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LIVRO TEXTO II - HISTORIA MODERNA E CONTEMPORÂNEA

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Unidade II
Unidade II
Analisaremos agora a crise do absolutismo e a ascensão do Estado liberal. Assim, daremos ênfase 
especial às revoluções burguesas (na França, a Revolução Francesa e, na Inglaterra, a Revolução Gloriosa 
e a Revolução Industrial), discutindo o processo de industrialização e a introdução de novos paradigmas 
sociais do liberalismo clássico e da democracia popular. As contradições do Antigo Regime irão propiciar 
o avanço do ideário liberal e suas manifestações revolucionárias. A partir daí estabeleceremos relações 
entre as características contraditórias do capitalismo e as ideias socialistas. Finalmente, trataremos do 
imperialismo e do neocolonialismo do século XIX, investigando as raízes da Primeira Guerra Mundial e 
o fim da hegemonia europeia.
5 A CRISE DO ABSOLUTISMO E A ASCENSÃO DO ESTADO LIBERAL
O contexto histórico impõe certa forma de pensar ou determinadas maneiras de pensar estimulam 
transformações significativas da realidade? Ambos os fenômenos ocorrem: temos a Ciência e a Filosofia 
que o nosso tempo admite como possíveis e mudamos a História a partir de novas atitudes e novas 
formas de pensar e ver o mundo.
Mais do que em qualquer outro instante, essa relação de interpendência e conexão entre o pensar 
e o fazer histórico esteve presente durante os séculos XVII e XVIII, momentos nos quais o iluminismo 
refletiu as grandes transformações que ocorriam e, ao mesmo tempo, serviu de elemento propulsor e 
catalisador de outras tantas mudanças.
O iluminismo acompanhou o processo de descristianização dos homens das classes 
sociais mais elevadas. Ele se expressava por meio de uma filosofia progressista e racionalista, 
a postos para servir de instrumento de compreensão do mundo por parte da classe média 
ascendente. Estava impregnado de sentimentos anticlericais, associando a religiosidade às 
classes operárias mais pobres. Além disso, era uma filosofia extremamente moralista, que 
identificava a libertinagem com a nobreza decadente. Se a religião havia tido papel relevante 
nas revoluções anteriores da Holanda e da Inglaterra, agora a ideologia secular deixava à 
margem o cristianismo e as questões religiosas mais tradicionais. Essa moral, característica 
básica da nova classe social burguesa, era agnóstica e secular e viu‑se refletida nas obras dos 
livres‑pensadores dos séculos XVII e XVIII.
Embora o iluminismo objetivasse a libertação do indivíduo, tratava‑se de uma liberdade atrelada 
à sociedade capitalista, em que os iluministas emancipariam os futuros burgueses já pertencentes 
à alta sociedade.
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HISTÓRIA MODERNA E CONTEMPORÂNEA
 Lembrete 
Não por acaso, a Revolução Francesa e a Revolução Industrial inglesa 
ocorreram no mesmo período e em lugares próximos: ambas foram fruto 
do desenvolvimento do capitalismo liberal burguês.
A Revolução Francesa e a Revolução Industrial serviram como marcas cruciais e divisoras de águas 
entre um Antigo Regime baseado no poder de um rei ungido por direito divino e um mundo em que a 
burguesia, dona do dinheiro, chamou para si o direito de governar.
O iluminismo defendeu a possibilidade de compreender tudo e solucionar qualquer problema 
através do uso da razão, e inspirou a consolidação da ideologia liberal e burguesa. Segundo essa forma 
de pensar, o homem seria dotado de ambições e sentimentos que o tornariam inclinado a realizar e 
a concordar com contratos sociais para que, em troca da diminuição da liberdade individual, fosse 
possível viver harmonicamente em sociedade. “Os objetivos sociais eram, portanto, a soma aritmética 
dos objetivos individuais. A felicidade [...] era o supremo objetivo de cada indivíduo; a maior felicidade 
do maior número de pessoas era claramente o objetivo da sociedade” (HOBSBAWM, 2010, p. 256).
O progresso era algo tão “natural” quanto o capitalismo. Aliás, o capitalismo tornava o progresso 
possível, e isso podia ser visto nas cidades, nos campos, nas artes e na ciência. Na Física e na Química, 
cientistas pesquisavam e criavam novas teorias explicativas do mundo. A Matemática desenvolvia cada 
vez mais sua linguagem simbólica, buscando representar as abstrações que resultavam das especulações 
dos cientistas. Novos problemas eram apresentados e os desafios eram inúmeros.
A era revolucionária fez crescer o número de cientistas e eruditos e 
estendeu a ciência em todos os seus aspectos. E ainda mais, viu o universo 
geográfico das ciências se alargar em duas direções. Em primeiro lugar, o 
progresso do comércio e o processo de exploração abriram novos horizontes 
do mundo ao estudo científico, e estimularam o pensamento sobre eles. 
(...) Em segundo lugar, o universo das ciências se ampliou para abraçar 
países e povos que até então só tinham dado contribuições insignificantes 
(HOBSBAWM, 2010, p. 304).
Na História, pensadores alemães preconizaram a importância da objetividade e da coleta de 
documentos comprobatórios. A documentação e a técnica histórica colocavam‑se à disposição de uma 
sociedade que queria conhecer o passado e desejava transformar o futuro. Na Política e na Economia, 
os pensadores procuravam traduzir as inquietações da classe burguesa para aquele momento, ao 
mesmo tempo em que inspiravam e mobilizavam o espírito revolucionário. Esse espírito revolucionário, 
disseminado por toda a Europa e Novo Mundo, mover‑se‑ia na direção contrária à dos regimes absolutistas 
que haviam governado até então, das normas que a tudo buscavam controlar e dos velhos modelos de 
poder que alijavam os burgueses, deixando‑os à mercê de famílias reais decadentes, esbanjadoras e 
incompetentes na gestão dos interesses da sociedade.
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 Observação
Essa crença na associação entre progresso e capitalismo permaneceu 
viva até a primeira metade do século XIX, quando as crises do capital e 
as revoltas dos operários mostraram que a crença em um mundo que 
serenamente caminhava para o progresso era mais uma manifestação de 
vontade do que resultado da percepção da realidade. O século XIX também 
acabou por assistir ao surgimento do socialismo utópico, que cresceu e se 
desenvolveu dentro do seio do pensamento liberal clássico inglês e francês.
5.1 A discussão sobre o poder
A burguesia havia fortalecido o rei para que um poder central fosse capaz de garantir a liberdade 
do comércio e da atividade econômica. Um monarca forte podia se contrapor aos senhores feudais e 
à Igreja Católica (com todas as suas normas e interditos). Mas, resolvido esse problema, fazia‑se ainda 
necessário manter o rei? Ou melhor, o que justificava o controle exercido por qualquer governo?
Para Hobbes, o ser humano, em seu estado de natureza, para se defender ou ter o que desejava, 
estava inclinado a sempre atacar o outro, a guerrear. A única coisa que poderia controlar e reprimir esse 
impulso ao ataque contra todos seria o Estado. Para um contratualista como Hobbes, o Estado havia 
surgido em decorrência “de um pacto firmado entre os homens, estabelece[ndo] as regras de convívio 
social e de subordinação política” (RIBEIRO, 2001, p. 53).
 Observação
O estado de natureza ao qual se referia Hobbes não era o estado 
selvagem das sociedades primitivas. Esse estado de natureza referia‑se às 
características naturais do ser humano, independentemente do movimento 
da História. Quer dizer, dizia respeito às características que não mudavam 
com o tempo, ou com os acontecimentos históricos.
Figura 17 – Thomas Hobbes (1588–1679)
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Esse homem “natural” era bem diferente do homem social imaginado por Aristóteles. Para Hobbes, 
a vida social estava impregnada de tensão, e sobre isso ele discorreu em Leviatã, a sua principal obra.
O mito de que o homem é sociável por natureza nos impede de identificar 
onde está o conflito, e de contê‑lo. A política só será uma ciência se 
soubermos como o homem é de fato, e não na ilusão; e só com a ciência 
política será possível construirmos Estados que se sustentem, em vez de 
tornarem permanente a guerra civil (RIBEIRO, 2001, p. 58).
Para Hobbes, o homem não almejava bens, mas honra.
O homem vive basicamente de sua imaginação. Ele imagina ter um poder, 
imagina ser respeitado – ou ofendido – pelos semelhantes, imagina o que o 
outro vai fazer. Da imaginação [...] decorrem perigos, porque o homem se põe 
a fantasiar o que é irreal. O estado de natureza é uma condição de guerra, 
porque cada um se imagina (com razão ou sem) poderoso, perseguido e 
traído (RIBEIRO, 2001, p. 58).
Se a lei da natureza, primeira e fundamental, dizia que o homem deveria procurar a paz, o direito de 
natureza afirmava o seu direito de se defender, caso fosse atacado. Ou, nos termos de Hobbes,
[...] que todo homem deve esforçar‑se pela paz, na medida em que tenha 
esperança de consegui‑la, e caso não a consiga pode procurar e usar todas 
as ajudas e vantagens da guerra. [...] [Assim], que um homem concorde, 
quando outros o façam, e na medida em que tal considere necessário para a 
paz e para a defesa de si mesmo, em renunciar a seu direito a todas as coisas, 
contentando‑se, em relação aos outros homens, com a mesma liberdade que 
aos outros homens permite em relação a si mesmo (HOBBES apud RIBEIRO, 
2001, p. 60).
Para Hobbes, o Estado garantia o respeito dos homens a esse acordo e, para isso, ele deveria ser 
pleno. Fundindo os conceitos de associação e submissão, Hobbes foi além: o governo era condição 
necessária para que se pudesse viver em paz e em sociedade, e o poder do governante tinha que ser 
ilimitado, portanto, absoluto. Para que esse contrato fosse válido, os súditos aceitariam o poder do rei, 
submetendo‑se a ele. A liberdade e a igualdade eram os sentimentos que levavam os homens à guerra e 
a uma condição de existência pobre, solitária e sórdida. Ao renunciar à liberdade, o homem renunciava 
ao direito de defender sua própria vida, tarefa agora executada pelo rei.
 Observação
O rei não estava comprometido com nada, já que não havia assinado 
nenhum acordo. No entanto, caso o rei não defendesse a vida do súdito, 
esse último não lhe deveria mais qualquer obediência.
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O Estado hobbesiano apoiava‑se no medo. O súdito obedecia ao soberano por temê‑lo. O príncipe 
que governava (ameaçador como o monstro bíblico de nome Leviatã), fazia‑o por meio do terror causado 
em seus súditos, e esse medo só era suportável porque se configurava como menor do que o terror 
provocado pela vida em sociedade em que não houvesse qualquer contrato ou norma. Aliás, o indivíduo 
não cedia ao soberano somente os direitos que a privação de liberdade havia feito desaparecer, mas 
também a autonomia para a gestão de todas as terras e bens.
Será que ideias que negavam o direito natural à propriedade poderiam interessar à burguesia por 
muito tempo? Não. De fato, não lhe interessaram, e muito menos o fez a crença de que o soberano fosse 
capaz de proteger os direitos dos seus súditos. Nem mesmo o despotismo esclarecido – o absolutismo sob 
a influência do iluminismo – interessava à burguesia. Afinal, as cidades e os comerciantes haviam travado 
uma intensa luta política contra a autoridade feudal: era necessário que o poder feudal fosse controlado 
para que as atividades ficassem livres das amarras e do excesso de regulamentação. A Igreja Católica, 
por sua vez, havia muito perdera importância e influência. Os Estados Nacionais haviam‑se fortalecido, 
centralizando o poder que era preciso para que as cidades, o comércio e a indústria pudessem florescer.
Se a burguesia havia apoiado a monarquia, era porque havia visto nessa estratégia uma forma de 
se livrar dos resíduos do sistema feudal. Se a monarquia não estava mais interessada em defender os 
interesses dos mercadores e da indústria nascente, era necessário livrar‑se dos soberanos absolutistas.
 Lembrete
Como você deve ter percebido, a Igreja Católica, por sua vez, havia 
muito perdera importância e influência. Além disso, os Estados nacionais 
haviam‑se fortalecido, centralizando o poder que era preciso para que as 
cidades, o comércio e a indústria pudessem florescer.
A partir dessa perspectiva, John Locke (1632–1704), filósofo defensor da experiência como fonte do 
conhecimento, refutou o conceito de direito divino dos reis e discutiu a extensão e objetivo do governo 
civil. Assim, como um dos principais representantes da teoria dos direitos naturais (o jusnaturalismo), 
Locke defendeu
[...] ser a existência do indivíduo anterior ao surgimento da sociedade e do 
Estado. Na sua concepção individualista, os homens viviam originalmente 
num estágio pré‑social e pré‑político, caracterizado pela mais perfeita 
liberdade e igualdade, denominado estado de natureza (MELLO, 2001, p. 84).
A propriedade, que significava também os direitos à vida e à liberdade era, portanto, anterior à própria 
sociedade, constituindo‑se como um direito natural do indivíduo que não podia ser violado pelo Estado.
O homem era naturalmente livre e proprietário de sua pessoa e de seu 
trabalho. Como a terra fora dada por Deus em comum a todos os homens, 
ao incorporar seu trabalho à matéria bruta que se encontrava em estado 
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natural, o homem tornava‑a sua propriedade privada, estabelecendo sobre 
ela um direito próprio do qual estavam excluídos todos os outros homens. 
O trabalho era, pois, na concepção de Locke, o fundamento originário da 
propriedade. [...]. Depois, o aparecimento do dinheiro alterou essa situação, 
possibilitando a troca de coisas úteis, mas perecíveis, por algo duradouro 
(ouro e prata), convencionalmente aceita pelos homens. Com o dinheiro 
surgiu o comércio e também uma nova forma de aquisição da propriedade 
que, além do trabalho, poderia ser adquirida pela compra. O uso de moeda 
levou, finalmente, à concentração da riqueza e à distribuição desigual dos 
bens entre os homens (MELLO, 2001, p. 85).
Se não houvesse uma lei forte que todos respeitassem, os homens entrariam em guerra uns contra 
os outros. Por isso, era fundamental que os indivíduos estabelecessem um contrato social, cuja função 
era tornar possível a sociedade civil, protegendo‑a dos inconvenientes do estado de natureza. Não se 
tratava, porém, de um contrato de submissão como o de Hobbes, mas de:
[...] um pacto de consentimento, em que os homens concordam livremente 
em formar a sociedade civil para preservar e consolidar ainda mais os 
direitos que possuíam originalmente no estado de natureza. No estado civil, 
os direitos naturais inalienáveis do ser humano à vida, à liberdade e aos bens 
estão melhor protegidos sob o amparo da lei, do árbitro e da força comum 
de um corpo político unitário (MELLO, 2001, p. 86).
Estabelecido o estado civil, definia‑se a forma de governo. Definida a forma de governo, passava a 
prevalecer a decisão majoritária. A maioria também escolhia o poder legislativo, ao qual se submetiam 
o poder executivo e o federativo (encarregado das relações internacionais).
Em suma, o livre consentimentodos indivíduos para o estabelecimento 
da sociedade, o livre consentimento da comunidade para a formação 
do governo, a proteção dos direitos de propriedade pelo governo, o 
controle do executivo pelo legislativo e o controle do governo pela 
sociedade são, para Locke, os principais fundamentos do estado civil 
(MELLO, 2001, p. 87).
Nesses termos, Locke definiu a tirania como o exercício do poder para além daquilo que era de 
direito, com vistas ao interesse próprio e não ao bem público. O uso contínuo da força e a não execução 
daquilo que é esperado em termos do bem de todos dão ao povo o direito legítimo de resistir. A guerra 
declarada pelo povo em relação ao governo é o último recurso de quem não pode mais apelar a nada, 
a não ser à justiça de Deus.
Segundo Locke, a doutrina da legitimidade da resistência ao exercício ilegal 
do poder reconhece ao povo, quando este não tem outro recurso ou a quem 
apelar para a sua proteção, o direito de recorrer à força para a deposição 
do governo rebelde. O direito do povo à resistência é legítimo tanto para 
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defender‑se da opressão de um governo tirânico como para libertar‑se do 
domínio de uma nação estrangeira (MELLO, 2001, p. 88).
Essas eram ideias que atendiam aos interesses da burguesia. Não se tratava mais de se contentar 
com o apoio da monarquia ou com a sua indulgência. A questão que agora se colocava era: por que 
não governar?
Montesquieu (1689–1755), na França, discutiu os regimes políticos a partir da ótica liberal. Membro 
da nobreza, sua percepção dos regimes monárquicos e da burguesia era bastante realista: preocupava‑o 
compreender as razões da decadência das monarquias ao mesmo tempo em que buscava identificar as 
razões da sua estabilidade por tanto tempo.
A partir da definição das leis, Montesquieu rompeu com a teologia. Apesar desse rompimento, o tom 
conservador permaneceu, já que há em sua obra um determinismo com relação ao funcionamento das 
leis em torno de uma ordem natural dada. Afinal, nota‑se a imensa influência das ciências físicas no 
seu trabalho: interessava a Montesquieu estabelecer, na política, leis explicativas da mesma forma como 
Newton havia feito na Física. Essas leis dariam conta de explicar as uniformidades, as constâncias e as 
relações de causa e efeito.
Com o conceito de lei, Montesquieu traz a política para fora do campo 
da teologia e da crônica, e a insere num campo propriamente teórico. 
Estabelece uma regra de imanência que incorpora a teoria política ao 
campo das ciências: as instituições políticas são regidas por leis que derivam 
das relações políticas. As leis que regem as instituições políticas, para 
Montesquieu, são relações entre as diversas classes nas quais se divide a 
população, as formas de organização econômica, as formas de distribuição 
de poder etc. (ALBUQUERQUE, 2001, p. 115).
Montesquieu analisou a natureza do governo e afirmou que, na monarquia, apenas um 
governava, sob o princípio da honra; na república, governava o povo ou parte dele, sob o princípio 
da virtude; no despotismo, governava a vontade de um só, sob o princípio do medo. Assim, para 
o Estado de direito, era necessário que houvesse a separação dos poderes executivo, legislativo e 
judiciário, cada um deles funcionando de forma independente e cada um deles detentor do mesmo 
poder que os outros.
A estabilidade do regime ideal está em que a correlação entre as forças 
reais da sociedade possa se expressar também nas instituições políticas. Isto 
é, seria necessário que o funcionamento das instituições permitisse que 
o poder de forças sociais contrariasse e, portanto, moderasse o poder das 
demais (ALBUQUERQUE, 2001, p. 120).
Era necessário que a burguesia, como força política, pudesse se proteger das demais forças e, acima de 
tudo, armar‑se de instrumentos capazes de salvaguardar seus interesses. Em relação ao Antigo Regime, 
essa nova classe social já não precisava mais do poder absoluto do rei e também não necessitava mais de 
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tantas regras e normas, especialmente porque elas se prestavam a defender seus interesses econômicos. 
Em resumo, não havia nada no Antigo Regime que ainda pudesse interessá‑la.
5.2 As revoluções burguesas
O Antigo Regime estava apoiado no absolutismo monárquico e nas práticas mercantilistas para 
a obtenção de uma balança de pagamentos favorável e para o consequente estoque de moedas. Na 
Inglaterra, no entanto, a burguesia se revoltou. Não havia mais qualquer sentido em apoiar o governo 
absolutista dos reis. Se, afinal, era ela quem bancava o luxo da nobreza e da corte com o pagamento de 
impostos, por que então ficar à mercê do capricho de um monarca nem sempre disposto a defender os 
interesses do comércio e da atividade econômica?
Na Inglaterra, uma briga entre a burguesia e o rei resultou em duas revoluções: a Puritana e a Gloriosa, 
finalizadas com a vitória de modelo de governo em que o parlamentarismo limitava a autonomia do 
monarca. Assim, a transição de um modelo em que o poder real era absoluto para outro em que a 
monarquia era constitucional representou a primeira vitória burguesa em relação ao Antigo Regime. 
Na França, a revolta da população acabou resultando na limitação de poderes do Rei Luiz XVI e na 
Declaração dos Direitos dos Cidadãos.
A partir daquele instante, a burguesia passou a também fazer parte do governo. Durante os séculos 
XVII e XVIII, cada vez mais essa nova classe social ocuparia espaço e espalharia seu poder entre as mais 
variadas esferas. A esse movimento de ocupação de espaço damos o nome de revoluções burguesas, 
que compreenderam não apenas os acontecimentos políticos na Inglaterra, mas também as próprias 
Revoluções Industrial e Francesa, além dos movimentos emancipatórios de algumas colônias. Segundo 
Hobsbawm (2010, p. 18),
Não seria exagerado considerarmos esta dupla revolução – a francesa, 
bem mais política, e a industrial (inglesa) – não tanto como uma coisa que 
pertença à história dos dois países que foram seus principais suportes e 
símbolos, mas sim como a cratera gêmea de um vulcão bem maior. O fato 
de que as erupções simultâneas ocorreram na França e na Inglaterra, e de 
que suas características difiram tão pouco, não é nem acidental nem sem 
importância. [...] É mais relevante notar que elas ocorreram em algum ponto 
do noroeste europeu e em seus prolongamentos de além‑mar, e que não 
poderiam sob hipótese alguma ter ocorrido naquela época em qualquer 
outra parte do mundo. É igualmente relevante notar que elas são, neste 
período, quase inconcebíveis sob qualquer outra forma que não a do triunfo 
do capitalismo liberal burguês.
O iluminismo disseminou o sentimento contrário ao absolutismo e às instituições clericais. A 
população passou a clamar por governos liberais que permitissem a participação de todos: era preciso 
que o poder fosse distribuído no campo político. Na economia, as práticas mercantilistas encontraram 
a firme oposição dos liberais clássicos que, em vez de normas e regulamentações, pregavam o laissez 
faire, laissez passer. “Deixe fazer, deixe passar” era o lema repetido pelos liberais clássicos que, naquele 
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momento, teorizavam sobre a divisão do trabalho, as restrições às importações e a renda da terra, que 
implicava a alta dos preços e mantinha – injustamente – os privilégios dos proprietários de terras.
As revoluções burguesas representaram, assim, a consolidação do capitalismo e, por meio dele,o fortalecimento de uma nova classe social que necessitava de liberdade para comerciar, produzir, 
expandir‑se e se estabelecer em todas as partes do planeta.
5.2.1 A Revolução Francesa
O desapego aos ideais tradicionais e religiosos daria lugar à máxima da Revolução Francesa, que 
pretendia a liberdade, a igualdade e a fraternidade de todos os homens, desde que respeitados o progresso 
e o racionalismo inerentes ao desenvolvimento do capitalismo. Assim, foi a Revolução Francesa que pôs 
fim de fato aos resquícios das relações sociais feudais: a monarquia tinha interesse nas novas ideias da 
classe média para se modernizar e a classe média dependia da boa vontade do príncipe para que as ações 
direcionadas ao progresso do capitalismo tivessem espaço em meio aos interesses aristocráticos e clericais.
Segundo Hobsbawm (2010, p. 72),
A Revolução Francesa pode não ter sido um fenômeno isolado, mas foi 
muito mais fundamental do que os outros fenômenos contemporâneos 
e suas consequências foram, portanto, mais profundas. Em primeiro 
lugar, ela se deu no mais populoso e poderoso Estado da Europa (não 
considerando a Rússia) [...] Em segundo lugar, ela foi, diferentemente de 
todas as revoluções que a precederam e a seguiram, uma revolução social de 
massa, e incomensuravelmente mais radical do que qualquer outro levante 
comparável [...] Em terceiro lugar, entre todas as revoluções contemporâneas, 
a Revolução Francesa foi a única ecumênica. Seus exércitos partiram para 
revolucionar o mundo; suas ideias de fato o revolucionaram.
Rousseau (1712–1778), filósofo francês, inspirou o sentimento revolucionário. Em sua obra, ele 
afirmava ser o homem, em estado civil, corrompido e amoral. Para ele, nos tempos do estado da natureza, 
o ser humano era melhor, capaz de sentimentos altruístas e generosos. A vida em sociedade transformara 
o ser humano, e um imenso esforço deveria ser feito para que ele não fizesse mais o mal. Rousseau foi 
incisivo: o homem era livre e a vida em sociedade o colocava em estado de servidão. Nesse processo, 
a propriedade privada tinha fundamental importância, porque legitimava a injustiça e a desigualdade. 
Não foi à toa que Rousseau se tornou o arauto e patrono dos que promoveram a Revolução Francesa 
(os camponeses e trabalhadores empobrecidos) (FALCON, 2009). Certa leitura feita dos seus escritos 
coadunava com os sentimentos revolucionários que imaginavam serem capazes de criar uma sociedade 
em que todos os homens pudessem ter a liberdade civil em troca da liberdade natural.
Na França, o regime monárquico absolutista não conseguia dar conta das demandas da nobreza 
(que cada vez pedia mais privilégios), da burguesia (que enriquecia e buscava mais espaço) e das classes 
mais baixas (que viviam em estado de extrema miséria). Embora o absolutismo tivesse conseguido 
corroer o poder de Roma e tivesse promovido a conquista e a exploração de colônias além‑mar, ele 
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ainda devia custear o luxo da nobreza e isso promovia uma gestão de gastos descontrolados e finanças 
desorganizadas. Mesmo as versões mais suaves, no caso de alguns monarcas “esclarecidos”, eram 
incapazes de promover mudanças significativas.
A participação de camponeses e trabalhadores pobres na assembleia (reunidos no que ficou 
denominado Terceiro Estado) não conseguiu acalmar os ânimos de uma população sofrida que, ainda 
por cima, tinha que lidar com as péssimas safras agrícolas e com o rigoroso inverno.
O Rei Luiz XVI tentou conter as forças revolucionárias, mas o ambiente de revolta era tamanho que, 
apesar da presença de tropas, as insurreições camponesas se espalharam por toda a França. De fato, o 
movimento contrarrevolucionário só fez estimular a mobilização popular.
O resultado mais sensacional de sua mobilização foi a queda da Bastilha, uma 
prisão estadual que simbolizava a autoridade real e onde os revolucionários 
esperavam encontrar armas. Em tempos de revolução, nada é mais poderoso 
do que a queda de símbolos. A queda da Bastilha, que fez do 14 de julho a 
festa nacional francesa, ratificou a queda do despotismo e foi saudada em 
todo o mundo como o princípio da libertação (HOBSBAWM, 2010, p. 79).
O que eles pediam podia ser resumido em poucas palavras de ordem: liberdade, igualdade, 
inviolabilidade da propriedade e direito de resistir à opressão. Em agosto de 1789, foram declarados os 
direitos dos cidadãos:
Os representantes do povo francês, reunidos em Assembleia Nacional, tendo 
em vista que a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos 
do homem são as únicas causas dos males públicos e da corrupção dos 
Governos, resolveram declarar solenemente os direitos naturais, inalienáveis 
e sagrados do homem, a fim de que esta declaração, sempre presente em 
todos os membros do corpo social, lhes lembre permanentemente seus 
direitos e seus deveres;
[...] Em razão disto, a Assembleia Nacional reconhece e declara, na presença 
e sob a égide do Ser Supremo, os seguintes direitos do homem e do cidadão:
Art.1º. Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções 
sociais só podem fundamentar‑se na utilidade comum.
Art. 2º. A finalidade de toda associação política é a conservação dos direitos 
naturais e imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a 
propriedade a segurança e a resistência à opressão.
Art. 3º. O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação. 
Nenhuma operação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela 
não emane expressamente.
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Art. 4º. A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o 
próximo. Assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem 
por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade 
o gozo dos mesmos direitos. Estes limites apenas podem ser determinados 
pela lei.
Art. 5º. A lei não proíbe senão as ações nocivas à sociedade. Tudo que não 
é vedado pela lei não pode ser obstado e ninguém pode ser constrangido a 
fazer o que ela não ordene.
Art. 6º. A lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito 
de concorrer, pessoalmente ou através de mandatários, para a sua formação. 
Ela deve ser a mesma para todos, seja para proteger, seja para punir. Todos 
os cidadãos são iguais a seus olhos e igualmente admissíveis a todas as 
dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade e sem 
outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos.
Art. 7º. Ninguém pode ser acusado, preso ou detido senão nos casos 
determinados pela lei e de acordo com as formas por esta prescritas. Os 
que solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias 
devem ser punidos; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude 
da lei deve obedecer imediatamente, caso contrário torna‑se culpado de 
resistência (ASSEMBLEIA NACIONAL, 1789).
 Saiba mais
O texto completo da declaração pode ser encontrado em:
ASSEMBLEIA NACIONAL. Declaração dos Direitos dos Cidadãos. 1789. 
Disponível em: <http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao‑e‑conteudos‑de‑apoio/
legislacao/direitos‑humanos/declar_dir_homem_cidadao.pdf>. Acesso em: 
23 jun. 2014.
Luiz XVI recusou‑se a garantir esses direitos e o povo de Paris invadiu o Palácio de Versalhes. A França 
tornar‑se‑ia, a partir daquele momento, uma monarquia constitucional. Segundo Hobsbawm (2010, p. 77).
O rei não era mais Luís, pela Graça de Deus, Rei da França e Navarra, mas Luiz, 
pela Graça de Deus e do direito Constitucional do Estado, Rei dos franceses. 
“A fonte de toda a soberania”, dizia a Declaração, “reside essencialmente nanação”. E a nação [...] não reconhecia na terra qualquer direito acima do seu 
próprio e não aceitava qualquer lei ou autoridade que não a sua.
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É claro que, apesar de sua decisiva participação na queda do absolutismo, os camponeses e 
trabalhadores pobres (os sans‑culotes, ou sem calças) não tiveram as suas demandas atendidas. A 
revolução fora feita por eles, mas em benefício da classe burguesa. Assim, a Assembleia Constituinte 
que se estabeleceu a partir de 1789 apresentou intenções notadamente liberais, a favor do comércio, 
dos comerciantes e dos pequenos empresários.
Entretanto, é necessária uma observação: embora a Revolução Francesa, de cunho burguês, tenha 
ocorrido em 1789,
[...] não foi senão a partir de 1804 que seu governo tomou certas medidas de 
favorecimento à burguesia, como a criação do Banco da França, a construção 
de novas estradas, a remodelação dos portes e os incentivos à mecanização 
da produção (REZENDE, 2007, p. 149).
O cenário era propício, já que desde o século anterior os governos franceses vinham adotando 
políticas protecionistas à indústria nacional; em contrapartida, a hegemonia política da nobreza dona 
das terras servia como empecilho ao crescimento industrial.
A força política da nobreza, que controlava o Estado, criava obstáculos 
intransponíveis ao desenvolvimento industrial. O país era coberto por 
barreiras alfandegárias locais e provinciais, que forçavam o pagamento de 
tributos pela passagem por qualquer parte de seu território, tal como desde 
a Idade Média. Essas barreiras faziam com que o mercado interno não fosse, 
na realidade, único, e sim a soma de uma centena ou mais de mercados 
locais, e tornava proibitivo o envio de mercadorias de uma região a outra. 
Como se isso não bastasse, havia limitações legais ao livre trânsito dos 
produtos agrícolas, sendo os agricultores obrigados a vender sua produção 
somente nos mercados locais (MAGALHÃES FILHO, 1991, p. 262).
Napoleão Bonaparte (1769–1821), bem‑sucedido general que, posteriormente, instituiu o regime do 
Consulado e acabou elegendo‑se imperador, consagrou o processo de vitória da burguesia iniciado com 
a Revolução Francesa.
Apoiado e admirado pelo povo francês, Napoleão governou, em especial, para os burgueses. Ele 
fundou o Banco da França e promulgou o Código Civil, francamente favorável aos interesses burgueses 
em detrimento dos direitos dos trabalhadores. Basicamente, o código napoleônico buscou proteger a 
propriedade privada e proibir a criação de sindicatos e a realização de greves.
Expansionista, Napoleão atacou a Prússia, a Espanha e Portugal. Vencido na frente de batalha russa, 
foi preso na ilha de Elba. Depois de fugir de lá, voltou a governar na França mas, derrotado pelos ingleses 
em Waterloo, foi novamente preso e exilado na Ilha de Santa Helena, onde morreu.
A Revolução Francesa e o período napoleônico representaram a vitória e o triunfo da burguesia no 
país e, terminadas as guerras napoleônicas, o ritmo de industrialização francês intensificou‑se de forma 
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significativa: no norte, a indústria de tecidos se estabeleceu; nas minas do Noroeste e em Lorena, a 
produção de ferro e carvão aumentou. Empregaram‑se os antigos operários das corporações aniquiladas 
pela força das indústrias em vagas como assalariados nas fábricas capitalistas.
5.2.2 A Revolução burguesa na Inglaterra
Após a deposição de Carlos I (durante a Revolução Puritana), estabeleceu‑se na Inglaterra o governo 
autoritário de Cromwell (1649). Esse governo, embora tivesse recebido o nome de república, nada mais 
era do que a reprodução do absolutismo monárquico, agora nas mãos de alguém que não fazia parte da 
realeza. Depois de receber o apoio popular para assumir o poder, Cromwell afastou todos e governou de 
forma despótica. Assim, a crise política que havia causado a deposição do rei ainda não estava resolvida: a 
burguesia desejava mais poder (por meio da sua representatividade no parlamento), o que conflitava com 
os interesses de Cromwell, da mesma forma como havia conflitado com os interesses do monarca deposto.
A solução encontrada foi promover o retorno dos Stuart ao poder, e assim Carlos II foi coroado, sob 
a condição de governar de forma mais tolerante e democrática. Afinal, os tempos de poder absoluto 
haviam ficado no passado e o rei, naquele momento, deveria atuar muito mais como um funcionário da 
nação do que como alguém dotado do direito divino de ordenar, comandar e reinar.
O Parlamento inglês estava dividido entre conservadores e liberais, mas, durante o reinado do sucessor 
de Carlos II, Jaime II, (católico e absolutista), essas duas correntes se uniram para depor novamente o rei, 
empossando Guilherme de Orange (chefe da Holanda e genro de Jaime II).
A deposição de Jaime II (também conhecida como Revolução Gloriosa) encerrou‑se com o triunfo “do 
liberalismo político sobre o absolutismo e com a aprovação do Bill of Rights em 1689, [que] assegurou 
a supremacia legal do parlamento sobre a realeza e instituiu na Inglaterra uma monarquia limitada” 
(MELLO, 2001, p. 82).
 Observação
A Declaração dos Direitos de 1689 afirmou:
• ser ilegal a autoridade real suspender leis, ou dispensar seu 
cumprimento;
• ser ilegal e perniciosa qualquer corte eclesiástica;
• ser ilegal a cobrança de impostos sem a autorização do Parlamento;
• ter o súdito o direito de apresentar petições ao rei;
• que o Parlamento devia autorizar a ação do exército e que os súditos 
protestantes podiam usar armas para sua própria defesa;
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• serem livres as eleições do Parlamento, bem como quaisquer 
pronunciamentos nele feitos;
• que os jurados responsáveis pela decisão em julgamentos deviam ser 
livres proprietários de terras;
• que cabia ao Parlamento corrigir, afirmar e conservar as leis.
Guilherme assumiu o trono e comprometeu‑se a ter seu poder limitado: ele não poderia cancelar as 
leis do Parlamento, responsável também pela sucessão real em caso de falecimento do rei. Ao Parlamento 
também cabia o controle das contas reais. Ministros e tesoureiros cuidavam das finanças e o Banco da 
Inglaterra, fundado em 1694, funcionava como ponto de apoio para o desenvolvimento do capitalismo 
sob a gestão da burguesia. Na Inglaterra, o poder passava às mãos da burguesia que cuidaria, a partir 
daquele momento, de fazer o capitalismo progredir e expandir‑se para além das fronteiras da Inglaterra.
Como essa burguesia havia conseguido acumular capital? A resposta pode ser encontrada 
nas atividades comerciais executadas pela burguesia mercantil inglesa. Segundo Dobb (1986), 
dois aspectos são fundamentais para que possamos entender os ganhos que o comércio havia 
representado para a burguesia:
Em primeiro lugar, boa parte do comércio naqueles tempos, sobretudo o 
exterior, consistia na exploração de alguma vantagem política ou pilhagem 
quase declarada. Em segundo lugar, a classe de mercadores, assim que 
assumiu alguma forma de corporação, adquiriu prontamente poderes de 
monopólio que protegiam suas fileiras da concorrência e serviam para 
transformar as relações de troca em sua própria vantagem, em seus negócios 
com produtos e consumidor (DOBB, 1986, p. 65).
O aumento da disponibilidade de moeda ainda foi fundamental para o desenvolvimento do modo 
de produção capitalista, porque representou “uma quantidade de dinheiro suficiente para a circulação 
e a formação correspondentede um entesouramento” (DOBB, 1986, p. 131). Essa moeda acabou sendo 
utilizada não apenas como investimento em novos negócios, mas também nas operações de aquisição 
das terras dos antigos senhores feudais, naquele momento falidos e endividados.
O certo é que, aos poucos, o mercado cresceu. As indústrias, se não podiam contar com as diminutas 
vendas no mercado interno, podiam produzir para os mercados de exportação. Afinal, a classe burguesa 
não consumia toda a sua renda, preferindo envolver‑se em transações bancárias, comprando títulos 
da dívida pública da coroa e do Estado. Além de essa estratégia ter trazido vantagens políticas, 
também acabou promovendo a acumulação e a concentração de capital nas mãos de poucos. Esse 
capital acumulado, portanto, foi redirecionado ao desenvolvimento interno das manufaturas do país 
e, no momento em que a indústria nacional passou a representar maiores possibilidades de lucro, 
inverteu‑se o foco de interesse da burguesia, que passou a defender uma “política protecionista” da 
indústria nascente.
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O objetivo era excluir a concorrência das indústrias estrangeiras em solo nacional e criar mais empregos 
com a renda advinda da exportação de bens. Esse, aliás, seria também um reforço aos argumentos da 
preferência por um saldo positivo da balança comercial: impedindo‑se a importação, evitar‑se‑ia a 
evasão de divisas e, ao mesmo tempo, favorecer‑se‑ia a indústria nacional por meio da eliminação 
da concorrência. David Ricardo (1772–1823), posteriormente, mostrou que o mecanismo de evitar a 
importação gerava outros efeitos, e muito cruéis: como os donos de terra sabiam que não era permitido 
importar grãos (o que baixaria o preço dos alimentos e, portanto, dos salários), eles se sentiam à vontade 
para cobrar o que quisessem dos capitalistas agrícolas que produziam alimentos em terras arrendadas. 
Segundo Ricardo, portanto, as leis contra a importação só beneficiavam mesmo os proprietários de 
terra, por isso deviam ser abolidas. O mercado precisava de liberdade para se autorregular, afirmou ele, 
com o mesmo discurso que saía da boca de outros liberais (HEILBRONER, 1996).
Essas estratégias contribuíram para a acumulação primitiva do capital sob a forma de propriedades 
e títulos que seriam, no momento apropriado, investidos na produção. É claro que a transferência 
de riqueza aos burgueses não teria bastado para impulsionar o desenvolvimento do capitalismo; ela 
precisava estar – e efetivamente esteve – aliada ao desapossamento dos proprietários anteriores, 
gerando uma classe de destituídos e pobres que, depois, buscaria as indústrias em busca de emprego. 
Dessa forma, desde o início, a burguesia ascendeu em detrimento do empobrecimento dos pequenos 
proprietários, que perdiam seu patrimônio a preços em queda para, depois, presenciar sua valorização 
nas mãos pouco numerosas dos seus detentores.
Sem esse processo, torna‑se claro que uma oferta abundante e barata de 
mão de obra não poderia estar à disposição, a menos que houvesse um 
regresso a algo bem parecido com o trabalho servil. A força de trabalho 
não teria sido “ela própria convertida em sua mercadoria” em escala 
suficientemente ampla, e estaria faltando a condição essencial para o 
aparecimento da mais‑valia industrial como uma categoria econômica 
“natural” (DOBB, 1986, p. 132).
 Observação
O surgimento da classe burguesa não poderia ter ocorrido sem que 
houvesse surgido outra classe para trabalhar para ela. Em outras palavras, a 
classe burguesa surgiu ao mesmo tempo em que surgiu a classe proletária: 
uma não poderia existir sem a outra.
A nova burguesia mercantil foi conquistando privilégios por meio de acordos econômicos, sociais e 
políticos. Dobb (1986, p. 88) revela que os novos comerciantes:
[...] preocupavam‑se tanto com as condições de comércio (das quais dependia 
sua margem de lucro) quanto com seu volume, sendo‑lhes indiferente se 
negociavam escravos ou marfim, lã ou tecidos de lã, estanho ou ouro, desde 
que fosse lucrativo. Adquirir privilégio político era sua primeira ambição. 
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A segunda era que o menor número possível de pessoas dele desfrutasse. 
Como eram essencialmente parasitas da antiga ordem econômica, embora 
pudessem exauri‑la e enfraquecê‑la, seu sucesso, em última análise, estava 
ligado ao do corpo que os nutria.
O capital mercantil nos séculos XIV e XV também passou a se acumular em razão dos juros cobrados 
pelos grandes comerciantes nos empréstimos feitos aos pequenos produtores e aos empobrecidos. As 
novas organizações de comerciantes ricos, que monopolizavam o comércio atacadista e se posicionavam 
contra a nobreza e a Igreja, cobravam taxas administrativas altíssimas e excluíam de suas fileiras os 
varejistas e os artesãos.
A participação mínima dos trabalhadores no resultado financeiro daquilo que produziam também 
colaborou para a acumulação do capital mercantil. A exploração do trabalho assalariado – que ocorria 
por meio da maximização do uso da força de trabalho e da queda dos salários – passou a representar 
uma oportunidade cada vez maior de obtenção de lucro. O proletariado, cada vez mais desesperado 
por meios de sobrevivência, acabava por competir entre si, trocando trabalho por salários cada vez 
mais reduzidos.
Faltava, ainda, o aprimoramento da técnica e isso ocorreu com as invenções que revolucionaram 
a indústria: a máquina de fiar, o tear mecânico, a máquina a vapor, a lançadeira volante, as patentes 
para técnicas diversas de fundição, o bombeamento de minas e as obras hidráulicas; todas essas 
inovações contribuíram enormemente para o aumento da produtividade do trabalho e, portanto, da 
mais‑valia industrial.
 Observação
Para termos uma ideia da velocidade com que essas invenções foram 
incorporadas aos processos industriais, citamos alguns exemplos no caso 
da indústria têxtil inglesa: em 1730, surgiu a máquina fiadora de rolos; 
em 1738, a lançadeira volante; em 1748, a máquina de cardar; em 1764, a 
máquina de fiar jenny e assim por diante.
Figura 18 – A máquina a vapor inventada por James Watt (1736–1819)
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Segundo Marx e Engels (1999, p. 9),
[...] o vapor e a maquinaria revolucionaram a produção industrial. A 
grande indústria moderna suplantou a manufatura; a média burguesia 
manufatureira cedeu lugar aos milionários da indústria, aos chefes de 
verdadeiros exércitos industriais, aos burgueses modernos.
A introdução da máquina alterou o processo de produção, provocando a divisão do trabalho. Adam 
Smith (1723–1790), um dos mais importantes teóricos do pensamento liberal, mostrou como a divisão 
de trabalho gerava riqueza por meio do aumento da produtividade, como em uma fábrica de alfinetes:
Um operário desenrola o arame, outro o endireita, um terceiro o corta, um 
quarto faz as pontas, um quinto o afia nas pontas para a colocação da 
cabeça do alfinete; para fazer uma cabeça de alfinete requerem‑se três ou 
quatro operações diferentes; montar a cabeça já é uma atividade diferente, 
e alvejar os alfinetes é outra; a própria embalagem dos alfinetes também 
constitui uma atividade independente. Assim, a importante atividade 
de fabricar um alfinete está dividida em aproximadamente 18 operações 
distintas, as quais, em algumas manufaturas, são executadas por pessoas 
diferentes, ao passo que, em outras, o mesmo operário às vezes executa 
duas ou três delas. [...] Se, porém, tivessem trabalhado independentemente 
um do outro,e sem que nenhum deles tivesse sido treinado para esse ramo 
de atividade, certamente cada um deles não teria conseguido fabricar vinte 
alfinetes por dia, e talvez nem mesmo um (SMITH, 1996, p. 66).
A divisão de trabalho ocorreria até o limite da extensão do mercado. Mais: como cada um buscava 
seu próprio interesse e como o interesse de cada um tinha que levar em consideração o interesse do 
outro, o bem‑estar de todos estava garantido. O que dava essa certeza para Smith era a sua crença 
na existência de um mecanismo natural de autorregulação na natureza que, espelhado no sistema 
econômico, o manteria em funcionamento e em crescimento (HEILBRONER; MILBERG, 2008). Em A 
Riqueza das Nações, sua principal obra, Smith passou a maior parte do tempo opondo‑se e criticando 
as práticas mercantilistas. Seus argumentos eram simples: se tudo tendia ao equilíbrio, qualquer ação 
normatizadora ou interventora só poderia trazer prejuízos. Portanto, que ficasse a cargo do mercado a 
regulação dos preços; que a solução surgisse naturalmente no confronto entre os interesses de quem 
vendia e de quem comprava, de quem exportava e de quem importava. Da mesma forma como faria 
Ricardo, posteriormente, Smith preconizava a não intervenção do Estado na economia: que se deixasse 
fazer, que se deixasse passar (SMITH, 1996).
Aliás, quanto menos o Estado interviesse, melhor. Smith apoiava suas ideias numa convicção bastante 
simples: o padeiro não fazia o pão por generosidade, da mesma forma como o açougueiro não vendia 
carne motivado por bons sentimentos. O que ambos pretendiam era vender e lucrar. O que os movia era 
o interesse egoísta que estava relacionado com o benefício próprio pretendido com suas atividades. No 
entanto, para que pudessem atingir esse objetivo, era necessário que os clientes desejassem comprar a 
carne e o pão. O que, então, motivaria os clientes? Eles não comprariam aquelas mercadorias movidos 
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por generosidade, ou para ajudar o padeiro e o açougueiro. Os clientes comprariam pão e carne em 
função dos seus interesses mais egoístas. Se o preço fosse elevado, não comprariam, forçando o 
padeiro e o açougueiro à baixa dos preços. Esse seria o mecanismo que forçaria os preços ao equilíbrio, 
independentemente dos bons sentimentos ou da boa vontade dos clientes, do açougueiro e do padeiro. 
Assim, ao final, embora todos fossem movidos pelo individualismo, o resultado seria o bem‑estar geral 
(SMITH, 1996).
Adam Smith procurou fazer pela filosofia moral o que Isaac Newton havia feito pela Física. Assim, 
Smith preocupou‑se em demonstrar a existência de um equilíbrio natural que prescindia da intervenção 
do Estado ou de qualquer regulamentação inócua. Para que tudo funcionasse a contento, era necessário 
apenas dar liberdade aos agentes. A “mão invisível” manteria tudo funcionando em equilíbrio, da mesma 
forma como os planetas mantinham‑se suspensos no céu por obra dos “dedos invisíveis” de Deus.
 Saiba mais
Para ler mais sobre Smith e Newton, sugerimos o texto:
CERQUEIRA, H. E. A. Adam Smith e seu contexto: o iluminismo escocês. 
Belo Horizonte: UFMG; Cedeplar, 2005. Disponível em: <http://web.face.ufmg.
br/cedeplar/site/pesquisas/td/TD%20263.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2006.
Para ler mais sobre as ideias de Mandeville que inspiraram a noção de 
autointeresse em Adam Smith, leia:
FONSECA, E. G. A fábula das abelhas. São Paulo: Braudel Papers, 1994. 
Disponível em: <http://pt.braudel.org.br/publicacoes/braudel‑papers/
downloads/portugues/bp05_pt.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2014.
A divisão do trabalho e a introdução da máquina afetaram o espaço em que essa produção ocorria, 
tornando a fábrica o lugar apropriado para a produção, em vez das pequenas oficinas de manufatura. Além 
disso, os investimentos necessários à montagem da fábrica e à aquisição das ferramentas consagraram a 
distância entre proprietários capitalistas e proletários: os primeiros tinham os recursos necessários para 
a compra de máquinas e de matéria‑prima; os segundos tinham a força de trabalho necessária para 
produzir. Finalmente, a adoção do maquinário utilizado nas fábricas e a caracterização e expansão do 
proletariado como classe trabalhadora, explorada e assalariada apontavam para o distanciamento cada 
vez maior da atividade econômica industrial com relação à economia comercial e mercantil dos séculos 
XVII e XVIII.
É claro que as antigas e velhas estruturas fabris não desapareceram por completo; na verdade, 
durante um bom tempo, esse antigo modelo conviveu com técnicas produtivas modernas. Em algumas 
regiões, era comum a presença de pequenas manufaturas que empregavam poucos trabalhadores, ou 
seja, firmas nas quais o empregador não era o grande capitalista, mas o empreiteiro intermediário.
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Unidade II
 Observação
É provável que a permanência dos resquícios da pequena manufatura 
e da indústria familiar seja a responsável pela demora na solidificação de 
um caráter homogêneo da classe trabalhadora. Assim, havia aqueles que 
trabalhavam em indústrias criadas por capitalistas e que empregavam 
centenas de pessoas e havia aqueles que trabalhavam em manufaturas 
cuja estrutura era bastante limitada e tinha ainda caráter familiar.
De qualquer forma, e independentemente do tamanho da fábrica ou do negócio, o capitalismo havia 
adquirido contornos específicos, diferenciando‑se das outras estruturas que o haviam antecedido.
[O capitalismo] não opera sua extração de excedente econômico, nem se 
apropriando do produtor – como na escravidão –, nem do trabalho do 
produtor – como na economia [...] senhorial. O capitalismo extrai excedente 
dentro do próprio processo de produção, de um produtor livre, através da 
diferença de valor, que esse produtor recebe pela venda da mercadoria força 
de trabalho, em relação às mercadorias que essa força de trabalho produz 
(REZENDE, 2007, p. 139).
Ainda, esse excedente se somou ao que ocorria na esfera do consumo: o produtor, pelo seu trabalho, 
recebia dinheiro em vez de mercadorias. Quando ele adquiria mercadorias, “não o faz[ia] pelo valor 
que elas possuíam quando da sua produção, mas sim pelo que [teriam] após passarem pela esfera da 
distribuição e chegarem à do consumo, agregando sobrepreços” (REZENDE, 2007, p. 139). E, para que 
sempre houvesse mão de obra disposta a vender sua força de trabalho por salário, o capitalismo não 
realizava o pleno emprego, levando à formação do exército de reserva de mão de obra, “constituído por 
trabalhadores mantidos desempregados [...] para permitir a rotatividade da mão de obra, barateando os 
salários e dificultando a formação do proletariado em um bloco coeso” (ibidem, p. 140).
Na Europa, buscou‑se restringir o acesso das pessoas à propriedade e às terras. Afinal, o fácil acesso 
a propriedades tornaria escassa a mão de obra. Na Inglaterra, os agricultores que conseguiam sobreviver 
aos concorrentes com mais técnica e capital não conseguiam escapar da expulsão provocada pelo 
aumento das multas e taxas sobre os arrendamentos.
Aqui vale a pena uma observação: a população total de países como França e Inglaterra diminuía, 
mas a classe social dos empobrecidos inflava desproporcionalmente. De fato, do século XVI ao XVIII, a 
lei inglesa
[...] empenhou‑se em esmagar o trabalhador inglês e reduzi‑lo ao mínimo, em 
eliminar toda expressão ou ato que indicasse qualquer descontentamento 
organizado, e em multiplicar as penalidades a serem aplicadas quando este 
pensasse em seus direitos naturais (REZENDE, 2007, p. 167).
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Quando não havia oferta para mão de obra suficiente, a coroa apregoava e legislava a favor do 
trabalho compulsório.
Nesse novo sistema, a burguesia passou a ser responsável pelos investimentos, pelos empreendimentos 
e pela disseminação do sistema para todos os cantos do planeta. Segundo Marx e Engels (1999, p. 
12–13),
[...] a burguesia só pode existir com a condição de revolucionar 
incessantemente os instrumentos de produção, por conseguinte, as 
relações de produção e, com isso, todas as relações sociais [...]. Impelida 
pela necessidade de mercados sempre novos, a burguesia invade todo o 
globo. Necessita estabelecer‑se em toda parte, criar vínculos em toda parte. 
[...] Devido ao rápido aperfeiçoamento dos instrumentos de produção e ao 
constante progresso dos meios de comunicação, a burguesia arrasta para a 
torrente da civilização mesmo as nações mais bárbaras. Os baixos preços de 
seus produtos são a artilharia pesada que destrói todas as muralhas da China 
e obriga a capitularem os bárbaros mais tenazmente hostis aos estrangeiros. 
Sob pena de morte, ela obriga todas as nações a adotarem o modo burguês 
de produção, constrange‑as a abraçar o que ela chama de civilização, isto 
é, a se tornarem burguesas. Em uma palavra, cria um mundo à sua imagem 
e semelhança.
Segundo Heilbroner e Milberg (2008), a Revolução Industrial inglesa transformou uma sociedade 
agrícola e comercial em uma sociedade industrial e esse processo foi modificando as principais 
características da economia inglesa, a vida das pessoas e a organização das empresas. No século XIX, essas 
transformações estariam cristalizadas: até lá, o campo – fornecedor da matéria‑prima das tecelagens 
e das manufaturas têxteis – ainda ocuparia espaço privilegiado na economia; depois disso, ganharam 
importância as fábricas e a produção de bens de capital. Esta última é uma das razões para o fantástico 
crescimento da Inglaterra.
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Regiões metalúricas
Bacias carboníferas
Figura 19 – Economia inglesa ao final do século XVIII
Os homens de negócios (integrantes da classe média e desejosos de encontrar onde investir 
seu capital acumulado) passaram a se dedicar à construção de ferrovias: de 28 milhões de libras 
investidas em ferrovias em 1840, segundo Hobsbawm (2010), o investimento em 1850 passou para 
240 milhões de libras:
O capital encontrou as ferrovias, que não podiam ter sido construídas 
tão rapidamente e em tão grande escala sem essa torrente de capital, 
especialmente na metade da década de 1840. Era uma conjuntura feliz, pois 
de imediato as ferrovias resolveram virtualmente todos os problemas do 
crescimento econômico (HOBSBAWM, 2010, p. 88).
Já consagrada na Inglaterra, havia chegado o momento de a Revolução Industrial espalhar‑se pelo 
mundo. Entre 1775 e 1875, a grande maioria das nações (e não apenas no Velho Continente) experimentou 
imenso progresso econômico, ainda que desigual (especialmente entre os países europeus). A fábrica, 
então, centralizava o trabalho coletivo e, na maior parte das vezes, alienante. Aliás, o operário não mais 
precisava ser dotado de qualquer talento especial para operar a máquina: pelo contrário, as máquinas 
só exigiam obediência do trabalhador. Além disso,
[...] era agora necessário capital para financiar o equipamento complexo 
requerido pelo novo tipo de unidade de produção; e criara‑se um papel 
para um tipo novo de capitalista, não mais apenas como [...] comerciante 
em sua loja ou armazém, mas como capitão de indústria, organizador e 
planejador das operações da unidade de produção, corporificação de uma 
disciplina autoritária sobre um exército de trabalhadores que, destituídos 
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de sua cidadania econômica, tinham de ser coagidos ao cumprimento de 
seus deveres onerosos a serviço alheio pelo açoite alternado da fome e do 
supervisor do patrão (DOBB, 1986, p. 262).
No seu auge, as transformações provocadas pela Revolução Industrial foram anormalmente rápidas 
e se distinguiram em muito dos padrões anteriores. As mudanças na economia, na indústria, nas relações 
sociais, na produção e no comércio indicavam o surgimento de um novo indivíduo que acreditava no 
progresso e na mudança. Nada podia ser obstáculo ao crescimento numa sociedade na qual havia oferta 
abundante de mão de obra e as técnicas de produção avançavam ininterruptamente. Nem mesmo as 
deficiências do mercado ou a baixa produtividade poderiam interromper o fluxo de crescimento e de 
transformação propiciado pela Revolução Industrial.
A grande revolução de 1789–1848 foi o triunfo não da “indústria” como 
tal, mas da indústria capitalista; não da liberdade e da igualdade em geral, 
mas da classe média ou da sociedade “burguesa” liberal; não da “economia 
moderna” ou do “Estado moderno”, mas das economias e Estados com uma 
determinada região geográfica do mundo (parte da Europa e alguns trechos 
da América do Norte), cujo centro eram os Estados rivais e vizinhos da 
Grã‑Bretanha e França (HOBSBAWM, 2010, p. 20).
Como havia dito Smith, o limite para a divisão do trabalho e para o aumento da produtividade 
era o tamanho do mercado. Isso significava que o capitalismo necessitava expandir‑se para além das 
fronteiras inglesas, e isso ocorreria com a Segunda Revolução Industrial, processo que permitiu ao 
capitalismo sair de sua infância e se desenvolver.
Dos produtos dominantes durante a Revolução Industrial Inglesa, apenas a 
estrada de ferro continuou recebendo um notável impulso, ampliando‑se 
continuamente. O ferro deixou de ser um produto industrializado, para se 
transformar em matéria‑prima para o aço. O vapor de água foi substituído 
pela eletricidade e pelo petróleo como fonte de energia. A indústria química 
permitiu a crescente independência industrial das matérias‑primas naturais. 
A fábrica concentrou‑se em escala jamais imaginada. A ciência tornou‑se 
matéria auxiliar da técnica. E a administração dos negócios adquiriu um 
caráter científico (REZENDE, 2007, p. 145).
Como consequências dessas transformações também ocorreram modificações na composição do 
capital. Os investimentos para a abertura e a manutenção das fábricas haviam se ampliado muito, e isso 
resultou no aumento de sociedades anônimas, imensas em tamanho e em alcance no mercado, mas 
dependentes dos grandes aportes financeiros oferecidos pelo setor bancário. Na luta pela sobrevivência, 
os grandes capitais passaram a engolir os menores. Para não perder participação no mercado e não 
sucumbir diante da concorrência, as empresas passaram a reinvestir os lucros em pesquisa.
Um exemplo perfeito, tanto da subordinação da ciência à técnica, como 
da administração profissional, foi fornecido por Frederick W. Taylor (1885–
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1915), com seus métodos que procuravam obter o máximo de rendimento 
produtivo por operário (REZENDE, 2007, p. 148).
O processo de disseminação da industrialização acabou alcançando a Suíça e a Holanda. Em verdade, 
a Revolução Industrial chegaria aos países onde a burguesia estava no poder ou próxima a ele. Segundo 
Magalhães Filho (1991), na Holanda, apesar de a burguesia ser predominantemente comercial, sua 
posição estratégica e as riquezas de suas colônias asiáticas davam‑lhe posição privilegiada.
Na Bélgica, desenvolveu‑se a produção de carvão e a indústria siderúrgica; também cresceu a 
produção de produtos alimentícios e expandiu‑sea indústria têxtil. Na Alemanha, a unificação nacional 
em 1870 permitiu que o país finalmente se industrializasse, distanciando‑se da economia agrária.
Limite da Confederação Germânica do Norte em 1867
Limite ddo Império Alemão em 1871
Figura 20 – Unificação alemã: em amarelo, o reino da Prússia em 1864; em rosa, as aquisições 
prussianas entre 1865 e 1866; em verde, a Alsácia e a Lorena, adquiridas em 1871
Nesse processo, a Prússia desempenhou importante papel por meio de uma política militarista 
agressiva, combatendo a Dinamarca, a Áustria e a França.
Ciente de que os capitais originários das atividades agrícolas e da indústria 
têxtil e siderúrgica são insuficientes para promover uma industrialização nos 
moldes requeridos pela Segunda Revolução Industrial, o Estado joga todo 
seu peso a fim de viabilizá‑la, atuando como produtor e grande consumidor 
(Forças Armadas, administração, serviços públicos) (REZENDE, 2007, p. 152).
A pesquisa científica e o ensino técnico foram priorizados. Na Alemanha, essas áreas foram tidas 
como estratégicas para o desenvolvimento e para o atendimento das necessidades nacionais. Segundo 
Rezende (2007, p. 153),
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[...] as indústrias Krupp, por exemplo, chegaram a ter em seus quadros 
funcionais um corpo de cientistas maior que o de qualquer outra 
universidade, às vésperas da Primeira Guerra Mundial.
O processo de unificação também permitiu e estimulou o desenvolvimento industrial na Itália, de 
acordo com as características geográficas e econômicas do país. Conforme afirma Rezende (2007, p. 154),
[...] existiam duas Itálias. Uma Itália do Norte, com uma agricultura 
progressista, com um sistema bancário desenvolvido, e com uma indústria 
centrada nas cidades de Milão (têxtil e metalúrgica), Turim (mecânica e 
têxtil), Gênova (têxtil e construção naval) e Veneza (têxtil), ligadas por uma 
razoável rede ferroviária. E uma Itália do Sul, atrasada, essencialmente rural, 
com apenas uma grande cidade, Nápoles, que no entanto concentrava mais 
uma atividade comercial, que propriamente industrial.
Reino da Sardenha em 1815
Território anexado em 1859
Território anexado em março de 1860
Território anexado em novembro de 1860
Francesa desde 1768, antes genovesa
Território anexado em 1866
Território perdido para a França em 1860
Fronteira internacional em 1914
Figura 21 – Unificação italiana
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Assim, na Itália, os interesses dos grandes proprietários de terra buscaram a conciliação com os 
interesses dos industriais, e a Itália do Sul passou a oferecer a mão de obra tão necessária à Itália do Norte.
 Observação
As indústrias ao norte e a agricultura ao sul ainda fazem parte do 
cenário italiano nos dias de hoje. Essa divisão é herança dos primórdios do 
desenvolvimento industrial e da diversificação econômica daquele período.
A industrialização contaminou outras regiões em territórios não europeus. Por exemplo, atingiu 
o Japão, onde o desgaste do poder dos senhores feudais acabou permitindo que o desenvolvimento 
econômico ganhasse impulso por meio da junção de forças entre o Estado e a burguesia.
Em outro exemplo, o processo de industrialização causaria mudanças dramáticas no Novo Mundo, 
levando as regiões do norte e sul norte‑americanos à guerra. Segundo Rezende (2007, p. 156), inicialmente 
colônia inglesa, “independentes em 1781, os Estados Unidos haviam reafirmado sua independência 
com a Guerra de 1812–14 com a Inglaterra – motivada pelos impedimentos que os ingleses faziam ao 
comércio com a França napoleônica e suas dependências”.
Os estados americanos mantiveram, até meados do século XIX, uma dicotomia bastante curiosa: 
ao sul, ficavam os estados que viviam da agricultura e eram escravocratas. Ao Norte, os estados 
que não apresentavam condições geográficas favoráveis para a agricultura e que haviam sido 
colonizados por religiosos fugitivos da Grã‑Bretanha e da Europa continental. Esses imigrantes, de 
origem burguesa, haviam trazido técnicas de produção e uma cultura voltada para o comércio e para 
a manufatura. Dessa forma, ao final do século XIX teve início um movimento separatista: os estados 
sulistas (Confederados) formaram um novo país e os estados do norte reagiram, defendendo a União. 
Segundo Magalhães Filho (1991, p. 279):
[...] a guerra durou quatro anos. As mortes militares alcançaram 529 mil 
homens. O sul foi completamente derrotado e sua economia primária 
reorientada em benefício das indústrias do norte. O custo total da guerra 
ultrapassou a quantia de 8 bilhões de dólares, incluindo‑se apenas os gastos 
diretos dos dois governos.
Saindo vencedor do confronto, o Norte deu por encerrado o período de escravidão, garantindo, 
assim, as condições para o crescimento econômico e para um processo de industrialização. Esse 
processo requeria, claro, mercado consumidor; para que houvesse consumidores, era necessário haver 
população assalariada. Nada no modelo escravagista e agrícola do Sul interessava ao capitalismo que se 
desenvolvera nos estados do Norte.
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Estados da União
1 – Oregon
2 – Califórnia
3 – Área indígena
4 – Kansas
5 – Wisconsin
6 – Michigan
7 – Missouri
8 – Illinois
9 – Indiana
10 – Kentucky
11 – Ohio
12 – Virgínia Ocidental
1 – Texas
2 – Lousiana
3 – Arkansas
4 – Mississippi
5 – Alabama
6 – Tennessee
7 – Geórgia
8 – Carolina do Sul
9 – Carolina do Norte
10 – Vírginia
11 – Flórida
13 – Pensilvânia
14 – Massachusetts
15 – Nova York
16 – Vermont
17 – New Hampshire
18 – Maine
19 – Rhode Island
20 – Connecticut
21 – New Jersey
22 – Delaware
23 – Maryland
Estados Confederados
Figura 22 – A Guerra Civil Americana (Guerra de Secessão)
 Saiba mais
Sugerimos que você veja Lincoln, filme que retrata a Guerra de Secessão 
e os debates acerca da escravidão.
LINCOLN. Dir. Steven Spielberg. EUA: DreamWorks SKG, 2012. 150 
minutos.
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6 A CRISE DO FINAL DO SÉCULO XIX
Duas crises irromperiam ao final do século XIX, e de forma interligada. A primeira estava relacionada 
à expansão do capital; a segunda, associada às revoltas operárias.
De fato, ao longo da segunda metade do século, a economia já havia dado sinais de que algo não 
corria bem: recessões, fracas e de curta duração e depressões, mais profundas e duradouras, ameaçavam 
o desenvolvimento até então exponencial do capitalismo e implicavam desemprego, queda de produção 
e consumo e baixa na qualidade de vida. Além disso, o proletariado, diante das condições às quais era 
submetido e sofrendo ainda mais intensamente com as oscilações do sistema capitalista, passou a se 
organizar em sindicatos e a se interessar por ideias que preconizavam um mundo mais justo e uma 
distribuição de riqueza menos desigual.
Para o sistema capitalista, afinal, chegava o momento em que se tornava evidente que a exploração 
da qual ele se alimentava tinha encontrado barreiras poderosas. A lucratividade não mais crescia de 
acordo com o aumento de produtividade, uma vez que a mais‑valia só poderia ser obtida por meio da 
exploração de mão de obra e essa, por sua vez, além de possuir limites fisiológicos naturais, tornava‑se 
mais cara à medida que era mais empregada.
Em resumo, os empresáriossó poderiam aumentar seus lucros de duas formas: em primeiro lugar, 
aumentando a produtividade por meio da compra de mais equipamentos e da introdução de mais 
tecnologia. Dessa forma, porém, não era possível obter mais‑valia (condição necessária para o lucro), 
porque não se podia “explorar” máquinas.
Em segundo lugar, os empresários poderiam ampliar a produtividade por meio da contratação de 
mais mão de obra. No entanto, a procura de mais trabalhadores no mercado fazia com que os salários 
aumentassem. Se os salários aumentavam, não havia como aumentar a taxa de lucro. Assim, portanto, 
diminuía‑se a taxa de lucro e, com isso, as oportunidades de investimento. Inevitavelmente a produção 
entrou em um período de depressão que se destacou das crises conjunturais e periódicas às quais o 
capitalismo estivera sujeito até então. Não se tratava de um movimento natural de queda no ritmo dos 
negócios, mas de uma crise de grandes proporções.
A redução da margem de lucro, segundo Hobsbawm (2010), teve duas consequências: em 
primeiro lugar, por conta da competitividade entre as empresas, o mercado viveu a experiência da 
queda dramática e constante no preço dos artigos acabados. Afinal, se havia mais produtos do que 
consumidores, venderia quem tivesse os melhores preços. Em segundo lugar, houve a manutenção 
dos custos de produção, que não se beneficiaram da queda geral dos preços. Em outras palavras: 
embora os preços dos produtos acabados estivessem caindo, o mesmo não acontecia com os custos 
de produção. De fato, embora alguns preços caíssem, isso não se refletia nos salários e em outros 
insumos da produção.
Uma possível saída era que o custo de vida diminuísse, para que os salários também pudessem 
diminuir. Havia, entretanto, o impedimento representado pela política protecionista do Parlamento, que 
permitia o monopólio da propriedade fundiária e criava obstáculos para as importações: como exportar 
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para países se estes não tinham recursos, dada a impossibilidade de exportar para países que adotavam 
políticas protecionistas?
 Observação
Em geral, quando há alta dos preços internos, a importação de produtos 
estrangeiros é realizada para forçar a baixa dos preços. O raciocínio é o 
seguinte: se o consumidor tem a opção de comprar mais barato, ele o 
fará. Se o produtor interno sabe que terá que concorrer com os produtos 
estrangeiros, ele fará com que os preços caiam. Os salários não podiam 
diminuir, em especial, por conta dos preços dos grãos e dos alimentos, 
itens proibidos de serem importados. Isso impedia a queda de salário e a 
recomposição das taxas de lucros.
Como o capitalismo industrial resolveu a crise que havia sido criada? Foram duas as principais 
estratégias adotadas: a formação de monopólios e oligopólios e a expansão do mercado por meio da 
exploração de economias não capitalistas.
Vejamos cada uma dessas estratégias. Internamente, a saída encontrada foi reunir as indústrias de 
cada setor em grandes grupos. Eliminando as empresas menores, seria possível dividir o mercado entre 
as maiores, aumentando a participação de cada uma delas. Afinal, se a concorrência era um impeditivo 
para os negócios, o melhor a se fazer era eliminá‑la. Dessa forma, os setores de aço, metalurgia, indústria 
química, siderurgia e mineração se reuniram em grandes monopólios. O mesmo aconteceu com o setor 
bancário: as empresas particulares e os governos, cujos interesses convergiam, controlavam as empresas 
menores e influenciavam a política exterior com seus empréstimos e concessões de crédito. Concentrando 
os recursos financeiros em poucas mãos, era mais fácil controlar o mercado e as taxas de lucros.
Um a um os principais setores industriais haviam caído em mãos de grandes 
grupos, e a tendência indicava que, a seu tempo, os demais setores viriam a 
ter o mesmo destino. Montados em sua posição monopolística, os grandes 
grupos ditavam os preços, mantendo‑os anormalmente altos, de modo a 
auferir maiores lucros, mas podendo baixá‑los até onde fosse preciso para 
aniquilar um concorrente. Os pequenos produtores que ainda restavam 
nesses setores iam sendo deliberadamente engolidos, e os que compravam 
ou vendiam para esses grupos eram obrigados a ceder às suas exigências. A 
não ser em ramos inteiramente novos, passara à lembrança a época em que 
qualquer um podia vir a estabelecer‑se. Surgira o capitalismo monopolista 
(MAGALHÃES FILHO, 1991, p. 324).
É evidente que essa crescente concentração de poder não agradou inteiramente à classe média de 
burgueses, comerciantes e proprietários agrícolas. Para eles, essas estratégias de formação de cartéis 
e trustes prejudicavam os interesses dos consumidores à medida que ameaçavam o ambiente de livre 
concorrência ao qual todos estavam acostumados e no qual todos acreditavam.
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Esse movimento de concentração de poder acabou gerando algumas situações inusitadas. Na 
Califórnia, por exemplo, os moradores só podiam usar os trens de uma única e grande empresa.
Mas não foi apenas a indústria ferroviária que utilizou o poder econômico 
para criar uma posição monopolizadora. [Isso também aconteceu] na 
fabricação de uísque e de açúcar, no tabaco e nos alimentos para o gado, 
em pregos, anéis de aço, aparelhos elétricos, lâminas de metal, em fósforos 
e carne [...] (HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 107).
Essa tendência de concentração de poder ocorreu nos mais diversos setores e, aos poucos, empresas 
gigantes passaram a controlar os mercados. Nos Estados Unidos, segundo Heilbroner e Milberg (2008, p. 108):
A transformação foi dramática. Em 1900, por exemplo, a quantidade de fábricas 
têxteis, ainda que grande, diminuiu em um terço desde a década de 1880; durante 
o mesmo período, o número de fabricantes de implementos agrícolas despencou 
em 60% e a quantidade de fabricantes de couro, em três quartos. Na indústria 
de vagões, duas empresas dominavam o cenário em 1900, num contraste com 
as 19 em 1860. A indústria de biscoitos doces e salgados passou de umas poucas 
empresas, menores e espalhadas, para um mercado em que um só produtor 
detinha 90% da capacidade industrial, na virada do século. Enquanto isso, no aço, 
existia a colossal US Steel Company, que sozinha dava conta de mais da metade 
da produção de aço no país. No petróleo, a Standard Oil Company controlava 75% 
da produção de cigarros e 35% da produção de charutos.
É claro que essa cordata divisão do mercado e a convivência pacífica entre os gigantes pressuponha 
que os grandes grupos não brigassem e não se expandissem à custa dos rivais. Afinal, era melhor não 
competir, evitando gastos desnecessários com estratégias expansionistas e não incorrendo no erro 
de baixar os preços (e as taxas de lucros) para conquistar novos consumidores. Assim, os gigantes 
criaram trustes, grupos que reuniam empresas coligadas que recebiam parcelas dos lucros conforme 
a porcentagem de participação. Quando os trustes foram declarados ilegais, criou‑se o dispositivo que 
permitia às empresas a compra de ações de outras empresas, em um verdadeiro processo de fusão: 
tratava‑se, é claro, de apenas uma estratégia para contornar os impedimentos legais para a formação 
dos trustes. Nos Estados Unidos,
[...] só na manufatura e na exploração de minério, ocorreram 43 fusões 
em 1895 [...]; 26 fusões em 1896; e 69 em 1897. Em 1898, havia 303 – e 
finalmente, em 1899, um clímax de 1208 fusões combinavam 2,26 bilhões 
de dólares em ativos corporativos [...] (HEILBRONER; MILBERG, 2008, p. 111).
O capitalismo resolveu dessa forma os problemas internos de concorrência, mas faltava

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