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1 TERCEIRO SETOR Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo Rafael Carvalho Rezende Oliveira Dizer o Direito I. A reforma administrativa e o terceiro setor; II. Características; III. Aspectos relevantes e controvertidos do Terceiro Setor; III. As entidades do terceiro setor: 1. Organizações Sociais (OS) 2. Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) 3. Serviços sociais autônomos (sistema S) 4. Fundações de apoio IV. Breves comentários à lei 13.019/2014. 2 I. A REFORMA ADMINISTRATIVA E O TERCEIRO SETOR A expressão “Terceiro Setor” refere-se às entidades da sociedade civil sem fins lucrativos, que desempenham atividades de interesse social mediante vínculo formal de parceria com o Estado. O Terceiro Setor está localizado entre o Estado (primeiro setor) e o mercado (segundo setor), englobando as entidades “públicas não estatais”. As polêmicas em relação ao regime jurídico do Terceiro Setor são justificadas pelo caráter híbrido das respectivas entidades que são “públicas”, por executarem atividades sociais e receberem benefícios públicos, mas “não estatais”, pois não integram formalmente a Administração Pública. O terceiro setor cresceu, no Brasil, principalmente, no Governo de Fernando Henrique Cardozo, quando foi realizada a reforma administrativa (a EC 19 foi um importante expoente dessa reforma), no contexto do neoliberalismo. O objetivo era implantar um modelo de administração pública gerencial, fundado no princípio da eficiência, a fim de substituir o padrão tradicional de administração pública burocrática, cuja ênfase maior recai sobre o princípio da legalidade. Segundo se afirmava, haveria uma “crise do Estado”, traduzida na sua incapacidade financeira para realizar os investimentos necessários ao desenvolvimento do país e, simultaneamente, desempenhar todas as atribuições que lhe foram impostas pela Constituição Federal de 1988. Por essa razão, seria necessário que o Estado se concentrasse nas atividades exclusivas, deixando as demais, em princípio ao setor privado. A retirada do Estado do papel de agente econômico e da prestação direta de serviços públicos levou à necessidade de alargamento da sua função regulatória. Assim, foram criadas agências reguladoras sob a forma de autarquias em regime especial. O desiderato de ampliar a atuação do terceiro setor, por sua vez, levou à criação de qualificações especiais atribuídas a pessoas jurídicas 3 privadas, a exemplo da qualificação como organização social e como organização da sociedade civil de interesse público. O que é publicização dos serviços públicos não exclusivos? A Publicização é o movimento em direção ao setor público não estatal, no sentido de o responsabilizar pela execução de serviços que não envolvem o exercício do poder de Estado, mas devem ser subsidiados pelo Estado. As instituições não estatais ganham proeminência tanto na formulação quanto na implementação das políticas públicas, uma vez que o próprio Estado, por meio da publicização, incentiva a participação de tais instituições, principalmente na gestão das políticas públicas. II. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS: Eis as características comuns das entidades do Terceiro Setor: a) são criadas pela iniciativa privada; b) não possuem finalidade lucrativa; c) não integram a Administração Pública Indireta; d) prestam atividades privadas de relevância social; e) possuem vínculo legal ou negocial com o Estado; f) recebem benefícios públicos III. ASPECTOS RELEVANTES E CONTROVERTIDOS: a. Foro processual competente para as causas envolvendo o 3º setor: O foro competente para processar a julgar as causas que envolvem as entidades do Terceiro Setor, inclusive aquelas que formalizam parcerias com a União, é da Justiça estadual. Em relação aos Serviços Sociais Autônomos, que recebem recursos federais (contribuições sociais), a 4 questão foi consolidada pela Súmula 516 do STF: “O Serviço Social da Indústria (SESI) está sujeito à jurisdição da Justiça Estadual. b. Controle: São fiscalizadas pelo tribunal de contas respectivo, desde que utilize valores públicos, na forma do art. 70, parágrafo único da CF/88. c. Regime de pessoal: O regime de pessoal é o celetista, uma vez que são entidades de direito privado. Obs. 1: Segundo firmou o STF, as organizações sociais não se submetem à regra do concurso público, entretanto, a seleção de pessoal deve ser conduzida de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF, e nos termos do regulamento próprio a ser editado por cada entidade (ADI 1923). Obs. 2: inaplicável, ainda, o teto remuneratório indicado pelo art. 37, XI da CF/88. Deve-se, todavia, observar o princípio da moralidade administrativa, evitando salários excessivamente vultosos. d. Patrimônio: Por serem entidades privadas, seus bens são considerados também privados. Todavia, caso estejam destinados à prestação de serviços públicos, esses bens passam a sofrer influência do regime público, tornando-se impenhoráveis, por exemplo. e. Exigência de licitação: As entidades do terceiro setor não se submetem necessariamente à 8666, mas deve haver regramento próprio para suas contratações, o qual deve observar os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, economicidade e eficiência. Da mesma forma, não se exige licitação formal para a qualificação de uma entidade como OS ou OSCIP; nada obstante, deve ser adotado um procedimento imparcial e isonômico, em atenção aos princípios constitucionais da administração pública. 5 f. Responsabilidade Civil (por Rafael Oliveira): Há controvérsia doutrinária sobre a natureza (objetiva ou subjetiva) da responsabilidade civil das entidades integrantes do Terceiro Setor. 1.o entendimento: responsabilidade objetiva, na forma do art. 37, § 6.o, da CRFB, uma vez que as entidades possuem vínculos jurídicos com o Poder Público com o intuito de substituí-los na execução de atividades sociais que podem ser qualificadas como serviços públicos. Seriam equiparadas a delegatárias, portanto. Nesse sentido: Cristiana Fortini. 2.o entendimento: responsabilidade objetiva dos Serviços Sociais Autônomos, na medida em que o vínculo formal entre o Estado e a entidade se dá mediante lei autorizativa, além de as atividades prestadas serem eminentemente sociais, qualificando-se como serviço público. Por outro lado, a OS e a OSCIP respondem de forma subjetiva, pois exercem “parceria desinteressada”. Nesse sentido: José dos Santos Carvalho Filho. 3.o entendimento: responsabilidade subjetiva em razão da inexistência de serviço público, sendo inaplicável o art. 37, § 6.o, da CRFB. Nesse sentido: Marcos Juruena Villela Souto. Entendemos que a responsabilidade das entidades do Terceiro Setor é subjetiva. As atividades prestadas por tais entidades são privadas e de relevância social, prestadas em nome próprio, independentemente de delegação do Poder Público, razão pela qual não podem ser qualificadas como serviços públicos para fins de aplicação do art. 37, § 6.o, da CRFB. Os vínculos jurídicos formalizados com entidades do Terceiro Setor não têm por objetivo a delegação de serviços, mas o fomento público por meio de parcerias com determinadas pessoas privadas para a consecução de finalidades sociais. A responsabilidade dessas pessoas deve ser analisada à luz da legislação civil e, portanto, 6 considerada,em regra, de índole subjetiva, admitindo-se a responsabilidade objetiva nos casos expressamente previstos em lei ou quando a atividade, por sua própria natureza, implicar risco para as pessoas (art. 927, parágrafo único, do CC). Há responsabilidade subsidiária do Poder Público pelos danos causados por entidades do Terceiro Setor, no desempenho das atividades que são objeto da parceria. É oportuno ressaltar que o simples não cumprimento das metas fixadas no contrato de gestão ou no termo de parceria não acarreta, em princípio, a responsabilidade do Estado. Este tem o dever de fiscalizar o cumprimento das metas, mas a responsabilidade pela sua implementação é da entidade privada, parceira que, descumprindo com o avençado, será desqualificada e responsabilizada pelos danos causados, conforme já decidiu o STJ. IV. ESPÉCIES: 1. Organizações Sociais (lei 9.637) – com base no dizer o direito Conceito: são pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, prestadoras de atividades de interesse público e que, por terem preenchido determinados requisitos previstos na Lei 9.637/98, recebem a qualificação (título, selo) de “organização social”. A pessoa jurídica, depois de obter esse título de “organização social”, poderá celebrar com o Poder Público um instrumento chamado de “contrato de gestão” por meio do qual receberá incentivos públicos para continuar realizando suas atividades. 7 Art. 1o da lei 9.637: O Poder Executivo poderá qualificar como organizações sociais pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades sejam dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde, atendidos aos requisitos previstos nesta Lei. ATENÇÃO: As organizações sociais foram idealizadas para absorver atividades não exclusivas de Estado realizadas por entidades estatais, que, então, seriam extintas. Mais claramente, a ideia era substituir entidades administrativas pelas organizações sociais, que são pessoas privadas, não integrantes da administração pública, portanto, sujeitas a menor rigidez na gestão de seus recursos e pessoal. O artigo 20 da lei 9.637 deixa essa conclusão explícita. Isso é importante de se ter em mente, pois muitas das características das OS decorrem da sua finalidade de substituir o Estado nas mencionadas atividades não exclusivas, diferentemente do que ocorre nas OSCIP, que não possuem esse mesmo desiderato. Quem concede a qualificação de OS? O Ministro do Planejamento em conjunto com o Ministro da área na qual atua a pessoa jurídica que pretende a qualificação de OS. Ex: se essa pessoa jurídica desempenha funções na área de educação, quem concederá será o Ministro da Educação em conjunto com o Ministro do Planejamento. Trata-se de ato vinculado ou discricionário? Ato discricionário, sujeito aos critérios de oportunidade e conveniência. 8 Quais são os requisitos necessários para a pessoa jurídica ser qualificada como os? Tais requisitos estão elencados no art. 2º da Lei n. 9.637/98. Em quais áreas atua a OS? Para que a pessoa jurídica seja qualificada como OS ela precisa desempenhar atividades em uma das seguintes áreas: ensino, pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico, meio ambiente, cultura e saúde. Segundo a doutrina majoritária, esse rol é taxativo, de forma que se a pessoa jurídica trabalhar apenas com assistência social, por exemplo, não atenderá os requisitos para ser qualificada como uma OS. Em provas de concurso, você poderá encontrar a afirmação de que as organizações sociais são pessoas jurídicas de direito privado que prestam serviços públicos não exclusivos de Estado, ou seja, serviços que são desempenhados pelo Estado, mas que podem também ser exercidos por particulares. O que é o contrato de gestão? Contrato de gestão é o instrumento firmado entre o Poder Público e a entidade qualificada como organização social, com o objetivo de que, a partir daí, seja formada uma parceria entre eles para fomento e execução das atividades que uma OS faz (ensino, pesquisa científica etc.). No contrato de gestão serão listadas as atribuições, responsabilidades e obrigações do Poder Público e da organização social. ATENÇÃO: Existem duas modalidades de contrato de gestão que não podem ser confundidas. Além da hipótese acima explicitada, existe o contrato de gestão traçado no art. 37, §8º da CF. Este é um ajuste firmado entre a administração direta e entidades da administração indireta ou entre órgãos da própria administração direta, em decorrência do qual esses órgãos ou entidades assumem 9 o compromisso de cumprir determinadas metas e, em contrapartida, ganham maior liberdade em sua atuação administrativa, passando a sujeitar-se basicamente ao controle relativo ao atingimento dos resultado pactuados. As organizações sociais que celebrarem contrato de gestão com o Poder Público podem ser consideradas delegatárias de serviços públicos? NÃO. As organizações sociais exercem em nome próprio serviços públicos, mas não são consideradas delegatárias considerando que não recebem uma concessão ou permissão de serviço do Poder Público. Os setores de saúde, educação, cultura, desporto e lazer, ciência e tecnologia e meio ambiente são classificados como serviços públicos sociais. Segundo a CF/88, tais serviços devem ser desempenhados não apenas pelo Estado como também pela sociedade (são “deveres do Estado Contrato de gestão da OS Contrato de gestão do art. 37, §8º da CF Firmado entre a Administração Direta e as organizações sociais Firmado entre a Administração Direta e entidades da Administração Indireta ou órgãos da própria Administração Direta Causa: fomento das entidades Causa: ineficiência da entidade ou do órgão Consequências: redução da autonomia, com a entrega à organização social de bens, pessoal e recursos públicos, passando a controlar a consecução das metas acordadas no contrato de gestão Consequência: ampliação da autonomia, passando a sujeitar-se basicamente ao controle finalístico 10 e da Sociedade”). Assim, é permitida a atuação, por direito próprio, dos particulares, sem que para tanto seja necessária a delegação pelo Poder Público. Não se aplica, portanto, o art. 175, “caput”, da CF/88 às atividades desenvolvidas pelas organizações sociais. Quais são os incentivos que uma OS recebe do Poder Público? As organizações sociais poderão receber os seguintes incentivos para cumprir o contrato de gestão: a) Recursos orçamentários: podem receber “dinheiro público”; b) Cessão de bens públicos, mediante permissão de uso, dispensada licitação: podem receber, sem licitação, bens públicos para serem usados em suas atividades; c) Cessão especial de servidor, com ônus para o órgão de origem do servidor cedido: servidores públicos podem ser colocados à disposição das organizações sociais para lá trabalharem, continuando recebendo sua remuneração dos cofres públicos; d) Contratadas sem licitação: as organizações sociais podem ser contratadas, com dispensa de licitação, para prestarem serviço a órgãos e entidades da Administração Pública, recebendo por isso (art. 24, XXIV, da Lei n. 8.666/93). ADI 1923/DF: O Plenário do STF, por maioria, acolheu, em parte, pedido formulado na ADI para conferir interpretação conforme a Constituição e deixar explícitas as seguintes conclusões: a) o procedimento de qualificação das organizações sociaisdeve ser conduzido de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF, e de acordo com parâmetros fixados em abstrato segundo o disposto no art. 20 da Lei 9.637/98; b) a celebração do contrato de gestão deve ser conduzida de forma pública, objetiva e impessoal, 11 com observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF; c) as hipóteses de dispensa de licitação para contratações (Lei 8.666/1993, art. 24, XXIV) e outorga de permissão de uso de bem público (Lei 9.637/1998, art. 12, § 3º) são válidas, mas devem ser conduzidas de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF; d) a seleção de pessoal pelas organizações sociais deve ser conduzida de forma pública, objetiva e impessoal, com observância dos princípios do “caput” do art. 37 da CF, e nos termos do regulamento próprio a ser editado por cada entidade; e e) qualquer interpretação que restrinja o controle, pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Contas da União, da aplicação de verbas públicas deve ser afastada. Observação importante. Função regulatória da licitação: segundo essa teoria, a licitação pode ser utilizada como instrumento de regulação de mercado, de modo a torná-lo mais livre e competitivo, além de ser possível concebê-la como mecanismo de indução de determinadas práticas (de mercado) que produzam resultados sociais benéficos, imediatos ou futuros, à sociedade. A possibilidade de contratação direta, sem licitação, de organizações sociais ou OSCIPs (Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público) é um exemplo dessa função regulatória da licitação já que, como essa prática, o Estado induz que essas entidades sejam criadas pelos particulares. 12 2. Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP (lei. 9.790) Conceito: Organizações da sociedade civil de interesse público são, assim como as organizações sociais, uma qualificação específica a ser concedida a entidades privadas, sem fins lucrativos, que pretendam atuar em parceria com o poder público, dele recebendo fomento. Art. 1o Podem qualificar-se como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público as pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos que tenham sido constituídas e se encontrem em funcionamento regular há, no mínimo, 3 (três) anos, desde que os respectivos objetivos sociais e normas estatutárias atendam aos requisitos instituídos por esta Lei. (texto legal recentemente alterado) As OSCIP não foram idealizadas para substituir a administração pública. Essa substituição foi planejada apenas para as organizações sociais. Disso decorre uma limitação em relação aos benefícios que essas entidades podem receber do Estado. Quem concede a qualificação de OSCIP? Cabe ao Ministério da Justiça a referida qualificação. A qualificação é ato vinculado ou discricionário? Diferentemente do que ocorre na OS, na OSCIP trata-se de ato vinculado. É dizer, uma vez verificado o atendimento de todos os requisitos previstos na lei, torna-se obrigatória a qualificação como OSCIP. Como se dá a formalização da parceria entre a OSCIP e o Estado? O vínculo jurídico entre o poder público e a OSCIP se dá mediante termo de parceria. Não há a possibilidade de uma OSCIP receber fomento do 13 Estado sem a celebração desse instrumento. É, ainda, possível a vigência simultânea de dois ou mais termos de parceria, desde que haja capacidade operacional da entidade para o cumprimento dos seus objetos. A escolha da OSCIP para a celebração desse instrumento deve ser feita por meio de concurso de projetos, ao qual deve se dar ampla publicidade. Quem pode ser qualificada como OSCIP? A lei 9.790 traz uma relação de entidades que não podem obter a referida qualificação, assim como uma série de requisitos a serem observados, principalmente nos artigos 2º e 3º. É interessante que o aluno leia os dispositivos, mas não é necessário ter conhecimento detalhado desses comandos. Quais os incentivos que uma OSCIP recebe do Poder Público? a. Repasse de recursos orçamentários b. Permissão de uso de bens públicos c. Dispensa de Licitação esta última hipótese NÃO está prevista na lei. Para a doutrina majoritária, trata-se de uma interpretação analógica realizada pela doutrina majoritária As OSCIP NÃO fazem jus a cessão de servidores! (pois não foram criadas para substituir o Poder Público). 14 OS (lei 9.637) OSCIP (lei 9.790) Idealizadas para substituir órgãos e entidades da administração pública Não foram idealizadas para substituir órgãos ou entidades da administração Formaliza parceria com o poder público mediante contrato de gestão Formaliza parceria com o poder público mediante termo de parceria Qualificação é ato discricionário Qualificação é ato vinculado Qualificação depende de ato do Ministro da área na qual atua a pessoa jurídica que pretende a qualificação Qualificação é concedida pelo Ministério da Justiça A lei exige que a OS possua conselho de administração do qual participem representantes do poder público. Não se exige conselho fiscal A lei exige que a OSCIP tenha conselho fiscal; não exige conselho de administração. Não há a exigência de representantes do poder público Uma entidade não pode ser qualificada concomitantemente como OS e OSCIP Uma entidade não pode ser qualificada concomitantemente como OS e OSCIP Há hipótese expressa de licitação dispensável para contratar com a OS Não há previsão expressa. Entretanto a doutrina majoritária entende ser possível aplicação analógica do art. 24, XXIV da lei 8.666 às OSCIP. Isso ocorre porque tal qualificação não existia ainda quando da edição do mencionado dispositivo. Fomento: repasse de recursos orçamentários, permissão de uso de bens públicos e cessão especial de servidor sem custo para a entidade Fomento: repasse de recursos orçamentários e permissão de uso de bens públicos 15 3. Serviços sociais autônomos Os Serviços Sociais Autônomos são criados, após autorização legal, para exercerem atividade de amparo a determinadas categorias profissionais, recebendo contribuições sociais, cobradas compulsoriamente da iniciativa privada, na forma do art. 240 da CRFB. Ex.: Serviço Social da Indústria (SESI), Serviço Social do Comercio (SESC), Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC). Principais aspectos: a) Criação prevista em lei b) Têm por objeto uma atividade social, não lucrativa, beneficiando certo grupo social ou profissional c) São mantidos por recursos oriundos de contribuições sociais de natureza tributária, bem como mediante dotações orçamentárias do Poder Público d) Seus empregados estão sujeitos à legislação trabalhista e) Pelo fato de administrarem recursos públicos, estão sujeitos a certas normas de direito público, especialmente normas de controle, como a obrigatoriedade de prestação de contas ao Tribunal de Contas, o enquadramento de seus empregados como funcionários públicos para fins penais e a sujeição à lei de improbidade f) Não se submetem à lei de licitações (lei 8.666), mas não são absolutamente livres para contratar, devendo elaborar e publicar regulamentos próprios, definindo critérios isonômicos, impessoais e eficientes. 16 IMPORTANTE: As entidades do sistema S gozam de imunidade tributária?SIM, porque promovem cursos para a inserção de profissionais no mercado de trabalho, sendo consideradas instituições de educação e assistência social. Se o SENAC adquire um terreno para a construção de sua sede, já havendo inclusive um projeto nesse sentido, deverá incidir a imunidade nesse caso considerando que o imóvel será destinado às suas finalidades essenciais. (Informativo 720 do STF). 4. Entidades de apoio São pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, instituídas por servidores, sob forma de fundação, associação ou cooperativa, para a prestação, em caráter privado, de serviços sociais não exclusivos do Estado, mantendo vínculo jurídico com entidades da administração direta ou indireta, em regra por convênio. No âmbito federal, a Lei 8.958/1994 estabelece normas sobre as relações entre as instituições federais de ensino superior e de pesquisa científica e tecnológica e as fundações de apoio. Os demais Entes federados possuem autonomia para promulgarem as suas respectivas legislações. V. BREVES COMENTÁRIOS À LEI 13.019/2014: A lei 13.019/2014 tem por objetivo regular, em âmbito nacional, o regime jurídico das parcerias voluntárias, envolvendo ou não transferências de recursos financeiros, firmadas entre a Administração Pública e as organizações da sociedade civil sem fins lucrativos (OSC). Trata-se de uma lei nova, com inúmeras alterações ainda mais recentes e com muitos termos técnicos de difícil entendimento. Busca-se, no presente tópico, não comentar integralmente a lei, mas apenas fazer 17 breves apontamentos a respeito desse diploma legal, auxiliando o aluno no estudo da matéria. A seguir os pontos que se entende serem mais relevantes a respeito da lei. a) Aplicabilidade: parcerias entre a Administração Direta e Indireta (exceto estatais econômicas) e organizações da sociedade civil (entidades privadas sem fins lucrativos); b) Inaplicabilidade (art. 3º): as exigências da lei não se aplicam: Transferências de recursos integralmente oriundos de fonte externa de financiamento que forem homologadas pelo Legislativo. A lei não se aplica quando conflitar com tratado internacional Transferências voluntárias regidas por lei específica, naquilo que conflitar Contrato de gestão celebrado com organizações sociais c) Chamamento público (arts. 23 a 32 da Lei): procedimento que tem por objetivo selecionar organização da sociedade civil para firmar parceria por meio de termo de colaboração ou de fomento, com a observância dos princípios da isonomia, da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo, dentre outros. Algumas peculiaridades do chamamento público: 1) A organização interessada deve possuir, pelo menos, três anos de existência; 2) Julgamento antecede a fase da habilitação; 3) Critério de julgamento deve levar em consideração o grau de adequação da proposta aos objetivos específicos objeto da parceria e o valor de referência constante do chamamento público etc.; d) Parcerias diretas: casos de dispensa (art. 30) e inexigibilidade (art. 31) de chamamento público; 18 e) Instrumentos jurídicos de parceria: Termo de colaboração (art. 16 da Lei): instrumento de parceria proposto pela Administração; Termo de fomento: instrumento de parceria proposto pelas organizações da sociedade civil (art. 17 da Lei). Questão PFN/2015: O instrumento adotado pela administração pública em caso de transferências voluntárias de recursos para consecução de planos de trabalho propostos pela administração pública, em regime de mútua cooperação com organizações da sociedade civil, selecionadas por meio de chamamento público, é denominado: a) termo de fomento. b) contrato de gestão. c) concessão patrocinada. d) convênio administrativo. e) termo de colaboração. DICA: Termo de colaboraÇÃO proposto pela AdministraÇÃO Termo de fomento proposto pela OSC É uma diferenciação simples, mas que pode custar uma questão! f) Parcerias “ficha limpa”: O art. 39 da Lei 13.019/2014 veda a celebração de parcerias nos seguintes casos: Entidade omissa no dever de prestar contas de parceria anteriormente celebrada; Que tenha como dirigente agente político de Poder ou do Ministério Público, dirigente de órgão ou entidade da administração pública ou familiar, até o segundo grau; Que tenha tido as contas rejeitadas pela administração pública nos últimos cinco anos; 19 Punida com suspensão de participação em licitação e impedimento de contratar com a administração, bem como declaração de inidoneidade; Que tenha contas de parceria julgadas irregulares ou rejeitadas por Tribunal ou Conselho de Contas de qualquer esfera da Federação, em decisão irrecorrível, nos últimos oito anos etc. Em qualquer caso, independentemente dos prazos fixados, os impedimentos permanecem até o momento em que houver o ressarcimento do dano ao erário (art. 39, § 2.º, da Lei); g) Contratações realizadas pelas organizações da sociedade civil: as contratações de bens e serviços realizadas pelas entidades da sociedade, com recursos públicos, devem observar procedimento que atenda aos princípios da Administração Pública. O “regulamento de compras e contratações” deve ser elaborado pela entidade privada e aprovado pela Administração Pública (art. 34, VIII c/c art. 43 da Lei) h) Pessoal contratado pela entidade parceira: a seleção da equipe de trabalho deve ser precedida de processo seletivo, com regras transparentes, impessoais e objetivas para seleção dos empregados, e deve promover a divulgação das remunerações da equipe de trabalho (art. 47, §§ 3.º e 4.º, da Lei). A remuneração da equipe de trabalho com recursos da parceria não gera vínculo trabalhista com a Administração e o eventual inadimplemento dos encargos trabalhistas não acarreta a responsabilidade do Poder Público por seu pagamento (art. 46, §§ 1.º e 2.º, da Lei); i) Atuação em rede das entidades privadas: admite-se a atuação em rede para a execução de iniciativas agregadoras de pequenos projetos, por duas ou mais organizações da sociedade civil, mantida a integral responsabilidade da organização celebrante do termo de fomento ou de colaboração, desde que haja autorização no edital e cumprimento dos requisitos elencados no art. 25, caput e parágrafo único, da Lei); 20 j) Prestação de contas: a Lei contém normas detalhadas sobre a prestação de contas por parte da entidade privada (arts. 63 a 72 da Lei). k) Responsabilidade: a organização da sociedade civil possui responsabilidade exclusiva pelos encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e comerciais relativos ao funcionamento da instituição e ao adimplemento do termo de colaboração ou de fomento, inexistindo responsabilidade solidária ou subsidiária da Administração na hipótese de inadimplemento (arts. 42, XIX e XX; 44, § 2.º; 46, § 2.º; e 47, § 7.º, da Lei). l) Sanções O descumprimento do instrumento de parceria e da legislação em vigor acarreta, após prévia defesa, as seguintes sanções administrativas: a) advertência; b) suspensão temporária; c) declaração de inidoneidade. Ao contrário do art. 87 da Lei 8.666/1993, a Lei 13.019/2014 não prevê a multa no rol de sanções. Da mesma forma, a nova legislação não menciona o ressarcimento integral do dano. Contudo, apesar da omissão legislativa, deve ser reconhecida a prerrogativa da Administração em buscar o ressarcimento integral do dano, aqualquer tempo, para recompor o erário, sendo certo que o ressarcimento não possui caráter de sanção
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