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Análise do sistema de Direito Penal proposto por Beccaria no livro Vigiar e Punir de Foucault.

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- Discorra sobre como o sistema de Direito Penal proposto por Beccaria contribuiu para eliminar e/ou atenuar o estado de coisas descrito por Foucault no Primeiro Capítulo de “Vigiar e Punir”.
No que diz respeito à obra “Vigiar e Punir”, elaborada por Foucault (1987), tem-se que trata da evolução histórica da legislação penal, de modo que aborda a temática da criminalidade, que é de suma importância para a sociedade, uma vez que perpassa a história da humanidade. Nota-se que, inicialmente, ao tratar do Corpo dos Condenados, em seu primeiro capítulo, o autor correlaciona dois estilos penais completamente distintos. 
Em um primeiro momento, é descrito o suplício de Damiens, condenado em 1757 por atentar contra a vida do rei Luís XV, na França. O réu, que nas palavras de Foucault se encontrava “levado e acompanhando numa carroça, nu, de camisola, carregando uma tocha acesa de duas libras” fora esquartejado. Não somente, antes do acontecido, os castigos a que estava submetido eram intensos. Como descrito, “o carrasco Samson e o que lhe havia atenazado tiraram cada qual do bolso uma faca e lhe cortaram as coxas na junção com o tronco do corpo”. Mais tarde, o corpo fora reduzido a cinzas, enfatizando o cumprimento da sentença. Ressalta-se, ainda, que o suplício ocorria em público, revelando um espetáculo, no qual a vítima encontrava-se em uma situação vexatória em meio à tortura e tratamento degradante, desumano. Nesse sentido, a meta era refletir a violência da infração sobre o corpo do condenado, em uma espécie de “teatro em praça pública”. De acordo com ponderações do autor supramencionado, os réus sofriam “dores inexprimíveis”.
	Em seguida, mais especificamente, três décadas em relação ao episódio descrito, aparece um novo regulamento. Nesse outro regimento, em menos de um século no que se refere aos acontecimentos de tortura, é possível notar que o suplício vem sendo substituído por novos métodos de punição. A legislação redigida por León Faucher dizia respeito à rotina dos detentos, impondo regras a serem seguidas durante o dia-a-dia dos condenados. Vale frisar que, a partir de então, há uma relevante preocupação em relação à disciplina, trabalho e educação. Destarte, o desaparecimento dos castigos corporais como forma de punição se porta como uma das mudanças mais significativas. 
	Segundo Foucault (1987), em um breve período de tempo, diante da reforma de diversos países e do surgimento de novos Códigos, como ocorreu na Rússia, Estados Unidos, França, Áustria, dentre outros, toda a economia do castigo foi redistribuída. Desse modo, como sugere o autor, “desapareceu o corpo supliciado, esquartejado, amputado, marcado simbolicamente, no rosto ou no ombro, exposto vivo ou morto, dado como espetáculo. Desapareceu o corpo como alvo principal da repressão penal”. Infere-se, ainda, que a pena se torna um mero procedimento, de modo a extinguir, gradativamente, a chamada “festa da punição”, ou até mesmo, a “violência legal do executor”. 
	Nas palavras de Foucault, portanto, no que se concerne à nova era do Direito Penal “o essencial é procurar corrigir, reeducar, curar”. A pena se torna uma maneira de retribuição em relação ao delito cometido. Passa a ter caráter educativo, humanístico. Há a anulação da dor, chamada pelo autor de “penalidade incorpórea”, dado que, amparada pela justiça, não mais se visa o sofrimento do condenado ou os suplícios longos e cruéis, mas sim que ele compense a infração causada, sendo que a condenação estende-se, por conseguinte, à sua alma. Reitera-se que a pena vai se modificando, tornando-se corretiva, extinguindo o castigo. Não somente, como afirma Foucault, a punição ainda toma como objeto a perda de um bem ou de um direito. Já a execução, deixa de ser uma atração, se mostrando como um segredo entre a justiça e o próprio condenado. 
	Cesare Beccaria (2006), em sua obra “Dos Delitos e das Penas”, mais essencialmente, publicada no ano de 1764, causa certa polêmica que perdura até nos dias hoje, em razão da crítica do autor no que se refere ao antigo modelo vigente do sistema criminal. Beccaria descreve, portanto, a necessidade de uma reforma no Direito Penal da época.
	Segundo o mesmo autor, em se tratando das leis e do direito de punir, afirma que cabe ao legislador elaborar as leis de acordo com os delitos existentes. Não obstante, apenas a legislação poderá fixar uma pena, sendo que as leis deverão ser claras, obrigatórias e de fácil entendimento, não possuindo obscuridades.
	Beccaria se porta de maneira exasperada frente à brutalidade das penas e do próprio sistema penal existente na época em que viveu, como descrito anteriormente, em meio ao suplício. Diante disso, propõe a moderação das penas, observando a infração cometida, ou seja, a proporcionalidade da pena em relação ao delito causado, de modo que a lei poderá pôr fim aos privilégios e abusos de uma minoria detentora do poder. De acordo com o autor, cabe somente ao Estado o direito de punir.
	O escritor da obra continua sua crítica apontando que “a lei deve estabelecer de forma fixa as circunstâncias e por quais indícios um indivíduo pode ser preso”. Destarte, faz-se necessário avaliar se não há outra maneira de punição, senão a restritiva de liberdade. Essa última deverá ser utilizada como recurso final. O autor insiste em apontar que as penas devem ser proporcionais aos delitos. Já a tortura, constitui barbaridade. Não se deve punir de maneira cruel o corpo do detento. Dito isso, Beccaria defende, portanto, que é importante adotar métodos de punição que resultem em impressões duradouras, no sentido de reeducar o condenado harmonicamente ao mal causado à sociedade, de modo que as sanções violentas sejam deixadas de lado. 
	Em se tratando, ainda, da finalidade da pena, Beccaria (2006) dispõe que “o fim, pois, é apenas impedir que o réu cause novos danos a seus concidadãos e dissuadir os outros de fazer o mesmo. É, pois, necessário escolher penas e modos de infligi-las, que, guardadas as proporções, causem a impressão mais eficaz e duradoura nos espíritos dos homens, e a menos penosa no corpo do réu”. Compreende-se, então, que a pena deverá aparecer no intuito de que o condenado respeite a leis e a própria sociedade. O autor sugere, portanto, que a sanções possuam caráter humanitário.
	Nesse sentido, e levando em consideração o sistema penal descrito que vigorava, principalmente no século XVIII, época e que viveu Beccaria, é de suma importância destacar as proposições do referido autor. Cita-se a ousadia de Beccaria ao publicar uma crítica intensa ao período em que viveu, diante da brutalidade que prevalecia. Dito isso, e tendo em vista a aceitação positiva dos propósitos pelos quais o autor prezava, infere-se que houve uma contribuição absurda de seus ideais no que tange ao fato de atenuar o estado de coisas descrito por Foucault. 
	Para Beccaria, a utilidade da pena é a prevenção de novos delitos, não sendo necessária a utilização da crueldade para esse fim. Deve-se, sim, punir, mas de maneira eficaz, de modo que o próprio autor admite que a prisão possua um sentido punitivo. Não somente, defende de maneira veemente a introdução do caráter humanitário da punição, sendo que até mesmo os detentos devem ter sua dignidade preservada. É preciso valorizar o homem e ressocializá-lo. Sua teoria, além de contribuir para o fim do antigo sistema criminal baseado no horror, se tornou essencial para embasar o Direito Penal moderno. 
	Em se tratando das colaborações de Beccaria para a atualidade, é interessante ressaltar que os sistemas de diversos países tomaram as sugestões do autor como plausíveis, abandonando as antigas punições. No que se concerne ao Brasil, são vários os princípios norteadores da Constituição antes propostos por Beccaria. É possível citar o Princípio da Anterioridade da Lei, o qual aponta que para que exista um crime ou uma sanção, é preciso antes, a existência da lei; o Princípio da Legalidade, que versa sobre o cumprimento das leis vigentes; e o Princípio da Proporcionalidade da Pena, quediz respeito à harmonia das sanções em vista dos delitos praticados, essencialmente, “as penas devem ser proporcionais aos delitos”. Todos os citados princípios apareceram como influencia das proposições do autor.
 	Diante do exposto, entende-se que em um período passado, as penas constituíam uma maneira de vingança, em virtude de um mal causado. Não havia, entretanto, uma valoração do delito no intuito de dosar a pena, de modo que as sanções, na maioria das vezes, o suplício, eram extremamente violentas e cruéis. Nesse aspecto, surge Beccaria, criticando o sistema penal vigente e trazendo a valorização da Dignidade da Pessoa Humana, bem como os princípios de Igualdade e Justiça. Todo esse rol de críticas e sugestões atestadas pelo autor supramencionado se portou de maneira inovadora na época, de maneira que contribuiu tanto para o fim da brutalidade existente na época, quanto para a formação do Direito Penal moderno, demonstrando a importância histórica e atual das ponderações realizadas por Beccaria.

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