Buscar

Direito das Obrigações: Conceitos e Fontes

Prévia do material em texto

DIREITO DAS OBRIGAÇÕES
Obligatio - vinculação entre determinadas regras de conduta (moral, jurídica etc) para obtenção de um bem valorado.
Obrigações (sentido jurídico) 
viés geral – submissão das pessoas a uma norma de ordem jurídica (ex. Obrigação de recolher os impostos)
viés específico/técnico/stricto – vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor (sujeito passivo) o cumprimento de uma determinada prestação. Corresponde a uma relação de natureza pessoal, de credito e débito, de caráter transitório cujo objeto consiste numa prestação economicamente aferível. 
Credor ---- Devedor 
Prestação é um comportamento que pode ser comissivo (dar ou fazer) ou omissivo (não fazer)
Caráter transitório – nascem com a finalidade de serem extintas, que se da pelo cumprimento 
ELEMENTOS DA OBRIGAÇÃO 
Partes (credor e devedor): pessoas (física ou jurídica) entre as quais se estabelece um vínculo obrigacional. Sujeito passivo (devedor) é representado por aquele que tem o dever de prestação e o sujeito ativo (credor) é aquele que tem o direito de exigir a prestação. Em uma obrigação, pode haver mais de um devedor e credor. Sujeito passivo e sujeito ativo são diferentes quando se diz respeito ao pagamento. 
Objeto: Prestação. Direito do credor por exigir do devedor. Objeto imediato é aquele que é pensado primeiro sobre como cumprir certa obrigação (a prestação em si). Prestar o serviço vem antes do serviço. Mediato é o serviço/bem jurídico envolvido, o objeto da prestação.
Requisitos do objeto: Art. 104 inciso 2º - objeto deve ser lícito, possível (jurídica e fisicamente), determinável ou determinado (objeto deve ser individualizado ou trazer elementos que permitam sua individualização).
Vínculo: Pessoal é relação entre devedor e credor (débito) e patrimonial é a relação entre o patrimônio do devedor e o credor (responsabilidade). 
Débito sem responsabilidade: existe a dívida, mas essa não pode ser exigida (empréstimo de dinheiro a menor). 
Responsabilidade sem débito: o contrato é perante o credor. (ex: fiança - A responsabilidade é para com o credor, mas a dívida é do devedor. 
*Vínculo completo se da com a união dos dois.
Um contrato pode gerar uma ou duas obrigações. Ex: comprador (devedor) compra uma calça e o vendedor (credor) recebe o dinheiro. Em seguida, o vendedor (devedor) entrega a calça ao comprador (credor). Objeto imediato é a venda e objeto mediato é a calça. Quem responde por último, é sempre quem tem a obrigação completa. 
FONTE DAS OBRIGAÇÕES
Fonte primária/imediata: Lei, pois é a partir dela que nasce um vínculo jurídico entre o credor e o devedor e se torna interesse do direito. 
Fonte secundária
Negocial/negócio jurídico: materializa a manifestação de vontade e gera as obrigações negociais, que são aquelas que tem por causa um negócio jurídico, praticado no âmbito da autonomia privada e, quando violadas, geram responsabilidade negocial. Uma vez que é realizado um contrato, gera uma obrigação entre as partes. 
Responsabilidade civil: reparar atos ilícitos danosos. Ex: Art. 927. 
Enriquecimento indevido: tem como causa o aproveitamento de bens ou direitos alheios e a fonte é o pagamento indevido
DIREITO REAL (das coisas)
Incidem sobre uma coisa
Conjunto indeterminado de pessoas, as quais não tem o poder real sobre a coisa
Sujeito ativo, a coisa e a relação do sujeito com a(s) coisa(s)
Perpétuos
Rege-se pelo da publicidade, com a realização do registro
São exercidos diretamente sobre a coisa
Contra qualquer um que tenha a posse 
DIREITO PESSOAL
Exigem o cumprimento da prestação 
Pessoas certas determinadas no contrato
Sujeito ativo, sujeito passivo e prestação
Transitório
Rege-se pelo da autonomia da vontade das partes
Exige figura do devedor
Somente contra quem figura como sujeito na relação jurídica 
FIGURAS HÍBRIDAS/INTERMEDIÁRIAS
Se situam entre o Direito Pessoal e o Direito Real
Constituem um misto de obrigação e direito real 
Obrigações proptem rem
Obrigações pessoais
Surgem por força da lei
É pessoal pois vincula um sujeito à uma prestação e é real porque se origina da coisa é não da pessoa em sim (ius ad rem) 
Recaem sobre o sujeito em razão do exercício de um direito real
Exemplo: Art. 1.336 CC – São deveres do condômino:
I – contribuir para as despesas do condomínio na proporção das suas frações ideais, salvo disposição em contrário na convenção;
II – não realizar obras que comprometam a segurança da edificação;
III – não alterar a forma e a cor da fachada, das partes e esquadrias externas; 
IV – dar às suas partes a mesma destinação que tem a edificação, e não as utilizar de maneira prejudicial ao sossego, salubridade e segurança dos possuidores, ou aos bons costumes.
Ônus reais
Limitam o uso e gozo do direito real
São pessoais pois decorrem de uma obrigação (é preciso de um credor e devedor) e são reais pois aderem, ficam gravados na coisa e tem efeito erga omnes
Exemplo: hipoteca
Eficácia real
São obrigações, contratos (natureza pessoal) com efeito erga omnes (direito real) por força de lei 
São transmissíveis e oponíveis a terceiro que aquirem direito sobre determinado bem 
Exemplo: Art. 576 CC Se a coisa for alienada durante a locação, o adquirente não ficará obrigado a respeitar o contrato, se nele não for consignada a cláusula da sua vigência no caso de alienação, e não constar de registro.
CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES 
Tutela - parte da premissa a cerca da existência ou não da medida judicial impositiva do cumprimento da prestação pelo devedor. Obrigações jurídicas ou naturais. As jurídicas são aquelas que possuem medidas judiciais para satisfazem os interesse do credor e as naturais são aquelas que não há direito de execução da prestação pelo fiador, mas que se cumpridas pelo credor não insejam a repetição. 
Fonte - pode ser legal ou voluntária. Obrigação legal é aquela que nasce em razão da expressa obrigação legal (ex. Enriquecimento sem causa, art 876). Obrigação voluntária
Quanto às condutas do devedor
Comissivas (ou positiva) são aquelas que exigem comportamento ativo (ex. Obrigação de dar e obrigação de fazer). 
Omissivas (ou negativas) são aquelas em cujo o cumprimento demandam uma abstenção por parte do devedor (ex. Obrigacao de nao fazer)
Natureza da prestação 
Fungível são aquelas em que cujo objeto podem ser substituído por outro. 
Infungivel (personalíssima) está normalmente relacionada com a função de não fazer (ex. Contratar um arquiteto pra a construção de uma casa e este não poder fazer e indicar outro) 
Quanto aos efeitos 
Obrigação pura não sofre a incidência de nenhum elemento acidental, tornando-se exigível imediatamente 
Obrigação a termo efeitos estão subordinados a um evento futuro e certo
Obrigação sobre condição resolutiva: Na condição resolutiva, vigorará o negócio enquanto esta não se realizar. Ex: Um pai doa uma casa para a filha, com a condição de que ela não se separe do marido. Se ela divorciar, o imóvel volta para a propriedade do pai. 
Obrigação sobre condição suspensiva: Enquanto não ocorrer o implemento, suspende-se o direito. Ex: Um pai promete dar um carro para um filho se ele passar em medicina. Enquanto o filho não passar em medicina, ele não terá direito ao carro. 
Quanto ao resultado do cumprimento da obrigação 
*De resultado tem como objetivo final um resultado certo e atividade empregada é simples meio necessário para alcançá-la (Ex: arquiteto tem a obrigação de entregar o projeto)
*De meio aquela cujo objetivo é atividade desenvolvida de maneira dirigente. A responsabilidade do devedor não está vinculada ao resultado, mas sim à forma como a atividade é desenvolvida. (Ex: médio não tem a obrigação de salvar a vida o paciente, mas sim de fazer tudo o que está ao seu alcance para isso).
Quanto a liquides da obrigação
Obrigação líquida é aquela em que todos os elementos valorativos encontram-se definidos. É certa quanto a existência edeterminada quanto ao objeto.
Obrigação ilíquida aquela em que não estão definidos todos os elementos valorativos. (Ex. 20% do valor que recebeu – valor incerto no primeiro momento, mas com possibilidade futura de saber)
Quanto ao tempo da execução 
Execução instantânea é realizada pelo devedor integralmente no momento do nascimento da obrigação
Execução diferida ou retardada aquela cujo o pagamento é realizado em momento futuro (ex. Compra e venda a prazo)
Execução continuada ou de trato sucessivo aquela cujo o objeto se renova periodicamente. (Ex. Aluguel) 
OBRIGAÇÃO DE DAR 
A obrigação de dar é uma obrigação positiva, que consiste na prestação, na entrega de uma coisa, “seja para lhe transferir a propriedade, seja para lhe ceder a posse, seja para restituí-la”. 
Nesta obrigação, o devedor se vincula ao credor, ao estar obrigado a lhe entregar uma coisa, como em um contrato de compra e venda.
A obrigação de dar, por si só, confere tão somente ao credor mero direito pessoal, e não real, visto que o credor só adquirirá o domínio pela tradição da coisa pelo devedor.
Coisa certa – É a obrigação que se trata de uma coisa determinada, específica.
Ocorre o adimplemento da obrigação quando o devedor entrega a coisa específica, que foi acordada com o credor.
São aquelas que se referem à obrigação de entregar ou restituir alguma coisa à alguém . 
Contrato do principal também abrange seus acessórios (art. 233 CC) 
Teoria dos riscos das coisas – busca estabelecer responsabilidade pela perda ou deteorização do bem. 
Res perit domino - A coisa perece para o proprietário (1226 e 1227)
Não há transferência de propriedade antes do registro (bem imóvel) ou da tradição (entrega – bem móvel)
 Não há indenização sem culpa do infrator
Responsabilidade pela perda da coisa (art 243) 
Após a tradição – responsabilidade exclusiva do credor 
Antes da tradição – sem culpa do devedor as coisas voltam ao estado anterior (resolve-se a obrigação). Com culpa do devedor – equivalente em dinheiro mais perdas e danos 
Pela deteriorização da coisa – mesma regra da perda, mas com a opção de manter a coisa (art. 235 e 236) 
Obrigação de restituir – quem restitui da o que não é seu, transfere a posse. O devedor não é o proprietário do bem e a conduta do devedor quanto ao dever de restituir não caracteriza a transferência de propriedade. Ex: após o fim do contrato, o locatário restitui o bem ao proprietário. 
Os acessórios são os frutos, produtos, benfeitorias ou pertenças e sempre seguem o bem principal, a não ser que esteja disposto o contrário no contrato ou dependa das circunstâncias do caso.
Melhoramento: benfeitoria necessária ou voluntária
Acrescido: acessão (uniao)
Fruto: utilidade que a coisa principal periodicamente produz, cuja percepção não diminui sua substância. Fruto percebido: já destacado da coisa, pertencem ao devedor. Fruto pendente: está ligado à coisa, pertence ao credor.
Melhoramento e acréscimo: art. 237, caput.
Ex: pessoa que adquire uma vaca em um leilão e antes da entrega, ela fica prenha. – O proprietário pode aumentar o preço 
Obs: no caso de melhoramento, aplica-se, por analogia, a regra do art. 1219, CC
Frutos: art. 237, parágrafo único 
Na obrigação de restituir: proprietário é credor
Melhoramento ou acrescido:
Critério analítico – o devedor teve despesa ou trabalho?
Nao – lucra o proprietário (art. 241, CC)
Sim – regras da benfeitorias (art 242, caput) 
Frutos: art. 242, pu c/c arts. 1214 e 1216
Possuidor de má-fé – não tem direito a nada. Responde por todos os frutos (pendentes e percebidos) – art. 1214 pu e 1216 e responde pelos frutos que, por sua culpa, deixou de colher 
Coisa incerta
Objeto determinado (individualizado na constituição da obrigação) e determinável (à constituição traz paramentos para a individualização). 
Parâmetros: art. 243 – gênero e quantidade 
Qual bem? Há um ato entre o nascimento e o pagamento
No silêncio das partes: escolha do devedor – princípio do meio termo (art. 244, CC) 
Antes da escolha: genus nunquam perit (art. 246)
Exceção: obrigações com gênero limitado 
Feita a escolha: coisa certa (art. 245)
Obrigação de fazer (prestação de fato)
Consiste em uma prestação relacionada a uma conduta positiva do devedor.
Prestação fungível – uma terceira pessoa pode cumprir às custas do devedor 
Prestação infungível só pode ser realizada pelo devedor - pela vontade das partes ou pela própria natureza do objeto. Ex: contrato de show de artista X – só poderá ser realizado por ele. 
Obrigação de não fazer (prestação negativa, omissiva)
Art. 1147 CC
As obrigações de não fazer determinam que o devedor deixe de executar determinado ato em virtude de um contrato estabelecido entre as partes. 
Ex: contrato de exclusividade de um artista a uma determinada emissora de televisão; para garantir a exclusividade, o artista assina um contrato em que se obriga a não conceder entrevista a outra emissora. A obrigação de não fazer é, exatamente, se abster de conceder uma entrevista a outra emissora de televisão.
Obrigação de não fazer é de trato renovável, só é extinta pelo implemento do termo ou condição final ou quando se torna impossível sem culpa do devedor. Nesse caso, resolve-se a obrigação.
Com culpa, credor pode exigir indenização por perdas e danos ou que se desfaça a obrigação que foi feita. 
OBRIGAÇÃO FACULTATIVA
Aquela que não tendo por objeto se não uma única prestação da ao devedor a faculdade de substituir essa prestação por outra - benefício ao devedor.
Credor não pode exigir a obrigação acessória.
Sendo para o credor uma obrigação simples, em questão do objeto, e para o devedor é da faculdade do mesmo de como pagar. Ou seja, se o objeto principal desaparecer o credor não pode reclamar o segundo objeto, mas é faculdade do devedor se ele entrega o segundo objeto para sanar a divida ou não. Obs: a dívida tem que ser de coisa certa, pois a incerta não perece.
OBRIGAÇÃO ALTERNATIVA
Contém duas ou mais prestações, mas apenas uma delas pode ser cumprida mediante escolha do devedor preferencialmente ou do credor se assim já convencionado. 
Características obrigações alternativas:
As prestações são independentes entre si (não se cumpre parte de uma obrigação e parte de outra)
Se uma obrigação se tornar impossível, o débito remanesce em relação a obrigação ainda possível
Estão no mesmo nível de igualdade 
A impossibilidade de cumprimento da prestação principal extingue a obrigação, resolvendo-se em perdas e danos, pois, a prestação acessória não é obrigação, mas faculdade do devedor.
Obs: quando um objeto se perde, a obrigação passa para outro, possível, tornando-se uma obrigação simples.
OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS
A obrigação é dividida em quantos forem os credores/devedores. 
Assim, se a obrigação for divisível com pluralidade de devedores, dividir-se-á em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos forem os devedores. Por exemplo: se A, B e C devem a D R$ 30.000,00, a dívida será partilhada por igual entre os três devedores, de forma que cada um deverá pagar ao credor a quantia de R$ 10.000,00. 
E, se tratar de obrigação divisível com multiplicidade de credores, o devedor comum pagará a cada credor uma parcela do débito, igual para todos. Por exemplo: se A deve a B, C e D a quantia de R$ 90.000,00, deverá pagar a cada um deles R$ 30.000,00.
OBRIGAÇÕES INDIVISÍVEIS 
A obrigação indivisível é aquela cuja prestação só pode ser cumprida por inteiro, não comportando, por sua natureza (ex: animal), por motivo de ordem econômica (ex: pedra preciosa) ou dada a razão determinante do ato negocial (ex: reforma de prédio por vários empreiteiros, em que o dono da obra convenciona que pode exigi-la por inteiro de qualquer um deles), sua cisão em várias obrigações parceladas distintas, pois, uma vez cumprida parcialmente a prestação, o credor não obtém nenhuma utilidade ou obtém a que não representa a parte exata da que resultaria do adimplemento integral
OBRIGAÇÕESSOLIDÁRIAS 
Artifício usado para reforçar o vínculo entre credor e devedor, facilitando o cumprimento da obrigação. Interessa quando tem mais de um agente passivo ou ativo na obrigação. A solidariedade permite que se cobre a obrigação perante qualquer devedor e que se pague a obrigação a qualquer um dos credores. 
Não confundir com obrigação indivisível. Efeito principal é o mesmo (cumprir a obrigação por qualquer um dos sujeitos). A principal diferença é que, na solidária, cada devedor é obrigado a pagar por inteiro porque deve por inteiro. Na indivisível, o devedor paga por inteiro porque não há outra solução possível. 
Art. 265, CC – a solidariedade não se presume, resulta da lei e da vontade das partes.
Perdas e danos: a solidariedade não desaparece.
Quanto a interrupção da prestação em relação ao herdeiro da obrigação: se for solidária, interrompida a prescrição contra um dos herdeiros, essa interrupção não atinge os outros (art 204, CC) 
Suspensão da prescrição: não aproveitará os demais credores (art 201, CC)
Solidariedade ativa: pluralidade de credores (polo a ativo)
Praticamente inexistente porque sua consequências principal é que um credor pode receber toda a dívida da quitação do devedor. Gera insegurança. Até que o devedor seja acionado, ele poderá pagar a qualquer um dos credores, caso seja acionado, só poderá pagar em juízo. (Art 261,CC)
Art 270 – a morte do credor solidário extingue a solidariedade. Não haverá herdeiro.
Outro credor ainda poderá cobrar a obrigação. 
Art 273 – exceção (defesa de cunho pessoal) . 
Solidariedade passiva: pluralidade de devedor (polo passivo) 
Qualquer um do devedor vai pagar toda a dívida 
O recebimento parcial não extingue a solidariedade 
Art. 277 remissão a um dos devedores não extingue a obrigação 
Perda do objeto com culpa de um dos devedores: o equivalente poderá ser cobrado a qualquer um. Perdas e danos será cobrado de quem foi a culpa. 
Efeitos da solidariedade em relação entre devedores: 
Não há previsão legal de sub-rogação
Ação regressiva 
Quando perdoada a dívida de um dos devedores, este também entra no racha para pagar a parte do devedor insolvente

Continue navegando