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Análise jurisprudencial e doutrinária da Responsabilidade civil objetiva debatida em aula

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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL
CÂMPUS GUAÍBA
Acadêmica: ------------------------
Disciplina: Direito Civil III – Responsabilidade Civil 
Professor: Pedro Reinaldo Feiten
ANÁLISE JURISPRUDENCIAL E DOUTRINÁRIA DA RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA DEBATIDA EM AULA.
	A responsabilidade civil é uma das áreas do Direito Civil que merece atenção dos acadêmicos de Direito, ne medida em que o futuro operador do Direito irá se deparar com inúmeras situações onde a responsabilidade civil estará presente.
	Dentro da responsabilidade Civil um ponto que merece atenção se trata da responsabilidade civil objetiva, sendo um dos conteúdos abordados em aula, o qual se apresenta como constante nas pautas de julgamento de várias cortes do nosso país, sendo também enfrentada cotidianamente pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, como podemos observar na ementa que segue:
Ementa: APELAÇÃO CÍVEL RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE TRÂNSITO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. CASO FORTUITO OU FORÇA MAIOR AFASTADOS. RESPONSABILIDADE OBJETIDA DO MUNICÍPIO. DANO MORAL. CORREÇÃO MONETÁRIA. HONORÁRIOS. É de ser mantida a condenação imposta na sentença, pois o ente público não comprovou que a aquaplanagem, decorrente de forte chuva, configurou caso fortuito ou força maior, capaz de elidir sua responsabilidade objetiva no acidente envolvendo a ambulância que conduzia o autor da ação. A fixação do dano moral deve atentar para a condição econômica da vítima e a do ofensor, o grau de culpa, a extensão do dano e a finalidade da sanção reparatória, bem como se coadunar às diretrizes extraídas dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. Valor correto e proporcional fixado em R$ 25.000,00. Em se tratando de Fazenda Pública, o índice de correção monetária deve observar ao disposto no art. 1º-F da Lei 9.494/97, aplicando-se, a partir de 25.03.2015, o IPCA-E. Honorários fixados em 12% sobre o valor da condenação que não são excessivos, impondo-se a manutenção. APELO PARCIALMENTE PROVIDO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70072488562, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Pedro Luiz Pozza, Julgado em 16/03/2017). Grifei[1: TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL, Apelação Cível Nº 70072488562, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Pedro Luiz Pozza, Julgado em 16/03/2017.]
 A partir da análise da ementa supra colacionada, verifica-se a aplicabilidade da responsabilidade civil objetiva, instituto do direito que atribui responsabilidade baseada na teoria do risco administrativo ao ente estatal bem como a empresas públicas e demais empresas prestadoras de serviço público. 
No caso em tela, restou por demonstrado nos autos que o ente estatal possui responsabilidade sobre o acidente no qual o autor estava sendo transportado em ambulância pertencente a requerida.
Como debatido em aula a responsabilidade civil objetiva encontra emparro jurídico no artigo 927 parágrafo único do código civil brasileiro, conforme redação ora se transcreve:
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.[2: BRASIL, Código Civil Brasileiro, Brasília, 2002.]
O dispositivo legal preceitua que haverá a responsabilização independentemente de culpa, bastando para a configuração do dever de reparar o dano a demonstração do dano e do nexo causal, como restou por abordado em aula, aliás, no que tange a desnecessária demonstração da culpa do agente causador do dano, é que reside a diferença entre a responsabilidade Civil Objetiva da Responsabilidade civil subjetiva.
Para a configuração do dever de reparar o dano, basta ao lesado demonstrar a ocorrência do dano bem como do nexo causal entre a conduta do agente causador e o dano causado ao lesado.
Também foi discutido em aula que ao ente estatal somente é afastada a responsabilidade se demonstradas excludentes de responsabilidade como caso fortuito, fato exclusivo da vítima, fato de terceiro e força maior.
Da analise da ementa é passível verificação de que em sede de defesa o ente estatal para se eximir da responsabilidade buscou através de suas alegações que fosse excluída a responsabilidade através de excludentes como força maior e caso fortuito consubstanciadas na aquaplanagem, sendo, no entanto, tais excludentes afastadas.
Passamos a analise doutrinaria acerca do tema em comento, sobre a responsabilidade Objetiva assim preceitua GONÇALVES:
Na responsabilidade objetiva prescinde-se totalmente da prova da culpa. Ela é reconhecida, como mencionado, independentemente de culpa. Basta, assim, que haja relação de causalidade entre a ação e o dano. Uma das teorias que procuram justificar a responsabilidade objetiva é a teoria do risco. Para esta teoria, toda pessoa que exerce alguma atividade cria um risco de dano para terceiros. E deve ser obrigada a repará-lo, ainda que sua conduta seja isenta de culpa. A responsabilidade civil desloca-se da noção de culpa para a ideia de risco, ora encarada como “risco-proveito”, que se funda no princípio segundo o qual é reparável o dano causado a outrem em consequência de uma atividade realizada em benefício do responsável (ubi emolumentum, ibi onus); ora mais genericamente como “risco criado”, a que se subordina todo aquele que, sem indagação de culpa, expuser alguém a suportá-lo.[3: GONÇALVES, Roberto Carlos. Direito Civil Brasileiro, Responsabilidade Civil, 7º edição, Editora Saraiva, São Paulo, 2012, pág. 46.]
O mesmo autor ainda tece considerações importantes acerca deste importantíssimo instituto incorporado ao Direito Civil Brasileiro e constante no Parágrafo único do Art. 927 do CCB, na medida em que amplia os casos de dano indenizável.
A inovação constante do parágrafo único do art. 927 do Código Civil é significativa e representa, sem dúvida, um avanço, entre nós, em matéria de responsabilidade civil. Pois a admissão da responsabilidade sem culpa pelo exercício de atividade que, por sua natureza, representa risco para os direitos de outrem, da forma genérica como consta do texto, possibilitará ao Judiciário uma ampliação dos casos de dano indenizável.[4: GONÇALVES, Roberto Carlos. Direito Civil Brasileiro, Responsabilidade Civil, 7º edição, Editora Saraiva, São Paulo, 2012, pág. 49]
Com relação à responsabilidade civil objetiva Venosa afirma que:
 “Cuida-se da responsabilidade sem culpa em inúmeras situações nas quais sua comprovação inviabilizaria a indenização para a parte presumivelmente vulnerável [..] Nesse aspecto, há importante inovação no novel Código, presente no parágrafo único do art. 927. Por esse dispositivo, a responsabilidade objetiva aplica-se, além dos casos previstos em lei, também quando “quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para o direito de outrem”.[5: VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: responsabilidade civil. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 15]
Desta forma, restou por exposto que a Responsabilidade Civil Objetiva se trata de importante instituto da Responsabilidade Civil, servindo a disciplinar várias situações onde quem desenvolve diversas atividades que possam implicar em riscos a outrem devem responder pelos danos causados independentemente de culpa, ressalvadas as hipóteses de excludentes de responsabilidade, voltando ao caso analisado, o Município como ente Estatal possui responsabilidade Civil Objetiva insculpida na Teoria do Risco Administrativo, razão pela qual, em não sendo acolhida nenhuma das excludentes alegadas pelo Município, ocorreu a condenação em razão dos danos causados independentemente de culpa.
Referências: 
BRASIL, Código Civil Brasileiro, Brasília, 2002.
GONÇALVES, Roberto Carlos. DireitoCivil Brasileiro, Responsabilidade Civil, 7º edição, Editora Saraiva, São Paulo, 2012, pág. 46.
GONÇALVES, Roberto Carlos. Direito Civil Brasileiro, Responsabilidade Civil, 7º edição, Editora Saraiva, São Paulo, 2012, pág. 49.
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO GRANDE DO SUL, Apelação Cível Nº 70072488562, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Pedro Luiz Pozza, Julgado em 16/03/2017.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: responsabilidade civil. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 15.

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