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revolução industrial v11

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A Revolução Industrial e seus reflexos na Arquitetura 
Unidade 01
Introdução
A era conhecida como “Revolução Industrial” foi um período em que mudanças fundamentais ocorreram na agricultura, na manufatura têxtil e de artigos metálicos, nos transportes, nas políticas econômicas e até mesmo na estrutura social;
O ano de 1760 é comumente aceito como o ponto de partida da Revolução Industrial;
A Inglaterra foi o seu local de origem, mas logo espalhou-se para outros países europeus (com maior ou menor atraso).
Conforme vimos em aulas anteriores, os pensadores iluministas já vinham mostrando um grande interesse em mudanças tecnológicas, baseados na crença de que uma maior prosperidade era “um objetivo válido e possível de ser alcançado” com a aplicação direta dos conhecimentos inovadores acumulados em tantas áreas do conhecimento humano.
Introdução
Microscópio do século XVIII
Introdução
Contudo, o principal fator dessas mudanças, segundo Leonardo Benevolo, teria sido realmente o espírito empreendedor; ou seja, “o desejo não preconcebido de novos resultados, e a confiança em poder obtê-los por meio de cálculos e reflexões”.
Monumento em homenagem a Matthew Boulton, William Murdoch e James Watt (“The Golden Boys”), em Birmingham 
Exemplo: os avanços nas técnicas agrícolas – tais como a recuperação da fertilidade de terrenos exauridos, a introdução do movimento de cercar os próprios terrenos etc. - resultaram em um aumento da oferta de alimentos e de matéria-prima e também em mudanças na própria organização industrial.
Introdução
Por sua vez, com o aumento da oferta de alimentos na Europa ocidental em virtude da maior eficiência na agricultura e da introdução de novas culturas, observou-se um grande aumento populacional, disponibilizando assim uma enorme quantidade de mão de obra para outros fins;
E ao garantir comida suficiente para sustentar uma força de trabalho adequada (que agora era atraída aos centros industriais), a Inglaterra assim preparou o caminho para a expansão da economia e da indústria.
Introdução
A batata, introduzida na Europa na segunda metade do século XVI, tornou-se uma das mais importantes culturas do continente.
Exemplo do aumento populacional: em meados do século XVIII, a Inglaterra possuía cerca de 6,5 milhões de habitantes; em 1801 eram quase 8,9 milhões, mas em 1831 a população já atingia quase 14 milhões de habitantes;
Esse aumento deveu-se, principalmente, a uma decisiva redução no índice de mortalidade;
Esta redução da mortalidade, por sua vez, foi possível graças a uma série de melhorias ocorridas em diversas frentes quase ao mesmo tempo: na alimentação, na higiene pessoal, nas instalações públicas, nas moradias, e principalmente das práticas médicas.
Introdução
Introdução
Alguns dos melhoramentos higiênicos, por sinal, dependiam da indústria: a melhoria na limpeza pessoal, por exemplo, foi favorecida pela maior quantidade de sabão e roupas íntimas (de algodão) produzidos a preço razoável;
Ou seja: mais artigos de higiene no mercado, maior o número de consumidores saudáveis, num processo teoricamente ininterrupto de retroalimentação...
As moradias também tornam-se mais higiênicas graças à substituição da madeira e da palha por materiais mais duráveis e também pela separação entre a casa e a área de trabalho (ou seja, a produção doméstica de vários artigos agora não existia mais, pois a zona de trabalho fora transferida para as fábricas).
Introdução
Até o advento da R.I., parte do processo fabril de algumas indústrias (especialmente a têxtil) era realizado na própria residência dos trabalhadores.
As novas tecnologias, por sua vez, levaram ao aumento da produção, da eficiência, do comércio (interno e externo) e, naturalmente, dos lucros.
Introdução
Enquanto as ferramentas ainda eram operadas manualmente, a expansão da manufatura doméstica (especialmente a têxtil) estimulou importantes inovações técnicas, voltadas ao aumento da eficiência;
Ou seja, o ímpeto de criar máquinas que agilizassem a produção visou, basicamente, a ampliação dos lucros (e não necessariamente o bem estar dos trabalhadores)! 
Introdução
Pausa para reflexão: o que podemos fazer para aumentar a eficiência nas construções brasileiras? Até quando vamos continuar dependendo de uma mão-de-obra pouco qualificada e do uso de materiais que induzem a grandes desperdícios?
Introdução
CUB em Salvador (Julho 2015) padrão normal – tipo R1 (Residencial) = 
R$ 1.522,66 / m2 (fonte: SINDUSCON)
Melhorias no processo de fiação, portanto, logo surgiram, e assim a economia ocidental encaminhou-se em direção a uma verdadeira Revolução Industrial.
Introdução
O aumento populacional e o desenvolvimento industrial, na verdade, são interdependentes e acabam influenciando-se mutuamente de modo relativamente complexo; 
População x Desenvolvimento Industrial
A necessidade de alimentar, vestir e fornecer moradia para uma população crescente, dependendo da situação, tanto pode ter consequências positivas – quando estimula a produção de manufaturados – quanto negativas – quando produz apenas uma redução da qualidade de vida (exemplo: Irlanda – “The Great Famine”: 1845-1852). 
Irlanda: uma praga trazida da América destruiu safras inteiras de batata, matando 1 milhão de pessoas de fome.
Detalhe: a rápida mecanização da indústria inglesa foi devida, entre outros fatores, ao fato da população não crescer no mesmo ritmo da implementação e evolução das máquinas. Ou seja, na falta de mão de obra qualificada, os empresários são estimulados a aumentar a produtividade;
Pela razão exatamente inversa – uma população muito mais abundante, de quase 27 milhões ao final do século XVIII -, a mecanização da indústria francesa ocorreu com atraso (em relação à Inglaterra). 
População x Desenvolvimento Industrial
Contudo, não podemos esquecer que, em contrapartida, as condições de vida nas cidades industriais rapidamente se deterioraram...
População x Desenvolvimento Industrial
População x Desenvolvimento Industrial
Típica zona residencial londrina (c.1860)
Dentro das fábricas a situação era ainda pior: áreas de trabalho mal ventiladas, barulhentas, sujas, úmidas e mal iluminadas; ou seja, essas fábricas eram locais extremamente insalubres e perigosos, nas quais os operários normalmente trabalhavam de 12 a 14 horas por dia.
População x Desenvolvimento Industrial
Reflexos na Sociedade
A velocidade – e o alcance – das mudanças afeta a sociedade como um todo. O sentimento de “ânsia pela novidade” domina cronistas e escritores já na metade do século XVIII;
Texto de um autor inglês do período: “O século vai ficando cada vez mais desvairado à cata de inovações, todas as coisas deste mundo estão sendo feitas de uma maneira nova; é preciso enforcar as pessoas de maneira nova (...).”
Balão tripulado (Joseph e Jacques Montgolfier) - 1783
Reflexos na Sociedade
Texto de um autor alemão (Século XVIII): “É de admirar o fato de hoje em dia se julgar desfavoravelmente tudo que é velho. As ideias novas abrem-se caminho até o coração da família e perturbam a ordem desta. Nem mesmo nossas velhas domésticas querem mais deixar-se ver ao redor de seus velhos móveis”. 
Alexander Cummings: privada (1775)
Georges Le Sage: telégrafo elétrico (1774)
Os progressos da Revolução Industrial, no entanto, são perturbados por crises – sociais, políticas etc. - que resultam em sofrimento para muitas categorias da população; 
Assim sendo, os cronistas deste período, dependendo da forma como foram “atingidos” pelos efeitos da R. I., deixaram-nos duas visões contrastantes da época: uma delas, “rósea e otimista”, e a outra, “tétrica e pessimista”.
Reflexos na Sociedade
Os efeitos maléficos da Revolução Industrial decorrem principalmente da falta de coordenação entre o progresso técnico-científico e a organização geral da sociedade; em particular, da falta de providências administrativas adequadas para controlar as consequências negativas
das mudanças econômicas.
Reflexos na Sociedade
Em 1776, Adam Smith (como já vimos) publicou “Uma investigação sobre a natureza e a causa da riqueza das nações”. Essa obra “dá uma forma científica” à teoria liberal e convence seus contemporâneos de que o mundo da economia era regido “por leis objetivas e impessoais, como o mundo da natureza”; os principais fundamentos destas leis, baseiam-se na livre iniciativa dos indivíduos, movidos pelo próprio interesse pessoal;
A ambição, portanto, encarada como o “motor” do progresso...
Reflexos na Sociedade
O “Um ensaio sobre o princípio da população” de Thomas Malthus (1798) possui uma importância quase igual “na determinação do comportamento prático dos protagonistas da Revolução Industrial”. Malthus relaciona, pela primeira vez, o problema do desenvolvimento econômico com o da população, e defende que “somente a pobreza de um certo número de pessoas mantém em equilíbrio os dois fatores, pois o aumento natural da população é mais rápido do que o aumento dos meios de subsistência e encontra sua limitação apenas na fome”, a qual impede uma futura multiplicação. 
Reflexos na Sociedade
A interpretação “radical” que o público liberal fez destas duas obras levou à disseminação do conceito de que o Estado, de fato, não deveria intervir nas relações econômicas e que, para preservar o interesse público, bastaria dar a cada um a liberdade para se ocupar de seus próprios interesses; 
Além disso, muitos também passaram a sustentar a ideia de que Malthus havia demonstrado “a impossibilidade de abolir a miséria e a inutilidade de toda intervenção filantrópica em favor das classes menos abastadas”. 
Reflexos na Sociedade
Enfim, acreditou-se que estaria em andamento um ordenamento “natural” da economia e da sociedade;
Reflexos na Sociedade
Sob esta ótica, as estruturas da sociedade tradicional – ou seja, “os privilégios políticos de ordem feudal, o ordenamento corporativo da economia, as limitações políticas à liberdade dos negócios” – aparecem como obstáculos artificiais a serem superados, de forma a poder-se assim atingir o imaginado “ordenamento natural”. (L. Benevolo)
No século XVIII, o Iluminismo, como vimos, propôs-se a “discutir todas as instituições tradicionais, avaliando-as à luz da razão”;
A R.I. e a Arquitetura
Quando aplicado à cultura arquitetônica, o racionalismo iluminista procurou analisar de forma objetiva “os ingredientes da linguagem corrente” – ou seja, o Barroco - e estudar “suas fontes históricas, ou seja, as arquiteturas antigas e do Renascimento”. 
Dessa forma, o pensamento iluminista não pôde deixar de negar a “sustentada universalidade dessas regras”, colocando-as sob uma perspectiva histórica correta;
A R.I. e a Arquitetura
Ou seja, o Iluminismo “subverte os pressupostos do Classicismo em vigor por mais de três séculos”: Renascimento, Barroco e Rococó. 
Em outras palavras: analisando as verdadeiras razões que conduziram os arquitetos a migrar do estilo renascentista para os exageros do barroco, os iluministas não podiam deixar de perceber sua falta de sustentação racional, propondo uma revisão histórica do uso dos elementos clássicos, buscando desta vez – e com base nas lições de Winckelmann – uma maior fidelidade.
A R.I. e a Arquitetura
Basílica de San Francesco di Paola (1824), projeto de Pietro Bianchi em Nápoles, Itália
Conforme vimos, exigia-se, a partir deste momento, que os monumentos antigos fossem obrigatoriamente conhecidos com a maior exatidão possível, por meio de rigorosos exames diretos dos edifícios e não mais através de “vagas aproximações” (gravuras, textos etc.).
A R.I. e a Arquitetura
O patrimônio arqueológico, que até então havia sido apenas “tocado de leve” (e frequentemente de maneira equivocada) pelo Renascimento e pelos humanistas, foi então explorado de maneira sistemática, com os trabalhos desenvolvidos em Herculano, Pompéia, no monte Palatino (Roma) etc.
A R.I. e a Arquitetura
A partir dessas pesquisas, publicam-se as primeiras coleções sistemáticas de relevância;
Desta vez, porém, as publicações não se limitam apenas às obras romanas: procura-se um conhecimento direto também da arte grega, da arte paleocristã, da etrusca etc. 
A R.I. e a Arquitetura
A R.I. e a Arquitetura
Por conseguinte, a Antiguidade Clássica, que até agora havia sido guardada como “uma idade do ouro, colocada idealmente nos confins do tempo”, começou a ser conhecida dentro de “uma estrutura temporal objetiva”. 
A R.I. e a Arquitetura
A conservação de objetos antigos, a partir de então, deixa inclusive de ser “um passatempo particular” e torna-se uma questão de interesse público: em 1732, inaugura-se em Roma o primeiro museu público de escultura antiga; em 1759, a casa de Sir H. Sloane em Londres é aberta ao público (com sua imensa coleção de arte), transformando-se no primeiro núcleo do British Museum etc.
A R.I. e a Arquitetura
Conforme vimos, as contribuições recolhidas na primeira metade do século XVIII foram “sistematizadas de forma racional” por Johann Joachim Winckelmann em obras fundamentais, tais como a “História da Arte na Antiguidade”;
Com base em suas teorias, ele propôs que as obras antigas fossem tomadas como “modelos precisos a serem imitados”, tornando-se assim o principal teórico do novo movimento: o neoclassicismo. 
As Experiências de Boullée e Ledoux
Relembrando: desde o século XVII, vários arquitetos franceses eram enviados à Académie de France, em Roma, com a função de estudar a arquitetura clássica;
Ao chegar em Roma, além do contato direto com os monumentos clássicos, estes arquitetos também entravam em contato com a incrível obra de Giovanni Battista Piranesi (1720-1778), um arquiteto veneziano que, apesar de ter construído muito pouco (e de modo decepcionante, segundo os historiadores), tornou-se mundialmente conhecido por suas gravuras “fantásticas”, quase todas procurando retratar a Antiguidade romana.
Via Appia - Piranesi
Roma - Piranesi
Ruínas de Roma - Piranesi
Ruínas de Roma - Piranesi
Ruínas de Roma - Piranesi
A Pirâmide de Cestius - Piranesi
A Pirâmide de Cestius (c.15 a.C.), em Roma (foto atual)
Piranesi (série das “Prisões”)
Piranesi (série das “Prisões”)
Dante Ferreti (filme “O Nome da Rosa”, de 1986)
As Experiências de Boullée e Ledoux
Do ponto de vista dos detalhes, até que as pranchas de Piranesi estão corretas; porém, na que se refere à escala e à composição, “são de uma grandeza visionária que (...) ultrapassa aquilo que era o orgulho de Roma, mesmo no auge do seu esplendor”;
Em suas gravuras, “todos os edifícios parecem obras de gigantes, e as figuras humanas aparecem aí diminutas” (N. Pevsner);
De fato, alguns viajantes, visitando Roma após terem visto as gravuras de Piranesi, declararam-se bastante decepcionados com as ruínas existentes... E os estudantes de arte então?
As Experiências de Boullée e Ledoux
Dentre os arquitetos a serem fortemente influenciados pelas obras de Piranesi, destaque para Étienne-Louis Boullée (1728-1799) e Claude-Nicolas Ledoux (1736-1806); 
Curiosamente, nem Boullée e nem Ledoux conheceram a Itália (ou seja, a assimilação de elementos clássicos ocorreu mesmo pelo estudo das publicações disponíveis).
O Coliseu (Piranesi)
As Experiências de Boullée e Ledoux
Étienne-Louis Boullée (1728-1799), assim como Piranesi, nunca chamou atenção por sua prática arquitetônica. Tornou-se famoso, porém, em função de um conjunto de grandes desenhos (realizados entre 1780 e 1790) para serem apresentados em conferências ou voltados apenas à publicação;
Estes desenhos, como veremos a seguir, apresentam as mesmas características “megalômanas” de Piranesi e, no caso de Boullée, uma falta total de preocupação com as “necessidades práticas” e limitações técnicas dos projetos.
As Experiências de Boullée e Ledoux
Ele defendia, na verdade, uma “arquitetura sentida e não racionalizada”, advogando a favor “do caráter, da grandeza e da magia”.
Casa da Ópera
As Experiências de
Boullée e Ledoux
Catedral em plano de cruz grega, com pórticos de 16 colunas gigantes compondo as 4 fachadas
Interior da Catedral de Boullée
As Experiências de Boullée e Ledoux
As Experiências de Boullée e Ledoux
Biblioteca Nacional com uma vasta sala de leitura, coberta com uma gigantesca abóbada de berço.
As Experiências de Boullée e Ledoux
Biblioteca Nacional (vista da abóbada de berço)
As Experiências de Boullée e Ledoux
Cemitério cuja entrada teria a forma de uma pirâmide baixa e de base ampla, flanqueada por dois obeliscos.
As Experiências de Boullée e Ledoux
Monumento fúnebre (Cenotáfio) de 75m de altura para um guerreiro
As Experiências de Boullée e Ledoux
Monumento a Isaac Newton, completamente esférico no interior e com um diâmetro de quase 300 metros 
As Experiências de Boullée e Ledoux
Monumento a Isaac Newton, corte e visão interna durante o dia
As Experiências de Boullée e Ledoux
Monumento a Isaac Newton, corte e visão interna durante a noite
As Experiências de Boullée e Ledoux
Monumento a Isaac Newton - maquete virtual em 3D
As Experiências de Boullée e Ledoux
Claude-Nicolas Ledoux (1736-1806), no entanto, do ponto de vista profissional, teve muito mais sucesso; 
Apesar de “excêntrico e irritadiço”, foi contratado para projetar várias residências, casas de campo e outros edifícios.
Casa de campo
As Experiências de Boullée e Ledoux
Das construções mais importantes de Ledoux, destacamos, em primeiro lugar, os postos de arrecadação de impostos (Barriére) de Paris, construídos entre 1784 e 1789;
Estes postos possuíam uma grande variedade de plantas e fachadas, sendo construídos “sempre num estilo vigoroso e maciço”, com colunas dóricas ou toscanas. (N. Pevsner)
Barriere de La Villete
As Experiências de Boullée e Ledoux
Conjunto de fachadas das Barrieres de Ledoux
Barriere des Bons Hommes 
Barriere de Chartres
As Experiências de Boullée e Ledoux
Em segundo lugar, merece destaque o Teatro de Besançon, construído entre 1778 e 1784.
As Experiências de Boullée e Ledoux
Interior do Teatro de Besançon, mostrando a colunata dórica em seu interior, erguida na parte superior do teatro semicircular
As Experiências de Boullée e Ledoux
Teatro de Besançon
(foto atual)
As Experiências de Boullée e Ledoux
Teatro de Besançon (foto atual))
As Experiências de Boullée e Ledoux
Porém, o trabalho “mais emocionante de Ledoux, mesmo em sua forma fragmentária” é a Salines des Chaux (Salinas Reais em Arcs-et-Senans, perto de Besançon), cuja maior parte foi construída entre 1775 e 1779.
Salines des Chaux
(planta baixa)
Salines des Chaux (vista aérea atual)
As Experiências de Boullée e Ledoux
As Experiências de Boullée e Ledoux
A entrada, por exemplo, possui um pórtico bem largo, com colunas toscanas; atrás dele, um nicho “gigantesco e rusticado como se fossem rochas brutas”.
As Experiências de Boullée e Ledoux
Nas paredes laterais do pórtico, urnas das quais “jorra” água esculpida em pedra: a perfeita harmonia entre o clássico e o romântico”, segundo Nikolaus Pevsner. 
Casa do diretor das Salinas de Chaux
As Experiências de Boullée e Ledoux
Casa do diretor das Salinas de Chaux (detalhe)
As Experiências de Boullée e Ledoux
Salines des Chaux: entrada do dormitório dos trabalhadores
As Experiências de Boullée e Ledoux
Salines des Chaux: cocheira
As Experiências de Boullée e Ledoux
Essas mesmas “qualidades”, porém, levaram Ledoux (semelhante a Boullée) a propor alguns projetos que “por bons motivos, nunca foram executados”;
Exemplo: eles quis dar à casa do inspetor do rio Loue um centro em forma cilíndrica através do qual o rio pudesse passar, formando quedas d’água.
Casa do inspetor do rio Loue
As Experiências de Boullée e Ledoux
Para os guardas do parque de Maupertius (Normandia), Ledoux propôs casas completamente esféricas.
Casa da guarda de Maupertius (Ledoux)
As Experiências de Boullée e Ledoux
Para Chaux, no entanto, Ledoux havia projetado, na verdade, uma cidade inteira (da qual as salinas fariam parte).
As Experiências de Boullée e Ledoux
Este projeto – que incluiu Ledoux entre os precursores do movimento denominado “utópico” - foi publicado junto com um texto “confuso” e com denominações bem esquisitas para alguns prédios (ex.: Palácio de Culto aos Valores Morais).
Cidade de Chaux : Casa da Educação
Oikema, ou “Casa do Prazer” em Chaux, onde os jovens do sexo masculino deveriam ter aulas práticas de sexo...
As Experiências de Boullée e Ledoux
As Experiências de Boullée e Ledoux
Assim, “a busca daquelas formas geométricas elementares, que o Rococó havia substituído em todos os lugares por curvas mais complexas e graciosas”, levou um grupo de arquitetos a praticarem uma “arquitetura pela arquitetura”, totalmente separada de qualquer preocupação com a utilidade;
Apesar das incongruências, os arquitetos Boullée e Ledoux “estavam certos quando afirmavam que em arquitetura não é possível um estilo saudável enquanto for uma simples imitação de um estilo passado”, uma prática que será adotado por muitos arquitetos do final do século XVIII e início do XIX.
As Experiências de Boullée e Ledoux
Outras “maravilhas” utópicas, do arquiteto francês Jean Jacques Lequeu (1757-1826)
http://longstreet.typepad.com/thesciencebookstore/2010/04/french-visionary-architecture-jeanjacque-lequeu-image-dump.html
As Experiências de Boullée e Ledoux
Jean-Jacques Lequeu: autoretrato
http://longstreet.typepad.com/thesciencebookstore/2010/04/french-visionary-architecture-jeanjacque-lequeu-image-dump.html
A Ciência das Construções
A ciência das construções, da maneira como a compreendemos hoje, nasceu no século XVII; 
Galileu, em 1638, discute os problemas de estabilidade; em 1676, Robert Hooke formula a célebre lei (que mede as deformações: ) que leva o seu nome etc.; 
Entre o final do século XVII e início do século XVIII, vários cientistas, entre os quais Leibniz, Mariotte e Bernoulli, estudam o problema da flexão.
Robert Hooke 
(1635-1703)
Em meados do século XVIII, o conceito de carga de segurança é estabelecido e inventam-se mecanismos capazes de medir a resistência dos materiais;
A Ciência das Construções
As regras da geometria descritiva são formuladas por Gaspard Monge (1746-1818) no final do século XVIII, dando “uma forma rigorosa aos vários sistemas de representação de um objeto tridimensional sobre as duas dimensões da folha de papel”.
Curiosidade: o sistema métrico decimal é introduzido pela Revolução Francesa, “em seu esforço de mudar as instituições da velha sociedade de acordo com modelos racionais”; (Pevsner)
O modelo em platina do metro é depositado no Museu de Artes e Ofícios de Paris em 22 de junho de 1799, e o novo sistema é tornado obrigatório na França a partir de 1801.
A Ciência das Construções
A Ciência das Construções
Medidas antigas no Brasil: palmos e braças
Os resultados de todos esses estudos são então coordenados e completados nas primeiras décadas do século XIX por Louis-Marie H. Navier (1785-1836), professor da École Polythecnique, (fundada em 1794, sob tutela do Ministério da Defesa) considerado “o fundador da moderna ciência das construções”.
A Ciência das Construções
A ciência das construções, portanto, “democratizou e popularizou o fato estático“ (P. L. Nervi), permitindo que muitos projetistas, de agora em diante, “enfrentassem de maneira correta, com fórmulas preexistentes, alguns temas antes reservados a uma minoria de pessoas excepcionalmente bem dotadas”;
Além disso, produziu uma clara separação entre a teoria e a prática, contribuindo para a mudança da cultura tradicional do período.
A Ciência das Construções
O Ensino
A França, que durante muito tempo esteve na vanguarda do progresso científico, serviu como modelo às outras nações quanto à organização do ensino; 
Em 1671, ainda no período do Ancien Regime, é fundada a Académie d’Architecture; 
Essa instituição gozava de grande prestígio
na Europa, e embora fosse “guardiã da tradição clássica francesa”, manteve-se, por algum tempo, aberta às novas experiências e ao progresso técnico, discutia as teorias racionalistas e participava “com vivacidade na vida cultural de seu tempo”. (L. Benevolo)
O Ensino
No entanto, as tarefas cada vez mais extensas e complexas assumidas pela administração do Estado francês resultam na necessidade de formar um pessoal técnico especializado;
As tradições humanistas da Académie “não se prestam à instrução de técnicos puros” e, assim, em 1747, funda-se a École des Ponts et Chaussées.
Hôtel Fleury, antiga sede da École des Ponts et Chaussées
O Ensino
Em 1748, institui-se a École royal du génie de Mézières, da qual saem os oficiais engenheiros (ligados ao Exército); 
O ensino, em ambos casos, fundamenta-se em rigorosas bases científicas.
O Ensino
A partir da criação dessas escolas, estabelece-se assim, pela primeira vez, o dualismo entre “engenheiros” e “arquitetos”;
Por um tempo, “o brilho da Academia ofusca as prosaicas escolas de pontes e estradas” e de engenharia civil de Méziéres, e os engenheiros parecem estar destinados a ocupar-se apenas com “temas secundários”. (Benevolo)
O Ensino
O progresso da ciência, contudo, vem ampliar as tarefas dos engenheiros e restringir as dos arquitetos;
Aos poucos, a Académie percebe que as discussões sobre o papel da razão e do “sentimento da arte” são os primeiros sinais de uma “reviravolta cultural e de organização” que se aproxima, e infelizmente fecha-se cada vez mais, numa “defesa intransigente da arte contra a ciência”. (L. Benevolo)
O Ensino
O advento da Revolução Francesa modifica mais uma vez a situação: a Academia de Arquitetura é simplesmente suprimida em 1793 (junto com as academias de pintura e escultura); 
Em 1795, porém, cria-se o Institut de France para substituir as antigas academias e a Escola de Arquitetura passa a fazer parte deste complexo. Ou seja, a Escola de
O Institut de France em 1838
Arquitetura deixa de existir como uma instituição independente na França!
O Ensino
O Institut de France (foto atual)
O Ensino
Por sinal, durante a extinção da Academia (1793-1795), o título de arquiteto perderia todo o valor de diferenciação: tanto assim que, com o pagamento de uma taxa, qualquer um poderia ser chamado de arquiteto, independentemente dos estudos feitos;
Essas medidas obviamente enfraqueciam ainda mais o prestígio (em declínio) dos arquitetos...
O Ensino
Entre 1794 e 1795, reunindo todos os ensinamentos especializados em uma única organização, é instituída a École Polytechnique, que absorve boa parte do pessoal da escola de Mézières; 
A escola acolhe um número limitado de jovens, selecionados em exames rigorosos e após haver-se assegurado do seu “apego aos princípios republicanos”. 
O Ensino
Os alunos da École Polytechnique estudam juntos por dois anos e depois passam para uma das “escolas de aplicação”: a École des Ponts et Chaussées, de Paris, a École d’Application d’Artillerie et de Génie Militaire de Metz, a École de Mines de Paris, ou a École du Génie Maritime de Brest.
O Ensino
A enorme influência da École Polytechnique nas três primeiras décadas do século XIX pode ser atribuída ao fato dela ter aceito, conscientemente, um grande desafio: “pela primeira vez, foi feita a tentativa de estabelecer uma articulação entre ciência e vida, de trazer para a indústria as aplicações práticas das descobertas nas ciências físicas e matemáticas”;
Ou seja, “a ciência devia descer do seu pedestal e ajudar a criar um mundo novo”. (S. Giedion)
O Ensino
O fato é que deste momento em diante, o engenheiro passou cada vez mais a invadir o campo de ação do arquiteto: “de modo inconsciente, durante o século XIX, o construtor havia desempenhado papel de guia para o arquiteto” (Giedion); 
“O construtor rompeu o formalismo artificial (...) do arquiteto, bateu bruscamente à porta de sua torre de marfim. E esta continua sendo uma das principais funções da técnica construtiva: fornecer à arquitetura estímulo e incentivo para novos avanços”. (S. Giedion)
O Ensino
O exemplo francês é seguido por outros Estados do continente europeu: em 1806, uma escola técnica superior é criada em Praga; em 1815, uma em Viena; em 1825, outra em Karlsruhe (Alemanha);
Além disso, a ordem dos estudos – tanto nessas escolas, como nas que virão depois – também segue o modelo de Paris.
Escola Politécnica de Praga
O Ensino
O caso da Inglaterra, porém, é uma exceção, pois o ensino técnico só vai ser realmente organizado (em moldes semelhantes ao francês) no final do século XIX;
Por um longo tempo, o ensino formal da engenharia estava ligado (e limitado) à carreira militar;
Fora isso, os “protagonistas ingleses da Revolução Industrial” são, invariavelmente, autodidatas ou então conseguem alguma formação em escolas particulares que chegam a ser criadas no período.
O Ensino
A Institution of Civil Engineers, fundada em 1818 com o objetivo de promover os estudos e pesquisas na área de engenharia na Inglaterra, por exemplo, contava com apenas três diretores graduados (de um total de dez).
Sede do Institution of Civil Engineering em Londres (a partir de 1839)
O Ensino
Por essa razão, e também pelo “caráter menos rígido” da sociedade inglesa, o contraste entre engenheiros e arquitetos nunca foi tão forte quanto o que existia no resto da Europa;
Assim sendo, os arquitetos ingleses estão menos preocupados com suas “prerrogativas culturais”, de forma que arquitetos e engenheiros frequentemente passam de um tipo de projeto a outro sem maiores conflitos.
Royal Academy of Arts (Londres, 1768)
O Ensino
Todavia, mesmo na Inglaterra, o progresso técnico acaba por restringir as atribuições tradicionais dos arquitetos e faz com que uma parte cada vez maior de suas tarefas profissionais fosse absorvida por técnicos especializados.
Referências:
BENEVOLO, Leonardo. Historia da arquitetura moderna. São Paulo: Perspectiva, 1994.
DEANE, Phyllis. A Revolução Industrial. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975.
GIEDION, Siegfried. Espaço, tempo e arquitetura: o desenvolvimento de uma nova tradição. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
PEVSNER, Nikolaus. Panorama da Arquitetura Ocidental. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

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