Buscar

FILOSOFIA ÉTICA

Prévia do material em texto

FILOSOFIA ÉTICA
Aula 1: O conceito de ética e a definição de Filosofia:
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 1. Identificar os conceitos ética e filosofia;
2. Reconhecer a noção de ética a partir de um caso prático.
O clássico livro Ética (1980), de Adolfo Sánchez Vázquez, já esclarece o primeiro ponto que iremos explorar: os costumes que adotamos no dia-a-dia tornam-se parâmetros para nos orientar, diante de certos problemas. Só que pequenas palavras podem esconder grandes problemas, ou grandes questões, e assim damos início à disciplina Filosofia e Ética.
Vamos começar nossa primeira conversa sobre Filosofia e Ética a partir de uma situação hipotética sobre a qual você deverá refletir: Vamos começar nossa primeira conversa sobre Filosofia e Ética a partir de uma situação hipotética sobre a qual você deverá refletir: .Walter Kleinkz, alemão, foi convocado para fazer parte do exército nazista. Seu amigo, Rudolph Splitzen, não foi apesar de este ser um grade entusiasta da ideolo9gia propagada por Adolph Hitler. A primeira missão dada a Walter foi de trabalhar no campo de concentração Auschwitz, quando começou a se dar conta das atrocidades cometidas naquele local.
 Chocado com a quantidade de gente mortas barbaramente no campo de concentração, escreveu uma carta ao amigo Rudolph dizendo que iria ajudar os judeus a fugirem daquele lugar terrível...Coloque-se no lugar de Rudolph e responda: será que ele deve denunciar o amigo ao tribunal nazista por traição? Pare para refletir e, depois, siga para a próxima tela desta aula.
Quando pensamos em como nos comportar diante de situações que envolvam e afetem nossos semelhantes, deparamo-nos, em princípio, com normas que guiam nossas ações para a realização do que é verdadeiro, digno e correto. 
Logo, ao nos depararmos com o dever de cumprir uma promessa, denunciarmos um amigo traidor ou dizermos sempre a verdade, estamos diante de comportamentos moldados pela pressão de valores justos que regulam nosso modo de ser individual e social: três ocorrências que envolvem regras para nossas ações, ou três problemas morais.
Circunstâncias especiais podem nos levar a rever uma promessa (quando vivemos uma situação de desespero, por exemplo), ocultar a traição de alguém conhecido (quando ela é o único meio de sobrevivência de quem a cometeu, por exemplo), ou omitir informações (não revelarmos a um conhecido seu estado terminal de saúde, por exemplo). A esta reflexão que nos leva a decidir que juízos ou ponderações devem nos orientar numa situação e a justificarmos a decisão tomada, chamamos reflexão ética.
Começando a entender o que é ética Para Aristóteles (384 a.C–322 a.C), “toda ação humana está orientada para a realização de algum bem, ao qual estão unidos o prazer e a felicidade” (apud BOHADANA, SKLAR:2007,226). Mas o que Aristóteles tem a ver com ética? Clique nas caixas para saber mais. 
 
 *A PALAVRA ÉTICA O termo ética deriva de éthos que significa modo de ser, e, por isto, definiu-se com frequência ética como  a doutrina dos costumes ou hábitos adquiridos pelo homem .
* ÉTICA EM ARISTÓTELES: Foi Aristóteles, filósofo grego, que tornou a ética uma disciplina autônoma no domínio da filosofia moral. Para ele, o campo ético deveria investigar as características do bem, da perfeição e da felicidade que são atribuídas ao homem, com o fim de ajustá-los á orientação prática da conduta humana.
*ÉTICA E A VIRTUDES ARISTÓTELES condena tanto os prazeres sensíveis quanto à posse das riquezas. Ser ético, segundo ele, significaria viver conforme manda a razão, voltando-se para obtenção do bem e alcançando as virtudes.
a)Virtudes éticas- ordenam a vida em sociedade, sob as formas da justiça, amizade, valor, originando-se dos costumes e sendo denominadas de virtudes, do hábito ou tendências. b)Virtudes intelectuais ( ou dianoéticas)- englobam, centralmente, a sabedoria e a prudência.
*ENTENDA ARISTÓTELES De acordo com o pensamento aristotélico, os comportamentos adotados pelos homens em sociedade ( e com os quais se acostumam)  deveriam ser racionais, na medida em que contivessem finalidades práticas, intelectuais, teríamos, assim, princípios – normas gerais de ação – guiariam todo o campo de nossa conduta moral.
Ética e moral: Ao longo da História da Filosofia, a Ética, englobando o conceito de realidade moral, chega à seguinte definição: “ciência que se ocupa dos objetos morais em todas as suas formas, a filosofia moral” (cf. FERRATER MORA:1965,595). Mas o que é moral? Selecionamos dois autores que assim a definem (clique nos livros):
*Para André Lalande (1999,705), a conceituação de moral abrange: 
(a) os costumes, ou “regras de conduta admitidas numa sociedade determinada”, sendo a observação e constatação de seu conjunto e os juízos sobre os mesmos o que se entende por “realidade moral”; 
(b) o “estudo filosófico do bem e do mal”; 
(c) o “conjunto das regras de conduta admitidas numa época ou por um grupo de homens”; 
(d) o “conjunto das regras de conduta tidas como incondicionalmente válidas”.
*Para Sánchez Vázquez (2002, 84), “a moral é um sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter histórico e social, sejam acatadas livre e conscientemente, por uma convicção íntima, e não de uma maneira mecânica, externa ou impessoal”
Moral distingue-se do que é investigado no campo ético, na medida em que “este último domínio se ocupa de uma moral ligada aos fatos, incorporando valores aceitos pelos homens ao se inter-relacionarem socialmente” (SKLAR:2008). Seguindo este sentido, Sánchez Vázquez (2002, 23) define a ética como “teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade”.
A definição de filosofia : A Filosofia no Ocidente tem suas raízes históricas na Grécia Antiga. Entre os séculos XX a.C e II a.C, podemos reconhecer a presença dessas raízes através dos seguintes períodos:
SÉCULOS XX A.C – VII A.C 
Primeiros Gregos, conhecidos como aqueus – posteriormente divididos em jônios e eólios – que ocupavam lentamente a Grécia Continental, o Peloponeso e as ilhas do mar Egeu. A cidade de Micenas desponta, formando o que passou a ser conhecido como civilização micênica.
SÉCULOS VII A.C.-- VI A.C Período arcaico, em que o desenvolvimento da economia mercantil e alterações sociais e políticas levamao aparecimento de colônias (bases das cidades –Estados, ou pólis) que geravam produtos agrícolas e a compra e venda de mercadorias com outros povos.
SÉCULOS III A.C.- - II A.C. Período helenístico, em que se inicia uma profunda decadência política na Grécia, a princípio provocada pela expansão do Império Macedônico e, posteriormente, pela ascensão do Império Romano.
LEITURA:
Como você viu na linha do tempo, a filosofia resultou do estabelecimento de uma organização política, econômica e administrativa que marcou a civilização grega: a pólis (cidade-Estado). Discussões em assembleias, no lugar do poder em torno da realeza que dominou o período homérico, tornaram-se, então, necessárias, gerando o ideal de cidadania: a participação pública do cidadão nos destinos da cidade. Em formas acessíveis à inteligência, uma ordem humana estabelecia seus alicerces.
*A pólis grega:
Por que devemos realçar o valor da "pólis"? Por que através dele entendemos a evolução de um instante em que os homens tomavam os deuses como principal fonte para compreensão da realidade (percepção mítica), a um período no qual a consciência racional torna-se central no dia-a-dia do homem grego. Não mais rodeado por mistérios, a reflexão sobre o universo constava do que era debatido publicamente; já o conhecimento mítico, desenvolvido nos séculos anteriores e marcado pelo predomínio do extra-humano, tornava-se inoperante para a apreensão social da realidade.
 Não mais rodeado por mistérios, o entendimento do universo constava do que era debatido publicamente; já o conhecimento mítico, desenvolvido nos séculos anteriores e marcado pelo predomínio do extra-humano, tornava-se inoperante para a nova apreensão social da realidade
 É por esta razão que o desenvolvimento da pólis foi à pedra de toque para o nascimento do pensamento racional-filosófico: criou as condições necessárias para que, partindo da percepção mítica e superando-a, o saber fosse racionalmente elaborado. As concepções filosóficas que se desenvolveram nesse período formaram o que é conhecido como pensamento pré-socrático, ou seja, filósofos que viveram antes de Sócrates.
Distanciada da dimensão mítica e condicionada ao surgimento e implantação da pólis, a filosofia é compreendida como “o conjunto de estudos ou de considerações que apresentam um alto grau de generalidade e tendem a reduzir seja uma ordem de conhecimento, seja todo o saber humano, a um pequeno número de princípios diretivos” (LALANDE: 1999,405). Ressaltamos que a expressão “Filosofia geral”, usada por Auguste Comte (1798-1857), “foi adotada no ensino a partir de 1907, para designar o conjunto de questões de filosofia que levantam a psicologia, a lógica, a moral, ou a estética, mas que não pertencem ao domínio especial de cada uma delas; por exemplo, a natureza do conhecimento, as noções fundamentais que ela implica, os problemas concernentes ao Universo, a Deus ao Espírito e aos espíritos 2 individuais, as relações entre a matéria, a vida, a consciência”(LALANDE:1999,407).
 Como mencionamos anteriormente, a ética torna-se uma disciplina autônoma através de Aristóteles. Em nosso curso, as considerações necessárias à filosofia, no que concerne à delimitação das principais doutrinas ético-filosóficas ocidentais, serão apresentadas apenas num último momento do conteúdo programático. 
Para efeito de maior clareza sobre o tema, extraímos os principais aspectos do domínio ético, obedecendo à ordem de apresentação proposta por Adolfo Sánchez Vázquez (2002): conceito de ética (aula 1),campo da ética,: a ciência da moral (aula 2), caráter histórico e social da moral (aula 3),estrutura do ato moral (aula 4), responsabilidade moral, o determinismo, a liberdade (aula 5), e as doutrinas éticas fundamentais (aulas 6-10). Em acréscimo, para uma melhor compreensão desta noção, começaremos por introduzir estudos de casos que possam exemplificar e contextualizar o que estamos formulando teoricamente.  
A crise do Tylenol 
 Iremos apresentar agora uma situação adaptada do original de Laura Nash, em seu livro Ética nas Empresas (2001:36-38). Da mesma maneira que ocorreu no início desta aula, a atividade não deverá ser respondida diretamente por você, e sim servirá como reflexão. Vamos começar?
 Em 1982, os executivos da Johnson& Johnson foram informados da ocorrência de envenenamentos, na área de Chicago, aparentemente por ingestão do Tylenol em cápsulas. No dia seguinte a este trágico acontecimento, não foram detectadas as causas do envenenamento, o processo de fabricação do remédio não sofrera qualquer falha e os envenenamentos teriam provavelmente depois que os produtos saíram da empresa.
 Embora a venda do Tylenol representasse um faturamento, na época, de US$100 milhões anuais, fornecendo tratamento eficaz contra dor, a empresa decidiu recolhê-lo do mercado.
 Sua reintrodução tornou-se, em seguida, um marco de marketing. Segundo Nash, a Johnson& Johnson, obtendo um alto prestígio do público pelo recolhimento do produto, beneficiou-se da ampla publicidade decorrente de sua pronta reação contra a ocorrência desastrosa. Relançando no mercado, o remédio foi substituído sem qualquer ônus a todos os consumidores que alegassem tê-lo destruído. Assim, em dezoito meses, o Tylenol retomou seu lugar no mercado.
Agora perguntamos para você: será que tal postura da empresa teria sido puramente uma questão de marketing ( com uma pitada de cálculo de risco por parte dos administradores) ou envolveu um genuíno comportamento ético no mundo dos negócios?
Síntese da aula:
Nesta aula, você
a) Reconheceu alguns conceitos relacionados aos termos ética, moral e filosofia;
b) Identificou algumas relações entre esses termos;
c) Foi apresentado a um breve resumo histórico que serviu de base para o surgimento da filosofia.
Próxima aula:
Pode ser que nesta aula você tenha se confundido um pouco sobre o que é moral e o que é ética. Isso não foi por acaso. Na próxima aula, iremos aprofundar o conteúdo de forma a distinguir ética de moral. Não se esqueça de realizar os exercícios de autocorreção e de participar do fórum de discussão Integração da turma.
Aula 2: Ética: a ciência da moral:
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 1. Reconhecer as características que compõem o campo ético, aprofundando o que diferencia a ética da moral; 
2. Identificar o que faz a ética ser concebida como um conhecimento científico sobre a moral.
ESTUDO DIRIGIDO DA AULA 1.Leia o texto condutor da aula.
2. Leia o texto indicado.
3. Participe do Fórum de discussão no tópico Integração da turma.
4. Realize as atividades solicitadas.
5. Leia a síntese da aula e a chamada para a aula seguinte.
Antigamente, os comercias de cigarro, como o que você viu no vídeo, associavam a imagem do produto aos sentimentos de liberdade, sucesso, riqueza, beleza etc. Hoje você já sabe que é proibida a veiculação de anúncios de cigarro na televisão. Tal decisão corresponde a uma reflexão ética colocada em prática.
O campo da éticaComo você começou a ver na Aula 1, o estabelecimento de valores e princípios para um comportamento, ou normas gerais de ação, sugere a reflexão sobre as características do campo ético. Seu sentido não se reduz, no entanto, à ideia de que toda ação moral contenha princípios e valores, orientando-nos a agir de certa maneira. Vamos ver outros exemplos?
* A realidade sofre transformações históricas e, através das transformações no comportamento humano, normas que parecem adequadas num momento tornam-se  absoletas  noutro, assim devendo ser alteradas.
*Um exemplo de transformação histórica se deu na revolução feminista, que separa a concepção de submissão da mulher,( esposa, mãe, dona-de-casa) da imagem de mulher que temos no dia de hoje: independente, produtiva, em igualdade de condições com o homem.
*Assim, o campo ético abrange tanto a ideia de que qualquer ação humana gire em torno da divisão (fixa ou total) do que é certo ou errado, quanto formas diversas e variadas de comportamento moral adotados pelos homens na vida em sociedade
Ética e moral: quem é quem? Continuando com o exemplo da posição da mulher na sociedade, notamos que em algumas sociedades ela ainda é tratada de acordo com normas e costumes ditos “ultrapassados”, e sua posição é de inferioridade em relação ao homem. Mas por que isso acontece? Por que ainda existe esse comportamento se hoje em dia já sabemos que as mulheres estão em condições de igualdade em relação ao homem? Por que o Brasil é tão diferente de outros países em relação à mulher na sociedade?
ATENÇÃO À ética não é localizada em um determinado momento da história e da humanidade, mas sim é atemporal, considerada na sua totalidade, diversidade e variedade: “A ética (...) toma como ponto de partida a diversidade de morais no tempo, com seus respectivos valores, princípios e normas. Como teoria, não se identifica com os princípios e normas de nenhuma moral em particular e tampouco pode adotar uma atitude indiferente (...) diante delas. Juntamente com a explicação de suas diferenças, deve investigar o princípio que permita compreendê-las no seu movimento e (...) desenvolvimento” (Sánchez Vázquez, 2002:21-2).
 Ética: a ciência da moral 
Não se identificando com princípios morais, mas não sendo indiferente a eles, o campo ético, conduzindo à compreensão racional de aspectos efetivos, reais, das atitudes humanas, não se confunde com a moral propriamente dita. Esta compõe-se de normas ou regras de comportamento, não sendo a ética responsável pelo estabelecimento das mesmas em sociedade. 
Vamos retomar o exemplo usado na Aula 1: o caso Tylenol.
. Em 1982, os executivos da Johnson& Johnson foram informados da ocorrência de envenenamentos, na área de Chicago, aparentemente por ingestão do Tylenol em cápsulas. No dia seguinte a este trágico acontecimento, não foram detectadas as causas do envenenamento, o processo de fabricação do remédio não sofrera qualquer falha e os envenenamentos teriam provavelmente depois que os produtos saíram da empresa.
. Embora a venda do Tylenol representasse um faturamento, na época, de US$100 milhões anuais, fornecendo tratamento eficaz contra dor, a empresa decidiu recolhê-lo do mercado.
. Sua reintrodução tornou-se, em seguida, um marco de marketing. Segundo Nash, a Johnson& Johnson, obtendo um alto prestígio do público pelo recolhimento do produto, beneficiou-se da ampla publicidade decorrente de sua pronta reação contra a ocorrência desastrosa. Relançando no mercado, o remédio foi substituído sem qualquer ônus a todos os consumidores que alegassem tê-lo destruído. Assim, em dezoito meses, o Tylenol retomou seu lugar no mercado.
Agora perguntamos para você: será que tal postura da empresa teria sido puramente uma questão de marketing ( com uma pitada de cálculo de risco por parte dos administradores) ou envolveu um genuíno comportamento ético no mundo dos negócios?
Entendendo o caso a partir da distinção entre ética e moral
É justamente a elucidação desta diferença que nos leva ao desfecho da análise sobre a crise do Tylenol. Vamos ver todas as variantes envolvidas no caso estudado para podermos chegar a uma conclusão.
ÓTICA ECONÔMICA Sob uma ótica econômica, seria melhor simplesmente manter os produtos nas prateleiras. Afinal a empresa, além de não ser responsável pela contaminação (por não ter sido aparentemente provocada em uma de suas instalações), confrontava-se com uma ocorrência isolada que não minimizava o valor do produto para a maioria dos consumidores.
A IMAGEM NA EMPRESA A preocupação com os clientes era o alvo central da política de utilização dos serviços da empresa. Em torno deles, enfatizava-se a segurança, qualidade e confiabilidade do procuto. Não sendo este mais confiável, qualquer atitude que surgisse um interesse maior no lucro em detrimento da segurança dos consumidores minimizaria a força desses três valores.
OPINIÃO DO GESTOR “Cremos que nossa primeira responsabilidade é para com os médicos, enfermeiras e pacientes, para com as mães e os pais e com todos que utilizam nossos produtos e serviços. Para atender a suas necessidades, tudo o que fazemos deve ser da mais alta qualidade” ( Apud NASH: 2001,39).
BENEFÍCIO A LONGO PRAZO Ao ser relançado, o medicamento voltou a ser lucrativo, pois os consumidores sentiam-se mais confiantes em utilizá-lo. A crise veio testar, em última instância, se a confiança tinha um significado real para a empresa. Ficou claro que sim.
Apesar das incertezas sobre um possível sucesso financeiro com o recolhimento e relançamento sobre um produto, a empresa agiu corretamente, respeitando o imperativo de qualidade com os usuários de seus serviços.
Vamos retomar alguns conceitos que você já viu:
MORAL - sistema de normas, princípios e valores que regula o comportamento individual e social dos homens. O domínio moral abrange valores que têm o poder de regular, em qualquer momento da história, as ações dos homens em sociedade.
ÉTICA - explica e investiga uma determinada realidade ao formular conceitos sobre a mesma, para que possamos decidir como devemos nos orientar numa situação e justificarmos a decisão tomada
Voltando para o caso da Johnson & Johnson, vemos a presença de um componente moral na estratégia assumida pela empresa, pois ela agiu de acordo com o que achava correto e digno. Compreendemos também que a empresa agiu eticamente ao recolher e relançar o produto, reagregando um valor – CONFIANÇA – ao mesmo.
Botando o pingo no “i”
O sujeito moral age bem ou mal na medida em que acata ou transgride a fixidez de normas, princípios ou valores morais. Já a ética, em síntese, ocupa-se com a reflexão social (circunstancial) desencadeada pelos seres humanos, a respeito das noções e princípios que fundamentam a vida moral.
ATENÇÂO E é justo este poder reflexivo que transforma a ética em conhecimento científico sobre a moral, por abranger as seguintes dimensões: a) psicológica (referida à Psicologia, ciência do comportamento); b) sociológica (ligada à Sociologia, ciência das leis que regem o desenvolvimento e estrutura das sociedades humanas); c) antropológico-social (pautada pela Antropologia Social, ciência que estuda a organização e estrutura sociais);d) jurídica (confrontada com o Direito, ciência que estuda o sistema de normas que regula as relações sociais); e) econômico-política (vinculada à Economia Política, ciência que estuda as relações de produção). 
Nesta aula, você:
a) Retomou o estudo de caso da Aula 1;
b) Identificou algumas distinções entre ética e moral;
c) Compreendeu o porquê de ética ser definida como a ciência da moral.
Na próxima aula, iremos aprofundar o conteúdo de forma a apresentar o caráter histórico e social da moral e suas implicações ao longo do tempo na sociedade.
Não se esqueça de realizar os exercícios de autocorreção e de participar do fórum de discussão Integração da turma.
Aula 3: O caráter histórico e social da moral:
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
1. Reconhecer a relação intrínseca que vincula a conduta moral à história;
2. Identificar como duas mudanças histórico-sociais (feudalismo e capitalismo) determinam transformações na moral efetiva (ou ética) das respectivas sociedades.
ESTUDO DIRIGIDO DA AULA
Realize o “concurso simulado” proposto no início desta aula.
Leia o texto condutor da aula.
Leia os textos indicados na aula.
Participe do Fórum de discussão.
Realize as atividades solicitadas.
Leia a síntese da aula e a chamada para a aula seguinte.
 A Ética nos concursos
Diversos concursos públicos procuram avaliar os conhecimentos do candidato acerca das noções gerais sobre Ética, Moral e Filosofia. Por isso propomos a você um desafio: realizar as questões relacionadas à disciplina Ética que foram cobradas no concurso público para analista judiciário do Tribunal Regional do Trabalho – 19. Região. 
TOME NOTA Na próxima tela, você irá navegar dentro de um programa de prova. Essa prova não valerá ponto na disciplina, mas servirá para você perceber a importância do conhecimento que estamos vendo.
Atividade Proposta : Teste seu conhecimento...
Texto da prova – Sobre Ética
A palavra Ética é empregada nos meios acadêmicos em três acepções. Numa, faz-se referência a teorias que têm como objeto de estudo o comportamento moral, ou seja, como entende Adolfo Sanchez Vasquez, “a teoria que pretende explicar a natureza, fundamentos e condições da moral, relacionando-a com necessidades sociais humanas”. Teríamos, assim, nessa acepção, o entendimento de que o fenômeno moral pode ser estudado racional e cientificamente por uma disciplina que se propõe a descrever as normas morais ou mesmo, com o auxílio de outras ciências, ser capaz de explicar valorações comportamentais.
Um segundo emprego dessa palavra é considerá-la uma categoria filosófica e mesmo parte da Filosofia, da qual se constituiria em núcleo especulativo e reflexivo sobre a complexa fenomenologia da moral na convivência humana. A Ética, como parte da Filosofia, teria por objeto refletir sobre os fundamentos da moral na busca de explicação dos fatos morais.
Numa terceira acepção, a Ética já não é entendida como objeto descritível de uma ciência, tampouco como fenômeno explicativo. Trata-se agora da conduta esperada pela aplicação de regras morais no comportamento social, o que se pode resumir como qualificação do comportamento do homem como ser em situação. É esse caráter normativo de Ética que a colocará em íntima conexão com o Direito. Nesta visão, os valores morais dariam o balizamento do agir e a Ética seria assim a moral em realização, pelo reconhecimento do
outro como ser de direito, especialmente de dignidade. Como se vê, a compreensão do fenômeno Ética não mais surgiria metodologicamente dos resultados de uma descrição ou reflexão, mas sim, objetivamente, de um agir, de um comportamento consequencial, capaz de tornar possível e correta à convivência (Adaptado do site Jus Navig
A concepção da Ética atribuída a Adolfo Sanchez Vasquez é retomada na seguinte expressão do texto:
a( ) comportamento consequencial
 b( ) núcleo especulativo e reflexivo
c( ) Objeto descritivo de uma ciência
d(X )Explicação dos fatos morais
e( )parte da filosofia
As diferentes acepções a Ética devem-se, conforme se depreende da leitura do texto:
a( X) As perspectivas conforme consideras pelos acadêmicos
b( ) Aos usos informais que o senso comum faz desse termo
c( ) As considerações sobre a etimologia dessa palavra
d( ) Aos métodos com que as ciências sociais a analisam
e( )Ás íntimas conexões com que ela mantém com o Direito
Agora sim: aula 3 Tentando sobreviver, o ser humano supera a sua natureza natural, instintiva, transformando-a em uma dimensão social. Para que a vida em sociedade seja possível, são estabelecidas regras que organizam as diversas relações humanas. Sem princípios, normas ou regras que criam o mundo moral, torna-se inimaginável a existência de qualquer povo e cultura.
TOME NOTA Se a moral regula o que os homens realizam socialmente, o seu significado, função e validade variam historicamente nas diferentes sociedades.
O comportamento moral muda de acordo com o tempo e lugar, conforme as condições pelas quais diferentes sociedades foram se organizando ao longo da história. E o desenvolvimento dessa organização depende de uma mudança da realidade, dirigida por finalidades conscientes: o trabalho humano. Por ele, o homem transforma a natureza, aprendendo a conhecê-la e adaptando-a as suas necessidades. Ele favorece a convivência, desenvolve habilidades, levando os seres humanos a conhecerem as próprias forças e limitações.
O que quer dizer trabalho para você? Sobre o que estamos falando? Em nosso mundo ocidental, a concepção de trabalho demarca uma trajetória própria ÍNDICE: Trabalho…………….. Escola …………………..…...Negócio
*=* Trabalho: Derivado do vocábulo latino tripalium (três), palus (“pau”), aparelho romano de tortura contendo três estacas cravadas no chão sobe forma de pirâmide servindo para amarrar condenados, escravos e animais difíceis de ferrar. O termo trabalho ganham na Grécia e Roma antigas, a conotação negativa de sofrimento, pena. Nesse período, o trabalho manual é minimizado, já que era realizado apenas por escravos; reservava-se os ofícios intelectuais aos que fossem livres. Colocada em evidência, a atividade racional exigia uma disponibilidade tão grande que impedia o exercício de qualquer outra ocupação.
*=* Escola: Apenas na escola, como indica sua etimologia, a concepção de trabalho podia ser plenamente exercida. De origem grega – o termo escola significa , entre alguns sentidos, “descanso, repouso, ocupação de um homem com ócio, livre do trabalho servil”. Na passagem para o latim o termo – shóla, ae – adquire, entre outras, a significação de “lugar nos banhos onde cada um espera a sua vez, ocupação literária”. Neste sentido, a escola é lugar da ocupação voluntária de quem, por ser livre, não é obrigado a se submeter ( cf. BOHADANA, SKLAR: 2007, 91)
*=* Negócio: Reforçando a ideia dol trabalho como ausência de lazer, Marco Túlio Cícero (106 a.C. a 43 a.C.), grande orador, político, filosófico, advogado e escritor romano), ressalta como a palavra negotium (“negócio”) implica a negociação do ócio, ao trazer o sentido de “empreitada comercial que provoca aflição, aborrecimento e incovenientes” (cf.GAFFIOT: 1934, 1022).
*O trabalho na Idade Média
Na Idade Média, período de mais ou menos mil anos, compreendido entre o final da Idade antiga (ocorrido nos séculos III-IV), com destaque para o ano de 476, em que o Império Romano do Ocidente encontra seu final oficial, e os séculos XIII-XIV (Renascimento), a arte mecânica ainda é considerada inferior. Nela impera um regime de servidão, organizado sob-relações de dependências e vassalagens.
AS CLASSES SOCIAIS:Condizentes com uma profunda fragmentação econômica e política, o quadro histórico do regime de serdão encontra suas raízes no surgimento de duas classes que marcaram a sistema feudal, dominante em toda Idade Média: dos senhores feudais, donos absolutos de terras ou feudos, e dos camponeses ou servos, os quais eram vendidos e comprados com as terras ás quais pertenciam e que não podiam abandonar. No marco instaurado por essa divisão e as condições que leva mudanças histórico-sociais a se relacionarem com transformações éticas.
ESTRUTURA DO FEUDO: Um feudo era composto de uma ideia e várias centenas de agrupamentos de terra arável que a circundavam. Al redor do feudo, encontravam-se prados, bosques e pastos. Cada propriedade feudal tinha um senhor. Pastos, prados e bosques eram compartilhados por todos, mas a maior parte de terra arável pertencia ao senhor feudal. E a menor parte ficava em poder dos arrendatários, que eram obrigados a arar ambas as áreas. Tralhando arduamente nas faixas de terra que lhes cabiam, os servos levavam vida miserável; dedicavam (semanalmente e sem qualquer planejamento) dois três dias para arar a terá do senhor, que deveria sempre ser semeada e ceifada e primeiro lugar. Sofriam, em acréscimo, inumeráveis obrigações.
Saiba mais sobre o trabalho na Idade Média Relação entre senhor e o servo: o: Possuindo um pedaço de terra, a qual podiam ao menos usufruir, os arrendatários eram servos com família e lar. Alastrada a toda sociedade medieval, a servidão feudal abrangia alguns tipos característicos: (1) os servos dos domínios, ligados permanentemente à casa do senhor, trabalhando o campo deste último em todos os dias da semana; (2) os camponeses muito pobres com pouca terra, chamados fronteiriços; (3) os aldeões, que só possuíam uma cabana, devendo arar a terra em troca de comida e (4) os vilões, gozando de maiores privilégios e menores deveres.
Nunca se aventou nesse período a ideia de uma igualdade possível entre senhor e servo: este arava a terra e aquele o manejava. O servo não podia ser vendido sem a terra, mas tampouco podia deixá-la: entendemos, assim, sob qual sentido o arrendamento era conhecido como título de posse. Além disso, estipulavam-se regras para que os servos ou seus filhos se casassem dentro dos domínios do feudo, salvo permissões especiais, impedindo que fossem morar em outras terras. No caso da morte de um servo, seu herdeiro direto podia usufruir do arrendamento, mediante o pagamento de uma taxa. Esta era uma das leis vigentes nos feudos; não havia um governo forte na Idade Média capaz de se encarregar de tudo. As obrigações dos servos para com os senhores e destes para aqueles – protegê-los durante uma guerra, por exemplo – eram todas estabelecidas de acordo com uma legislação própria, local, segundo costumes ali vigentes. Pode-se dizer que a organização feudal estava centralizada num sistema de deveres e obrigações. Este abrangia também o senhor do feudo, pois, não possuindo a terra, tornava-se ele próprio arrendatário de outro senhor, mais poderoso.
Riqueza, religião e ética 
 Nesse quadro histórico, a medida de riqueza era determinada por um único fator: a quantidade de terra. Daí o motivo das disputas contínuas que ela suscitava, deflagrando guerras com frequência. Clique nas imagens para saber mais:
O PAPEL DA IGREJA: E é em torno desse aspecto que compreendemos o papel da Igreja. Ela tornou-se a maior proprietária de terras no período feudal. Através de doações de fiéis, incluindo nobres e reis, ela passou a possuir quase a metade de todas as terras da Europa Ocidental. Bispos e abades detinham os mesmos privilégios que condes e duques na estrutura feudal.
Riqueza, religião e ética. Nesse quadro histórico, a medida de riqueza era determinada por um único fator: a quantidade de terra. Daí o motivo das disputas contínuas que ela suscitava, deflagrando guerras com frequência. Clique nas imagens para saber mais:
*O PAPEL DA IGREJA: E é em torno desse aspecto que compreendemos o papel da Igreja. Ela tornou-se a maior proprietária de terras no período feudal. Através de doações de fiéis, incluindo nobres e reis, ela passou a possuir quase a metade de todas as terras da Europa Ocidental. Bispos e abades detinham os mesmos privilégios que condes e duques na estrutura feudal.
*PODER E RIQUEZA: No início do feudalismo, a Igreja assumiu um papel tanto dinâmico, ao preservar muito da cultura romana, quanto progressista, pois incentivou a educação, ajudou pobres, desamparados e doentes. Enquanto os nobres dividiam suas propriedades, atraindo mais simpatizantes, a Igreja tornava-se mais rica, de tal modo que suas posses tenderam a superar a sua função espiritual. Segundo alguns historiadores, ela não realizou tudo o que sua riqueza permitia. Ao mesmo tempo em que suplicava ajuda dos que possuíam mais dinheiro, economizava dos seus próprios recursos.
*RELIGIÃO E ÉTICA: O clero e a nobreza ocupavam o lugar de classes governantes, controlando as terras e o poder que daí provinha, prestando proteção militar. A Igreja fornecia auxílio espiritual. Ela se aproveitava do fato da religião garantir ao longo do período feudal certa unidade social, pois a política dela dependia como instituição que defendia a religião, exercendo forte poder espiritual e centralizando integralmente a vida intelectual. Justo sob essas circunstâncias, podemos entender de que modo a moral concreta, efetiva ou ética, permanece impregnada “de um conteúdo religioso que encontramos em todas as manifestações da vida medieval” (SÁNCHEZ VÁZQUEZ:2002,275-276).
Ainda sobre o sistema fabril ... O que quer dizer trabalho para você? Sobre o que estamos falando? Em nosso mundo ocidental, a concepção de trabalho demarca uma trajetória própria. A seguir três concepções de trabalho:
O trabalho na Idade Média Na Idade Média, período de mais ou menos mil anos, compreendido entre o final da Idade antiga (ocorrido nos séculos III-IV), com destaque para o ano de 476, em que o Império Romano do Ocidente encontra seu final oficial, e os séculos XIII-XIV (Renascimento), a arte mecânica ainda é considerada inferior. Nela impera um regime de servidão, organizado sob dependências e vassalagens. relações
Riqueza, religião e ética:
Nesse quadro histórico, a medida de riqueza era determinada por um único fator: a quantidade de terra. Daí o motivo das disputas contínuas que ela suscitava, deflagrando guerras com frequência. Clique nas imagens para saber mais:
O PAPEL DA IGREJA:E é em torno desse aspecto que compreendemos o papel da Igreja. Ela tornou-se a maior proprietária de terras no período feudal. Através de doações de fiéis, incluindo nobres e reis, ela passou a possuir quase a metade de todas as terras da Europa Ocidental. Bispos e abades detinham os mesmos privilégios que condes e duques na estrutura feudal.
PODER E RIQUEZA: No início do feudalismo, a Igreja assumiu um papel tanto dinâmico, ao preservar muito da cultura romana, quanto progressista, pois incentivou a educação, ajudou pobres, desamparados e doentes. Enquanto os nobres dividiam suas propriedades, atraindo mais simpatizantes, a Igreja tornava-se mais rica, de tal modo que suas posses tenderam a superar a sua função espiritual. Segundo alguns historiadores, ela não realizou tudo o que sua riqueza permitia. Ao mesmo tempo em que suplicava ajuda dos que possuíam mais dinheiro, economizava dos seus próprios recursos.
RELIGIÃO E ÉTICA: O clero e a nobreza ocupavam o lugar de classes governantes, controlando as terras e o poder que daí provinha, prestando proteção militar. A Igreja fornecia auxílio espiritual. Ela se aproveitava do fato da religião garantir ao longo do período feudal uma certa unidade social, pois a política dela dependia como instituição que defendia a religião, exercendo forte poder espiritual e centralizando integralmente a vida intelectual. Justo sob essas circunstâncias, podemos entender de que modo a moral concreta, efetiva ou ética, permanece impregnada “de um conteúdo religioso que encontramos em todas as manifestações da vida medieval” (SÁNCHEZ VÁZQUEZ:2002,275-276).
Conhecendo o burgos
SISTEMA FAMILIAR: Os membros de uma família produzem artigos para o seu consumo, e não para a venda . O trabalho não se fazia com o objetivo de atender o mercado.
SISTEMA DE CORPORAÇÕES: Produção realizada por mestres artesãos independentes, com dois ou três empregados, para o mercado pequeno e estável.
Os trabalhadores eram donos tanto da matéria-prima que utilizavam, como das ferramentas com que trabalhavam. Não vendiam o trabalho, mas o produto do trabalho. Durante toda a Idade Média.
SISTEMA DOMÉSTICO: Produção realizada em casa para um mercado em crescimento, pelo mestre artesão com ajudantes, tal como no sistema de corporações. Com uma diferença importante: os mestres já não eram independentes; tinham ainda à propriedade dos instrumentos de trabalho, mas dependiam, para a matéria-prima, de um empregador que surgira entre eles e o consumidor. Passaram a ser simplesmente tarefeiros assalariados. Do século XVI ao XVIII.
SISTEMA FABRIL: Produção pra um mercado cada vez maior e oscilante, realizada fora de casa, nos edifícios do empregador e sob rigorosa supervisão. Os trabalhadores perderam completamente sua independência. Não possuíam a matéria-prima, como ocorria no sistema doméstico. A habilidade deixou de ser tão importante como antes, devido ao maior uso da máquina. O capital tornou-se mais necessário do que nunca. Do século XIX até hoje (HUBERMAN: 125)
Ainda sobre o sistema fabril: Sob o sistema fabril, em que a máquina e o capital desalojam das mãos do trabalhador sua importância e habilidade, encontramos um segundo exemplo para caracterizar a relação moral-história. Transformações de peso na vida social e econômica, como o desenvolvimento das técnicas, da experimentação e a ampliação dos mercados, estão na base de seu surgimento.
Os instrumentos de produção passam a ser comprados pelo capital acumulado, obrigando os mestres artesãos e os ajudantes a venderem sua força de trabalho em troca de um salário para sobreviver. Com o aumento da produção, o que é produzido deixa de pertencer aos trabalhadores, sendo oferecido como mercadoria pelo burguês que retém um valor não-remunerado: mais-valia ou lucro. Nessas condições, surge a classe econômica dos trabalhadores assalariados ou proletariado.
O “advento” da relação trabalhista: Através de uma série de revoluções nos Países Baixos, na Inglaterra e particularmente no final do século XVIII na França, consolida-se a posição da burguesia. Ao longo do século XIX, a lei da produção de mais-valia – trabalhar para garantir lucros – vigora em solo inglês. O capitalismo é estabelecido.
Condições subumanas de vida marcam a existência do proletariado, permeadas por extensas jornadas de trabalho de dezesseis a dezoito horas, sem quaisquer direitos trabalhistas; crianças e mulheres tornam-se mão-de-obra necessária e barata. Miséria, sofrimento e insegurança marcam a existência dos novos operários fabris. Diante dessas circunstâncias, compreendemos a proliferação de comportamentos morais individualistas e egoístas que animam as relações sociais burguesas. No vídeo ao lado, você vê uma versão caricterizada das condições de trabalho em uma fábrica, ainda que sejam épocas históricas diferentes.
Através de uma série de revoluções nos Países Baixos, na Inglaterra e particularmente no final do século XVIII na França, consolida-se a posição da burguesia. Ao longo do século XIX, a lei da produção de mais-valia – trabalhar para garantir lucros – vigora em solo inglês. O capitalismo é estabelecido.
Condições subumanas de vida marcam a existência do proletariado, permeadas por extensas jornadas de trabalho de dezesseis a dezoito horas, sem quaisquer direitos trabalhistas; crianças e mulheres tornam-se mão-de-obra necessária e barata. Miséria, sofrimento e insegurança marcam a existência dos novos operários fabris. Diante dessas circunstâncias, compreendemos a proliferação de comportamentos morais individualistas e egoístas que animam as relações sociais burguesas. Novídeo ao lado, você vê uma versão caricterizada das condições de trabalho em uma fábrica, ainda que sejam épocas históricas diferentes.
Para encerrar… (...) as considerações morais não podem alterar a necessidade objetiva, imposta pelo sistema, de que o capitalista alugue por um salário a força de trabalho do operário e o explore com o fim de obter uma mais-valia. A economia é regida, antes de mais nada, pela lei do máximo lucro, e essa lei gera uma moral própria. Com efeito, o culto ao dinheiro e a tendência a acumular maiores lucros constituem o terreno propício para que nas relações entre os indivíduos floresçam o espírito de posse, o egoísmo, a hipocrisia, o cinismo e o individualismo exacerbado. Cada um confia em suas próprias forças, desconfia dos demais, e busca seu próprio bem-estar, ainda que tenha de passar por cima do bem-estar dos outros. A sociedade se converte assim num campo de batalha no qual se trava uma guerra de todos contra todos” (SÁNCHEZ VÁZQUEZ:2002,49)
Aula 4: A estrutura do ato moral:
Ao final desta aula, vocêdeverá ser capaz de:
1. Reconhecer os elementos que compõem o ato moral.
ESTUDO DIRIGIDO DA AULA
Leia o texto condutor da aula.
Leia os textos indicados.
Participe do Fórum de discussão.
Realize as atividades solicitadas.
Leia a síntese da aula e a chamada para a aula seguinte.
Destacamos, nas três primeiras aulas, de que modo às normas morais, formando a moral propriamente dita, se distinguem da conduta moral ou ética. Entendemos agora que ajudar alguém que é impunemente agredido na rua, cumprir a promessa de devolver um objeto emprestado e denunciar injustiças cometidas são atos individuais aprovados ou desaprovados, conforme um conjunto de regras que determina como deve ser o comportamento dos indivíduos e grupos sociais. No vídeo que abre esta aula, vemos cenas de crianças imitando o comportamento de adultos. Veja o vídeo e pare para refletir...
Orientação da moral Quando uma criança joga o lixo no chão e é repreendida pelos pais, dizemos que os pais estão educando-a; mais propriamente, dizemos que os pais estão ensinando o que é certo ou errado a se fazer. A aceitação de exigências e prescrições ocorre pela consciência que discerne o valor moral de nossos atos. Herdando valores universais sobre o certo e o errado (Bem/Mal) recebidos pela tradição e agregando juízos e avaliações estabelecidos ao longo da história humana, ela nos permite reconhecer dois grandes planos que orientam a moral. Vejamos como Sánchez Vázques os estrutura:
“o normativo, constituído pelas normas ou regras de ação e pelos imperativos que enunciam algo que deve ser; b) o fatual, ou plano dos atos morais, constituído por certos atos humanos que se realizam efetivamente, isto é, que são independentemente de como pensemos que deveriam ser” (SÁNCHEZ VÁZQUEZ:2002,63).
No segundo plano, o fatual, encontramos ações concretas: a solidariedade de um amigo por outro, a denúncia de uma traição. Neste último plano, não teríamos apenas atos que podem ser postos em relação positiva com uma norma.
Voltando ao que já vimos Como vimos na primeira aula, o não cumprimento de uma promessa, ocultar a traição de alguém conhecido ou omitir informações são comportamentos que violam normas, tendo valores negativos, mas não deixam de pertencer à reflexão ética.
ATENÇÃO: E é esta valoração positiva e negativa, orientando e justificando nossas decisões em situações como a da estratégia do Tylenol (exemplo de comportamento ético), que nos permite compreender a apresentação dos diversos elementos que compõem os atos morais, de acordo com Sánchez Vázquez.
Elementos dos atos morais: motivação Cíntia é uma jovem que mora sozinha em um apartamento no centro da cidade. Ela possui o hábito de fumar maconha, e costuma justificar esse ato como sendo uma “válvula de escape”, uma forma de relaxar. Milton é vizinho de Cíntia. Segundo a visão de Milton, todo consumidor equivale a traficante, e deve ser tratado como tal. Como o cheiro da droga é sentido no corredor do prédio em que moram, Milton resolveu ligar para a polícia e denunciar Cíntia como traficante de drogas.  
O ato de Milton produz efeito. A polícia foi ao prédio e prendeu Cintia em flagrante, já que ela possuía em sua residência uma quantidade considerável daquela droga, ainda que tivesse alegado aos policiais que era para consumo próprio.
Quando denunciamos uma pessoa, por exemplo, podemos estar sendo movidos tanto pela busca sincera da verdade, quanto pelo engrandecimento de nossa ação pela comunidade. Um mesmo ato realiza-se segundo diversos motivos e, diversamente, o mesmo motivo pode gerar atos e finalidades diferentes. Mas, os motivos que induzem os homens a agirem de uma determinada maneira não são suficientes para atribuir um significado moral a esta ação, porque quem age nem sempre conhece claramente os motivos que o levaram a adotar seu comportamento.
Elementos dos atos morais: a consciência Segundo aspecto fundamental do ato moral: a consciência do fim visado. Você está lembrado do caso Tylenol, que vimos nas aulas anteriores? Naquela situação, a preocupação com os clientes estava no centro da política de utilização dos serviços da J&J. Voltada para eles, a empresa enfatizava a segurança, qualidade e confiabilidade do produto. Em torno desse fim, a empresa decidiu apostar na estratégia de oferecer um medicamento confiável e eficaz para os usuários
Código moral na sociedade Logo, aos fins propostos pela consciência, consideramos a decisão de alcançá-los: justo com a associação destes dois aspectos, entendemos porque o ato moral tem um caráter voluntário ou consciente
Elementos dos atos morais: os meios Gisele é filha de Bernardo, e ambos descobriram que ela havia contraído Aids após uma transfusão de sangue durante um acidente de trânsito no qual ela foi vítima de atropelamento causado por um motorista bêbado.
Bernardo, como não poderia deixar de ser, ficou revoltado com o destino imposto a sua filha.
Porém, como a amava muito, passou a reivindicar o tratamento ao poder público, já que os remédios eram caríssimos e ele não tinha condições de pagar pelo tratamento.
Como os hospitais públicos quase nunca tinham os remédios, Bernardo resolveu tomar uma atitude drástica: assaltar uma indústria farmacêutica para garantir o suprimento da medicação de sua filha.
Fins elevados moralmente não são suficientes para justificar o uso de meios torpes, vis, como a humilhação, tortura e o suborno de seres humanos. Já o resultado, que concretiza o fim almejado, afeta os homens em sociedade pelas consequências da ação empreendida. Por isto, o sujeito que age moralmente deve ter plena consciência dos meios que irá utilizar e dos resultados possíveis que sua ação desencadeará. Estes últimos, por estarem ainda relacionados com normas, princípios e valores que implicam e regulamentando o comportamento individual e social dos homens, constituem parte integrante do que uma comunidade julga significativo e digno: seu código moral.
A unidade do ato moral Motivos, consciência do fim, consciência dos meios e a decisão em alcançar os mesmos, indicam que o ato moral possui uma dimensão subjetiva. A ela acrescenta-se, no entanto, um lado objetivo: escolha de meios, projeção de resultados e consequências possíveis. Agora eu lhe pergunto: por que não condenamos moralmente um médico que mutila um paciente (meio) para salvar-lhe a vida (fim)?
TOME NOTAConforme afirma Vázquez (2002,79-80), todos estes elementos (motivo, consciência e fim) interagem necessariamente, formando uma “unidade indissolúvel”. Mesmo quando o ato moral parece se deslocar para a intenção com que se realiza ou a finalidade desejada, em detrimento dos resultados e consequências, não é admissível que pensemos em “fins bons em si mesmos, independentemente de sua realização”, pois
“a experiência histórica e a vida cotidiana estão repletas de resultados – moralmente reprováveis – que foram alcançados com as melhores intenções e com os meios mais discutíveis. As intenções não podem ser salvas moralmente, nesses casos, porque não podemos isolá-las dos meios e dos resultados. O agente moral deve responder não só por aquilo que projeta ou propõe realizar, mas também pelos meios empregados e pelos resultados obtidos. Nem todos os meios são moralmente bons para obter um resultado. Justifica-se moralmente como meio a violência que o cirurgião faz num corpo e a dor respectiva que provoca; mas não se justifica a violência física contra um homem para arrancar-lhe a verdade”
Código Moral na Sociedade 
PERÍODO MEDIEVAL Na aula 3, vimos de que forma no período medieval as ações morais religiosas são disseminadas socialmente, divulgando a atmosfera de uma unidade espiritual entre os homens e Deus, apesar do enriquecimento crescente da igreja pela aquisição de feudos.
ASCENSÃO DO CAPITALISMO Vimos ainda que, com a implantação do capitalismo, a imposição de condições subumanas pelo sistema fabril desencadeou o surgimento de condutas morais egoístas e individualistas.
O PASSADO E O PRESENTE Por meio destes dois exemplos, os atos morais contextualizam a posição da igreja e a posição do lucro (acúmulo de capital) como referências históricas que criam significados ou sentidos morais – específicos, particulares – com relação aos valores universais do Bem (certo/verdadeiro) e do Mal (errado, falso).
Encerrando esta aula… Diante do que realizamos em cada experiência vivida, devemos considerar a forma de nos comportarmos moralmente. Dispomos sempre de um código que nos forneça previamente fundamentos para que possamos agir corretamente numa situação; mas, devido às peculiaridades do que passamos em cada caso e suas dimensões imprevisíveis, em que nos perguntamos: devemos fazer X ou Y? Mergulhamos nossas escolhas em problemas que assumem a forma de conflito de deveres, ou casos de consciência moral. Não podemos de antemão determinar o que é mais conveniente fazermos do ponto de vista de nossa conduta moral.
Atividade Proposta:
A este respeito, destacamos um exemplo da literatura clássica brasileira, no qual se ilustra com nitidez a construção de uma situação humana, marcada por um genuíno dilema moral-ético. Clique em Conto de Escola, de Machado de Assis, para ver como o grande mestre de nossa literatura retratou esse conflito. Esse texto também
CONTO DE ESCOLA (Machado de Assis)
 O conto gira em torno de uma escola ativa em 1840. Três personagens são mencionados: os alunos Pilar, Curvelo e Raimundo, este último filho do professor Policarpo que lá lecionava. É dia da lição de escrita. Pilar, um dos mais adiantados da turma, terminou o exercício passado pelo mestre, entregando-o rapidamente e sentando-se em seu lugar, no aguardo do final da aula. Raimundo o interpelou. Trazia no bolso uma “pratinha” que ganhara de sua mãe no aniversário. Depois de mostrá-la, propôs uma “troca de serviços” com Pilar, que receberia a moeda se explicasse a ele um ponto da lição de sintaxe. Este último cogita nos termos da proposta, simples compra de lição por dinheiro, compreendendo a dificuldade enfrentada por Raimundo no aprendizado da matéria e sua audácia em recorrer à eficácia de um favor sob a tutela econômica. Ele tentava Pilar que nada tinha no bolso. A situação ali imaginada caracterizava bem seu dilema com relação à moeda que poderia ganhar:
 “Não queria recebê-la, e custava-me recusá-la. Olhei para o mestre, que continuava a ler, com tal interesse, que lhe pingava o rapé do nariz. – Ande, tome, dizia-me baixinho o filho. E a pratinha fuzilava-me entre os dedos, como se fora diamante...Em verdade, se o mestre não visse nada, que mal havia? E ele não podia ver nada, estava agarrado aos jornais, lendo com fogo, com indignação...”.
Aceita, finalmente. Realiza a troca de serviço. Fica com medo, no entanto, de Curvelo, que presenciara toda a cena. O temor vira realidade: ele o delatara ao professor. Poucos minutos depois de ser delatado, Policarpo chamou os dois culpados, bradando contra o filho negociante e o subornado. Cada um recebeu doze bolos nas mãos, deixando as palmas vermelhas e inchadas. Desfecho não desejado:
 “Chamou-nos sem-vergonhas, desaforados, e jurou que se repetíssemos o negócio apanharíamos tal castigo que nos havia de lembrar para todo o sempre. E exclamava:
-Porcalhões! tratantes! faltos de brio!”.
Na volta a casa, Pilar omitiu o ocorrido. Mentiu à mãe sobre as mãos inchadas, dizendo que não havia estudado a lição. Mas o sonho com a moeda ainda o perseguiu. A ideia de procura-la acompanhou seus passos no dia seguinte. Na rua, encontra uma companhia do batalhão de fuzileiros, “tambor à frente, rufando”. Naquele dia, não fora à escola  ;seguiu a marcha dos fuzileiros e alcançou a Praia da Gamboa. Retornando ao lar, “sem pratinha no bolso e ressentimento na alma”, pensou como Raimundo e Curvelo fizeram-no aprender os sentidos respectivos de “corrupção” e “delação”
 
 Aula 5: Responsabilidade moral, determinismo e liberdade
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 1. apresentar os principais elementos em torno dos quais gira a questão da responsabilidade moral: consciência, ignorância, coação externa, coação interna e liberdade.
Responsabilidade moral: Não são só as normas que servem de parâmetros para avaliarmos determinado ato, é necessário também examinarmos em que condições ocorre, graduando a responsabilidade de seu autor e perguntado: sob quais circunstâncias alguém é louvado ou censurado por agir de uma certa maneira? Vamos a um exemplo:
Roberto é um jovem bastante ativo na sociedade, ainda que conviva com o preconceito pelo fato de ser portador de síndrome de Down. Sua mãe, Rosângela, atribui a Roberto uma série de atividades diárias, como fazer a feira, ir ao banco etc.
Certo dia, ao entrar no supermercado, Roberto se viu diante da sessão de chocolates. Como já sabia que sua mãe confere sempre a nota fiscal, bem como sabia que ela não permite comprar esse tipo de alimento, Roberto resolveu colocar no bolso da calça uma pequena embalagem.
Pare para pensar, podemos responsabilizar Roberto pelos seus atos, se pensamos no roubo cometido por um doente mental? Questões correntes já na Grécia Antiga, com elas se ocupa Aristóteles em sua Ética a Nicômaco (2001,II,4,1105 ª30), refletindo sobre o ato voluntário e concluindo que ele se realiza quando “ o agente se encontra disposto a fazê-lo, pois tem conhecimento do que faz. Além disto, deve escolher de sua própria vontade os atos em função dos mesmos; em terceiro lugar, sua ação deve procederde uma disposição moral firme e imutável”.
Análise da ação moral: Devemos destacar cinco momentos na análise das diversas ações morais: (1) conhecimento do objeto e do fim; (2) vontade para alcançar a finalidade visada; (3) deliberação dos meios que podem realizar o ato; (4) escolha reflexiva; (5) firmeza para agir. Em poucas palavras, não se deve ignorar as circunstâncias e as consequências de uma ação – agir conscientemente; a causa de um ato deve encontrar-se no agente, não em um fator externo, contrariando a sua vontade – é sempre livre a conduta moral .
“(...) tão-somente o conhecimento, de um lado, e a liberdade, de outro, permitem falar legitimamente de responsabilidade. Pelo contrário, a ignorância, de uma parte, e a falta de liberdade, de outra (entendida aqui como coação), permite eximir o sujeito da responsabilidade moral” (VÁZQUEZ: 2002,110).
TOME NOTA Duas condições entram em consideração: consciência versus ignorância, liberdade versus coação externa/coação interna.
Ignorância e responsabilidade moral Quem não tem consciência daquilo que faz está isento de qualquer responsabilidade moral? Animando as considerações seguidas no livro III, da Ética a Nicômaco, a discussão sobre este tema ganha um rumo definitivo, quando Aristóteles afirma (2001, III,1,1110ª):
“São consideradas involuntárias aquelas ações que ocorrem sob compulsão ou por ignorância; e é compulsório ou forçado aquele ato cujo princípio motor é externo ao agente, e para o qual a pessoa que age não contribui de maneira alguma para o ato, porém, pelo contrário, é influenciado por ele. Por exemplo, quando uma pessoa é levada a alguma parte pelo vento, ou por homens que a têm em seu poder”.
ATENÇÂO Distinguir ações que se passam por e na ignorância torna-se essencial. Clique aqui para ver o que Aristóteles considera.
“Tudo o que é feito por ignorância é não-voluntário, e só que produz sofrimento e arrependimento é involuntário. Com efeito, o homem que fez alguma coisa por ignorância e não sente nenhum pesar pelo que fez, não agiu voluntariamente, pois não sabia o que fazia, nem tampouco agiu involuntariamente, visto que isso não lhe causa pesar algum. Desse modo, entre as pessoas que agem por ignorância, as que se arrependem, que sentem pesar, são consideradas agentes involuntários, e as que não se arrependem podem ser chamadas de agentes não-voluntários, pois em razão dessa diferença é melhor que tenham uma denominação distinta.
Agir por ignorância (...) parece diferir de agir na ignorância, pois se considera que um homem (...) encolerizado age não por ignorância, (...) mas sem saber o que faz, (...) na ignorância” (ARISTÓTELES:2001,III,1,1110b17-29).
Coação externa, coação interna e responsabilidade moral
Segunda condição para alguém ser responsabilizado moralmente: seu comportamento ser desencadeado pela sua própria vontade, inexistindo algo ou uma pessoa que o force a realizar o ato. Pois, como menciona Aristóteles (2001:III, 1,1110b):
“Que espécies de ações (...) devem ser chamadas forçadas? São aquelas em que, sem restrições de nenhum tipo, a causa é externa ao agente, o qual em nada contribui para tal ação (...). Os que agem forçados e contra a sua vontade, agem sofrendo, mas quem pratica atos por serem agradáveis ou nobres, pratica-os com prazer”.
ATENÇÃO Na medida em que a causa do ato forçado está fora do agente, escapando ao seu poder e controle, inexiste a liberdade para decidir e agir por conta própria: age-se pressionado por uma coação externa.
Mais um caso...
Acabamos de ver duas situações em que os conceitos de liberdade e coação foram explorados. E no caso da cleptomania, como poderíamos situá-la dentro deste contexto? A cleptomania é um estado considerado doentio para a psiquiatria, uma neurose obsessiva (clique nas palavras em destaque).
A atriz Winona Ryder foi um caso notório de cleptomania, que se tornou público quando a atriz foi detida pelo segurança de uma loja de departamento nos Estados Unidos ao tentar sair sem pagar, apesar de possuir dinheiro (muito!) mais do que suficiente para adquirir os produtos pelas vias “normais”. A psiquiatria, uma neurose obsessiva (clique nas palavras em destaque).
A Cleptomania caracteriza-se pela recorrência de impulsos para roubar objetos que são desnecessários para o uso pessoal ou sem valor monetário. Esses impulsos são mais fortes do que a capacidade de controle da pessoa.
Neurose obsessiva: “Caráter obrigatório (compulsivo) dos sentimentos, das ideias ou das condutas que se impõem ao indivíduo e o envolvem em uma luta inesgotável, sem que, entretanto, ele mesmo deixe de considerar este parasitismo incoercível como irrisório. (...) A neurose obsessiva deve também ser definida pela própria estrutura da pessoa do obsessivo, inteiramente submissa às obrigações que lhe impedem de ser ele mesmo” (EY,BERNARD,BRISSET:1981,490). 
Em linhas gerais, esse é um quadro psíquico que altera “A vida psíquica em um determinado momento, já que a cada momento do tempo (em que agimos, pensamos, refletimos ou mesmo sonhamos) corresponde uma experiência vivenciada correlativamente a uma certa ordem ou certa desordem, a uma diferenciação ativa ou relaxamento da consciência” (cf. EY,BERNARD,BRISSET:1981,99). 
Síntese da aula:
Em dois dos exemplos mencionados (segurança e cleptomania) vimos que não há qualquer reação por parte do sujeito: concluímos que a responsabilidade moral só pode ser pensada sob a inexistência de coações externas. No caso da escritora, diferentemente, o que coage externamente não impede escolhas internas. O agente, tornando-se responsável na medida em que decide agir de uma certa maneira, se sente livre para escolher aquilo que lhe convém.
Próxima aula:
Na ausência de constrangimento, pode-se pensar na existência de um homem livre: e é justamente a liberdade, estendendo a reflexão seguida sobre a responsabilidade moral e vinculando-se com a questão do determinismo, conforme explicaremos a seguir, que iremos tematizar em nossa próxima aula. Até lá!
Aula 6: Responsabilidade moral, liberdade e determinismo (Parte II)
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de: 1. apresentar a reflexão teórica acerca de determinismo, livre arbítrio e liberdade de escolha.
Retomando nosso percurso...
Você lembra da aula passada? Nela, vimos diversos exemplos (como o do boxeador e da cleptomaníaca, entre outros) que demonstraram atos acerca da responsabilidade moral a partir da pressuposição de ausência tanto de coação externa em termos dos atos voluntários, quanto de coação interna no que concerne aos atos compulsivos ou involuntários. A responsabilidade só é desencadeada quando consideramos a existência de um ser humano livre, deliberando e agindo por conta própria.
Nesta aula veremos que os homens interagem no exercício do poder, dos negócios e das leis, estando sujeitos a limites impostos pelo Estado, pela Economia e pelo Direito.
Ficamos bem longe da ideia de que os homens têm o direito de exercer livremente sua vontade no campo moral: um grau parcial de autonomia marcaria os diversos comportamentos e relações humanas na vida em sociedade. E é justamente esta graduação que nos permite refletir sobre a existência de ações nas quais, sob o peso de referências sociais, econômicas e jurídicas, tornamo-nos responsáveis moralmente por aquilo que escolhemos fazer, proporcionando-nos uma margem de liberdade ética.
Será que existe liberdade?
Ou seja, mesmo possuindo o direito de se reger e governar por si mesmo, o sujeito moral só é capaz de agir em relação a si mesmo e aos outros na medida em que suas ações são determinadas por causas que se encontram no universo da sociedade, no estado dasforças de produção e no mundo das leis. Vamos ver um exemplo?
*Daniela é uma senhora que está na “melhor idade”. Aos 62 anos, ela é muito ativa, mas tornou-se viúva e seus filhos moram longe. Enfim, ela se sente sozinha morando em uma casa na qual só há um habitante.
*Sua irmã, Tatiana, resolveu lhe presentear com um gato para fazer companhia, e Daniela ficou muito feliz com o presente. Passados alguns meses, Daniela e o gato eram inseparáveis, e ela adquiriu o hábito de levar o pequeno felino a todo lugar que ia.  
*Ao tentar entrar em um supermercado com seu gato, a funcionária Ariane, que trabalha no estabelecimento, barrou Daniela, dizendo: “neste recinto não é possível entrar com animais”. Daniela ficou indignada, pois alegou que nunca se separa de seu gato, e que se responsabilizaria por qualquer dano. Mesmo assim, Daniela foi impedida de entrar.
As determinações que incidem sobre a responsabilidade
Como vimos na tela anterior, logo no começo, o sujeito moral só é capaz de agir em relação a si mesmo e aos outros na medida em que suas ações são coagidas por determinadas causas, a saber:
 
Causas que determinam a liberdade: Sociedade, Economia, Direito
Mas se reconhecermos três grandes determinações para nosso comportamento, em que sentido podemos afirmar que somos moralmente responsáveis?
Como podem ser compatíveis a liberdade de escolha com milites sócio-econômico-jurídicos?
Liberdade versus necessidade
 Duas grandes dimensões se opõem, a este respeito. Pois se estamos falando de um determinismo que nos leva a encontrar causas para guiar a vida em sociedade, o modo pelo qual agimos não é ordenado segundo nosso querer, mas conforme o que tem e não pode necessariamente deixar de ser: liberdade versus necessidade. Sem analisarmos o sentido desta oposição, não podemos resolver o problema ético fundamental colocado pela responsabilidade moral. E é uma reflexão de tal porte que nos conduz a três posições filosóficas básicas (clique nas caixas para ver):
DETERMINISMO ABSOLUTO
A primeira posição filosófica é representada pelo princípio de que tudo no mundo, inclusive na vida humana, é determinado necessariamente por causas específicas-- o determinismo em sentido absoluto.
LIBERDADE DE ESCOLHA
A segunda é marcada pelo predomínio da ideia de que o homem tem a escolha de agir independentemente de forças que o constrangem – a liberdade de escolha. Ferrater Mora (1982: 78-9) indica que liberdade de escolha, enquanto ato, pode estar relacionada com a “vontade”.
DETERMINISMO – LIBERDADE
A terceira posição é caracterizada por uma tentativa de superação da oposição determinismo – liberdade, demonstrando compatibilidade entre a vontade ou liberdade humanas e formas de determinismo.
COMENTÁRIO DO PROFESSOR
Estamos diante de três grandes reflexões sobre relações entre liberdade e determinismo que marcam a reflexão sobre a responsabilidade moral: (1) o determinismo e sua incompatibilidade com a liberdade de escolha;(2) a liberdade pura de decidir e agir; (3) uma conciliação entre determinismo (necessidade, no sentido de causas que determinam necessariamente) e a liberdade de escolha.
O Determinismo
Para o determinismo, tudo o que existe no mundo tem necessariamente uma causa. Necessário significa tudo aquilo que não pode ser ou existir de uma outra maneira. O determinismo opõe-se à contingência, o que pode ser ou não.
Vamos ver isso na prática? Observe o exemplo a seguir.
Ainda sobre Determinismo
O matemático, físico e astrônomo francês Pierre-Simon Laplace (1749-1827) resumiu bem o valor do determinismo para as ciências da natureza no século XVIII, ao afirmar que “um calculador divino, que conhecesse a velocidade e a posição de cada partícula do universo num dado momento, poderia predizer todo o curso futuro dos acontecimentos na infinidade do tempo” (VÁZQUEZ:2002,121).
Aula 6 – Considerações sobre o Determinismo
O determinismo estendeu-se logo das ciências da natureza para a investigação e compreensão dos fenômenos humanos. Esse processo foi inicialmente desencadeado no século XVIII pelos filósofos que privilegiam a unidade da natureza em seu conjunto: os materialistas Julien Offray de La Mettrie (1709- 1751) e Paul-Henri Thiery (Barão D’Holbach, 1723-1789). Para este último, apesar dos homens terem características que os diferenciam dos outros animais, a vida humana só existiria mediante um vínculo direto com o “grande todo” da natureza. Nela predominariam ações e reações, cujas combinações desencadeariam, em última instância, uma extensa cadeia causal universal, conforme o comentário de Georges Gusdorf sobre o livro Sistema da Natureza de D’Holbach, em sua Introdução às Ciências Humanas (1974:245),:
“A natureza, em sua significação mais abrangente, é o grande Todo que resulta da reunião de diferentes matérias, de suas diferentes combinações e dos diferentes movimentos que vemos no universo. Em um sentido mais estrito, ou considerada em nível de cada ser, é o todo que resulta da essência, isto é, das propriedades, combinações, movimentos ou maneiras de agir que o distinguem dos outros seres. É assim que o homem é um todo, resultando de combinações de certas matérias, dotadas de propriedades particulares, das quais o arranjo se nomeia organização e cuja essência é sentir, pensar, agir, em poucas palavras, de se movimentar de um modo que o diferencia dos outros seres com os quais se compara: segundo esta comparação, o homem se escalona em uma ordem, um sistema, uma classe à parte, diversa dos animais nos quais inexistem propriedades próprias do ser humano. Os diferentes sistemas de seres, ou, se quisermos, suas naturezas particulares, dependem do sistema geral do grande todo, da natureza universal da qual fazem parte, à qual tudo o que existe está necessariamente ligado”.
No século XIX, Auguste Comte (1798-1857), fundador do positivismo, considera ilusória a liberdade humana diante da “ordem exterior” imposta pela natureza, pois o espírito humano não pode “recusar seu assentimento às demonstrações que compreendeu”, como afirma em seu Catecismo Positivista (1974:II,8ª conferência,219):
“Se a liberdade humana consistisse em não seguir lei alguma, ela seria ainda mais imoral do que absurda, por tornar-se impossível um regime qualquer, individual ou coletivo. Nossa inteligência manifesta sua maior liberdade quando se torna, segundo seu destino normal, um espelho fiel da ordem exterior, apesar dos impulsos físicos ou morais que possam tender a perturbá-la. Nenhum espírito pode recusar seu assentimento às demonstrações que compreendeu”.
*Sandro é um jovem que sofreu um trágico acidente de carro, e quase morreu ao colidir. Ele era um atleta de alta performance, e o acidente praticamente tirou tudo que ele mais gostava de fazer: nadar.
*No momento em que saiu do quarto, Sandro viu uma imagem que o abalou profundamente: uma cadeira de rodas. No mesmo momento em que viu tal objeto, tomou a decisão: não queria mais continuar vivendo.
*Durante uma das diversas idas ao hospital, Sandro solicitou ao médico que o acompanhava que injetasse nele uma substância poderosa o suficiente para lhe tirar a vida. O médico imediatamente disse que não, que não poderia fazer isso. Sandro alegou que sim, pois deveria ter a liberdade de decidir se continua vivendo ou não.
Ainda sobre liberdade A liberdade, neste sentido, manifestaria um poder de agir sem nenhuma outra causa que não fosse a própria existência desse poder. Um dos grandes defensores desta posição na filosofia foi Charles Renouvier (1815-1903), nascido em Montpellier, tendo estudado na Escola Politécnica de Paris. Entre temáticas diversas desenvolvidas por sua reflexão, concentrou-se, do ponto de vista prático, numa forte defesa da liberdade contra qualquer espécie de determinismo.
Ao pensar na existência de pessoas concretas, Renouvier afirma que

Continue navegando