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RESPONSABILIDADE CIVIL

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RESPONSABILIDADE CIVIL
Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
Autoria: Fernando Henrique Becker Silva
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da 
Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano Fistarol
 Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
 Cristiane Lisandra Danna
 Norberto Siegel
 Camila Roczanski
 Julia dos Santos
 Ariana Monique Dalri
 Bárbara Pricila Franz
 Marcelo Bucci
Revisão de Conteúdo: Ivan Tesck
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: UNIASSELVI
Copyright © UNIASSELVI 2018
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
SI586r
 Silva, Fernando Henrique Becker
 Responsabilidade civil. / Fernando Henrique Becker Silva – Indaial: 
UNIASSELVI, 2018.
 125 p.; il.
 ISBN 978-85-53158-29-4
 1.Responsabilidade civil – Brasil. Centro Universitário Leonardo 
 Da Vinci.
 CDD 346.8103 
Fernando Henrique Becker Silva
Advogado; Bacharel em Direito pela 
Universidade Regional de Blumenau - FURB (2001), 
com habilitação em Direito Empresarial e Ambiental; 
Professor de Direito Processual Civil e de Direito 
Empresarial em níveis de graduação e pós-graduação; 
Membro da Academia Brasileira de Direito Processual 
Civil; Especialista em Direito Civil (2005); Legum 
Magister (LLM) Internacional em Direito Empresarial 
pela Fundação Getúlio Vargas/Rio, com extensão na 
University of California, Irvine (UCI); Secretário Geral 
da OAB Subseção de Blumenau (gestão 2016/2018; 
Autor dos livros históricos “Fraternidade” (2002), “Zur 
Friedenspalme” (2005) e “A história da Subseção 
da OAB de Blumenau” (2017), e dos romances 
“O aprendiz de cavaleiro” (2007), “Carapaná e o 
povo sem sono” (2007), “O segredo do meu avô” 
(2009) e “A terrível morte do adido do consulado 
português” (2011).
Sumário
APRESENTAÇÃO ....................................................................07
CAPÍTULO 1
Noções Gerais Sobre Responsabilidade Civil ...................09
CAPÍTULO 2
Elementos da Responsabilidade Civil .................................33
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
Causas Excludentes de Responsabilidade Civil ...............53
Responsabilidade Civil em Espécie ......................................75
APRESENTAÇÃO
Prevista na Parte Especial, Livro I (Direito das Obrigações), Título IX, 
do Código Civil de 2002, a Responsabilidade Civil é um dos temas de maior 
relevância no Direito Civil, dado sua extensão tanto nas relações contratuais e 
quanto nas extracontratuais. 
 
No Capítulo 1 estudaremos o conceito de responsabilidade civil, seus 
princípios, suas funções punitiva, reparadora e preventiva, e suas espécies 
contratual e contratual, objetiva e subjetiva
No Capítulo 2 são estudados os elementos fundamentais da responsabilidade 
civil, suas teorias e modalidades: ato ilícito, dano, nexo de causalidade e culpa. 
O Capítulo 3 dedica o estudo às causas excludentes de responsabilidade 
civil, como a legítima defesa, o exercício regular de um direito reconhecido, o 
estado de necessidade e o estrito cumprimento do dever legal, além das causas 
excludentes de nexo de causalidade (culpa exclusiva da vítima, de caso fortuito e 
força maior ou por fato de terceiro)
No Capítulo 4 estuda-se a responsabilidade civil em espécie: responsabilidade 
civil do Estado, a responsabilidade civil, contratual e extracontratual, do 
construtor, da área médica, dos advogados, dos estacionamentos, dos contratos 
de transporte e dos serviços bancários e responsabilidade civil automobilística.
Bons estudos!
CAPÍTULO 1
Noções Gerais Sobre 
Responsabilidade Civil
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 Compreender o conceito de responsabilidade civil.
 Perceber as principais diferenças entre as responsabilidades civil e penal.
 Entender quando uma decisão na esfera cível repercute na penal e vice-versa.
 Reconhecer as espécies de responsabilidade civil.
 Assimilar as diferenças entre responsabilidade civil contratual (pré e pós) e 
suas repercussões.
10
 RESPONSABILIDADE CIVIL
11
NOÇÕES GERAIS SOBRE RESPONSABILIDADE CIVIL Capítulo 1 
ContextualiZaçÃo
Dentre os mais variados tipos de relação – principalmente no mundo cada 
vez mais complexo e conectado em que vivemos, com transformações rápidas e 
profundas – a que se submetem as pessoas, tanto as físicas quanto as jurídicas, 
muitas vezes algumas delas acabam excedendo limites e cometendo atos que 
atingem a esfera de direitos de terceiros, gerando alguma espécie de dano e, por 
conseguinte, de desequilíbrio jurídico. 
Daí decorre a responsabilidade civil, que é a obrigação de reparar o dano 
que uma pessoa causa a outrem, visando a restabelecer, na medida do possível, 
o equilíbrio jurídico alterado. Em nosso Código Civil, a Lei 10.406/2002 inclusive 
estabelece que aquele que, por ato ilícito, causar dano a outrem, fi ca obrigado a 
repará-lo.
Segundo o Relatório Justiça em Números de 2017 do Conselho Nacional 
de Justiça (CNJ), no ano de 2016, ações relativas à responsabilidade civil/
indenização por dano moral estavam entre as três principais no âmbito do Direito 
Civil na Justiça Estadual Comum, sendo que, nos Juizados Especiais e nas 
Turmas Recursais, o Direito do Consumidor/Responsabilidade do fornecedor/
Indenização por dano moral foi o assunto mais recorrente.
No ano de 2016, das 29.351.145 novas ações ajuizadas no 
Brasil, 1.760.905 foram relativas à responsabilidade civil/indenização 
por dano moral.
Estamos, então, diante daquilo que chamamos de “indústria das 
indenizações”? Contudo, afi nal, quais os pressupostos para caracterização da 
obrigação de indenizar? Eles se aplicam para todos os casos? Existe algum 
critério objetivo para a fi xação do valor das indenizações? Quais as hipóteses 
de exclusão de responsabilidade? Vamos além: o ordenamento jurídico vigente 
está preparado para responder às questões de responsabilidade civil que em 
breve baterão às portas dos tribunais, como, por exemplo, aquelas decorrentes de 
acidentes envolvendo veículos autônomos, ou afetas à inteligência artifi cial? 
Existe, enfi m, uma via mestra, através da qual se pode percorrer para apurar 
responsabilidade civil nesses casos? É o que vamos descobrir nas linhas a seguir.
12
 RESPONSABILIDADE CIVIL
Responsabilidade Civil Versus 
Responsabilidade Penal 
É comum, diante de determinados fatos – principalmente os mais chocantes, 
como o desabamento de um prédio ou o incêndio em uma boate –, as pessoas se 
perguntarem quais seriam as possíveis repercussões jurídicas e se as repercussões 
estariam, necessariamente, vinculadas umas às outras. Um motorista bêbado que 
atropela alguém, por exemplo, além de indenizar a vítima e sofrer um processo 
criminal, também perderá sua carteira de habilitação? E se ele for um agente 
público, será exonerado? E se fosse menor de idade, seus pais serão presos?
Como você sabe, um mesmo ato ilícito pode irradiar repercussões em várias 
esferas que são via de regra, autônomas e independentes entre si. Acontece que, 
para cada uma das esferas de repercussão, existirão regras específi cas para se 
apurar e estabelecer eventual responsabilidade do agente. 
Um único ato, portanto, pode ter repercussões tanto na esfera civil quanto, 
acaso se trate de um tipo previsto no Código Penal, também na esfera criminal, 
podendo o agente responder em ambas. 
Gonçalves (2005, p. 19) traça diferenças entre os dois tipos de 
responsabilidade: “no caso da responsabilidade penal, o agente infringe uma 
norma de direito público.O interesse lesado é o da sociedade. Na responsabilidade 
civil, o interesse diretamente lesionado é o privado. O prejudicado poderá pleitear 
ou não a reparação”.
Distinguem-se as duas responsabilidades, ainda, enquanto que na penal a 
responsabilidade é pessoal e intransferível, ou seja, somente a pessoa do réu 
responderá pela transgressão da norma com a privação da sua própria liberdade; 
ao passo que na responsabilidade civil, o transgressor responderá apenas com 
seu patrimônio, presente e futuro, sendo que tal obrigação será transferível para 
seus herdeiros e sucessores, afi nal, nos termos do Artigo 943, do Código Civil, 
"o direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a 
herança" (BRASIL, 2002).
• Responsabilidade Penal: Pessoal e intransferível
• Responsabilidade Civil: Patrimonial e transferível
Não existe a possibilidade de alguém ser preso por conta de uma dívida de 
natureza indenizatória. Se ele não tiver patrimônio, dado o princípio da realidade 
das execuções – segundo a atividade jurisdicional executiva incidirá apenas sobre 
13
NOÇÕES GERAIS SOBRE RESPONSABILIDADE CIVIL Capítulo 1 
os bens do devedor, e não sobre a pessoa do mesmo – infelizmente a vítima 
fi cará a ver navios. A “garantia” do devedor de que não será preso por dívida civil, 
exceto a de alimentos, está assegurada na própria Constituição Federal, tendo 
sido reforçada pelo famoso Pacto de San Jose da Costa Rica. 
E, ainda que haja aqueles que advoguem a possibilidade, a partir do advento 
do Código de Processo Civil de 2015, da prisão civil do devedor de alimentos 
decorrentes de ato ilícito, nossos tribunais ainda têm entendido que a medida 
coercitiva que se restringe apenas às dívidas oriundas do direito de família, como 
assentou o Desembargador Dimas Rubens Fonseca, do Tribunal de Justiça de São 
Paulo, no julgamento do Agravo de Instrumento nº 2119528-04.2017.8.26.0000: 
“[a prisão civil por dívida é] Medida coercitiva que se restringe às dívidas oriundas 
do direito de família” (TJSP, 2017).
Falamos que o agente poderá responder nas esferas cível e criminal por um 
mesmo ato. É que não é pelo fato de ele ser condenado a responder em uma que, 
necessariamente, ele também será na outra. Porque, como já dito, a apuração da 
responsabilidade é regida por regras diferentes nos âmbitos civil e penal, podendo 
acontecer de o agente ser condenado em uma e absolvido/julgado improcedente 
o pedido em outra.
Conveniente destacar, então, os possíveis efeitos de uma sentença proferida 
sobre determinado fato pelo juízo cível na esfera criminal e vice-versa. 
O Superior Tribunal de Justiça se posicionou no sentido da independência 
entre as esferas penal e cível, o que signifi ca dizer que o resultado proferido em 
uma delas, via de regra, não interfere na solução dada pela outra. 
No entanto, como destacou o então ministro do Superior Tribunal de Justiça 
Luiz Fux, relator do REsp 645.496/RS, "a sentença penal absolutória faz coisa 
julgada no juízo cível, nos casos em que o juízo criminal afi rma a inexistência 
material do fato típico ou exclui sua autoria, tornando preclusa a responsabilização 
civil, bem como na hipótese de reconhecida ocorrência de alguma das causas 
excludentes de antijuridicidade" (STJ, 2005). 
Já a sentença penal absolutória, fundamentada na falta de provas para a 
condenação, não vinculará o juízo cível no julgamento de ação civil reparatória 
acerca do mesmo fato.
Eis aqui a ementa do acórdão do Recurso Especial n.º 1.164.236/MG, 
cuja relatora foi a Ministra Nancy Andrighi, que cabe como uma luva para o que 
estamos falando:
14
 RESPONSABILIDADE CIVIL
“Direito Civil e Processual Civil. Não vinculação do juízo 
cível à sentença penal absolutória fundamentada na falta 
de provas para a condenação ou ainda não transitada em 
jugado. A sentença penal absolutória, tanto no caso em que 
fundamentada na falta de provas para a condenação quanto 
na hipótese em que ainda não tenha transitado em julgado, 
não vincula o juízo cível no julgamento de ação civil reparatória 
acerca do mesmo fato. O art. 935 do CC consagra, de um lado, 
a independência entre a jurisdição cível e a penal; de outro, 
dispõe que não se pode mais questionar a existência do fato, 
ou sua autoria, quando a questão se encontrar decidida no 
juízo criminal. Dessa forma, tratou o legislador de estabelecer 
a existência de uma autonomia relativa entre essas esferas. 
Essa relativização da independência de jurisdições se justifi ca 
em virtude de o direito penal incorporar exigência probatória 
mais rígida para a solução das questões submetidas a seus 
ditames, sobretudo em decorrência do princípio da presunção 
de inocência. O direito civil, por sua vez, parte de pressupostos 
diversos. Neste, autoriza-se que, com o reconhecimento 
de culpa, ainda que levíssima, possa-se conduzir à 
responsabilização do agente e, consequentemente, ao dever 
de indenizar. O juízo cível é, portanto, menos rigoroso do que o 
criminal no que concerne aos pressupostos da condenação, o 
que explica a possibilidade de haver decisões aparentemente 
confl itantes em ambas as esferas. Além disso, somente as 
questões decididas defi nitivamente no juízo criminal podem 
irradiar efeito vinculante no juízo cível. Nesse contexto, pode-
se afi rmar, conforme interpretação do art. 935 do CC, que 
a ação em que se discute a reparação civil somente estará 
prejudicada na hipótese de a sentença penal absolutória 
fundamentar-se, em defi nitivo, na inexistência do fato ou na 
negativa de autoria. Precedentes citados: AgRg nos EDcl no 
REsp 1.160.956-PA, Primeira Turma, DJe 7/5/2012, e REsp 
879.734-RS, Sexta Turma, DJe 18/10/2010” (STJ, 2013).
Assim, a decisão no âmbito criminal infl uencia os rumos da ação civil (e, sendo 
o caso, também do procedimento administrativo), acaso comprovada a inexistência 
do fato ou a negativa de autoria. Do contrário, mostra-se indiferente a ausência de 
trânsito em julgado da sentença penal condenatória para a instauração da ação civil 
indenizatória. Da mesma forma, nos termos do Artigo 65, do Código de Processo 
Penal, que fará coisa julgada na esfera cível a sentença penal que reconhecer ter 
sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito 
cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
Nada como um bom exemplo: Pedro tem contra si ajuizada uma ação 
indenizatória movida por Joana, que o acusa de tê-la assediado sexualmente, e 
concomitantemente responde uma ação penal pelo mesmo fato (art. 216-A, caput, 
do Código Penal). 
Se Pedro for condenado na esfera criminal, antes do trânsito em julgado 
da sentença, ele poderá ter uma sentença tanto favorável quanto desfavorável 
15
NOÇÕES GERAIS SOBRE RESPONSABILIDADE CIVIL Capítulo 1 
na esfera cível. Se Pedro for absolvido na esfera criminal por falta de prova, 
nada impede que ele seja condenado civilmente a indenizar Joana. Já se ele for 
absolvido na esfera criminal porque, para o juiz criminal, o fato não ter existido 
(ou, absurdamente, fosse o caso, se fosse reconhecido que ele agira daquela 
maneira em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento 
de dever legal ou no exercício regular de direito), Pedro obrigatoriamente será 
favorecido na esfera cível. Já se a sentença penal for absolutória por entender 
que o ato praticado por Pedro contra Joana não constitui crime, nada impedirá 
que Pedro seja condenado na esfera cível.
Vale destacar, ainda, que o Artigo 63, do Código de Processo Penal, prevê 
a ação civil decorrente de sentença penal condenatória transitada em julgado, 
para a execução, no juízo cível, para fi ns de reparação do dano, dos bens do 
ofendido, seu representante legal ou dos seus herdeiros. Através dela, o ofendido 
ou o Ministério Público podem pegar a sentença penal transitada em julgado (que 
está no rol de títulos executivos judiciais), liquidá-la se for o caso, e promover a 
simplesexecução no juízo cível.
Como se vê, nos termos do Artigo 935, do Código Civil, “a responsabilidade 
civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a 
existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se 
acharem decididas no juízo criminal” (BRASIL, 2002).
• Sentença penal condenatória: Não gera efeito na esfera cível.
• Sentença penal absolutória: Não gera efeito na esfera cível, salvo de 
o juiz criminal entendeu pela inexistência de autoria ou de fato, ou ainda 
que o agente agiu em estado de necessidade, em legítima defesa, em 
estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
• Sentença cível procedente: Não gera efeito na esfera criminal.
• Sentença cível improcedente: Não gera efeito na esfera criminal.
Agora é a sua vez! Imagine uma hipótese em que Alcides 
atropela João, estando com a CNH vencida e em aparente estado 
de embriaguez. Enquanto Alcides responde a uma ação penal 
promovida pelo Ministério Público, João lhe afora uma ação de 
reparação de danos decorrentes do atropelamento. No curso da ação 
indenizatória, sai a sentença penal absolutória porque foi comprovado 
que Alcides não estava embriagado. Afetará a ação cível? E se o juiz 
criminal entender que Alcides apenas atropelou João para evitar um 
atropelamento de um número maior de pedestres, dentre crianças e 
16
 RESPONSABILIDADE CIVIL
idosos? Afetará a ação cível? E se, na esfera criminal, restar provado 
que quem estava dirigindo o veículo era Marcos, irmão gêmeo de 
Alcides? Afetará a ação cível? E se, na esfera cível, o pedido for 
julgado improcedente, afetará na ação penal? 
E aí? Foi fácil?
Conceito de Responsabilidade Civil
Superadas algumas das principais diferenças entre as responsabilidades 
penal e civil, é chegado o momento de dar uma olhada no conceito de 
responsabilidade civil. Afi nal, conhecer o conceito é essencial para compreender 
sob quais parâmetros a lei pode se fundar para defi nir quando e como alguém a 
ela se submeterá. 
Que tal partirmos da análise etimológica da palavra responsabilidade? 
Responsabilidade deriva do latim “responsus”, particípio passado de 
“respondere”, por sua vez resultado da junção de RE-, “de volta, para trás”, com 
SPONDERE, “garantir, prometer”. A ideia de garantir de volta por sinal, bem 
ilustra a concepção de fazer com que o causador do dano garanta de volta o dano 
sofrido. 
E porque seja comum associar, de forma quase imediata, a responsabilidade 
civil com indenização (conforme veremos a seguir, se justifi ca por conta de uma 
das funções), esta última palavra vem do latim “indemnitas” (IN + DAMNUM = 
sem dano). Indenizar, portanto, signifi ca tornar indene, tornar sem dano.
Por outro lado, não se deve confundir responsabilidade com obrigação. 
Obrigação vem do latim “obligatio”, de OB-, “para”, mais LIGARE, “atar, unir, 
ligar”. Obrigação é, portanto, uma ligação, um vínculo, um dever jurídico. Como 
menciona Rodrigues (2006, p. 3), obrigação “é o vínculo de direito pelo qual 
alguém (sujeito passivo) se propõe a dar, fazer ou não fazer qualquer coisa 
(objeto) em favor de outrem (sujeito ativo)”. 
Assim, seja por força de lei ou amarrado a algum contrato, alguém 
está obrigado a outrem. A questão é que, inadimplida a obrigação, nasce a 
responsabilidade do inadimplente de garantir o dano da outra parte. Portanto, a 
obrigação é o dever jurídico originário, ao passo que a responsabilidade é um 
dever secundário, decorrente justamente da violação da obrigação.
17
NOÇÕES GERAIS SOBRE RESPONSABILIDADE CIVIL Capítulo 1 
Vamos ver se fi cou claro: eu tenho uma obrigação, se eu a descumpro e o 
descumprimento gera um dano a alguém, nasce a responsabilidade de indenizá-
lo. Vamos a alguns conceitos doutrinários.
Diniz (2009, p. 34) defi ne responsabilidade civil como “a aplicação de 
medidas que obriguem alguém a reparar dano moral ou patrimonial causado a 
terceiros em razão de ato do próprio imputado, de pessoa por quem ele responde, 
ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda (responsabilidade subjetiva), ou, 
ainda, de simples imposição legal (responsabilidade objetiva)”. 
Fazendo referência ao jurista francês René Savatier (1733-1818), Rodrigues 
(2003, p. 402) defi ne responsabilidade civil como sendo “a obrigação que pode 
incumbir uma pessoa a reparar o prejuízo causado a outra, por fato próprio, ou 
por fato de pessoas ou coisas que dela dependam”.
Já para Azevedo (2008, p. 244), responsabilidade civil “é a situação de 
indenizar o dano moral ou patrimonial, decorrente de inadimplemento culposo, 
de obrigação legal ou contratual, ou imposta por lei, ou ainda, decorrente do risco 
para os direitos de outrem”.
Note os elementos coincidentes nos conceitos: alguém pratica um ato ilícito 
(inadimplemento de obrigação legal ou contratual) que gera um dano moral ou 
patrimonial a outrem; aquele alguém, ou outra pessoa por ele responsável, é por 
lei obrigado a indenizar o prejuízo.
Partindo de partes dos conceitos anteriores, que tal montar seu próprio 
conceito?
Atividade de Estudos:
1) Responsabilidade civil é:
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
18
 RESPONSABILIDADE CIVIL
Agora é a nossa vez de juntos arriscarmos nosso próprio conceito: a 
responsabilidade civil decorre do interesse do prejudicado por um ato ilícito de 
exigir do causador do dano a reparação do prejuízo sofrido, sendo que somente o 
patrimônio do devedor responderá pelo ressarcimento. 
Refi nemos: a responsabilidade civil decorre do interesse do prejudicado 
por um ato ilícito – não se trata de um interesse do Estado (como acontece no 
Direito Penal), mas exclusivamente do ofendido – de exigir do causador do dano 
e/ou daquele que, por lei ou por contrato, está obrigado a responder pelos atos 
praticados pelo causador, a reparação do prejuízo sofrido, sendo que somente o 
patrimônio – e não sua liberdade – do devedor e de seus sucessores responderá 
pelo ressarcimento.
O nosso conceito, conforme você verá, poderá ainda ser aprimorado, esticado, 
relativizado diante dos vários elementos que, muitas vezes, desdobrando-se 
várias vezes e em várias possibilidades, fazem da responsabilidade civil um 
instituto tão complexo, apesar de corriqueiro nos nossos tribunais. 
PrincÍpios da Responsabilidade Civil
No Direito, muitas vezes as regras não são sufi cientes para que o aplicador 
encontre a solução mais justa e adequada para o caso concreto, devendo ele se 
socorrer nos princípios. 
Dentre os princípios basilares da responsabilidade civil, podemos destacar 
o neminem laedere (não lesar a ninguém) e o restitutio in integrum (reparação 
integral).
a) Princípio do Neminem Laedere
O primeiro deles, neminem laedere ou alterum non laedere nada 
mais é do que um dos três famosos preceitos do Direito (“juris 
praecepta”) de Ulpiano, constantes na Institutas de Justiniano: honeste 
vivere, alterum non laedere, suum cuique tribuere (“viver honestamente, não lesar 
a outrem, dar a cada um o que é seu”).
É simples: para garantir a paz na sociedade, é essencial que os homens 
conduzam suas vidas de forma proba e escorreita, sendo justos e sem gerarem 
prejuízos aos outros. 
Neminem laedere ou 
alterum non laedere.
19
NOÇÕES GERAIS SOBRE RESPONSABILIDADE CIVIL Capítulo 1 
Sendo dever de todos e de cada um não lesar outrem, sua quebra faz nascer 
a obrigação de indenizar o dano causado, afi nal a violação do padrão normal de 
comportamento induz à responsabilidade civil, é claro, se provocou algum dano à 
esfera jurídica alheia.
O preceito fundamental da sociedade ocidental está consagrado em nossoordenamento jurídico no Artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal: “X - são 
invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, 
assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de 
sua violação” (BRASIL, 1988). É ainda mais estampado, de forma explícita, no 
Artigo 186, do Código Civil de 2002: “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão 
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, 
ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito” (BRASIL, 2002).
O princípio do neminem laedere signifi ca que todo aquele que, violando 
o padrão normal de comportamento, gera prejuízo a outrem, deverá repará-lo. 
Entretanto, repará-lo de que forma? Em que medida? A resposta virá a seguir.
b) Princípio da Restitutio in Integrum 
O princípio da restitutio in integrum (restituir ao estado anterior) preconiza 
que a vítima deve ser colocada, na medida do possível, na mesma situação em 
que se encontrava anteriormente à ocorrência da lesão, que deve voltar ao seu 
estado primário como se nada tivesse ocorrido.
No Brasil, o princípio da restituição integral está positivado no art. 944, do 
Código Civil: “A indenização mede-se pela extensão do dano”. Para ajudar na 
compreensão, podemos nos escorar no Direito Francês, que sintetiza o princípio 
da restituição integral na expressão “tout le dommage, mais rien que le dommage”, 
que quer dizer “todo o dano, mas nada mais do que o dano".
 
Uma condenação maior do que foi o dano, ou menor do que foi ele, produziria, 
valendo-nos da expressão utilizada pelo hoje Ministro do STF, Luiz Fux, um 
indesejável “desnível ou descompensação entre dois patrimônios” (STJ, 2004).
Destaque que, porque também considera a gravidade da culpa além da 
extensão do dano para fi ns de garantir a equidade da indenização, o parágrafo 
único do mesmo dispositivo revela a função punitiva da responsabilidade civil. 
20
 RESPONSABILIDADE CIVIL
Atividade de Estudos:
1) Dê uma olhada no extrato da recente ementa proferida no 
Agravo Interno em Recurso Especial 1.653.575/SP, cuja 
Relatora foi a Ministra Maria Isabel Gallotti:
 
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. HONORÁRIOS 
ADVOCATÍCIOS CONTRATUAIS. RESSARCIMENTO. 
ARTS. 389, 395 E 404 DO CC. DESCABIMENTO. 
PRECEDENTES. IMPUGNAÇÃO. COLAÇÃO DE JULGADOS 
CONTEMPORÂNEOS OU SUPERVENIENTES. AUSÊNCIA. 
ART. 1.021, § 1º, DO CPC. SÚMULA N. 182/STJ. NÃO 
CONHECIMENTO.
1. A Segunda Seção do STJ já se pronunciou no sentido de ser 
incabível a condenação da parte sucumbente aos honorários 
contratuais despendidos pela vencedora.
[...]
3. Agravo interno não conhecido (STJ, 2017).
Como podemos perceber, o Superior Tribunal de Justiça entende 
que, não obstante o art. 389, do CC/2002 estabelecer que “não 
cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, 
mais juros e atualização monetária segundo índices ofi ciais 
regularmente estabelecidos e honorários de advogado”, o 
credor de obrigação inadimplida não pode reclamar do devedor 
o ressarcimento pelas despesas que teve na contratação 
do advogado para buscar a satisfação de seu direito. Como 
você interpreta o posicionamento do STJ à luz do princípio da 
reparação integral?
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NOÇÕES GERAIS SOBRE RESPONSABILIDADE CIVIL Capítulo 1 
Alicerçado, ainda, no princípio de que ninguém deve enriquecer à custa 
de outrem (“nemo locupletari potest alterius jactura”), o princípio da restitutio 
in integrum é utilizado pelo juiz no momento de estabelecer os limites da 
condenação, que deveria, ao menos em tese, corresponder estrita e exatamente 
ao desnível causado pelo dano, sob pena de ser injusta.
Também com fundamento no princípio, em regra, não deveria haver 
interferência de considerações acerca das características sociais-econômicas 
do agente, nem da vítima para a determinação do “quantum” indenizatório. Por 
exemplo, a vida e/ou a moral aviltada de um morador de rua e a do Presidente da 
República devem valer a mesma coisa, devendo ser indenizadas em igual medida.
As Funções da Responsabilidade 
Civil
A partir dos conceitos e princípios transcritos de responsabilidade civil, já é 
possível extrair que sua principal função é restaurar, na medida do possível, o 
equilíbrio e harmonia das relações sociais violados. Todavia, nossos tribunais têm 
imputado à responsabilidade civil, além da reparatória, as funções de punição e 
prevenção de danos. 
a) Função reparadora (indenizatória ou compensatória)
Como o próprio nome já indica, a primeira e precípua função da 
responsabilidade civil é tornar indene a vítima. Indenizar, como já visto, é 
justamente o ato de tornar indene, sem dano, o ofendido. 
A indenização será feita, preferencialmente e quando possível, mediante o 
restabelecimento do status quo ante e/ou através da compensação do prejuízo 
mediante o pagamento de quantidade de dinheiro, quando for materialmente 
impossível a recomposição e, ainda, através do ressarcimento ao lesado de todos 
os danos materiais que ele veio a sofrer. 
b) Função punitiva (coercitiva ou sancionatória)
Indo de encontro ao já visto princípio do restitutio in integrum, modernamente 
se tem que não basta reparar integralmente o prejuízo sofrido pelo ofendido. 
Diante da reprovabilidade da conduta, a responsabilidade civil também se presta 
a punir o agressor, funcionando “como uma espécie de pena privada em benefício 
da vítima”, como ensina Cavalieri Filho (2009, p. 85).
22
 RESPONSABILIDADE CIVIL
Seria uma sanção civil, traduzida em perda patrimonial, imposta ao 
transgressor daquele multicitado padrão normal de comportamento de não gerar 
dano a outrem. Só que o produto do confi sco será destinado à vítima.
O caráter sancionatório deverá ser considerado de forma conjunta – e não 
somada – com a função reparadora da responsabilidade civil, sob pena de, em 
se acrescentando o produto da sanção civil à integralidade dos danos a serem 
reparados, incorrer em enriquecimento sem causa do ofendido. 
c) Função preventiva (pedagógica ou dissuasória)
Por fi m, como resultado da função punitiva, a responsabilidade civil também 
se presta para dissuadir a prática de condutas semelhantes tanto pelo opressor 
quanto por terceiros, para desestimular a prática da conduta. 
A responsabilidade civil tem por função compensar a vítima da lesão sofrida e não 
deixar impune aquele que comprometeu a harmonia social e dissuadir e/ou prevenir 
nova prática por parte do transgressor e de terceiros. Daí a natureza preventiva: serve 
para prevenir novas práticas, seja por parte do agressor, seja por terceiros.
O desafi o do juiz reside justamente em conseguir estabelecer uma 
condenação que não seja irrisória (a ponto de não dissuadir ou mesmo estimular 
novas práticas), tampouco fonte de enriquecimento sem causa, estando atento à 
função reparadora do prejuízo e de prevenção da reincidência da conduta lesiva. 
É sopesar, nos dizeres do Ministro do STJ Moura Ribeiro, no julgamento do 
Agravo Regimental em Recurso Especial 1.537.645/RS, “as condições fi nanceiras 
das partes, a reprovabilidade da conduta e o caráter coercitivo e pedagógico da 
indenização sob o jugo dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade” 
(STJ, 2016).
Já para o advogado, principalmente após os riscos destacados pelos Código 
de Processo Civil de 2015, o desafi o é, com base nos mesmos princípios e 
critérios, apresentar o pedido mais razoável possível, sob pena de sujeitar seu 
patrocinado aos ônus sucumbenciais.
Depois de ver suas funções, permitamo-nos retomar aquela proposta de 
conceito de responsabilidade civil, que decorre do interesse do prejudicado por 
um ato ilícito – e não do interessedo Estado – de exigir do causador do dano e/
ou daquele que, por lei ou por contrato, está obrigado a responder pelos atos 
praticados pelo causador, a reparação do prejuízo sofrido e, ao mesmo tempo, 
decorre do interesse do Estado – tão somente após provocado pelo autor – de, 
punindo civilmente o transgressor, dissuadi-lo e a terceiro de repetir a conduta.
23
NOÇÕES GERAIS SOBRE RESPONSABILIDADE CIVIL Capítulo 1 
Espécies de Responsabilidade Civil
Da leitura dos parágrafos anteriores, é possível perceber tamanha amplitude 
do conceito de responsabilidade civil, que delas se desdobram várias hipóteses, 
donde se é possível apurar algumas espécies conforme determinados critérios: 
quanto à existência ou não de prévia relação jurídica entre as partes; quanto à 
exigência da comprovação de culpa ou não; e quanto ao agente.
a) Responsabilidade civil contratual e extracontratual
A responsabilidade civil contratual, como o próprio nome já denuncia, decorre 
do descumprimento de obrigação estabelecida em um contrato unilateral ou 
bilateral (que, nos termos do art. 104, CC/2002, requer um agente capaz, objeto 
lícito, possível, determinado ou indeterminado, e forma prescrita ou não defesa 
em lei) existente entre o causador e o lesionado, de modo que o dano decorrerá 
justamente da inexecução da obrigação estabelecida no instrumento. Ex.: a 
construtora que não entrega o apartamento no prazo estabelecido no contrato. 
Determinada responsabilidade civil contratual está prevista no Artigo 389 
“Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros 
e atualização monetária segundo índices ofi ciais regularmente estabelecidos 
e honorários de advogado” (BRASIL, 2002) e no 395 “Responde o devedor 
pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores 
monetários segundo índices ofi ciais regularmente estabelecidos e honorários de 
advogado” (BRASIL, 2002), ambos do Código Civil.
Já na responsabilidade civil extracontratual – que está disposta no art. 186 
“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar 
direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato 
ilícito” (BRASIL, 2002) e 927 “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar 
dano a outrem, fi ca obrigado a repará-lo” (BRASIL, 2002), ambos do CC/2002 – 
não existe qualquer liame obrigacional anterior entre o ofensor e a vítima. 
O dano, assim, decorrerá do ato ilícito (descumprimento de preceito legal ou 
violação do dever geral de abstenção de gerar dano a outrem – lembre-se do non 
laedere) praticado, por ação ou omissão, pelo causador e que causa prejuízo ao 
lesionado. Ex.: o atropelamento por uma lancha.
Enquanto na responsabilidade civil contratual preexiste entre o causador 
do dano e o prejudicado um vínculo jurídico contratual, a responsabilidade civil 
extracontratual – também conhecida como “aquiliana” – é o dever jurídico de 
reparar o dano causado a outrem quando o dever está assentado somente na lei.
24
 RESPONSABILIDADE CIVIL
A “Lex Aquilia”, segundo ensina Venosa (2003, p. 18), “foi um 
plebiscito aprovado provavelmente em fi ns do século III ou início do 
século II a.C., que possibilitou atribuir ao titular de bens o direito de 
obter o pagamento de uma penalidade em dinheiro de quem tivesse 
destruído ou deteriorado seus bens”.
Nosso ordenamento jurídico prevê, ainda, as responsabilidades civis pré-
contratual (“culpa in contrahendo”) e pós-contratual (“culpa post pactum fi nitum”).
O Artigo 422, do Código Civil, estabelece que “os contratantes são obrigados 
a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios 
de probidade e boa-fé” (BRASIL, 2002), destacando o Enunciado 25, da Jornada 
de Direito Civil promovida pelo Conselho da Justiça Federal que “o [tal] 
art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação, pelo julgador, do princípio da 
boa-fé nas fases pré e pós-contratual”. 
A boa-fé objetiva representa o dever de colaboração mútua dos contratantes, 
de cooperação e proteção dos interesses recíprocos, obrigações que vão além 
daquelas expressamente pactuadas, sendo amplamente aceita nos nossos 
tribunais, como se vê no Recurso Especial 1.655.139/DF, cuja relatoria coube à 
Ministra Nancy Andrighi:
[...] 4. A relação obrigacional não se exaure na vontade 
expressamente manifestada pelas partes, porque, 
implicitamente, estão elas sujeitas ao cumprimento de outros 
deveres de conduta, que independem de suas vontades e 
que decorrem da função integrativa da boa-fé objetiva. 5. 
Se à liberdade contratual, integrada pela boa-fé objetiva, 
acrescentam-se ao contrato deveres anexos, que condicionam 
a atuação dos contratantes, a inobservância desses deveres 
pode implicar o inadimplemento contratual [...]. (STJ, 2017).
O dano decorrente da violação do princípio da boa-fé objetiva – seja na fase 
pré-contratual, a fase contratual propriamente dita ou na fase pós-contratual – irá 
gerar o dever de indenizar.
A chamada responsabilidade civil pré-contratual surge quando, ultrapassado 
o tênue liame entre a fase das negociações preliminares (conversas prévias, 
sondagens) e aquela pré-contratual, quando já houve a manifestação, explícita 
ou tácita, de ambas as partes no sentido de que o negócio será fechado, uma das 
25
NOÇÕES GERAIS SOBRE RESPONSABILIDADE CIVIL Capítulo 1 
partes simplesmente rompe as negociações, de forma injustifi cada e arbitrária, 
quebrando na outra a expectativa legitimamente gerada e, assim, lhe gerando 
alguma espécie de dano. Por exemplo: uma pessoa que assina a proposta de 
compra de um imóvel, aceita pelo vendedor e, de repente, desiste do negócio.
A doutrina, então, nos traz como requisitos para a confi guração da 
responsabilidade civil pré-contratual: (a) existência de negociações, (b) certeza na 
celebração do contrato, (c) a ruptura injusta e arbitrária das tratativas, além do dano. 
Aliás, quanto à extensão dos danos da responsabilidade civil pré-contratual, 
Farias os limita "às despesas em que incorreu no desenrolar das tratativas e, 
eventualmente, na perda de algum outro negócio que tenha desistido em virtude 
de estar negociando o contrato que posteriormente não veio a se estabelecer" 
(2017, p. 85). 
Atividade de Estudos: 
1) Permita-me uma provocação: que tal você pesquisar, à luz do 
entendimento dos nossos tribunais, até que ponto é lícita a recusa 
de contratar, sem que faça nascer a obrigação de indenizar por 
parte do desistente?
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Já a responsabilidade civil pós-contratual é o dever de reparar danos 
surgidos após a extinção do contrato, independentemente do adimplemento da 
obrigação, especialmente relacionados à quebra do princípio da boa-fé objetiva. 
Um bom exemplo seria o do médico que quebra o sigilo profi ssional, divulgando 
informações acerca de seu ex-paciente. 
Como visto, a responsabilidade contratual não se limita àquele decorrente 
da quebra do contrato durante sua vigência, mas também ao descumprimento 
de deveres anteriores à celebração do pacto e aqueles posteriores à conclusão 
do negócio. 
26
 RESPONSABILIDADE CIVIL
b) Responsabilidade civil objetiva e subjetiva
Com relação ao fundamento, a responsabilidade civil pode ser subjetiva (com 
aferição de culpa) ou objetiva (sem aferição de culpa).
A culpa como fundamento da responsabilidade subjetiva deve ser 
interpretada lato sensu, abrangendo também o dolo, além da culpa strictu 
sensu, ou seja, a responsabilidade subjetiva depende da prova de imperícia, 
imprudência, negligência ou dolo do agente.
Importante estabelecer a premissa de que o nosso Código Civil, atravésdos 
já citados Artigos 186 e 187, adota a responsabilidade subjetiva como regra e, 
como se pode observar no Artigo 927, parágrafo único, a responsabilidade objetiva 
como exceção “haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de 
culpa, nos casos especifi cados em lei, ou quando a atividade normalmente 
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos 
de outrem”. 
A responsabilidade objetiva, como se vê, é fundada na teoria do risco da 
atividade, sobre a qual dispõe Rodrigues (2002, p. 10) que:
a teoria do risco é a da responsabilidade objetiva. Segundo 
a teoria, aquele que, através de sua atividade, cria risco de 
dano para terceiros, deve ser obrigado a repará-lo, ainda que 
sua atividade e seu comportamento sejam isentos de culpa. 
Examina-se a situação, e, se for verifi cada, objetivamente, a 
relação de causa e efeito entre o comportamento do agente 
e o dano experimentado pela vítima, esta tem direito de ser 
indenizada por aquele.
É na teoria do risco administrativo que se funda a responsabilidade civil 
objetiva do Estado e também pessoas jurídicas de direito privado prestadoras 
de serviço público relativamente a terceiros usuários e não-usuários do serviço, 
segundo dispõe o art. 37, § 6º, da Constituição Federal de 1988.
Também será objetiva a responsabilidade por dano ambiental, informada 
pela teoria do risco integral, mencionado no Agravo Regimental em Recurso 
Especial 1412664⁄SP, cujo relator foi o Ministro do Superior Tribunal de Justiça 
Raul Araújo:
DIREITO AMBIENTAL E PROCESSUAL CIVIL. DANO 
AMBIENTAL. LUCROS CESSANTES AMBIENTAL. 
RESPONSABILIDADE OBJETIVA INTEGRAL. DILAÇÃO 
PROBATÓRIA. INVERSÃO DO ÔNUS PROBATÓRIO. 
27
NOÇÕES GERAIS SOBRE RESPONSABILIDADE CIVIL Capítulo 1 
CABIMENTO. [...] A legislação de regência e os princípios 
jurídicos que devem nortear o raciocínio jurídico do julgador 
para a solução da lide encontram-se insculpidos não no códice 
civilista brasileiro, mas sim no art. 225, § 3º, da CF e na Lei 
6.938⁄81, art. 14, § 1º, que adotou a teoria do risco integral, 
impondo ao poluidor ambiental responsabilidade objetiva 
integral. Isso implica o dever de reparar independentemente 
de a poluição causada ter-se dado em decorrência de ato ilícito 
ou não, não incidindo, nessa situação, nenhuma excludente de 
responsabilidade. Precedentes [...] (STJ, 2014).
Falaremos, no próximo capítulo, sobre outras teorias do risco (como a do 
risco-proveito e a do risco-criado) que fundamentam a responsabilidade 
objetiva. 
c) Responsabilidade civil por ato próprio e por ato de outrem
Por fi m, relativamente ao agente, a responsabilidade se divide entre direta 
(ou ato próprio) e indireta (por ato de terceiro). 
O Artigo 932 enumera as hipóteses da responsabilidade civil indireta, ou 
seja, quando terceiros responderão – objetivamente – pelos danos causados pelo 
agente: (I) os pais, pelos fi lhos menores que estiverem sob sua autoridade e em 
sua companhia; (II) o tu tor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem 
nas mesmas condições; (III) o em pregador ou comitente, por seus empregados, 
serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão 
dele; (IV) os d onos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde 
se albergue por dinheiro, mesmo para fi ns de educação, pelos seus hóspedes, 
moradores e educandos; (V) os q ue gratuitamente houverem participado nos 
produtos do crime, até a concorrente quantia. 
Justifi cando do porquê da responsabilidade objetiva pelos danos causados 
por aqueles que de algum modo estavam sob sua proteção ou vigilância (art. 933, 
CC/2002), Cavalieri Filho (2009, p. 192) assevera que “o ato do autor material 
do dano é apenas a causa imediata, sendo a omissão daquele que tem o 
dever de guarda ou vigilância a causa mediata, que nem por isso deixa de ser 
causa efi ciente”. Melhor dizendo, ainda que de forma indireta, houve culpa do 
responsável, seja culpa in eligendo seja culpa in vigilando.
28
 RESPONSABILIDADE CIVIL
Atividade de Estudos: 
1) Um derradeiro desafi o para você: nas hipóteses de 
responsabilidade objetiva por ato de terceiro (indireta), o 
responsável deverá indenizar o ofendido independentemente 
da prova da culpa do autor do dano ou é necessário que seja 
provada a culpa/dolo do agente? 
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AlGumas Considerações
Superado este primeiro capítulo, em que nos debruçamos sobre a diferença 
entre as responsabilidades civil e penal, sobre o conceito de responsabilidade 
civil e seus princípios do neminem laedere e da restitutio in integrum; tratamos, 
ainda, das funções da responsabilidade civil (reparadora, punitiva e preventiva), 
para, fi nalmente, estudarmos as espécies de responsabilidade civil (contratual x 
aquiliana; objetiva x subjetiva; por ato próprio x por ato de outrem), é essencial 
que tenha fi cado sufi cientemente claro para você:
• que, via de regra, a procedência ou a improcedência do pedido de 
condenação cível não repercutirá na esfera penal (não é porque ganhou 
ou perdeu lá que perderá ou ganhará aqui), sendo que, por outro 
lado, em caso de sentença penal absolutória que reconheça uma das 
hipóteses de excludente de ilicitude penal (legítima defesa, estado de 
necessidade, exercício regular de um direito ou estrito cumprimento de 
dever lega) gerará, sim, efeito na esfera cível, assim como em sentenças 
absolutórias que determinem a inexistência de autoria ou de fato;
29
NOÇÕES GERAIS SOBRE RESPONSABILIDADE CIVIL Capítulo 1 
• que a responsabilidade civil – que decorre do interesse do prejudicado 
por um ato ilícito de exigir do causador do dano e/ou daquele que, por lei 
ou por contrato, esteja obrigado a responder pelos atos praticados pelo 
causador, a reparação do prejuízo sofrido – é regida por dois princípios, 
quais sejam, o neminem laedere e da restitutio in integrum. Pelo primeiro, 
que parte do dever social de não devermos nem podermos causar dano 
a ninguém, a responsabilidade civil decorre justamente da violação deste 
padrão de comportamento. Pelo segundo, uma vez causado o dano, 
obriga-se o agressor a restabelecer, na medida do possível, o equilíbrio 
quebrado com seu ato ilícito;
• que a responsabilidade civil tem três funções, a reparadora, a punitiva 
e a preventiva. Pela primeira, pretende-se indenizar (tornar indene, sem 
dano) o prejudicado. Pela segunda, quer-se ainda punir (sanção civil) o 
agressor pelo rompimento do padrão normal de comportamento. Pela 
terceira, busca-se desestimular a prática desta conduta por parte do 
agressor e pelos demais membros da sociedade.
 
• que a responsabilidade civil pode ocorrer dentro de um contexto 
contratual, obrigacional, existente entre as partes (de modo que o ato 
ilícito emergirá do descumprimento das obrigações contratuais), ou fora 
de qualquer relação contratual (quando o dever de reparar decorrerá da 
lei);
• que a responsabilidade civil poderá ser subjetiva, que é a regra geral, 
e a objetiva. Pela primeira, há necessidade de demonstrar a culpa 
(imperícia, imprudência ou negligência) do agente, além do ato ilícito, 
do dano e do nexo de causalidade. Pela segunda, o agente responderá 
independentemente da comprovação de culpa (que será presumida);
• que a responsabilidade civil poderá recair sobre o agente direto, ou 
seja, quem efetivamente causou o dano a terceiro ou sobre o agente 
indireto, que é aquele que, por lei, responderá por ato ou fato praticado 
por terceiro. 
Alguns dos conceitos vistos ao longo deste capítulo serão revisitados,com 
mais vagar, nos capítulos a seguir, como os elementos da responsabilidade civil 
(ato ilícito, o dano e o nexo de causalidade), que veremos no Capítulo 2, e as 
causas excludentes de responsabilidade (legítima defesa, estado de necessidade 
e exercício regular de um direito), que estudaremos no Capítulo 3.
30
 RESPONSABILIDADE CIVIL
ReFerÊncias
AZEVEDO, Álvaro Vilaça. Teoria geral das obrigações. 8. ed. São Paulo: RT, 
2000.
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. 
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
htm>. Acesso em: 19 abr. 2018.
______. Código Civil, Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 19 abr. 
2018.
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 9. ed. São 
Paulo: Atlas, 2009.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Responsabilidade civil. 
24. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
ENUNCIADO nº 25 do CJF/STJ, da I Jornada de Direito Civil. Disponível em 
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FARIAS, Cristiano Chaves de. Curso de direito civil: contratos. 7. ed. rev., atual. 
Salvador: Ed. JusPodivm, 2017.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Responsabilidade civil. 9. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2005.
RODRIGUES, Silvio. Direito civil. v. 4. São Paulo: Saraiva, 2002.
______. Direito civil: responsabilidade civil. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. 
______. Direito civil. v. 2. São Paulo: Saraiva, 2006. 
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Ação Rescisória 1.438/PR, Primeira Seção, 
Brasília, DF, em 14 de novembro de 2004. 
______. Recurso Especial. 1.164.236-MG, Terceira Turma, Brasília, DF, julgado 
em 14 de novembro de 2013.
______. Agravo Regimental em Recurso Especial 1.412.664⁄SP, Rel. Ministro 
Raul Araújo, Quarta Turma, Brasília, DF, em 11 de fevereiro de 2014.
31
NOÇÕES GERAIS SOBRE RESPONSABILIDADE CIVIL Capítulo 1 
______. Agravo Regimental em Recurso Especial 1.537.645/RS, Terceira Turma, 
Brasília, DF, em 5 de maio de 2016.
______. Agravo Interno em Recuso Especial 1.653.575/SP, Quarta Turma, 
Brasília, DF, em 16 de novembro de 2017.
______. Recuso Especial 1655139/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, 
Terceira Turma, Brasília, DF, em 5 de dezembro de 2017.
______. Recuso Especial 645.496/RS, Primeira Turma, Brasília, DF, em 14 de 
novembro de 2005.
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO. Agravo de Instrumento nº 2119528-
04.2017.8.26.0000. 28ª Câmara de Direito Privado. São Paulo, 18 de julho de 
2017.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: responsabilidade civil. 3. ed. Atual. São 
Paulo: Atlas, 2003.
32
 RESPONSABILIDADE CIVIL
CAPÍTULO 2
Elementos da Responsabilidade Civil
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 Identifi car e compreender os elementos da responsabilidade civil.
 Verifi car em que hipóteses se admite a responsabilização por atos lícitos.
 Conhecer a teoria do dever de mitigar o próprio prejuízo.
 Reconhecer as várias espécies de dano admitidas no ordenamento jurídico 
brasileiro.
 Conhecer as teorias sobre o nexo de causalidade.
 Identifi car as modalidades de culpa.
34
 RESPONSABILIDADE CIVIL
35
ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL Capítulo 2 
ContextualiZaçÃo
Podemos afi rmar que a responsabilidade civil exige três elementos 
fundamentais, o que nos foi corroborado através do estudo do seu conceito no 
Capítulo 1 – a lembrar: o ato ilícito, o dano e o nexo de causalidade entre um e 
outro. 
Diante da complexidade das relações modernas contratuais (como no 
enredamento jurídico das operações com bitcoins) ou extracontratuais (como 
nas redes sociais, com pessoas emitindo opiniões e teses, próprias ou copiadas, 
sobre tudo e todos), muitas vezes não é fácil discernir qual é a conduta do agente, 
quem é o verdadeiro agente, se esta conduta foi lícita ou ilícita (principalmente, 
pela ausência de regulamentação em muitos dos casos), se de fato houve dano 
e, caso houve, qual a extensão do dano a ser reparado e, ainda, se há nexo 
de causalidade entre aquela conduta e o prejuízo arguido, em virtude de tantas 
variáveis e da quantidade de ramifi cações decorrentes das relações multilaterais.
Não bastasse, existe ainda o elemento culpa no caso da responsabilidade 
civil subjetiva, que nos obriga a defi nir se houve alguma imperícia, imprudência ou 
negligência por parte do agente e qual o grau dessa culpa.
Por causa disso, há a necessidade de se compreender bem os elementos da 
responsabilidade civil, de modo que estejamos aptos a raciocinar juridicamente 
sobre a situação em que o ato, o dano e o nexo não estejam tão evidentes, para 
verifi carmos se é ou não um caso de responsabilização.
Os Elementos da Responsabilidade 
Civil
Os elementos fundamentais da responsabilidade civil são três, a saber: ato 
ilícito, dano e nexo causal. Existe, ainda, um quarto elemento, aplicável no caso 
da responsabilidade civil subjetiva, que é a culpa. O presente capítulo dedica-se a 
estudar cada um deles.
a) O ato ilícito
Há de se destacar, de início, que os doutrinadores variam sobre como 
denominar esse primeiro elemento da responsabilidade civil, que é o ato/conduta 
que ofende uma norma preexistente ou erro na conduta: alguns falam em 
“conduta humana”, “conduta do agente”, “ato lesivo” ou tratam, simplesmente, de 
“ato ilícito”.
36
 RESPONSABILIDADE CIVIL
Atividade de Estudos:
1) Partindo-se da premissa de que a responsabilidade reclama a 
existência de um ato ilícito, pergunta-se: existe responsabilidade 
civil por fato jurídico ou por ato jurídico lícito? Justifi que a 
resposta, aplicando os artigos do Código Civil (Brasil, 2002) e/ou 
de outra legislação.
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Podemos conceituar, de início, o ato ilícito como um ato praticado em 
descompasso com a ordem jurídica que viola o direito, um ato contra legem ou 
contra jus, um “delito civil”. É possível, no entanto, aprofundarmos esta ideia.
Para Humberto Theodoro Junior (2003, p. 32), a voluntariedade e a 
injuridicidade seriam dois pressupostos necessários à conduta praticada pelo 
agente para sua caracterização como ato ilícito:
Voluntariedade e injuridicidade, nessa ordem de ideias, são 
os pressupostos do comportamento do agente que o tornam 
responsável pelo dever de indenizar o prejuízo derivado de seu 
ato ilícito. Não há ato ilícito stricto sensu se não houver prejuízo 
para a vítima, mas também não haverá o dever de indenizar 
se o dano sofrido pelo ofendido não estiver conectado a um 
comportamento voluntário do agente.
O agente, portanto, tem que querer praticar o ato e esse ato, ao mesmo 
tempo, deve ser contrário ao direito.
O entendimento Sílvio de Salvo Venosa (2003, p. 22) não é diferente, para 
ele: “[...] o ato ilícito traduz-se em um comportamento voluntário que transgride 
um dever”.
Versando sobre os pressupostos da responsabilidade civil, Maria Helena 
Diniz (2005, p. 43) dá um passo atrás e traz que a ação, e não meramente o ato 
ilícito, é o primeiro dos elementos da responsabilidade, estabelecendo que:
37
ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL Capítulo 2 
Ação, elemento constitutivo da responsabilidade, vem a ser o 
ato humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e 
objetivamente imputável, do próprio agente ou de terceiro, ou o 
fato de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem, 
gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado.
Será, portanto, ilícito esse agir – comissivo, que faz algo que não 
deveria se efetivar,ou omissivo, que não pratica um dever de agir – 
quando o agente infringe um dever legal, contratual ou social.
Se você analisar, com um pouco mais de atenção, a explicação 
oferecida pela doutrinadora paulista Maria Helena Diniz (2005) nas 
linhas anteriores, perceberá que ela propõe que podem também ser 
passíveis de reparação civil os atos lícitos.
Quer dizer, então, que existe a possibilidade de responsabilização, 
ainda que o ato seja lícito? Sim!
Segundo o Superior Tribunal de Justiça, com base no art. 927, parágrafo 
único, do Código Civil, confi gurada a violação de direito por ato estatal e de que 
resulte dano real, específi co e anormal, é sim, possível, falar em responsabilidade 
objetiva do Estado em decorrência de atos comissivos lícitos, como anotou o 
Ministro Herman Benjamin no Recurso Especial 1.590.142/SC (BRASIL, 2016a). 
Sendo assim, de acordo com a lei, em virtude da teoria da 
responsabilidade objetiva do Estado, se determinado ato violar um 
direito e gerar um prejuízo real, poderá o Estado responder civilmente 
e, por conseguinte, deverá reparar o prejuízo. Em outras palavras, a 
responsabilidade objetiva estatal independe da licitude ou da ilicitude 
da ação.
No âmbito do Direito Ambiental, também se admite a responsabilidade civil, 
ainda que se esteja diante de um ato considerado lícito, conforme assentou o 
Ministro do Superior Tribunal de Justiça, Antonio Carlos Ferreira, no Agravo 
Regimental em Agravo de Recurso Especial nº 117.202/PR. Veja:
Fundada na Teoria do Risco e no Princípio do Poluidor Pagador, 
é objetiva a responsabilidade civil por danos ambientais, entre 
os quais se inclui a degradação proveniente de atos lícitos que 
criem condições adversas às atividades sociais e econômicas 
ou afetem desfavoravelmente a biota (BRASIL, 2015).
Verifi ca-se que estamos diante de uma grande quebra de paradigma quando 
reconhecemos a possibilidade de alguém praticar um ato não contrário à lei ou ato 
negocial, mas que, causando prejuízo anormal a outrem, ainda assim, persiste o 
dever de indenizar. 
Será, portanto, 
ilícito esse agir 
– comissivo, que 
faz algo que não 
deveria se efetivar, 
ou omissivo, que 
não pratica um 
dever de agir – 
quando o agente 
infringe um dever 
legal, contratual ou 
social.
Se determinado ato 
violar um direito e 
gerar um prejuízo 
real, poderá o 
Estado responder 
civilmente e, por 
conseguinte, deverá 
reparar o prejuízo.
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 RESPONSABILIDADE CIVIL
Sobre os doutrinadores que preferem denominar esse ato omissivo ou 
comissivo de “conduta humana”, se considerarmos que a responsabilidade civil 
também pode recair sobre a pessoa jurídica, não haveríamos de elencar, dentre 
os elementos da responsabilidade, a conduta como humana, sendo, então, 
simplesmente uma “conduta”.
Com destaque, aproveitando o gancho, mesmo se tratando de 
responsabilidade civil por ato/conduta praticada por pessoa jurídica, nos termos 
do art. 50, do Código Civil (BRASIL, 2002), uma vez verifi cado o abuso da 
personalidade jurídica, pode-se pleitear a sua desconsideração e, por conseguinte, 
o atingimento do patrimônio pessoal dos sócios e/ou dos administradores, 
conforme o caso, para recompor o prejuízo sofrido. 
b) O dano
O segundo requisito essencial da responsabilidade civil é o dano, que é 
a lesão de natureza patrimonial ou moral de alguém. Segundo ensina Arnaldo 
Rizzardo (2011, p. 68):
Para a caracterização da obrigação de indenizar é preciso, 
além da ilicitude da conduta, que exsurja como efeito o dano 
a bem jurídico tutelado, acarretando, efetivamente, prejuízo de 
cunho patrimonial ou moral. Não é sufi ciente apenas a prática 
de um fato contra legem ou contra jus, ou que contrarie o 
padrão jurídico das condutas.
Esse dano deve ser certo e atual, não havendo responsabilização por danos 
hipotéticos (aqueles ainda não verifi cados, eventuais, que podem vir a ocorrer ou 
não), danos futuros ou mesmo expectativa de dano.
Nossos tribunais já vêm admitindo, há bastante tempo, a indenização pela 
perda de uma chance, que é quando, por ato ilícito de alguém, outrem sofre um 
prejuízo representado pela perda de uma oportunidade concreta, em vias de se 
realizar, mas que não se concretizou ou realizou por conta daquele ato ilícito.
Sobre a teoria da perda de uma chance, desenvolvida na França (perte d'une 
chance), Sergio Cavalieri Filho (2008, p. 75) sugere que “[...] só será indenizável 
se houver a probabilidade de sucesso superior a cinquenta por cento, de onde se 
conclui que nem todos os casos de perda de uma chance serão indenizáveis”.
Essa possibilidade de êxito, como destacou o Ministro Marco Buzzi, no 
Recurso Especial nº 1.145.118/SP (BRASIL, 2017), deve ser: “séria e real [...], o 
que afasta qualquer reparação no caso de uma simples esperança subjetiva ou 
mera expectativa”.
39
ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL Capítulo 2 
Debrucemo-nos sobre um caso hipotético: haveria perda de uma chance 
se alguém não pode realizar uma prova de concurso público por determinado 
ato ilícito de outrem? Constituiria “séria e real a possibilidade de êxito” desse 
concursando frustrado? É possível supor que sua probabilidade de sucesso 
(aprovação) seja superior a 50%, para, então, concluir pela reparação?
Eis como decidiu o Tribunal de Justiça de Santa Catarina, na Apelação Cível 
n.º 0000059-53.2013.8.24.0045, em um caso assim:
Apelação cível. Ação de indenização por danos materiais e 
morais. Perda de uma chance. Preposta da ré que, ao não 
autenticar guia de pagamento alusiva à taxa de concurso 
público, frustrou a chance da autora de ver-se aprovada no 
certame. Sentença de parcial procedência. Recurso da ré. 
Inscrição da autora em concurso público para magistério 
e respectivo indeferimento ante a ausência de pagamento 
não impugnadas em sede de contestação e recurso (CPC, 
ART. 334, III). Insurgência quanto à responsabilidade da 
requerida em decorrência da falta de autenticação. Falha do 
serviço, pela apelante, que não pode ser imputada à apelada. 
Responsabilidade objetiva decorrente da aplicação das 
disposições consumeristas ao caso em questão. Ré que, por 
comportamento culposo de sua preposta, prestou o serviço de 
forma defeituosa ao deixar de efetuar a autenticação do boleto 
de pagamento. Exegese do art. 14, caput, do Código de Defesa 
do Consumidor. Ato ilícito confi gurado. 
Insurgência quanto à indenização decorrente da teoria da 
perda de uma chance. Apelada que, além de contar com 
especialização em educação infantil e ensino fundamental, 
dedicou-se habitualmente à preparação para o certame. 
Apelada, ademais, que veio a ser aprovada em Concurso 
Público Municipal de São José. Chances concretas e reais de 
ver-se aprovada no concurso. Manutenção da sentença, no 
tocante ao reconhecimento do dever indenizar, é medida que 
se impõe. Circunstâncias, no entanto, autorizam a minoração 
do quantum indenizatório. Recurso conhecido e parcialmente 
provido (SANTA CATARINA, 2017, s.p.).
O mesmo raciocínio deve ser feito para apurar eventual responsabilidade civil. 
Por exemplo, um advogado que perde o prazo do recurso de apelação de uma 
ação em que defende os interesses de determinado cliente. Quais as chances de 
êxito deste recurso? A decisão não recorrida ia de encontro ao entendimento dos 
tribunais superiores? Se sim, podemos estar diante da perda da chance.
Por sinal, a doutrina e a jurisprudência já falam na divisão da teoria da perda 
da chance em clássica e atípica. Segundo Fernando Noronha (2013, p. 695-
696):
40
 RESPONSABILIDADE CIVIL
Quando se fala em chance, estamos perante situações em 
que está em curso um processo que propicia a uma pessoa a 
oportunidade de vir a obter, no futuro, algo benéfi co. Quando 
se fala em perda de chances, para efeitos de responsabilidade 
civil, é porque esse processo foi irreversivelmente interrompido 
por um determinado fato antijurídico [...], por isso fi cando a 
oportunidade irremediavelmente destruída (aindaque, como 
veremos na sequência, se fi que sem saber se o benefício 
esperado teria ocorrido efetivamente, caso não tivesse havido 
a interrupção do processo). A chance que foi perdida pode ter-
se traduzido tanto na frustração da oportunidade de obter uma 
vantagem, que por isso nunca mais poderá acontecer, como 
na frustração da oportunidade de evitar um dano, que por isso 
depois se verifi cou. No primeiro caso, em que estava em curso 
um processo vantajoso e este foi interrompido, poderemos 
falar em frustração da chance de obter uma vantagem futura; 
no segundo, em que estava em curso um processo danoso que 
podia ter sido interrompido e não foi, falaremos em frustração 
da chance de evitar um prejuízo efetivamente ocorrido.
A perda da chance clássica, portanto, é o dever de indenizar decorrente 
da frustração da expectativa de se obter uma vantagem ou um ganho futuro, 
desde que seja real a possibilidade de êxito. A perda de se conseguir um emprego 
iminente, por exemplo, pelo extravio de uma bagagem em que estavam os 
documentos do candidato à vaga. 
Já a perda da chance atípica, decorre do dever de reparar do agente por 
conta de uma conduta omissiva que, acaso fosse praticada de forma apropriada, 
poderia ter evitado o prejuízo suportado pela vítima. A teoria da perda de uma 
chance, na modalidade atípica, tem sido recorrente nas ações reparatórias 
fundadas pela defi ciência da prestação de serviços médico-hospitalares.
Atividade de Estudos:
1) Faça uma rápida pesquisa jurisprudencial e veja como os 
tribunais têm entendido casos em que, diante de um diagnóstico 
equivocado, o paciente acaba morrendo. Nesse caso, pode-se 
buscar a reparação de danos decorrente da perda da chance de 
cura? Fundamente sua resposta.
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ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL Capítulo 2 
• Dano emergente e lucros cessantes
Outras classifi cações de danos que merecem destaque são: o dano 
emergente, que é o prejuízo efetivamente sofrido pela vítima; e os lucros 
cessantes, que são o que o prejudicado deixou de lucrar em razão do ato ilícito. 
Nada como um bom exemplo: Pedro é motorista de Uber e, por conta de uma 
batida, na qual o culpado foi Gilberto, poderá sofrer os danos emergentes, que 
são os prejuízos materiais do veículo, além dos lucros cessantes, que são os que 
ele deixou de lucrar como motorista no período em que fi cou sem o carro. 
É obvio que o juiz, ao condenar Gilberto a reparar dos danos sofridos por 
Pedro, levará em consideração os danos emergentes devidamente comprovados 
(recibos dos gastos que teve para o conserto do carro) e, sobre os lucros cessantes, 
deverá estabelecer a média do faturamento que deixou de ganhar, afi nal a lei 
recomenda razoabilidade na fi xação dos lucros cessantes. Observe o que ensina 
o artigo 402, do Código Civil (BRASIL, 2002): “Salvo as exceções expressamente 
previstas em lei, as perdas e os danos devidos ao credor abrangem, além do que 
ele efetivamente perdeu o que razoavelmente deixou de lucrar”.
E se Pedro alugou um veículo enquanto seu carro estava na ofi cina? Se 
ele podia trabalhar com o carro alugado, estava auferindo renda. Assim, não há 
que se falar em lucros cessantes: Gilberto deverá ressarcir apenas pelos valores 
pagos pela locação do veículo.
Esse exemplo parece simples, mas dele podemos extrair uma oportuna 
questão jurídica: o dever da vítima de buscar mitigar a própria perda.
Segundo esse princípio – chamado de dutytomitigatetheloss – é dever do 
credor, in casu, do prejudicado, fundado na boa-fé objetiva e na vedação ao abuso 
do direito, tentar abrandar seus próprios prejuízos, buscando adotar medidas 
razoáveis e considerando as circunstâncias concretas para diminuir suas próprias 
perdas.
É o que destacou o Ministro Luis Felipe Salomão (BRASIL, 2013, s.p.), no 
Recurso Especial nº 1.325.862/PR:
É consectário direto dos deveres conexos à boa-fé o encargo 
de que a parte a quem a perda aproveita não se mantenha 
inerte diante da possibilidade de agravamento desnecessário 
do próprio dano, na esperança de se ressarcir posteriormente 
com uma ação indenizatória, comportamento esse que afronta, 
a toda evidência, os deveres de cooperação e de eticidade.
42
 RESPONSABILIDADE CIVIL
Não seria razoável admitir, portanto, que Pedro alugasse um carro importado 
para passear, não auferindo renda com o veículo, enquanto seu carro popular 
está na ofi cina, para, depois, requerer de Gilberto o aluguel do veículo mais caro 
e dos lucros cessantes. 
• Dano presumido
Porquanto o ônus da prova dos fatos constitutivos de direito 
recaia, via de regra, sobre o autor, o dano deve ser comprovado pela 
vítima, salvo aqueles em que se admite o chamado dano presumido.
O dano moral in res ipsa está vinculado à própria existência 
do fato ilícito,nos quais os resultados são presumidos, sendo dispensável a 
demonstração do prejuízo.
Exemplo clássico de dano presumido é o decorrente da inscrição indevida do 
nome do consumidor em órgãos de proteção ao crédito, conforme se observa no 
caso abaixo:
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. 
RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO MORAL. INSCRIÇÃO NO 
SERASA. CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO. MANUTENÇÃO 
DO NOME NO CADASTRO DE INADIMPLENTES. ÔNUS DO 
BANCO (CREDOR) EM CANCELAR O REGISTRO. AGRAVO 
REGIMENTAL IMPROVIDO. A inércia do credor em promover 
a atualização dos dados cadastrais, apontando o pagamento, 
e consequentemente, o cancelamento do registro indevido, 
gera o dever de indenizar, independentemente da prova do 
abalo sofrido pelo autor, sob forma de dano presumido. Agravo 
Regimental improvido (BRASIL, 2009, s.p.).
Outros exemplos em que o Superior Tribunal de Justiça reconhece o dano 
moral presumido são: extravio de talonário de cheques; atraso de voos; falta de 
diploma universitário reconhecido pelo MEC etc.
O dano moral in res 
ipsa está vinculado 
à própria existência 
do fato ilícito,
Atividade de Estudos:
1) Para terminar o estudo sobre o dano – que, como visto, salvo o 
presumido ou decorrente da perda de uma chance, deve ser certo 
e atual – propomos um exercício: Silvia contrata uma empresa de 
produção audiovisual para produzir cem DVDs comemorativos, 
que serão distribuídos aos convidados da festa de 15 anos de 
sua fi lha Mônica. Dois dias depois da festa, a avó de Mônica, 
43
ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL Capítulo 2 
mãe de Silvia, a procura horrorizada porque, ao abrir seu DVD, 
verifi cou que nele continha conteúdo inadequado. Mãe e fi lha 
conferem os 3 DVDs que sobraram da festa e verifi cam que estes 
têm o conteúdo contratado. Ufa! Mas e agora? Diante do risco de 
existir outro, ou outros DVDs adulterados, existe a possibilidade 
de buscar a reparação pelos danos prováveis contra a empresa 
de produção audiovisual? Ou têm, mãe e fi lha, que aguardar a 
ligação constrangedora de outro convidado para, então, ajuizar a 
ação? Fundamente suas respostas.
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c) O nexo de causalidade 
O terceiro elemento de responsabilidade civil é o nexo de causalidade, 
também chamado de nexo causal, nexo etiológico ou relação de causalidade.
Segundo a lição de Sergio Cavalieri Filho (2008, p. 67) nexo causal é “[...] 
elemento referencial entre a conduta e o resultado. É através dele que poderemos 
concluir quem foi o causador do dano”.
Será o nexo decausalidade que vinculará o resultado lesivo verifi cado ao 
comportamento (comissivo ou omissivo) daquele a quem se repute a condição de 
agente causador. É, conforme Annelise Monteiro Steigleder (apud BRASIL, 2014, 
s.p.), no Recurso Especial nº 1.374.284/MG “[...] o fator aglutinante que permite 
que o risco se integre na unidade do ato”.
A Ministra Carmem Lúcia, no Agravo em Recurso Extraordinário nº 667.117 
(BRASIL, 2012, s.p.), ao comentar sobre o nexo de causalidade, destacou que:
Em nosso sistema jurídico, como resulta do disposto no artigo 
1.060 do Código Civil [de 1916; art. 403 do Código Civil de 
2002], a teoria adotada quanto ao nexo de causalidade é 
a teoria do dano direto e imediato, também denominada 
teoria da interrupção do nexo causal. Não obstante aquele 
44
 RESPONSABILIDADE CIVIL
dispositivo da codifi cação civil diga respeito à impropriamente 
denominada responsabilidade contratual, aplica-se ele também 
à responsabilidade extracontratual, inclusive a objetiva, até 
por ser aquela que, sem quaisquer considerações de ordem 
subjetiva, afasta os inconvenientes das outras duas teorias 
existentes: a da equivalência das condições e a da causalidade 
adequada.
Teríamos, conforme ressalta a Ministra do Supremo Tribunal Federal, três 
principais teorias sobre o nexo de causalidade: a teoria da interrupção do nexo 
causal, equivalência das condições e causalidade adequada.
Atividade de Estudos:
1) Após pesquisar seus conceitos, diferencie as teorias da 
equivalência das condições, da causalidade adequada e da 
interrupção do nexo causal.
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Dentre essas, vigora no direito civil brasileiro a teoria da interrupção do 
nexo causal, também chamada teoria do dano direto e imediato ou teoria do 
nexo causal direto e imediato, prevista no art. 403, do Código Civil (BRASIL, 2002, 
s.p.): “Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos 
só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e 
imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual”.
Sobre a tese acolhida em nosso ordenamento jurídico, o Ministro Luis Felipe 
Salomão (BRASIL, 2011, s.p.), no Recurso Especial nº 1.154.737/MT, explica:
[...] reconhecendo-se a possibilidade de vários fatores 
contribuírem para o resultado, elege-se apenas aquele que se 
fi lia ao dano mediante uma relação de necessariedade, vale 
dizer, dentre os vários antecedentes causais, apenas aquele 
elevado à categoria de causa necessária do dano dará ensejo 
ao dever de indenizar.
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ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL Capítulo 2 
O Ministro Marco Aurélio Bellizze (BRASIL, 2016b, s.p.), relator do Recurso 
Especial nº 1.615.971/DF, conclui:
[...] a doutrina endossada pela jurisprudência desta Corte é a 
de que o nexo de causalidade deve ser aferido com base na 
teoria da causalidade adequada, adotada explicitamente pela 
legislação civil brasileira (CC/1916, art. 1.060 e CC/2002, art. 
403), segundo a qual somente se considera existente o nexo 
causal quando a ação ou omissão do agente for determinante 
e diretamente ligada ao prejuízo.
A teoria da interrupção do nexo causal, aliás, foi utilizada no clássico 
julgamento do Recurso Extraordinário nº. 130.764-1/PR (BRASIL, 1992), quando 
o Supremo Tribunal Federal discutia sobre a possível responsabilidade civil do 
Estado, devido ao fato de um fugitivo do sistema prisional ter integrado uma 
quadrilha que cometeu um assalto após 21 meses da data da fuga.
Pela teoria adotada e segundo o voto do Ministro Moreira Alves (BRASIL, 
1992, s.p.), o transcurso do lapso temporal entre a fuga do detento e o 
evento danoso (novo delito) teria interrompido a cadeia causal, o que ilidiria a 
responsabilidade do Estado:
As circunstâncias do presente caso evidenciam que o nexo 
de causalidade material não restou confi gurado, quer em 
face da ausência de imediatidade entre o comportamento 
referido imputado ao Poder Público e o evento lesivo 
consumado, quer em face da superveniência de fatos remotos 
descaracterizadores, por sua distante projeção no tempo, da 
própria relação causal.
Há que se atentar, por fi m, para as causas de exclusão de nexo de 
causalidade, como a culpa exclusiva (ou fato exclusivo) da vítima, a culpa 
exclusiva (ou fato exclusivo) de terceiro, além das hipóteses de caso fortuito e/
ou de força maior, que acabam por impedir a existência do nexo de causalidade.
d) A culpa
 
Depois de nos debruçar sobre o ato ilícito, bem como o dano e o nexo de 
causalidade, é tempo de estudar a culpa, elemento que compõe a responsabilidade 
subjetiva, que, diferentemente da responsabilidade objetiva, depende da 
comprovação de que o infrator tenha agido com culpa lato sensu (teoria da culpa).
Sobre a culpa, partamos daqueles que são, nos dizeres de Sílvio de Salvo 
Venosa (2003, p. 25), seus “princípios consagrados”: a negligência, imprudência e 
imperícia, que “[...] contém uma conduta voluntária, mas com resultado involuntário, 
a previsão ou a previsibilidade e a falta de cuidado devido, cautela ou atenção”.
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 RESPONSABILIDADE CIVIL
Em rápidas palavras, imprudente é aquele que não toma o cuidado, a cautela, 
que se espera do bonus pater familias, o homem médio. Negligente é aquele 
que, por desleixo, descuido ou desatenção, deixa de tomar a conduta que dele 
se espera. Já imperito, é o inapto tecnicamente, o desqualifi cado, o ignorante, 
aquele que desconhece os conceitos/conhecimentos/técnicas elementares que se 
espera que um profi ssional domine.
Note, pelo parágrafo acima, que podemos sugerir que a culpa é – depois de 
afastada a hipótese de intenção deliberada de ofender e/ou de ocasionar prejuízo 
(dolo) – a quebra de uma expectativa, seja de zelo, de ação ou de perícia.
• Graus de culpa
Nos termos do artigo 944, parágrafo único, do Código Civil (BRASIL, 2002), 
a gravidade da culpa deverá ser considerada pelo magistrado no momento de 
defi nir o quantum indenizatório. Como explica Miguel Kfouri Neto (2006, p. 17):
Tradicionalmente, tem-se a culpa levíssima, leve e grave. 
Poderá o juiz, agora, reduzir equitativamente a indenização, 
mediante a aferição do grau de culpa, cuja gravidade 
infl uenciará a quantifi cação - em cotejo com a extensão do 
prejuízo. 
Incumbirá ao órgão julgador averiguar a culpa, para determinar 
a obrigação de indenizar; em seguida, defi nir-lhe a graduação, 
para a correta valoração pecuniária do ressarcimento.
Isso quer dizer que o juiz deverá – além de analisar a gravidade do fato em 
si e suas consequências, a eventual participação culposa do ofendido (culpa 
concorrente), a condição econômica do ofensor e as condições pessoais da 
vítima – atribuir o grau da culpa do agente e antepará-lo à extensão do dano na 
hora de fi xar o valor da indenização.
Sílvio de Salvo Venosa (2003, p. 25) diferencia os três graus de culpa 
comumente admitidos pela doutrina – grave, leve e levíssima:
A culpa grave é a que se manifesta de forma grosseira, e, como 
tal, se aproxima do dolo. Nesta se inclui, também, a chamada 
culpa consciente, quando o agente assume o risco de que o 
evento danoso e previsível não ocorrerá. A culpa leve é a que 
se caracteriza pela infração a um dever de conduta relativa 
ao homem médio, ao bom pai de família. São situações nas 
quais, em tese, o homem comum não transgrediria o dever de 
conduta. A culpa levíssima é constatada pela falta de atenção 
extraordinária, que somente uma pessoa muito atenta ou muito 
perita, dotada de conhecimento especial para o caso concreto, 
poderia ter.
47
ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL Capítulo 2 
Logo, ainda que a indenização deva ser medida pela extensão do dano

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