, ou seja,sempre pode haver diferenças de interpretação dependendo do autor, pois há muitas formas de refletir sobre o mesmo assunto. É importante, também, destacar que a prática jornalística está em constan- te evolução e que os formatos em que a informação se apresenta e as nomenclatu- ras que eles recebem se transformam com o tempo. TÓPICO 1 — A INFORMAÇÃO NO JORNALISMO 5 Afinal de contas, uma forma jornalística não surge do nada. Ela, em geral, é sinal do aprimoramento de um processo que tem raízes na própria constituição da imprensa, situada temporalmente no século 17. E é do tratamento primário da informação – proposto tão somente a relatar o real – que as “subrotinas” dos gêneros se desdobram. Algumas conquistam validação. Outras, no entanto, desaparecem tão rápido quanto surgem. Nossa tarefa é observá- las constantemente, pois somente assim conseguimos vislumbrar a evolução do Jornalismo (ASSIS; MELO, 2016, p. 52). 3 GÊNERO INFORMATIVO Agora que você já sabe o que são os gêneros e formatos jornalísticos, podemos começar a estudar com mais profundidade o tema central desta unidade, o gênero informativo. Como o próprio nome denota, a informação é o elemento central dos formatos que compõem esse gênero. Os textos jornalísticos informativos objetivam relatar um determinado fato ao conhecimento do público. Na definição clássica de Beltrão (1980, p. 29), o gênero informativo diz respeito ao “relato puro e simples de fatos pertencentes ao presente imediato ou ao passado que sejam socialmente significativos”. O gênero informativo tem uma função de vigilância social. É através dele que “a instituição jornalística assume o papel de observadora atenta da realidade, cabendo ao jornalista proceder como ‘vigia’, registrando os fatos, os acontecimentos e informando-os à sociedade” (MELO, 2003, p. 28). A partir das informações disseminadas pela imprensa, os cidadãos adquirem conhecimento dos fatos do mundo e podem agir e se posicionar em relação a eles. O gênero informativo é o mais presente nos veículos noticiosos contemporâneos, como jornais impressos, telejornais diários e portais de notícias. Mas nem sempre foi assim. Até aproximadamente 1830, os jornais eram patrocinados por partidos políticos e serviam para defender determinadas causas políticas, ou seja, eram repletos de opiniões, críticas e propaganda política. Com o surgimento dos jornais populares, vendidos a preços baixos e financiados pela publicidade, os editores começaram a privilegiar os relatos dos fatos, sem opiniões e julgamentos de valor, estabelecendo um novo padrão e um ideal para a prática jornalística: a objetividade (SCHUDSON, 2010). A partir desse ideal, surgiram outros, que se encontram nas bases do jornalismo praticado ainda hoje, tais como a busca pela verdade, a independência e a noção de serviço público (TRAQUINA, 2005). Os principais formatos jornalísticos informativos encontrados no jornalismo brasileiro são a nota, a notícia e a reportagem. Cada um deles possui características próprias, mas todos têm a informação, pura e simples, como elemento central, como veremos no Tópico 2 desta unidade. Antes de estudarmos as características específicas de cada um desses formatos, é preciso que você compreenda dois conceitos centrais: fato jornalístico e noticiabilidade. UNIDADE 1 — JORNALISMO INFORMATIVO 6 3.1 FATO JORNALÍSTICO O jornalismo informativo se ocupa de fatos, ou seja, de acontecimentos reais. Mas não de todos os fatos do mundo, até porque isso seria impossível. Apenas dos fatos considerados jornalísticos, noticiáveis. Por esse motivo, é importante que você compreenda de que forma um acontecimento do mundo se transforma em fato jornalístico. O conceito de fato tem sido objeto de reflexão de filósofos, sociólogos, historiadores e comunicólogos há muito tempo. A palavra fato vem do termo em latim factum, particípio do verbo facere (fazer). O conceito de fato, portanto, faz referência a eventos que realmente aconteceram. (SPONHOLZ, 2009). O fato jornalístico, por sua vez, também é um conceito que pode adquirir muitos sentidos dependendo do contexto em que é utilizado. No entanto, para os objetivos deste livro, adotamos a definição de Bahia (2010, p. 154), para quem o fato jornalístico é: Semelhante ao acontecimento. O que acontece e é notícia. Assim como a notícia é a matéria-prima do jornalismo, o fato é a matéria-prima da notícia. Em comunicação de massa, o termo associa concepções de valor (como importância, hierarquia, atualidade, interesse etc.) e associa, necessariamente, a coisa ou ação feita, o caso em si mesmo e suas consequências, o que existe e o que é real. É por isso que se diz popularmente: “contra os fatos não há argumentos”, sedimentando no jornalismo a impressão de que a verdade do que se fala, se vê ou se escreve, está (ou existe) na realidade dos fatos. Os jornalistas são a categoria profissional a qual é dado, socialmente, o direito de falar sobre os fatos. Sendo assim, o relato jornalístico é tido como digno de crença. No entanto, é importante ressaltar que os jornalistas não levam ao conhecimento do público o fato em si, mas um relato do fato, orientado por uma série de técnicas de captação, redação e edição e influenciado por valores profissionais e rotinas produtivas. Por isso, dizemos que os jornalistas fazem a mediação entre os fatos e o público, trabalhando como tradutores da realidade social. Tenha sempre em mente que os jornalistas trabalham com um recorte da realidade e sua capacidade de relatar os fatos é limitada pelas rotinas produtivas, ainda que seja genuinamente voltada para a busca da verdade, a precisão e a objetividade. Você tem curiosidade de saber como funciona a redação de um grande jornal? Neste vídeo, disponível no canal do jornal O Globo, no YouTube, você pode entender um pouco do clima, a rotina e algumas curiosidades sobre a redação desse jornal, que é um dos mais lidos do país: https://www.youtube.com/watch?v=QFbhzRt73MA. DICAS TÓPICO 1 — A INFORMAÇÃO NO JORNALISMO 7 4 NOTICIABILIDADE E VALORES-NOTÍCIA Como os acontecimentos se transformam em notícia? Para decidir quais acontecimentos do mundo se tornarão notícias, os jornalistas avaliam os fatos da realidade social através de uma série de critérios que são chamados de valores- notícia ou critérios de noticiabilidade. Esses valores são parte fundamental da cultura profissional dos jorna- listas e estão internalizados no cotidiano das redações. Por esse motivo, muitos jornalistas sentem dificuldade de explicar o que é notícia ou o que é noticiável, apesar de trabalharem com os critérios de noticiabilidade diariamente, de for- ma espontânea. Autores como Silva (2005, p. 96) entendem a noticiabilidade de forma ampla: como todo e qualquer fator potencialmente capaz de agir no proces- so da produção da notícia, desde características do fato, julgamentos pessoais do jornalista, cultura profissional da categoria, condições fa- vorecedoras ou limitantes da empresa de mídia, qualidade do material (imagem e texto), relação com as fontes e com o público, fatores éticos e ainda circunstâncias históricas, políticas, econômicas e sociais. Nos estudos de jornalismo no Brasil, os critérios de noticiabilidade apontados pelo jornalista e professor luso americano Nelson Traquina (2005), em consonância com o trabalho do sociólogo italiano Mauro Wolf, adquiriram proeminência. E é sobre eles que vamos estudar a seguir. 4.1 VALORES-NOTÍCIA “Os jornalistas têm seus óculos particulares através dos quais veem certas coisas e não outras, e veem de uma certa maneira as coisas que veem. Operam uma seleção e uma construção daquilo que é selecionado” (BOURDIEU, 1997 apud TRAQUINA, 2005, p. 77). Esses óculos particulares através dos quais os jornalistas enxergam o mundo são seus valores-notícia. Como veremos, Traquina (2005) aponta uma distinção entre dois tipos de valores-notícia: os valoresde seleção e os valores de construção. Os valores de seleção referem-se aos critérios usados pelos jornalistas para decidir quais acontecimentos serão ou não noticiados. Esses valores (de seleção) são divididos em dois subgrupos: os critérios substantivos, que dizem respeito ao valor do acontecimento em si, sua importância e o interesse que desperta; e os critérios contextuais, que se referem ao contexto de produção da notícia. Os valores de construção são qualidades que um acontecimento possui no que diz respeito a sua construção como notícia. Essas qualidades funcionam como guias para a apresentação da notícia, “sugerindo o que deve ser realçado, o que deve ser omitido, o que deve ser prioritário na construção do acontecimento como notícia” (TRAQUINA, 2005, p. 78). UNIDADE 1 — JORNALISMO INFORMATIVO 8 4.1.1 Valores notícia de seleção: critérios substantivos Os valores-notícia que relatamos a seguir dizem respeito ao contexto em que se dá à importância da notícia. • Morte: “onde há morte, há jornalistas” (TRAQUINA, 2005, p. 79). A morte é um dos valores-notícia mais importantes para os jornalistas e isso explica o fato de que muitas pessoas têm a impressão de que os jornais só trazem notícias ruins. Acontecimentos que causam grandes números de mortes, como acidentes, desastres naturais e guerras, sempre terão espaço de destaque na hierarquia das notícias. Notícias que falam de morte, infelizmente, são rotineiras na prática jornalística. Em algumas oportunidades, no entanto, o jornalismo usa recursos discursivos que fogem da rotina para atrair a atenção do público e valorizar a notícia, como no caso do exemplo da Figura 1, em que o jornal O Globo renunciou às fotografias da capa para chamar a atenção para o número de mortes causadas pela pandemia de Covid-19 no Brasil. FIGURA 1 – CAPA DO JORNAL O GLOBO EM 10 DE MAIO DE 2020 FONTE: <https://www.vercapas.com.br/capa/o-globo/2020-05-10/>. Acesso em: 25 abr. 2021. TÓPICO 1 — A INFORMAÇÃO NO JORNALISMO 9 • Notoriedade: a importância e/ou fama do ator principal de um acontecimento também é um valor-notícia fundamental. Esse valor não se aplica apenas ao mundo das celebridades da música ou do cinema. Cada setor da sociedade tem suas próprias estrelas: políticos poderosos, pessoas que ocupam altos cargos públicos, grandes empresários e representantes das elites. “Dito de uma forma muito simples, o nome e a posição da pessoa são importantes como fator de noticiabilidade. O que o Presidente da República faz é importante porque o Presidente da República é importante” (TRAQUINA, 2005, p. 80). O exemplo da capa apresentada na Figura 2 é característico deste valor notícia, pois retrata o dia em que o apresentador e empresário Silvio Santos foi mantido refém em sua própria casa por um homem que havia sequestrado sua filha alguns dias antes. As investigações contaram com a presença do então governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, o que reforça a notabilidade dos envolvidos. FIGURA 2 – CAPA JORNAL AGORA SÃO PAULO EM 31DE AGOSTO DE 2001 FONTE: <https://bit.ly/3zkStkM>. Acesso em: 25 abr. 2021. UNIDADE 1 — JORNALISMO INFORMATIVO 10 • Proximidade: esse valor-notícia diz respeito não apenas a questões geográficas, mas também questões culturais. Os fatos que acontecem próximos da sede da empresa jornalística têm mais chances de se tornarem notícia do que aqueles que ocorrem mais distantes do público do veículo. Um acidente que resulta em uma morte na cidade sede de uma emissora de TV local tem grandes chances de ser noticiado em um de seus telejornais, por exemplo. Um acidente que ocorre em uma cidade mais distante de sua área de cobertura, só será noticiado se tiver um grande número de mortes, pois, nesse caso, o valor-notícia morte se sobrepõe ao valor proximidade. • Relevância: um dos valores-notícia mais importantes da cultura jornalística, pois faz referência ao compromisso do jornalista de “informar o público dos acontecimentos que são importantes porque têm um impacto sobre a vida das pessoas” (TRAQUINA, 2005, p. 80). • Novidade: Os jornalistas são apaixonados por mostrar novidades ou fatos que estão acontecendo pela primeira vez. A notícia deve, necessariamente, ser algo novo, fresco, recente. Se não for, não se transformará em notícia. Para voltar a falar sobre um assunto que já foi notícia (suíte), é preciso que algo novo tenha acontecido em relação ao fato original: uma nova informação descoberta, uma movimentação processual, uma nova declaração. • Tempo: esse valor-notícia se apresenta no jornalismo de muitas maneiras. A publicação, na atualidade, de uma determinada notícia pode servir como “gancho” para outro acontecimento que tenha alguma relação com esse assunto, atualizando-o. Por exemplo, a cada vez que um acidente de grandes proporções acontece, os veículos jornalísticos tendem a recuperar o histórico do fato e produzir novas notícias sobre temas correlatos, como: segurança e fiscalização nas estradas, projetos de lei em tramitação que tratam do assunto, situação atual das vítimas de acidentes semelhantes, entre outras muitas possibilidades. O fator “tempo” também se apresenta no jornalismo através de datas específicas, as chamadas efemérides: o aniversário de uma cidade, a marca de X anos de um evento histórico ou fato importante. Também nesse sentido, é comum a produção de matérias pautadas por datas comemorativas específicas, como Dia das Mães, por exemplo. Segundo o autor, o tempo é um valor-notícia que se apresenta também em uma terceira forma: quando um assunto ganha noticiabilidade e permanece durante longo período sendo noticiado a cada novidade. TÓPICO 1 — A INFORMAÇÃO NO JORNALISMO 11 • Notabilidade: é a qualidade que um acontecimento tem de ser visível. Sobre esse valor-notícia, Traquina (2005) adverte para a forma como a cultura jornalística está mais voltada para a cobertura de acontecimentos do que de problemáticas. Porque os acontecimentos são facilmente notáveis, visíveis, enquanto as problemáticas estão mais abaixo da superfície dos fatos. Essa é uma limitação imposta pelo ritmo do trabalho jornalístico, sobretudo no jornalismo informativo. Um acontecimento se torna notável, do ponto de vista jornalístico, a partir de uma série de fatores, tais como a quantidade de pessoas envolvidas, seu caráter insólito (distante do considerado “normal), seu caráter de “falha” (acidentes na aviação, acidentes nucleares) ou fazer referência ao excesso ou escassez (temperaturas excessivamente altas, safras recordes, estiagem). • Inesperado: esse valor faz referência aos acontecimentos que surpreendem as expectativas, grandes acontecimentos que alteram toda a rotina de produção do dia e derrubam todas as outras pautas, como o atentado de 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center, em Nova Iorque. Para se ter uma ideia da dimensão dessa notícia, até mesmo os canais de conteúdo infantil transmitiram, ao vivo, a cobertura do atentado. Neste caso específico, o valor-notícia do inesperado chega a se sobrepor, em alguns momentos da cobertura, ao valor relativo à morte. Perceba que a capa apresentada na Figura 3 deu mais destaque ao “terror” (letras em tamanho maior na parte mais alta da página) do que ao número de mortos, informação que vem logo abaixo, em tamanho menor. O termo “gancho” é um jargão jornalístico que faz referência a um modo de contextualizar ou atualizar uma matéria. Por exemplo, a ocorrência de uma enchente em uma determinada localidade pode servir de gancho para falar sobre outras enchentes que já aconteceram no mesmo local. Outro exemplo: uma data comemorativa, como o Dia das Mães, pode servir de gancho para uma matéria sobre os desafios da maternidade. NOTA UNIDADE 1 — JORNALISMO INFORMATIVO 12 FIGURA 3 – CAPA JORNAL AGORA SÃO PAULO EM 12 DE SETEMBRO DE 2001 FONTE: <https://bit.ly/3zkStkM>. Acesso em: 25 abr. 2021. • Conflito/controvérsia: diz respeito à violênciafísica ou simbólica: uma discussão verbal entre parlamentares ou uma confusão generalizada entre torcidas de futebol, por exemplo. • Infração: está relacionado ao valor anterior (conflito), mas é mais abrangente, pois faz referência à transgressão de regras. Esse valor-notícia se faz presente, principalmente, na cobertura de crimes. O crime é visto como um fenômeno que faz parte da sociedade. Desse modo, a ocorrência de certos tipos de crimes comuns é tratada como rotineira pelo jornalismo. No entanto, existem ocorrências que ganham notoriedade na imprensa por apresentarem características que vão além do normalmente noticiado, como nos casos dos crimes em que são empregados métodos extremamente violentos ou com grande número de vítimas. TÓPICO 1 — A INFORMAÇÃO NO JORNALISMO 13 • Escândalo: enquadram-se nesse valor notícia revelações bombásticas basea- das em investigações, como o caso Watergate, por exemplo. 4.1.2 Valores-notícia de construção: critérios contextuais Os valores-notícia que relatamos a seguir dizem respeito ao contexto em que se dá à captação e produção da notícia. • Disponibilidade: diz respeito à facilidade de cobrir determinado acontecimento. Às vezes, um acontecimento tem potencial para virar notícia, pois reúne um ou mais critérios de seleção substantivos. No entanto, sua cobertura exigiria recursos (financeiros, humanos, técnicos) que não estão disponíveis ou que a empresa jornalística prefere não investir naquele determinado acontecimento. • Equilíbrio: a quantidade de notícias sobre um mesmo assunto pode “derrubar” o valor-notícia de outras semelhantes, para que o noticiário não se torne repetitivo e apresente notícias variadas. • Visualidade: esse valor-notícia faz referência à possibilidade ou não de fornecer ao público elementos visuais, como fotos e imagens. Esse critério é especialmente importante para o jornalismo de televisão. Um acontecimento potencialmente noticiável pode ficar fora do noticiário se não existem imagens de qualidade suficiente para ilustrar o fato. O contrário também se aplica: imagens de boa qualidade e abundantes podem garantir a inserção de um fato no noticiário. • Concorrência: todas as empresas jornalísticas têm concorrentes diretos e indiretos. Por isso estão sempre à procura de “furos” e informações exclusivas que os concorrentes não têm. Assim, um furo ou uma informação exclusiva sempre terão enorme valor na hierarquia das notícias e são apresentados ao público com grande destaque. “Furo” é um jargão utilizado para designar uma informação publicada por um veículo de imprensa antes de todos os demais veículos. NOTA • Dia noticioso: na rotina de uma redação jornalística, nenhum dia é igual ao outro. Alguns dias são repletos de acontecimentos noticiáveis, outros não. Nos dias em que não há muitas boas notícias a serem publicadas, acontecimentos com baixa noticiabilidade conseguem ser publicados. UNIDADE 1 — JORNALISMO INFORMATIVO 14 4.1.3 Valores-notícia de construção Os valores de construção entram em cena no momento da construção/ redação da notícia. Todo acontecimento pode ser visto de múltiplas formas, mas toda notícia tem uma limitação de tempo e espaço que pode ocupar na página do jornal ou no noticiário. Com isso, alguns elementos são incluídos no relato noticioso e outros são ignorados. • Simplificação: notícias simples, desprovidas de ambiguidades, têm mais chances de serem notadas e compreendidas. Por esse motivo, faz parte da prática profissional a simplificação do relato através de técnicas que tornam o texto mais fácil de ser compreendido. • Amplificação: em algumas situações, os jornalistas usam estratégias de amplificação para chamar atenção para as notícias. São exemplos de amplificação citados por Traquina (2005, p. 91) as seguintes manchetes: “Brasil chora a morte de Senna” e “América chora a morte de Nixon”. • Relevância: é tarefa do jornalista fazer com que a notícia seja vista como relevante pelo público, estabelecendo conexões entre a notícia e os reflexos dela para a vida das pessoas. • Personalização: as notícias que privilegiam o fator humano têm mais chances de atrair a atenção do público. O jornalista personaliza a narrativa ao destacar as pessoas envolvidas no acontecimento. Segundo o autor, a personalização é uma estratégia importante para agarrar o leitor, pois “pessoas se interessam por outras pessoas” (TRAQUINA, 2005, p. 92). • Dramatização: este valor-notícia contextual faz referência ao reforço dos as- pectos emocionais e conflituosos dos acontecimentos. O excesso no uso deste critério pode levar ao sensacionalismo e à queda da qualidade informativa do noticiário. • Consonância: quanto mais um determinado acontecimento se encaixa em uma narrativa já existente, mais chances ele tem de atrair a atenção do público. 15 Neste tópico, você aprendeu que: RESUMO DO TÓPICO 1 • Os textos jornalísticos são classificados de acordo com gêneros e formatos. • O gênero informativo é caracterizado pela primazia da informação, dissociada da opinião. • Os principais formatos que compõem esse gênero jornalístico são a nota, a notícia e a reportagem. • Os critérios usados pelos jornalistas para transformar os fatos em notícias são chamados critérios de noticiabilidade ou valores-notícia. 16 1 Luiz Beltrão e José Marques de Melo dedicaram-se ao estudo dos gêneros e formatos presentes no jornalismo brasileiro. As classificações propostas por cada um desses autores são diferentes entre si. Com base na classificação proposta por cada um desses autores, assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) A classificação proposta por Luiz Beltrão compreende os gêneros informativo, opinativo, interpretativo e utilitário. b) ( ) Os formatos nota, notícia e reportagem integram o gênero interpretativo. c) ( ) A classificação de José Marques de Melo compreende os gêneros informativo, opinativo, interpretativo, diversional e utilitário. d) ( ) Editorial, artigo e crônica são formatos que integram o gênero informativo. 2 José Marques de Melo adota uma visão funcionalista dos gêneros jornalísticos, isto é, a classificação proposta por ele considera que cada um dos gêneros presentes no jornalismo brasileiro possui uma função social específica. Considerando a classificação de José Marques de Melo, analise as sentenças a seguir: I- O gênero diversional compreende materiais com o objetivo de auxiliar a tomada de decisões cotidianas. II- O gênero informativo tem função de vigilância social. III- O gênero opinativo tem papel educativo e esclarecedor. Assinale a alternativa CORRETA: a) ( ) As sentenças I e II estão corretas. b) ( ) Somente a sentença II está correta. c) ( ) As sentenças I e III estão corretas. d) ( ) Somente a sentença III está correta. 3 Os jornalistas utilizam uma série de critérios para hierarquizar as os fatos do mundo e decidir quais deles vão se transformar em notícia, ou seja, quais deles serão publicados. Esses critérios são chamados de critérios de noticiabilidade ou valores-notícia. Nelson Traquina classifica os valores- notícia em valores de seleção (substantivos e contextuais) e valores de construção. Com base no que você estudou de valores-notícia, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas: AUTOATIVIDADE 17 ( ) Amplificação, relevância e dramatização são valores-notícia de construção. ( ) Consonância e simplificação são valores de seleção contextuais. ( ) Morte, proximidade e novidade são valores de seleção substantivos. Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA: a) ( ) V – F – F. b) ( ) V – F – V. c) ( ) F – V – F. d) ( ) F – F – V. 4 Todos os textos jornalísticos podem ser classificados de acordo com, no mínimo, dois fatores: o gênero do qual faz parte e o formato em que se apresenta. O gênero informativo, o qual estamos estudando nestaunidade, compreende os formatos nota, notícia e reportagem. Com base no que você estudou e nos seus conhecimentos sobre jornalismo, sintetize as principais características do gênero jornalístico informativo. 5 Segundo Nelson Traquina, os valores notícia são divididos em duas catego- rias: valores de seleção (substantivos e contextuais) e valores de construção. Com base no texto, explique a diferença entre cada uma dessas categorias de valores-notícia. 18 19 TÓPICO 2 — UNIDADE 1 FORMATOS JORNALÍSTICOS INFORMATIVOS 1 INTRODUÇÃO Acadêmico, neste tópico estudaremos os principais formatos de textos jornalísticos informativos: a nota, a notícia e a reportagem. Para começar, vamos estudar os conceitos e características de cada um desses formatos, para que você seja capaz de distinguir cada um deles quando ler um jornal ou navegar por portais de notícia. Ao longo deste tópico, você verá exemplos de cada um dos formatos que vamos estudar. É importante que você complemente essa experiência de auto- aprendizagem consumindo material informativo, amplamente disponível em múltiplas plataformas (jornais impressos, portais de notícia, rádio, televisão e até redes sociais). Enquanto estiver consumindo esse material, procure aplicar mental- mente o que aprendeu aqui, classificando os textos de acordo com seus formatos. Algumas vezes, você vai perceber que os limites entre os formatos jornalísticos se tornam tênues. Isso acontece porque o jornalismo é uma atividade em constante aperfeiçoamento e transformação, que se esforça para atender às demandas sociais e se adaptar aos suportes e tecnologias, que mudam cada vez mais depressa. Por isso, uma notícia de jornal impresso é ligeiramente diferente da notícia sobre o mesmo fato no portal de notícias. O mesmo acontece em relação à televisão e ao rádio. Os textos jornalísticos adquirem feições ligeiramente diferentes dependendo da mídia para os quais são produzidos e do público para os quais são dirigidos. O importante é que você seja capaz de identificar as características gerais e, principalmente, a lógica que define quais assuntos merecerão uma nota, uma notícia ou uma reportagem. 2 NOTÍCIA A notícia é o formato mais importante do jornalismo informativo. Ela não é apenas um formato de texto, mas um modo de enxergar a realidade através de valores que são próprios do jornalismo e que definem a prática jornalística como tal. A notícia é o principal produto do jornalismo moderno. “Comerciar e trabalhar com notícias é função básica dos jornais. Eles compram e vendem informações [...]. Depois de passar por uma elaboração técnica, a notícia é vendida a varejo, ao público, ao leitor, ao receptor” (ERBOLATO, 2001, p. 50). 20 UNIDADE 1 — JORNALISMO INFORMATIVO A notícia característica do jornalismo moderno pode ser definida como “o relato de uma série de fatos a partir do fato mais importante ou interessante, e de cada fato, a partir do aspecto mais importante ou interessante” (LAGE, 2011, p. 17). O Manual de Redação da Folha de São Paulo, maior jornal em circulação do país, define a notícia como o “puro registro dos fatos, sem opinião” (MANUAL [...], 2010). Iniciar a notícia sempre pelo fato mais importante ou interessante é a característica que a diferencia de outras formas de narrativa, como as narrativas literárias, teatrais ou cinematográficas, por exemplo. Por isso, dizemos que a notícia “não trata exatamente de narrar os acontecimentos, mas de expô-los” (LAGE, 2011, p. 17). Isso pode parecer estranho, em um primeiro momento. Mas, se pararmos para pensar, sempre que algo impactante nos acontece, nossa tendência é contar para as pessoas expondo, primeiro, o fato principal e esclarecendo os detalhes depois, conforme o interesse do nosso interlocutor. Como explica Lage (2011 p. 21), tanto na tradição oral quanto na notícia, “os eventos estão ordenados não por sua sequência temporal, mas pelo interesse ou importância decrescente, na perspectiva de quem conta e, sobretudo, na suposta perspectiva de quem ouve”. A notícia trata de fatos, isto é, de coisas que verdadeiramente aconteceram no mundo real. Por esse motivo, conceitos subjetivos não são usados nos textos noticiosos: “não é notícia o que alguém pensou, imaginou, concebeu, sonhou, mas o que alguém disse, propôs, relatou ou confessou” (LAGE, 2011, p. 25, grifo do original). A notícia não pode argumentar, concluir ou defender hipóteses. Ela deve apenas expor fatos verdadeiros. Nas palavras de Lage (2011, p. 25), “o que não é verdade, numa notícia, é fraude ou erro”. A notícia é um relato objetivo e imparcial dos fatos, isento de opiniões e juízos de valor. Os únicos autorizados a opinar nos textos jornalísticos informativos são as fontes (os entrevistados), cujas declarações são identificadas pelo uso de aspas. É a partir das notícias que as pessoas têm condições de tomar conheci- mento dos fatos que acontecem ao seu redor e de tomar posição ou decisões em relação a eles. E isso só é possível graças ao trabalho dos jornalistas, que fazem um processo de mediação, ao selecionar (a partir dos critérios de noticiabilidade), formatar e publicar os fatos que os leitores querem ou precisam saber. Por isso a notícia deve ser recente, inédita, verdadeira, objetiva e de interesse público. “Só se considera completa uma notícia quando ela proporciona ao leitor a ideia exata e minuciosa sobre um acontecimento, ou mesmo previsão do que vai ocorrer” (ERBOLATO, 2001, p. 57). 2.1 ESTRUTURA DA NOTÍCIA: A PIRÂMIDE INVERTIDA O primeiro parágrafo da notícia é chamado de lead (do verbo em inglês, conduzir). É no lead da notícia que está a informação mais importante, mais interessante ou mais recente do fato que será relatado. Nesse primeiro parágrafo, TÓPICO 2 — FORMATOS JORNALÍSTICOS INFORMATIVOS 21 são respondidas, no mínimo, quatro perguntas fundamentais a respeito do fato: o que aconteceu? Quem estava envolvido? Quando aconteceu? Onde aconteceu? Essas perguntas são também chamadas de elementos da notícia. Os parágrafos seguintes complementam o lead e são chamados de docu- mentação. É na documentação que se acrescentam as informações complemen- tares e contextuais do fato, que podem responder outras duas perguntas: como aconteceu? Por que aconteceu? No Tópico 3 desta unidade, você vai conhecer os diversos tipos de lead e suas aplicações, quando estudarmos as técnicas de redação de textos jornalísticos informativos. ESTUDOS FU TUROS Este formato de texto é conhecido como pirâmide invertida: as informa- ções mais importantes para compreender o fato estão na parte de cima e as infor- mações menos importantes estão na base. “Na pirâmide invertida, a sequência é esta: a) entrada ou fatos culminantes; b) fatos importantes ligados à entrada; c) pormenores interessantes; d) detalhes dispensáveis” (ERBOLATO, 2001, p. 66). As origens históricas desse tipo de texto remetem às práticas jornalísticas inauguradas nos Estados Unidos, no século XIX, durante a Guerra Civil Americana (1861-1865). Durante o conflito, os repórteres enviados ao campo de batalha transmitiam notícias para a redação via telefone. Mas o sistema de telecomunicação era ainda muito precário. Por isso, cada repórter ditava ao telefone, um por vez, apenas o primeiro parágrafo do texto (o lead). Na sequência, cada um deles ditava o segundo parágrafo. Essa era uma forma de garantir que as informações mais importantes seriam publicadas, mesmo que a comunicação falhasse e não fosse possível passar o segundo parágrafo para a redação (FONTCUBERTA, 1993). Além disso, se houvesse muitas notícias a serem publicadas e não houvesse espaço suficiente, bastaria “cortar a notícia pelo pé”, ou seja, excluir o último parágrafo. O primeiro texto escrito a partir dessa técnica teria sido publicado pelo jornal New York Times, em abril de 1865. As agências de notícias, como a norte- americana Associated Press, também tiveram importante papel na disseminaçãodesse estilo de texto, que se tornaria um padrão para jornais impressos de todo o mundo e, posteriormente, transposto para os meios eletrônicos e digitais. 22 UNIDADE 1 — JORNALISMO INFORMATIVO 2.2 TIPOS DE NOTÍCIAS Neste subtópico, vamos estudar alguns exemplos de notícias publicadas em jornais impressos e portais de notícias. A partir desses exemplos, vamos verificar como a estrutura da pirâmide invertida, cujas origens remetem ao século XIX, ainda são verificadas nos textos jornalísticos informativos de hoje. Autores como Erbolato (2001), propõem uma classificação das notícias de acordo com uma série de características: • Quanto aos elementos que as compõem, as notícias podem ser sintéticas ou analíticas. • Quanto à ocorrência em si, as notícias podem ser previsíveis, imprevisíveis ou mistas. • Quanto à oportunidade de publicação, as notícias podem ser quentes ou frias. • Quanto ao local da ocorrência, as notícias podem ser internacionais, nacionais (que podem ser estaduais e regionais) ou locais. 2.2.1 Notícias sintéticas e analíticas Notícias sintéticas são aquelas que respondem apenas a três perguntas fundamentais: quem? Quê? Quando? Podem ser representadas pela fórmula: 3Q = NS. Notícias analíticas são as notícias completas, que respondem a todas as perguntas fundamentais: quem? Quê? Quando? Onde? Por quê? Como? Para facilitar a memorização, podem ser representadas pela fórmula: 3Q + O + P + C = NA. 2.2.2 Notícias previsíveis, imprevisíveis e mistas As notícias previsíveis são aquelas que já se sabe que vão ocorrer (uma competição, uma inauguração, uma audiência, uma eleição ou qualquer outro evento com data marcada). Nesses casos, o jornalista se prepara previamente para presenciar e cobrir o fato. As notícias imprevisíveis são acontecimentos que ninguém pode prever, como acidentes, incêndios ou desastres naturais. Nesses casos, os editores precisam encaixar a cobertura do fato na escala do dia. As notícias mistas também são situações comuns no cotidiano das redações. São aquelas situações em que o repórter sai para cobrir algo que já estava previsto e, no decorrer do trabalho, algo imprevisível e com maior valor- notícia acontece. Nesses casos, a cobertura tem seu alvo ajustado para o fato mais importante e impactante. TÓPICO 2 — FORMATOS JORNALÍSTICOS INFORMATIVOS 23 2.2.3 Notícias quentes e frias Notícias quentes são notícias urgentes, que devem ser publicadas o quanto antes. São elas que agitam o dia-a-dia das redações e exigem agilidade dos repórteres e editores. Já as notícias frias são aquelas que podem esperar para serem publicadas, geralmente com menor valor-notícia, que só serão publicadas na ausência de notícias quentes. 2.3 EXEMPLOS DE NOTÍCIAS Agora, vamos aos exemplos de notícias publicadas em jornais impressos e portais de notícias. Exemplo 1: o exemplo a seguir é de uma notícia de abrangência nacional, publicada pela versão on-line da Folha de S.Paulo. No cotidiano da redação, chamamos este tipo de notícia de “burocrática”, pois ela chega à redação através de um anúncio de um órgão oficial, normalmente uma nota, como neste caso. Apesar de não ser quente (urgente) é relevante para o leitor. Pix terá pagamento semelhante a boleto a partir de maio (título ou manchete) Na nova ferramenta é possível configurar outras informações além do valor, como juros, multa e descontos, como é feito no boleto bancário. (linha de apoio) O Banco Central anunciou, nesta quinta-feira (22), que o serviço de cobrança semelhante ao boleto bancário no Pix, sistema de pagamentos instantâneos, começará a funcionar em 14 de maio. (lead) Chamado de Pix Cobrança, a ferramenta permitirá que a empresa ou o prestador de serviço emita um QR Code para receber pagamentos imediatos em pontos de venda ou comércio eletrônico, por exemplo, além de cobranças com vencimento futuro. Na ferramenta, é possível configurar outras informações além do valor, como juros, multa e descontos, como é feito no boleto bancário. Até julho, as instituições que participam do sistema passarão por período de adaptação. “A regra estabelece que as instituições participantes do Pix, que não conseguirem proporcionar a experiência completa de pagamento (leitura do QR Code e pagamento em data futura) no período de 14 de maio a 30 de junho, terão que, no mínimo, possibilitar a leitura e o pagamento na data da leitura do QR Code, com todos os encargos e abatimentos calculados corretamente”, diz o BC em nota. 24 UNIDADE 1 — JORNALISMO INFORMATIVO “Esse é um período transitório, que dá as instituições um tempo adicional para finalizar as adequações nos sistemas. A partir de 1º de julho todos os participantes precisam ser capazes de fazer a leitura do QR Code e possibilitar o pagamento do QR Code para data futura”, completa. O BC também anunciou o Pix Agendado, que será obrigatório a partir de 1º de setembro de 2021. Desde novembro do ano passado, quando o novo sistema de pagamentos foi lançado, essa é uma funcionalidade facultativa. “Desde o lançamento do Pix, em novembro de 2020, essa é uma funcionalidade facultativa, e entende-se que este seja um prazo razoável para que todas as instituições façam os ajustes necessários nos seus sistemas e interfaces (aplicativos e internet banking)”, afirmou a autarquia. Com a ferramenta, o cliente pode agendar uma transferência ou pagamento por Pix para data futura com o uso da chave, por exemplo. “Tal medida visa ampliar ainda mais a comodidade dos pagadores, garantindo, que todos os usuários, independente da instituição que possuem conta, possam agendar um Pix”, disse a nota. FONTE: <https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/04/pix-tera-pagamento-semelhante- a-boleto-a-partir-de-maio.shtml>. Acesso em: 22 abr. 2021. Exemplo 2: a notícia que veremos agora, ao contrário, é uma notícia quente (acidente com feridos) e ainda tem um elemento relativamente inusitado: o acidente aconteceu depois que a motorista desmaiou ao volante. Ela foi publicada pelo portal de notícias G1 (Campinas e região) em 22 de abril de 2021 e faz referência a um fato que tem relevância local. Motorista passa mal, perde controle do veículo e provoca acidente com feridos em Campinas (título) De acordo com a Emdec, a condutora desmaiou ao volante; três pessoas ficaram feridas. (linha de apoio) Uma motorista de 51 anos desmaiou ao volante, invadiu a pista contrá- ria e provocou um acidente com outros dois veículos nesta quinta-feira (22) em Campinas (SP). A colisão ocorreu na Estrada da Rhodia, no cruzamento com a Rua do Sol, sentido Centro-bairro, no início da tarde. Três pessoas ficaram feridas. (lead) Segundo a Emdec, empresa responsável por organizar o trânsito da cidade, a motorista perdeu o controle da direção do veículo e atingiu um outro carro que vinha no sentido contrário. Na sequência, um terceiro se envolveu na colisão. TÓPICO 2 — FORMATOS JORNALÍSTICOS INFORMATIVOS 25 A Emdec informou que houve registro de lentidão próximo ao local do acidente, no distrito de Barão Geraldo. Os três feridos foram socorridos. A motorista que provocou o acidente, foi resgatada pelo helicóptero Águia da Polícia Militar e encaminhada ao Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp. Uma mulher de 53 anos, que dirigia um dos veículos atingidos, foi para o Hospital Ouro Verde. Já o condutor do outro carro, de 55 anos, foi atendido no local. Não há informações sobre o estado de saúde dos feridos. FONTE: <https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/noticia/2021/04/22/motorista-passa-mal- perde-controle-do-veiculo-e-provoca-acidente-com-feridos-em-campinas.ghtml>. Acesso em: 13 ago. 2021. 3 NOTA A nota é comumente definida como uma notícia em tamanho reduzido. Normalmente tematiza fatos que não têm importância suficiente para ocuparem o espaço de uma notícia ou fatos dos quais ainda não se tem muitas informações. As notas também iniciam a partir da informação mais importante e usam a técnica do lead. Assim comoa notícia, são relatos objetivos e imparciais de um fato. Normalmente, não incluem declarações das fontes (entrevistados). Na maior parte dos casos, as notas contemplam apenas as quatro primeiras perguntas do lead: o que aconteceu? Quem estava envolvido? Onde aconteceu? Quando aconteceu? Por esse motivo, podem ser consideradas sinônimos de notícias sintéticas, sobre as quais já falamos. No contexto atual, as notas informativas são mais comuns no rádio e na televisão. Vejamos um exemplo de nota de rádio: LOC – Subiu para 145 o número de mortos em razão da pandemia do novo coronavírus somente na cidade de Florianópolis. A secretaria da saúde do município iniciou uma campanha para conscientizar os moradores a não frequentarem bares e restaurantes e evitarem a aglomeração em locais públicos. Para os infectologistas, a transmissão continua aumentando porque as pessoas não respeitam as orientações das autoridades. Só esta semana, três restaurantes foram fechados porque não estavam cumprindo as determinações da prefeitura. 26 UNIDADE 1 — JORNALISMO INFORMATIVO 4 REPORTAGEM As origens históricas da reportagem moderna, assim como da notícia, remetem aos Estados Unidos do século XIX, quando se desenvolveu um conjunto de técnicas para apuração e apresentação da informação jornalística que caracterizam, até os dias de hoje, o discurso jornalístico e o diferenciam de outras formas de comunicação pública. A reportagem é um formato jornalístico informativo cuja característica principal é a predominância da forma narrativa. Enquanto a notícia apenas relata os fatos com o objetivo de torná-los públicos (texto expositivo), a reportagem narra o modo como os fatos aconteceram, com maior liberdade de linguagem e procedimentos estilísticos que humanizam a história. As reportagens são mais longas, mais aprofundadas e mais contextualizadas do que as notícias. Na definição de Lage (2003, p. 112-113), a reportagem é uma exposição que combina interesse do assunto com o maior número de dados, formando um todo compreensível e abrangente. Difere da notícia porque esta, sendo comumente rompimento ou mudança na ocorrência normal dos fatos, pressupõe apresentação bem mais sintética e fragmentária. Características como objetividade, atualidade e precisão também devem estar presentes em todas as reportagens, pois, como assinalam Ferrari e Sodré (1986, p. 17): [...] não se pode esquecer que o discurso de comunicação de massa está subordinado a seu objetivo primordial – a informação – e que, embora possa haver variedade nos enunciados, os dados referenciais ligados a fatos e pessoas assumem proeminência. Isso, tanto no que se refere à notícia como à reportagem. O verbete do Manual da Folha de S.Paulo sobre reportagem traz a seguinte definição: Reportagens têm por objetivo transmitir ao leitor, de maneira ágil, informações novas, objetivas (que possam ser constatadas por terceiros) e precisas sobre fatos, personagens, ideias e produtos relevantes. Para tanto, elas se valem de ganchos oriundos da realidade, acrescidos de uma hipótese de trabalho e de investigação jornalística (MANUAL [...], 2010, p. 24). As diferenças entre a notícia e a reportagem começam na pauta, ou seja, no planejamento da matéria (LAGE, 2003). No caso das notícias, as pautas são apenas a programação dos fatos do dia (acompanhamentos de fatos do dia anterior, eventos agendados, fatos que chegam à redação através de leitores). A pauta da reportagem, por outro lado, é mais completa e conta com as informações já disponíveis do tema, sugestões de abordagem, agendamento de fontes, prazos de produção, entre outras informações possíveis, dependendo da extensão do trabalho de reportagem que será necessário. TÓPICO 2 — FORMATOS JORNALÍSTICOS INFORMATIVOS 27 Existem muitos estilos de reportagem, algumas delas pertencentes ao gênero informativo (o qual estamos estudando nesta unidade) e outras que pertencem ao gênero interpretativo (como as reportagens em profundidade, literárias, explicativas e perfis, que serão abordadas na Unidade 3 deste livro). Ferrari e Sodré (1986) propõem, em um texto clássico da área, a classifi- cação das reportagens informativas: reportagem de fatos, reportagem de ação e reportagem documental. Tais nomenclaturas variam de acordo com os autores. O importante é que você compreenda as principais características de cada uma delas. A reportagem de fatos é aquela que relata acontecimentos de forma objetiva e obedece, assim como as notícias, à estrutura de pirâmide invertida, que você já conhece, em que os fatos são narrados por ordem de importância. Essa forma de reportagem é a mais comum nos jornais impressos diários e nos telejornais e trata de fatos quentes, isto é, que aconteceram no mesmo dia ou no dia anterior. Por terem relevância e interesse público suficientes, ganham mais espaço na hierarquia das notícias, assumindo a forma de reportagem, que traz uma quantidade maior de informação e detalhamento do fato do que a notícia. A reportagem de capa do principal jornal diário da sua cidade hoje, certamente é uma reportagem de fatos. A reportagem de ação é um relato mais movimentado dos fatos, que abre com a informação (ou cena) mais atraente e, ao longo do texto, vai expondo as demais informações e contextualizações. Esse tipo de reportagem valoriza o desenrolar dos acontecimentos e, mesmo que seja impressa, leva o leitor a imaginar as cenas, como num filme. Esse formato de reportagem é mais comum na TV, em situações em que o repórter está envolvido na ação e não é mero observador distante. A cobertura levada ao ar pelo Jornal Nacional, em novembro de 2010, sobre a ocupação do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, apresenta bons exemplos de reportagens de ação. Como se pode ver nos vídeos, os repórteres usavam até coletes a prova de balas para se proteger, pois estavam acompanhando de perto as operações policiais que tinham como objetivo recuperar o controle sobre uma área dominada pelo tráfico de drogas. Confira no site do Memória Globo, disponível em: https://glo.bo/37Ipvzk. DICAS https://glo.bo/37Ipvzk 28 UNIDADE 1 — JORNALISMO INFORMATIVO A reportagem documental é uma narrativa que faz uso abundante de documentos para relatar uma determinada história de forma objetiva, mostrando “provas documentais” que fundamentam o que está sendo narrado, aliadas a depoimentos que complementam a abordagem. Essas reportagens exigem muita pesquisa e, em muitas situações, têm caráter de denúncia. Notícias podem motivar reportagens. O desabamento de um prédio (notícia quente e imprevisível) pode ser usado como gancho para uma reportagem sobre a fiscalização de obras, por exemplo. E isso nos leva ao tema do próximo subtópico, as suítes. 5 SUÍTE No jornalismo, chamamos de suíte as notícias ou reportagens que dão sequência a um assunto já noticiado, “quando a matéria é quente e continua a despertar o interesse dos leitores” (ERBOLATO, 2001, p. 74). O termo vem do francês suite, que significa sequência. É obrigação dos jornalistas acompanhar fatos de grande relevância e levar aos leitores novas matérias sobre o assunto. Mas é importante salientar que as suítes só se aplicam quando há novas informações ou desdobramentos de um fato. Por exemplo: nos dias posteriores a um acidente de avião, é altamente provável que os veículos de comunicação produzam reportagens sobre as possíveis causas do acidente, as investigações que estão sendo conduzidas pelas autoridades, o estado de saúde de eventuais sobreviventes etc. Crimes de grande impacto social também costumam receber cobertura da imprensa até que sejam solucionados pela Justiça. Alguns fatos jornalísticos adquirem tanta repercussão na sociedade que as suítes podem se estender ao longo de várias semanas ou até meses. As suítes podem se apresentar tanto no formato de notícia, quanto de reportagem, a depender da importância editorial ainda conferida ao assunto. Devem ser iniciadassempre pelos fatos mais recentes sobre o assunto (no lead), mas precisam de certo nível de contextualização, pois os leitores de hoje podem não ter conhecimento do fato já noticiado ou não lembrar do que se trata. Essa contextualização pode ser realizada em um parágrafo, logo após o lead, ou ao final da matéria, muitas vezes destacada pelo entretítulo “entenda o caso” ou similar. Entretítulo ou intertítulo é o nome que se dá, no jargão jornalístico, para cada um dos títulos que separa os blocos de texto que compõem uma reportagem longa. NOTA TÓPICO 2 — FORMATOS JORNALÍSTICOS INFORMATIVOS 29 Para produzir uma suíte, é preciso que o repórter tenha conhecimento de tudo o que já foi publicado sobre o assunto pelo seu veículo de comunicação, além de acompanhar a concorrência. Desse modo, evitam-se informações repetitivas e contradições (ERBOLATO, 2001). 5.1 EXEMPLO SUÍTE Vejamos o exemplo a seguir. Trata-se de uma suíte sobre a morte de uma criança, publicada no site do jornal Folha de S.Paulo, em 13 de abril de 2021. O fato ocorreu em 7 de março de 2021 e apresentou uma série de desdobramentos, como a prisão da mãe e do padrasto da criança, investigados por suposto homicídio. Perceba que a matéria transcrita a seguir traz uma informação nova: a babá da criança fez um novo depoimento à polícia e mudou sua versão dos fatos. Veja, também, que a notícia faz uso do entretítulo “entenda o caso” para relembrar fatos anteriormente já noticiados sobre o assunto: Babá diz que mãe de Henry pediu que ela mentisse e apagasse mensagens (título) Funcionária relatou três episódios de possível violência do vereador Dr. Jairinho contra o menino (linha de apoio) Rogério Pagnan e Júlia Barbon (repórteres) São Paulo e Rio de Janeiro (localização) A babá Thayná de Oliveira Ferreira, 25, confirmou em novo depoimento à Polícia Civil do Rio que escondeu o histórico de violência praticada pelo vereador Dr. Jairinho contra o menino Henry Borel, morto aos 4 anos, a pedido da própria mãe da vítima, a professora Monique Medeiros (lead). Nesse novo depoimento, Thayná contou ter presenciado três ocasiões em que a criança foi levada ao quarto do casal pelo padrasto, quando supostamente foi agredido, e não só o episódio do dia 12 de fevereiro, como veio a público no dia da prisão do casal, em 8 de abril. Ainda segundo a versão da babá, foi Monique quem pediu que ela excluísse as mensagens de seu celular quando foi chamada ao escritório do advogado do casal, André França Barreto, dias antes de seu primeiro depoimento à polícia. Nessa conversa inicial, estariam presentes somente ela e a ex-patroa. “Que Monique então começou a falar para a declarante que quando ela fosse depor em sede policial era para ela falar que nunca havia visto nada, nunca havia ouvido nada e que era para apagar todas as mensagens”, diz trecho do novo relato da funcionária concluído na madrugada desta terça (13). 30 UNIDADE 1 — JORNALISMO INFORMATIVO A polícia solicitou que Thayná voltasse à delegacia após a descoberta de trocas de mensagens entre ela e Monique que indicaram que a criança foi agredida dentro do quarto do casal um mês antes de morrer. Na primeira vez em que foi chamada pelos policiais, em 24 de março, nada disso foi contado. As mensagens só foram recuperadas porque os investigadores usaram um programa especial israelense que resgata o histórico dos aparelhos celulares. No novo depoimento, a ex-funcionária do casal disse ter concordado em sustentar a falsa versão por medo. “A declarante respondeu que mentiu por medo, já que, por ter visto o que Jairinho tinha feito contra uma criança, ficou com medo que algo também pudesse acontecer com ela própria”, diz trecho do depoimento. Thayná conta ainda que seu noivo, seu tio, sua tia e sua mãe trabalham para a família ou arranjaram empregos na Prefeitura do Rio de Janeiro na gestão de Marcelo Crivella (Republicanos) por intermédio do vereador, que foi líder do ex-prefeito na Câmara Municipal. Além da suposta agressão sofrida em 12 de fevereiro, a babá conta que outra situação anormal ocorreu dez dias antes, na manhã de 2 de fevereiro, quando a mãe saiu para jogar futevôlei. Ela diz que Henry estava no quarto dele quando passou a chamar pela mãe. Jairinho então se irritou, disse que o menino era mimado e o chamou para uma conversa no quarto do casal. Ele então ficou cerca de 30 minutos trancado com a criança ali dentro. Ao ser questionado pela babá sobre o que havia ocorrido com o padrasto, Henry teria dito que “tinha esquecido, que estava com soninho”. Na tarde desse mesmo dia, a babá o levou para a brinquedoteca, onde ele não quis brincar com outras crianças por sentir dores no joelho. Thayná disse que não associou as queixas do menino ao episódio com Jairinho pela manhã, mas que contou todos esses detalhes para a mãe dele. A terceira vez em que a criança foi supostamente agredida pelo vereador ocorreu em data em que ela não se recorda ao certo, possivelmente na última semana de fevereiro. Nesse dia, ainda segundo a babá, Jairinho chegou “excepcionalmente mais cedo do trabalho” e, sem nenhum motivo, chamou Henry para o quarto do casal, trancando novamente a porta. Thayná disse ter batido e solicitado para que abrissem. Quando isso aconteceu, percebeu o menino “visivelmente intimidado”. Ao questionar o que havia ocorrido, ele inicialmente negou, mas, com a insistência, afirmou ter caído da cama. TÓPICO 2 — FORMATOS JORNALÍSTICOS INFORMATIVOS 31 Jairinho negou à babá que o menino tivesse sofrido a queda, mas não apresentou nenhuma outra explicação para a situação. Nesse mesmo dia, Henry reclamou de dores de cabeça e, segundo a babá, também tinha marcas roxas no braço. Henry então foi morto na madrugada do dia 8 de março. A babá relatou que ficou sabendo pela irmã de Jairinho, Thalita, que disse por telefone que o so- brinho passou mal e faleceu. “Como assim, passou mal e morreu? É uma crian- ça”, teria questionado a funcionária, mas Thalita confirmou e logo desligou. Entenda o caso (entretítulo ou intertítulo) Henry passou o fim de semana anterior à sua morte com o pai, que o deixou no condomínio da mãe e do namorado na noite do dia 7 de março, um domingo, sem lesões aparentes. Na mesma madrugada, Monique e Jairinho levaram o garoto às pressas para o hospital, onde ele já chegou morto. Um exa- me de necropsia concluiu que as causas do óbito foram “hemorragia interna” e “laceração hepática” (lesão no fígado), produzidas por uma “ação contunden- te” (violenta). Ele tinha outras diversas lesões e hematomas pelo corpo. Em depoimento, a mãe afirmou que estava assistindo a uma série com o namorado em outro quarto e despertou de madrugada com a TV ligada. Acordou Jairinho, que havia tomado remédios para dormir, e foi até o quarto do casal onde Henry estava dormindo. Chegando lá, teria visto o menino caído no chão, com os olhos revirados, as mãos e pés gelados e sem respirar. A polícia ouviu dezenas de pessoas durante as investigações, entre elas a faxineira que limpou o apartamento no dia da morte (antes da perícia), uma ex-namorada do vereador que o acusou de agressões contra ela e sua filha, na época criança, a psicóloga do menino e as pediatras que o atenderam. Mais de dez celulares foram apreendidos em diferentes endereços ligados à família da criança e à babá. Após o conhecimento das mensagens trocadas entre Thayná e Monique, os policiais pediram a prisão temporária do casal, que foi aceita pela Justiça. Com essa medida, a Folha apurou que a polícia também quer que testemunhas criem coragem para relatar o que viram. FONTE:<https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2021/04/baba-diz-que-mae-de-henry- pediu-que-ela-mentisse-e-apagasse-mensagens.shtml>. Acesso em 13 abr. 2021. https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2021/04/baba-diz-que-mae-de-henry-pediu-que-ela-mentisse-e-apagasse-mensagens.shtml https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2021/04/baba-diz-que-mae-de-henry-pediu-que-ela-mentisse-e-apagasse-mensagens.shtml
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