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INTRODUÇÃO A VIDA INTELECTUAL

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INTRODUÇÃO A VIDA INTELECTUAL 
(Prof. Dr. João Batista Libanio) 
 
 1. Objetivo principal 
 Introdução a uma vida intelectual disciplinada 
- Indicação dos principais hábitos/atitudes de tal vida: ATITUDES 
- PROCESSO de assimilação e produção intelectual 
 
 2. Objetivos específicos 
- criar uma disciplina/atitude intelectual 
- aprender a usar instrumentos didáticos 
- formar hábitos intelectuais de pesquisa, 
 
 3. Temas: Atitudes fundamentais da vida intelectual 
- vocação de intelectual 
- aprender a pensar 
- realismo e criatividade: pensamento heurístico 
- honestidade intelectual 
- abertura 
- senso crítico 
- aprendizagem e assimilação 
 
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 ATITUDES FUNDAMENTAIS DA VIDA INTELECTUAL 
 
 1º CAPÍTULO: A VOCAÇÃO DE INTELECTUAL 
 
0. Introdução 
 
que é um intelectual 
- inteligente: 
 - conceito de inteligência ampliou-se 
 - diversos tipos de inteligência 
 - especulativa, prática, abstrata, intuitiva, analítica, dedutiva, sintética, sagaz, 
perversa, artística, icônica, emocional, etc 
 
- acadêmico, herr professor, catedrático, scholar 
 - erudito 
 - rigoroso 
 - conhecedor das regras do mundo acadêmico de pesquisa 
 - linha da docência 
 - linha da pesquisa 
 - articulação entre as duas 
- erudito especialista, puro pesquisador 
 - sabe cada vez mais de cada vez menos 
 - ironia de E. Morin 
 - fortaleza psicológica de inseguranças 
- intelectual 
 - sábio 
 - ser, experiências pessoais refletidas 
 - saber o que é a realidade e comunica-la 
 - só se ensina o que se sabe 
 - só se sabe, o que se vive: ensinar a honestidade, se não é honesto, é impossível 
como sábio, possível como scholar 
 - como ensinar o amor, quem nunca o viveu? 
Platão: reação moral à atitude moral corrente na Grécia no nível nacional e pessoal que 
valorizava a honra e a glória acima das virtudes que permitem que os povos vivam 
juntos em unidade; 
 
 1. Vocação e profissão 
- profissão: 
 - competência, preparação técnica 
 - reconhecimento social, status 
- vocação: 
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 - realização interior pessoal 
 - chamado interior, paixão, gosto, prazer 
 - missão: humana e cristã 
 - motivação plural 
 - mística da vida intelectual 
 - noite dos sentidos 
 - gozo da beleza 
“ama a cela se queres entrar na adega” 
 
 - dimensão de amor/paixão humanista 
“Existe uma paixão pela compreensão, exatamente como existe uma paixão pela 
música..Sem esta paixão, não haveria nem matemática, nem ciência natural” (A. 
Einstein: Ideas and Opinions, N.Y, Crown, 1954, p. 341: cit. E. Cantore, Scientific Man. 
The Humanistic significance of Science, N.Y, ISH Publications, 1977, p. 142) 
 - eros 
 - philia 
 
 - dimensão humanista do saber 
 - quanto ao conteúdo do saber 
 - objetividade do conhecido educa 
 - seriedade, “obedecer” ao objeto em oposição ao arbítrio subjetivo 
 - quanto ao processo, metodologia 
 - indutivo: humaniza o ver pela observaçào 
 - dedutivo: humaniza a inteligência pela lógica da dedução 
 - fenomenológico: 
 - humaniza a capacidade de observação analítica 
 - autoanálise 
 - quanto à realização pessoal 
 - dimensão de felicidade da vida intelectual 
 - relação entre sabedoria (vida intelectual) e caminho da felicidade 
 - felicidade está ligada à ultima finalidade do ser humano 
 - diversas experiências de felicidade na vida intelectual 
 - não pode ser puramente sensível: igual ao animal 
 - tem que ser espiritual: por onde somos humanos 
 - verdade e bem: contemplação, gozo, descoberta 
 - beleza e sentido (religião) 
 - Santo Agostinho: Frui Deo 
 - vida intelectual: antecipação desse fim último 
 
Philippe van den Bosch, A filosofia e a felicidade, São Paulo, Martins Fontes, 1998 
 
 
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 2. Natureza do conhecimento 
- autoconhecimento + comunhão com a realidade 
- modernidade: inflexão pragmática do conhecimento 
 - tipo do intelectual da modernidade tecnológica: ligado à produção 
- vocação gira em torno do sentido, gratuidade, imponência da verdade 
 - conhecimento para além da utilidade - gratuidade 
- responsabilidade pelos dons recebidos e pelas oportunidades 
- vida intelectual e maturação da personalidade: vantagem e dificuldade 
 - lenta maturação das novas gerações: mais elementos para integrar 
- dupla experiência humana na vida intelectual: 
 - fracasso: contingência, ameaçabilidade, arbitrariedade, injustiça, insegurança, 
frustração 
 - êxito: próprios talentos, sucessos, vitórias, alegrias. serviço 
 
 3. Tradição longeva: 
 
(J. Pieper, Que é filosofar, que é acadêmico, SP, Herder, 1968) 
- duplo mundo na vida intelectual: 
 - utilidade, produção 
-gratuidade, novidade, surpresa: maravilhar-se: exemplo de Platão 
 
“ab assuetis non fit passio, assueta vilescunt” 
 
 
- perguntas fundamentais do ser humano 
 - por que existem coisas e não o nada? Leibniz (1646-1716), Heidegger 
 - tríplice: de onde vim, onde estou, para onde vou? 
 - quatro de Kant: que posso conhecer? Como devo agir? Que me é permitido 
esperar? Quem é o homem? 
- as experiências mais importantes da vida 
 - filosóficas, amor, morte, arte, política, história, sentido, felicidade, qual o 
fundamento de nossa civilização? Que vale a religião? 
 
 4. Exigências de uma vocação intelectual 
- disciplina, austeridade, renúncia, sacrifício 
- disposição, constância, esforço persistente corajoso x preguiça 
- prazer está no meio ou no fim, nem sempre no início 
- comparação com o mundo artístico, desportivo: ensaios, treinos 
- solidão 
- virtude: domínio das paixões e vida do espírito: estóicos 
- verdade, beleza, bondade: convertem-se 
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 5. Educação para a vida intelectual 
- educar por meio da virtude 
A. Comte-Sponville, Pequeno tratado das grandes virtudes, São Paulo, Martins Fontes, 
1995 
- conteúdo e método 
- observação: intuição, indução 
- dedução: raciocínio 
- gozo da beleza e morte da beleza 
 
 6. Visão cristã 
- vida de estudos: dom da profecia (1 C 12, 28) 
- SS. Padres: ora et labora 
- teologia trabalho: João Paulo II: Laborem exercens 
 - dimensão objetiva 
 - dimensão subjetiva 
- experiência dos conselhos evangélicos na vida intelectual: 
- virtudes teologais 
 - fé 
 - esperança 
 - caridade: caminhos do amor 
 - curtos: Bom Samaritano (Lc 10, 25-37); Juízo final (Mt 25, 31-46) 
 - longo: mediado pela ciência, pela práxis 
 
R.Antoncich, Dimensión social de los Ejercicios Espirituales, in Cuaderno de 
Espiritualidad n. 1, Lima, 1975, p. 5-6 
 
- Gaudium et spes 
DINÂMICA 
 1º momento: Introspecção pessoal 
 1. Cada um procure repassar a própria vida de estudos e tente recordar uma ou 
mais experiências humanas realizantes nesse campo. Anote alguma palavra que as 
evoque. 
 2. Num segundo momento, procure reler a vida de estudo sob a perspectiva dos 
desafios, das experiências mais duras e dos próprios limites. Anote alguma palavra que 
as evoque. 
 
 2º momento: Partilha 
 1. Os que quiserem podem partilhar no grupo experiências tanto realizantes como 
frustrantes. 
 2. Abra-se espaço para eventuais outros comentários 
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 2º CAPÍTULO: APREENDER A PENSAR 
“Não há outro método de pensar a não ser ler os pensadores” 
 (Alain) 
 
 
- Nascimento do pensar: ratio anthropologica: descobre os símbolos 
- Do pensar espontâneo ao pensar reflexo: verdadeiro pensar 
- Provocador do processo: fazer-se perguntas: que significa isso? 
- Experiência na base da pergunta: diferente como provocador de perguntas 
 - o segredoda pergunta 
 - não trazer respostas velhas para perguntas novas 
- Toda afirmação é uma resposta: importa saber a que pergunta ela é resposta 
- Tempo e espaço para pensar 
- Motivação: amor à verdade 
- A leitura dos clássicos 
- Diferença entre 
 - ter conhecimentos 
 - saber pensar 
 
 
Cultura clássica 
 “Forma-se a inteligência com os valores seguros, os autores que saíram da 
moda, da avaliação superficial. Na cultura, o espírito se apropria das obras que são 
subtraídas à moda, ao império do efêmero. A cultura constitui também uma atualidade, a 
atualidade do espírito, do espírito presente a ele mesmo nas suas obras. Isso não 
significa que a cultura abstraia da história. Pelo contrário, ela remonta da temporalidade 
de evento, rápida e factícia, a uma medida fundamental do que é e do que se torna. Para 
pensar que tudo passa, inclusive as idéias, é necessário supor que algo não passa. No 
pensamento fazemos a experiência de que algo é intemporal. Diferentemente do 
jornalista, o professor relaciona o indivíduo com os problemas e com as obras. Para 
julgar que algo está superado, é necessário uma memória que integra a diferença dos 
tempos. É necessário remontar à durabilidade das obras e à verdade dos problemas, e 
certos problemas são eternos. Só uma sólida cultura clássica permite exercer na 
atualidade um julgamento esclarecido” (J.-F. Robinet, Le temps de la pensée, Paris, 
PUF, 1998, p. 225). 
 
 Três atitudes para saber pensar 
 
 a. O que diz a realidade? Distância, momento objetivo; lógica interna 
 b. O que me diz a realidade? Proximidade: momento subjetivo, 
hermenêutico, significativo, mundo da experiência 
 c. O que a realidade me faz dizer? Comunicação: momento intersubjetivo; 
primeiro na motivação e terceiro no processo epistemológico 
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 “Há diversidade de dons mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de 
ministérios mas um mesmo é o Senhor. 6 Há diferentes atividades mas um mesmo é 
Deus que realiza todas as coisas em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito 
em vista do bem comum (1Cor 12, 4-7). 
 
 
- Pensar as partes no todo e o todo nas partes 
 - Descartes: 
- divide o todo em partes 
- conhece cada parte 
- conhecerás o todo: conduz a hiper-especialização 
 - perde-se a noção do conjunto 
 - Pascal: conhece o todo e nele as partes e assim conhecerás o todo 
 - situar o problema no contexto maior 
 - pensar multidimensional 
 - inter-, multi-, transdisciplinaridade 
 - imagem do varal 
 - pensar complexo 
- Complexidade do real e do conhecimento 
 - tudo é complexo: tudo faz parte de um gigantesco tecido 
 - com+ plexus: tecido com, tecido em conjunto 
 - conjunto dentro de outro conjunto 
- pensamento complexo 
 - passagem do imediato ao mediato 
 - espontâneo ---> pacientemente construído 
 - intuição, entusiasmo ---> tranqüilidade do pensar 
 - calor do testemunho ---> reflexo da experiência 
 - unitas multiplex 
 - experiência do holograma 
 - o todo é mais que a soma das partes 
 - o todo é inferior à soma das partes 
 
- Pensar é saber relacionar 
 - com sentido 
 - com valores 
 - com realidade externa à subjetividade, transcendente, imanipulável, in-
disponível pelo sujeito 
- A cultura do estudo e da leitura 
- Diferença entre transmitir e informar 
- Pensar a organizar: importância da história: H. V 
- Pensar é dialetizar 
- todo lugar 
 - permite 
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 - interdita 
 - ao mesmo tempo 
- aprender a distinguir: 
 - o que é real 
 - o que ilusório: certezas que contradizem os fatos 
 
- formar-se no espírito científico: 
 - fundado no questionamento 
 - suspeita do óbvio, resposta pré-fabricada 
 - suspeitar de resposta velha para pergunta nova (J. L. Segundo) 
- distinção entre 
 - conceito 
 - símbolo 
 - imagem 
- sim ou não ≠ sim e não 
 
 Conclusão 
"Caminante, son tus huellas 
el camino, y nada m s; 
caminante, no hay camino, 
se hace camino al andar. 
Al andar se hace camino, 
y al volver la vista atr s 
se ve la senda que nunca 
se ha de volver a pisar. 
Caminante, no hay camino, 
sino estelas en la mar" (Antonio Machado, 
Proverbios y cantares, XXIX.) 
 
 
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 3º CAPÍTULO: REALISMO E CRIATIVIDADE 
 
I. ATITUDE REALISTA 
 
I. Elementos em questão 
 
1. Natureza da Instituição: percorrer os elementos que ela oferece 
 - positividade: 
 - limites 
 
2. Nossa instituição 
 - faculdade: 
 - institucional medieval ocidental 
 - tradição acadêmica: diploma e requisitos 
 - filosofia: 
 - pensar a realidade 
 - passar do nível imediato, óbvio, sentido comum --- 
 - nível do conceito, teórico, intelecção explícita, sentido profundo 
 - eclesiástica: 
 - não define o aluno, nem o destino 
 - configura o espírito com que se estuda 
 - quadro da Igreja: fides et ratio: ratio compatível com a fé 
 - drama da separação entre fé e razão: Fides et ratio: 45-48 
 - filosofias incompatíveis com a fe: relativismo ou um fenomismo 
radical, o materialismo e o panteísmo 
 - riscos das tendências atuais: ecletismo, historicismo, cientismo, 
pragmatismo e niilismo: Fides et ratio: 80-91 
 - Belo Horizonte: conhecer ao longo do curso 
 
3. histórico-existencial do estudante: auto-análise intelectual 
 - positividade 
 - limites 
 
4. dupla dimensão 
 - objetiva: o que existe fora de mim 
 - subjetiva: minha postura em face do mundo objetivo 
 
 II. Em que consiste a formação intelectual: provocar modificações 
- maneira de pensar, expressar-se 
- maneira de agir 
- maneira de valorar 
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 III. Tipos e qualidades dos objetivos 
 - objetivos comuns ou genéricos de alcance universal ou de metas últimas; 
 - objetivos intermédios de alcance menor ou de etapas; 
 - objetivos específicos de alcance bem definido e de finalidade imediata. 
 
 
 IV. Determinar os objetivos 
- apossar-se dos conhecimentos básicos e ordenados do curso 
- captar-lhe a metodologia das disciplinas estudadas 
- exercitar a capacidade de levantar perguntas novas e ilações originais 
 
 V. leis e qualidades dos objetivos 
 - leis: 
 - lei da concretização: passa-se de um objetivo genérico a objetivos cada 
vez mais concretos, definidos; 
 - lei da ampliação: acontece uma multiplicação de objetivos, cada vez mais 
concretos e numerosos; 
 - lei da articulação: busca-se relacionar os diferentes objetivos. 
 - qualidades: 
 - gerais: coerência, lógica, articulação e pertinência 
 - realização: claros, concretos, que possam ser avaliáveis, verificáveis, 
constatáveis 
 VI. Conhecer e escolher os meios 
- para cada objetivo ver os meios teóricos e práticos que 
 - a Instituição oferece 
 - atitude crítica diante desses meios: conservar, abolir, alterar, criar 
 
 VII. Problema do tempo 
- falta de tempo: falso problema 
 - questão de prioridade 
 
- qualidade do tempo e espaço: condições materiais de estudo 
 - rentabilidade máxima: repousado, cabeça boa, silêncio, tranqüilidade 
 - rentabilidade média: circunstâncias menos favoráveis 
 - rentabilidade fraca: 
 - aumento da rentabilidade por pequenos recursos 
- regras práticas: 
 - determinar o tempo de antemão 
 - aceitar os limites 
 - descobrir o próprio ritmo 
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 -na véspera planejar o dia seguinte 
 
II. CRIATIVIDADE: graus do conhecimento 
 
0.. Esquema para cada saber 
- que é 
- vantagem 
- limite 
- perspectiva 
 
1. Nível de graduação 
- reproduzir exatamente o pensamento de algum autor 
- conteúdo correto de determinado texto 
- critério de julgamento:intelecção e reprodução exatas do texto em questão 
- exercício necessário no início da vida intelectual 
- para educar o aluno à objetividade 
- capacidade intelectual de entender um texto 
- exercício de inteligência: 
- ler dentro do texto 
- captar-lhe o sentido com o máximo de objetividade possível 
- exercício de purificação 
- “pré-compreensão’ (Vorverständnis) 
- ideologias 
- subjetividades intrometidas 
- busca da maior objetividade possível 
- interesse dee conhecer o objeto do conhecimento na sua pureza dada 
- não se consegue nunca total libertação do prévio do leitor 
- nunca se é tabula rasa: reproduçãoa quimicamente pura de pensamento 
- elementos da subjetividade se fazem presentes, desvios da objetividade 
- outra subjetividade denuncia a distância da objetividade e presença subjetiva 
- verdadeira luta entre a objetividade e a subjetividade 
- inseparáveis 
- distinguíveis 
- denotar as próprias conotações 
- atitude de honestidade intelectual básica 
- não traz, porém, nenhum avanço no pensamento 
- perpetua a tradição 
- reduz o nível hermenêutico ao mínimo possível 
- faz saltar o sentido do texto 
- pçsicologicamente agrada às pessoas inseguras, rígidas e inflexíveis 
- no extremo desse nível situa-se o fundamentalismo 
- que não o ultrapassa nunca 
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- que identifica a verdade com a reprodução objetiva do pensamento alheio 
. 
2. Nível de mestrado 
 - escolhe chave de intelecção, de interpretação 
- com ela organiza e interroga textos de um autor ou de vários autores 
- critério de julgamento exige mais 
- entender bem os textos em questão (nível anterior) 
- organizá-los em torno de um tema, de uma chave central (aspecto novo) 
- supõe diversas capacidades 
 - intelecção dos textos (anterior) 
- de sistematização 
- de esquematização 
- de estruturação 
- ex.: escolhe a categoria “finitude” 
- lê muitos textos filosóficos 
- sistematiza-os 
- conceito finitude se amplia, enriquece, estrutura-se sob vários aspectos 
- uso de várias fontes 
- nível de interesse aumenta 
- chave interpretativa nasce do leitor 
- motivação da pesquisa e da escolha da chave (tema) 
 - interesse e enfoque do leitor 
- preocupações 
- buscas 
- perplexidades 
- perguntas 
- início de criatividade 
- no final se tem maior conhecimento do tema: consistência e clareza 
- permanecem limites dos textos investigados 
- o interesse do leitor influencia a leitura: pré-compreensão 
- daí a importância de escolher bem tal interesse e justificar a escolha 
- trabalho se avalia 
 - pela relevância, justeza da escolha da chave interpretativa 
 - realização correta de tal interpretação 
- evolução durante o trabalho leva a ir modificando a chave interpretativa 
- resultado: 
- Melhor definição da chave interpretativa 
- material que se conseguiu colher das leituras 
- com a chave interpretativa se sistematizam as respostas 
- o resultado da pesquisa será a complexidade da categoria escolhida 
- demonstrada pelos textos estudados 
 
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3. Nível de doutorado: 
- estudo de vários textos de um autor ou de vários autores 
- supõe estudo prévio deles 
- busca-se intelecção nova desse conjunto de textos até agora desconhecida 
- algo de original 
- relação nova entre os textos antes não percebida ou não explicitado 
- foco está na originalidade 
- do novo enfoque 
- da captação diferente do conjunto de textos 
- de um autor 
- comparando dois ou vários autores 
Ex.: Lêem-se. p. ex. os textos do Pe. Vaz sobre modernidade. Percebe-se que neles 
existe postura radical de crítica ao exagero da subjetividade, acentuação na autonomia 
absoluta do sujeito humano com graves consequências para a aceitação da 
Transcendência, etc... 
 
- pretende descobrir 
- novos nexos estruturais 
- reconhecer no A. ou autores a intuição anterior original 
- difere do mestrado: 
- chave interpretativa é fruto da pesquisa 
- pertence à intuição nova do leitor 
- vai além da sistematização 
 
4. Nível heurístico: 
- vai além da reprodução e sistematização (original) do pensamento alheio 
- o texto lido é inspirador 
- leva o leitor a pensar, a refletir e a gerar o que se pensa e escreve 
- não se trata já do pensamento lido, mas de algo novo só inspirado por ele 
- nível da reflexão pessoal desencadeada pela leitura 
- não se pesquisam os meandros do texto: liberta-se dele para criar, imaginar 
- não se especializa no texto 
- ele se faz fonte de descoberta de algo novo (heurístico) 
- ex.: Massa e Minoria de J. L. Segundo e a organização de minha agenda 
- o termo chave é inspiração 
- capacidade criativa da razão e da imaginação 
- pensamento para além da academia 
 
 
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5..Texto do texto: 
- detém-se no texto e escarafuncha-o 
- algum texto passado se faz fundamento do pensar 
- tendência da atual academia: critério da cientificidade 
 - influência do pensamento empírico 
 - predominância do verificável 
 - silêncio da criatividade, da fantasia 
- vantagens e riscos 
 - segurança 
 - certa esterilidade 
 
6.. Postura fundamental: hermenêutica 
- toda afirmação é resposta 
- a cada resposta corresponde uma pergunta 
- entende-se a resposta conhecendo a pergunta 
- toda afirmação é interpretação 
- interpretar é o modo humano de conhecer 
 
7.. O grande critério da inteligência: iluminar o real 
- lendo-o por dentro 
- traduzindo-o em linguagem 
- ir à experiência existencial prévia 
- alcance da práxis: ética e história 
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4º CAPÍTULO: HONESTIDADE INTELECTUAL 
 
 1. Distinção e relação 
- honestidade ética 
 - geral: afeta toda a pessoa 
 - campo intelectual 
- honestidade intelectual: apropriação referida do pensamento alheio 
 - novo problema dos sites da Internet 
 - cópias de textos sem referência 
 - toda ideia apropriada deve ser indicar a fonte 
 
 2. Honestidade epistemológica: aproximação do pensamento alheio 
a. No nível da aproximação 
- abertura diante do pensamento alheio: princípio inaciano 
- evitar preconceitos: dificuldade de autores controvertidos 
- não contentar-se com fontes secundárias 
 
b. No nível da penetração do pensamento alheio 
- captar sua lógica interna: contexto de gênese pessoal, cultural, socio-histórica 
- conjunto do pensamento: não isolar frases 
- consciência possível 
 
c. No nível da reprodução 
- distinguir: autor, reflexões pessoais ou de outros 
- usar aspas para textos literais; cf para idéia 
- distinguir criador de divulgadores 
- não se citam idéias já comuns 
- elemento fundamental dos trabalhos científicos 
- fazer exercícios: resumo, fichamentos, condensações 
 
 3. A intenção de um autor e à intencionalidade de um texto 
- intenção/motivação do autor: algo subjetivo, insondável, não está sob juízo 
- intencionalidade do texto: lugar epistêmico 
 - regras objetivas 
 - hermenêutica 
 
 4. Crítica dos pressupostos 
- explicitar antes o próprio ponto de partir: lugar social 
- confronto de pressupostos 
- não há crítica absoluta 
 
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 5. Denotar a própria conotação 
- denotar: 
 - declarar, descrever, definir, explicitar, tematizar de maneira o mais objetivo 
possível aquelas condições subjetivas que nos envolvem. 
 - lugar epistêmico: regras do usuário: sintática, semântica 
- conotar: 
 - tocar com nossa subjetividade um dado exposto objetivamente. 
 - lugar social do usuário, interesses, objetivos, valores prévios 
 - mútua imbricação 
- ideal: 
 - denotar a própria conotação 
 - usar linguagem denotativa 
 
 6. Cultivo do espírito científico 
- antes da modernidade- modernidade: cientismo e neopositivismo lógico 
- crise do cientismo: 
 - ciências da hermenêutica 
 - jogos de linguagem 
 
 7. Nível ético 
dupla eticidade 
 - pesquisa 
 - ensino 
- ciência/ensino é atividade humana sujeita à ética 
 - escolha da pesquisa ou do ensino: ex.: escolha de um objeto que para ser 
pesquisado implica violação do direito humano: ex. Nazistas e biologia 
 - efeitos e repercussão: objeto da pesquisa é danoso para a humanidade 
 
- produz/transmite conhecimento/tecnologia de efeitos perversos contra: 
 - pessoa: fazer mal alguém com a pesquisa ou ensino 
 - natureza: destruição e riscos graves para a natureza 
 - sociedade: uso perverso das pesquisas 
 - a própria consciência: Deus: próprios valores éticos: 
- ética implica que ensino/pesquisa se regem por valores autônomos 
- não existe neutralidade na pesquisa e no ensino 
 - elas nascem de interesses que devem ser testados eticamente 
 - cientificamente legítimo e possível não significa que o seja eticamente 
 - a própria aquisição mesma do conhecimento coloca em jogo direta e 
intrinsecamente conflitos de valores 
- delicado campo da vida/corpo humano: farmacologia 
- problema do financiamento e gastos com as pesquisas 
 - dimensão social 
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 - problemas eticamente prioritários: ida à lua e a fome no mundo 
 
LAMBERT, Dominique: Ciências e teologia. Figuras de um diálogo. Tradução do 
francês por Nadyr de Salles Penteado, São Paulo: Loyola, 2002, 
 
 
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 5º CAPÍTULO: ABERTURA 
 
 l. Nível cultural 
- definição 
 - capacidade crítica da própria tradição 
 - determinada concepção de verdade 
- concepção de verdade 
 - concepção ortodoxa: fechado à abertura 
 - concepção relativista: aparente abertura 
 - concepção dialética: única susceptível de abertura 
- implica concepção histórica e progressiva da verdade 
- interpreta-se verdade passada 
- formulam-se novas verdades 
- observação: estimula a criatividade 
 - industriosa familiarização com a realidade: ex. do mapa 
 - audácia para ver, superando as aparentes evidências, o óbvio (Darci Ribeiro) 
 - levantar suspeitas/perguntas sobre o que vê e sua interpretação comum 
 - lembra-se de Descartes: Dúvida metódica 
 - não aceitar logo a evidência 
 - ver a realidade à nova luz 
 - desconfiar das respostas prontas, preconceitos (Cantore, 21-44) 
D. Ribeiro, Sobre o óbvio, in: Encontros com a Civilização Brasileira 1 (1978,1) 9-22. 
- progresso na teorização 
 - informação histórica 
 - busca de novos modelos, paradigmas, esquemas 
 - importância da teoria: fatos, praxis buscam inteligência 
“Ciência é construída de fatos, como uma casa é construída de pedras; mas um 
amontoado de fatos não é mais do que um montão de pedras é uma casa” (H. Poincaré, 
Science and Hypothesis, N.Y., Dover, 1952, 141, cit. por Cantore, 33) 
 - experimentação, verificação, comprovação 
- liberdade intelectual 
“Only we must keep our freedom of mind...and we must believe that in nature what is 
absurd, according to our theories, is not always impossible” (Cl. Bernard, An Introductin 
to the study of Experimental Medicine, N.Y., Dover, 1957, 138; cit por: Cantore, 23) 
 
- três tipos de conhecimento 
 - agrário 
 - industrial, treinamento 
- pós-industrial: criativo: softs e seu uso 
- flexibilidade e abertura: respondam às necessidades do t/e 
 
- Educação de qualidade: Pedro Demo: 13 
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 - forma as bases da competência humana frente à oportunidade de 
desenvolvimento 
 - age na linha da cidadania 
 - na transformação produtiva 
- aproximação metodológica valoriza: 
 - habilidade de manejar e produzir conhecimentos 
 - aprender a aprender 
 - saber pensar 
- oposição entre duas formas de aprender 
 - treinamento (mero ensino e aprendizagem), transmissão copiada de 
conhecimento, doutrinação técnica e ideológica para fins de adestramento reproduzido 
- construir a capacidade de construir conhecimento: modo crítico e criativo; 
enfrentar desafio da inovação permanente (id. 13/14) 
 
- Educação contra a pobreza: 
 - não melhora a situação econômica da família 
 - mas a cabeça das pessoas e daí... 
 - pobreza: processo de repressão do acesso às vantagens sociais, não apenas 
carência material: 16 
 - pobreza na Sociedade do conhecimento 
 
- pilastras propedêuticas que formam para o futuro: construir a capacidade de construir 
17 - filosofia: crítica da ciência, metodologia científica, epistemologia, lógica formal, 
humanismo: autocrítica; capacidade inovadora do conhecimento via 
autoquestionamento; percepção do paradigma da ação comunicativa: critica os 
fundamentos do saber 
 - matemática: relevância da lógica abstrata, manejo de dados e estatísticas, 
processos ligados às ciências naturais e exatas, informática e eletrônica; língua 
universal; capacidade de abstração 
17/8 - linguagem: necessidade de comunicar e comunicar-se; instrumento fundamental 
para participar na sociedade, economia, cultura; informação e comunicação 
 
Pedro Demo: Pobreza e política de educação, in Revista de Educação AEC 24 (1995), n. 
24, p. 9-40 
 
- pesquisa da UNESCO – 1996 
 - Comissão Mundial para a Educação do Século XXI 
 - presidida por J. Delors 
 - teses do relatório: quatro pilares para a base de tal educação 
 - aprender a conhecer 
 - aprender a fazer 
 - aprender a viver juntos 
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 - aprender a ser 
- trabalho de E. Morin: UNESCO 1999: sete saberes fundamentais 
 - Cegueiras paradigmáticas 
 - Conhecimento pertinente 
 - Ensino da Condição humana 
 - Ensino das Incertezas 
 - Identidade terrena 
 - Ensino da Compreensão humana 
 - Ética do Gênero humano 
 
 2. Nível afetivo 
- liberdade afetiva 
- posição de E. Fromm 
- princípio de individuação 
 - simbiose: identidade com o diferente 
 - autonomia: liberdade diante do diferente; solidão da liberdade 
- patologias nesse processo: incapacidade de suportar o diferente 
 - autoritarismo: esmaga o diferente 
 - submetimento: anula-se diante do diferente 
 
 3. Nível teologal 
- liberdade teológica: 
Congregação para a Doutrina da Fé, Instrução sobre a Vocação Eclesial do teólogo, S. 
Paulo, Paulinas, 1990 
- Faculdade eclesiástica se interessa por esse nível 
- parábola do samaritano 
- três atitudes teologais diante do diferente: 
 - fechamento egoísta: rejeição ou indiferença diante do diferente 
 - amor de si com dose de reserva ou de cansaço diante de idealismos juvenis 
 - abertura radical: 
- fé no amor; esquecimento de si 
 - docilidade 
 - aceitação de si e dos outros 
 - humildade 
E. Cantores, Scientific Man. The Humanistic significance of Science, NY, ISH 
Publications, 1977

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