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Direito de família no Novo CPC - Luiz Fernando Valladão

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CURSO DE DIREITO DE FAMÍLIA 
EJEF – TJMG 
 
 
TEMAS TRATADOS À LUZ DO NOVO CPC E DEMAIS NORMAS 
INFRACONSTITUCIONAIS E CONSTITICONAIS: 
 PRINCÍPIOS 
 ALTERAÇÃO DE REGIME DE BENS 
 EXECUÇÃO DE ALIMENTOS 
 MEDIDAS DE URGÊNCIA NO DIREITO DE FAMÍLIA 
 
PROFESSOR LUIZ FERNANDO VALLADÃO NOGUEIRA 
 
 
1 . PRINCÍPIOS – NATUREZA – CONSTITUIÇÃO FEDERAL – CÓDIGO 
CIVIL - EMENDA CONSTITUCIONAL 66/2010 – NOVO 
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. MÉTODOS DE INTERPRETAÇÃO. 
 
 1.1. PRINCÍPIOS. NATUREZA. De início, deve-se afirmar 
que as normas se identificam como gênero, do qual se extraem espécies 
como são as regras e os princípios. Pode-se dizer que as regras têm 
contornos objetivos, de maneira que o magistrado pode aplicá-la ao caso 
concreto, conforme a interpretação implementada. Diferente disso, os 
princípios trazem conceitos mais genéricos e amplos, os quais contribuem 
para a própria criação das regras, assim como na manifestação de escolha 
pelo magistrado quando estas trazem cláusulas abertas, ou mesmo para a 
superação de conflitos entre regras distintas ou para o preenchimento de 
lacunas legislativas. 
 As regras, pois, possuem diretrizes mais específicas, 
sendo exemplo disso as leis e as súmulas vinculantes. Com efeito, essas 
modalidades de regra são aplicadas aos casos concretos que se identifiquem 
com os enunciados que elas trazem. Assim é que, em havendo colisão entre 
dois veículos, e uma vez acionado o Estado-Juiz, deverá o magistrado 
condenar o causador do ilícito a arcar com a indenização correlata, desde 
que haja danos. Trata-se de imediata aplicação do instituto da 
responsabilidade civil, insculpido nos arts. 186 e 927 do Código Civil. 
 No campo dos princípios as coisas acontecem um 
pouco diferente. Por exemplo, no caso do acidente automobilístico, o Juiz, ao 
fixar a indenização para compensação por danos morais, deparar-se-á com 
uma regra dotada de cláusula aberta (“ainda que exclusivamente moral” – 
art. 186 CC), eis que o legislador não estabeleceu critérios rígidos para a 
quantificação de valores. Aí terá ele que se valer de princípios como a da 
proporcionalidade e da dignidade humana, para optar por um valor exato e 
que seja suficiente a fazer justiça entre as partes. 
 Revela-se convincente o conceito de Miguel Reale 
Júnior, no sentido de que princípios são “enunciações normativas de valor 
genérico, que condicionam e orientam a compreensão do ordenamento jurídico, 
quer para a sua aplicação e integração, quer para a elaboração de novas 
normas” (REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito, 27ª ed. ajustada ao 
novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2002). 
 Quando acontecer choque entre regras, aplicar-se-á 
as dirimentes constantes, sobretudo, da Lei de Introdução às Normas do 
Direito Brasileiro, como se dá, por exemplo, com a prevalência de leis 
posteriores sobre anteriores, e específicas sobre as genéricas (art. 2º LINDB). 
Isso significa que, num caso concreto, verificar-se-á a lei que prevalece, 
afastando-se aquela que é em sentido contrário. 
 Já na hipótese de colisão entre princípios, deve o 
exegeta valer-se do critério da ponderação, segundo o qual se providencia a 
redução do alcance de um deles em benefício da relevância e prevalência 
daquele outro para a situação concreta. Ou seja, ambos princípios 
continuam válidos e não são anulados, podendo, na medida exata, ser 
aplicados na solução da lide. 
 Ao afastar o princípio da relativização da coisa 
julgada em determinada situação, bem elucidou o Superior Tribunal de 
Justiça sobre o aparente conflito entre princípios. Vale conferir: 
 
“1. Quando há confrontos entre princípios 
jurídicos não se caracteriza uma antinomia 
verdadeira, de modo que não se deve resolvê-los à luz 
dos critérios formais de solução de conflitos entre 
regras jurídicas - lex posterior derogatlex priori, lex 
superior derogat Lex inferiori e Lex specialis derogat 
Lex generalis-, mas por meio da técnica da 
"ponderação de interesses" (também chamada de 
"concordância prática" ou "harmonização"), a qual 
consiste, grosso modo, na realização de uma redução 
proporcional do âmbito de alcance de cada princípio, 
preponderando aquele de maior peso. Doutrina. 
1.1. A jurisprudência do STJ tem, de fato, 
aplicado a teoria da relativização da coisa julgada, 
mas o tem feito apenas em situações excepcionais, 
nas quais a segurança jurídica, que é o seu princípio 
informador, tiver que ceder em favor de outros 
princípios ou valores mais importantes, como a busca 
da verdade real (nas ações sobre filiação cujas 
decisões transitadas em julgado conflitem com 
resultados de exames de DNA posteriores), a força 
normativa da Constituição e a máxima eficácia das 
normas constitucionais (nas execuções de títulos 
judiciais fundados em norma declarada 
inconstitucional pelo STF) e a justa indenização (nas 
ações de desapropriação que estabelecem 
indenizações excessivas ou incompatíveis com a 
realidade dos fatos). 
1.2. A mera alegação de que uma sentença 
acobertada pela coisa julgada material consagra um 
erro de julgamento, consistente na aplicação 
equivocada de um dispositivo legal, não é suficiente 
para que seja posta em prática a teoria da 
relativização. A correção de tais erros deve ser 
requerida oportunamente, por meio dos recursos 
cabíveis ou da ação rescisória. 
1.3. É temerário afirmar genericamente que 
sentenças erradas ou injustas não devem ser 
acobertadas pelo manto de imutabilidade da coisa 
julgada material, permitindo-se que, nesses casos, 
elas sejam revistas a qualquer tempo, 
independentemente da propositura de ação rescisória. 
O grau de incerteza e insegurança que se instauraria 
comprometeria o próprio exercício da jurisdição, em 
afronta ao Estado de Direito e aos seus princípios 
norteadores.” (REsp 1163649 / SP, rel. Min. Marco 
Buzzi, DJe 27/02/2015). 
Em rápida síntese, pode-se dizer que se impõem a 
aplicação das regras, mas estas devem ser interpretadas à luz dos princípios 
vigentes. 
 
1.2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS. A nossa 
Constituição Federal adota diversos princípios, expressamente. Grande parte 
desses princípios se encontra no art. 5º da CF, como é o caso, por exemplo, 
daquele que contempla a isonomia (art. 5º inc. I), ou o que versa sobre a 
legalidade (art. 5º inc. II) ou sobre a livre manifestação (art. 5º inc. IV). 
 Além desses princípios explícitos, tem-se a 
autorização da própria Carta Constitucional para a adoção de normas dessa 
natureza e que sejam implícitas. A propósito, o art. 5º § 2º CF estabelece que 
“os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros 
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados 
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”. Veja-se 
que há permissão para que sejam assegurados direitos, ainda que além 
daqueles decorrentes de norma expressa da Constituição. Tem-se aí, pois, a 
figura dos princípios constitucionais implícitos. 
 Pois bem, a Constituição Federal é rica quanto à 
adoção de princípios constitucionais expressos, de índole processual. Anote-
se, por exemplo: Princípio da Inafastabilidade Jurisdicional (art. 5°, XXXV, 
CF/88); Princípio do Juiz Natural (art. 5°, XXXVII e LIII, CF/88); Princípio da 
Publicidade (art. 5°, LX); Princípio da Duração Razoável do Processo (art. 5°, 
LXXVIII). 
 E, quanto aos princípios processuais implícitos, 
pode-se dizer que praticamente advém como desdobramentos do princípio do 
“devido processo legal”. Sim, o art. 5º inc. LIV CF, ao estabelecer que 
 “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devidoprocesso 
legal”, valeu-se de cláusula extremamente aberta. O significado mais objetivo 
que se pode extrair para a expressão “devido processo legal” está na 
afirmativa de que é aquele que, de forma justa, equilibrada e efetiva, 
assegura o equacionamento do conflito. 
 No âmbito dessa generalidade inserta na cláusula do 
dwe process of law, encontram-se princípios que norteiam a procura pela 
decisão justa, equilibrada e efetiva. Nessa toada cabe invocar princípios, 
como os da proporcionalidade, razoabilidade, efetividade, lealdade e, de certa 
forma, o duplo grau de jurisdição. 
 Ora, a decisão só será equilibrada, se o processo 
houver permitido a igualdade de armas entre os litigantes, e, ao mesmo 
tempo, que elas tenham sido utilizadas de maneira honesta por eles 
(lealdade). De outro lado, a decisão só será justa se for razoável, à luz das 
pretensões das partes e daquilo que ordinariamente acontece na vida de 
todos nós e da sociedade. A decisão, mais ainda, será efetiva, caso o bem de 
vida chegue na quantidade e intensidade necessárias à satisfação do 
vencedor e, naturalmente, que a sucumbência experimentada pelo derrotado 
seja condizente com o que lhe deve ser imposto pelo Juiz 
(proporcionalidade). 
 1.3. PRINCÍPIOS RELEVANTES DA CONSTITUIÇÃO 
FEDERAL NO ÂMBITO DO DIREITO DE FAMÍLIA. O princípio da dignidade da 
pessoa humana é estabelecido, na Carta Magna, como fundamento da 
República Federativa do Brasil (art. 1º inc. III). Por isso mesmo, ao ser 
reiterado no artigo 8º do novel Código processual civil, passa a ter ênfase 
necessária, de modo a funcionar como grande vetor na aplicação do direito 
processual e material. 
 O referido princípio tem servido de bússola para 
orientar decisões judiciais, em casos que o magistrado se vê em conflito de 
regrar ou mesmo lacuna legislativa. 
 Com efeito, nessa linha de raciocínio que o STF tem 
adotado a relativização da coisa julgada quando se trata de investigatória de 
paternidade (RE 363889 / DF). Ou, de igual forma, é com fundamento em 
tal princípio que o STJ tem interpretado o alcance da impenhorabilidade (ex: 
REsp 950663 / SC). 
 Enfim, a dignidade humana deve ser mesmo esse 
grande referencial, notadamente no Direito de Família. Isso não significa que 
pode ter força para contrariar regra clara, adotada pelo legislador, apenas 
para exprimir valores ostentados pelo magistrado que decidirá. A presente 
ressalva deve ser feita, para que, em última análise, a própria Constituição 
Federal não seja olvidada, notadamente naquilo que diz respeito à divisão de 
poderes entre Legislativo e Judiciário. 
 Já no art. 1º inc. IV da Carta Magna tem-se 
assegurada a livre iniciativa. Tal paradigma constitucional, sob o viés do 
direito das obrigações, significa que o cidadão é livre para contratar com 
quem quiser e da forma que entender adequada, observados, obviamente, os 
limites impostos pela ordem jurídica. 
 Trazendo tal princípio ao campo do Direito de 
Família, ganha ele corpo nas escolhas a serem feitas no campo afetivo e nas 
obrigações daí decorrentes. Não é razoável, num campo onde prevalecem 
interesses estritamente pessoais e afetivos, a limitação nas escolhas feitas, 
por exemplo, ao modelo de família, ao regime de bens, à duração da própria 
relação, etc... 
 Numa coerência constitucional, tem-se assegurada a 
livre iniciativa, especificamente quanto ao livre planejamento familiar (art. 
226 § 7º). Com efeito, trata-se de direito fundamental, pelo qual se permite 
as escolhas quanto ao número de filhos e orientação dada aos mesmos pelos 
pais. Isso significa que, ainda que haja carência material, a população é 
livre para expandir a família, da forma como planejado. Nenhuma lei, ante o 
padrão constitucional da garantia, pode ser limitativa da mesma. 
 Mas não é porque há liberdade de opções, que se 
faculta aos pais, por exemplo, tratarem a paternidade de forma 
inconsequente e em detrimento aos filhos. Por isso mesmo a Constituição 
Federal estabelece o princípio que versa sobre a paternidade responsável 
(art. 226 § 7º). Tal princípio exige rigor na formação e manutenção da 
família, de forma a assegurar o interesse do menor. 
 Aliás, entrelaçados com a paternidade responsável, 
estão os princípios da isonomia na filiação (art. 227 § 6º) e do melhor do 
interesse do menor (art. 227 caput). Em outras palavras, o livre 
planejamento familiar exige a contrapartida quanto à assunção de 
responsabilidade na manutenção e orientação dos filhos, seja qual for a 
origem da filiação. No plano infraconstitucional, há diversos dispositivos que 
impedem qualquer preconceito ou restrição relacionados com a origem da 
filiação. Demais disso, no conflito de regras ou normas deverá o juiz sempre 
se voltar à prevalência do melhor interesse do menor. 
 Nessa toada, pode-se invocar a garantia 
constitucional de uma sociedade justa, livre e solidária (art. 3º inc. I), ao 
mesmo tempo da isonomia entre os sexos (art. 5º inc. I – art. 226 § 5º). 
Ora, não há liberdade de opções que possa se concretizar em detrimento da 
solidariedade, a qual merece ênfase no campo das relações de afeto. Com 
base em tal princípio, as interpretações do Judiciário devem se pautar por 
privilegiar obrigações de assistência entre as pessoas que compõem grupo 
familiar. E a isonomia entre sexos repugna qualquer norma 
infraconstitucional que estabeleça privilégios para parentes, cônjuges ou 
companheiros apenas por conta do seu sexo. 
 A partir desses princípios explícitos, pode-se extrair 
numa interpretação sistemática da Constituição os seguintes princípios 
implícitos: 
 Afetividade 
Liberdade de autodeterminação afetiva 
Intimidade e da privacidade 
Promoção da paz social 
Interesse público na reconciliação 
Com efeito, o que move os vínculos criados nos 
grupos familiares é o afeto, o qual pode ser exteriorizado por força da 
liberdade assegurada constitucionalmente. É a partir da presunção da 
presença do afeto que o legislador estabelece obrigações aos integrantes da 
família, tanto que, em jurisprudência dominante prevalece o entendimento de 
que, em determinadas situações, a paternidade sócioafetiva pode prevalecer 
sobre aquela meramente biológica. A título de exemplo, vale verificar que o 
STJ já decidiu que “mesmo na ausência de ascendência genética, o registro 
da recorrida como filha, realizado de forma consciente, consolidou a filiação 
socioafetiva - relação de fato que deve ser reconhecida e amparada 
juridicamente” (REsp 1244957 / SC, rela. Ministra NANCY ANDRIGHI, DJe 
27/09/2012). 
Se é verdade que há liberdade assegurada nesse 
setor, não menos certo é que o tema é da intimidade das pessoas. Cabe, a 
partir de tal premissa, afastar o Judiciário, ao máximo, de intervenções nos 
conflitos de tal natureza, relegando sua atuação para a parte patrimonial. É 
por isso que se afigura irrelevante no Direito de Família o elemento culpa em 
todas as suas vertentes, admitindo-se a incursão em tal seara para situações 
excepcionais. 
O importante é ter em mente que os conflitos, na 
seara da família, não contribuem para a paz social. Por isso, se é verdade 
que o Estado dever ser pouco intervencionista nessa área, mais certo ainda é 
que, se inaugurado o processo judicial, deve-se atuar para que a composição 
ou a solução seja alcançada o quanto antes. 
 
1.4. PRINCÍPIOS REFORÇADOS PELA EC 66/2010 E 
PELO CÓDIGO CIVIL. A Emenda Constitucional 66/2010, ao eliminar entre nós 
a exigência de prazos e prévia separação para o divórcio, assegurou a 
liberdade e a dignidade humana. Ou seja, não pode o Estado intervir no 
afeto e autodeterminação das pessoas quanto à manutençãode laços nesse 
setor. 
De quebra, o legislador constituinte, com o advento 
da citada emenda, repugnou a discussão sobre a culpa pelo rompimento do 
vínculo, algo que, durante longo tempo, foi tratado de forma dogmática. 
Se esses princípios, em data recente, foram 
revigorados, tal situação deve ser observada sempre que, em situações 
concretas, o magistrado deparar com conflitos de normas. Ou seja, a 
interpretação deve se pautar, via de regra, pela liberdade de opções, com 
seus desdobramentos inclusive patrimoniais, dos que compõem o grupo 
familiar. 
É lógico que o direito de família está também ao 
abrigo do direito público, até mesmo para que a liberdade não prejudique 
garantias individuais. Porém, se não houver diretriz legal que imponha ao 
magistrado postura garantista, deve ele decidir em sintonia com as livres 
opções. 
Nada mais sensato, com efeito, para que seja 
alcançada a paz social o quanto antes, que o magistrado atente-se ao que foi 
entabulado, sem ferir limites legais, pelas partes. 
 No mesmo ritmo tem-se o código civil, o qual 
esmiúça diversos princípios, valendo destacar o que trata da intervenção 
mínima (art. 1513 CC). Sim, nos termos do referido artigo, “é defeso a 
qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão de vida 
instituída pela família”. Também na linha constitucional, o art. 1.565 § 2º do 
Código Civil enfatiza que “o planejamento familiar é de livre decisão do casal, 
competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e financeiros para o 
exercício desse direito, vedado qualquer tipo de coerção por parte de 
instituições privadas ou públicas”. 
 O princípio da solidariedade, de sua vez, recebe 
concretude, no campo dos alimentos, nas diversas disposições, a tal 
propósito, contidas no código civil. 
 
 1.5. OS PRINCÍPIOS NO NOVO CPC. O novo código de 
processo civil, já no artigo 1º, estabelece que “o processo civil será ordenado, 
disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais 
estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, 
observando-se as disposições deste Código”. 
 O artigo art. 126 CPC/73 estabelecia 
preponderância das leis, em comparação com outras fontes do Direito. Sim, 
a literalidade do referido dispositivo era no sentido de que “o juiz não se 
exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. 
No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as 
havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios 
gerais de direito”. 
 Diferente disso, o art. 140 NCPC assevera que “o juiz 
não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade 
do ordenamento jurídico”. 
 Em outras palavras, o ordenamento jurídico deve ser 
analisado de forma horizontal, sem hierarquia. Daí a relevância dos diversos 
princípios agora estudados. 
 Tanto é verdade o que ora se afirma, que o art. 489 § 
2º NCPC estabelece: “no caso de colisão entre normas, o juiz deve justificar o 
objeto e os critérios gerais da ponderação efetuada, enunciando as razões 
que autorizam a interferência na norma afastada e as premissas fáticas que 
fundamentam a conclusão”. 
 Ou seja, na colisão de normas, a ponderação é que 
guiará a deliberação do magistrado, podendo prevalecer o princípio em 
detrimento de alguma regra. 
 Destaque-se que o próprio código processual 
encampou princípios, mostrando a relevância de tal fonte do Direito. Eis os 
principais: 
Primazia do mérito = arts. 4º, 6º, 317 e 488 NCPC. 
Dignidade humana = art. 8º NCPC. 
Proporcionalidade = art. 8º NCPC. 
Razoabilidade = art. 8º NCPC 
Legalidade = art. 8º NCPC. 
Eficiência ou efetividade = art. 8º CPC. 
Boa-fé processual, inclusive na interpretação das 
decisões = arts. 5º e § 3º art. 489 NCPC. 
Isonomia = art. 7º NCPC. 
Estabilização da jurisprudência (arts. 926/927 
NCPC). 
Verifica-se, de tais princípios, a importância do 
magistrado procurar, a partir dos delineamentos das leis, decisão que 
observe a razoabilidade, a proporcionalidade, a dignidade humana, a 
isonomia e a boa-fé. 
 Porém, de nada adianta tal provocação, se a justiça 
for morosa ou se perder em aspectos meramente formais, ainda mais no 
campo do Direito de Família, onde a paz social deve imperar o quanto antes. 
 Assim é que o princípio da primazia do mérito exige 
que o magistrado enfrente a lide e desate o conflito, não se perdendo em 
aspectos formais. 
 Com efeito, o art. 4º do novo diploma processual 
informa que a duração razoável do processo está atrelada à “solução integral 
do mérito”. De igual forma, o art. 6º estabelece que a cooperação entre os 
sujeitos do processo tem em mira alcançar “decisão de mérito justa e 
efetiva”. 
 
 No plano prático, esses dispositivos programáticos 
resultaram em várias relevantes alterações, valendo anotar alguns rápidos 
exemplos: 
 
 Art. 317 – Impõe ao juiz oportunizar o 
saneamento do processo e correção do vício, antes 
de proferir sentença sem resolução de mérito. Ou 
seja, o juiz não deve desistir de oportunizar a 
correção do vício, independente de tentativas 
anteriores, de forma que se vendo na contingência 
de extinguir o feito sem resolução de mérito, há de 
instar, derradeiramente, a parte interessada. 
 
 Art. 488 – Esse dispositivo aplica, para a 
hipótese de extinção do processo sem resolução de 
mérito, o mesmo critério usado pelo CPC/73 para as 
nulidades. Vale dizer que, agora, o Juiz não 
extinguirá o processo sem resolução de mérito, se 
antever que o desate da lide (mérito) seria favorável à 
parte beneficiada pela extinção. Ou seja, o Juiz 
identificará o vício, mas o superará e julgará o 
mérito a favor da parte que seria beneficiada pela 
extinção do processo sem resolução de mérito. Assim 
agindo, o magistrado trará, mais rapidamente, a 
almejada pacificação social. 
 
 Art. 338 – Nesse dispositivo o legislador 
faculta ao autor, deparando este com preliminar de 
ilegitimidade do réu ou invocação de que o mesmo 
não é “responsável pelo prejuízo invocado”, alterar 
sua petição inicial “para substituição do réu”. Ou 
seja, mitiga-se o rigor da estabilidade da lide, no 
plano subjetivo, e permite-se mudança do réu após a 
contestação. Dito de outra forma, tal dispositivo 
repugna a ideia de extinção do processo sem 
resolução de mérito e autoriza a solução da lide com 
a inserção de novo réu. 
 No tocante aos recursos, o par. único do art. 932 dá 
a demonstração clara de que, doravante, o juízo de admissibilidade nos 
recursos deverá ser critério, apenas, para segurança e isonomia entre as 
partes. Não se conceberá a possibilidade dos pressupostos de 
admissibilidade serem tratados de forma sacramental, ao ponto de 
impedirem cegamente a incursão no juízo de mérito do recurso. 
 Está no citado par. único do art. 933: 
 “Antes de considerar inadmissível o 
recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias 
ao recorrente para que seja sanado vício ou 
complementada a documentação exigível”. 
 Pretende o legislador, aqui, oportunizar o 
saneamento dos vícios pertinentes ao juízo de admissibilidade recursal. Não 
haverá pressuposto de admissibilidade que seja insanável, devendo, sempre, 
o relator conceder oportunidade para o recorrente sanar o vício ou 
complementar documentação exigível. 
 E, para que as decisões de mérito possam formar 
jurisprudência firme, de tal forma a conduzirem as atividades das pessoas, 
já que se trata aí também de fonte do Direito, o novo código criou critérios 
vinculativos. Com efeito, os artigos 926 e 927 NCPC estabelecem critérios de 
estabilização da jurisprudência,para que a análise de conflitos de normas 
seja o mais uniforme possível, de maneira que a paz social seja alcançada 
pela própria orientação dos tribunais. 
 Pois bem, vistos os princípios especificamente e a 
viabilidade de considerá-los na análise do caso concreto, pode-se estudar 
alguns institutos do Direito de Família. 
 
2. A MUTABILIDADE DO REGIME DE BENS. INTERPRETAÇÃO À LUZ DA 
EC 66/2010 E DO NOVO CPC. 
 
 2.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS. Grande inovação no 
Código Civil de 2002, alicerçada na legislação estrangeira (Alemanha, Suíça, 
França, Espanha e Itália), foi a possibilidade de alteração de regime de bens, 
desde que atendidas determinadas condições, conforme dispõe o atual artigo 
1.639, parágrafo 2º: 
Art. 1.639. É lícito aos nubentes, antes de 
celebrado o casamento, estipular, quanto aos seus 
bens, o que lhes aprouver. 
§ 1º O regime de bens entre os cônjuges 
começa a vigorar desde a data do casamento. 
§ 2º É admissível alteração do regime de 
bens, mediante autorização judicial em pedido 
motivado de ambos os cônjuges, apurada a 
procedência das razões invocadas e ressalvados os 
direitos de terceiros. 
Por outro lado, estabelecia o art. 230 do Código 
revogado que “o regime de bens entre cônjuges começa a vigorar desde a data 
do casamento, e é irrevogável.” 
Houve, na verdade, a substituição do Princípio da 
Inalterabilidade do Regime, vigente quando do Código de 1916, pelo Princípio 
da Mutabilidade Motivada, consagrando a autonomia privada e a intervenção 
mínima do Estado nas relações particulares. 
Então, a alteração do regime convencionado pelo 
casal quando da realização do casamento passa a ser admitida, via judicial, 
desde que preenchidos os requisitos legais. 
Vale ressaltar que, mesmo antes da alteração 
legislativa já era possível modificar o regime de bens em casos excepcionais. 
Por exemplo, o Supremo Tribunal Federal já admitia a conversão do regime 
de separação (convencional, obviamente) em comunhão universal, em razão 
da superveniência de filho comum do casal (RE nº 7.126-MG, julgado em 16 
de outubro de 1946), sem que isto importasse ofensa à imutabilidade de 
regimes. 
Brilhantemente, explica o autor Orlando Gomes, à 
época da criação do anteprojeto do atual Código Civil: 
Tão inconveniente é a imutabilidade 
absoluta como variabilidade incondicionada. 
Inadmissível seria a permissão para modificar o 
regime de bens pelo simples acordo de vontades dos 
interessados. O Anteprojeto aceita uma solução 
equidistante dos extremos ao permitir a modificação 
do regime matrimonial, a requerimento dos cônjuges, 
havendo decisão judicial que o defira, o que implica a 
necessidade de justificar a pretensão e retira do 
arbítrio dos cônjuges a mudança.1 
 
1 GOMES, Orlando. Memória Justificativa do anteprojeto de reforma do Código Civil. 
Departamento de Imprensa Nacional: 1963, p. 57. 
Diante de todo o clamor da maior parte dos 
aplicadores do direito, o legislativo introduziu, finalmente, a possibilidade de 
alteração do regime em nosso ordenamento. Tal norma, entretanto, deixa 
algumas lacunas, as quais estão sendo, gradativamente, sanadas pela 
doutrina e jurisprudência. 
 Vale sistematizar os requisitos legais à obtenção da 
alteração do regime de bens, conforme referido dispositivo legal: 
 Requisitos para a alteração do regime de bens, 
conforme o Código Civil: 
 Consenso entre os cônjuges. 
 Identificação exata do regime de bens pretendido. 
 Motivação para a alteração do regime de bens. 
 Demonstração de que não há prejuízo a terceiros. 
 Decisão judicial autorizativa. 
 
2.2. CONSIDERAÇÕES SOBRE O ASSUNTO À LUZ DA 
EXEGESE DA EC 66/10 E DO NOVO CPC. 
A Emenda Constitucional n° 66/10 foi responsável, 
conforme amplo posicionamento doutrinário e jurisprudencial, pela extinção 
da separação judicial, não mais cabendo a discussão da culpa para a 
extinção do vínculo conjugal. Ou seja, basta que uma das partes demonstre 
o interesse pelo divórcio que o Poder Judiciário deve declará-lo, 
independente do motivo e de qualquer lapso temporal. 
O escopo de tal mudança foi, justamente, o de 
reduzir a intervenção estatal na vida particular, conferindo ao julgador o 
papel, tão somente, de apreciar as consequências jurídicas do divórcio 
(partilha, guarda, alimentos etc), e não mais investigar a vida íntima dos 
cônjuges. 
Tal raciocínio, também, deve ser aplicado nas 
pretensões de modificação do regime de bens. Isto é, uma vez apresentado o 
simples interesse dos cônjuges e inexistindo prejuízos a terceiros, o Poder 
Judiciário não pode negar a pretensão. 
É que a questão do regime de bens é uma escolha a 
ser feita apenas pelos cônjuges (salvo, evidentemente, as hipóteses do art. 
1641 CC), e as respectivas consequências (bens particulares ou comuns) 
recairão somente sobre eles. É, na verdade, assunto de natureza privada, 
atinente à vida íntima e à livre autonomia das partes. 
Grande exemplo de respeito a essa liberdade do 
casal foi o precedente do STJ, REsp 1.119.462-MG, no qual o fundamento 
para a modificação do regime foi a discordância da vida financeira do casal. 
No bojo de seu voto, o ministro relator assevera que 
A melhor interpretação que se deve conferir 
ao supracitado art. 1.639, § 2º, do CC/02 é a que não 
exige dos cônjuges justificativas exageradas ou 
provas concretas do prejuízo na manutenção do 
regime de bens originário, sob pena de se 
esquadrinhar indevidamente a própria intimidade e a 
vida privada dos consortes. 
Certamente, a divergência conjugal quanto 
à condução da vida financeira da família é 
justificativa, em tese, plausível à alteração do regime 
de bens, divergência essa que, em não raras vezes, 
se manifesta ou se intensifica quando um dos 
cônjuges ambiciona enveredar-se por uma nova 
carreira empresarial, fundando, como no caso em 
apreço, sociedade com terceiros na qual algum aporte 
patrimonial haverá de ser feito, e do qual pode 
resultar impacto ao patrimônio comum do casal. (g.n.) 
E, ainda, cita a doutrina de Nelson Rosenvald e 
Cristiano Chaves (2008, p. 227) que, também nessa mesma linha de 
raciocínio, ensina que: 
Sem dúvida, o simples fato de ser 
requerida, em via judicial, a alteração do regime de 
bens já indica que algum motivo relevante há para os 
autores do pedido e para a vida pessoal deles, sendo 
descabida a indagação da causa. Ademais, não se 
esqueça que a mudança não produzirá efeitos em 
relação a terceiros, eventualmente prejudicados (que, 
ademais, serão citados, tendo os seus interesses 
preservados). Pela soma de todos estes argumentos, é 
de se preservar a vida privada e a inviolabilidade do 
núcleo familiar, dispensando-se, em cada caso 
concreto, por controle de constitucionalidade difuso, a 
justificativa do casal. 
De qualquer modo, exigida pelo juiz, a 
motivação pode ser a mais diversa possível, não 
devendo o juiz ser rigoroso na exigência de uma 
indicação precisa. 
Ora, se o Estado foi afastado da discussão sobre o 
fim do casamento (apuração da culpa), também deve o ser quanto ao regime 
patrimonial eleito pelo casal. Em ambos os casos, procura-se evitar a 
excessiva intervenção estatal no âmbito familiar. A perquirição a respeito do 
real motivo da mudança pode acarretar situações de desnecessário 
constrangimento. 
Desde, pois, o advento da Emenda Constitucional 
66/2010, pela qual foram revigorados os princípios da livre iniciativa e 
menor intervenção do Estado, tem-se se como justo motivo, para efeito de 
alteração do regime de bens, a própria vontade dos cônjuges,livremente 
manifestada em tal sentido. 
O fato é que a EC 66/2010, ao valorizar a livre 
vontade dos cônjuges e ao afastar a fiscalização mais intensa do Poder 
Judiciário, revigorou o princípio da menor intervenção do Estado nas 
relações de família, assim como resgatou a força da corrente que defende 
deter o casamento natureza contratual. 
Ora, sabe-se, como aqui já estudado, que os 
princípios (art. 4º LINDB), enquanto também fontes do Direito, devem 
nortear o exegeta naqueles casos em que o legislador se valeu de cláusulas 
ou condições abertas. Exemplo típico disto é exatamente o multicitado art. 
1.639 § 2º CC, o qual se vale da expressão genérica e aberta “pedido 
motivado de ambos os cônjuges”, circunstância que autoriza, por meio dos 
princípios agora potencializados, a compreensão de que a tal motivação pode 
se limitar ao livre e honesto desejo dos interessados. 
Essa leitura do texto legal se adéqua, enfim, ao 
propósito de que haja uma menor intromissão do Estado na intimidade da 
vida das pessoas, permitindo-lhes o exercício do livre arbítrio. 
Para evitar dúvidas, o NOVO CPC deixou clara 
a desnecessidade de que seja “apurada a procedência das razões 
invocadas” (§ 2º art. 1.639 CC): 
Art. 734. A alteração do regime de bens do 
casamento, observados os requisitos legais, poderá 
ser requerida, motivadamente, em petição assinada 
por ambos os cônjuges, na qual serão expostas as 
razões que justificam a alteração, ressalvados os 
direitos de terceiros. 
Ou seja, adaptando-se aos princípios aqui 
invocados, o novo código, revogando em parte o art. 1.639 § 2º CC, exigiu 
que os interessados apresentassem suas motivações, mas estas não serão 
apuradas pelo Juiz. É óbvio que, verificando o Juiz, excepcionalmente, 
alguma dubiedade ou incerteza na vontade dos requerentes ou mesmo a 
invocação de condição nula, poderá interferir. Mas, de regra geral, a 
apresentação dos motivos pelos cônjuges será apenas para ficar consignado 
no processo, até para confronto com eventual alegação futura de prejuízo a 
terceiro ou nulidade, sendo desnecessária a aferição de sua veracidade no 
próprio procedimento de alteração do regime de bens. 
 
2.3. PROCEDIMENTO PARA A MODIFICAÇÃO DO REGIME. 
 O novo código estabeleceu disposições expressas 
para a alteração do regime de bens. 
 Pode-se assim sintetizá-las: 
 Petição inicial – consenso entre requerentes. 
Requerentes devem postular o novo 
regime de bens, devendo ser apresentada partilha 
dos adquiridos até então, no caso de haver 
restrição à comunicabilidade no novo regime 
(segurança para cônjuges e terceiros). 
 Intimação do MP (art. 734 § 1º NCPC). 
 Publicação de edital ou outro meio válido e eficaz 
proposto pelos requerentes (art. 734 § 1º e § 2º 
NCPC). 
 Se o juiz apurar a existência de possíveis 
interessados, que poderão ser atingidos pela 
alteração do regime de bens, determinará a 
citação dos mesmos (art. 721 c/c 725 par. único 
NCPC). 
 Se entender necessário, o Juiz, até porque não 
vinculado à legalidade estrita (art. 723 par. único 
c/c 725 NCPC) e detentor da livre iniciativa 
probatória (art. 370 NCPC), poderá designar 
audiência para ouvir os requerentes e colher 
outras provas. 
 Por sentença, deferirá ou não a alteração do 
regime de bens, podendo, inclusive, adotar 
decisão que não seja literalmente de acordo com a 
proposta pelos requerentes (art. 723 par. único 
c/c 725 NCPC). 
 Contra sentença, caberá apelação. 
 Transitado em julgado a sentença, serão 
expedidos mandados de averbação aos 
cartórios de registro civil e de imóveis e, caso 
qualquer dos cônjuges seja empresário, ao 
Registro Público de Empresas Mercantis e 
Atividades Afins (art. 734 § 3º NCPC). 
 Não produz coisa julgada material a sentença, eis 
que não resolve lide propriamente dita. Logo, 
comporta nova alteração por 
meio de requerimento posterior. 
 
 
2.4. EFEITOS DA SENTENÇA: ‘EX NUNC’ OU ‘EX TUNC’. 
A sentença que autoriza a mudança do regime de 
bens vale como instrumento hábil à revogação do pacto antenupcial ou do 
regime legal de bens que regula a relação conjugal. 
Todavia, a dificuldade a ser enfrentada reside no 
seguinte aspecto: qual será o termo inicial de vigência do novo regime de 
bens? Será retroativo à data do casamento ou apenas a partir do trânsito em 
julgado da sentença que autorizou a alteração do regime? 
A reposta a tal indagação leva em conta a 
formulação do pedido propriamente dito, os termos da decisão proferida pelo 
juiz e, principalmente, qual o novo regime eleito pelo casal. 
Muito embora seja questão ainda controvertida, os 
efeitos, em regra, operam-se ex nunc, preservando-se, pois, a situação 
anterior originada pelo pacto antenupcial, até o momento da mudança. 
Em precedente julgado pelo Superior Tribunal de 
Justiça, Resp. n° 730.546 – MG, de relatoria do Min. Jorge Scartezzini, 
publicado em 03/10/2005, entenderam os ministros que: 
Os bens adquiridos antes da prolatação de 
decisão judicial que venha a alterar o regime de bens 
remanescerão sob os ditames do pacto de comunhão 
parcial anteriormente estabelecido: o novo regime de 
separação total de bens incidirá tão-somente sobre 
bens e negócios jurídicos adquiridos e contratados 
após a decisão judicial que autorizar, nos termos do 
art. 1.639, § 2º, do CC/2002, a modificação 
incidental do regime de bens. 
Dependendo do regime de bens que rege o 
matrimônio, o juiz deverá partilhar aqueles até então havidos pelo casal, 
como medida de assegurar o direito de terceiros. Somente após essa 
partilha, é declarado o novo regime. 
Por exemplo, se o regime vigente for o da comunhão 
universal e os nubentes pretendem modificar para uma modalidade com 
restrição à comunicação patrimonial, parece ser tranquila a ideia de que 
deverá haver a prévia partilha, de modo que sejam eleitos os bens 
particulares dos cônjuges. 
Para Carlos Roberto Gonçalves, "a alteração 
convencional da comunhão universal somente poderá ser autorizada pelo juiz 
após a divisão do 'ativo e passivo', para ressalva dos direitos de terceiros, 
como estatui o art. 1.671 do Código Civil."2 
A partilha, nesses casos, é medida de segurança e 
prevenção, tanto para os próprios cônjuges, bem como para terceiros. 
O pedido de partilha será fundamentado no art. 
1.671 do Código Civil, o qual estabelece o fim da responsabilidade de cada 
um dos cônjuges para com os credores do outro, após a divisão do ativo e do 
passivo. Ou seja, é importante delimitar a partilha para que eventuais 
dívidas particulares futuras (que não se comunicam, a teor de tal dispositivo) 
não atinjam o patrimônio do outro consorte. 
Ademais, se a sentença não pode ser condicional, 
jamais poderia o julgador acolher o pedido de modificação do regime de bens 
e condicioná-lo à futura partilha. Tal aspecto corrobora a necessidade da 
proposta ser apresentada pelos próprios autores, na petição inicial ou 
qualquer outra incidental. 
 
2 BARROSO, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro.Rio de Janeiro: Forense, 2005, p. 387 
Por outro lado, é possível que os efeitos da sentença 
sejam ex tunc. Suponhamos que o casal, à época do matrimônio, elegeu o 
regime de comunhão parcial ou separação total e, anos depois, pretende a 
alteração para a comunhão universal. Ora, nesses casos, não faz sentido 
haver distinção entre bens anteriores e posteriores (com partilha, inclusive) 
se o regime nascedouro estabelece a comunicação de “todos os bens 
presentes e futuros”(art. 1667, CC/02). Ou seja, mesmo que a sentença não 
produza efeitosantes da sentença (ex nunc), se os bens particulares 
comunicam-se na comunhão universal, o resultado prático é o mesmo. 
Sobre o assunto, ensina Nelson Rosenvald: 
Ainda sobre a sentença, há grande 
dificuldade em apontar se os seus efeitos serão 
retroativos ou não-retroativos. Com efeito, imaginando 
se tratar de modificação de um regime de comunhão 
para uma separação absoluta, é de se lhe reconhecer 
efeitos ex nunc, não retroativos, sendo obrigatória a 
realização de partilha. De outro modo, 
hipoteticamente admitida a mudança de um regime 
separatório para a comunhão universal, 
naturalmente, vislumbra-se uma eficácia retroativa, 
ex tunc. Assim, entendemos que dependerá do caso 
concreto a retroação ou não dos efeitos da sentença. 
De qualquer modo, é certa a possibilidade dos 
interessados requererem, expressamente, ao juiz que 
estabeleça a retroação da eficácia do comando 
sentencial, optando pelos efeitos ex tunc. Outrossim, 
no que tange à esfera jurídica de interesses de 
terceiros, a eficácia será, invariavelmente, ex nunc, 
não retroativa.3 
Em outras palavras, em regra, a alteração apenas 
atinge atos posteriores ao trânsito em julgado da sentença, preservando-se, 
pois, a situação anterior originada pelo pacto antenupcial (ex nunc). 
Todavia, não se descarta a possibilidade do pedido 
de modificação do regime tenha efeitos ex tunc, ou seja, que retroajam à data 
da celebração do casamento. Essa é uma situação que deve ser apreciada 
pelos Magistrados, em cada caso concreto. 
 
2.5. OPOSIÇÃO DE TERCEIROS. 
Uma das principais preocupações dos legisladores, 
ao permitir a alteração do regime de bens, é a ocorrência de fraudes e 
prejuízos a terceiros, o que tornaria o ato anulável (art. 158 CC). 
No curso do procedimento, como já visto, os 
credores apontados pelos cônjuges deverão ser citados, sendo-lhes 
oportunizado, inclusive, a produção de provas. 
Todavia, caso os interessados não indiquem nenhum 
credor, e o pedido de modificação seja julgado por sentença, poderá o 
terceiro prejudicado valer-se de quatro meios processuais. São eles: 
a. Requerer, se apurado fato posterior, a 
modificação da sentença, ouvidos os cônjuges, eis 
que, em tais procedimentos, não incide a coisa 
julgada material (embora não repetido no novo CPC 
 
3 ROSENVALD, Nelson. FARIAS, Cristiano Chaves de. Direito das famílias. Rio de Janeiro: 
Ed. Lumen Iures, 2008, p. 228. 
o texto do art. 1111 CPC, continua havendo apenas 
coisa julgada formal na sentença); 
b. Se verificada ocorrência de simulação, vício de 
 consentimento ou preterição de requisito formal, 
poderá ajuizar Ação Anulatória da sentença e da 
alteração do regime e/ou declaratória de nulidade 
(art. 966 § 4º NCPC). Veja-se que não cabe ação 
rescisória, exatamente por não haver coisa julgada 
material; 
c. Se os bens do cônjuge devedor forem, de forma 
dissimulada e em virtude do novo regime de bens, 
adquiridos em nome do outro ou para ele 
transferidos, poderá pleitear o reconhecimento da 
fraude contra credores (arts. 158 e seguintes do CC); 
d. No curso da execução, fundada em dívida de um 
cônjuge, requerer a penhora de bens do outro, caso 
comprove que a dívida beneficiou este também (arts. 
790 IV NCPC, arts. 1643 e 1644 CC e súmula 251 
STJ). 
 
O terceiro que sentir-se prejudicado com a 
modificação do regime de bens, então, dispõe de diversos mecanismos 
judiciais para proteger seus direitos. 
É recomendado, entretanto, que, na própria petição 
inicial, os interessados apontem os credores e os respectivos bens 
garantidores da dívida. Agindo dessa forma, evita-se qualquer restrição por 
parte do julgador e do representante do Ministério Público, os quais 
observarão, de plano, a boa fé dos autores. 
 
 
 2.6. UNIÃO ESTÁVEL. 
Entre as novas famílias da CR/88 encontram-se a 
família monoparental do art. 226, §4º CF, formada por um dos pais e de sua 
respectiva prole, e a união estável (homoafetiva ou não) que adquiriu o 
status de entidade familiar, no art. 226, §3º. 
Não há dúvidas de que o afeto tornou-se a base de 
toda e qualquer relação familiar no novo Código Civil. Inclusive, a união 
homoafetiva ganhou reconhecimento na doutrina e na jurisprudência. 
Quanto à união estável e o regime de bens, o 
sistema legal é claro no sentido de que, restando-se comprovada, aplicam-se 
as regras do regime da comunhão parcial de bens, à luz do artigo 1725: 
Art. 1.725. Na união estável, salvo 
contrato escrito entre os companheiros, aplica-se 
às relações patrimoniais, no que couber, o regime 
da comunhão parcial de bens. 
Ocorre que, da mesma forma como acontece no 
casamento, caso os companheiros decidam estabelecer outro regime de bens 
(diferente do supletivo legal), basta que seja elaborada minuta de união 
estável, tratando do assunto. 
 
2.7. CASAMENTOS CELEBRADOS NA VIGÊNCIA DO CC/16. 
Atualmente, já não mais prevalece o entendimento 
de que a alteração do regime de bens não pode ser concedida àqueles que se 
casaram até o dia 10/01/2003 (em respeito, conforme era entendido, aos 
institutos do direito adquirido e do ato jurídico perfeito, e à ressalva do 
artigo 2.039 do Código Civil de 2002). 
Doutrina e jurisprudência, após diversos estudos e 
discussões, convergem pacificamente no sentido de que qualquer casal pode 
pleitear em juízo a modificação do regime matrimonial, independentemente 
da data de celebração do casamento. 
A discussão girava em torno da interpretação do art. 
2.039, segundo o qual, "o regime de bens nos casamentos celebrados na 
vigência do Código Civil anterior, Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916, é o 
por ele estabelecido". 
De acordo com a interpretação literal de tal 
dispositivo, a alteração de regime de bens somente é aplicável aos 
casamentos posteriores à nova lei civil. Seriam imutáveis, a rigor, os regimes 
adotados na vigência da lei anterior. 
Contudo, o alcance da regra de direito intertemporal 
do art. 2.039 do CC/2002 não deve ser interpretada literalmente. 
Analisando-se o dispositivo, é possível inferir que, ao 
dispor que o regime de bens nos casamentos celebrados na vigência do 
código anterior é o por ele estabelecido, determinou a incidência das normas 
do código de 1916 somente no tocante às regras específicas a cada um dos 
regimes matrimoniais. 
A questão da imutabilidade não estava inserida no 
capítulo que tratava das modalidades de regime, mas, sim, no que dispunha 
sobre os efeitos do casamento, o qual não tem mais vigência em nosso 
ordenamento e não está abrangido pela regra de direito intertemporal do art. 
2.039 do novo Código Civil. 
Dessa forma, apenas serão aplicadas as regras do 
Código Civil de 1916 quando a discussão for sobre as normas específicas dos 
regimes de bens e das doações antenupciais previstas pelos arts. 256 a 314 
do CC/1916. Quanto à mutabilidade, de seu turno, aplica-se a orientação do 
código vigente. 
O entendimento pretoriano já é uníssono nesse 
sentido: 
Precedentes recentes de ambas as Turmas 
da 2ª Seção desta Corte uniformizaram o 
entendimento no sentido da possibilidade de 
alteração de regime de bens de casamento celebrado 
sob a égide do Código Civil de 1916, por força do § 2º 
do artigo 1.639 do Código Civil atual.4 
Apresenta-se razoável, in casu, não 
considerar o art. 2.039 do CC/2002 como óbice à 
aplicação de norma geral, constante do art. 1.639, § 
2º, do CC/2002, concernente à alteração incidental 
de regime de bens nos casamentos ocorridos sob a 
égide do CC/1916, desde que ressalvados os direitos 
de terceiros eapuradas as razões invocadas pelos 
cônjuges para tal pedido, não havendo que se falar 
em retroatividade legal, vedada nos termos do art. 5º, 
XXXVI, da CF/88, mas, ao revés, nos termos do art. 
2.035 do CC/2002, em aplicação de norma geral com 
efeitos imediatos.5 
Nas palavras de Maria Berenice Dias "[...] o que foi 
determinado foi a mantença do regime que existia e, não a sua 
imodificabilidade"6. 
 
4 STJ - REsp 1112123/DF, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, DJe 
13/08/2009 
5 STJ - REsp.nº 730.546/MG; 4ª T, Rel. Min. Jorge Scartezzini; DJ 03/10/05 
6 DIAS, Maria Berenice. Manual de Direitos das Família. São Paulo: RT, 2006, p. 494. 
Com efeito, correta é essa interpretação, pois atende 
aos fins sociais da lei, conforme ensina o art. 5° da Lei de Introdução às 
Normas do Direito Brasileiro e, ainda, respeita a liberdade de planejamento 
familiar. 
 
3. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS E OS TÍTULOS EXECUTIVOS: JUDICIAL E 
EXTRAJUDICIAL. AMPLIAÇÃO RELEVANTE. 
 
 O crédito alimentar pode ter origem em título 
judicial ou extrajudicial. 
 
Com efeito, o Juiz poderá fixar alimentos, provisórios 
ou definitivos, por meio de ato judicial. De igual forma, as próprias partes 
poderão entabular transação, seja por meio de escritura pública ou 
documento particular, pela qual uma delas assumirá a obrigação alimentar. 
 
No tocante ao título judicial, não há dúvida de que – 
provisório ou definitivo – sempre comportará a execução, que, a partir da 
adoção do processo sincrético, passou a ser por meio da fase de 
cumprimento de sentença. 
 
Tal procedimento, que dispensa a instauração de 
ação específica, está previsto no art. 528 NCPC7. Ali, prevê o legislador o 
cabimento do cumprimento de sentença, que poderá ser instaurado para 
exigir o pagamento de pensão alimentícia fixada por sentença propriamente 
dita ou mesmo por “decisão interlocutória”. E, no artigo 5318, o mesmo 
Código complementa com a informação de que o regramento se aplica a 
“alimentos definitivos ou provisórios”. 
 
 
7 Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação 
alimentícia ou de decisão interlocutória que fixe alimentos, o juiz, a requerimento do 
exequente, mandará intimar o executado pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o 
débito, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo. 
8 Art. 531. O disposto neste Capítulo aplica-se aos alimentos definitivos ou provisórios. 
Sabe-se que o inadimplemento da obrigação 
alimentar autoriza a decretação da prisão civil do devedor. Tal medida 
coercitiva viabilizar-se-á desde que, conforme o § 3º do citado art. 5289, o 
executado, além de não pagar quando instado, deixar de provar que efetuou 
anteriormente o pagamento ou deixar de apresentar justificativa para tanto. 
 
Registre-se, como cediço, que o cumprimento da 
sentença ou decisão poderá se dar pela modalidade de penhora e sem, 
consequentemente, a prisão civil (§ 8º art. 528 NCPC)10. Demais disso, o 
procedimento poderá se efetivar por meio de desconto em folha de 
pagamento do devedor (art. 529 NCPC)11. 
 
Já quanto ao título extrajudicial havia discussões se 
ele permitiria a prisão civil. É que, na redação do art. 733 CPC/73, o 
legislador fez uso da expressão “sentença ou de decisão”, o que poderia levar 
à conclusão que só atos judiciais autorizariam a medida coercitiva drástica. 
 
Pois bem, com o advento do NCPC, a matéria estará 
pacificada. Isso porque o art. 911 NCPC contempla, expressamente, a 
“execução fundada em título executivo extrajudicial que contenha obrigação 
alimentar”, estabelecendo, mais adiante no par. único, que as disposições 
pertinentes à prisão civil aí também se aplicam. 
 
Com efeito, pode-se dizer que embasará, por 
exemplo, execução por título extrajudicial, com possibilidade de prisão 
civil, a escritura pública que contenha obrigação alimentar, inclusive no 
 
9 Art. 528 - § 3o Se o executado não pagar ou se a justificativa apresentada não for aceita, o 
juiz, além de mandar protestar o pronunciamento judicial na forma do § 1o, decretar-lhe-á a 
prisão pelo prazo de 1 (um) a 3 (três) meses. 
10 Art 528 - § 8o O exequente pode optar por promover o cumprimento da sentença ou 
decisão desde logo, nos termos do disposto neste Livro, Título II, Capítulo III, caso em que 
não será admissível a prisão do executado, e, recaindo a penhora em dinheiro, a concessão 
de efeito suspensivo à impugnação não obsta a que o exequente levante mensalmente a 
importância da prestação 
11 Art. 529. Quando o executado for funcionário público, militar, diretor ou gerente de 
empresa ou empregado sujeito à legislação do trabalho, o exequente poderá requerer o 
desconto em folha de pagamento da importância da prestação alimentícia. 
âmbito de acordo de divórcio, separação ou extinção de união estável (arts. 
784 II e 733 NCPC)12. De igual forma, o documento particular, com a 
assinatura de duas testemunhas, pelo qual o devedor assume a referida 
obrigação (art. 784 III)13, e o instrumento de transação referendado por 
alguns dos sujeitos citados no inc. IV do art. 784 NCPC14, onde há também a 
assunção do compromisso pelo alimentante. 
 
 Portanto, há interessante ampliação dos títulos 
executivos que autorizam a prisão civil do devedor de alimentos. 
 
 3.1 CITAÇÃO E INTIMAÇÃO. COMUNICAÇÃO DOS ATOS 
PROCESSUAIS E O CHAMAMENTO DO DEVEDOR DE ALIMENTOS. 
 
 Na execução de alimentos por título extrajudicial 
deverá o juiz mandar “citar o executado para, em 3 (três) dias, efetuar o 
pagamento das parcelas anteriores ao início da execução e das que se 
vencerem no seu curso, prova que o fez ou justificar a impossibilidade de fazê-
lo” (art. 911 NCPC). Prevê o legislador a prisão civil, como aqui já afirmado, 
no par. único do referido art. 911 NCPC. 
 
Se optar o credor pelo processamento da execução 
sob o rito que gera penhora de bens, em vez da prisão civil, a citação do 
devedor será para “pagar a dívida, no prazo de 3 (três) dias, contado da 
citação” (art. 829 NCPC, aplicado por força do art. 913 NCPC)15. 
 
 
12 Art 784 - II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor. 
Art. 733. O divórcio consensual, a separação consensual e a extinção consensual de união 
estável, não havendo nascituro ou filhos incapazes e observados os requisitos legais, 
poderão ser realizados por escritura pública, da qual constarão as disposições de que trata o 
art. 731. 
13 Art. 784 - III - o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas. 
14 Art 784 - IV - o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela 
Defensoria Pública, pela Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou por 
conciliador ou mediador credenciado por tribunal. 
15 Art. 829. O executado será citado para pagar a dívida no prazo de 3 (três) dias, contado 
da citação. 
Houve avanço quanto à citação no processo de 
execução, de forma geral, eis que foi permitida sua realização via postal. 
Sim, o art. 222 “d” CPC/73, que veda a citação postal em processo de 
execução, não foi repetido no correlato artigo do novo código (art. 247). 
 
 Logo, aquele martírio do credor para conseguir 
localizar pelo ato citatório o devedor de alimentos, mormente naquelas 
hipóteses em que se fazia necessária a carta precatória, tende a ser mitigado, 
ante a facilidade de consecução da citação postal. 
 
É verdade, porém, que o legisladormanteve o 
critério, no caso de pessoa natural ser o citando, que ele próprio assine o 
recibo. Aliás, a jurisprudência já não admitia a teoria da aparência, no caso 
de citação de pessoa física, já tendo sido decidido pelo STJ que “a validade 
da citação de pessoa física pelo correio está vinculada à entrega da 
correspondência registrada diretamente ao destinatário, de quem deve 
ser colhida a assinatura no recibo, não bastando, pois, que a carta 
apenas se faça chegar no endereço do citando”. E, mais ainda: “Caberá 
ao autor o ônus de provar que o citando teve conhecimento da demanda contra 
ele ajuizada, sendo inadmissível a presunção nesse sentido pelo fato de a 
correspondência ter sido recebida por sua filha ”16. 
 
 Esse rigor, com efeito, no caso de execução de 
alimentos, ainda mais quando se tratar do rito com prisão civil, não deve 
comportar atenuação. A citação é ato processual indispensável à validade do 
processo e precisa haver segurança quanto à sua correta realização. 
 
 Não obtendo sucesso na citação postal, diz o código 
que o autor deverá se valer da citação pelo oficial de justiça (art. 249 
 
16 (REsp 712609/SP, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, Data da Publicação/Fonte: DJ 
23/04/2007, p. 294). 
NCPC)17. E também aí o oficial de justiça deverá obter o ciente do citando no 
mandado ou certificar que ele se recusou (art. 251 NCPC)18. 
 
 Porém, não é raro em execuções de alimentos o 
citando incorrer em ocultação. Em tal hipótese, caberá a citação por hora 
certa, agora admitida expressamente para execuções, tanto que o art. 254 
NCPC19 utiliza a expressão “executado”, ao dizer que o escrivão ou chefe de 
secretaria terá que dar ciência a ele por carta, telegrama ou correspondência 
eletrônica, depois de concretizada aquela modalidade de chamamento. 
 
 Nada obsta a utilização da citação por edital, mesmo 
em execução de alimentos pelo rito da prisão civil, caso “ignorado, incerto ou 
inacessível o lugar em que se encontrar o citando” (art. 256 II NCPC). 
Não há vedação legal a tal instrumento, o qual já 
vinha sendo admitido pela jurisprudência, inclusive do STJ20. Com efeito, é 
voz corrente naquele pretório a afirmativa de que “não há vício de citação na 
execução de alimentos pelo simples fato de o ato processual ter sido efetivado 
mediante edital, sobretudo quando evidenciada, nos autos, a frustração das 
tentativas de chamamento do devedor por meio dos métodos ordinários” 21. 
 
17 Art. 249. A citação será feita por meio de oficial de justiça nas hipóteses previstas neste 
Código ou em lei, ou quando frustrada a citação pelo correio. 
18 Art. 251. Incumbe ao oficial de justiça procurar o citando e, onde o encontrar, citá-lo.. 
19 Art. 254. Feita a citação com hora certa, o escrivão ou chefe de secretaria enviará ao réu, 
executado ou interessado, no prazo de 10 (dez) dias, contado da data da juntada do 
mandado aos autos, carta, telegrama ou correspondência eletrônica, dando-lhe de tudo 
ciência. 
20RECURSO ORDINÁRIO. PRESTAÇÃO ALIMENTÍCIA. RECURSO INTEMPESTIVO 
CONHECIDO COMO HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO. PRISÃO CIVIL. DÍVIDA DE 
ALIMENTOS. LEGALIDADE DA CITAÇÃO. PRECEDENTE ESPECÍFICO. 1. Possibilidade de 
conhecimento do recurso ordinário intempestivo como habeas corpus substitutivo. 
Precedentes. 2. Inexiste vício de citação na execução de alimentos pela circunstância de 
ter sido efetivada mediante edital, sobretudo quando evidenciada a frustração das tentativas 
de cientificação do devedor pelos métodos ordinários de comunicação dos atos processuais. 
3. Precedentes do STJ. 4. RECURSO ORDINÁRIO CONHECIDO COMO HABEAS CORPUS 
SUBSITUTIVO,DENEGANDO-SE A ORDEM. (RHC 44164 / SP - Ministro PAULO DE TARSO 
SANSEVERINO. DJe 12/06/2014. STJ). 
21 (AgRg no RHC 48668/MG, rel. Marco Buzzi, DJe 14/10/2014). 
Por derradeiro, cabe acentuar que a citação por meio 
eletrônico, já prevista nos arts. 6º e 5º da Lei 11.419/200622, foi 
estabelecida, expressamente, no art. 246 V23 do novo código processual. 
Todavia, ela depende de prévio cadastro nos sistemas de processo em autos 
eletrônicos, o qual, enquanto não houver regulamentação legal expressa, só 
será obrigatório à “União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e 
às entidades da administração indireta” e às “empresas públicas e privadas”, 
“com exceção das microempresas e das empresas de pequeno porte” (art. 246 
§s 1º e 2º NCPC). 
Em outras palavras, embora não haja vedação à 
citação por meio eletrônico na execução de alimentos (pelo contrário, o NCPC 
exige a indicação do “endereço eletrônico” do réu, em qualquer petição inicial 
– art. 319 II)24, a sua concretização dependerá da criação de procedimento 
que efetive e dê segurança ao prévio credenciamento do executado (conferir 
art. 2º Lei 11.419/06)25. 
No caso de alimentos fixados por título judicial, 
como já se estudou aqui, o credor valer-se-á do procedimento de 
cumprimento de sentença. Referido procedimento poderá colimar na prisão 
civil do devedor (art. 528 e seus §s NCPC) ou, caso assim opte o credor, 
poderá gerar apenas a penhora de bens (art, 528 § 8º NCPC). 
O legislador optou por exigir a intimação do 
devedor, para que este, no prazo de três dias, pague, prove que já pagou ou 
 
22 Art. 6o Observadas as formas e as cautelas do art. 5o desta Lei, as citações, inclusive da 
Fazenda Pública, excetuadas as dos Direitos Processuais Criminal e Infracional, poderão ser 
feitas por meio eletrônico, desde que a íntegra dos autos seja acessível ao citando. 
Art. 5o As intimações serão feitas por meio eletrônico em portal próprio aos que se 
cadastrarem na forma do art. 2o desta Lei, dispensando-se a publicação no órgão oficial, 
inclusive eletrônico. 
23 Art 246 - V - por meio eletrônico, conforme regulado em lei. 
24 Art 319 II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união estável, a 
profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional 
da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu.. 
25 Art. 2o O envio de petições, de recursos e a prática de atos processuais em geral por meio 
eletrônico serão admitidos mediante uso de assinatura eletrônica, na forma do art. 1o desta 
Lei, sendo obrigatório o credenciamento prévio no Poder Judiciário, conforme disciplinado 
pelos órgãos respectivos. 
justifique a impossibilidade de efetuar o pagamento (art. 528 NCPC)26. Teve o 
cuidado, ademais, de dizer que tal intimação será realizada “pessoalmente”. 
É importante pontuar aqui que a expressão intimação pessoal não significa 
que o ato terá que ser por oficial de justiça. A intimação se diz pessoal 
porquanto se opõe àquela que é feita na pessoa do advogado no 
cumprimento de sentença (art. 513 § 2º NCPC). Mas pode se realizar pelo 
correio (art. 274 NCPC) ou por meio eletrônico (art. 270 NCPC), desde que 
dirigida, naturalmente, ao citando. 
A respeito da intimação por correspondência, cabe 
destacar que, diferentemente da citação, ela será válida, inclusive no 
cumprimento de sentença para recebimento de alimentos, mesmo que não 
recebida pessoalmente pelo interessado, se tiver ocorrido modificação 
temporária ou definitiva de endereço e se tal não houver sido informado ao 
juízo (art. 274 par. único NCPC)27. 
Deve-se registrar que, uma vez fixados os alimentos 
por decisão judicial, e manifestado pelo credor a pretensão de cumprimento 
da mesma para recebimento do seu crédito, poderá acontecer do devedor 
comparecer espontaneamente no processo por meio de seu advogado.E, em 
tal hipótese, ainda que a procuração outorgada ao causídico não contenha 
poderes expressos para citação ou intimação pessoal em nome do devedor, 
este será considerado intimado na data do comparecimento. 
Ora, não condiz com a boa-fé processual (art. 5º 
NCPC) o comportamento da parte que toma ciência por meio de seu 
advogado da exigência do crédito alimentar e, depois, passa a aguardar e 
 
26 Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação 
alimentícia ou de decisão interlocutória que fixe alimentos, o juiz, a requerimento do 
exequente, mandará intimar o executado pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o 
débito, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo. 
27 Art. 274. Não dispondo a lei de outro modo, as intimações serão feitas às partes, aos 
seus representantes legais, aos advogados e aos demais sujeitos do processo pelo correio ou, 
se presentes em cartório, diretamente pelo escrivão ou chefe de secretaria.Parágrafo único. 
 Presumem-se válidas as intimações dirigidas ao endereço constante dos autos, ainda que 
não recebidas pessoalmente pelo interessado, se a modificação temporária ou definitiva não 
tiver sido devidamente comunicada ao juízo, fluindo os prazos a partir da juntada aos autos 
do comprovante de entrega da correspondência no primitivo endereço. 
exigir sua intimação pessoal. Aliás, o novo diploma codificado acentua 
expressamente que a ciência inequívoca traz a presunção de intimação, em 
especial quando acontecer a retirada dos autos “em carga pelo advogado” 
(art. 272 § 6º NCPC)28. 
 É convincente o precedente do STJ29, no sentido de 
que “resta configurado o instituto do comparecimento espontâneo (art. 214, 
§1º, do CPC) na hipótese em que o réu, antecipando-se ao retorno do mandado 
ou "a.r" de citação, colaciona aos autos procuração dotada de poderes 
específicos para contestar a demanda, mormente quando segue a 
pronta retirada dos autos em carga por iniciativa do advogado 
constituído”. E prossegue a ementa do referido acórdão: “Conjuntamente 
considerados, tais atos denotam a indiscutível ciência do réu acerca 
da existência da ação contra si proposta, bem como o empreendimento 
de efetivos e concretos atos de defesa. Flui regularmente, a partir daí, o 
prazo para apresentação de resposta. Irrelevante, diante dessas 
condições, que o instrumento de mandato não contenha poderes para 
 
28 Art. 272 - § 6o A retirada dos autos do cartório ou da secretaria em carga pelo advogado, 
por pessoa credenciada a pedido do advogado ou da sociedade de advogados, pela Advocacia 
Pública, pela Defensoria Pública ou pelo Ministério Público implicará intimação de qualquer 
decisão contida no processo retirado, ainda que pendente de publicação. 
29 HABEAS CORPUS. DECRETO DE PRISÃO CIVIL DO DEVEDOR DE ALIMENTOS. 
AUSÊNCIA DE CITAÇÃO PARA A AÇÃO DE EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. 
COMPARECIMENTO ESPONTÂNEO. SUPRIMENTO. ORDEM DENEGADA. ( HC 158932 / 
MG, Ministro Luis Felipe Salomão, Dje: 29/03/2010. STJ). 
HABEAS CORPUS - AÇÃO DE EXECUÇÃO DE ALIMENTOS - ART.733 DO CPC -
 COMPARECIMENTO PESSOAL DO DEVEDOR - DESNECESSIDADE 
DE CITAÇÃO PESSOAL - PROLONGAMENTO DO TRÂMITE DA AÇÃO EXECUTIVA - PERDA 
DO CARÁTER ALIMENTAR - INOCORRÊNCIA - CESSÃO DE CRÉDITO - IMPOSSIBILIDADE 
- LEGALIDADE DA PRISÃO CIVIL - ORDEM DENEGADA. 1) Conforme entendimento 
sufragado pelo Superior Tribunal de Justiça no julgamento do HC 158.932/MG, 
o comparecimento espontâneo do devedor no curso de ação de execução 
de alimentos proposta pelo rito do art.733 do CPC supre a falta de citação pessoal, 
inexistindo ilegalidade neste aspecto. 2) O prolongamento do trâmite de ação de execução 
de alimentos, causado principalmente pela dificuldade de localização do executado, não 
leva à perda da natureza alimentar das prestações executadas, eis que observada a Súmula 
nº. 309 do STJ. 3) Não se pode impor ao credor de alimentos que aceite o cumprimento da 
obrigação alimentícia por meio de cessão de crédito previdenciário cuja existência, certeza e 
liquidez sequer foram demonstradas pelo devedor. 
4) Ordem denegada. ( Habeas Corpus Cível 0579889-21.2014.8.13.0000, Des. Teresa 
Cristina da Cunha Peixoto, Dje: 13/10/2014. TJMG). 
recebimento de citação diretamente pelo advogado, sob pena de 
privilegiar-se a manobra e a má-fé processual”30 
Este entendimento há que ser aplicado – e assim 
vem ocorrendo na jurisprudência pátria – também ao cumprimento de 
sentença pelo rito da prisão civil. A premência própria dos alimentos, ainda 
que a medida coercitiva da prisão seja drástica, justifica que se considere 
suprida a intimação pessoal do devedor no caso de comparecimento 
espontâneo. 
3.2. MEDIDAS COERCITIVAS. PRISÃO. PROTESTO. 
CADASTRO DE INADIMPLENTES. 
Sabidamente, na execução de alimentos o foco é a 
própria subsistência do alimentando. Por isso o texto constitucional admite, 
não como sanção mas a título de coerção, a prisão civil do alimentante-
devedor. 
O § 3º do art. 528 NCPC, ao tratar do cumprimento 
ou execução de título judicial, manteve a prisão civil do inadimplente “pelo 
prazo de 1(um) a 3(três) meses”. O art. 911 par. único NCPC seguiu o mesmo 
critério, ao versar sobre a execução por título extrajudicial que 
consubstancie crédito alimentar. 
Destaque-se que, em sintonia com a súmula 309 
STJ, o novo código consignou, expressamente, que “o débito alimentar que 
autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende até as 3 (três) 
prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se vencerem no 
curso do processo”. Digno de acréscimo, ainda quanto à prisão, que o 
legislador optou pelo cumprimento da prisão “em regime fechado”, devendo, 
porém, “o preso ficar separado dos presos comuns” (art. 528 § 4º NCPC). 
 
30 (REsp 1026821/TO, Rel. Ministro MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, DJe 28/08/2012). 
Demais disso, agora reafirmando o óbvio (art. 40 
CPP)31, o Código conclama o Juiz, no caso de “conduta procrastinatória do 
executado”, “se for o caso”, a “dar ciência ao Ministério Público dos indícios da 
prática do crime de abandono material” (art. 532 NCPC). 
As novidades efetivas e de relevância do novo 
sistema codificado, relacionadas às medidas coercitivas, encontram-se na 
previsão de protesto do título e na inscrição do nome do devedor no cadastro 
de negativação de inadimplentes. 
A previsão expressa do protesto é direcionada para 
todas as hipóteses de cumprimento de sentença, eis que prevista 
genericamente no art. 517 NCPC32. É óbvio que, seja por força da lei 
específica de regência (Lei 9492/97) seja pela aplicação subsidiária do 
cumprimento de sentença à execução por título extrajudicial (art. 771 par. 
único NCPC)33, este também será protestável. 
O primeiro ponto que distingue o protesto específico 
para o título que consubstancia crédito alimentar em relação à regra geral é 
a sua força cogente, ou seja, o Juiz, ex officio, deve determinar o protesto. 
Com efeito, no art. 517 NCPC – regra geral – há 
previsão da faculdade atribuída ao credor (“poderá”), sendo claro que a ele 
competirá tomar as diligências para o protesto (§ 1º). Já o art. 528 § 1º, ao 
versar sobre o cumprimento de decisão que fixa alimentos, diz que “o juiz 
mandará protestar o pronunciamento judicial”, não repetindo aí a faculdade e 
iniciativa do credor. 
 
31 Art. 40. Quando, em autos ou papéis de que conhecerem, os juízes ou tribunais 
verificarem a existência de crime de ação pública, remeterão ao MinistérioPúblico as cópias 
e os documentos necessários ao oferecimento da denúncia. 
32 Art. 517. A decisão judicial transitada em julgado poderá ser levada a protesto, nos 
termos da lei, depois de transcorrido o prazo para pagamento voluntário previsto no art. 
523. 
33 Art. 771 - Parágrafo único. Aplicam-se subsidiariamente à execução as disposições do 
Livro I da Parte Especial. 
Isso significa que, independente de requerimento do 
credor, o Juiz, ao deparar com ausência de pagamento ou justificativa válida 
do devedor, impor-lhe-á, de maneira concomitante, a prisão civil e o protesto 
do título judicial. Interessante que – não é raro – o devedor pode se esconder 
para evitar a prisão; porém, enquanto se esconde, terá o título protestado, o 
que poderá, ao menos, trazer-lhe transtornos comerciais e para a 
entabulação de negócios jurídicos. 
Outro ponto que privilegia o protesto de título 
judicial que contempla verba alimentar é a possibilidade de tal acontecer, 
ainda que se trate de alimentos fixados provisoriamente e com pendência de 
recurso sem efeito suspensivo. Sim, diferente do art. 517 que diz sobre 
“decisão judicial transitada em julgado”, o art. 528 faz alusão apenas ao 
cumprimento de sentença “que condene ao pagamento de prestação 
alimentícia ou de decisão interlocutória que fixe alimentos”. Vale dizer que, na 
mesma linha do art. 531 e seu § 1º do referido codex, é possível a execução 
de alimentos provisórios, mesmo com decisão sem trânsito em julgado, 
e também o protesto do respectivo título. 
Na verdade, o protesto de decisão judicial já vinha 
sendo admitido pela jurisprudência, a partir da percepção de que a Lei 
9492/97 possui, na parte final de seu artigo 1º, redação genérica e receptiva 
de tal possibilidade (“e outros documentos de dívida”). Agora, a situação 
ficou clara e cogente, no caso de dívida alimentar. 
O procedimento do protesto, no âmbito cartorário, é 
aquele previsto na Lei 9492/97, sendo que, uma vez proveniente de ordem 
judicial sua implementação só poderá ser sustada também por determinação 
do juízo (art. 17 Lei 9492/97)34, o mesmo acontecendo com o cancelamento 
do seu registro já efetivado (art. 517 § 4º NCPC)35. Todavia, uma vez quitado 
 
34 Art. 17. Permanecerão no Tabelionato, à disposição do Juízo respectivo, os títulos ou 
documentos de dívida cujo protesto for judicialmente sustado. 
35 Art. 517. § 4o A requerimento do executado, o protesto será cancelado por determinação 
do juiz, mediante ofício a ser expedido ao cartório, no prazo de 3 (três) dias, contado da data 
de protocolo do requerimento, desde que comprovada a satisfação integral da obrigação. 
o valor consignado no título no prazo legal contido na lei de regência, será 
evitado o registro do protesto, não sendo necessária para isso prévia ordem 
judicial (art. 19 Lei 9492/97)36. 
Embora óbvio, é cauteloso lembrar que não cabe ao 
Tabelião analisar qualquer justificativa sobre a impossibilidade do 
pagamento, tarefa esta reservada com exclusividade ao Juiz (art. 528 e §s 
NCPC). 
De anotar-se, por fim, que o novo código ampliou as 
benesses da gratuidade da justiça aos notários ou registradores (art. 98 IX 
NCPC)37, o que alcança todos os atos relacionados ao cumprimento de ordem 
judicial para protesto do título que embasa crédito alimentar. 
De outro lado, o art. 782 § 3º NCPC trouxe a 
previsão de que, “a requerimento da parte, o juiz pode determinar a inclusão 
do nome do executado em cadastros de inadimplentes”. 
Trata-se de permissivo relevante e que se presta a 
pacificar a divergência jurisprudencial acerca do tema, notadamente no 
concernente à execução de alimentos38. 
 
36 Art. 19. O pagamento do título ou do documento de dívida apresentado para protesto será 
feito diretamente no Tabelionato competente, no valor igual ao declarado pelo apresentante, 
acrescido dos emolumentos e demais despesas. 
37 Art 98 - IX - os emolumentos devidos a notários ou registradores em decorrência da 
prática de registro, averbação ou qualquer outro ato notarial necessário à efetivação de 
decisão judicial ou à continuidade de processo judicial no qual o benefício tenha sido 
concedido. 
38 EMENTA: AGRAVO EM AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXECUÇÃO DE ALIMENTOS - 
NEGATIVAÇÃO DO DEVEDOR NO SPC / SERASA - PROTESTO DE DÍVIDA JUDICIAL - 
IMPOSSIBILIDADE - RECURSO NÃO PROVIDO. - É ilegal o registro do nome do devedor de 
alimentos em cadastros de proteção ao crédito, assim como o protesto de certidão de dívida 
alimentícia, por constituir violação do segredo de justiça imposto pelo art. 155, II, do CPC. - 
Agravo não provido. (Agravo interno 0723198-37.2013.8.13.0000, Des. Alyrio Ramos, Dje: 
09/12/2013. TJMG). 
Direito constitucional. Direito civil. Processo Civil. Alimentos. Execução. Devedor contumaz. 
Ausência de bens passíveis de constrição. Emprego de meios coercitivos para o 
cumprimento espontâneo da obrigação. Inscrição do nome do devedor em cadastro restritivo 
de crédito. SPC e Serasa. Possibilidade. Observância dos princípios constitucionais do 
direito à vida e da dignidade da pessoa humana quanto ao alimentando, que tem o direito 
de desfrutar de uma existência digna com suas necessidades básicas atendidas por aqueles 
A viabilidade da negativação do nome do devedor 
está prevista expressamente quando o Código novo trata da execução por 
título extrajudicial (art. 782), sendo ampliada para o cumprimento de 
sentença no § 5º do citado artigo legal. 
O problema que poderia surgir está na afirmativa 
contida no dito § 5º art. 782, de que se aplica a viabilidade à “execução 
definitiva de título judicial”. Essa restrição poderia eliminar o meio 
coercitivo em pauta para a execução de decisão interlocutória (alimentos 
provisórios) e para aquelas decisões ainda não transitadas em julgado. 
 
que têm obrigação legal de prover seu sustento. A determinação de inclusão do nome do 
devedor contumaz de prestação alimentícia a menor é medida que independe de lei e se 
justifica à luz da melhor técnica hermenêutica. Bancos de dados como SPC e SERASA 
registram, na grande maioria dos casos, os nomes de devedores que estejam inadimplentes 
ou em mora à conta de operações bancárias ou comerciais. Tais registros são de grande 
importância nas economias globalizadas e de consumo, como a nossa, porque estimulam a 
tomada responsável de crédito e protegem o mercado dos nocivos efeitos da inadimplência. 
A rigor, o devedor de alimentos a um menor ou a uma pessoa incapacitada de trabalhar, 
causa dano muito maior do que aqueloutro que deixa de pagar a prestação de um 
eletrodoméstico. Tanto assim que, em caso de alimentos, a Constituição Federal prevê a 
mais grave e excepcional medida coercitiva que é a prisão. Aqui se mostra impositiva a 
máxima "quem pode o mais pode o menos" porque se o Juiz pode determinar a prisão por 
até 60 dias do devedor de alimentos, poderá, meramente, determinar a negativação de seu 
nome em órgãos de proteção ao crédito. Dir-se-á que, nestes casos, o alimentante não 
tomou qualquer tipo de crédito e, portanto, seu nome não pode constar de um cadastro de 
proteção ao crédito. O argumento não passa de sofisma, dês que a medida deve ser avaliada 
pelo seu conteúdo coercitivo e não pela razão ou motivo da dívida. Não se desconhece que, 
na espécie de que se trata, há colisão de direitos fundamentais, qual seja o direito à 
privacidade versus o direito à vida/dignidade da pessoa humana, valendo

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