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PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano São Paulo Urbanismo FAUUSP – FUPAM Laboratório de Urbanismo da Metrópole – LUME UNA Arquitetos H+F arquitetos + Metrópole arquitetos Parque D. Pedro II: plano e projetos / Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, São Paulo Urbanismo; FAUUSP-FUPAM; Laboratório de Urbanismo (LUME); UNA Arquitetos; H + F + Metrópole Arquitetos. – São Paulo : Imprensa Ofi cial do Estado, 2012. 104 p. : 146 il. ISBN: 1. Renovação Urbana (Projeto) – São Paulo, SP. 2. Áreas Centrais (Análise) - São Paulo, SP. I. Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano, São Paulo Urbanismo II. FAUUSP-FUPAM III. Laboratório de Urbanismo (LUME) IV. UNA Arquitetos V. Hereñu + Ferroni + Metrópole Arquitetos VI.Título CDD 711.552 Serviço de Biblioteca e Informação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Todos os esforços foram feitos para determinar a origem das imagens deste livro, o que nem sempre foi possível. Teremos prazer em creditar as fontes eventualmente não identificadas, caso se manifestem. EDIÇÃO DE CONTEÚDO Fernanda Barbara, Marta Dora Gronstein, Pablo Hereñú, Regina M.P. Meyer PROJETO GRÁFICO Cássia Buitoni, Mariane Klettenhofer (assistente) REVISÃO Bruno Tenan 03PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos 04 APRESENTAÇÃO 06 INTRODUÇÃO 12 PRECEDENTES E REFERÊNCIAS 12 ASPECTOS HISTÓRICOS DA ESTRUTURAÇÃO URBANA DO PARQUE DOM PEDRO II 16 O PARQUE DOM PEDRO II E A ESCALA METROPOLITANA 17 RELAÇÕES ESPACIAIS DO PARQUE NA ESCALA INTERMEDIÁRIA: SETORES E BAIRROS 25 PERÍMETRO PROPOSTO PARA O PLANO DE REFERÊNCIA 26 ANÁLISE URBANA 26 SISTEMA VIÁRIO 26 POLO DE TRANSPORTE PÚBLICO 28 CONDICIONANTES FÍSICO-ESPACIAIS 30 A EVOLUÇÃO DO SISTEMA DE ÁREAS VERDES E LIVRES 33 DRENAGEM 34 OS EQUIPAMENTOS PÚBLICOS 36 EDIFICAÇÕES TOMBADAS 37 CARACTERIZAÇÃO DE USOS ATUAIS DO PARQUE DOM PEDRO II 38 PLANO URBANÍSTICO PARQUE DOM PEDRO II 38 QUESTÕES BALIZADORAS DA PROPOSIÇÃO 40 IMPLANTAÇÃO GERAL 44 SISTEMA VIÁRIO 47 ESTAÇÃO INTERMODAL E TRANSPORTE PÚBLICO 52 PEDESTRES 54 LAGOA DE DRENAGEM, TRATAMENTO E REUSO 58 ÁREAS ADJACENTES COM POTENCIALIDADES 60 PROPOSTAS PARA SETORES ESPECÍFICOS 60 ARCO NORTE 80 ARCO OESTE 100 IMPLEMENTAÇÃO 100 FASES PROPOSTAS 102 BIBLIOGRAFIA 103 FICHA TÉCNICA 04 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos APRESENTAÇÃO O desenvolvimento do Plano Urbanístico do Parque Dom Pedro II é um dos exemplos pioneiros de como a Secretaria Municipal de Desenvol- vimento Urbano – SMDU e a São Paulo Urbanismo têm recentemente abordado a elaboração de Planos e Projetos Urbanos. Na realização do Plano, a Prefeitura buscou o apoio de outras competências nessa área de atuação para que, a partir de diretrizes previamente estabelecidas, os trabalhos fossem desenvolvidos conjuntamente, de forma colaborativa entre o corpo técnico da municipalidade e os especialistas externos. Des- ta forma, se utilizam a experiência da administração pública acumulada durante décadas sobre os temas e também os conhecimentos específi cos de seus técnicos. Por outro lado, abre-se a possibilidade de contar com uma colaboração externa da mais alta qualidade. No caso presente somou-se a colaboração da FUPAM – Fundação para a Pesquisa em Arquitetura e Ambiente ligada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP que ancorou a participação de profi ssionais do Laboratório de Urbanismo da Metrópole – LUME e dos urbanistas do UNA Arquitetos, bem como dos escritórios H + F Arquitetos e Metrópole Arquitetos. Foi um trabalho extenso, iniciado em 2009 e fi nalizado em 2011 que envolveu, além da SMDU, São Paulo Urbanismo, FUPAM e cola- boradores, outras secretarias da Prefeitura como a Secretaria Municipal de Transportes, Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras, Secretaria Municipal de Cultura, Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente e Secretaria Municipal de Planejamento. O Plano Urbanístico apresentado buscou uma solução abrangente que reunisse e ordenasse as intervenções estruturais para a região – prin- cipalmente as relacionadas ao sistema de transporte coletivo e ao sistema viário. Desde que as feições da área do início do século XX foram alte- radas e desfi guradas a partir de meados do século passado pela implan- tação de sucessivos projetos viários, colocou-se o desafi o de encontrar o novo signifi cado e a função contemporânea para essa área. Uma das premissas do Plano foi a de que não se deveria tratar a questão apenas do ponto de vista paisagístico, ou de recompor o belo parque bucólico implantado no início dos anos 1920. O Parque Dom Pedro II havia passado por uma transformação fundamental, assumindo o papel de um dos principais nós articuladores de transporte de alcance metropolitano, uma verdadeira centralidade que se confi gurou simulta- neamente como ponto de articulação e porta de entrada do centro da cidade, principalmente para quem vem da zona leste. Foi da compreensão dessa nova realidade que se estabeleceu as di- retrizes para o desenvolvimento do plano urbanístico. Como nó articu- lador de fundamental importância, o novo Parque Dom Pedro deveria eliminar o isolamento que lhe fora imposto e harmonizar infraestrutura urbana e qualidade urbanística, rompendo a dicotomia entre forma e função, embelezamento e utilitarismo, sistema viário e circulação de pedestres. No Plano Urbanístico esse nó de articulação de sistemas de transporte aproxima e integra os diversos modais por meio de um ter- minal intermodal, que reúne as funções do atual terminal de ônibus e do terminal do Expresso Tiradentes junto da Estação Pedro II do Metrô. Também, no Plano, a função e o valor paisagístico desta porção da vár- zea do rio Tamanduateí puderam ser parcialmente contemplados com a destinação de área para uma lagoa de retenção e de tratamento de águas pluviais de modo a melhorar as condições de drenagem do entorno, lidando de forma inovadora com a questão das águas. Embora muitas das ações propostas tenham caráter estrutural e execução complexa, houve a preocupação de estabelecer fases de implantação para que, no curto prazo, os resultados já fossem alcançados e induzissem a continui- dade da implantação do Plano. Além disso, as oportunidades geradas por uma série de iniciativas da Prefeitura Municipal deveriam ser consideradas e potencializadas: o processo de repovoamento da região central a partir da implementação 05PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos de programas habitacionais pela Secretaria Municipal de Habitação e a decisão de tornar espaços de uso público as áreas na porção norte do Parque, anteriormente ocupadas pelos edifícios São Vito e Mercúrio, para que pudessem atrair uma ampla gama de usuários em todos os períodos do dia e durante os fi nais de semana. Com base nessas premissas, a SMDU e a São Paulo Ur- banismo orientaram o desenvolvimento do plano almejan- do tornar o Parque Dom Pedro II um espaço de permanên- cia e não apenas de passagem como é hoje. Para alcançar esse objetivo, estabeleceram-se duas áreas estratégicas a partir das quais se iniciaria o processo de renovação: uma ao norte, com as diretrizes de integrar e dinamizar o circui- to já delineado pela presença do Mercado Municipal, do Espaço Catavento e do futuro Museu da História de São Paulo na Casa das Retortas; outra a oeste com a orientação de estender a vitalidade da Rua 25 de Março para além da Avenida Rangel Pestana e de recuperar os espaços da Praça Fernando Costa. Uma outra orientação fundamental como ação pública foi a de que o Parque deveria se abrir para o seu entorno, exercendo a função de âncora na requalifi ca- ção urbanística da região no sentido de torná-la novamente atraente para moradia, trabalho e lazer. A implantação do Plano Urbanístico do Parque Dom Pedro II que seencontra em andamento tem o potencial de devolver este espaço público emblemático à Cidade e ser um forte indutor, além de suas fronteiras físicas, para a requalifi cação urbanística de toda a área central da cidade somando-se às demais iniciativas em curso que também buscam este objetivo. Foto: Nelson Kon PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos O Plano Urbanístico do Parque Dom Pedro II foi elaborado a partir de uma análise urbana que buscou abranger as suas características geo- gráfi cas, a evolução urbana, os seus atributos físicos e funcionais, o processo de urbanização da cidade e, em particular, as inúmeras obras viárias incorporadas ao longo de sua evolução histórica. A pesquisa já feita para a elaboração do livro A Leste do Centro – Territórios do Urbanismo1 é o ponto de partida deste plano. No estudo que deu origem ao livro, constatou-se a enorme com- plexidade do Parque Dom Pedro II e do contexto urbano no qual ele está inserido. Ficou bastante evidente que o parque e seu entorno foram fortemente impactados pelo processo de urbanização da cidade e, a partir dos anos 1950, pela consolidação da Região Metropolitana de São Paulo. Do ponto de vista metodológico, o plano trabalhou com alguns condicionantes: a demolição do viaduto Diário Popular, a demolição dos edifícios São Vito e Mercúrio, bem como o rebaixamento da Ave- nida do Estado, propostos pelo poder público municipal de São Paulo. A realização desta obra deverá criar nova possibilidade de uso para os espaços do parque hoje seccionados pela avenida. A proposta da PMSP é uma obra de abrangência metropolitana, relativa ao Complexo Viário formado pela Avenida do Estado entre a Avenida Mercúrio e a Avenida Cruzeiro do Sul (túnel), e foi apresentada pela Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (SIURB) nas reuniões preliminares. Desde o início dos trabalhos, fi cou claro que o rebaixamento da avenida, visando todo o sistema viário do Parque Dom Pedro II e algumas de suas áreas adjacentes, impactaria de forma direta no encaminhamento da análise e das proposições que dela emergiriam. Assumiu-se que qualquer modifi cação no seu traçado ou no seu anda- mento implicaria revisões no próprio plano. A partir da análise urbana, incorporando a proposta para a Avenida do Estado, foi estabelecido um novo perímetro de atuação. Expandiu-se a área de análise e de proposição, antes circunscrita ao perímetro do parque, propriamente dito, para áreas adjacentes. O desenho do novo perímetro, que resultou na elaboração de uma nova fi gura física do parque, nasceu da verifi cação das funções que estão diretamente associadas ao parque e a seu sistema viário 1 MEYER, Regina M. P. ; GROSTEIN, Marta Dora. A Leste do Centro – Territórios do Urbanismo. São Paulo, Imprensa Ofi cial do Estado de São Paulo, 2010 . IN TR OD U ÇÃ O principal, ao alto grau de desarticulação espacial e funcional provoca- do por obras realizadas de maneira contingente ao longo de muitas dé- cadas. Mas, sobretudo, pelo volume assumido pelas formas aleatórias de acomodar os fl uxos de veículos e os equipamentos associados ao transporte público. No seu conjunto, estas obras acabaram por retirar do Parque Dom Pedro II todos os seus atributos urbanos, paisagísticos e de espaço público qualifi cado que um dia ali existiram. Dessa forma, o Plano Urbanístico partiu da compreensão dos as- pectos infraestruturais, programáticos e sociais do Parque Dom Pedro II consolidados no tempo, procurando reordená-los a fi m de garantir, com a qualidade devida, suas funções de conexões metropolitanas, bem como seu caráter urbano e simbólico. O projeto desenvolvido teve um olhar atento a população que mora, usa e trabalha na região, especialmente os mais carentes, os moradores de rua, que têm no Parque Dom Pedro II uma estrutura assistencial, o Espaço de Convivência Jardim da Vida – Dom Luciano Mendes de Almeida. Esse programa, ampliado, foi acolhido no pro- jeto, com a proposta de um novo edifício que abriga as funções de apoio a essa população, além de se confi gurar como um espaço de estar e referência (ver proposta para Setores Específi cos – Arco Oeste). Chamamos a atenção para o trabalho social que deve ser realizado ao longo do desenvolvimento do projeto executivo, bem como nas diver- sas fases de implantação do plano, para garantir um impacto positivo na vida de todos os usuários do parque e seu entorno. Ao propor um novo perímetro, indo além dos limites internos do parque, buscou-se trabalhar com o objetivo de irradiar a requa- lifi cação urbana para os bairros do seu entorno. Para a análise de suas condições e qualidades atuais, foi feita uma subdivisão das áreas envoltórias do parque em nove setores, que denominamos: Mercado Municipal, Colina Histórica, Glicério, Igreja Pentecostal, Pátio do Pari, Zona Cerealista, Gasômetro, Brás e Cambuci. Essa análise nos permitiu direcionar e aferir as premissas do projeto, para que o mesmo abarcasse todo o potencial de transformação desejável, especialmente do seu entorno imediato, a fi m de incentivar e amparar as particu- laridades e vocações consolidadas dessas áreas, bem como estimular novos usos e especialmente o adensamento habitacional. O objetivo era, sobretudo, assimilar questões presentes nessas áreas associadas à nova organização do parque. É o caso da habitação 07PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos “Inundação da Várzea do Carmo”. Benedito Calixto, 1892 de interesse social, defi nida como ZEIS 3 no Plano Diretor de 2002, que está presente em grande número no seu entorno imediato. Tal constatação possibilitou estabelecer uma primeira diretriz de trabalho, a qual tem origem, justamente, na avaliação do impacto que o cresci- mento urbano e metropolitano de São Paulo, associado à sua estrutura radioconcêntrica, produziu nas principais praças do Centro e de forma muito intensa no Parque Dom Pedro II. A busca por uma caracterização do parque Dom Pedro II a partir dos seus atributos físicos e funcionais atuais indicou os elementos um alto nível de desestruturação urbana provocado por políticas setoriais, com destaque para o transporte e para obras viárias, relacionados ao fato do Parque Dom Pedro II ser a porta de chegada / saída da Zona Leste no Centro. A imensa expansão da cidade rumo à zona leste do município, já inúmeras vezes tratadas em textos seminais, está inscrita no Parque Dom Pedro II de forma clara e em diversos níveis. A in- corporação permanente de novas obras associadas ao transporte de massa e a obras viárias foi gradualmente estabelecendo um panorama urbano que é, funcionalmente e fi sicamente, caótico. A ausência de iniciativas concretas para organizar os fl uxos que ali chegam, tanto os de passagem quanto os acessos aos transportes criou um longo ciclo de obras sem qualquer compromisso que não fosse o escoamento do tráfego, descomprometidas de qualquer outra consideração urbana. Um objetivo amplo se estabeleceu a partir desta caracterização. As proposições encaminhadas passaram a ser ancoradas na possibilida- de de introduzir novas relações urbanas, espaciais, físicas e programá- ticas, através da conjugação de aspectos estratégicos voltados para o funcionamento e para a reorganização física do Parque Dom Pedro II. Diante do reconhecimento do caráter irrevogável de polo urbano de transporte público de massa que o parque possui hoje, o Plano Urbanístico assumiu a necessidade de buscar propostas voltadas para a racionalização dos modos de transporte mais importantes ali exis- tentes: o metrô e os ônibus, incluindo o Expresso Tiradentes. 08 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos A articulação dos terminais junto à estação do metrô Pedro II criou um programa funcional novo: a estação intermodal. A estação é uma resposta à função primordial do Parque Dom PedroII hoje. A localização da estação intermodal no setor leste do parque é estratégica também do ponto de vista da reorganização espacial de toda a área. Estabelece um novo parâmetro para a articulação dos demais equipamentos, para as novas relações com outros espaços da área central, cria um percurso confortável para os usuários que fazem conexões entre diversos modos, cria novos caminhos e, alivia a área da presença disseminada de pontos de ônibus. Foi alvo dessa proposta o sistema físico que apoia o transporte público, incluindo o sistema viário, o Expresso Tiradentes, o Termi- nal Parque Dom Pedro II, a Estação Pedro II da Linha 3 do Metrô. O Terminal localizado na denominada Avenida do Exterior, junto à Avenida do Estado, é considerado o mais movimentado da cidade com uma taxa de usuários diários da ordem de 200 mil pessoas. Des- de a inauguração do Expresso Tiradentes (2007), o Terminal Dom Pedro II ganhou novas funções. Sua relação direta com o Terminal Mercado, ponto inicial do Expresso Tiradentes, lhe confere hoje um grau de complexidade ainda maior. A inefi ciência localizacional desse terminal, criado em 1966 e ampliado de forma provisória com demo- lição prevista para dez anos após o termino das obras em 1994, é um dos problemas mais candentes da atual conjuntura urbana do Parque Dom Pedro II. O reconhecimento da importância do “nó” de transporte inter- modal como um elemento urbano essencial na qualifi cação das funções e dos espaços urbanos da área ganhou força. A estação intermodal deverá assumir o papel catalisador das transformações almejadas para todo o parque e para os equipamentos ali situados. A multifuncio- nalidade será o princípio básico do futuro projeto. A concentração de infraestrutura de transporte com funções urbanas é uma prática contemporânea bem-sucedida na medida em que oferece aos usuários suporte para seus deslocamentos diários, dentro de um ambiente ade- quado de conforto e segurança. Para o resultado que se procura alcançar, outro aspecto tornou- -se fundamental: a análise dos elementos primordiais do sítio natural, da história urbana, dos monumentos históricos que compõem o Par- que Dom Pedro II. Buscou-se evitar uma substituição automática de elementos novos em detrimento dos antigos. Como a análise urbana já havia apontado de forma bem clara, diante os aspectos urbanos contemporâneos da área, qualquer veleidade de buscar em antigas soluções respostas para o futuro do parque pareceriam inadequadas. Pois, apesar de ser um lugar de forte presença no imaginário dos habi- tantes da cidade, o Parque Dom Pedro II já não guarda desde o anos 1950 nenhuma marca dos históricos projetos do fi nal do século XIX e do início do XX. Nesse sentido, evitamos privilegiar uma visão ditada pela dispo- sição de recuar no tempo e buscar o seu caráter bucólico, o grande jardim urbano adotado no projeto de Joseph Antoine Bouvard inaugu- rado em 1922. Porém, se por um lado buscar os atributos geográfi cos do parque indicou caminhos para o plano, por outro sua atual organização / de- sorganização espacial e funcional foi indispensável para as propostas que se seguiram. Ocupando os espaços historicamente alagáveis da várzea do rio Tamanduateí, o Parque Dom Pedro II e seu entorno estão sujeitos a inundações frequentes, apresentando diversos pontos de alagamen- to. As soluções de drenagem previstas no Plano Urbanístico visam integrar essa infraestrutura com as demais intervenções propostas, potencializando o caráter urbano e paisagístico das obras hidráulicas. Propõe-se a construção de um sistema de lagoas de retenção (reser- vatórios de superfície) associadas à reconfi guração paisagística dos espaços do parque. O sistema de retenção deverá interceptar a rede de drenagem local do entorno, possibilitando o controle da vazão através de um volume variável de amortecimento que possibilite a restituição dos escoamentos de forma atenuada e retardada ao canal do Taman- duateí. Esse sistema, associado à reconfi guração dos demais sistemas de infraestrutura que incidam sobre o parque, deverá contribuir de forma decisiva para a sua nova confi guração paisagística. A lagoa de drenagem tem neste plano um papel reparador e pro- cura abrir caminho para uma nova postura na elaboração de projetos urbanos em São Paulo. Através da lagoa o plano interpreta o parque em chave urbanística contemporânea onde as questões de meio am- biente oferecem uma oportunidade de reverter danos causados por projetos pouco atentos às relações entre o processo de urbanização e natureza. Por meio da criação de uma infraestrutura coerente que é 09PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos a lagoa de retenção, o plano retoma, guardando os traços contempo- râneos do parque, a função da várzea, criando um lugar de fruição e lazer único no Centro da cidade de São Paulo. Neste mesmo sentido, isto é, propor ações urbanas reparadoras, nasceu a proposta de eliminação de dois viadutos que cruzam o parque em diversos níveis, de forma muito predatória. Situados em diferentes cotas os viadutos criam hoje espaços residuais no nível do parque. A eliminação dos dois viadutos visa recuperar áreas vitais no parque, ga- rantindo a circulação de pedestres de forma contínua. Hoje, o Parque Dom Pedro II possui uma organização paradoxal do ponto de vista da circulação de pedestres. Por um lado, congrega uma enorme massa de pedestres, usuários dos transportes públicos, e, por outro, não lhes oferece nenhuma possibilidade de caminhamento contínuo e seguro. A qualifi cação dos espaços públicos busca conferir características às áreas livres resultantes do plano: áreas arborizadas, espaços de conta- to com a água, passeios e travessias e uma esplanada de 50 metros de largura e 730 de extensão, lindeira ao lago, que liga o antigo quartel à praça Ragueb Chohfi . Tal questão nos leva de volta aos anos 1950 e 1960 quando a concepção rodoviarista ganhou força no urbanismo paulistano e as vias expressas invadiram a cidade de São Paulo. A incorporação dos elementos urbanos exigidos pelo processo de metropolização incidiu de forma violenta na estrutura física e funcional do Parque Dom Pe- dro II, assim como em outros espaços públicos centrais, produzindo marcas profundas. Como já foi dito, à semelhança de um bumerangue lançado de dentro para fora, isto é, do parque rumo aos bairros a leste Várzea do Carmo, 1918. Fonte: Ângela Garcia, José Martins, Rubens Junior I Aurélio Becherini (2009) 10 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos do Centro, a estruturação viária rebateu-se de volta produzindo um efeito destrutivo dos espaços centrais. A proposta procurou recuperar o patrimônio paisagístico e ar- quitetônico, associando-o ao incremento das atividades comerciais e ao forte adensamento habitacional pretendido. Outra premissa de- terminante do projeto desenvolvido foi a necessidade de articulação dos espaços públicos existentes com os espaços públicos propostos no plano, através de novas conexões de pedestres. O conjunto pretende conciliar a vitalidade diurna existente na área com novos programas relacionados à habitação de modo a pro- duzir um espaço urbano permanentemente ativo que possa se benefi - ciar das condições privilegiadas que a região oferece. É importante ressaltar que todo o plano, nos seus vários aspectos, considerou a presença de edifícios tombados pelos órgãos de preserva- ção do patrimônio histórico que hoje são essenciais na caracterização do Parque Dom Pedro II. O primeiro, o Mercado Municipal, situado na porção norte do parque, tem sua importância acrescida pelo seu in- tenso uso comercial e gastronômico. O Palácio das Indústrias, que hoje abriga o Instituto Catavento, funciona como um museu de ciências. E a Casa das Retortas está sendo reformada para receber o Museu do Estado de São Paulo. É importantecitar ainda o Gasômetro, o Quar- tel, além de um conjunto de edifícios distribuídos na porção oeste do parque e uma série de antigas residências operárias na região do Brás. Os levantamentos revelam um conjunto bastante expressivo de imóveis tombados em direção a colina histórica e, o que é importante ainda registrar, uma forte concentração de ZEPECs ao longo da ferrovia. O investimento em infraestrutura urbana e na qualifi cação do espaço público do Parque Dom Pedro II tem sua pertinência ancorada na grande concentração, em seu entorno, de Zonas Especiais de Inte- resse Social (ZEIS), estoques de terra delimitados por lei cuja priori- dade é atender a demanda por habitação social e também do mercado popular, garantia de que essa transformação benefi cie prioritariamente a população que hoje habita esse lugar. O fortalecimento do uso ha- bitacional deve inclusive corrigir o contraste desses bairros que têm frequência intensa durante o dia, mas se esvaziam completamente durante a noite. O incremento habitacional nessas zonas comerciais Várzea do Carmo, 1918. Fonte: Ângela Garcia, José Martins, Rubens Junior I Aurélio Becherini (2009) 11PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos (como o Brás) é um passo importante na consolidação do uso misto, numa proporção em que comércio e habitação se benefi ciem mutua- mente e consolidem uma qualidade urbana. É muito importante destacar que este Plano Urbanístico traba- lhou com duas diretrizes pré-estabelecidas pela PMSP. Foram fi xadas inicialmente duas áreas, denominadas no Plano Arco Norte e Arco Oeste, que deveriam ser analisadas e projetadas de forma específi ca. Embora o plano contemple todo o perímetro estabelecido no início da análise urbana, estas duas áreas deveriam receber projetos mais detalhados. Dentro de uma perspectiva de implantação por fases, os dois setores previamente fi xados serão os precursores do plano e das obras a ele relacionadas. O Arco Norte do parque é caracterizado pela presença de im- portantes edifícios históricos, como o Mercado Municipal (1933), o Palácio das Indústrias (1920) e a Casa das Retortas (1898). Apesar da presença desse conjunto, é uma região de extrema desarticulação urbana. Partindo das intervenções viárias e de transporte público já de- fi nidas pelo Plano, buscou-se uma reintegração desse setor ao parque e à própria cidade. Na margem oeste do Tamanduateí, foi proposta uma praça, ao lado do Mercado Municipal, diretamente ligada a um novo edifício de serviços. Próximo ao Palácio das Indústrias foram propostos dois novos edifícios, SESC (Serviço Social do Comércio) e SENAC (Ser- viço Nacional de Aprendizagem Comercial), instituições que oferecem cursos profi ssionalizantes, atividades de lazer, esportes e cultura. Esses novos equipamentos buscam sua expressão nas relações que estabelecem com a cidade e com os edifícios existentes, procu- rando irradiar um novo sentido de urbanidade para essa tão cindida região da cidade. O estudo desenvolvido para o Arco Oeste do parque compreen- de um conjunto de nove quadras localizadas ao longo da Rua 25 de Março, entre a Ladeira General Carneiro e a Avenida Rangel Pestana. A partir da constatação da subutilização de uma área extremamente importante da cidade, e considerando o impacto das ações previstas no plano, desenvolveu-se uma estratégia de transformação urbana estruturada em ações públicas de aplicação imediata e ações comple- mentares de curto e médio prazos associadas a iniciativas privadas. Várzea do Carmo, 1916. Fonte: Ângela Garcia, José Martins, Rubens Junior I Aurélio Becherini (2009) 12 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos PR EC ED EN TE S E RE FE RÊ N CI A S ASPECTOS HISTÓRICOS DA ESTRUTURAÇÃO URBANA DO PARQUE DOM PEDRO II Urbanização da Várzea do Carmo, 1923. Fonte: Arquivo Condephaat 13PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos Plano Couchet, 1929 14 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos ASPECTOS HISTÓRICOS BASE CARTOGRÁFICA Sara Brasil, 1930Jules Martin, 1890 15PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos Foto aérea, 1958 Foto aérea, 2008 0 100 500 16 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos O PARQUE DOM PEDRO II E A ESCALA METROPOLITANA VIAS EXPRESSAS TRANSPORTE SOBRE TRILHOSCORREDORES DE ÔNIBUS 17PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos A demarcação dos setores teve como obje- tivo identifi car as principais características do entorno imediato. SETORES E BAIRROS 01. Mercado Municipal 02. Colina Histórica 03. Glicério 04. Igreja Pentecostal 05. Pátio do Pari 06. Zona Cerealista 07. Gasômetro 08. Brás 09. Cambuci 05 01 02 03 04 06 07 08 09 SANTA CECILIA BOM RETIRO PARI BELÉM REPÚBLICA SÉ BRÁS MOOCA CAMBUCI IPIRANGA LIBERDADEBELA VISTA RELAÇÕES ESPACIAIS DO PARQUE NA ESCALA INTERMEDIÁRIA: SETORES E BAIRROS 0 100 500 18 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos SETOR 1: MERCADO MUNICIPAL Região turística, comercial e institucional da cidade de São Paulo, o setor do Mercado Municipal pode ser di- vidido em dois subsetores: Mercado Municipal e Ruas Especializadas (centralizadas na Rua 25 de Março). O Mercado Municipal (1933) é tombado como bem cultural de interesse histórico-arquitetônico. Abriga con- junto de boxes para venda de especiarias, carnes, frutos do mar, grãos e cereais. No mezanino superior, reforma de 2004, encontram-se restaurantes e lanchonetes tradi- cionais, que fazem do Mercado polo turístico-gastronô- mico de São Paulo. Aberto e bastante visitado durantes todos os dias da semana, as proximidades do Mercado são tomadas por estacionamentos (regulares ou não) e pelo confl ito entre pedestres e veículos. As ruas especializadas têm importância nacional no comércio: tecidos, enfeites, utensílios domésticos, brinquedos (Ruas 25 de Março e Barão de Duprat), bijuterias, fantasias (Ladeira Porto Geral), Eletrônicos (Cdor. Afonso Kherlakiam), ferramentas e peças (Rua Florêncio de Abreu). Nessas ruas é predominante o fl uxo caótico de multidões de compradores, camelôs e veículos. Durante o dia essas ruas recebem cerca de um milhão de pessoas, que chegam de toda a metrópole pelo Terminal Parque Dom Pedro II, de ônibus, e pela Estação São Bento, de metrô, e de todo o país, nos ôni- bus fretados que estacionam no Pátio do Pari, além dos veículos particulares. Durante a noite, o local se esvazia devido à ausência de moradores. SETOR 2: COLINA HISTÓRICA Lugar da fundação de São Paulo, reúne conjunto signi- fi cativo de edifi cações tombadas por órgãos públicos. O triângulo formado pela Catedral da Sé, pelo Convento do Carmo e pelo Pátio do Colégio foi classifi cado como perímetro de proteção arqueológica pelo Departamento de Patrimônio Histórico (DPH), em 2007. Na Praça da Sé está a maior estação de metrô da ci- dade, na qual se interligam as linhas Azul 1 e Vermelha 3. Ao lado da Catedral da Sé estão fóruns municipais, o Tribunal da Justiça do Estado de São Paulo e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). No setor da Colina Histórica também estão situados a Secretária da Fazenda e o Poupa Tempo Sé, inaugura- do em 1997, o maior do estado, responsável por mais de 10 mil atendimentos por dia. SETOR 3: GLICÉRIO Parte do distrito da Liberdade, o Glicério é considera- do uma das regiões mais degradadas da área central de São Paulo. Localizado na antiga Várzea do Carmo, seus casarios sempre sofreram com os alagamentos e inun- dações. Atualmente, grande parte dessas edifi cações são cortiços que abrigam a população de baixa renda, com especial concentração de cortiços verticais ao longo da Rua dos Estudantes. Na Rua do Glicério estão a Creche Nossa Senho- ra da Paz e a Associação Minha Casa Minha Vida, de apoio e orientação aos moradores de rua e catadores de lixo que se organizamem cooperativas de reciclagem sob os viadutos que cruzam o Rio Tamanduateí. A Rua Conde Sarzedas, em função da proximidade com a Igreja Pentecostal, reúne várias lojas de produtos evangélicos e vem se afi rmando como rua especializada nesse tipo de comércio. A implantação da Radial Leste causou uma fratura na região, promovendo a decadência permanente do lugar. Ao cortar praças e quadras, criou uma segunda ca- mada sob a via ocupada por moradores de rua e usuá rios de drogas. Proximidade com a Praça da Sé torna o setor conectado com todo sistema de transportes públicos. 19PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos Foto: Nelson Kon SETOR 4: IGREJA PENTECOSTAL A Igreja Pentecostal “Deus é Amor” ocupa a área de an- tigos galpões fabris. É o maior templo do mundo, com capacidade para 60 mil pessoas. De difícil acesso, é cercada por áreas residuais gera- das pelos três viadutos sobre o rio, alças e vias expressas. Em suas proximidades estão uma estação de transmissão de energia, o Posto Estadual de Saúde e a Previdência Social Várzea do Carmo, um conjunto habitacional do arquiteto Atílio Correa Lima e uma escola municipal. SETOR 5: PÁTIO DO PARI O Pátio do Pari é uma área de grande interesse estratégi- co de desenvolvimento e articulação nas áreas centrais. O vazio do antigo pátio de manobras é hoje ocu- pado ao norte por tendas de comércio atacadista e estacionamentos de ônibus fretados que vêm de várias regiões do Brasil, com destino à Rua Oriente e Largo da Concórdia, no Brás, Rua José Paulino, no Bom Retiro, e Rua 25 de Março. Ao sul, os antigos galpões ferroviários da RSJ são ocupados com frutas, verduras e legumes que são ven- didos nas imediações, nos armazéns da Zona Cerealista. O Plano Regional Estratégico da Subprefeitura Mooca, PRE-MO, classifi ca o Pari como Zona Especial de Preservação Cultural (ZEPEC) e como área sujeita à incidência do direito de preempção. Foto: Nelson Kon SETOR 6: ZONA CEREALISTA A Zona Cerealista agrupa nas áreas centrais o maior conjunto de armazéns e empórios para a venda de grãos, cereais e tubérculos. Caminhões, carregadores, pallets e lixo se acumulam por entre ruas estreitas, calçadas deterioradas, frente a construções de valor histórico e arquitetônico, como os Armazéns Gerais de Santa Teresa, que se encontram em área de preservação cultural. Há mais de vinte anos se estuda a substituição do co- mércio atacadista pelo de varejo, promoção e incentivo do uso habitacional, restauro e reciclagem dos edifícios históricos, incremento aos equipamentos culturais e edu- cacionais, a exemplo do Senai Escola Técnica Roberto Simonsen, inaugurado em 1943. Na Rua Polignano A. Maré, nos fi nais de semana de maio e junho, é realizada à noite uma das festas de rua mais tradicionais de São Paulo: a festa italiana popular de São Vito Mártir. 20 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos No setor do Gasômetro estão contidas, por entre casa- rões antigos e galpões fabris, a rua especializada do Ga- sômetro e as Zonas Especiais de Preservação Cultural. Na rua do Gasômetro, local de inúmeros projetos, estão lojas de peças, madeireiras, ferragens e material de construção. Continuação da Avenida Celso Garcia, que passa pelo Largo da Concórdia, recebe movimento intenso de ônibus; hoje está em estudo linha de metrô sob a rua. O conjunto das Retortas, parte do complexo do antigo Gasômetro, foi tombado pelo Condephaat em 2006. Hoje, as edifi cações estão sendo restauradas, reformadas e receberão a construção do Museu da História de São Paulo, obra de mais de 60 milhões do Governo do Estado. Protegido devido a seu valor cultural, pela Subpre- feitura da Mooca, o conjunto de casas operárias na Travessa Queiroga está atualmente deteriorado e aban- donado, salvo poucas exceções. Área de baixo valor venal médio devido a alagamentos passados, o setor do Brás se encontra todo em Área de Intervenção Urbana no PRE da Mooca (Plano Regional Estratégico da Subprefeitura da Mooca). Mais da meta- de dos terrenos se encontra dentro do perímetro da ZEIS 03 - L010, e muitos dos casarios antigos são habitações encortiçadas, parte deles contida em vilas fechadas nos miolos de quadra. Algumas construções ainda permanecem como pe- quenas fábricas, porém muitas delas recebem outros usos, como é o caso dos galpões, em lote de mais de 26.000 m², entre as ruas Carneiro Leão e Caetano Pin- to, onde funciona atualmente a Igreja Mundial do Po- der de Deus, com capacidade para 10 mil pessoas. Em frente está a sede da Central Única dos Trabalhadores (CUT), maior central sindical brasileira. Tal lote, inseri- do em áreas de ZEIS, é vizinho aos empreendimentos da Cohab (2.204 unidades em 29 torres de vinte andares). Na Rua Piratininga estão lojas e reparadoras de pe- ças mecânicas e maquinários que servem as fábricas vi- zinhas. Tombados como patrimônio histórico, os balões de armazenamento de gás situados em frente à estação de metrô Pedro II funcionam como sede da Comgás. Foto: Nelson Kon Setor em que se encontra a longa e movimentada Rua da Mooca, o Cambuci apresenta conjunto de tipologias de baixo gabarito, no qual está presente o uso comer- cial, industrial e habitacional. Próximo ao viaduto da Mooca, que cruza o Rio Tamanduateí, está a Casa de Saúde Dom Pedro II e, na Rua Dom Bosco, as Escolas Profi ssionais Salesianas. A área de infl uência direta denominada Setor Cam- buci está desconectada do restante do tecido de sua área envoltória em função de uma série de barreiras viárias. Ao sul, na Avenida do Estado, sucessivas sobreposições de intervenções viárias formam uma barreia de 50 me- tros de largura, com uma única transposição de pedes- tres ao longo dos 1.500 metros da borda do setor. O Rio Tamanduateí, interrupção hidrográfi ca natu- ral, se soma à própria Avenida do Estado, principal via de conexão norte -sul que teve sua duplicação realizada através de uma laje elevada sobre o rio. Ao norte, a barreira é defi nida pela conexão viária Radial Leste, que forma o corredor viário leste-oeste. A leste, o fi nal da orla ferroviária defi ne a borda deste setor, caracterizada pelas grandes glebas industriais que seguem a sul pela Avenida Presidente Wilson. Algumas delas ainda estão em funcionamento e outras, em completo abandono, como é o caso da antiga cervejaria Antártica. Possui proximidade com a Estação da Mooca que possui difícil identifi cação e acesso. Concentra cortiços horizontais ao longo das ruas Odorico Mendes e Oscar Horta e nas proximidades do Parque Dom Pedro II. Abriga a festa popular de rua que acontece anualmente junto à igreja de São Genaro. Foto: Nelson Kon SETOR 7: GASÔMETRO SETOR 8: BRÁS SETOR 9: CAMBUCI 21PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos Setor 7: Gasômetro Setor 8: Brás Setor 9: Cambuci Foto: Nelson KonFoto: Nelson Kon Setor 1: Mercado Municipal Setor 2: Colina Histórica Setor 3: Glicério Setor 4: Igreja Pentecostal Setor 5: Pátio do Pari Setor 6: Zona Cerealista 22 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos 1. COMÉRCIO E SERVIÇOS 05 01 02 03 04 06 07 08 09 05 01 02 03 04 06 07 08 09 SETORES: 01. Mercado Municipal 02. Colina Histórica 03. Glicério 04. Igreja Pentecostal 05. Pátio do Pari 06. Zona Cerealista 07. Gasômetro 08. Brás 09. Cambuci 2. INDUSTRIAL Fonte: Regina Meyer, Marta Grostein I A Leste do Centro: Territórios do Urbanismo (2010)Fonte: Regina Meyer, Marta Grostein I A Leste do Centro: Territórios do Urbanismo (2010) USO PREDOMINANTE DO SOLO 0 100 500 23PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos 05 01 02 03 04 06 07 08 09 3. HABITAÇÃO Fonte: Regina Meyer, Marta Grostein I A Leste do Centro: Territórios do Urbanismo (2010) 800,00 - 1.200,00 / m² < 1.200,00/ m² Valor do Solo Urbano: Valor venal médio (R$/m²) por quadra fi scal > 485,00 / m² 485,00 - 800,00 / m² Fonte: Valor do Solo Urbano 2005, Município em Mapas, Série Pôster: Panorama – 7. Prefeitura de São Paulo. VALOR DO SOLO 05 01 02 03 04 06 07 08 09 24 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos SETORES, ZONEAMENTO E OPERAÇÃO URBANA 01. Mercado Municipal 02. Colina Histórica 03. Glicério 04. Igreja Pentecostal 05. Pátio do Pari 06. Zona Cerealista 07. Gasômetro 08. Brás 09. Cambuci USO E OCUPAÇÃO DO SOLO Lei n. 13.885, de 25 de Agosto de 2004 05 01 02 03 04 06 07 08 09 perimêtro da operação urbana centro perimêtro da operação urbana centro perim êtro da operação urbana centro Zona Mista de Alta Densidade – B Zona Mista de Alta Densidade – A Zona de Centralidade Polar – A Zona de Centralidade Polar – B ZEIS [Zona Especial de Interesse Social] ZEPEC [Zonas Especial de Preservação Cultural] Operação Urbana Centro Fonte: Uso e Ocupação do Solo, Planos Regionais e Estratégicos Subprefeituras Sé e Mooca ZEIS – Secretária Municipal de Habitação e Desenvolvimento Urbano [SEHAB] 0 100 500 25PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos PERÍMETRO PROPOSTO PARA O PLANO DE REFERÊNCIA rua dom pedro rua do g asômetr o av. ran gel pes tan a av. radial leste - oeste rua tabatinguera rua dr. rodrigo silva av. r ang el pe stan a vd. vin te c inc o d e m arç o av. do estado rua da fi gueira rua 25 de m arço rua boa vista ru a g en . c ar ne iro ru a da c an ta re ira av. mercúrio av . r ad ia l l es te - o es te rua o scar cintr a gor dinho av. do estado av. do estado av. do estado vd. a ntôn io naka shim a vd. diário popular 0 50 200 26 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos 01. Parque Dom Pedro II 02. Avenida do Estado 03. Rua da Figueira 04. Rua Parque Dom Pedro II 05. Marginal Tiête 06. Elevado Costa e Silva 07. Rua da Consolação 08. Rua Nove de Julho Parque Dom Pedro II Quadras fi scais Viário principal Projetos viários SIURB (Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras) Fonte: Programa do Sistema Viário Estratégico Metropolitano de São Paulo; Emurb SISTEMA VIÁRIO + PROJETOS SIURB TRANSPORTE SOBRE TRILHOS POLO DE TRANSPORTE PÚBLICOSISTEMA VIÁRIO 02 02 01 03 04 05 11 06 06 07 08 09 10 12 13 14 15 15 16 09. Avenida 23 de Maio 10. Rua da Mooca 11. Avenida Radial Leste 12. Rótula 13. Contra-Rótula 14. Avenida Rangel Pestana 15. Proposta de via em desnível 16. Proposta de viário elevado A N Á LI SE U RB A N A CPTM 01. Linha 08, Diamante 02. Linha 07, Rubi 03. Linha 12, Safi ra METRÔ 04. Linha 01, Azul 05. Linha 02, Verde 06. Linha 03, Vermelha 07. Linha 04, Amarela (em construção) 08. Linha 18, Marrom (projeto) Parque Dom Pedro II Quadras fi scais Ferrovias Metrô Metrô Proposto 01 02 02 03 04 05 06 07 08 27PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos TERMINAL PARQUE DOM PEDRO II, TERMINAL EXPRESSO E LINHAS DE ÔNIBUS 01 02 03 04 05 0 250 1000 01. Terminal Parque Dom Pedro II 02. Terminal Expresso Parque Dom Pedro II 03. Terminal Bandeira 04. Terminal Amaral Gurgel 05. Terminal Princesa Isabel Parque Dom Pedro II Quadras fi scais Terminais metropolitanos TERMINAIS METROPOLITANOS Parque Dom Pedro II Quadras fi scais Terminais metropolitanos Linhas de embarque e desembarque no Terminal Parque Dom Pedro II Linhas de passagem pelo Terminal Parque Dom Pedro II 28 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos 01. Parque Dom Pedro II 02. Avenida do Estado 03. Rua da Figueira 04. Rua Parque Dom Pedro II 05. Avenida Rangel Pestana 06. Viaduto 25 de Março 07. Praça Dr. João Mendes 08. Rua Anita Garibaldi 09. Avenida Radial Leste 10. Rua da Mooca 11. Avenida Mercúrio 12. Avenida Senador Queirós 13. Rua Santa Rosa 14. Viaduto Diário Popular 15. Viaduto Antônio Nakashima 16. Viaduto sobre o Rio Tamanduateí 17. Rua 25 de Março 18. Rua da Cantareira 19. Rua do Gasometro 20. Rua Tabatinguera Construções Viário Principal 02 02 02 02 01 03 03 04 04 05 05 06 07 08 09 10 12 11 13 14 15 02 16 02 15 16 17 18 02 19 17 17 20 Metrô Terminais Metropolitanos SISTEMA VIÁRIO E TRANSPORTE PÚBLICO CONDICIONANTES FÍSICO-ESPACIAIS 0 50 200 29PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos OBSTÁCULOS OBSTÁCULOS LESTE - OESTE OBSTÁCULOS NORTE - SUL Foto: Nelson Kon 30 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos 1890 Fonte: Planta da Capital do Estado de São Paulo Julles Martin 1958 Fonte: Foto Aérea da Cidade de São Paulo Geoportal 2008 Fonte: Foto Aérea Google Earth 1930 Fonte: Mapa Topográfi co do Município de São Paulo Sara Brasil A EVOLUÇÃO DO SISTEMA DE ÁREAS VERDES E LIVRES 31PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos ÁREAS RESIDUAIS ÁREA DE PARQUEÁREAS DE USOS ESPECIFICOS ÁREAS LIVRES: SITUAÇÃO ATUAL 32 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos TEATRO MUNICIPAL PREFEITURA PÁTIO DO COLÉGIO TERMINAIS DE ÔNIBUS CATAVENTOED. ALTINO ARANTES 757 730 CATEDRAL DA SÉ ESTAÇÃO DE METRÔ PDPII 780 730 TOPOGRAFIA 33PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos Rua 25 de Março, Abril 2010 Localizada na várzea do Rio Tamanduateí, a área do Parque Dom Pedro II e seu entorno sempre teve a drenagem como uma de suas questões mais pro- blemáticas e marcantes. Registros de alagamentos podem ser encontrados ao longo de toda a sua his- tória e, apesar de todas as obras realizadas até hoje, a questão das águas nessa região persiste como um problema não resolvido. Tendo a clareza de que os problemas relaciona- dos à bacia do Tamanduateí não podem ser resol- vidos de maneira pontual e localizada, a proposta desenvolvida abordou o tema da drenagem a partir da escala local, desvinculando suas soluções de pro- postas estruturais na escala metropolitana. A questão da drenagem foi encarada, mais do que como solução de problemas de saneamento, como estruturação da paisagem e qualifi cação dos espaços livres públicos. Dessa forma, as ações pro- postas assumem sempre múltiplas dimensões, sendo simultaneamente infraestrutura, arquitetura, urba- nismo e paisagem. O projeto foi elaborado com a consultoria da Hidrostudio. Foram desenvolvidos dois sistemas distintos de drenagem, um para a margem leste (ba- cia Gasômetro/Brás) e outro para a porção oeste do parque (bacias Tabatinguera / Avenida Rangel Pesta- na, Avenida Rangel Pestana / Rua General Carneiro e Rua General Carneiro / Rua 25 de Março). DRENAGEM Várzea do Carmo, 1918. Fonte: Ângela Garcia, José Martins, Rubens Junior I Aurélio Becherini (2009) 34 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos EQUIPAMENTOS PÚBLICOS + TEMPO x ESPAÇO Equipamentos culturais Bibliotecas Fonte: Infolocal Prefeitura de São Paulo Escolas e creches Cursos técnicos e faculdades OS EQUIPAMENTOS PÚBLICOS 0 250 1000 35PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos Mercado Municipal Catavento Terminal Expresso e Estação de Metrô PDPII Colégio São Paulo Terminal PDPII e Terminal Expresso Mercado Casa das Retortas [futuro Museu do Estado] 36 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos EDIFICAÇÕES TOMBADAS 01. Mercado Municipal da Cantareira 02. Mercado Municipal 03. Palácio das Industrias 04. Gasômetro – Casa das Retortas 05. Gasômetro – Conjunto dos Balões 06. Quartel 2º Batalhão de Guardas 07. Igreja Nossa Senhora da Boa Morte 08. Capela de Santa Luzia 09. Palácioda Justiça 10. Edidício da Associação Auxiliadora das Classes Laboriosas 11. Solar da Marquesa de Santos 12. Edifício do Antigo Banco de São Paulo – Banespa 13. Residência Marieta Teixeira de Carvalho Edifícios Tombados pelo Condephat – Secretaria da Cultura SP Edifícios Tombados pelo Conpresp – DPH ZEPEC [Zona Especial de Interesse Social] Antiga Lei n. Z8-200 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 0 50 200 37PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos CARACTERIZAÇÃO DE USOS ATUAIS DO PARQUE DOM PEDRO II Antiga passarela sobre o Rio Tamanduateí Frente ao Museu Catavento, ao lado do Viaduto Diário PopularCanteiro junto a Avenida do Estado, em frente ao Museu Catavento Proximidades do Terminal Parque Dom Pedro IIAvenida Mercúrio, próxima ao CataventoImediações dos terminais Parque Dom Pedro II e Expresso Mercado Praça Fernando CostaGradeamento ao redor do CataventoEspaço de Convivência Jardim da Vida – Dom Luciano Mendes de Almeida 38 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos VIA EXPRESSA 01. Parque Dom Pedro II 02. Avenida do Estado | Projeto de via subterrânea 01 02 Construções Avenida do Estado. Via em nível Avenida do Estado. Via subterrânea NOVOS CRUZAMENTOS 01. Parque Dom Pedro II 02. Avenida do Estado | Projeto de via subterrânea 01 02 Construções Avenida do Estado. Via em nível Avenida do Estado. Via subterrânea Novos cruzamentos em nível OBRAS PREVISTAS [PMSP] 01. Projeto de rebaixamento da Avenida do Estado (Emurb) 02. Projeto da Linha Marrom do Metrô (Metrô) 03. Demolições das quadras 34, 35 e 36 04. Demolição do Viaduto Diario Popular Construções Avenida do Estado. Via em nível Avenida do Estado. Via subterrânea Demolições propostas Metrô proposto 01 01 02 03 04 PL A N O U RB A N ÍS TI CO P A RQ U E D OM P ED RO II QUESTÕES BALIZADORAS DA PROPOSIÇÃO 39PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos 01 02 03 05 04 06 07 08 09 10 11 12 TERMINAL INTERMODAL 01. Parque Dom Pedro II 02. Avenida do Estado | Projeto de via subterrânea 03. Metrô Linha Marrom 04. Metrô Celso Garcia 05. Terminal intermodal 06. Estação de Metrô Pedro II Construções Avenida do Estado. Via em nível Avenida do Estado. Via subterrânea Novos cruzamentos em nível Metrô Linha Vermelha Metrô Celso Garcia 01 02 03 05 04 06 Novo terminal intermodal Metrô proposto LAGOA DE RETENÇÃO 01. Parque Dom Pedro II 02. Avenida do Estado | Projeto de via subterrânea 03. Metrô Linha Marrom 04. Metrô Celso Garcia 05. Terminal intermodal 06. Estação de Metrô Pedro II Construções Avenida do Estado. Via em nível Avenida do Estado. Via subterrânea Novos cruzamentos em nível Metrô Linha Vermelha Metrô Celso Garcia Novo terminal intermodal Hidrografi a e drenagem 01 02 03 05 04 06 07 08 09 10 Metrô proposto ESTACIONAMENTOS Novos equipamentos 01. Parque Dom Pedro II 02. Avenida do Estado | Projeto de via subterrânea 03. Metrô Linha Marrom 04. Metrô Celso Garcia 05. Terminal Intermodal 06. Estação de Metrô Pedro II Construções Avenida do Estado. Via em nível Avenida do Estado. Via subterrânea Novos cruzamentos em nível Metrô Linha Vermelha Metrô Celso Garcia Novo terminal intermodal Hidrografi a e drenagem Estacionamentos Metrô proposto 0 50 200 07. Rio Tamanduateí 08. Córrego Anhangabaú 09. Córrego Moringuinho 10. Lagoa de drenagem, tratamento e reuso 11. Arco Norte 12. Arco Oeste 07. Rio Tamanduateí 08. Córrego Anhangabaú 09. Córrego Moringuinho 10. Lagoa de drenagem, tratamento e reuso 40 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos PLANO PARQUE DOM PEDRO II 01. Mercado Municipal 02. Praça do Mercado. Acesso ao metrô 03. Acesso estacionamento 04. Edifício comércio e serviço 05. Sesc 06. Senac 07. Praça de eventos 08. Lagoa de drenagem, tratamento e reuso 09. Galeria Comercial e Terraço Restaurante 10. Ligação com o Pátio do Colégio 11. Pátio do Colégio 12. Comércio e habitação 13. Torre de escritórios 14. Estação intermodal 15. Estação de metrô Pedro II 16. ZEIS (Zona Especial de Interesse Social) 01 02 05 08 11 09 1413 04 0603 07 10 12 12 12 12 15 16 16 16 16 IMPLANTAÇÃO GERAL 0 50 200 41PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos Maquete eletrônica do projeto 42 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos Parque Dom Pedro II, situação atual Foto: Nelson Kon 43PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos Parque Dom Pedro II, proposta (fotomontagem) 44 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos SISTEMA VIÁRIO O conjunto de espaços hoje denominado Parque Dom Pedro II é resultado de uma série de operações viárias vinculadas à escala metropolitana, que negli- genciaram o antigo parque, esfacelando-o em espa- ços isolados e descontínuos. Ao longo dos anos, por meio dessas ações desarticuladas, foram retirados desses espaços suas relações de vizinhança, suas virtudes paisagísticas e urbanas. O plano aqui apresentado para o Parque Dom Pedro II tem como principais questões a aproxi- mação do centro histórico aos bairros a leste do Rio Tamanduateí, a reorganização dos sistemas de transporte e a qualifi cação do espaço público de forma integrada, por meio de ações específi cas e interligadas. O plano não busca restaurar o caráter original do parque, mas indicar uma nova vocação urbana, que valorize a paisagem e os edifícios históricos e seja também capaz de responder às demandas atuais, com o incremento de conexões urbanas, espaços públicos qualifi cados, redes de drenagem, áreas verdes e transporte. Sendo o Parque Dom Pedro II um ponto de con- fl uência entre diversas modalidades de transporte, a reorganização de todos esses sistemas é o ponto de partida que permite alicerçar os demais. Assim, enfatizamos que as propostas de infraes- trutura, especialmente as viárias aqui propostas, têm como objetivo: a qualifi cação do espaço público, a possibilidade de requalifi cação do parque e o esta- belecimento de uma efetiva ligação na escala local. Foto: Nelson Kon 45PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos LIGAÇÃO EXPRESSA NORTE-SUL REBAIXAMENTO DA AVENIDA DO ESTADO A proposta de rebaixamento da Avenida do Estado, obra de abrangência metropolitana relativa ao Com- plexo Viário formado pela Avenida do Estado entre a Avenida Mercúrio e a Avenida Cruzeiro do Sul, elaborada em conjunto pela SIURB e EMURB, tor- nou-se uma das premissas deste Plano Urbanístico. Propõe-se neste plano a extensão da via em túnel indicada por estes órgãos (trecho de 920 m da Ave- nida Mercúrio até o viaduto Diário Popular) por mais aproximados 600 m, até as proximidades da Avenida Radial Leste Dessa forma, o fl uxo expresso de veículos pas- sará sob o parque, resultando em grandes vanta- gens, tanto para a cidade, que se reaproxima do Rio Tamanduateí, como para as ruas Dom Pedro II e da Figueira, as quais passam a receber somente tráfego local, permitindo as conexões atualmente inexistentes entre os lados leste e oeste do parque. Ambas poderão receber novos cruzamentos e promover retornos: enquanto a Rua da Figueira desempenhará com maior efi ciência a ligação en- tre a Avenida Rangel Pestana e a Avenida Senador Queiroz, a Rua Dom Pedro II assumirá caráter local frente à colina histórica. Projeto (via expressa subterrânea)Situação atual (vias existentes em nível) 46 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos Projeto (vias em nível)Situação atual (viadutos existentes) ELIMINAÇÃO DE OBRAS (VIADUTOS) E NOVAS TRAVESSIAS No momento que a Avenida do Estado passa a ser uma via subterrânea, torna-se possível realizar to- das as transposições sobre oRio Tamanduateí em nível, tornando obsoleto o complexo de viadutos que corta a porção central do parque. Essas novas vias em nível no sentido leste-oeste permitem a cos- tura do tecido urbano fragmentado. A proposta de demolição dos viadutos 25 de Março, Mercúrio, Antônio Nakashima e Diário Po- pular, e suas respectivas substituições por vias em nível, está associada a duas premissas importantes: primeiro, garantir a circulação de pedestres no Par- que Dom Pedro II de forma contínua, permitindo muitas opções de caminhamento; segundo, eliminar os obstáculos e espaços residuais que estas obras produzem nas áreas internas do próprio parque. Estão propostas duas vias, transversais ao par- que, como continuação das ruas Maria Domitila e do Gasômetro. Cada uma cruzará o rio através de pequenos pontilhões em nível com o parque, os quais incluem passeios largos, estimulando a passa- gem de pedestres. Este conjunto de novas obras viárias aproximam o Parque Dom Pedro II do seu entorno imediato e resgatam relações de contiguidade entre as duas margens do Rio Tamanduateí, rompidas desde 1972. Aproximam o Centro Histórico ao Brás, o Mercado Municipal à Zona Cerealista, o Pátio do Colégio ao Museu do Estado, a Praça da Sé ao me- trô Pedro II. LIGAÇÕES TRANSVERSAIS 47PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos ESTAÇÃO INTERMODAL E TRANSPORTE PÚBLICO Foi alvo do estudo que antecedeu este plano o siste- ma físico que apoia o transporte público, incluindo o sistema viário, o Expresso Tiradentes, o Termi- nal Dom Pedro II e a Estação Pedro II da Linha 3 do Metrô. O atual Terminal Parque Dom Pedro II da SPTrans, localizado na Avenida do Exterior, junto à Avenida do Estado, é considerado o mais movi- mentado da cidade, servindo quase todas as áreas de operação da cidade: com 93 linhas de ônibus, possui uma taxa diária de usuários da ordem de 200 mil pessoas. No pico da manhã, circulam no terminal, 806 ônibus por hora, sendo 203 de linhas de passagem e no pico da tarde, 603 ônibus por hora, sendo 100 de linhas de passagem. Desde a inauguração do Expresso Tiradentes (2007), o Ter- minal Dom Pedro II ganhou novas funções. Sua re- lação direta com o Terminal Mercado, ponto inicial do Expresso Tiradentes, lhe confere hoje um grau de complexidade ainda maior. A Estação Mercado é utilizada por duas linhas, o que representa 75 mil passageiros por dia, sendo que no pico da manhã circulam cinquenta ônibus por hora. O Terminal Parque Dom Pedro II, criado em 1966 e ampliado de forma provisória, tinha demolição prevista para dez anos após o término das obras, em 1994; sua inefi ciência é um dos problemas mais candentes da atual conjuntura urbana do parque. Importante ponto de análise e de identifi cação de premissas para este plano foi o reconhecimento dos “nós” de transporte intermodal como elemento essencial na qualifi cação das funções e dos espaços urbanos dessas áreas. Acreditamos que a trans- formação do tecido urbano e das funções urbanas no Parque Dom Pedro II e seu entorno imediato estão diretamente relacionadas a uma proposta de ProjetoSituação atual articulação racional do espaço do transporte público no parque. Assim, a criação de uma estação intermo- dal de porte condizente com a atual demanda é um dos pontos fundamentais deste Plano Urbanístico. A nova estação intermodal, conectada à Esta- ção Pedro II do metrô (Linha Vermelha), reúne os dois terminais de ônibus (SPTrans e Expresso Ti- radentes) hoje distribuídos no parque. Há também previsão de receber a futura estação de metrô da linha que percorrerá a Avenida Celso Garcia. Tal concentração de sistemas garante grande efi ciência ao transporte metropolitano, permitindo de forma direta a transferência do usuário de um meio de transporte à outro, multiplicando possibilidades de percursos e reequacionando as linhas. Sua nova localização reduz a circulação de ônibus ao redor do parque, melhora o trânsito nas vias locais e, de forma signifi cativa, também as condições de travessias dos pedestres. A estrutura proposta, que compõe com o metrô existente a nova estação, defi ne uma ligação importante entre os dois lados do rio. Uma ampla calçada, paralela ao terminal, faz uma conexão direta entre o sistema de transporte e a Avenida Rangel Pestana, tanto na direção Praça da Sé como em direção à Zona Leste. Poderá usu- fruir do amplo passeio público já implantado nessa avenida, na ligação que estabelece com o centro his- tórico, poupa tempo, além da conexão criada com a “nova” 25 de Março. Essa localização aproxima 48 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos os usuários da Estação Praça da Sé, destino de grande parte dos passageiros que desembarcam no atual terminal. Outro dado importante é que essa localização, na porção sul do Parque Dom Pedro II, está mais próximas da áreas com uso predominantemente habitacional e das principais ZEIS, que representam um importante estoque de áreas para o adensamento de habitação para a população de baixa renda. Em relação às linhas de ônibus, a estação intermodal organiza os acessos viários vindos das diversas localidades de forma adequada, diante à variedade de fl uxos e situações urbanas. As plataformas ao norte (720 m) recebem os ônibus que provêm de toda cidade, principalmente da zona leste e do Centro. As linhas que passam pela Sé chegam e saem do terminal através da via de apoio paralela a Avenida Rangel Pestana, enquanto as linhas com origem na zona leste acessam as plataformas pela Rua da Figueira, podendo sair pela mesma rua, ou pela Rua Dom Pedro II. A plataforma a leste (170 m), de acesso controlado, recebe os ôni- bus vindos da zona sul e do Expresso Tiradentes. Foram desenvolvidas análises específi cas de formação de fi la, densidade de veículos e velocidade, para garantir a viabilidade e efi ciência da estação. A nova estação intermodal resulta de uma articulação de preexistências, construídas e naturais. A estação circunda uma área verde ampla e densa, defi nin- do uma grande praça pública, que oferece uma qualidade de espaços sombreados, de permanência ou de passagem, para seus usuários. As plataformas do terminal de ônibus foram desenhadas com 86 metros de comprimento, se desenvolvendo em parte como ponte sobre o rio. O Expresso Tiradentes, um serviço de média capacidade, necessita de um terminal independente, fechado, com bilhetagem externa ao ônibus. Perpendicular a essas plataformas, o terminal do Expresso Tiradentes foi projetado com uma plataforma central e o mezanino invertido (no pavimento inferior). A estação de metrô existente é abraçada pela cobertura da estação e incorporada com delicadeza ao novo conjunto. Essa confi guração per- mite uma conexão direta, coberta, entre todos os modos de transporte público. Tal projeto deverá assumir papel catalisador das transformações almejadas para todo o parque. A multifuncionalidade é princípio do projeto. Por ser um equipamento urbano complexo, a estação deve criar além de um polo de trans- porte público, um lugar privilegiado de vivência social. A concentração de infra- estrutura de transporte com funções urbanas é uma prática contemporânea bem sucedida na medida em que oferece aos usuários suporte para seus deslocamen- tos diários, dentro de um ambiente de conforto e segurança. Terminal Parque Dom Pedro II e Terminal Expresso Mercado Estação de Metrô Pedro II 49PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos 01. Estação Pedro II do Metrô 02. Terminal de Ônibus 03. Terminal Expresso Tiradentes 04. Acesso Norte 05. Acesso Leste Sentido da Via ESTAÇÃO INTERMODAL 01 02 03 04 05 0 20 100 50 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos Acesso e mezanino (pavimento inferior)| Terminal Expresso Tiradentes Plataformas de embarque e desembarque | Terminal Expresso Tiradentese terminal de ônibus 51PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos Estação intermodal | Terminal Expresso Tiradentes e terminal de ônibus Estação intemodal | terminais e metrô 52 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos PEDESTRES A circulação de pedestres no Parque Dom Pedro II possui uma organização paradoxal. Por um lado, congrega uma enorme massa de usuários dos transportes públicos e, por outro, não é oferecido nenhum caminhamento contínuo e seguro para pe- destres. A desarticulação dos espaços, cruzados pelo sistema viário que o atravessa de forma dissociada, tanto no que diz respeito aos modos de transporte, quanto às conexões facilitadas pelos viadutos que ligam com pontos distantes da cidade, repercute nos percursos dos pedestres. Os vazios e áreas residuais, o sistema viário expresso e os grandes equipamentos de transporte público fazem do Parque Dom Pedro II uma bar- reira longitudinal ao longo de 1,3 km. Existem hoje apenas duas travessias de pedestres no parque, sen- do uma delas a passarela elevada sobre o rio, hoje de difícil acesso. Em sua nova confi guração, o Parque Dom Pedro II passará de barreira a espaço de conexão dos fl u- xos de pedestres que para lá convergem. Junto ao sistema viário proposto (as novas vias em continui- dade com as ruas Polignano A. Maré, Gasômetro, Maria Domitila, Rangel Pestana) amplas calçadas passam, mínimo de oito metros, passam a fazer par- te da rede de pedestres hoje estruturada. Ao possibilitar os cruzamentos em nível, o pro- jeto multiplica caminhos, encurta percursos. NOVA DISTRIBUIÇÃO DE FLUXOS ProjetoSituação 53PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos 1945 1968 1974 2006 TRAVESSIAS DO RIO TAMANDUATEÍ EM NÍVEL, EXISTENTES ENTRE 1945 E 2006 Calçada cercada por entre o Parque Dom Pedro II Fonte: Regina Meyer; Marta Grostein. A Leste do Centro: Territórios do Urbanismo (2010) Calçadas estreitas e sem manutenção [Avenida do Estado] Caminho por entre o parque ao lado do Terminal Mercado 54 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos LAGOA DE DRENAGEM, TRATAMENTO E REUSO Na face do parque voltada para a colina histórica, a margem oes- te, foi desenhada uma lagoa que desempenha funções diversas. Uma extensa praça linear deverá acompanhar a Rua Dom Pedro II, interagindo com os diversos programas localizados especial- mente nos térreos dos antigos e novos edifícios. A lagoa é elemen- to determinante no desenho desse espaço público: cria uma outra frente para a praça linear, uma frente de água com amplas arqui- bancadas que servem como local de estar e defi ne uma passagem suave entre a cota da praça e o nível de água permanente. Ela cria uma paisagem urbana nova, fortemente vinculada à geografi a original do local, como várzea constantemente alagada. A lagoa foi projetada como um tanque de retenção capaz de armazenar o excedente das águas de chuva nas épocas de altos índices pluviométricos, evitando os frequentes alagamentos da região. As águas pluviais serão conduzidas por uma nova rede de microdrenagem para um conjunto de tanques onde será fei- ta retenção do lixo e sedimentação de parte dos sólidos. Após essa fi ltragem inicial as águas são bombeadas para um sistema de fi ltragem natural, através de alagados construídos (wetlands). Durante aproximadamente três dias, as águas percorrem por gra- vidade essa área úmida vegetada, conjugada com microorganis- mos e espécies animais. Após esse período, a água tratada atinge o extenso trecho da lagoa que acompanha a praça linear, junto às áreas de uso público. Sua qualidade após o tratamento permite o contato das pessoas e sua utilização para irrigação do parque. O nível permanente da lagoa é garantido pelos corpos d’água existentes. Em situações de índices pluviométricos extremos, chuvas excepcionais, o volume de água excedente é bombeado e transborda pelas wetlands até encher toda a lagoa, encobrindo as arquibancadas laterais. Uma vez passado o pico de chuva e nor- malizado o nível do Tamanduateí, essa água excedente é lançada ao canal até restabelecer o nível permanente da lagoa. De acordo com o relatório do Hidrostudio, os principais usos das wetlands são: a melhoria da qualidade da água, a retenção do escoamento superfi cial e a criação de um ambiente que possa com- pensar a perda de várzeas naturais em centros urbanos; suas prin- cipais vantagens são a fácil construção, o baixo custo de manuten- ção, o modesto consumo de energia, a boa inserção paisagística, a fácil operação e a baixa sensibilidade à variabilidade do afl uente. 55PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos Na porção leste do parque, em função da escas- sez de áreas livres para reproduzir o mesmo sistema, foi proposto um tanque de retenção subterrâneo di- mensionado para armazenar a maior parte das chu- vas ao longo do ano. O sistema é complementado por uma área rebaixada do parque, utilizada nor- malmente como uma arena ao ar livre para eventos culturais e esportivos, que pode ser inundada em situações extremas de chuva transformando-se em uma lagoa temporária de retenção. As propostas desenvolvidas assumem caráter exemplar de alternativa ao atual modo de lidar com os problemas da drenagem. Embora de alcance pontual, demonstram uma estratégia de ação que, replicada em escala metropolitana, permitiria equi- librar a relação da cidade com seus rios e criar um abrangente sistema de espaços públicos qualifi cados. Esse projeto foi desenvolvido com a consultoria da Hidrostudio. ProjetoSituação 56 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos 57PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos PRAÇA DE EVENTOS/DRENAGEM 58 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos 0 50 200 DIRETRIZES PARA ENTORNO DO PARQUE Quadras do entorno direto do Parque Dom Pedro II: devem ser estudadas normas específi cas de uso e ocupação do solo e formas de valorização da ambiência urbana e da amplitude visual entre a várzea e a colina histórica. ÁREAS ADJACENTES COM POTENCIALIDADES 59PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos Foto Aérea, 2008 0 50 200 60 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos O setor norte do Parque é caracterizado pela presença de importantes edifícios históricos, especialmente o Mercado Municipal, o Palácio das Indústrias e a Casa das Retortas. Entretanto, a desarticulação urbana do conjunto se sobrepõe aos usos atuais, e apesar da proximidade física entre esses prédios, o isolamento entre eles é completo. O projeto parte de defi nições previamente estabelecidas pela Prefeitura Mu- nicipal de São Paulo: a desapropriação das quadras 034, 035 e 036, localizadas entre a Rua Mercúrio, Avenida do Estado e Praça São Vito, onde estavam lo- calizados os edifícios São Vito e Mercúrio. Outro pressuposto, de acordo com determinações municipais, é a demolição do Viaduto Diário Popular. Assim, a programada demolição dos edifícios Mercúrio e São Vito e a integra- ção de seus terrenos ao novo parque abre a possibilidade de uma nova articulação entre os edifícios históricos. A abertura de novas vias transversais, que transpõem o Rio Tamanduateí, criará condições para interligação do parque com a cidade. O Mercado Municipal é um dos pontos mais vitais do centro antigo de São Paulo, recebendo um número imenso de visitantes diariamente. O edifício, inau- gurado em 1933, embora ocupando toda a quadra, está bastante constrangido em seu entorno, com difi culdades operacionais e carência de estacionamento. Um conjunto integrado de intervenções no Parque Dom Pedro II fornecerá novas condições ao setor norte, que possui vocação para conferir qualidades ao uso público do parque. A desapropriação das referidas quadras abre a possibilidade da confi guração de uma única quadra que englobe as duas ruas locais, as quais defi nem essa ponta do parque, hoje absolutamente constrangida pelas grandesavenidas e pelo viaduto circundantes. O rebaixamento da Avenida do Estado, já descrito, amplia sua conexão com o entorno, aproximando essa ponta do parque do Mercado Municipal. Foi criada uma nova rua transversal, de caráter local, separando a nova quadra do restante do parque. É uma rua que cruza o rio, fazendo a liga- ção da Rua da Figueira com a Rua da Cantareira. A proposta inclui (em fase posterior) a desapropriação de uma das quadras la- terais ao mercado, ampliando o espaço livre contíguo ao edifício, criando a Praça do Mercado, com mais de 9 mil metros quadrados. A nova praça desempenha um variado conjunto de funções: valoriza o próprio edifício do Mercado e resgata a ideia de praça associada ao edifício, como no caso do antigo Mercado Municipal (que precedeu ao atual). Entende-se ainda que sua preservação patrimonial deve incluir a qualidade do entorno, que foi sendo ao longo dos anos maciçamente ocupado por novas edifi cações e densamente povoado por usuários do mercado, PR OP OS TA S PA RA S ET OR ES E SP EC ÍF IC OS ARCO NORTE do comércio lindeiro, por pessoas que trabalham e moram na região, além de um fl uxo defi nido pela proximidade do maior terminal de ônibus da cidade. Todos os usuários são de grande interesse para esse equipamento, mas estabelecem uma demanda crescente de organização espacial para a melhoria de suas funções. A praça deve criar condições também para novas atividades como feiras tem- porárias e eventos ao ar livre, associadas ao mercado. Será ainda, como foi dito, o endereço de uma estação de metrô, da futura Linha Marrom. A Avenida do Estado, quando rebaixada, permitirá que em seu lugar perma- neça apenas uma rua de caráter local. Uma ampla plataforma cruza a nova via e o Rio Tamanduateí, permitindo a ligação direta entre o Mercado e os edifícios do Sesc e do Senac. Esse novo espaço público é elemento fundamental para a integração do con- junto ao parque. SESC [SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO] SENAC [SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM COMERCIAL] A conexão entre as duas margens do Rio Tamanduateí é reforçada pela nova via, sob o atual Viaduto Diário Popular, na qual serão implantadas uma unidade do Sesc e outra do Senac. Esses dois edifícios respondem ao anseio de programas de vocação pública, inclusão social, funcionamento diurno e noturno, caracterís- ticas que podem garantir a essa nova rua, como conexão efi ciente, intensa vida urbana. O edifício do Senac é essencialmente uma escola técnica, onde grande parte dos cursos oferecidos serão gratuitos. O Sesc, como se sabe, possui grande parte do programa aberto a toda sociedade, oferecendo uma notável agenda de eventos culturais (exposições, shows, palestras etc.), em espaços qualifi cados de lazer e convivência. As duas instituições, independentes entre si, têm se fi rmado como programas de excelência na qualidade dos serviços, da gestão e dos espaços. Programas muito adequados ao local, podendo-se identifi car um recíproco incremento de qualidade, em que instituição e cidade se benefi ciam mutuamente. Assim, as instituições tendem a ganhar muito na interlocução urbana oferecida pelo novo Parque Dom Pedro II, ao mesmo tempo que o parque certamente consegue ganhar uma forte caracterização no setor norte, agregando e potencializando os importantes equipamentos públicos existentes no local: o Catavento, o Mercado Municipal e o futuro Museu da História do Estado de São Paulo, localizado na Casa das Retortas. 61PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos Arco Norte, proposta (Fotomontagem) 62 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos Vista atual do Arco Norte (Foto: Bebete Viégas, 2012) 63PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos SITUAÇÃO EXISTENTE 1. Mercado Municipal 2. Estacionamento do mercado 3. Quadra fi scal 032 4. Quadras fi scais 034, 035 e 036 5. Viaduto Diário Popular 6. Estacionamento Catavento 7. Catavento Cultural 8. Casa das Retortas 1 2 3 4 5 6 7 8 IMPLANTAÇÃO 1. Mercado Municipal 2. Praça do Mercado 3. Acessos estacionamento 4. Acesso ao metrô 5. Comércio e serviço 6. Lagoa 7. Sesc 8. Acesso Estacionamento 9. Senac 10. Catavento Cultural 11. Praça 12. Casa das Retortas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 010 50 010 50 64 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos PRAÇA DO MERCADO, SESC E SENAC | IMPLANTAÇÃO SESC SENAC EDIFÍCIO COMERCIAL PRAÇA DO MERCADO 0 10 50 65PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos IMPLANTAÇÃO SEGUNDO PAVIMENTO: escritórios PRIMEIRO PAVIMENTO: escritórios TÉRREO: lojas SUBSOLO: estacionamento PRAÇA DO MERCADO E EDIFÍCIO COMERCIAL 0 5 20 66 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos RUA DA CANTAREIRA Comércio Comércio Comércio e Residencial ComércioComércio e Residencial Comércio e Residencial RUA DR. ITAPURA DE MIRANDA Comércio e Residencial Comércio Comércio e Residencial Comércio e Serviços Comércio e Residencias Comércio Comércio e Serviços PRAÇA DO MERCADO, SESC E SENAC | LEVANTAMENTO: QUADRA ADJACENTE AO MERCADO 67PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos Comércio e Serviços Comércio e Residencial Comércio Comércio Comércio e Residencial Comércio Comércio Comércio e Residencial AVENIDA DO ESTADO Comércio Comércio e Residencial Comércio e Residencial Comércio Comércio Comércio e Residencial Comércio e Residencial Comércio e Residencial Comércio e Residencial Comércio RUA COM. ASSAD ABDALLA 68 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos PRAÇA DO MERCADO E EDIFÍCIO COMERCIAL 0 2 10 EDIFÍCIO COMERCIAL 0 2 10 EDIFÍCIO COMERCIAL MERCADO MUNICIPAL 69PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos A implantação do Senac resulta da intenção deste Plano Urbanístico de reverter o caráter assumido ao longo de muitos anos pela face posterior do Palácio das Indústrias como fundo do Parque Dom Pedro II, procurando transformá-lo em uma nova frente desse conjunto. A implantação do Senac cria uma relação de conjunto com o Palácio das Indústrias, numa proposta que guarda a memória da implantação desenvolvida pela arquiteta Lina Bo Bardi para o edifício das secretarias, quando projetou o conjunto para abrigar a Prefeitura Municipal de São Paulo no Palácio das Indústrias. O edifício do Senac, da mesma largura do Palácio das Indústrias, é uma lâmina com duas faces para o edifício histórico e para a nova rua. Um amplo espelho d’água une os dois prédios, com a diferença que o edifício do Senac está sobre pi- lotis, e o palácio eclético limita e desenha a água em seus recortes. Sob essa lâmina d’água, um amplo estacionamento que ajuda a atender a demanda da região. O prédio do Senac está ligado a ideia de percurso, através de uma série de escadas rolantes que proporcionam a quem sobe o progressivo descortinar de vistas cada vez mais longínquas sobre o palácio, o parque e a própria cidade. Assim, logo acima do saguão de ingresso, estão a biblioteca e o foyer do teatro, onde um pequeno café ampara esse dois programas convidativos ao público em geral. A partir daí, a inversão no sentido de subida das escadas rolantes pontua o início dos andares que acomodam salas de aula, laboratórios e demais espaços pedagógicos. As circulações horizontais desses andares são sempre abertas de um dos lados, fugindo ao modelo de corredores. Além disso, cada andar dispõe de uma varanda que vaza toda espessura do edifício, abrindo vistas duplas em pontos diferentes em cada andar, o que também os torna distintos e reconhecí- veis. O último andar abriga as atividades administrativas. SENAC PARQUE DOM PEDRO II Senac Parque Dom Pedro II 70 PARQUE DOM PEDRO II plano e projetos Sesc Parque Dom Pedro II e Senac Parque Dom Pedro II PRAÇA DE EVENTOS PALÁCIO DAS INDÚSTRIAS
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