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Mário Bittencourt - 2015 1 Características Térmicas da Soldagem Docente: Mário Bittencourt Sumário 1. Introdução 2. Regiões da Junta Soldada 3. Características Térmicas da Soldagem 4. Repartição Térmica 5. Ciclos Térmicos 6. Fatores que Afetam as Características Térmicas da Soldagem 7. Transformações Metalúrgicas 8. Bibliografia Mário Bittencourt - 2015 2 Os metais sólidos apresentam estruturas cristalinas nas quais os átomos de cada cristal estão arranjados de maneira organizada e periódica. 1. Introdução Este arranjo ordenado dos átomos é o responsável pela maioria das propriedades dos metais. 1. Introdução Mário Bittencourt - 2015 3 1) Introdução Durante a operação de soldagem introduz-se calor no material a ser soldado. Isto faz com que ocorram mudanças da estrutura dos materiais. O conhecimento da metalurgia possibilita a compreensão de certos fenômenos que ocorrem com os materiais durante a soldagem. 1) Introdução No contexto da soldagem a metalurgia possui grande importância pois correlaciona as propriedades mecânicas com a estrutura dos materiais. Através da metalurgia pode-se explicar o aparecimento de certos defeitos inerentes a soldagem bem como apresentar soluções para os problemas. Mário Bittencourt - 2015 4 A Metalurgia da Soldagem consiste em estudar o efeito da operação de soldagem sobre a estrutura e propriedades dos materiais para: 1) Introdução - obter informações que auxiliem no desenvolvimento de novos materiais (menos sensíveis à soldagem) - determinar os parâmetros de soldagem de maior influência nas alterações da estrutura e propriedades do material - desenvolver operações complementares para minimizar ou reverter a degradação de propriedades Os átomos de muito metais trocam sua estrutura cristalográfica a certas temperaturas. Por exemplo, a estrutura cristalina do Fe puro é CCC até 910ºC, quando transforma-se em CFC até 1390ºC, e novamente é CCC até 1534ºC, quando funde-se. Esta alteração na estrutura cristalina é a transformação de fase no estado sólido, também denominada transformação alotrópica. 1) Introdução Mário Bittencourt - 2015 5 LINHA SÓLIDUS LINHA LIQUIDUS REAÇÃO EUTETÓIDE E2 LEDEBURITA A1 γγγγ αααα Fe3C REAÇÃO EUTÉTICA γγγγ Fe3C αααα CFC CCC LEDEBURITAγγγγ αααα Fe3C γγγγ Fe3C αααα CFC CCC Mário Bittencourt - 2015 6 E2 LEDEBURITA A1 γγγγ αααα Fe3C γγγγ Fe3C αααα CFC CCC • As células unitárias dos metais do sistema cristalino CFC possuem maior número de planos de maior densidade atômica que os metais CCC. • Pelo fato das deformações plásticas se darem preferencialmente nos planos de maior densidade atômica, os metais do sistema cristalino CFC possuem maior tenacidade que os metais do sistema CCC. Os fatores que afetam a temperatura na qual ocorrem tais transformações são: composição química, taxa de resfriamento e a presença de tensões. Tais eventos de transformação de fase são geralmente representados pelos diagramas de fase, sendo que estes só descrevem o comportamento das ligas em condições de equilíbrio, ou seja para aquecimentos e resfriamentos bem lentos. 1) Introdução Mário Bittencourt - 2015 7 Os diagramas de fase, embora de grande utilidade, não fornecem informações acerca das transformações em condições diferentes de equilíbrio, ou seja, em condições de resfriamento rápido foi necessário desenvolver as curvas de resfriamento continuo. Deve-se observar que para cada aço existem curvas de resfriamento continuo diferentes. 1) Introdução X, Y, Z – Curvas de Velocidade de Resfriamento Curva de Resfriamento Contínuo Mário Bittencourt - 2015 8 Certos fatores influem na posição das curvas de resfriamento continuo: a) teor de C e de elementos de liga: quanto maior o teor destes elementos, mais para a direita ficará deslocada a curva; b) tamanho de grão e homegeneização da austenita: quanto maior o tamanho de grão da austenita e quanto mais homogêneo for o grão, mais deslocada para a direita ficará a curva; 1) Introdução 2) Regiões da Junta Soldada Uma junta de topo, soldada por um processo de fusão, pode ser subdividida em quatro regiões distintas, como pode ser visto na macrografia da junta abaixo. METAL DE BASE ZONA FUNDIDA ZTA ZONA DE LIGAÇÃO Mário Bittencourt - 2015 9 Zona Fundida (Z.F.) É a região que foi aquecida às mais altas temperaturas de soldagem. Nesta região ocorre fusão apenas do metal de base, se a soldagem for autógena ou, do metal de adição e parte do metal de base, se a soldagem for feita com adição de consumível. Pode ser constituída de um só cordão ou de vários cordões de solda (soldagem multipasse). 2) Regiões da Junta Soldada ZONA FUNDIDA 2) Regiões da Junta Soldada Mário Bittencourt - 2015 10 Zona de Ligação (Z.L.) É a região localizada entre o metal de base que não sofreu fusão e a zona fundida. ZONA DE LIGAÇÃO 2) Regiões da Junta Soldada Zona Termicamente Afetada (Z.T.A.) É a região do metal de base que não fundiu mas cujas propriedades e microestrutura foram afetadas pelas altas temperaturas impostas pelo ciclo térmico de soldagem. ZTA 2) Regiões da Junta Soldada Mário Bittencourt - 2015 11 Metal de Base (M.B.) Região que não sofreu alterações microestruturais provocadas pelas altas temperaturas produzidas durante o processo de soldagem. 2) Regiões da Junta Soldada 3) Características Térmicas da Soldagem A maioria dos processos de soldagem por fusão é caracterizada pela utilização de uma fonte de calor intensa e localizada. Mário Bittencourt - 2015 12 3) Características Térmicas da Soldagem Isto acarreta um gradiente de temperatura muito grande, não apenas entre a fonte de energia e a peça a ser soldada, mas também entre diferentes regiões da própria peça. 3) Características Térmicas da Soldagem O calor é uma forma de energia que se propaga de uma área para outra onde existe a diferença de temperatura. Sendo que o gradiente de temperatura pode ser definido como sendo a diferença de temperatura por unidade de distância. Mário Bittencourt - 2015 13 3) Características Térmicas da Soldagem O HISTÓRICO TÉRMICO de uma junta soldada é dado pela REPARTIÇÃO TÉRMICA e pelo CICLO TÉRMICO DE SOLDAGEM. Sua compreensão possibilita o estudo das transformações metalúrgicas que ocorrem no estado sólido durante a operação de soldagem. Analisando os pontos A, B e C de uma junta soldada, é possível obter as temperaturas máximas atingidas, em cada ponto, em função da distância ao centro da solda. Distância (Y) 4) Repartição Térmica CA B Mário Bittencourt - 2015 14 A temperatura de pico de cada ponto varia com a distância ao centro do cordão de solda. Esta função é a REPARTIÇÃO TÉRMICA para a reta considerada. 4) Repartição Térmica CA Distância (Y) Tp=f(y) B CURVA REPARTIÇÃO TÉRMICA Colocando na forma de um gráfico as temperaturas de pico (Tp) contra a distância ao cordão de solda, obtemos uma curva esquemática mostrada abaixo. 4) Repartição Térmica Mário Bittencourt - 2015 15 Estabelecido o regime de soldagem, a repartição térmica mantém a sua forma ao longo do cordão de solda. 4) Repartição Térmica 5) Ciclo Térmico de Soldagem O processo de aquecimento e resfriamento de uma junta soldada é conhecido como CICLO TÉRMICO DE SOLDAGEM. Mário Bittencourt - 2015 16 Vamos considerar um determinado ponto Z da junta soldada, definido pela sua distância ao centro do cordão de solda (x), posição em relação a espessura(y) e pela sua relação a temperatura. 5) Ciclo Térmico de Soldagem Z x y 5) Ciclo Térmico de Soldagem O calor da operação de soldagem provoca variações de temperatura neste ponto. Esta variação de temperatura em função do tempo é chamada de CICLO TÉRMICO no ponto Z. Z Mário Bittencourt - 2015 17 5) Ciclo Térmico de Soldagem CICLO TÉRMICO de soldagem no ponto Z (temperatura x tempo). Tp Tc T1 T2 T VR tS tR Tempo t Te m pe ra tu ra Tp - temperatura de pico (temperatura máxima atingida no ponto Z). 5) Ciclo Térmico de Soldagem Tp Tc T1 T2 T VR tS tR Tempo t Te m pe ra tu ra - A Tp diminui com a distância ao centro da solda e indica a extensão das regiões afetadas pelo calor de soldagem. Mário Bittencourt - 2015 18 VR- velocidade de resfriamento a uma certa temperatura T 5) Ciclo Térmico de Soldagem Tp Tc T1 T2 T VR tS tR Tempo t Te m pe ra tu ra Tc- temperatura crítica acima da qual não haverá crescimento de grão austenítico. 5) Ciclo Térmico de Soldagem Tp Tc T1 T2 T VR tS tR Tempo t Te m pe ra tu ra - Temperatura mínima para ocorrer uma alteração relevante como uma transformação de fase por exemplo; - Geralmente para os aços é de 1100ºC; Mário Bittencourt - 2015 19 ts - tempo de permanência acima de uma determinada temperatura crítica Tc 5) Ciclo Térmico de Soldagem Tp Tc T1 T2 T VR tS tR Tempo t Te m pe ra tu ra - Tempo em que o ponto fica submetido a temperaturas superiores a uma temperatura crítica; As variáveis mais importantes do CICLO TÉRMICO são: - a temperatura de pico (Tp), - a velocidade de resfriamento (Vr) e o - tempo de permanência acima de uma determinada temperatura crítica (ts). 5) Ciclo Térmico de Soldagem Mário Bittencourt - 2015 20 O CICLO TÉRMICO de soldagem possibilita a interpretação ou previsão das transformações metalúrgicas A REPARTIÇÃO TÉRMICA permite determinar a extensão da região aonde ocorrem tais fenômenos (ZTA). 6) Características Térmicas da Soldagem Os fatores que afetam as características térmicas da soldagem são: Natureza do metal de base. Distância do ponto considerado ao centro do cordão de solda. Espessura e geometria da junta Temperatura de pré-aquecimento. Energia de soldagem ou aporte de calor. 6) Características Térmicas da Soldagem Mário Bittencourt - 2015 21 6.1) Natureza do Metal de Base O coeficiente de condutividade térmica do metal base influencia na: - temperatura máxima atingida (Tp) Quanto menor for a condutividade térmica do material, maiores serão as temperaturas atingidas. - na velocidade de resfriamento (Vr) Quanto maior for a condutividade térmica do material, maior será sua velocidade de resfriamento. 6.1) Natureza do Metal de Base O coeficiente de condutividade térmica do metal base influencia no: - tempo de permanência de uma determinada temperatura (ts): Quanto maior for a condutividade térmica do material, menor será o tempo de permanência acima de uma determinada temperatura. Mário Bittencourt - 2015 22 Vamos considerar dois ciclos térmicos em um ponto Z de duas juntas soldadas. O metal de base de uma das juntas é o aço carbono e o outro alumínio. As juntas foram soldadas com as mesmas condições de soldagem. 6.1) Natureza do Metal de Base MB com Maior Condutividade Térmica < Tp (temperatura de pico) < ts (tempo de permanência acima de uma determinada temperatura) > Vr (velocidade de resfriamento) 1. Ciclo Térmico do ALUMÍNIO 2. Ciclo Térmico do AÇO Mário Bittencourt - 2015 23 6.2) Distância do Ponto ao Centro do Cordão de Solda Podemos traçar um conjunto de curvas mostrando o ciclo térmico para pontos situados a diversas distâncias do centro do cordão soldado. B CA TEMPO (t) T E M P E R A T U R A º C T2 T1 Tp C Tp B Tp A B CA Tp diminui com o aumento da distância ao centro do cordão. ts diminui com a distância ao centro do cordão de solda. Vr diminui com o aumento da distância ao centro do cordão de solda. ts A ts B ts C Vr C Vr B Vr A Mário Bittencourt - 2015 24 Os fatores que afetam as características térmicas da soldagem são: Natureza do metal de base.� Distância do ponto considerado ao centro do cordão de solda. Espessura e geometria da junta Temperatura de pré-aquecimento. Energia de soldagem ou aporte de calor. � 6) Fatores que Afetam as Características Térmicas 6.2) Espessura da Junta A velocidade de resfriamento tende a aumentar com o aumento da espessura, até determinado limite (40mm). Acima deste limite a velocidade de resfriamento independe da espessura. O tempo de permanência a temperaturas elevadas tende a diminuir com o aumento da espessura. Mário Bittencourt - 2015 25 6.2) Espessura da Junta A dissipação do calor em chapas finas ocorre de forma bidimensional (> Vr) Em chapas grossas ocorre de forma tridimensional (< Vr) Junta em T possui três direções para o fluxo de calor, enquanto que a Junta de Topo possui apenas duas direções. 6.3) Geometria da Junta Vr JUNTA TOPO < Vr JUNTA T Mário Bittencourt - 2015 26 6.4) Temperatura de Pré- aquecimento O pré-aquecimento diminui o gradiente térmico, reduzindo assim a velocidade de resfriamento. O pré-aquecimento aumenta o tempo de permanência acima de uma determinada temperatura, acarretando em uma maior extensão da ZTA. ZTA Curva 1 ZTA Curva 2 1 2 Tc Distância (x) Temperatura de Pico (Tp) Curva 1 – Repartição Térmica referente a uma operação de soldagem COM pré-aquecimento. Curva 2 – Repartição Térmica relativa a mesma operação de soldagem SEM pré-aquecimento. Mário Bittencourt - 2015 27 Observa-se que para a repartição térmica dada pela curva 1 (com pré-aquecimento), a ZTA é maior que a ZTA da repartição térmica dada pela curva 2 (sem pré- aquecimento). ZTA Curva 1 ZTA Curva 2 1 2 Tc Distância (x) Temperatura de Pico (Tp) 6.5) Energia de Soldagem Energia de soldagem ou Heat input é a quantidade de calor produzido pelo arco elétrico e transferido para a peça. Mário Bittencourt - 2015 28 6.5) Energia de Soldagem A energia de soldagem ou aporte de calor (E) depende do processo de soldagem utilizado (Eletrodo Revestido, MIG/MAG, TIG, etc.) 6.5) Energia de Soldagem E (J/mm) = N ( V x I ) Vsold. N – Eficiência da transferência de energia para a peça depende do processo de soldagem utilizado. Mário Bittencourt - 2015 29 A energia de soldagem afeta a temperatura máxima atingida, o tempo de permanência em altas temperaturas e a velocidade de resfriamento. 6.5) Energia de Soldagem Em processo de soldagem que utilizam alta energia de soldagem, o calor atinge uma grande extensão do metal de base Isto ocasiona um gradiente de temperatura relativamente baixo e resultando numa velocidade de resfriamento bem menor do que aquela observada em processos que utilizam baixo aporte de calor. 6.5) Energia de Soldagem Mário Bittencourt - 2015 30 O processo de soldagem P1 utiliza menor aporte de calor, produzindo uma menor ZTA. Quanto maior a energia de soldagem, maior a extensão da ZTA e menor a velocidade de resfriamento. Distância (x) Temperatura de Pico (Tp) P2 P1T1 7) Transformações Metalúrgicas Com as duas funções (ciclo térmico e repartição térmica) torna-se viável o estudo das transformações metalúrgicas no estado sólido ocorrentes em uma junta soldada. O ciclo térmico possibilita a interpretraçãoou previsão das transformações enquanto que a repartição térmica permite determinar a extensão das zonas onde se passam tais fenômenos. Mário Bittencourt - 2015 31 Esquema das várias regiões da zona fundida e da fase correspondente do diagrama de fase, para um aço com 0,3%C. 7) Transformações Metalúrgicas Deve-se observar que quanto maior é a temperatura máxima atingida, maior é a extensão da ZTA, e quanto menor a velocidade de resfriamento menor é a possibilidade de tempera. O ciclo térmico de soldagem, juntamente com a composição química do material, são os fatores mais significativos na determinação da microestrutura e propriedades da junta soldada. 7) Transformações Metalúrgicas Mário Bittencourt - 2015 32 Sob o ponto de vista metalúrgico os aspectos mais importantes de um ciclo são: - parâmetros de austenitização, como a taxa de aquecimento e a temperatura máxima atingida; - tempo de exposição a elevadas temperaturas; - velocidade de resfriamento; - parâmetros de revenimento; 7) Transformações Metalúrgicas A importância relativa destes fatores será função, principalmente, da composição e estrutura do metal de base. Em aços de baixo teor de C (<0,25%), a temperatura máxima é o fator predominante, pois determina o tamanho de grão austenítico antes da transformação. O tempo, a elevadas temperaturas, é importante por determinar a extensão da dissolução dos carbonetos e redistribuição das inclusões. 7) Transformações Metalúrgicas Mário Bittencourt - 2015 33 A velocidade de resfriamento tem significativa influência sobre as características de transformação dos aços, determinando se a estrutura será bainítica, martensítica, ferrítica, etc. metal de solda ZTA metal de base API 5L X-80 7) Transformações Metalúrgicas 8) Bibliografia SILVA, F. J. G., Tecnologia da soldadura, 1 ed., Porto, PRT, Editora Publindústria, 2014. SENAI-SP, Soldagem, 1 ed., São Paulo, SP, Editora SENAI-SP, 2013. MARQUES, P. V.; MODENESI, P. J.; BRACARENSE, A. Q., Soldagem fundamentos e tecnologia, 3 ed., Belo Horizonte, MG, Editora UFMG, 2009. ALCÂNTARA, N. G., Tecnologia da Soldagem, 1 ed., São Carlos, SP, Editora Universidade Federal de São Carlos, 1988.
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