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Introdução a Filosofia Aula 1 Apostila I

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INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
Método de apresentação do conteúdo:
Abordagem temática-conceitual
Noções breves:
Conceito de Filosofia
Filosofia e as ciências particulares
Filosofia e a Teologia 
Filosofia e o Senso comum
Divisão da Filosofia (principais partes, problemas e temas):
As grandes partes e os principais problemas da Filosofia
1. Lógica 
a) Lógica menor ou formal (as regras e leis do raciocínio correto)
b) Lógica maior ou material
b.1) A demonstração
b.2) As ideias e o problema universal
2. Filosofia especulativa (teorética)
2.1. Filosofia do número (Filosofia das matemáticas) – que corresponde ao segundo nível de abstração do intelecto
2.2. Filosofia do Ser móvel ou Sensível (Filosofia da Natureza ou Cosmologia) – corresponde ao primeiro grau de abstração do intelecto humano;
a) O mundo corpóreo (o mundo material em si mesmo)
b) O homem (psicologia)
2.3. Filosofia do Ser enquanto ser (Metafísica ou Teologia Natural) – que corresponde ao ato supremo de abstração (terceiro nível) possível ao homem;
a) Crítica 
b) Ontologia
b.1) A Essência
b.2) A Substância e o Acidente
b.3) O Ato e a Potência
c) Teodiceia
3. Filosofia Prática
3.1. Filosofia do “Fazer” (Filosofia da Arte)
3.2. Filosofia do “Agir” (Ética e Moral).
Noções:
Filosofia é... 
Principalmente a sabedoria humana (o saber humano), que consiste antes em um conhecer (que poderá nos conduzirá a um agir), possibilitando ao homem afirmar sobre uma coisa aquilo que ela realmente é (não podendo ser de outro modo). 
Conhecer pelas causas...
Este conhecimento se faz pelas causas: por isso é uma ciência. 
Portanto, Filosofia é o conhecimento certo pelas causas. E isto é o que chamamos de ciência. 
Luz natural e a luz sobrenatural (lumen sub quo da ciência)...
Mas o homem não pode conhecer sem o auxílio de um instrumento, de um meio, de uma luz: que é a luz natural da inteligência humana. 
Por isso a Filosofia se opõe à Teologia Sagrada. Neste, a luz é a da Fé, luz sobrenatural (comunicação sobrenatural aos homens pela Revelação). 
O objeto material quod...
O objeto adquirido pela luz natural se chama quod (o quê?). No caso da Filosofia, este objeto é a totalidade de todas as coisas. Por isso, ela é chamada de ciência universal. 
Investigando as causas primeiras, remotas e supremas das coisas (quod formal – objectum formale quod)... 
Sob qual ângulo a Filosofia enfrenta a realidade? O que mais a interessa diretamente e por si mesmo, na totalidade do real? Não se deve confundir, porém, a Filosofia com as outras ciências particulares. As ciências particulares se ocupam também das coisas, mas de uma forma diversa: a elas interessa diretamente as causas segundas. O objeto (quod) próprio da Filosofia é a causa primeira das coisas, e não a causa próxima. (V. g.: não se ocupa de saber quantos ossos tem o homem, ou as causas de uma doença que o acomete – para isto existem a Anatomia e a Medicina). 
Assim temos o objeto formal da Filosofia, que determina a sua forma de conhecer. A partir dele, tudo o mais é investigado. 
Quod per se primo haec scientia considerat et sub cujus ratione caetera omnia cognoscit (é aquilo que por si mesmo e antes de tudo é considerado por ela e em virtude do que considera tudo o mais).
Ordem natural...
Se a Filosofia necessita do auxílio da luz natural da razão, então os princípios supremos investigados por ela dizem respeito à ordem natural. 
A Filosofia tem por objeto tudo o que é (quod material), porque tudo o que é tem uma causa primeira (quod formal).
As ciências particulares investigam o que é, mas apenas parte dele, procurando tão-somente suas causas segundas ou próximas. 
Filosofia é o mais alto conhecimento possível ao homem.
Conclusão I. Concepção aristotélico-tomista
Filosofia é o conhecimento científico que pela luz natural da razão considera as causas primeiras ou as razões mais elevadas de todas as coisas. 
Ou ainda,
Filosofia é o conhecimento científico das coisas pelas primeiras causas, na medida em que estas se referem à ordem natural.
Ou ainda,
Filosofia é a ciência das coisas por suas causas mais elevadas adquirida com a luz da razão humana.
Posição de René Descartes...
Para Descartes (século XVII), a Filosofia não se diferenciava das outras ciências, tanto assim que a considerava ciência única, porque tinha um domínio universal abrangendo as outas ciências (desconsiderou o objeto formal da Filosofia). As outras ciências seriam apenas partes da Filosofia, e tudo seria uma única ciência. A Filosofia é una (e tem suas partes próprias) e conserva a sua diferença em relação às outras ciências por seu quod formal. 
Posição de Auguste Comte e os positivistas (século XIX)...
Defendeu que a Filosofia seria absorvida pelas outras ciências, com a função de sistematizá-las (A Filosofia só teria como conteúdo a função de indicar o posto de cada ciência particular). Só haveria então ciências positivas, dos fatos postos, ciências particulares. Desconsiderou o objeto formal da Filosofia. Apenas causas segundas, causas próximas dos fenômenos ocorridos.
Conclusão II.
Para Aristóteles e Santo Tomás de Aquino: A Filosofia e o conjunto das outras ciências particulares possuem o mesmo objeto material (tudo o que é cognoscível). Mas a Filosofia considera formalmente as causas primeiras e as outras ciências consideram formalmente as causas segundas. 
Para Descartes: A Filosofia absorve as outras ciências (a Filosofia é toda a ciência); 
Para Comte: As ciências absorvem a Filosofia – não há Filosofia. 
Postura da Filosofia diante das ciências particulares...
Há uma independência e autonomia das ciências particulares, podendo estabelecer a verdade em seus próprios domínios. Se é verdade, precisa necessariamente ser compatível com as verdades que por sua vez foram descobertas pela Filosofia. A investigação dos princípios mais elevados das coisas deve ser compatível com a descoberta das causas imediatas.
Pode haver um engano do cientista que se dedica àquela ou a esta ciência particular. Erro meramente acidental. Ou a próprio ciência pode julgar-se e corrigir-se, ou a Filosofia pode fazê-lo em seu lugar. Mas para isto, é necessário que o erro cometido seja incompatível com as verdades filosóficas, mais gerais e abrangentes. 
A Filosofia tem o direito de julgar todas as outras ciências humanas, condenando como falsa qualquer proposição científica incompatível com suas próprias verdades.
Proposição da Física incompatível com a Filosofia: a Física pode julgar e a Filosofia também. A Física julga conforme os preceitos da Física e a Filosofia julga conforme seus próprios preceitos. 
Em verdade, se houver realmente uma contradição entre uma proposição da Física e uma verdade filosófica, o erro estará na proposição da Física – uma verdade não pode contradizer outra verdade. O Físico deverá curvar-se à Filosofia e recomeçar suas experiências ou raciocínio. 
Agora, se uma verdade da Filosofia por um acaso pareça ser incompatível com uma verdade da Física, então só caberá à Filosofia, à luz de seus princípios, julgar a si própria, e observar se há realmente tal incompatibilidade. Não competirá à Física julgar esta incompatibilidade com a metodologia da Física. 
Havendo incompatibilidade, é evidente que a proposição filosófica é equivocada, e o filósofo deverá se curvar à própria Filosofia, e não à Física. O que ocorreu é que, através da Física, a Filosofia julga-se a si mesma. Neste caso, não é a Filosofia quem erra, mas o filósofo.
Há outra postura, que é a de direção. Os princípios de uma ciência mais elevada (a Filosofia, especialmente a Metafísica) oferecem a direção a uma ciência menos elevada. Portanto, deve haver subordinação. Os princípios da Filosofia (que busca investigar as causas primeiras e absolutas de todo o conhecimento humano, dos eventos e das coisas) mantêm em sua dependência os princípios de todas as outras ciências humanas. 
Evidentemente, as descobertas das verdades das ciências particularesnão dependem diretamente dos princípios da Metafísica. A luz da razão natural do homem pode conhecê-los independentemente do conhecimento destes princípios fundamentais e metafísicos. Na ordem do conhecer pode haver essa independência e um resultado ser encontrado sem necessariamente depender do outro. Mas, na ordem da existência, as verdades das ciências particulares só podem existir se antes existirem também as verdades filosóficas – e são resolvidas nas verdades filosóficas. Os princípios da metafísica são absolutamente (simpliciter) primeiros em relação às descobertas das outras ciências, na estrutura do ser. Antes que elas sejam verdadeiras, necessário que as verdades filosóficas sejam em primeiro lugar. 
Portanto, há uma relação de subordinação indireta – não na ordem do conhecimento, mas na ordem da estrutura da realidade. Ou subordinação imprópria – secundum quid. 
É preciso entender que uma verdade matemática que diz duas quantidades iguais a uma terceira são iguais entre si resolve-se num princípio filosófico metafísico ainda mais elevado e geral, que a explica e justifica: dois seres idênticos a um terceiro são idênticos entre si. Se esta última proposição não fosse verdadeira, não poderia existir a verdade matemática. 
A atitude de direção que a Filosofia exerce sobre as outras ciências humanas significa indicar seu objetivo e o seu fim. Não o fim próprio, que as ciências podem alcançar por si próprias. A Aritmética não precisa da Filosofia para ir ao seu objeto que são os números, evidentemente. 
O fato é que a Filosofia mostra o fim de cada ciência para cada ciência, corrigindo os extravios de método e objeto. É a Filosofia quem estabelece o fim próprio de cada uma delas, estabelecendo uma estrutura científica perfeitamente organizada. Estabelece o que é próprio de cada uma e o que a diferencia das demais. Ordena sabiamente. 
Dirige no sentido de evitar os extravios. 
Dirige também para o bem último buscado pelo espírito humano na ordem natural, que é o maior conhecimento possível: a metafísica. A Filosofia dirige as outras ciências porque ela transcende em seu objeto formal todas as outras ciências. E as ciências possuem seus fins próprios, mas deve se dirigir também ao fim comum que só será possível na Filosofia. 
A Filosofia é a scientia rectrix. As ciências precisam se ordenar para o fim comum, sem abandonar seu fim próprio. São ordenadas à sabedoria. Sem isto, será gerado o caos. 
A Filosofia é a ciência que propõe a existência de princípios mais elevados e os mais gerais de toda a ciência humana. Portanto, se ela emite os princípios que as outras ciências não podem prescindir (embora possa ignorar), cabe à mesma defender tais princípios e a base na qual se apoiam os outros saberes humanos. Por exemplo, não compete à Matemática indagar o que é a quantidade, o número ou a extensão, assim não cabe à Física querer saber o que é a matéria. Estas definições são gerais e compete à Filosofia estabelecê-las. 
A Filosofia pode se servir das verdades das outras ciências no sentido de um mero instrumento para ilustrar e confirmar suas proposições. Mas é absolutamente livre relativamente a elas. A Filosofia se baseia nos fatos e dados da experiência em primeiro lugar e depois os ordena na luz da razão natural. 
É o critério da evidência sensível. Além disso, ela (Filosofia) pode receber alguns dados das ciências, e ela os julgará conforme os seus próprios critérios. 
Há uma dependência material apenas. A Filosofia se serve dos instrumentos das ciências. 
Portanto, o instrumento primordial da Filosofia é a realidade mesma (evidência sensível) e que é anterior a qualquer observação científica. 
Conclusão III. A Filosofia é o mais alto dos conhecimentos humanos; é verdadeiramente uma sabedoria. As outras ciências (humanas) estão submetidas a ela, enquanto as julga, dirige e defende-lhes os princípios. É livre em relação a elas e só depende delas como de instrumento de que se serve.
Filosofia e Teologia...
Das ciências humanas, a Filosofia é a maior delas, especialmente uma de suas partes que é a Metafísica. Não há sabedoria humana maior do que a Teologia Natural, ou Metafísica. 
Existe uma ciência que está acima dela, entretanto. 
Mas uma ciência, para estar acima da mais alta ciência humana, deve ser necessariamente Divina. Existe, então, uma ciência que, no homem, é a participação da própria ciência de Deus: isto é o que conhecemos como Teologia Sagrada ou Doutrina Sagrada. 
A expressão Teologia significa ciência de Deus. Discurso racional sobre a Substância Absoluta.
Distinções importantes:
Metafísica (Teologia Natural) – a ciência de Deus que o homem pode conhecer com as forças da razão natural, a partir das coisas criadas e que compõem a ordem natural;
Teologia Sobrenatural (Sagrada) – é a ciência de Deus que o homem não pode, apenas pelas forças da luz natural da razão, conhecer; por isso, Deus vem ao encontro do homem e Se revela, revela a Sua ciência, a Sua infinita Sabedoria; a razão continua a ser necessária, mas agora recebe uma iluminação, que é a Fé. A razão é auxiliada pela Fé.
Na Teologia Sobrenatural o homem pode conhecer Deus em Si mesmo, e não apenas como o autor das coisas criadas. 
A luz da Fé, da Revelação, é o instrumento para conhecer a Deus como Ele mesmo se conhece. É a revelação virtual, porque contém virtualmente todas as verdades racionais.
O critério já não é mais a evidência sensível, mas a autoridade de Deus e dos Bem-aventurados que revela. 
Como é ciência superior, a Teologia Sobrenatural julga a Filosofia. 
Também dirige a Filosofia, mas num sentido negativo, ou seja, apenas declara as proposições filosóficas incompatíveis com a verdade teológica.
A Filosofia é distinta da Teologia e pode seguir um caminho próprio, e a Teologia pode se utilizar das demonstrações filosóficas para auxiliar a explicação de um dogma.
As verdades da Filosofia são conhecidas como preâmbulos da Fé. 
Conclusão IV. A Teologia ou ciência de Deus, enquanto se deu a conhecer a nós pela revelação, está acima da Filosofia. A Filosofia lhe é submetida não em seus princípios nem em seu desenvolvimento, mas em suas conclusões, sobre as quais a Teologia exerce controle, constituindo assim regra negativa para a Filosofia. 
A Filosofia e o Senso comum...
Portanto, um dos conhecimentos possíveis à razão humana é o da ciência, certo e perfeito. E o mais elevado dele é o da Filosofia Primeira, ou Metafísica – ou seja, o estudo do ser das coisas. É adquirido pela reflexão sobre as causas e princípios. 
Mas há um tido de conhecimento, imperfeito, chamado de vulgar. 
Na verdade, uma ciência perfeita sobre todas as causas segundas das coisas é praticamente impossível ao homem. Por isso, grande parte do que conhecemos é de maneira vulgar. Ninguém consegue, mesmo que queira, especializar-se profundamente em todos os campos possíveis de conhecimento ao homem. 
No campo dos primeiros princípios, é possível ao homem conhecer chegar à ciência de todas as coisas. Isto é a Filosofia. 
Não que o conhecimento vulgar seja equivocado. Na verdade, as opiniões são mais ou menos bem fundadas. É um núcleo sólido de certezas verdadeiras; competirá ao filósofo discernir o que é próprio da experiência (evidência) sensível (ex., os corpos são extensos em comprimento, largura e altura), ou o que é próprio dos princípios inteligíveis evidentes por si mesmos (ex., o todo é maior que a parte, o consequente sempre vem antes do consequente), ou mesmo conclusões imediatas retiradas desses princípios primeiros (chamadas de conclusões próprias). 
Portanto, é um conhecimento imperfeito porque não reflexivo e não investiga as causas primeiras. São crenças que brotam espontaneamente no espírito humano, quando usamos a razão (pensamento), que é nosso dom natural. Por isso o conhecimento vulgar, o senso comum, o senso natural, é próprio de todos os homens, é universal. 
Então, o homem consegue extrair da realidade certas verdades porque possui um senso comum natural. Por exemplo, a vidamoral do homem não seria possível se, mesmo sem um ato de reflexão, ou seja, de modo imediato, ele não soubesse coisas, por exemplo, sobre a existência de Deus, o livre-arbítrio, a imortalidade da alma, etc. A não ser por causa de uma educação viciada, que encolhe o espírito, o homem é capaz de obter conclusões próximas de fatos apreendidos pela experiência ou de fatos apreendidos pela inteligência. Nosso espírito as possuem, porque nossa razão natural as apreende. 
O que ocorre são os raciocínios implícitos. São imperfeitos não porque são errôneos, mas porque o modo como são produzidos no espírito é diferente. Nele os raciocínios ficam implícitos, escondidos, e quase não chegam a se formalizar, a ficarem expressos. 
Portanto, a luz da ciência é a mesma do senso comum, só que essa luz, no conhecimento vulgar, não é reflexiva nem crítica, e não volta sobre suas próprias conclusões. 
A Filosofia não deve se basear na autoridade do senso comum, só porque é baseado num instinto que todos os homens têm. A Filosofia repousa na evidência, não na autoridade. 
Mas de fato o senso comum é a fonte de onde brotam as descobertas da Filosofia, porque os primeiros princípios são apreendidos imediatamente pela inteligência e depois trabalhados pelo pensamento filosófico, reflexivo e mediato. 
Portanto, a Filosofia tem por princípios as evidências primeiras que fornecem naturalmente ao nosso espírito suas certezas primordiais.
Os princípios da Filosofia já estão proclamados pelo senso comum; mas são princípios da Filosofia não pela autoridade do senso comum, mas pela evidência que eles têm. Não porque o universo dos homens os possuem.
A Filosofia então coloca o senso comum num estado perfeito, num modo perfeito. O senso comum é pré-científico. 
Então, a Filosofia é relativamente superior ao senso comum, quando ao estado e o modo. A Filosofia conhece perfeitamente suas conclusões e princípios num estado perfeito. 
O senso comum, institivamente, sabe as três seguintes categorias de verdade: a) as verdades de fato, que exprimem as evidências sensíveis; b) os primeiros princípios inteligíveis evidentes por si mesmos, sem a reflexão dos mesmos; c) as consequências imediatamente deduzidas dos primeiros princípios (conclusões próximas). 
A Filosofia trata cientificamente (por reflexão racional e crítica) aquelas categorias que o senso comum conhece apenas institivamente: a) as verdades de fato, que exprimem as evidências sensíveis; b) os primeiros princípios evidentes, agora de uma maneira crítica e reflexiva, defendendo-os racionalmente; c) conclusões próximas, demonstrando-os racionalmente.
O senso comum, por não conhecer de forma clara o motivo de saber o que sabe, não avança. Não poderia julgar a si mesmo. O que têm são apenas opiniões instintivas. São verdadeiras, porque a luz e o objeto são os mesmos da Filosofia. Mas a sua forma e o seu modo de produção são imperfeitos, porque imediatos e não reflexivos. 
A Filosofia justifica e continua o senso comum, que fica paralisado em suas meras opiniões meio claras e meio confusas. 
Se a Filosofia negar algumas das verdades apreendidas pelo senso comum, e ela for comprovada como verdade, será um equívoco – e então o senso comum pode, mas só acidentalmente, julgar a Filosofia. 
Exemplos: Zenão de Eleia tenta mostrar que não existe movimento, foi desafiado por Diógenes, que apenas se levantou e começou a andar; Descartes, por exemplo, negava existir diferença entre o móvel e o fim, e que o movimento é recíproco ou relativo – não tem diferença em dizer que o fim vem ao que se move ou o que se move vai em direção ao fim; o Filósofo Henry More dizia que quando um homem corre para um fim, e fica cansado, sabe muito bem que o fim está imóvel.
Estas refutações são eficazes e mostram os erros de uma Filosofia, mas não provam que os erros são filosóficos, porque para isto seria necessário apresentar as razões, o raciocínio.

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