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HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA 1 TODAS AS AULAS (AULAS DE 1 A 10) História Estácio

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HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA 1 – TODAS AS AULAS (AULAS DE 1 A 10) História Estácio 
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA I
O MUNDO CONTEMPORÂNEO
- 2 -
Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
1- Definir os marcos iniciais da Era Contemporânea;
2- Reconhecer o legado da Era Moderna para as estruturas sociopolíticas contemporâneas;
3- Analisar as mudanças geopolíticas após a Era Napoleônica.
Introdução
Nesta aula, veremos a transição entre a sociedade moderna e o mundo contemporâneo. Estudaremos o papel das
revoluções burguesas na crise do antigo regime e na consolidação de um novo modelo produtivo, que
promoveria o processo de industrialização iniciado na Inglaterra do século XVIII.
1 O início
A História Contemporânea tem seu início em 1789, com a Revolução Francesa e perdura até os dias de
hoje
Essa periodização clássica, que pode nos parecer longa, acaba se mostrado que, categorizar uma era que já dura
pouco mais de 3 séculos não é um período tão duradouro, se levarmos em consideração que a Idade Média durou
mais de 1000 anos.
Atenção
Mas as generalizações são perigosas e os marcos históricos podem e devem ser utilizados como referência, mas
sempre criticamente e com bastante rigor.
- 3 -
Figura 1 - "A LIBERDADE CONDUZINDO O POVO", de Eugène Delacroix, 1830
O que faz da Idade Contemporânea um momento tão “breve” e ao mesmo tempo, tão intenso?
O historiador Eric Hobsbawm se referia ao século XX como um século breve.
Essa definição se deve as intensas transformações vividas após a Primeira Guerra Mundial. Embora estejamos
vivendo a Era Contemporânea, em nada lembramos os homens e as mulheres que fizeram parte da Revolução
Francesa.
Em pouco mais de 3 séculos, as transformações na geopolítica, nos costumes, na cultura e na tecnologia foram
intensas e avassaladoras. Isso provocou o uso de outras categorias para a idade contemporânea , como a 1
expressão pós-modernidade.
1Muitos currículos universitários optam por dedicar seus períodos iniciais a disciplinas de contemporânea. A
justificativa pedagógica para a doção desta metodologia é que os estudantes parecem compreender melhor a
história se for analisada a partir de elementos do mundo que os cerca. Esta premissa não e, necessariamente,
verdadeira.
É provável que analisar os fenômenos contemporâneos seja uma tarefa tão ou mais árdua que compreender as
estruturas do império romano ou do feudalismo.
O mesmo Hobsbawm relutou ao escrever uma de suas mais famosas obras, a Era dos Extremos, que se dedica ao
século XX por temer falar sobre um tempo no qual viveu.
Este temor reacende uma velha discussão sobre a objetividade e a subjetividade no estudo da História. Embora
seja virtualmente impossível o homem do historiador ou do professor, é fundamental que um profissional crítico
estimule o debate dos mais diversos temas, independendo de suas convicções pessoais .
2
- 4 -
2
“A principal tarefa do historiador não é julgar, mas compreender, mesmo o que temos mais
dificuldade para compreender. O que dificulta a compreensão, no entanto, não são nossas convicções
apaixonadas, mas também a experiência histórica que as formou. As primeiras são fáceis de superar,
pois não há verdade no conhecido, mas enganosos dito francês tout comprendre c´est tout
pardonner (tudo compreender é tudo perdoar). Compreender a era nazista na história alemã e
enquadrá-la em seu contexto histórico não é perdoar o genocídio. De toda forma, não é provável que
uma pessoa que tenha vivido este século extraordinário se abstenha de julgar. O difícil é
compreender.”
HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos: o breve século XX. São Paulo: Cia das Letras, 1995. p. 15
O esforço de compreensão pode ser facilitado ao entendermos os processos históricos interligados entre si e na
era contemporânea, essa necessidade se torna ainda mais evidente.
Como explicar que a Era Contemporânea emerge das revoluções burguesas?
Qual seu legado para o nosso tempo?
Vamos voltar um pouquinho mais e verificar as mudanças políticas e culturais da Era Moderna e seu impacto
para o mundo contemporâneo.
Podemos começar com as reformas religiosas, que já estudamos anteriormente
Quando a Igreja Católica era hegemônica, antes da reforma protestante, ela ocupava um lugar de poder único em
todos os reinos europeus.
Sua influencia chegou a América através da expansão marítima. Não é a toa que a América é atualmente, um dos
continentes com o maior número de católicos do mundo, fator decisivo na escolha do novo papa, o argentino
Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco.
Mas, espere um momento, você vai dizer:
Saiba mais
Mas a reforma possuía outras características, bem menos ressaltadas que a intensa
perseguição que os protestantes sofreram dos católicos: a necessidade de tolerância religiosa.
Quando a Igreja Católica era única, essa não era uma questão importante, mas o surgimento de
outras religiões e, principalmente, a adoção delas por reinos importantes, como a Inglaterra,
fez com que a tolerância religiosa se tornasse uma das principais questões e um dos principais
problemas do mundo contemporâneo.
- 5 -
E as cruzadas? E a perseguição aos judeus na Idade Média?
Bem lembrado!
Veja, estas perseguições eram às religiões não cristãs. O que a reforma faz é multiplicar o cristianismo, ou seja, o
rompimento ocorre dentro de uma mesma religião e por isso afetou tanto os países europeus.
Como exemplo, podemos citar o caso da Irlanda, cujas disputas entre católicos e protestantes é um dos fatores da
divisão do país e deu origem a diversos atentados terroristas.
Hoje, o número de adeptos das religiões protestantes aumenta dia a dia.
Já pensou se houvesse uma perseguição destas denominações?
Provavelmente seria o maior conflito da história da humanidade, pois envolveria o mundo inteiro. Por isso, a
tolerância religiosa é uma questão importante, que surge na Idade Moderna e que faz parte do mundo
contemporâneo.
Não menos importante é a questão do Estado. Nas revoluções burguesas ocorridas na Inglaterra e na França, é
estabelecido o chamado Estado de direito, com base em uma Constituição.
Esse modelo é hoje adotado por todos os países do mundo. E é também uma de nossas maiores dificuldades em
analisar como processo histórico.
Nós vivemos em um Estado de direito. No Brasil, a primeira constituição foi feita em 1824. Qual nossa primeira
impressão? Ora, temos uma constituição porque temos que ter, porque sempre foi assim.
Viu como estudar historia contemporânea não é assim tão fácil?
Nossa tendência é olhar o mundo que conhecemos como normal, como se sempre tivesse sido assim, tendo
dificuldade em compreender que certas “normalidades” são fruto de conquistas ocorridas há séculos.
A existência de uma constituição foi uma dessas conquistas. Se formos traçar sua genealogia, vamos ver que suas
ideias são defendidas pelos iluministas, passaram pelos Estados absolutistas até serem aplicadas na Revolução
Francesa e então, chegarem até nós.
Na economia, a expansão mercantil e a consolidação da burguesia, impulsionadas na Era Moderna ditaram os
contornos do mundo contemporâneo.
O capitalismo se consolida e o mercado internacional passa a ser um dos fundamentos básicos das mais diversas
economias espalhadas pelo mundo. Mas seria na Inglaterra que o sistema produtivo, baseado na manufatura,
daria um salto, no século XVIII, com a Revolução industrial, tema de nossa próxima aula.
Atenção
O que podemos concluir é que a Era Moderna lança as bases das estruturas que, devidamente reformadas,
dariam origem não só aos Estados contemporâneos, mas a todos os aspectos da vida social, como os princípios
de cidadania e republicanismo que se propagariam a partir da Europa.
- 6 -
1789
Como visto nas aulas anteriores, sabemos que, em 1789, ocorreu a Revolução Francesa.
1799
Dez anos depois, em 1799, sobe ao poder Napoleão Bonaparte.
1815
Após assumir a sua derrota, em 1815, Napoleão empreendeu uma longa expansão territorial através das guerras,
invadindo e anexando territórios, como fez com Portugal, provocando a vinda da família real para o Brasil em
1808.
Sabemos o que isso significoupara o Brasil, não é? Mas e para os outros países invadidos?
O saldo da Era Napoleônica foi uma Europa desorganizada, cujas monarquias haviam sido depostas. Quando
Napoleão foi exilado em Elba, tiveram início as negociações de paz entre a França e os países que haviam sido 3
invadidos durante os anos de guerra.
3
Estas negociações levaram a assinatura do Tratado de Paris em 1814. A França se comprometeu a pagar
indenizações aos países envolvidos e que haviam saído vencedores do conflito, como a Prússia, a Áustria, a
Rússia e o Reino Unido.
O objetivo era restaurar a harmonia – e principalmente, decidir as questões territoriais – que foram
desestabilizadas durante as guerras napoleônicas.
A importância do tratado de Navegação e Comércio,
Sabemos que a família real veio para o Brasil, em 1808, com o apoio da Inglaterra. Mas esse apoio teve um preço.
Em 1808, foi proclamada a abertura dos portos às nações amigas e, em 1810, Dom João VI firmou com os
britânicos uma série de acordos, dentre os quais o tratado de Navegação e Comércio.
Segundo este tratado, a taxa de importação dos produtos ingleses seria de 15% e dos produtos estrangeiros de
24%.
Este poderia ser um acordo vantajoso, se não fosse uma enorme distorção: os produtos vindos de Portugal eram
taxados a 16%.
Ou seja, era mais barato comprar produtos ingleses do que os produtos portugueses. Tudo isso sancionado pelo
rei de Portugal.
Saiba Mais
- 7 -
Essas medidas levaram a economia portuguesa à ruína. Portugal havia sido invadido pela França, posto sob
proteção britânica, não tinha um rei ocupando o trono e ainda vendia seus produtos mais caros para os próprios
súditos portugueses. Era de se esperar que houvesse um enorme descontentamento culminando com a
Revolução do Porto, que exigia o retorno imediato do rei a Portugal.
Mas a volta de Dom João VI não se daria nos mesmos moldes de quando a família real deixou o país
As cortes portuguesas exigiam uma nova constituição, de inspiração liberal, que limitava os poderes reais.
Além disso, as cortes exigiam o retorno do Brasil a sua condição de colônia e a retomada do pacto colonial, uma
das razões para a separação política que ocorreria logo depois em 1822.
É interessante perceber que a Inglaterra apoiava as monarquias enquanto ela própria já havia passado
por um processo revolucionário que impedia a instalação do absolutismo no Reino Unido e seu governo
possuía, notadamente, influencias liberais.
Uma década depois, a Europa seria sacudida por uma série de revoltas, e uma enorme onda liberal.
A França foi um dos primeiros lugares onde ocorreram os conflitos.
O Congresso de Viena declarou a restauração das monarquias e do Rei Luís XVIII da dinastia Bourbon.
Pela nova constituição, a autoridade máxima do executivo seria o rei e o legislativo seria composto por duas
câmaras:
A Câmara dos pares, onde os representantes eram escolhidos diretamente pelo Monarca.
A câmara dos deputados, eleito pelo voto .
4
Cabe dizer que esta câmara era eleita por voto censitário, ou seja, só quem tinha renda estava 4
habilitado como eleitor o que na prática quer dizer a burguesia.
O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você vai estudar:
• Os antecedentes da Revolução Industrial;
• A passagem do artesanato para a manufatura;
• As mudanças no mundo do trabalho.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Relacionou o Congresso de Viena com a reconfiguração do mapa europeu;
• Identificou a influência do liberalismo nas Revoluções do Porto de 1820 e da França de 1830;
• Reconheceu o papel do liberalismo como corrente de pensamento nos séculos XIX e XX
AULA 2=================================================================
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA I
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
- 2 -
Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
1- Definir o sentido do termo Revolução Industrial;
2- Identificar a transição entre o modo de produção artesanal e o manufaturado;
3- Reconhecer as mudanças provocadas pela Revolução Industrial nos mais diversos setores da sociedade
contemporânea.
Introdução
Nesta aula, analisaremos a conjuntura que proporcionou o surgimento da Revolução Industrial inglesa no século
XVIII. Vamos nos deter, sobretudo, na consolidação da burguesia industrial e na formação da classe operária,
dois atores fundamentais para as transformações socioeconômicas do século XX.
1 Introdução
Quando pensamos no termo “revolução”, imediatamente nos vêm à mente imagens de batalhas, soldados e
conflitos.
No entanto, embora essa seja nossa associação imediata, revolução não é sinônimo de guerra ou conflito,
mas sim de transformação.
Esse é o sentido da expressão “revolução industrial”, surgida no século XIX para designar o conjunto de
transformações no sistema produtivo pelo qual passara a Inglaterra no século anterior.
A expressão utilizada por intelectuais como Arnold Toynbee e Friedrich Engels popularizou-se a partir de então
para descrever não só esse momento específico da história, mas também outros surtos industriais que
envolveram mudanças políticas, econômicas e desenvolvimento tecnológico.
2 As Revoluções
Primeira
Revolução
De modo geral, podemos dizer que a Primeira Revolução Industrial se caracterizou pela
mudança no modo de produção ― de artesanal para manufaturado ― e pela progressiva
alteração da energia utilizada, que deixou de ser somente humana ou animal para ser
substituída pelo carvão e, mais tarde, pela eletricidade.
- 3 -
Segunda
Revolução
Embora a Inglaterra tenha sido pioneira, durante o século XIX, outros países ― não apenas
na Europa ― também viveram suas revoluções industriais. Foi o caso da França, da
Alemanha, do Japão e dos Estados Unidos.
Esse desenvolvimento industrial foi chamado de Segunda Revolução Industrial, a qual
foi um aprimoramento das tecnologias da Primeira.
Terceira
Revolução
Atualmente, o desenvolvimento tecnológico, a mecanização da produção e a utilização da
robótica (Com as fábricas tendo várias etapas da produção totalmente automatizadas,
sem a necessidade de intervenção dos operários.), originaram a Terceira Revolução
Industrial, que designaria o momento de desenvolvimento produtivo em que vivemos.
Por que Revolução?
Vamos agora entender melhor por que chamamos o conjunto de transformações, vistos anteriormente,
de revolução.
Durante a Idade Média, a mão de obra era servil e o centro da vida econômica estava no feudo, já que a economia
era marcadamente agrária. Na Idade Moderna, temos uma ruptura com o modelo feudal: há o renascimento das
cidades, a mão de obra livre e a produção artesanal, que alimentava o comércio.
Na produção artesanal, o artesão era dono de sua força de trabalho e dos meios de produção. O que isso quer
dizer? Quer dizer que o artesão moderno não tinha um patrão. Podia pertencer ou não a uma corporação de
ofício, em que os preços e as negociações pelo produto seriam feitos coletivamente, mas ele era, sobretudo,
independente.
Também não havia divisão do trabalho. Um mesmo artesão estava presente em todas as etapas de confecção de
um produto. Se estivermos falando de um alfaiate, então temos que esse trabalhador é dono de tudo aquilo de
que necessita para fazer seu produto: linhas, agulhas, botões. Ele também fará a peça de roupa completa:
mangas, gola e assim por diante.
Como funciona hoje na chamada linha de montagem de uma fábrica?
O trabalhador é responsável por uma única etapa da produção. Se ele for um trabalhador ― como era aquele
artesão da era moderna ―, fará apenas uma parte do produto.
Se considerarmos uma camisa, ele fará apenas a manga ou somente a gola e assim por diante. Cada trabalhador
faz um pedaço, que é montado no final da linha de produção.
Pioneirismo inglês
Mas que razões explicariam o pioneirismo inglês nesse processo?
Destaque político da classe burguesa, que ocupava cadeiras no Parlamento inglês;
- 4 -
Acumulação primitiva de capital;
Existência de um exército de mão de obra;
Processo de cercamento dos campos;
Jazidas de carvão mineral, o que possibilitava o desenvolvimento de fábricas movidas a esse combustível.
Essas condições, encontradas em seu conjuntounicamente na Inglaterra, permitiram seu pioneirismo no
processo industrial.
Modo de produção
Com a Revolução Industrial, o capitalismo se consolida como o modo de produção predominante no século XX.
Se fizéssemos uma linha do tempo, ela seria assim:
Dessa forma, a partir do século XVIII, a indústria substitui o comércio como principal fonte de riqueza. A
burguesia permanece, mas surge uma nova classe, o proletariado. Então, se na Idade Moderna havia uma
burguesia comercial, na Idade Contemporânea nasce a burguesia industrial.
Na definição de Karl Marx, o burguês seria o dono dos meios de produção, e o operário aquele que vende sua
força de trabalho.
Mudanças
O que muda? Absolutamente tudo!
As cidades crescem como nunca.
Esse crescimento desordenado, provocado pelo intenso e constante êxodo rural, não é acompanhado de obras de
infraestrutura na mesma proporção.
Assim, as cidades industriais são caóticas: há problemas de habitação, transporte, saúde e educação. 1
1A precariedade do saneamento básico permite a proliferação de uma série de doenças. A falta de emprego para
todos estimula a fome, a miséria, a prostituição e o crime.
Essa realidade foi retratada em diversas obras, pinturas, livros, filmes.
A Londres do século XIX é sombria e cinzenta. Não é à toa que obras como as que foram escritas por Charles
Dickens retratem essa atmosfera.
- 5 -
Entre os anos de 1750 e 1801, a população urbana inglesa mais do que quadruplicou, conforme vemos na tabela
a seguir:
Em milhões de habitantes. Dados retirados de COTRIM, Gilberto. História. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 237.
Esse crescimento populacional se reflete não somente nos problemas estruturais que ele causa, mas
também no esgarçamento das relações sociais.
Nas palavras de Dickens:
“Parar para apertar a mão de um conhecido ou tocar em seu braço está fora de questão ― eles acreditam que isso
não está incluído em seus salários e que não têm o direito de fazê-lo.”
- 6 -
DICKENS, Charles. Retratos londrinos. Trad. Marcello Rollemberg. Rio de Janeiro: Record, 2003. Citado por:
PONTES, Gustavo Tiengo. O olhar crítico de Charles Dickens sobre Londres do século XIX.
Operariado
Por que é importante entendermos as precárias condições de vida do operariado?
Antes de seguirmos, vejamos as palavras de um operário do século XIX:
“Nosso período regular de trabalho ia das cinco da manhã até as nove ou dez da noite. No sábado, até
as onze, às vezes meia-noite, e então éramos mandados para a limpeza das máquinas no domingo.
Não havia tempo disponível para o café da manhã e não se podia sentar para o jantar ou qualquer
tempo disponível para o chá da tarde. Nós íamos para o moinho às cinco da manhã e trabalhávamos
até as oito ou nove horas, quando vinha o nosso café, que consistia de flocos de aveia com água,
acompanhado de cebolas e bolo de aveia, tudo amontoado em duas vasilhas. Acompanhando o bolo
de aveia, vinha o leite. Bebíamos e comíamos com as mãos e depois voltávamos para o trabalho sem
que pudéssemos nem ao menos nos sentar para a refeição”
Depoimento de John Birley ao jornal Ashton Chronicle, datado de maio de 1849. Citado por: FONTES, Ana
Cristina Magalhães. Mercado e trabalho: limites ao poder econômico.
Em primeiro lugar, é fundamental compreendermos que os direitos trabalhistas que usufruímos hoje são o
resultado de uma longa trajetória de luta operária.
Em segundo lugar, as duas (O capitalismo e o socialismo.) principais correntes do pensamento econômico dos
séculos XIX e XX foram gestadas por meio do entendimento das relações entre o trabalho e os meios de
produção.
Conhecer as condições de vida do operariado e situar seu nascimento na Revolução Industrial significa
compreender o mundo do trabalho contemporâneo.
Se a ideia de Revolução Industrial nos remete de imediato à questão da produção e, portanto, à economia,
perceber o surgimento da classe operária e a mudança nos hábitos sociais, mostra que o alcance dessa revolução
transcende em muito o aspecto meramente econômico.
Saiba Mais
Embora estejamos falando de uma sociedade patriarcal, em que os homens têm mais direitos e privilégios, os
baixos salários obrigavam todos os membros da família a procurar trabalho. Quando falamos em sociedade
patriarcal, estamos nos referindo aos privilégios concedidos ao homem, em uma clara discriminação de gênero
que norteou a sociedade ocidental durante séculos.
- 7 -
Vejamos alguns exemplos de uma sociedade patriarcal: os sistemas eleitorais de quase todos os países do mundo
consideravam inicialmente apenas o voto masculino; os homens em geral ganhavam e, em alguns casos, ainda
ganham um salário maior que o das mulheres pelos mesmos serviços prestados.
Produtividade
Buscando aumentar a produtividade nas fábricas, o trabalho passa a ser dividido em etapas.
Essa divisão daria origem à linha de montagem, da qual Henry Ford foi o pioneiro ao aplicá-la à indústria
automobilística.
Cada trabalhador é responsável apenas por uma etapa da produção, ou seja, é encarregado de um único
processo. Dessa forma, o trabalhador perde a dimensão de seu trabalho como um todo, já que não participa da
confecção de um produto, mas sim de uma pequena fração dele.
Além disso, esse tipo de divisão gera uma especialização da mão de obra, característica que pode ser percebida
até nas linhas de montagem das fábricas atuais.
A estrutura das linhas de montagem dará origem ao que chamamos de produção em série.
Quanto maior o número de produtos, mais barato ele custa. Logo, maiores serão sua capacidade de
venda e sua procura.
Vamos pensar nisso como uma economia circular:
Do ponto de vista econômico, podemos dizer que o preço varia conforme a quantidade. Quanto mais
mercadoria, menor será seu preço.
- 8 -
Se analisarmos todas as crises de superprodução, como a que ocorreu em 1929, ou a queima do café no Brasil no
período da República Velha, partiremos sempre desta premissa: quanto maior o número de mercadorias no
mercado, menos custarão.
O que isso quer dizer quando falamos sobre Revolução Industrial? Quer dizer que, quando a mão de obra
era artesanal, o consumidor pagava por um sapato levando em consideração o trabalho do artesão, o material e o
tempo que o indivíduo havia levado para confeccioná-lo. Agora o preço desse sapato, produzido junto a milhares
de outros, cairá radicalmente. Isso provoca a criação de um mercado consumidor em larga escala, o que não
podemos dizer que tenha existido durante a Idade Moderna.
Todas essas mudanças promoveram também um amplo desenvolvimento tecnológico, percebido na utilização de
diferentes formas de energia, como o carvão, e no investimento em transportes e em comunicação. Os
transportes, como as ferrovias, tinham como objetivo sobretudo o escoamento das mercadorias, agora
produzidas em grande quantidade e destinadas ao mercado externo, o que acabou por tornar a Inglaterra uma
das maiores economias exportadoras de seu tempo.
3 Resultados da Revolução Industrial
De acordo com o que vimos, como resultados do processo de Revolução Industrial inglesa, temos então:
a urbanização;
a transformação do mundo do trabalho;
a produção em larga escala;
o desenvolvimento da infraestrutura.
Essas características ― que tiveram início na Inglaterra ― se espalhariam pela Europa no século seguinte e
configurariam a Segunda Revolução Industrial.
O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você vai estudar:
• A economia do século XIX;
• Os fundamentos do capitalismo;
• Socialismo utópico e socialismo científico.
•
- 9 -
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Descreveu as condições de vida do operariado no início da industrialização;
• Definiu burguesia e proletariado;
• Identificou as mudanças operadas no mundo do trabalho após a Revolução Industrial do século XVIII
AULA 3 ================================================================
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA I
OS MODOS DE PRODUÇÃO: CAPITALISMO E
SOCIALISMO
- 2 -
Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
1- Definir capitalismo;
2- Descrever as principais teorias sobre o sistema capitalista em sua formação;
3- Listar os principais filósofossocialistas e analisar suas teorias.
Introdução
Nesta aula, vamos estudar os dois grandes sistemas econômicos do século XX, o capitalismo e suas diversas
modalidades, como mercantil e financeiro, e o socialismo, tanto o utópico quanto o científico. Vamos distinguir
esses dois sistemas a fim de entendermos sua aplicação em diferentes países do mundo contemporâneo.
1 Introdução
Na aula passada, estudamos a Revolução Industrial e as mudanças que ocasionou no modo de produção.
Seguindo a linha dessas mudanças, veremos, nesta aula, os fundamentos dos dois modos de produção
fundamentais para o entendimento da Idade Contemporânea: o capitalismo e o socialismo.
Vamos começar?
2 Modelo produtivo e suas transformações
Desde a Idade Média, o modelo produtivo passou por diversas transformações.
Feudalismo
O feudalismo baseou-se na mão de obra servil e seu centro de vida econômica era o feudo.
Com a centralização dos estados nacionais e o renascimento comercial e urbano, o feudalismo é
progressivamente substituído pelo mercantilismo.
Mercantilismo
Em sentido restrito, embora não seja um sistema econômico, o mercantilismo pode ser definido como um
conjunto de práticas econômicas que daria origem ao capitalismo.
Podemos afirmar essa origem, pois um dos objetivos do mercantilismo é o lucro, diferente do feudalismo, que se
caracteriza mais como uma economia de subsistência que de acúmulo de capital.
Entendendo o contexto
- 3 -
Vamos entender o contexto. Sabemos que, durante a Idade Média, a religião dominante era o catolicismo. A
Igreja católica condenava o lucro como prática religiosa.
Entretanto, com a decadência do sistema feudal e a formação de uma classe burguesa cujos interesses mercantis
existiam exatamente para gerar lucro, passou a haver uma incompatibilidade entre o que a Igreja católica
pregava e as necessidades burguesas.
Esse é o pano de fundo para as reformas protestantes, que, mais do que um fenômeno social e de
questionamento do modelo católico, são uma resposta aos anseios burgueses, que abraçam o movimento
reformista.
O que podemos concluir?
Figura 1 - A burguesia medieval estava próxima dos valores que impediam o rápido acúmulo de capitais.
Mesmo que nosso foco seja discutir modelos econômicos, não podemos pensá-los isoladamente, descolados do
contexto em que passam a existir.
Como sabemos, a história é um processo no qual todos os aspectos ― político, cultural, social e econômico
― estão interligados.
Por essa razão, ainda que estejamos estudando as teorias econômicas, temos de estar atentos ao momento em
que essas teorias são produzidas.
- 4 -
Figura 2 - Mercado medieval
2.1 Mercantilismo
O mercantilismo como prática econômica própria dos estados nacionais possuía alguns princípios fundamentais:
Metalismo;
Balança comercial favorável;
Pacto colonial;
Protecionismo.
- 5 -
De modo geral, podemos dizer que o sentido de riqueza para o mercantilismo eram as reservas de metal
preciosos; no feudalismo, a riqueza era medida pela posse da terra.
2.2 Metalismo
Por que o acúmulo de metal era importante?
Porque o metal precioso ― ouro, prata, cobre ― era utilizado para cunhar moedas, então isso fortalecia a
economia monetária e, consequentemente, o comércio.
Além disso, se analisarmos os princípios de colonialismo e exclusivismo comercial (Pacto colonial), veremos
que o eixo econômico do mercantilismo está no mercado, tanto interno quanto externo.
O protecionismo marca a formação dos monopólios, ou seja, a necessária intervenção do Estado em todos os
aspectos da economia.
- 6 -
Essas práticas estiveram em vigor, aproximadamente, entre os séculos XV e XVIII. Como era necessária a
interferência do Estado para regular a economia, é compreensível que ela tenha se desenvolvido durante o
período absolutista, no qual o rei tinha ingerência em todos os aspectos políticos e econômicos da vida nacional.
No entanto, conforme a burguesia se desenvolve e se afirma como classe, essa interferência real, que já foi
necessária, torna-se um fardo, pois impede o livre desenvolvimento do comércio. Surgem então novas teorias
econômicas, que vão compor o quadro que chamaremos de modo capitalista de produção.
Correntes de pensamento
A partir do metalismo, surgiram teorias que começam a questionar a validade do protecionismo e do controle do
rei na economia e, ao mesmo tempo, buscam entender o mecanismo de formação e o funcionamento do sistema
capitalista à medida que este vai se desenvolvendo.
Duas correntes de pensamento se destacam a partir do século XVIII: a fisiocracia e o liberalismo.
Tanto fisiocratas quanto liberais se opunham à ingerência do Estado na economia e defendiam que esta possuía
uma dinâmica própria, que funcionaria melhor quanto menor fosse a intervenção estatal.
Entretanto, os fisiocratas defendem que a fonte de toda a riqueza está na terra, enquanto os liberais
defendem a preponderância das relações comerciais.
Fisiocracia
Um dos principais nomes da fisiocracia foi o francês François Quesnay.
Embora defendam a posse de terra como medida da riqueza, os princípios da fisiocracia são bem diferentes da
economia que vimos na Idade Média, em que a posse da terra também era importante.
Por que então os fisiocratas defendem a propriedade e a agricultura como as bases sólidas da economia?
Devemos considerar que estamos falando de uma sociedade ainda pré–industrial, em que, a não ser pela
Inglaterra, que fez a Revolução Industrial no século XVIII, a maior parte das economias ainda é agrária e está
desenvolvendo, progressivamente, seu comércio.
Portanto, a agricultura permite que seja gerado o excedente. Excedente é tudo aquilo que não é necessário à
subsistência e, logo, pode ser comercializado. Dessa maneira, a fisiocracia não se posiciona contra o comércio,
mas o entende como atividade acessória para o desenvolvimento agrário.
François Quesnay (4 de Junho de 1694 — Paris, 16 de Dezembro de 1774) foi um economista francês que se
destacou como principal figura da escola dos fisiocratas.
Quesnay era filho de agricultores e, devido à situação em que viveu, sendo fruto de sua época, era adepto da
Fisiocracia, ou seja, destaca a agricultura como sendo a fonte de riquezas da nação, conceito contrário ao
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Mercantilismo inglês que primava pelo desenvolvimento da indústria e do comércio exterior. Quesnay
acreditava que somente a agricultura era criadora de riqueza, já que a indústria limitava-se a
transformar a matéria.
Trata-se pois de uma visão defensora da liberdade económica. O melhor Estado era aquele que menos governava
e este só se deveria interessar com a manutenção da ordem, da propriedade e da liberdade individual. As suas
teorias seriam desenvolvidas pelos seus discípulos (Turgot, Gournay) e viriam a influenciar o
pensamento de Adam Smith.
Criou a ideia de “oferta-procura”, isto é, quanto maior a procura do produto, maior seu preço. Contrariamente,
quanto menor a procura, menor o preço. Se existir liberdade, produz-se e consome-se o necessário, logo, há
estabilidade do preço e equilíbrio.
Os excedentes
A ideia de excedente é apropriada por aquela que ficaria conhecida como Escola Clássica de economia, da qual
Adam Smith é um dos principais nomes.
Smith defende a não intervenção do Estado em uma teoria que ficaria conhecida como liberalismo. Para
Smith, a economia se autorregularia tendo como principal ferramenta a fixação de preços.
Ele defendia que os negociantes, comerciantes e prestadores de serviço, ao ambicionarem seu próprio lucro,
acabariam, ainda que não propositalmente, cobrando um preço justo. Se cobrassem caro demais, não
conseguiriam vender suas mercadorias; se muito barato, não teriam lucro.
Dessa forma, ao encontrarem o preço médio ― com o qual é possível vender de forma acessível sem ter
prejuízo ―, a economia encontraria seu próprio processo de regulação.
Adam Smith (5 de junho de 1723 — Edimburgo, 17 de Julho de 1790) foi um filósofo e economista escocês. Teve
como cenário para a sua vida o atribulado século das Luzes, o século XVIII.
É o pai da economia moderna, e é considerado o mais importanteteórico do liberalismo econômico. 1
Acreditava que a iniciativa privada deveria agir livremente, com pouca ou nenhuma intervenção governamental.
A competição livre entre os diversos fornecedores levaria não só à queda do preço das mercadorias, mas
também a constantes inovações tecnológicas, no afã de baratear o custo de produção e vencer os competidores.
1Autor de "uma investigação sobre a natureza e a causa da riqueza das nações”, a sua obra mais conhecida, e que
continua sendo usada como referência para gerações de economistas, na qual procurou demonstrar que a
riqueza das nações resultava da atuação de individuos que, movidos inclusive pelo seu próprio interesse,
promoviam o crescimento econômico e a inovação tecnológica.
Ele analisou a divisão do trabalho como um fator evolucionário poderoso a propulsionar a economia. Uma frase
de Adam Smith se tornou famosa: "Assim, o mercador ou comerciante, movido apenas pelo seu próprio interesse
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egoísta, é levado por uma mão invisível a promover algo que nunca fez parte do interesse dele: o bem-estar da
sociedade."
Como resultado da atuação dessa "mão invisível", o preço das mercadorias deveria descer e os salários deveriam
subir. As doutrinas de Adam Smith exerceram uma rápida e intensa influência na burguesia (Comerciantes,
industrias e financistas.), pois queriam acabar com os direitos feudais e com o mercantilismo.
As teorias liberais
As teorias liberais iam diretamente ao encontro dos interesses burgueses, que viam na liberdade de comércio
e na livre concorrência o futuro do mercado.
Além de Smith, a chamada Escola Clássica de economia tem dois outros nomes importantes: David Ricardo e
Thomas Malthus.
Das teorias clássicas, podemos inferir que o capitalismo é sustentado pelo seguinte tripé:
Lucro;
Propriedade privada;
Trabalho assalariado.
David Ricardo
Se Adam Smith desenvolve suas teorias pensando no funcionamento da economia interna, David Ricardo
expande essas teorias aplicando-as sobretudo ao mercado externo.
Propõe assim a teoria das vantagens comparativas, na qual a relação econômica entre dois países, ainda que não
seja igualitária, trará benefícios para ambas as partes.
Thomas Malthus
Thomas Malthus, foi um economista inglês considerado o pai da demografia. Malthus estudou a relação entre
demografia e capitalismo preocupando-se, especialmente, com a escassez de recursos decorrente do
crescimento demográfico.
Suas teorias serviram como base para as mais diversas áreas de pensamento, como a biologia. Além disso, a
ideia de que se deveria produzir a partir de uma demanda inspiraram outros teóricos do capitalismo.
3 O capitalismo e a escravidão
Dos princípios apresentados surgiu uma importante discussão para a historiografia.
Nas sociedades escravistas, como a brasileira no período entre a Colônia e o Império, a existência do
capitalismo é possível?
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Eric Williams, um dos estudiosos sobre o tema, em sua obra Capitalismo e escravidão, recorre a Smith para
pontuar a questão do trabalho escravo:
O trabalho feito por escravos, embora pareça custar apenas o sustento deles, no final é o mais caro de
todos. Uma pessoa que não pode adquirir bens não terá outro interesse senão comer o máximo e
trabalhar o mínimo possível (Williams, 2012, p. 32).
Se considerarmos o caso brasileiro, a riqueza gerada pelo comércio escravo foi maior do que a gerada pelo
trabalho produzido por esses mesmos escravos.
O escravo não recebia salário; não era, portanto, consumidor. Logo, não demandava mercadorias,
impedindo o pleno desenvolvimento do comércio.
Entretanto, se olharmos com mais cuidado, veremos que a sociedade brasileira desse momento, embora pautada
no trabalho escravo, também se utilizava do trabalho assalariado e, após a vinda da família real, em 1808,
desenvolveu a manufatura.
Dessa forma, não há um consenso acerca dessa questão de o Brasil, antes da abolição da escravatura,
poder ser considerado uma economia capitalista.
Capital
Como podemos definir capital?
Dinheiro, riqueza e capital não são sinônimos.
“O capital é a parte da riqueza de um país empregada na produção e consiste em alimentos, roupas,
ferramentas, matérias-primas, maquinaria etc., necessários à realização do trabalho” (Ricardo, 1996, p.
68).
Logo, capital é aquilo que pode ser investido para gerar riqueza e lucro. Pode se referir tanto ao dinheiro em si
quanto a maquinário, trabalho, ferramentas, entre outros meios.
Também seguindo a definição de Ricardo, podemos dividir o capital em fixo e circulante:
Dependendo da rapidez com que pereça e a frequência com que precise ser reproduzido, ou segundo a lentidão
com que se consome, o capital é classificado como capital fixo ou circulante.
Um fabricante de cerveja, cujas edificações e maquinaria têm grande valor e são duráveis, emprega uma grande
parcela de capital fixo.
Ao, contrário, um sapateiro, cujo capital é principalmente empregado no pagamento de salários, que são gastos
em alimentos e em roupas, mercadorias mais perecíveis que edifícios e maquinaria, utiliza uma grande
proporção de seu capital como capital circulante (Ricardo, 1996, p. 36).
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Nesse caso, o sapateiro necessitará de mais investimentos para que seu negócio gere lucro ― por isso,
capital circulante ―, ao passo que a cervejaria possui um valor intrínseco, ditado por sua estrutura ―
edifícios e maquinário.
Capitalismo
O capitalismo é fruto das transformações políticas e sociais que ocorreram ao longo da Era Moderna. Seus
teóricos se dedicaram a entendê-lo e aperfeiçoá-lo.
É bem diferente das teorias socialistas, que se basearam na construção de um modelo ideal de modo de
produção. Como sistema, o capitalismo está sujeito a crises cíclicas que podem ter causas diversas:
escassez de matéria-prima, de energia, de mão de obra, superprodução, guerra, processo inflacionário,
especulação.
Além disso, a partir do momento em que determinamos que o capitalismo necessita do trabalho assalariado,
estamos vinculando-o a uma sociedade de classes: há os que trabalham e os que são donos dos meios de
produção.
Figura 3 - Revolução Industrial
4 Socialismo
Observar o inchaço das cidades, a miséria do operariado e o enriquecimento da burguesia, com o apoio do
Estado, motivou o surgimento de novas teorias, que se oporiam ao capitalismo, as teorias socialistas.
Embora Karl Marx seja o mais famoso de seus teóricos, ele não foi o único, tampouco o primeiro. 2
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2Karl Heinrich Marx foi um intelectual e revolucionário alemão, fundador da doutrina comunista moderna, que
atuou como economista, filósofo, historiador, teórico político e jornalista. O pensamento de Marx influencia
várias áreas, tais como Filosofia, Geografia, História, Direito, Sociologia, Literatura, Pedagogia, Ciência Política,
Antropologia, Biologia, Psicologia, Economia, Teologia, Comunicação, Administração, Turismo, Design,
Arquitetura, entre outras. Em uma pesquisa realizada pela Radio 4, da BBC, em 2005, foi eleito o maior filósofo
de todos os tempos.
Desde o século XVIII, essas teorias socialistas têm sido gestadas, no que foi chamado por Marx e por seus
contemporâneos de socialismo utópico.
Logo, devemos dividir as teorias socialistas em duas correntes:
Socialismo utópico
Socialismo científico
Os representantes do socialismo utópico
Como representantes do socialismo utópico destacam-se Robert Owen, Saint-Simon, Louis Blanc, Charles Fourier
e Pierre-Joseph Proudhon.
Suas teorias foram produzidas entre os séculos XVIII e XIX e criticavam, de modo geral, as condições de
vida às quais era submetida a classe trabalhadora, além da desigualdade social provocada pelo
capitalismo.
De modo geral, podemos dizer que os socialistas utópicos têm como ponto em comum, além da crítica ao
capitalismo, a valorização da racionalidade e o repúdio à religião, que viam como um mecanismo de controle
social da população.
Suas teorias são baseadas em uma nova visão do papel do Estado, atuante e coletivo, e, portanto, oposto
ao liberalismo.
Robert Owen
Robert Owen, inglês, preocupava-se, sobretudo, com as condições do trabalho operário. Owengerenciou uma
tecelagem e procurou, durante sua gerência, melhorar as condições de vida dos trabalhadores que chefiava.
Defendia a existência de pequenas comunidades nas quais a desigualdade social fosse mínima ou inexistente.
Além disso, defendia a educação e a racionalidade, repudiando a religião como forma de controle social do
homem inculto.
Saint-Simon
Ao contrário de Owen, um trabalhador, Saint-Simon pertencia à nobreza e portava o título de conde.
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Embora de família aristocrática, defendia que o Estado deveria interferir na economia e distribuir recursos de
acordo com a capacidade dos indivíduos, permitindo que cada um desenvolvesse suas potencialidades em
harmonia.
Foi um dos precursores do socialismo, acreditando que a sociedade deveria ser baseada na racionalidade e no
progresso científico.
Charles Fourier
Charles Fourier viveu na França no final do século XVIII, foi um dos mais ferrenhos críticos do capitalismo como
sistema e das teorias liberais.
Elaborou a teoria das comunidades-modelo, formada por pequenas unidades produtivas e cooperativas, sendo
por isso conhecido como um dos pais do cooperativismo.
Louis Blanc
Seguindo a mesma linha de pensamento de Fourier, o francês Louis Blanc, que tomaria parte nas manifestações
de 1848, desenvolveu a ideia de que o Estado deveria incentivar as associações profissionais, semelhantes às
corporações de ofício, em que os lucros seriam divididos igualmente entre Estado e trabalhadores que fizessem
parte dessa associação.
Pierre-Joseph Proudhon
Pierre-Joseph Proudhon foi um filósofo político e econômico francês, foi membro do Parlamento Francês.
É considerado um dos mais influentes teóricos e escritores do anarquismo, sendo também o primeiro a se autoproclamar anarquista, até então um termo considerado pejorativo entre os revolucionários.
Foi ainda em vida chamado de socialista utópico por Marx e seus seguidores, rótulo sobre o qual jamais se
reconheceu.
Após a revolução de 1848 passou a se denominar federalista.
Pierre-Joseph Proudhon e as teorias anarquistas
Pierre-Joseph Proudhon recusava o título de socialista utópico e entendia suas teorias como anarquistas,
tendo sido um dos primeiros a usar essa expressão.
Ao contrário dos demais socialistas utópicos, que acreditavam na necessidade de um Estado que conduzisse a
política e a economia, Proudhon defendia a sociedade sem Estado, uma das bases ideológicas do anarquismo.
Contemporâneo de Marx e de Engels, Proudhon criticava as relações de trabalho capitalista e defendia, a
exemplo de seus antecessores, o corporativismo e as associações coletivas. Em sua obra Sistema das
contradições econômicas ou filosofia da miséria, discorre sobre essa questão.
Enquanto que, pelo progresso da indústria coletiva, cada jornada de trabalho individual obtém um produto cada
vez maior, e consequentemente necessário, e enquanto o trabalhador com o mesmo salário deveria tornar-se a
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cada dia mais rico, existem na sociedade estados que aproveitam e outros que se enfraquecem; existem
trabalhadores com salário duplo, triplo ou cêntuplo e outros em déficit; por toda a parte, enfim, há pessoas que
gozam e outras que sofrem e, por uma divisão monstruosa das faculdades industriais, há ainda indivíduos que
consomem e que nada produzem (2003, p. 169).
Proudhon foi fortemente criticado por Marx, assim como os demais socialistas utópicos.
Tal expressão, utilizada para definir essa corrente do socialismo, foi cunhada por Marx, que dizia que, embora
esses teóricos apontassem os problemas sociais, não propunham meios efetivos de combater o que acreditavam
serem mazelas do sistema.
Como resposta à filosofia da miséria, Marx escreveu a Miséria da filosofia, cujo título já é, por si só, uma
provocação à obra de Proudhon, a quem acusava de apontar problemas para os quais faltavam os fundamentos
básicos para elaborar uma solução.
4.1 Socialismo científico
Apesar da crítica de Marx, não restam dúvidas acerca da contribuição dos chamados utópicos, pois foram os
precursores da crítica ao capitalismo.
Tanto Marx quanto , que elaboram suas teorias também no século XIX, passam a ser conhecidos como 3
Engels4
socialismo científico, já que suas teses propõem, de fato, uma modificação do Estado e a abolição de princípios
capitalistas, em especial, da propriedade privada.
O alemão Karl Marx foi, antes de tudo, um estudioso do sistema capitalista. Foi com base na compreensão do
funcionamento desse modelo produtivo que elaborou suas críticas e, mais tarde, o modelo econômico que ficaria
conhecido como socialismo.
3Karl Heinrich Marx foi um filósofo, cientista político, e socialista revolucionário muito influente em sua época,
até os dias atuais. É muito conhecido por seus estudos sobre as causas sociais. Teve enorme importância para a
política européia, ao escrever o Manifesto Comunista, juntamente com Friedrich Engels, que deu origem ao
“Marxismo”, citado adiante. Foi um ativista do movimento operário europeu, no chamado International
Workingmen’s Association (IWA), também conhecido como First International. A influência de suas idéias
atingiram todo o mundo, como na vitória dos Bolcheviques na Rússia. Enquanto suas teorias começaram a
declinar quanto à popularidade, especialmente após o colapso do regime Soviético, elas continuam sendo muito
utilizadas hoje, em movimentos trabalhistas, práticas políticas, movimentos políticos.
4
Friedrich Engels foi um teórico revolucionário alemão que junto com Karl Marx fundou o chamado socialismo
científico ou marxismo. Ele foi coautor de diversas obras com Marx, sendo que a mais conhecida é o Manifesto
Comunista. Também ajudou a publicar, após a morte de Marx, os dois últimos volumes de O Capital, principal
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obra de seu amigo e colaborador. Grande companheiro de Karl Marx, escreveu livros de profunda análise social.
Entre dezembro de 1847 à janeiro de 1848, junto com Marx, escreve o Manifesto do Partido Comunista, onde faz
uma breve apresentação de uma nova concepção de história, afirmando que: “A história da humanidade é a
história da luta de classes.”
5 Karl Marx
A principal obra de Karl Marx é O capital, mas também podemos destacar O manifesto comunista, escrito em
colaboração com Friedrich Engels.
Para Marx, a história da humanidade é a história da luta de classes, e o trabalho é a atividade fundadora
das sociedades.
Em suas teorias, ele funda o conceito de mais-valia , que seria a base do lucro do capitalista, ou burguês, que é 5
definido como o dono dos meios de produção.
Ao trabalhador resta vender sua força de trabalho, já que não possui os meios de produção.
Exemplo de mais-valia 5
 Em oito horas de trabalho, um operário produz três cadeiras. Cada cadeira será
vendida por R$50,00, mas o trabalhador receberá, por todo o seu dia de trabalho, apenas R$10,00. Os R$40,00
restantes são o lucro sobre o trabalho, ou seja, a mais-valia.
As teorias marxistas
As teorias marxistas foram incorporadas por Lenin, que as aplicou na Rússia após 1917, quando uma revolução
derrubou o sistema monárquico e instaurou o regime socialista. Dessa forma, o socialismo russo é conhecido
como marxista-leninista.
O socialismo do século XIX chegará ao século seguinte como alternativa política e econômica ao
capitalismo.
De sua aplicação na Rússia revolucionária surgiria a consolidação de um modelo de Estado autoritário, cujo
principal representante seria Stálin .
6
Josef Vissarionovitch Stalin
6
 foi secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética e do Comitê Central
a partir de 1922 até a sua morte em 1953, sendo assim o líder soberano da União Soviética. Sob a liderança de
Stalin, a União Soviética desempenhou um papel decisivo na derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra
Mundial (1939 -1945) e passou a atingir o estatuto de superpotência, após rápida industrialização e melhoras
nas condições sociais do povo soviético, durante esse período, o país também expandiu seu território para um
tamanho semelhante ao do antigo Império Russo. Durante o XX Congresso do Partido Comunista da União
Soviética, em1956, o sucessor de Stalin, Nikita Khrushchov, apresentou seu Discurso secreto oficialmente
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chamado "Do culto à personalidade e suas consequências", a partir do qual iniciou-se um processo de
"desestalinização" da União Soviética. Ainda hoje existem diversas perspectivas ao redor de Stalin e seu governo,
alguns o vendo como ditador tirano e outros como líder habilidoso.
O termo leninismo é utilizado para designar a corrente política surgida pelo rompimento político com o
economicismo da social-democracia européia no começo do século XX.
Apesar de levar o nome de seu principal fundador, o leninismo também carrega contribuições de revolucionários
como Grigory Zinoviev - por formular junto com Lenin a teoria do desenvolvimento desigual - e Lev Kamenev.
Lenin procurou adaptar a teoria marxista do século XIX à realidade do século XX e foi um dos principais teóricos
marxistas e o principal lider da Revolução Bolchevique de 1917, na Rússia.
O autoritarismo socialista se espalharia sobretudo após a Segunda Guerra Mundial, quando tem início o
período de Guerra Fria , uma disputa ideológica por zonas de influência liderada pela União Soviética, 7
socialista, e pelos Estados Unidos, capitalista.
7A Guerra Fria foi um conflito que não resultou em confronto armado, foi uma disputa ideológica entre Estados
Unidos e União Soviética, que transcorreu a partir do fim da Segunda Guerra Mundial (1945) e findou em 1991,
com o fim da União Soviética. Esse conflito pode ser definido como uma guerra econômica, diplomática e
tecnológica que tinha como objetivo a expansão das áreas de influências do capitalismo e do socialismo. O
principal ponto da Guerra Fria foi a difusão dos sistemas político-econômicos existentes, de um lado o
capitalismo, liderado pelos Estados Unidos; e do outro, o socialismo, liderado pela União Soviética. É importante
lembrar que os dois eram as duas maiores potências mundiais que constituíam o mundo bipolar. A principal
preocupação de ambos estava relacionada à questão da predominância de uma das influências, que poderia
significar a hegemonia de uma potência sobre a outra, esse temor elevou ainda mais a rivalidade entre eles.
Assim, americanos e soviéticos saíram em busca de aliados para expandir suas respectivas ideologias. O clima de
apreensão fez com que as potências em questão saíssem em disparada para o desenvolvimento de inovações
bélicas, produzindo um gigantesco arsenal bélico, como armas, mísseis, submarinos e armamentos nucleares
capazes de destruir o planeta. Durante a Guerra Fria o mundo conviveu com um constante clima de tensão entre
americanos e soviéticos, uma vez que qualquer situação envolvendo os dois países poderia gerar um conflito
armado sem precedentes.
Essa ordem mundial, denominada bipolaridade, seria uma das principais características da segunda metade do
século XX, pondo o mundo em alerta com a possibilidade de um conflito nuclear entre as duas potências.
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O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você vai estudar:
• Primavera dos Povos;
• Comuna de Paris;
• Nacionalismo europeu: as unificações italiana e alemã;
• A consolidação do proletariado na qualidade de classe atuante nas transformações sociais operadas no
mundo do trabalho, como a luta por direitos trabalhistas;
• O processo de unificação da Itália e da Alemanha e a consolidação do nacionalismo nesses estados.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Viu a formação do sistema capitalista e seus principais teóricos no período de sua consolidação.
Compreendemos também o contexto de produção das ideias socialistas e duas de suas principais
correntes de pensamento: o socialismo utópico e o socialismo científico, identificando seus principais
teóricos e suas teses
AULA 4=========================================================================
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA I
A FORMAÇÃO DA CLASSE TRABALHADORA:
PRIMAVERA DOS POVOS
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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
1- Definir a Primavera dos Povos;
2- Comparar os movimentos de 1830 e 1848;
3- Analisar a importância desses movimentos para a formação da classe operária.
Introdução
Nesta aula, veremos os movimentos revolucionários de 1830 e 1848, articulando os interesses da classe
trabalhadora e da burguesia e identificando a importância das teorias socialistas nesse contexto.
1 A onda liberal
O grande marco do século XVIII na Europa foi, certamente, a Revolução Francesa, que consolidou um século de
conquistas burguesas.
As revoluções burguesas1
 sacramentaram de forma definitiva as demandas políticas da burguesia europeia.
Um dos principais saldos dos processos revolucionários foi o fim do sistema absolutista.
1Os cujos exemplos mais significativos foram as revoluções Inglesa e Francesa de 1640 e 1789 respectivamente.
O Antigo Regime, porém, deixou resquícios nos estados europeus, que seriam responsáveis pela nova onda
revolucionária que eclodiria durante o século XIX.
O século XIX é a época do triunfo do liberalismo.
Atenção
Não foi à toa que os diversos movimentos que percorreram o mundo ficaram conhecidos como onda liberal. Seus
efeitos foram sentidos não só na Europa, palco privilegiado desses eventos, mas em todo o mundo. Como
exemplo podemos citar a Revolução Liberal do Porto, de 1820.
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Figura 1 - Revolução Francesa
2 Família real no Brasil
Quando a família real veio para o Brasil, em 1808, Portugal foi deixado à própria sorte, com um imenso vazio de
poder.
Com a abertura dos portos às nações amigas, todo o comércio ultramarino português passou a se dar por meio
dos portos brasileiros, levando a burguesia mercantil (Notadamente as que comercializavam pelos portos de
Lisboa e da cidade do Porto.) portuguesa a uma grave crise financeira.
Em agosto de 1820, os militares estabeleceram a Junta Provisional do Governo Supremo do Reino e rapidamente
conseguiram a adesão não só da população mas também do clero.
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Figura 2 - Família Real
A Vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil foi um acontecimento inédito na história mundial, já que nunca
antes uma corte completa havia deixado seu reino para se alojar em uma colônia, especialmente em terras tão
distantes quanto o Brasil. Partiram do porto de Lisboa em 29 de novembro de 1807 a rainha Maria I (Conhecida
como “A Louca” pois tinha problemas mentais.), o príncipe regente D. João, sua esposa, a princesa Carlota
Joaquina, e outras centenas de nobres e funcionários reais (cerca de dez mil pessoas.).
A partida foi feita com urgência, quase uma fuga, já que a família real estava sob ameaças do imperador da
França, Napoleão Bonaparte, que prometera invadir Portugal, aprisionar a corte e destituir o príncipe regente.
Eles embarcaram em mais de 50 navios que tinham como destino a maior colônia portuguesa, o Brasil.
Os revoltosos reivindicavam a volta imediata da corte a Portugal, uma nova Constituição baseada em
princípios liberais e a recolonização do Brasil, que havia sido elevado a Reino Unido de Portugal e
Algarves.
Diante das pressões da sociedade portuguesa, não restou outra saída a Dom João VI a não ser o retorno imediato
a Portugal, deixando seu filho Dom Pedro I como regente do Brasil.
Atenção
A demanda revolucionária pela recolonização, por sua vez, precipitou a independência, proclamada em 7 de
setembro de 1822.
- 5 -
Figura 3 - Dom Pedro I
3 Liberalismo
Como podemos ver, a onda liberal de fato se alastrou pelo planeta.
Quando falamos em liberalismo , pensamos imediatamente em e no estabelecimento de um 1 Adam Smith
sistema econômico baseado sobretudo na autorregulação do mercado.
1
Frequentemente, liberal tem sido usado como oposição a conservador, tendo este o significado relacionado ao
Antigo Regime. Na política, o liberalismo, a exemplo do que se percebe na economia, prega o Estado mínimo, com
atribuições definidas e limitadas. Essa concepção seria fundamental para o pleno desenvolvimento dos estados
contemporâneos. Como corrente filosófica, o liberalismo pode ser localizado no contexto do movimento
iluminista, que, por sua vez, seria a base ideológica dos mais diversos movimentos, da independênciados
Estados Unidos à Revolução Francesa.
Esquecemos, no entanto, que o liberalismo é, acima de tudo, uma filosofia política cuja premissa fundamental é a
defesa da liberdade.
Segundo René Rémond:
Trata-se também de uma filosofia social individualista, na medida em que coloca o indivíduo à
frente da razão do Estado, dos interesses de grupo, das exigências da coletividade; o liberalismo não
conhece nem sequer os grupos sociais, e basta lembrar a hostilidade da Revolução no que dizia
respeito às organizações, às ordens, à desconfiança que lhe inspirava o fenômeno da associação, sua
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repugnância para reconhecer a liberdade de associação, de medo que o indivíduo fosse absorvido,
escravizado pelo grupo (1974, p. 26).
4 Era Napoleônica
Na França, após a revolução de 1789, tem início a Era Napoleônica, que tem como um dos saldos mais
importantes a redefinição do mapa geopolítico europeu.
Napoleão havia invadido e conquistado diversos reinos. Quando deixa o poder, é necessária uma nova definição
das fronteiras desses reinos, bem como a reorganização interna desses estados.
Esse novo arranjo foi feito pelo Congresso de Viena, entre 1814 e 1815, que reconduziu diversos monarcas ao
trono.
Napoleão inaugurou uma nova era que, ao terminar, reconfigurou o mapa político da Europa e mudou toda a sua
história, refletindo até mesmo em outros continentes.
Após a derrota de Napoleão, a monarquia na França foi restaurada pela dinastia Bourbon, assumindo o trono o
rei Luís XVIII. Havia, porém, muitos desafios nesse processo de restauração monárquica para o Estado dar conta.
Era necessário conciliar os interesses da aristocracia e da burguesia, as mais influentes classes políticas
desse período. Isso implicou uma disputa pelo poder entre essas classes.
Com a progressiva industrialização da França, outra classe social surge no cenário político também para
reivindicar direitos: o proletariado.
Atenção
Devemos lembrar que, embora a Revolução Industrial tenha ocorrido primeiramente na Inglaterra no século
XVIII, no século seguinte ela se espalha por diversos países, sendo esse momento chamado de Segunda
Revolução Industrial.
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Figura 4 - Luís XVIII
5 A nova Constituição
Luís XVIII outorgou uma nova Constituição, que aliava conquistas obtidas na Revolução Francesa, como a
liberdade de pensamento e a igualdade jurídica, com princípios remanescentes do Antigo Regime.
Ainda que tenha mantido a divisão dos três poderes, exercendo apenas o Poder Executivo, a Constituição real
estabeleceu o voto censitário (Por renda.), o que fez cair radicalmente o número de eleitores na França.
Nesse contexto, podemos destacar a atuação de três grupos:
Ultrarrealista Grupo constituído pela nobreza e liderado por Carlos de Bourbon, o Conde de Artois.
Liberais Liderados por La Fayette, que defendiam as conquistas da Revolução Francesa.
Constitucionalistas Desejavam a obediência irrestrita à Constituição, liderados por Guizot.
Luís XVIII morre em 1824, e seu irmão, líder dos ultrarrealistas, sobe ao trono com o título de Carlos X. O rei
contava com grande apoio dos nobres, ao qual retribuía estabelecendo leis (Como exemplo podemos citar a lei
das indenizações.) que os favorecessem.
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Quando ocorreu a Revolução Francesa, muitos nobres foram perseguidos e alguns deles fugiram para
outros reinos. Seus bens foram confiscados e incorporados ao patrimônio do Estado.
Com a restauração, esses nobres puderam retornar à França fazendo parte dos ultrarrealistas.
A lei das indenizações previa que a nobreza deveria receber pagamento pelos bens que os
revolucionários haviam confiscado.
Figura 5 - Carlos X
6 A Revolução de 1830
Apesar do apoio dos nobres, não podemos esquecer que havia eleições para as câmaras. Em 1830, essas eleições
garantiram a vitória aos liberais, que, com isso, passaram a fazer oposição aos privilégios da nobreza.
O rei suprimiu a oposição com vigor: determinou o fim da liberdade de imprensa, dissolveu a Câmara e
convocou novas eleições.
O que o Carlos X parecia não compreender é que as revoluções burguesas deram um fim ao absolutismo
monárquico e as tentativas de restaurá-lo implicariam conflito.
Diante das medidas autoritárias do Estado, o povo se revoltou. A imprensa recusou-se a seguir as leis e
continuou exercendo a liberdade de expressão que havia sido tão duramente conquistada.
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As ruas de Paris foram tomadas pelas barricadas, reprimidas com violência pelas forças repressivas.
Entre 27 e 29 de julho, houve uma intensa luta na capital francesa, que ficou conhecida como os três dias
gloriosos. Ao final, o rei foi deposto e obrigado a fugir.
Segundo George Rudé:
Depois de três dias de luta ― les Trois Glorieuses ― o pretendente orleanista, Luís Felipe, foi
elevado ao trono por um acordo político de banqueiros e jornalistas, e aclamado pelo povo na
Municipalidade. Esse é o resumo da narrativa tradicional da revolução. Mas é claro que ela encerra
outros aspectos, como os historiadores modernos ― muitos dos quais norte-americanos ― bem
mostraram. Em primeiro lugar, o resultado não agradou a todos: dos dois aliados, la blouse et le
redingote, como os chamou Edgar Newman, a blouse (trabalhadores) foram enganados, e a vitória
explorada no interesse exclusivo do redingote (os empregadores). Mas os trabalhadores se
recusaram a tirar al castanhas do fogo para a burguesia e, tendo desempenhado seu papel,
começaram a apresentar reivindicações próprias. Foram os tipógrafos, cujos empregos dependiam
da sobrevivência dos jornais de Paris, que deram o exemplo: ficaram tão alarmados com as
antiliberais Ordenanças de Saint-Cloud de Carlos X quanto os jornalistas e políticos burgueses. Por
isso, foram os primeiros a sair às ruas, liderando os outros trabalhadores de Paris (...) (1982, p. 108).
A importância da Revolução de 1830
A Revolução de 1830 na França é importante para entendermos a consolidação do poder burguês.
Esse evento inspirou diversas obras. Entre as mais importantes está Os miseráveis, de Victor Hugo, que em
2012 ganhou uma nova adaptação ― a terceira ― para o cinema, recebendo diversos prêmios. Sua história
destaca a resistência dos rebeldes e a repressão feroz do exército.
A deposição do rei permitiria a instalação de um regime republicano na França, a exemplo do que ocorrera em
1792, quando o país viveu sua Primeira República, mas não foi o que se deu.
Apesar das simpatias pela república, a burguesia apoiou a monarquia constitucional e teve início a monarquia de
julho, cujo governo foi entregue ao Duque de Orléans, que assumiu o trono com o título de Luís Felipe I.
Os miseráveis é uma das principais obras escritas pelo escritor francês Victor Hugo, publicada em 3 de abril de
1862 simultaneamente em Leipzig, Bruxelas, Budapeste, Milão, Roterdã, Varsóvia, Rio de Janeiro e Paris (Em
Paris forma vendidos 7 mil exemplares em 24 horas.).
A história passa-se na França do século XIX entre duas grandes batalhas: a Batalha de Waterloo (1815) e os
motins de junho de 1832.
Victor Hugo é também autor de Os trabalhadores do mar e O corcunda de Notre-Dame, entre outras obras.
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A importância da leitura
O governo de Luís Felipe I foi uma monarquia constitucional, como desejavam os burgueses. Não à toa, seu
reinado pode ser considerado a era de ouro da burguesia.
O regime adotado tinha claras inspirações liberais, o que foi fundamental para o desenvolvimento da revolução
industrial francesa.
Segundo Eric Hobsbawm:
Teoricamente, a França de Luís Felipe devia ter partilhado da flexibilidade política da Grã-Bretanha,
da Bélgica, da Holanda e dos países escandinavos.
Na prática, isto não aconteceu, pois, embora fosse claro que a classe governante da França ― os
banqueiros, financistas e um ou dois grandes industriais ― representava somente uma parcela dos
interesses da classe média e, além disso, uma parcela cuja política econômica não era apreciada
pelos elementos industriais mais dinâmicos, bem como pelos diversos velhos resíduos feudais, a
lembrança da Revolução de 1789 se constituía em um obstáculo para a reforma.
A oposição consistianão só de uma burguesia descontente, mas também de uma classe média
inferior politicamente decisiva, especialmente em Paris (1982, p. 330).
Apesar do estabelecimento de uma monarquia constitucional, os ideais republicanos não esmoreceram e,
embora de início esse reinado tenha assumido uma aparência democrática, aos poucos, à medida que surgiam
novos conflitos de interesses ― entre burgueses e operários, por exemplo ― e cresciam os movimentos
republicanos, a política repressiva do Estado endureceu, causando grande descontentamento entre a população,
o que levou à sua deposição em 1848 e à instauração da Segunda República francesa.
7 O Congresso de Viena
No rastro da Revolução de 1830 na França, outros movimentos eclodiram na Europa.
Fique ligado
Assista a versão 2012 de Os miseráveis.
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O Congresso de Viena havia reunido Holanda e Bélgica em um único reino denominado Países Baixos.
Entretanto, as diferenças entre eles eram visíveis e, aparentemente, irreconciliáveis.
Como obstáculos podemos destacar não só o idioma e a religião (Os belgas eram católicos e os holandeses
protestantes.), mas também a marcada diferença acerca do papel do Estado no tocante à economia.
Os monarcas europeus discutem a reorganização do mapa político da Europa pós-Napoleônica.
Obra que retrata o Congresso de Viena (1814 - 1815), que redefiniu o mapa da Europa.
A eclosão da Revolução Belga
Enquanto os holandeses já detinham um sistema mercantil organizado e, por isso, eram adeptos do liberalismo,
os belgas ainda necessitavam do controle e do protecionismo estatal para desenvolver sua indústria nacional.
Além disso, o rei Guilherme I favorecia claramente os holandeses em detrimento dos belgas.
Em 1830, eclodiu a Revolução Belga , que desejava a independência do reino. 2
2A Revolução Belga foi o conflito que levou à secessão das províncias do sul do Reino Unido dos Países Baixos e
estabeleceu o independente Reino da Bélgica. A revolução belga de 1830 fez os habitantes das províncias do sul
do Reino dos Países Baixos rebelarem-se contra a hegemonia das províncias do norte, principalmente
protestantes. Grande parte da população do sul eram católicos romanos, de língua francesa, ou liberais, que
consideravam o governo do rei Guilherme I como despótico. Houve altos níveis de desemprego e inquietação
industrial entre as classes trabalhadoras. Dentro de algumas semanas de agosto e setembro resultou-se a revolta
e secessão de Flandres, Valônia e a formação da Bélgica. Apenas parte de Luxemburgo permaneceu até 1890, em
união pessoal com o Reino Unido dos Países Baixos.
Em 1831, os belgas empossaram Leopoldo I como rei, aderindo ao regime de monarquia constitucional. O
conflito com os holandeses se arrastou até 1839, quando a independência belga foi finalmente reconhecida.
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Figura 6 - Episódio da revolução belga de 1830, Gustaj Wappers (1834) – Museu de Arte Moderna, em Bruxelas.
8 A Primavera dos Povos
As revoluções de 1830 foram o ponto de partida para a Primavera dos Povos, ocorrida em 1848, que podemos
definir como uma onda revolucionária em diversos reinos europeus. Se, no caso das revoluções de 1830,
podemos destacar o conflito de interesses entre os burgueses e a aristocracia, nas revoluções de 1848, podemos
apontar a disputa entre projetos de Estado: liberal, nacionalista e socialista.
Como em qualquer movimento, não é possível apontar uma única causa para sua ocorrência. Ele é fruto da
conjuntura e das mudanças, incluindo as formas de pensamento, que percorriam a Europa no século XIX.
Embora haja a tendência de olhar a Primavera dos Povos do ponto de vista político ou econômico, esse
movimento demanda outros olhares, tendo sido importante para a formação da sociedade europeia
contemporânea.
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Figura 7 - Barricadas nas ruas de Paris durante a Revolução de junho de 1848.
Ainda que a Revolução Industrial tenha ocorrido no século XIX, a agricultura se mantinha como um dos pilares
econômicos. Entre 1846 e 1848, o continente sofreu uma severa crise agrária, resultando em parcas colheitas.
A escassez de alimento fez com que este tivesse seu preço aumentado, causando uma enorme fome entre a
população mais pobre.
Temos de encarar essa questão como um ciclo:
Se a população não conseguia comprar os gêneros básicos para sua sobrevivência, tampouco poderia arcar com
o custo de gêneros que não são indispensáveis, como tecidos e manufaturados.
Como um castelo de cartas, a crise agrária afetou toda a economia, já que implicou a diminuição da produção
industrial, que encalharia por falta de compradores.
Segue-se então outro ciclo: se as fábricas produzem menos, precisam de menos trabalhadores, gerando o
desemprego. Sem salário, a população comprava cada vez menos, o que, por sua vez, gerava ainda mais
desemprego, pois provocava o fechamento das fábricas.
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Podemos entender a economia como o mecanismo de um relógio. Se uma peça para de funcionar, toda a máquina
entra em colapso, pois todos os aspectos estão interligados.
Segundo Eric Hobsbawm:
A terceira maior das ondas revolucionárias, a de 1848, foi o produto desta crise. Quase que
simultaneamente, a revolução explodiu e venceu, temporariamente, na França, em toda a Itália, nos
Estados alemães, na maior parte do império dos Habsburgo e na Suíça (1847).
De forma menos aguda, a intranquilidade também afetou a Espanha, a Dinamarca e a Romênia; de
forma esporádica, a Irlanda, a Grécia e a Grã-Bretanha. Nunca houve nada tão próximo da revolução
mundial com que sonhavam os insurretos do que esta conflagração espontânea e geral, que conclui a
era analisada neste livro. O que em 1789 fora o levante de uma só nação era agora, assim parecia, “a
primavera dos povos” de todo um continente (Hobsbawm, 1982).
Analisando os impactos na Itália, França e Alemanha
Itália
O movimento de 1848 teve início na Itália , que ainda não havia se unificado. 3
A partir de 1846, tanto o papa Pio IX quanto o rei Carlos Alberto, do Piemonte-Sardenha, estabeleceram
reformas liberais .
4
A partir de então, diversos movimentos, procurando instaurar a República e estabelecer o liberalismo,
espalharam-se pelos estados italianos.
As revoltas só puderam ser contidas com o apoio de outras potências, como a França e a Áustria, que
restauraram a ordem anterior.
3O caso italiano é peculiar, pois, além dos reinos, havia os estados papais, sob o domínio da Igreja. Os estados do
Norte e do Centro eram mais industrializados, e o Sul italiano marcadamente agrário. Essa diferença regional era
também um entrave ao processo de unificação.
4
Essas reformas inspiraram a eclosão de movimentos no Sul, cuja política era ainda bastante conservadora,
especialmente no que tange às liberdades fundamentais, como o direito à liberdade de expressão.
Atenção
- 15 -
É importante ressaltar que as monarquias não tinham, é claro, interesses republicanos e buscavam reprimir
esses movimentos onde quer que ocorressem para que pudessem manter a ordem estabelecida. Embora esses
reis tenham feito reformas, adotado novas constituições e se inspirado no liberalismo, a ordem monárquica
permanecia intacta, o que ia de encontro aos interesses democráticos da população.
França
Na França, o movimento de 1848 culminou com a deposição do rei e a instauração da República.
Três correntes principais se opunham ao rei Luís Felipe:
- Legitimistas - que defendiam a volta de um Bourbon ao trono ― o rei era da casa Real de Orléans;
- Republicanos e os bonapartistas - que apoiavam Luís Bonaparte, sobrinho de Napoleão.
A crescente crise política e econômica de que já falamos acabou por levar Luís Bonaparte ao poder, em um
regime republicano.
Seguindo os passos de seu tio Napoleão Bonaparte, Luís deu um golpe de estado em 1851 e restaurou
novamente a monarquia, sagrando-se imperador.
Alemanha
A Alemanha, a exemplo da Itália, também não havia se unificado, mas vigorava, desde 1834, o Zollverein .
5
As monarquias alemãs possuíam forte influência absolutista, e as reformas liberais eram poucas ou insuficientes
para suprir as necessidades de um mercado em constanteexpansão. Tanto no caso da Itália quanto no da
Alemanha, o nacionalismo foi uma nota em comum.
Mais do que o liberalismo, os anseios nacionalistas estiveram na base dos movimentos que afetaram não só a
Prússia, mas também a Áustria, a Hungria e outros estados.
5Autor de "uma investigação sobre a natureza e a causa da riqueza das nações”, a sua obra mais conhecida, e que
continua sendo usada como referência para gerações de economistas, na qual procurou demonstrar que a
riqueza das nações resultava da atuação de indivíduos que, movidos inclusive pelo seu próprio interesse,
promoviam o crescimento econômico e a inovação tecnológica.
A participação da classe trabalhadora
Em comum, todos esses movimentos possuem a participação ativa da classe trabalhadora. Dessa forma, seu
caráter é diferente daquele percebido nas revoluções burguesas.
Os trabalhadores reivindicam melhores condições de vida e, mais tarde, direitos trabalhistas.
Essas demandas ganham força especialmente após a Revolução Industrial, pois o desenvolvimento
econômico não implicou a melhoria das condições de vida dessa classe.
Atenção
- 16 -
É importante ressaltar que o desenvolvimento do capitalismo evidenciou as contradições sociais. Por um lado,
uma burguesia que enriquecia; por outro, uma classe operária ― que gerava a riqueza ― cada vez mais
empobrecida.
As ideias socialistas
Foi nesse contexto apresentado que as ideias socialistas ganharam força; embora o socialismo científico tenha
sido sistematizado sobretudo por Karl Marx (A crítica à propriedade privada, que tomaria corpo com Marx,
também pode ser encontrada em Rousseau e em Proudhon, entre outros.), as ideias socialistas podem ser
encontradas em obras (Como A utopia, de Thomas Morus, que atribuía à propriedade privada a origem da
injustiça social.) que remontam ao século XVI.
Diferentemente dos chamados socialistas utópicos (Analisam as causas da injustiça e da desigualdade social,
sem estimular meios para exterminá-las.), Marx propõe, em O capital, o socialismo científico, ou seja, estabelece
propostas e mudanças sociais que implicam a substituição do capitalismo pelo socialismo.
Em 1848, o ano da Primavera dos Povos, é publicada uma de suas obras mais conhecidas, O manifesto
comunista, escrita em parceria com Friedrich Engels. Nela, Marx chama o operariado à união pela luta de
seus direitos e pela transformação social em busca de melhores condições de vida e de trabalho.
Em O manifesto comunista, Marx e Engels afirmam que:
A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os
antagonismos de classes. Não fez senão substituir velhas classes, velhas condições de opressão,
velhas formas de luta por outras novas.
Entretanto, a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos
de classes. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes
classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado (Marx; Engels, 2012).
9 Finalizando
Por que o socialismo foi tão importante e alcançou rapidamente a classe trabalhadora?
Porque falava diretamente acerca das condições de vida e de trabalho às quais esses indivíduos eram
submetidos.
Se o iluminismo vinha ao encontro dos anseios burgueses, o socialismo era a resposta ideológica às
necessidades do proletariado que surgia.
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A Primavera dos Povos foi rapidamente suprimida pelos estados europeus, mas ficou para a história como um
levante que demonstrava não a insatisfação de uma classe burguesa, que desejava mais poder político, mas de
uma classe trabalhadora que se havia mantido calada até então e cujos movimentos eram suprimidos com
violência.
O que vem na próxima aula
Na próxima aula, você vai estudar:
• Resistência operária: luddismo e cartismo;
• A Comuna de Paris;
• Nacionalismo: as unificações italiana e alemã.
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Identificou os princípios do liberalismo;
• Comparou os movimentos de 1830 e 1848;
• Relacionou argumentos para compreender a importância do surgimento do socialismo científico no
século XIX.
AULA 5=============================================================================
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA I
RESISTÊNCIA OPERÁRIA: LUDDISMO E
CARTISMO
- 2 -
Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:
1- Reconhecer as táticas empreendidas na luta do operariado pela aquisição de direitos;
2- Analisar a conjuntura que levou à Comuna de Paris;
3- Comparar os processos de unificação da Itália e da Alemanha.
Introdução
Nesta aula, veremos os movimentos de resistência operária luddismo e cartismo, procurando distingui-los e
entender o papel de cada um como estratégia de negociação e participação política do proletariado.
1 Introdução
Nas aulas anteriores, vimos a Revolução Industrial e as principais correntes de pensamento que nortearam o
século XIX.
Vamos discutir agora a questão do proletariado e sua consolidação como classe social.
Vamos começar?
2 A formação da classe operária
A formação da classe operária é tema de diversos trabalhos historiográficos ao redor do mundo. Entre os mais
diversos fatores, sua constituição e trajetória despertam interesse por estarem diretamente relacionadas à
Revolução Industrial inglesa do século XVIII.
Se Marx defendia, de modo amplo, que a história do homem é a história da luta de classes, poucos momentos
corroboram mais essa visão que a relação entre operários e burgueses, especialmente durante o século XIX.
Ao se referir à formação da classe operária, Eric Hobsbawm afirma que:
O fazer-se da classe operária não é porque eu pretenda sugerir que a formação desta ou de qualquer
outra classe seja um processo com início, meio e fim, como a construção de uma casa. As classes
nunca estão prontas, no sentido de acabado, ou de terem adquirido sua feição definitiva. Elas
continuam a mudar.
- 3 -
Entretanto, como a classe operária foi historicamente uma classe nova ― não reconhecida como um
coletivo social ou institucional, interna ou externamente, até um período específico ―, faz sentido
delinear sua emergência enquanto grupo social durante um certo período (2008, p. 279).
O pensamento de Hobsbawm é afim ao de um dos mais importantes estudiosos do tema, o historiador E. P.
Thompson. Em uma de suas principais obras, A formação da classe operária inglesa, Thompson procura
estabelecer o que é, de fato, uma classe social, definindo-a da seguinte maneira:
A classe acontece quando alguns homens, como resultado de experiências comuns (Herdadas ou partilhadas.),
sentem e articulam a identidade de seus interesses entre si, e contra outros homens cujos interesses diferem
(Geralmente se opõem.) dos seus (2011, p. 10).
3 A classe operária
Por que é importante definirmos classe?
Muitas vezes esquecemos que essa palavra remete não somente a um termo, mas a um conceito que possui
sentido próprio e que se altera em função do contexto ao qual se aplica. Há diversas definições possíveis para
classe, sendo a de Thompson (O autor atenta para os fundamentos da classe social: as experiências
compartilhadas. Isso vale para todas as classes.) a mais utilizada.
O que faz da nobreza, nobreza?
O título, as terras, a influência política, as relações sociais, o modo de vestir, os costumes, enfim, uma série de
experiências compartilhadas entre seus indivíduos. Essa definição pode, portanto, ser aplicada para
compreendermos qualquer classe social.
Quais são as experiências compartilhadas pela classe operária?
Pensadores como Marx, Engels e Proudhon chamaram a atenção para a exploração do proletariado (Estamos
falando dos séculos XVIII e XIX, quando a ideia de uma sociedade de consumo ainda não tinha dado seus
primeiros passos.). Era notório que os operários produziam a riqueza industrial, mas não a usufruíam.
De modo geral, os operários viviam mal, cumpriam jornadas exaustivas de trabalho, não tinham direito a folgas
ou férias, o trabalho infantil era comum, não havia um salário mínimo determinado, ou seja, tudo o que hoje
consideramos direitos básicos é, na verdade, fruto das intensas lutas da classe trabalhadora

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