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( • CAPITULO IV ~UCLIDES SEM LÁGRIMAS ou 'Q Q_ue se F_oâe Fazer com a Geometria 'Nos cat)ífulos anteriores, esforçamo-nos por fazer uma .recóns· tifitlção, em parte imaginada, do mundo de antanho, o mundo em que os homens começavam apenas a balbuciar a linguagem das grandezas. Até cêrca de 2000 a. C., muito pouco se fêz no sentido de inventar princípios gerais relativos à contagem e me.diçiio das coisas. A lite· ratura matemática ainda não existia. As realizações arquitetônicas de nossos antepassados impressionam-nos bem mais que as poucas tabuletas de aritmética comercial desenterradas em Nippur, ou o papiro que encerra hHlo quanto conhecemos :acêrca da sabedoria sacerdotal da civilização do Nilo. A grande pirâmide de Queops foi o grande monumento que êles ergueram àquelas momentosas verdades sôbrc triângulos, que transmitiam de bôca em bôca, sacerdotes a noviço~. mestres rle obras a aprendizes , escravos artífices aos seus filhos. Por- tentoso monumento! Talvez ainda exista, no dia em que deixarmos de aprender como os gregos construíram a sua grande pirâmide de lógica, não menos rígida e inabalável!... Não resta a menor dúvida que ns mquitctos dos templos e os coletores de impostos já haviam adquirida a prEltica de traçar modelos na areia para orientá-los na arte de medir sombras e dimensões, muito antes de aparecerem os primeiros homens que colecionaram as figuras traçadas e tentaram formular os princí- pios fundamentais das artes construtivas. O traçado na areia con- tinuou a ser, por séculos e séculos, o único método resolutivo do :; problemas geométricos. Arquimedes, o maior matemático da anti- guidade, estava a fazer desenhos na areia, quando foi massacrado pela> legiões romanas. Os métodos pelos quais os homens fizeram as primeiras construções geométricas, com o auxílio de cordas e cavilhas, tio de prumo e nivel d'água, são bem mais notáveis que os livros sôbrc êles escritos. Aos chineses cabe a glória de terem sido os primeiros a lançar as bases ele uma literatura de grandezas. A medida que o tempo passa, mais 11os capacitamos do quanto lhes devemos. A ilustração que reprocluzi!l~os na Fig. 19, basta para justificar a nosr-a crença de <Jue, ' i ·; I ·~ l . EUCLIDES SEM LÁGRIMAS 121 . meio milênio antes dos gregos, êles lá haviam descobertd regras gerai' importantíssimas relativas às figuds. Também sôbre os números, descobriram muitas causas interessantes misturadas, porém, com bo1 dose de bobagens. Parec~ provável que já conhecessem as famílias nu- merais, tão importantes na moderna estatística. Lamentàvelmentc, apenas uma pequena parcela de seus conhecimentos chegou até nós. ú resto se perdeu. Como as duas bibliotecas de Alexandria, as primitivas bibliotecas chinesas foram incendiadas. Esta calamidade não foi obr& da guerra. O incêndio foi propositado, tal como a destruição da cultura alemã pelo chanceler Hitler. Ordenou-o um imperador que acreditava, como Bernard Shaw, que os homens haveriam de escreve! melhor se lessem um pouco ·menos. · A princípio os chineses gozavam de pelo menos uma vantagem sôbre as primeiras civilizações européias. Os sc'us o rganizadores d~ calendários constituíam uma casta cerimonial menos fechada. :Ries eram tipos mais leigos. Não sabemos porque os chineses não cumpri· ram as suas promessas mais antigas; potlcmos apenas conjeturar sõbre alguns dos seus obstáculos, Uma das razões, pode ter sido o fato da sua educação ter começado cedo demais. Além di sto, êles estavam carregados com uma complicada escrita de hicroglifos, imprópria para exprimir coisas simples de maneira simples. Por isso, êles llão foram adiante. Qs gregos que, possivelmente, aprenderam muito dêles, não tinham nem o obstáculo da casta sacerdotal, nem o de uma educação custosa. Enquanto os chineses escreviam seus primeiros livros de matemática, C' continente grego era invadido por certas tribos nômades provindas do norte. :Rsses invasores arianos eram originários de desoladas es- tepes, de raras noites estreladas. Não conheciam a arte de escrever. Ignoravam as artes da construção e do comércio. Não dispunham de pesos e medidas. Só o que sabiam fazer era assolar as costas da Asia Menor, onde fundaram pequeninos reinos, como a Lidia, insig- nificantes cidades-estados, como Mileto, bem no ext remo da grantl~ cadeia de portos comerciais fundados pelos maiores comerciantes c navegadores da antiguidade. Foi por intermédio dos fenícios-semitas que o homem nórdico contraiu a sua primeira divida para com os judeus. Dívida, esta, d!! aluno para professor. Com êles aprendeu a . ler, a escrever, a contar. Sua própria ignorância facilitou-lhe re· nunciar à complicada escrita pictórica .e aos ideogramas que embar- gavam o progresso das primitivas civilizações do Egito e da China. Lançou mão dos velhos símbolos, para representar a,s sonoridades de sua língua mais simples. Adotou um bom alfabeto, com que começou a compor frases claras e simples. Como não o esmagassem tradiçõe' de ~er.imoniais complicados, podia sondar os segredos sacerdotais com !=\lr!qsgl!l9.e, ~ll! :vez de 9 fa:zer · ~on~ ~eyer§nci!J., Ningu~~ !h e~ cns~ 1?.2 MARAVILHAS DA MATEMÁTICA nara que "no princípio era o Verbo". No princípio era o Caos. ·p;, ordem, fê-la êle, depois de se familiarizar com o caos. Não sabemos se êstes selvagens nórdicos que ocuparam o nor- deste mediterrâneo tinham olhos azuis e cabelos louros. Só sabemos r1ue nada, em absoluto, justifica a crença que as realizações científicas ela civiliza~ão grega eram fruto de seu equipamento racial. Os dois famosos funclàdores da geometria grega, Tales (640-549 a. C.) e Pitágoras ( 587-507 a. C.) eram -ambos de origem fenícia . A ciência e a matemática só penetraram no continente grego, quando êste já se encontra~ no fim de seu período de formação. Introdl)ziu-as na côrte de Péricles, Aspásia, sua amante, cidadã de Mileto, cidade do litoral da Ásia Menor. Mileto era a pátria de: Tales. Foi a convite da favorita que Anaxágoras transpôs o mar Jônio e pisou o continente grego. Pitágoras e Empédocles, os primeiros que estudaram o vácuo, viviam na Itália e na Sicília. Demócrito, o especulador do átomo, morava em Abclera, entre a Ási-a Menor e o continente grego. A cstrêla da ciência grega já se punha no horizonte, qua·ndo o culto da filosof ia começou. Grega nunca fôra, no sentido continental da pa- lavra. E a princípio, nem sequer o fôra no sentido racial. A origem tiriana de Pitágoras talvez explique os sinais evi- '1entes de influência chinesa encontrados em seus escritos, objeto do próximo capítulo. Pitágoras muito viajara pela Ásia. Nos dia~ de st1a mocidade, entrara em contato com a grande comunidade co- mercial, portão das rotas comerciais do interior asiático. Quanto a fales que viveu numa ilha ou numa comunidade costeira, sem castas viajado, conhecera o Egito; aplicara os pri~cípios que imaginara à me- dição da altura da Grande Pirâmide; predissera o eclipse ocorrido a 28 de maio de 585 a. C.; fizera experiências com o âmbar; foi o primeirn a observar as atrações magnéticas e estudara o Íman. Não cultiva\·a a matemática como instrumento de perfeição espiritual. Provàvel- mente ficaria muito surpreendido se lhe dissessem que ela poJia servir ~ara isto. A situação gc<Jgráfica valeu a êsses gregos jônios (como Tales que viveu numa ilha ou numa comunidade costeira, sem casta~ preexistentes de comissários eclesiásticos), uma grande vantagem sô- hre seus contemporâneos chineses. Bem a podemos vislumbrar num fr:~gnwnto do primeiro grande materialista sôbre o qual K-arl Marx escreveu a sua tese doutoral. Eis as palavras de Demócrito: "De todos os meus contemporâneos, fui o que mais viajou, o que mais conhecett a terra; visitei as regiões mais remotas, estudei os clima·s mais diversos, os mais variados países, ouvimais ge·nte. ~inguém me venceu em construções e demonstrações geométricas, uem mesmo os geÔI!_letras do Egito, entre os quais passei cinco longos anos". . . . EUCLIDES SEM LÁGRIMAS I l~J . ' r'"' Não é de admirar qüe Platão - para quem a geometria era um éXercício do intelecto desencarnado - desejasse ver incendiadas tôdas as obras de Demócrito. 'Eernard Shaw elogiou a sabeDoria do César Fascista que assistiu, sem pestanejar, ao incêndio da Biblioteca de j\Jexandria e à conseqüente destruição dos sessenta traraclos de De- mócrito e de tôdas as realizações astronômicas dos alexandrinos. O mesmo fogo destruiu, por certo, também, muita conversa-fiada inútil e prejudicial. Os males do intelectualismo grego, êstes, porém, so- breviveram à destruição das chamas. Os bens, ficaram nas cinzas. 'As únicas realizações substanciais que nos restaram foram a ciência corrompida de Aristóteles e a geometria platônica, levada por Eucli- des para Alex-andria. Foi êste Euclides quem declarou, certo dia, não haver est rada real para a matemátic-a. Disse-o a um rei, mas é provável que também o dissesse a seus alunos. E quando um dêles lhe perguntou para que servia a geometria, o mestre mandou um escravo dar-lhe uma moeda a fim de que êle tivesse uma compensação pelo seu trabalho. Não obstante a opinião de Euclides, a ativa sociedade cosmopolita ele Alexandria não tardou a encontrar uma utilidade para a sua geometria. Outro tanto faremo~ nós. AS LIMITAÇOES DE EUCLIDES Nossa geração presenciou uma verdadeira revol11ção no conceito clássico doa geometria. Hoje, associâmo-la principalmente aos nomes de Ernst Ma c h e Einstein. Já sabemos que a geometria de Euclides não é a que melhor nos faculta a medição do espaço. Isto não quer dizer que não seja, ainda, um conhecimento útil. Sempre o foi e ainda o é. As novas descobertas mostraram apen-as que ela tem suas limitações. Julgo conveniente mencionar, desde logo, algumas, ao invés de relegá-las tôdas para o fim do livro. Para muitos propósitos, a geometria grega ainda é o melhor instrumento à nossa disposição. Qualquer balança de venda é de mais serventia, no lar, que uma ba- lança química. A própria delicadeza desta, que lhe permite estimar as dimensões do átomo, torna-a inconveniente para usos domésticos. Pois bem, aprendemos, ainda hoje, a geometria de E11clides, para usos domésticos. A geometria dos seus mestres jônios fundava-se, origi- nàriamente, na observação de como os homens construíam casas e loteavam a terra. Ela cessa de ser útii1, quando se trata de determi- nar a posiçãl) da mais distante nebulosa ila constelação da Ursa Maior. Essas nebulosas distam de nós mais de trezentos anos luz. A luz, com sua velocidade de dezoito milhões de quilômetros por minuto, leva t~ez,eptos !l!lOS para percorrer q espaço que delas nos se).lara. i . • . ) / 124 MARAVILHAS DA MATEMÁTICA Não nos surpreenderão essas limitações, se levarmos em c<Jnta o fato de ser a geometria grega circunscrita pelo seu ambiente social. Já vimos que a aritmética grega não lograva descobrir o resultado da corrida de Aquiles e da tartaruga. A geometria grega tampouco. Originária da prática de desenhar na areia e de construir .coisas per- manentes, tais como edifícios e navios, esta geometria não levava em. consideração a existência do tempo. Suas linhas, ângulos e figuras, uam todos fixos. Porisso, quando recorremos a suas figuras imu- táveis para orientar-nos na medição de um mundo eminentemente mutável, temos de recolher, às pressas, aquilo que os gregos expur- garam das figuras. Nada há de tão sólido que possa permanecer exatamente tal corno é. Quando afirmamos que a superfície do Brasil é de 8 500 000 quilômetros quadrados, admitimos que suas fronteiras não se alterarão, pelo menos durante o período em que pretendemos usar esta in formação, como também que o volume da terra permaneça inalterável. Na realidade, o mundo encolhe à mé· dida que vai esfriando. Seu encolhimento é sensível num período de várias eras geológicas. .,. I I I I I I : Area 200x200 g unidades quadradas. 1:<1 I I I I I I I "' Perímetro - 800 unidad•s ...... -.-_-__ -_-_-__ ....,z'"'o'"'o~-------_-_ ----.-~ Area- 100x300 unidades quadradas Perímetro- 800 unidade' ': ... :-.-__ -_-_-__ -_-__ -_-__ -_-_-:-3~0~0------_-__ -_-_-__ -_-_-__ -.J .. Fir. 28 - A RELATIVIDADE DO TAMANHO E A S!I!RVENTIA SOOIAL. + I I 6 o I I + Quando afirmamos que determinada cabca tem um certo volume, referimo-nos a u'a medida suposta invariável entre a ocasião de sua manufatura e a de sua destruição. Como o fator tempo não interessa na utilização particular que daremos a esta informação, ou desprezâ- mo-Io, ou isolàmo-lo do es.P"lço. Quando asseveramos que determi- nado terreno tem tal superfície (ou área), não levamos em considera- ção o fato de a terra encolher-se p<Jr resfriamento. Nem mesmo as pessoas interessadas na exploração do subsolo, por bem saberem que não se pode cavar até o centro da terra, muito menos interferir com os antípodas, levam em conta a profundidade dos terrenos que adqui- rem. Os primeiros homens que procuraram medir áreas não estavam inte.ressados em explorar o subsolo; sim em saber quantos grãQs po- denam semear em seus campos, quantos poderiam colhêr, ou quantas EUCLIDES SEM LÁGRIMAS UI ovelhas e reses pôr a pastar. Foi apenas quando tiveram de construir cercados para proteger seus rebanhos, vinhas e templos - onde propiciavam os deuses, senhores da chuva, das estações, do sol - ~ue de.P"lraram com um novo problema. A Figura 28 mostra como um cercado do . mesmo tamanho pode circunscrever dois terrenos ou lotes de áreas diferentes. No primeiro, o número de grãos que se podem semear, ou o número de ovelhas que se podem tosquiar, é um têrço maior que nd segundo. Quando medimos comprimentos, des- prezamos esta particularidade, que em nada afeta a construção do cercado. O comprimento é a dimensão que interessa ao construtor de muros. A área, a dimensão que interessa aos semeadores. O volume, a dimensão que interessa aos que trocam leite e vinho. O inte- lectual grego não percebia a relatividade que existia entre a dimensão t a utilização social. . Os anatomistas das figuras criam haver chegado ao extremo limite da dissecação, quando isolaram a linha, o ângulo e o ponto (isto é, a posição de onde partem as linhas). Eram êstes os elementos imutáveis, exteriores ao tempo, e pois, eternos. A partir desta base inabalável, bem podia a razão alçar seu vôo e conquistar. aôzinha, o resto da verdade. A linha era o comprimento, na sua pureza e simplicidade. O ponto, a posição, na sua pureza e simpli- cidade. Bem outra é nossa atitude. Para nós - conforme observou Oscar Wilde - nunca a verdade é simples, e raramente pura. Os gregos estudavam a anatomia dos objetos mortos. A anatomia sur- giu antes que o homem pudesse c<Jnceber a fisi<Jiogia do corpo vivo, móvel, mutável. E' ela que nos ensina a localização dos órgãos do corpo, e que nos diz como orientar-nos dentro dêste corpo. A geo· metria das figuras planas ensina-nos a orientar-nos por entre as fi- guras planas. A anatomia expõe a natureza do cadáver dissecando-o. A geometria expõe a natureza das figuras planas dissecando-as. Nem todos os liv.ros de anatomia partem do mesmo ponto. Tampouco o~ de ~eometr!a. Observa·ndo-.s~ como os órgãos das figuras planas - hnhas, angulos e superf1c1es - são reunidos entre si, p<Jdemos começar de onde nos aprouver, isto é, de acôrdo com o que admiti- mos como es.tabelecido. Não existem verdades eternas, das quais devemos part1r. As regras enunciadas sôbre as figuras planas, co- mo sô?re as figura.s sólidas, são tôdas verdades aproximadas, quan- do aplicadas à med1ção de um mundo em mutação. São tôdas exce- lentesmodelos para orientar-nos nas obras de construção e de di- visão da terra. Até certo ponto, prestam-se muito bem para a d~scrição do macrocosmo das estrêlas. Demócrito não perdeu os cmco anos que passou entre os egípcios, observando a sua maneira de construir e de dividir o ~erreno, para transmitir os princípios a seus concidadãos. 126 MARAVILHAS DA MATEMÁTICA A geometria, objeto dêste capítulo, é a que trata das figuras que se podem traçar com régua e compasso, seguncjo a prescrição platô- nica . Assim sendo, a perfeita igualdade encontrada entre os números inteiros, machos ou fêmeas, da aritmética grega, não tem cabimento. Os ângulos, áreas e linhas que aqui figuram, só podem ser represen- tados por números esticáveis, isto é, pelos números que se aplicam a medições reais. A expressão AB = CD não significa "a linha AB é exatamente igual à linha CD", pois que não se podem fazer linha~ exat<nnente iguais a régua e a compasso. Sua tradução correta é a seguinte: "Medi AB para obterdes o comprimento de CD com a precisão necessária". Os gregos não estavam acostumados a presenciar variações radi- cais e rápidas de costumes. Contavam o tempo com relógios solare~ ~ ampulhetas. Não possuíam nenhum aparelho físico, capaz de medir mtervalos de tempo in feri ores àquele que leva um ôvo para cozinhar . Era, pois , natural que julgassem a medição do espaço completamente independente da medição do tempo. A arquitetura, a agrimensura e o comércio, haviam secularizado o espaço nos países que os mate- máticos gregos visitavam, mas o registro do tempo ainda era, em grande parte, prerrogativa da casta sacerdotal. E a geometria grega .não se ressentia desta usurpação. O próprio Arquimedes, que apren· dera geometria no Egito e aplicava-a à construção de rodas e alavan- cas, cria que a reta é necessàriamente reta por ser o caminho m:üs curto entre dois pontos . Isto, que é verdade para a mor parte das finalidades práticas, não é uma verdade inevitável, eterna. E por que não o é, diz-nos o biologista. Há uma parte de nosso ouvido interno sensível à influência da gravidade. Graças a ela o gato cai sem· pre, exatame·nte, sôbre as quatro patas e o peixe se mantém de barriga para baixo. Se agitarmos o fluído que enche o nosso ouvido interno - como quando giramos ràpidamente o corpo - ficaremos tontos, sem saber se o teto é ch!l.o ou se o chão é teto. O camarã~;~ possui um órgão idêntico. Se o enchormos de limalha de aço, o camarão obede- cerá à atração de um magneto, ao invés de à gravidade. Se as linhas do campo magnético forem curvas, jamais o camarão poderá nadar segundo uma reta. Para êle, o caminho mais curto entre dois pontos será uma curva. As mais simples estimativas sôbre o comprimento de uma linha, envolvem movimentação dos músculos dos olhos. De· pendem, pois, do tempo e elo espaço. Tôdas as ilusões óticas sôbre distâncias provém do fato de elas nos obrigarem a forçar os olhos a fazer um movimento a que não estão afeitos. No mundo real da biologia, tamanho e movimento são entidades inseparáveis. Ao abandono do fator tempo deve o método de Euclides uma. outra limit>ação, a que só seremos sensíveis quando estudarmos, como os. ár~bes, a compor sentenças em linguagem matemática. Na época EUCLIDES SEM LAGRIMAS m em que êstes usavam figuras planas, como os gregos, para reproduzir em escala os objetos de seus problemas de cálculo, não tardaram a observar uma curiosa discrepância. Os modelos que traçavam só eram capazes de dar urna resposta a cada pergunta. Mas há pergun- tas que admitem várias respostas e os árabes conheciam suficiente- mente os números para saber que, em muitos casos, dois e mais clêles podem ser respostas igualmente satisfatórias a determinadas perguntas. A discrepância observada era devida a uma razão muito simples: não terem as figuras de Euclides, posição determinada. Com efeito, a geometria grega considerava idênticas, coisas evidentemente diversas . Não desprezava apenas o tempo, também a posição. Foi só quando a determinação do ponto de um navio no mar inspirou uma nova geometria, que o fator tempo se incorporou definitivamente à ciência geométrica. Mostra-nos a Fig. 26 que Aquiles só · alcançou a tarta- ruga quando êste fator "tempo" entrou nas cogitações geométricas. O estudo desta limitação leva-nos às primeiras definições usadas na dissecação das figuras planas, isto é, às instruções que nos ensinam oomo deitar o cadáver e aplicar o escalpêlo. A geometria de Eu- Enfado .~ -~ :»>---·--··-···---~ Dcsnslre Flr. 29 !IM OIMA. - Dolo trilnculOI podem ••• eemelhont" quonto A Iom• ( l•to 6, ler- 01 trh lnguloo eqnlvolenlea) e, no enlanto, dlverooo qnonto ao t•m•nho. EM BAIXO. - Doh triAnruloa podem t-er a. mesm& fo11na e o mo!mo t:uu&ohoj alo o~n~, IÓ t&rlo completamente equir.lon\u .., livorom a moomo podçll.o, llll MARAVILHAS DA :MATEMATICA clides admitia que as figuras podiam ser análog-as quanto à forma, ao tamanho ou a ambos. Quando análogas em forma e tamanho, Euclides as considerava completamente iguais. Figuras limitadas por retas são análogas quanto à forma, ou semelhantes (observe-se o uso desta palavra) quando têm os ângulos equivalentes. São análogas em tamanho quando, tanto seus lados como seus ângulos, são equi- valentes e encerram superfícies equivalentes. Dois triângulos Podem encerrar áreas equivalentes, sem que por isso tenham os lados e ân- gulos equivalentes. A Fig. 29 mostra-nos que, se quisermos usar as figuras comQ modelos do mundo real, devemos atentar para outra característica importante, além do tamanho e da forma. · Não perderemos tempo em discutir a utilidade das tentativas eu- clideanas de demonstrar quando dois triângulos têm o mesmo tamanho. Euclides começou a sua dissecação pelo ponto mais difícil. O pro- cedimento mais lógico é principiar por inquirir de que dados preci- samos para . traçar um triângulo, uma vez decidida a sua posição. Mesmo f!artmdo de Un:t !ll.!l9. !ixo _(Fig. 30) 1 ~ possíy:e! traçai: gu.at!o COMO BK TRACA. UM TRIANGULO (o) Oonheeem·Jo os eomprimentoa doa trila Ladoo. ,.) Conhe.·.•m·IO OI comprimenl<>a do doi• lodos • o tamanho do an~to e-. preendtdo entre êlo1. .. .. (•) Conhecem-se _o comprimento tle um lado e os tamanhoa doa dois &nruJ01 q,u " ~~lroa do11 Jadoo formam com o Lado oonhocldo, ............. --\~f - ------------------ C '41 I, --~·-~ . ·-·--- ti ~~:~:~---:~~~-----------------·- B J ~~ -·------------------Lt-h!:::r:~!:!" ---- ~~~---===~~----~~~~~~----~~~~~ --=-~ - --=- -=---- Uli! DAS PRIMlllinAS MANEinAS Dlll UTILIZAR O O.A.SO (~), ATRIBUJDA A '!'ALES Fi~. 30 EUCLIDES SEM LÁGRIMAS 12A --------~------------------------------------~ . triângulos, a menos que nos informem qual a posição desejada. 'A Fig. 30(a) apresenta dois dêsses triângulos PQ.Ssíveis, de que os outros dois não são mais que inversões. A anatomia doas figuras planas, segundo a geometria grega, é útil como modêlo do mundo real, porque revela a equivalência de ângulos, linhas e superfícies fàcilmente m.e- díveis, com ângulos, linhas e superfícies, difíceis de medir. As verdades aproximadas que apresenta, não são mais que processos de se medir quantidades insuscetíveis de medição direta. Para descobrir essas verdades aproximadas, o grego se valia de verdadeiros truques de dissecação, tais como dividir a figura em triângulos, reconhecer quais os completamente iguais, e deduzir, dêsses, quais as -linhas e ângulos equivalentes. Pelas razõ:es apresC'!ltadas "na página 77, é impossível descobrir quais os elementos exatamente iguais das figuras traçadas a régua e compasso. Contornamos êste obstáculo esquecendo a frase "completamente iguais, ou iguais em todos os respeitos", e passaremos a classificar os triângulos em semelhantes (angulos iguais) e não- semelhantes, equivalentes em área ounão equivalentes em área, equi- valentes em tamanho (lados, ângulos e áreas equivalentes) e não equivalentes em tamanho. Para serem iguais em todos os respeitos, os triângulos precisam de ter outra característica comum: a posição. Dois triângulos equivalentes quanto à forma, à área, ao tamanho e à posição, são perfeitamente idênticos, isto é, se con fundem. Triân- gulos equivalentes em tamanho, distintos e diversos em posição, po- dem diferir de duas maneiras, conforme sejam ou não invertidos, um em relação ao outro, como reflexos num espelho. O contôrno de dois triângulos que sejam imagens refletidas, I»' dem coincidir, se êlcs forem de vidro ou de tecido estampado, com o mesmo padrão, de ambos os lados. Se porém, o padrão fôr diferente nos dois lados do tecido, ou se o vidro fôr espelhado num loado só, os contôrnos não mais coincidirão. Uma vez decidida a posição do triângulo, fácil será traçá-lo, desde que se tenha uma das três informações já indicadas (Fig. 30). A primeira informação é o comprimento dos três lados. Conhecidos os t~ês !ados de um triângulo, para construí-lo, começa-se por traçar o pnmetro, depois, com a abertura do compasso igual ao comprimento de cada um dos outros, traçam-se dois arcos de círculo em tôrnú das extremidades do primeiro lado traçado. A intersecção dos dois arcos de círculo é a única extremidade possível dos outros dois lados. Se a soma dos dois lados fôr menor que o primeiro, os dois arcos não se cortarão e o triângulo será impossível. 1hte método se baseia no fato de ser a distância de qualquer ponto de uma circunferência a seu centro, igual à distância de qualquer outro ponto ao centro comum. Esta definição da circunferência outra coisa não é senão a exposição de CQWO, !J.pr~ncípio, o homem 'traçava círculos 11a' areia - 130 MARAVILHAS DA MATEMáTICA com duas hastes de madeira (uma das quais era fixada), - unidas por um pedaço de corda (Fig. 18) . A segunda in formação necessária ao traçado de um triângulo ~ a do comprimento de dois lados e do ângulo por êles formado. Co- nhecidos êstes dados, fácil é traçar o triângulo, sendo para isto bas- tante unir por uma reta a extremidade dos dois lados conhecidos . Se o ângulo fôr maior que dois ângulos retos, não será possível construir um triângulo que o contenha como elemento seu. A terceira in formação que possibilita o traçado de um triângulo é o conhecimento de um dos lados e dos dois ângulos a êle adjacentes. O triângulo será possível se a soma dos dois ângulos conhecidos não exceder dois retos . Traçados os ângulos, será o bastante prolongar as retas que os limitam até se encontrarem. A Fig. 30 mostra como êste processo serviu, desde longa data, para a determinação gráfica da distância de um navio a um ponto da c.osta. · Vistos os três processos de se construir um triângulo a partir de tres espécie ele informações, podemos enunciar três regras que ex· põem as conexões existentes entre os elementos de uma figura, uma vez . dissecada em triângulos: R egra N .• 1 dos Trin11g11los. - Triângulos de lados equivalentea, ·são equivalentes em tamanho. Regra N .0 2 dos TrilÍ11gulos . - Dois triângulos são equivalentes em tamanho se, em um dêles, dois lados e o ângulo com- preendido entre êles, forem equivalentes aos do outro triân- gulo. Regra N.• 3 dos Triângulos. - Dois triângulos serão equiva- lentes em tamanho se um lado e os dois ângulos adjacentes do primeiro forem equivalentes a um lado e aos dois ângulos adjacentes do segundo. 'A geometria euclideana tem uma terceira limitação que a toma dcsnecessàriamente complicada. O geômetra jônio Tales demonstrou que a relação existente entre os lados correspondentes de dois triân- gulos semelhantes é sempre a mesma, independente do compri· mento dêsses lados. Em capítulo posterior veremos como êste teorema permitiu a determinação da altura da Grande Pirâmide. Não nos deve surpreender, aliás , o fato de ter sido esta verdade descoberta em época tão remota. Muito embora ainda não a houvesse formulado, o homem de antanho já -agia como se a conhecesse, sempre que usava a geometria para fazer figuras em escala. Reconhecida a veracidade do teorema, não é di ficil deduzir de seu enunciado corolários de grnnde utilidade. A razão principal da complexidade de Euclides é tei: ' co!~ca~() as r_azões no f!m ~e seu ljyro, il,~ i!lY~S ~e !lº pri!lcípio, lllUCLIDES SEM LAGRIMAS 131 A causa dêste retardamento é fácil de compreender. Euclides tinha os movimentos embaraçados pela · cultura social em que vivia. O mun~~ dos g~eg.os não era um mundo de juros, consumos de gasolina, e analtses qmm1cas. As razões não eram entidades familiares. Re- presentavam um processo de divisão comumente efetuado num apa- relho muito rígido, o ábaco. Os alunos de Euclides não podiam compreendê-las como nós. Sua dificuldade é, aliás, bem desculpável. Suponha-se que saibamos que o consumo de gasolina de um automóvel é de um litro por 8 qui- lômetros. Para obter o número de quilômetros que se pod-em percorrer sem reabastecimento, basta.multiplicar o número de litros existentes no tanque, por 8. Para obter o número de litros necessários a uma viagem, basta dividir o número de quilômetros que se pretende per- correr por 8. Ambos os processos são extremamente fáceis, em nossa aritmética. Mas a aritmética do ábaco era diferente. A multiplica- ção de um número próprio por outro dá sempre um resultado exato, obtível por adições reiteradas (Fig. 6). Dividir um número próprio por outro equivale a achar quantas vêzes se pode tirar um do outro. No efetuar desta operação, sobravam, em geral, algumas contas no Abaco. Raramente se encontrava uma resposta exata. Por isso a divisão era uma operação muito mais difícil de se compreender na- queles tempos, em que os homens julgavam que um número, para ser ~ai, precisava ser próprio. O próprio Euclides viu-se obrigado a consagrar todo um livro (o Livro V) , à ilustração daquelas regras tão simples de proporção que, no capítulo precedente, condensamos na chamada regra diagonal. Se desenhardes dois triângulos retân- I I I I I ' Alrura de 50 m~rros I I I ' I I I 25 <---·--· 75 melros-----·-,. ~---··---···-·--------\5O melros·-···--···----~---~ Plano do horizonre (base l . . E'J,. 81. - DECLIVIDADE DE UM POR TRts. Bo õ lnrulo formado pela utroda eom o nlvol do horl<On\o 6 A, t..nrenl<l do A c:: .:. 8 .. A flrura 6 também um hlero~ll!o da dlvlsllo por B. Para ulilid.·l• eomo hl, muque o ndmero de unldadea a dl;idlr a6bre a lioh·ba•• o moça a porpoodicular. 'I' elaro que a perpondicukr valorl - do nlor Npruentado na bau, • ) I ·-' ' • \ ~2 MARAVILHAS !DA MATEMÁTICA gulas, o primeiro com 4 centímetros de base por 3 de altura, o segtmdo com 8 centímetros por 6 de altura e se os comparardes, percebereis, sem dificuldade, que dois triângulos com lados correspondentes na mesma razão, não é fenômeno menos compreensível que o de uma motocicleta ter o mesmo consumo de gasol!na, 11a Sexta-~~i!a ~ Paixão e num dia de Carnaval. Uma das relações existentes entre os lados de um triângulo 'é, na vida moderna, quantidade mui familiar. Encontrâmo-la escrita à margem das vias férreas e das estradas de rodagem nas imediações <las rampas perigosas. Uma declividade de 1 por 10 quer dizer que se desenhardes em escala, um triângulo retângulo, um lado re- presentando o declive da estrada ou da montanha (hipotenusa), outro representando o nível do horizonte (base), ~ Q ~~!~Ç!~g, perpe!!~9J!!I>r a altura é um décimo da base, ou: · · altura 1 base 10 Em matemática, costuma-se chamar esta razllo, tangente (to ân- gulo (A) formado pelo declive com o plano do horizonte, e repre- sentá-la pel~ abreviatura tg A, que significa: "Procurai o número correspondente a A na tábua das tangentes"(1). Há dois ramos da matemática particularmente interessados em declividades. 'A tri· gonometria as tabula, de modo que é sempre possível calcular o valor de uma distância difícil ou impossível de medir diretamente (como, por exemplo, a distância da terra à lua) desde que se possa medir o ângulo ~ e alguma outra distância (por exemplo, a distância entre dms pontos da terra). Isto equivale a utilizar o conhecimento d.o consumo de gasolina de um automóvel para calcular quantos qui- lometros se pode percorrer sem reabastecimento, ou de qu'3.1ltOS litros se precisa para percorrer determinada distância, . · . . .O ramo d~ mate_m.ática denominado cálculo diferencial, especia- hza-se em med1r declividades que vergam; é comparável a uma arit- mética especializada em calcular distâncias, a partir do consumo de gasolina de um automóvel que tem o tanque :vasàndo. Se Euclides fizesse uma idéia da importância que as razões assumiriam no futuro de certo faria mais por inseri-las - !=<)mo .fazemos. ,......, nas primei~ págin~ Qe se\! C!l~SQ ~e geo!J1e~r!a. - ---- (1) Se consultarmos uma tAbua de linhas trlgonomêtrlcaa naturnla, veremos que a tangente de 6'7' ê quase en.tamente 0,1, Assim a ramp~ de 1 po~ 10, co~responde a um~ decllyl~a!!e !!~ §.'1'1 .. · · · · ' -· - .d EUCLIDES SEM LAGRIMAS 133 fo.TODO DE EUCLIDES Se eu fôsse o Doutor Watson, e Sherlock Holmes, como era seu costume, me dissesse: "~ ccê conhece os meus métodos, Watson", retrucaria, incontinenti: - "Ignoro-os, meu senhor. Faça o favor de mos explicar". Euclides, como ·vimos, valia-se de um truque para descobrir as conexões existentes entre os vários órgãos (linhas, ângu- los e superfícies) das figuras mortas: dissecava-as em triângulos. Co- nhecidos um ou dois lados de cada, não precisava veri ficar a equiva- lência dos ângulos para declarar a equivalência dos triângulos. O grau pastoril, baseado no calendário das estações, não tem o menor 'r,J.lor para o reconhecimento da equivalência dos ângulos. Os geô- metras das cidades-estados usavam, para .comparar o tamanho dos ângulos, o chamado ângulo urbano dos construtores de templos. ( Fig. ~2): A 4e.HJ1ÍS~Q de ângulo reto proposta por Euclides equivale a Nível de bô/ha fio de prumo Horizonle l'lr. 82. - OOMO BE APRENDE A SOMAR !NGUL09, dizer que o espaço compreendido entre o fio de prumo e o nível do ho- rizonte é o mesmo em qualquer direção. Não é preciso passar cinco anos entre os sábios do Egito para descobrir esta verdade. Dois ângul-os perfazem um ângulo reto (900) se um representa a inclinação de uma estaca oblíqua sôbre o horizonte, e o outro a inclinação da mesma estaca em relação a um fio de prumo. Se estudardes as legendas da Fig. 33, pouca dificuldade tereis em apreender as duas regras que a geometria aplica ao reconhecimento da equivalência dos ângulos. Ei-las: Regra N.• 1 dos A11gulos. - Quando duas retas ·se encontram sôbre o mesmo ponto de uma terceira, a soma dos três ân- gulos formados é igual a dois retos, ou 180>. '~egra N.• 2 dos A1tgulos. - Quando duas retas se c;ortam, os ângulos o~ostos pelo y~rtice são iguais. MARAVILHAS DA MATEMÁTICA Duas outras regras aplicáveis ao reconhecimento da equivalência de dois ângulos, evocam ao espírito uma quarta limitação da geometria de Euclides. Euclides definia as paralelas como retas que, por mais que se prolonguem, jamais se encontrarão. Esta definição, depois ele conduzir-nos ao sétimo céu, abandona-nos, como Platão, no espaço. Porque a verdade é que não conhecemos nenhuma superfície tão plana que nos permita prolongar indefinidamente duas linhas, conservan- do -as retas. Nossos desenhos são feitos em pedaços tão reduzidos da terra que, em comparação com o restante, nos parecem realmente planos. A moderna astronomia ensina-nos que não . seriam as para- lelas euclideanas o gênero de linhas capazes de alcançar as mais remotas estrêlas, se êste emprêgo lhes déssemos. Muito mais lógico é começar por itHluirir como se pode reconhecer quando duas linhas são paralelas. Uma das maneiras de se fazer êste reconhecimento é fixar que duas vigas são paralelas , quando igualmente inclinadas ~ôbre uma te rceira em que ambas se apóiam, ou, em linguagem técnica, quando os ângulos con:espondentes são equivalentes (Fig. 33). :Voltando à Fig. 12 (I) REGRA N.• 1 DOS ANGUJ ·OB. O Anrulo do melo 6 90• -o+ UO•- • ou 180° -a- c. Os tt·h &nrulo• junto& perfazem (180'- c- •> + " + c = 180° (11) REGRA N.• 2 DOS ANGUL09, .A. IIJuro foi deunh•4• duu Yh .. l' <:omp&rando·as TemM que: · 180°- a = 180°- c ,' , a = c. P:s lngnloe a e c l&o chamado• &a .. • iuloo opoo\oo pelo y611loo. (i i i) (111) AS DUAS REGRAS DAS PARALELAS. (o) Vorlflt11ndo o poralcllomo do duu vl,oo. !bl Moolrando quaio oo lnrulo• equivalent.eo, qulaquer quó tolam tu&l poaloen. Fie. sa EUCLIDES SEM LlGRIM~B 135 . . \ e comparando-a com a Fig. 33, vereis que êste é o princípio em que se baseia a utilização do astrolábio, na medição do ângulo que uma colina ou uma estréia fazem com o horizonte. A REGRA N .• 2 DOS ÂN- GULOS in forma-nos que também os ângulos alternos inten1os (a e c na Fig. 33) são equivalentes, o que nos dá duas ·novas regras sôbre ~ngulos equivalentes: Regra N .• 1 do Paralelismo. - Quando uma reta corta duas paralelas, os ângulos correspondc11les que forma são equi- valentes. Reg'T'a N .• 2 do Paralelismo. - Quando uma reta corta duas paralelas, forma ângulos altcrnos-intemos equivalentes. Quanto à equivalência de duas linhas - evidente qua ndo se trata de lados correspondentes de triângulos equivalentes, ou de la- dos do mesmo quadrado, ou de lados equivalentes de um triângulo isósceles - há u'a maneira de descobri-la, já usada neste livro. Uma segu·nda regra, aliás, existe, que nem mencionaríamos, se não nos aju- das~ a safar-nos de uma grande dificuldade. Para verificar a equi- valência de dois triângulos, é indispensável reconhecer ao menos um lado equivalente. Se dissecamos uma figura, em que somos incapazes de reconhecer um lado equivalente sequer, cumpre-nos desmembrá-la em dois triângulos, por meio de uma reta qualquer. Os dois triângulos for- mados terão necessàriamente um lado em comum, o que quer dizer que um dos lados do primeiro triângulo será equivalente a um dos lados do sugundo. ' Euclides usava um terceiro truque, para nós desnecessário. Po- demos contr.ntar-nos com as duas regras que daremos a seguir. A que um dos lados do primeiro triângulo será equivalente a um dos lados do segundo. Regra N .• 1 das Retas. - Duas retas são equivalentes, quando raios do mesmo círculo. Regro N .• 2 das Retas. - Se unirdes por uma reta dois dos vértices de uma figura, dividi-la-eis em 2 figuras tendo um lado comum: a reta. que traçastes. Haverá, assim, ao menos um lado da primeira figura, equivalente a um lado da se- gunda. Para compldar o nosso estu(lo sôbre a dissecação, só nos ·falta saber dissecar o círculo. O círculo pode ser dissecado, ou em setores '(o que se faz traçando-se os raios), ou em segmet~los circulares (o que se faz unindo-se por uma reta dois pontos da circunferên- cia). A face curva dos setores e segmentos circulares chama-se arco, Uma reta que, partindo de um ponto da circunferênc\a; passa ( 186 MARAVILHAS DA MATEMÁTICA pelo centro do círculo_ e vai terminar no outro extremo da drcunferên· cia, chama-se díâm~tro; sua propriedade é dividir o círculo em duas partes iguais, os semi-círculos. Até agora, ainda não falamos sôbre o retângulo. Nãd obstante, ~ um elemento imprescindível na dissecação das figuras. Para traçá-lo, é suficiente saber que é uma figura fechada, limitada por quatro retas paralelas duas a duas, e que possui um ângulo reto. · A Regra N.• 1 do Paralelismo mostra-nos, porém, que, nos quadriláteros desta natureza, se:Uill ângu!o ~ reto, os outros três ~a!llb~U1 Q ~er!o. {~J:· 34, (f)) . . -- -~ / Arco '\ r.P Paralela a o AH 1:1.3 .,"t> ~::!. o 3 t--- ª a\90° c 0 A Compnmento B dado (e) (b) (d) I ... F I :(rrr) aça llt-1!! : :para ter DC ! r·-, paralela a AB:--.. I d ' . -~· • . I C\ '(ii)""[]""(;;)·-- Meça AD · Faça lb-l'l perpen- para ter CB di cu lar a AB •, •, paralela ' b' • ·····-- a , . . ..L~.fi._Q l (i) Meça AB 1 . ! <'> I Fie. H. - ANATOMIA DO OIIÚJULO !I DO RBlTANGULO. LF.I AS NOTA. - Paro to-açar o• lados parel<loo utlllu a REGRA n • 1 DAS PARJ. 1~ 'r&~l.oomcçaodo por h16r 4 "" ~o•. P•rllodo dhtt modo, TOl'il qu~ lodo• 01 &o~;ulo; i EUCLIDES SEM LÃGRIMAS 131 . São muito poucas as regras geométricas que permitiram aos su- ~essores dos gregos inventar linguagens de grandezas mais úteis e· menos trabalhosas tais como a trigonometria e a álgebra. Para nós, 1erá suficiente uma dúzia delas. Dispo-las-emos em três classes, se- gundo o contexto social em que se originaram. Euclides denominava teorema a apresentação de uma regra acêrca de figuras. Segundo ·o. materialista Demócrito, chama-la-emas demonstração. Grupa-las-emcs. ;egundo o modo pelo qual foram primeiro usadas e reconhecidas, assim: Quatro demonstrações de agrimensura, quatro demonstrações de medi-- 'ões de sombras, com propósitos arquitetônicos e quatro demonstraçõe! óe astronomia, ou de ciência calendária. Antes, porém, cumpre apren- der a aplicar as três regras sôbre triângulos, para que possamos com- preender os três métodos de dissecação que essas demonstrações tn· ~olvem. Não .s~ P?de ser anatomista sem antes aprender a usar ~' mstrumentos Cirurg1cos. REGRAS DE DISSECAÇÃO (a) Como dissecar 11111 tmgulo ém 'dois ri11gulos equivalentes. ( Bissecção). ,Vimos, no Capítul_o 2, que êste problema surgiu quando os arqtutetos de templos tiveram de traçar o meridiano sôbre a areia p~ra que o templo ficasse ~orretamente orientado. Comparai a Fig: J:J (a) com a F1g. 9. A F1g. 35 mostra-nos como êles determinavam k li~~a Leste-Oest~, _in_dicadora _do poente no dia da grandt: festa da lertii1dade: o Equmocw da Pnmavera. Os dois triângulos BOP e- t\OP são eq~ivalentes porque os três lados do primeiro são equiva- lentes aos tres lados do segundo. Como os raios dos três círculos traçados em tôrno dos pontos A, B e O são equivalentes (pois gue desenhados Com o mesmo pedaço de corda), · · BP = AP} BO =AO OP = OP (Regra N. 0 1 das Relns) (Regra N. 0 2 das Retas) Assim, ~s dois triângulos BOP e AOP sendo equivalentes em ~manho, o angulo BOP formado por BO e OP é equivalente a<> a~gulo A_?P for,mado pelos lados correspondentes AO e OP. Na figura o angulo e de 85°, mas, para qualquer ângulo, o método seria D mesmo. , ( b) Com~ baixar mna perpendiwlar sôbre Ht.tla reta. _ O ~e~odo se ba~e1a ua observação do oscilar do fio de prumo. O fio md1ca a vertical quando na posição média de suas os~la_~>_\iíes. Na 138 MARAVILHAS DA MATEM1TICA figura 35 (b), P é o ponto de que se deseja baixar uma perpendicular sâbre a reta CD. Em primeiro lugar, traça-se um círculo qualquer,. com centro em P , que corte a reta CD nos pontos A e B. Depois, acha-se a bissetriz (isto é, faz-se a bissecção) do ângulo PAB me· diante o primeiro método de bis secção: traça-se, assim, PO. E' claro que os ângulos OPB e OPA s~:rão equivalentes. Comparando- os dois triângulos BOP e AOP vemos que: PA PB (Rrgra N.• 1 das Retas) PO PO (Regra N .' 2 das Retas) Angulo APO == Ângulo OPB p I )o ;x I / I , I C .__.A ................. _ ~·J Bolundo , do ponto P, nma porpend icullu. I / , I I I ;;""' I (o) Leftnt&ndo, do ponto P 41 uma Teta , uma perpendicular. Fi(. 35. - REGRAS DE BISSECÇ.lO. EUCLIDES SEM L!GRlMAS I 13, Segundo a Regra N.• 2 dos Triângulos, os dois triângulos são r.quivalentes em tamanho, portanto, o ângulo POB, formado por PO e OB, é equivalente ao ângulo POA formado pelos lados correspon- dentes PO e OA. Quando uma reta incide sôbre outra forman do dois ângulos equivalentes, êsses dois ângulos são necessàri amente retos . Assim sendo, PO é perpendicular a CD, isto é, forma com CD um ângulo reto. (c) Como levantar, de um ponto de uma reta, uma perpendi- cular a ela. - O problema consiste em achar o ponto de suspensão do fio de prumo que, em sua posição vertical, passaria pelo ponto do .-qual se quer levantar a perpendicular. Na • figura 35 (c) P é o ponto de onde se deseja levantar a perpendicular à reta AB, isto é, levantar uma reta que forme com AB um ângulo reto. Começa-se por traçar, com centro em P, um círculo de raio r que corte AB em C e D. Depois, com centro em C, traça-se um círculo maior, de raio R, e o mesmo círculo, com centro em D . Os triângulos COP e DOP terão, em virtude da Regra N .• 1 dos Trrongulos, equivalentes pois: CO- R= DO CP- r= DP OP- OP Nestes dois triângulos equivalentes, os ângulos OPD e OPC são eorrespondentes, e pois, equivalentes. Assim sendo, OP forma com AB um ângulo reto. . · Antes de darmos início às nossas demonstrações o leitor dcvt! decorar as nove regras que enunciamos : as 3 regras dos triângulos, as 2 dos ângulos, as 2 de ·paralelismo e as 2 das retas. QUATRO DEMONSTRAÇOIDS DE AGRIMENSURA As três primeiras . demonstrações apresentadas por Euclides nos livros I, II e VI, já eram conhecidas pelos Egípcios e Sumerianos há dois mil anos. A última, apresentada no II Livro, é, provàvel- rnente, de origem greg-a e muito mais recente. Referem-se tôdas il· medição das áreas e naturalmente foram inspiradas pelo cálculo da superffcie de tratos de terra. Partindo da primitiva unidade de me- dida, o espaço plano contido num quadrado, podemos mostrar como se calcula a área de um retângulo , pela soma de uma trama de ~uadrados e, também, como obter um retângulo duas vêzes maior que um triângulo retângulo dado. Isto nos permite calcular a área Cle qualquer triângulo retângulo. A seg'Uir demonstramos que qual- quer triângulo pode ser subdividido em dois triângulos retângulos. Isto nos permite calcular a área de qualquer triângt:lo. Qualquer 'figura limira.da por lados retos pode ser subdividida em triângulos HO MARAVILHAS DA MATEMÁTICA (F. 36) Com êste conhecimento podemos medir a superfície de lg. . qualquer terreno, seja qual fôr a sua fonm, desde que tenha lados retos, 9. tru9.ue de Eucli<:les, é, P:9is, o método do agrimensor. !'Ir. B~ Sabendo oaleular a &ru dt 11m \riln(ulo qulquer, :POdtmOI medir • 111plll'llole 44 •••1quer terreno, deidfl QUI llmlt.ad.o por ltnbu re\11. Além de modelos de medição de terra, essas demonstrações são modelos do modo de se efetuar cálculos. A segunda e última, por exemplo, sugerem algumas maneiras de abreviar o trabalho no ábaco. Mais tarde, essas mesmas demonstrações levaram os Arabes a inventar as regras de cálculo que hoje usamos. Chamâmo-las de Algebra. Conquanto poss-a parecer mais lógico partir da conexão existente entre o retângulo e o quadrado, começaremos por estudar a relação entre o triângulo retângulo e o retângulo, porque para demonstrar como se calcula a área do retângulo, precisaremos de algo que depende da referida relação. Demonstração 1 "A diagonal do retângulo divide-o em dois triângulos retângulos equivalentes". Na Fig. 37, AC é,a diagonal do retângulo ABCD. Vimos que todos os ângulos do retângulo são retos. (Fig. 34). Assim sendo, os triângulos ABC e ADC são retân:;:ulos, e nêles: (I) AC = d = AC (Regra N.• 2 das Retas) {II) ângulo CAB = ângulo ACD (Regra N.• 2 de Paralelismo, vide Fig. 33) (iii) {III) ângulo BCA = ângulo CAD (Regrq N.• 2 de Paralelismo, vide Fig. 33) (iii) Comparando (v) da Fig. 37 com (c) da Fig. 30, vemos, pela Regra N.• 3 de Triâ11gulosque os triângulos ABC (! ADC são equi .. EUCLIDES SEM LÁGRIMAS 141 valentes. Podemos ainda exprimir a mesma conclusão dizendo que: •SabetJdo calcular a área de um retângulo, poderemos calcular a área de q1wlq11er triângulo retângulo, construi11do o retângulo, wjo comprimen- to e largura, sejam equivaletltes aos dois catetos. Desta demonstração decorrem dois corolários muito importantes: (a) Os lados opostos de um retâ11gulo são equivalentes. - Como os dois triângulos são equivalentes em tamanho, os lados correspon- dentes AB, AC e DC (AC sendo lado comum aos dois ângulos equi- valentes CAB e ACD) são equivalentes. Quanto aos lados corres- pondentes, AD e BC, também são iguais. (b) As perpmdiculares que mmn duas paralelas são equivalentes. - A figura 37 (vi) mostra porque AB e DE são paralelas. Sendo AD e BC perpendiculares, fqrmam ângulos correspondentes equiva- lentes (Regra N .• 1 de Paralelismo), e são, pois, paralelas. Assim sendo, ABCD tem lados opostos paralelos, e como tem também um ângulo reto, é um retângulo. Portanto os lados opostos 1\P. e BC ~o equivalentes. · (i) ~AoB .. u ~CQ Q, D Paralela a C AB ::,~---" D (iii) C',, (i v) . . A (i i) A~B D C A dissecção consiste' em traçar a diagona( o u ' I "'\. ,.. .. . ·-o·b· · .. . ·~'.J •• ..... ..., ·-- a' cf_\.41 : (uii) ; Fi,. 37, - DEMONSTRA.CAO 1, 142 MARAVILHAS DA MATEM.lTICA Demonstração 2 "Se se divide um lado de um retângulo em dois segmentos quais- quer, sua área total será equivalente à soma das áreas dos retângulm formados pelo lado não-dividido e cada segmento do lado dividido'' . O lado AB de comprimento B, do retângulo representado na Fig 38 (i) é dividido em três segmentos AP, PQ e QB, com l, m e " uni- dades de comprimento, respectivamente. A Fig. 38 (ii) mostra romo s~ faz a dissecação, baixando dos pontos P e Q perpendiculares ao lado oposto. Isto divide a figura em três retângulos. Como os ladm opostos do retângulo são equivalentes (Demonstração 1 (a)), as per- pendiculares são equivalentes a H, lado inteiro do retângulo. E' evidente, pois, que: A área de todo o retângulo H por B = Soma das áreas doe retângulos H por l, H por m e H por tt. A P Q B t I I rtlângulo completo H ' j H por B t Lê--,-_-__ -.• -. ----.-_-;8::---.-----------------._, -.~-·tt unidades-----• • I :~aL--~~--~~--t c ----- . ·- -- - H por I H por m (i i) (i v) l'\ Area da wângulo I const1tuida dt IJ faixaa retangulares, ~~~ ' I I I I Hporn H I I I I I , (iii) (v) ·--------- b ________ __ .. t ~--a---,..~--- (b -a)---~ I I h ·I I I t~~-+--------~ (vii) Cada faixa rem , de largura, 1 untdade, e é dividida em x quadrados de unidade de lado. (vr) Perfazendo ao~ rodo y "vézes" x ~ unidades quadradas de nrcn. i'lr, SB, - DlliMONSTRAÇl.O I, EUCLIDES SEM L.tGRI.MAS 141 Imaginemo-nos egípcios ou sumerianos. Cumpre-nos descobrir l nossa própria custa que a palavra "por" significa o mesmo que "multiplicar". Para descobri-lo desenhamos um retângulo em es- cala (Fig. 38 (iii)) e dividimos um dos lados em x unidades de com- primento e o outro em y unidades de comprimento (compare-se a Fig. 24, em que x = 4 e y = 3) . Se atentardes nas figuras 38 (iv, v e vi), vereis que podemos escrever : HB unidades de área = (Hl + Hm + Hn) unidades de área, e. como podemos, ainda, escrever : H (I+ m + n) = Hl + Hm + Hn Se subtrairmos o pequeno retângulo h por a em (vii) do retân- cuJo h por b, obteremos, do mesmo modo: h (b- a) = hb - ha {fi) Essas duas conclusões podem ser usadas para abri:viar o trabalho de multiplicação no ábaco. A princípio, multipli~ar 36 por 25 si~i fica.va rontar 25 vêzes 36, sem recolocar as mtssangas na postçao primitiva. Na Idade Média, quando já se começava a usar os n~ meros arábicos, mas ainda r:ão era hábito decorar a tabuada de multt- plieação, a tábua de multiplicação por 2 já era sabida de cor e usada na efetuação de uma multiplicação muito simples, a chamada dt~plicação. Graças a (a) podemos escrever: 36 X 25 = 36 (16 + 8 + 1) E efetuar a operação por partes, assim: 36 X 2= 36 + 36 36 X 4= 72+ 72 36 X 8 = 144 + 144 36 X 16 = 288 + 288 36 X 16 = 576 36 X 8 288 36 X 1 - 36 900 72 144 288 = 576 144 MARAVILHAS DA MATEMA.TICA Na antiguidade, outro método de multiplicar parece ter encon- trado. alguma aceitação, pois que os povos primitivos, - como as de N1ppur o demonstram - deram-se ao trabalho de compilar tábua& de quadrados. E' lícito escrever: 25 X 36 = 25 (25 + 11) E, da mesma maneira: 25 X 36 = 252 + 11 · (25) = 25' + 11 · (11 + 14) - 252 + 1 p + 11 . (14) = 252 + 1P + 11 . (11 + 3) 252 + 1 p + 1 p + 3 ( 11) - 25• + 1 J2 + 1 J2 + 3 ( 3 + 3 + 3 + 2) - 252 + 11' + 1)2 + 3• + 32 + 32 + 3 . (2) E, consult-ando a tábua de quadrados, teríamos: 625 + 121 + 121 + 9 + 9 + 9 + 6 sendo a última operação efetuada de cabeça. A arlição final, feita no ábaco, daria o re&ultado correto 900. "A área de um triângulo é a mel'ade do produto de um lado pela perpendicular baixada do vértice oposto", , Partindo do espaço plano encerrado num quadrado, oomo medida da area, aprendemos a calcular a área de um -retângulo e a de um triângulo retângulo. Vamos agora aprender a calcular a área (A) de um triângulo qualquer. A dissecação ·a fazer é muito simple, (Fig. 39). (i) Se nenhum dos ângulos é maior que 90", baixa-se uma per- pendicular do vértice sôbre a base. Isto subdivide o triângulo em 2 triângulos retângulos. Cada um dêles, em virtude da Demonstração 1, equivale a metade da área de um retângulo. E como a área de um retângulo, em virtude da Demonstração 2, é igual ao produto dos lados Mas, v1mos que A= !px + !PY -! flx + ! PY = 1- p (x + y) Dem. 2(a)' A -- H (;r+ y) ou A-- Hb EUCLIDI!lS SEM LÁGRIMAS HG (ii) Se um dos ângulos fôr maior que 90", baixa-se uma per- pendicular sôbre o prolongamento da base (como na Fig. 39(ii)). Teremos: A = ! p (b + x) - ! px = = !(Jb + ! px - t px ou A = ! pb (a) Além de ensinar a medir a área de um triângulo, esta demonstração contribui para a descoberta de um princípio importan- tíssimo de "medição de sombras" (Dem. 7). Se um triângulo (área A) tem por base B unidades de comprim<!nto e por altura p, e outro triângulo (área a) tem por lYase b unidades de comprimento e a mesma altura p, a relação existente entre suas áreas pode ser expressa dêste modo_: A a B b Isto e, a razão 'das 'áreas Cle triângulos de meS11W aliura, 'é iguaL d razão de suas bases. Para a importa·ntíssima demonstração a que nos referimos, precisamos saber reconhecer quando dois triângulos têm a mesma altura. Para isto existem duas regras: (b) TriâtJglllos com base sôbre a mesma ,-ela e v~rtices 110 mesmo ponto, têm necessàriamet1te a mesma altura. E' o que se pode ver na Fig. 39 (iv). Os triângulos ABC, ABE, AED, ADC, AEC e ABD têm todos a mesma altura. (c) Os triâllgJtlos de base comum terão trecessàriametJte a mes- tna altura, se os se11s vértices se acharem todos sôbre uma mesm<1 l-inha, paralela d base. E' o que se vê na Fig. 39 (iii). Vimos, na Demonstração 1 (b) que as perpendiculares que unem duas paralelas são equivalentes. Demonstração 4 (Como dissecar um quadrado) "Se se divide o lado de um quadrado em dois segmentos, a área rio quadrado será equivalente à soma das áreas el os quadrados cujos lados são os dois segmentos, mais duas vêzes a área do retângulo de lados iguais aos dois segmentos". Um quadrado é um retângulo de lados equivalentes (o que seria imediatamente perceptível , não fôsse a confusão dos têrmos). Na Fig. 40 (i), dividiu-se o lado AB do quadrado grande em dois seg- mentos,AP (de y unidades de comprimento) e PB (de .t' uniclaclcs de comprimento) . Portanto, o comprimento AB é (.t' + y). O mesmo se fêz ao lado BC. Dos pontos P e Q, baixaram-se perpen- lU MARAVILHAS DA MATEM·ATICA -.-x--,.. ------1}----- (i) p .-----· b+Jf ,,_.,,. (i i) 8 (i i i) (i v) INr. Si. - DElfONSTRAOlO 8, ~-···Jf·•·,. c IJ di~ulares aos lados opostos. Cada uma delas aivide o quadrado em d_01s retângulos. Fácil é deduzir o comprimento dos lados das quatro f1gurás formadas, atendendo-se ao fato de que os lados opostos de um retângulo são equivalentes. A áre~ do quadrado maior é AB X BA, ou .(x + y)•. ~os- tra-!_105 a !1gura que: · (x + y) 2 unidades de área = ~ (x• + 2.-ry + y') das mesmas unidades de área, isto é: EUCLIDES SEM LÃGnTMAS H'l Por l1J1Ya demonstração iemelhante (Fig. 40 (ii)), chega-se a; x•- y• = (x-y) x + (x-y) y Aplicando-se a Demonstração 2 (a): x1 - y' = (x- y) (x + y) Veremos no capítulo 7 que as espécies de multiplicação repre- sentadas hieroglificamente por estas figuras desempenharam um papel muito importante na descoberta da Algebra. Será conveniente para o leitor conferir pessoalmente essas regras de multiplicação, efe- tuando-as em exemplos numéricos, verbi gratia: (a) (3 + 4)3 = 7• = 3' + 2 (3 X 4) + 41 - (9 + 24 + 16) = 49 (b) 71 - 4' = 33 - (7- 4) (7 + 4) Esta demonstração não é mais que simples aplicação da regra d( calcular a área de um retângulo. Ignora-se se, em outros tempos, o homem a utilizou em seus trabalhos de agrimensura. Utilizavam-na os antigos para abreviar o trabalho de · multiplicação no ábaco, ins- (i) ~ ' I I xz = x( x-y) ~ .__ ...... ___ ___ . X--·-·- ... ·--·~ (i i) !1'11. (0, - DEMONSTRAQlO (. Erumento imprescindível enquanto não se inventou uma: e5crita. nu· mera! que possi·bilitasse os cálculos diretos. Nicômaco de Alexan- dria (100 d. _CJ explica com() se utilizava a dernogs!ralãp, 9uan.do 148 MARAVILHA~ DA MATEMATICA os matemáticos (que dizer do homem do povo?) ainda não sabiam a tábua de multiplicar. Vejamos dois exemplos: (a) Para multiplicar 37 por 25, achava-se o número eqüidis- tante de ambos (isto é, o número do meio) - ~1, no caso em aprêço - e depois escrevia-se: · · · 37 X 25 = (31-6)(31+6) Isto feito, o único trabalho é procurar o quadrado de 31 e o (te 6 nas velhas tábuas de quadrados - como as encontradas em Nippur (2000 a. C.) -e subtrair o segundo do primeiro, o qne é muito mais simples que os métodos apresentados para ilustrar o uso da Demons- tração 2. 37X25=3l2-6"=925 (Confira o resultado). Agora, vamos proceder à multiplicação de 36 por 25. Não existe número inteiro eqüidistante dos dois fatôres, de modo que se tem de usar o número mais próximo de 36, como por exemplo: 36 X 25 = (37 -1) 25 = (37 X 25) - 25 (Dem. 2 (b)) = 3 p - 6· · - 25 = 900 O número eqüidistante de dois outros dados é denominado médw aritmética. · Não há quantidade, em tôda a linguagem de grandezas, mais mal empregada pelos políticos, do que ela. Se a e b são doi~ números, sua média aritmética é ! (a+ b); se a= 37 e b = 25, a média aritmética será ! (37 + 25) =! (62) = 31. Para os valores 36 e 25 a média aritmética será 30 !. ( b) Esta forma de abreviar o trabalho no ábaco acentuou a necessidade de boas tábuas de quadrados. O interessante é que a mesma fórmula pode simplificar-lhes o cômputo. Suponha-se, por · exemplo, que já conhecemos os quadrados dos números de 1 a 100, e queremos estender a tabela até valores maiores, segundo a reco- mendação do próprio Nicômaco. Para obter o quadrado de wn nú- mero maior de 100, por exemplo, 118, procede-se assim: (118) 2 (118) 2 - (18) 2 = (118-18) (118 + 18) .(100) (136) + (18) 2 = 13 924 Multiplicar por dez, cem, mil ou qualquer outro múltiplo de dez, no ábaco, é muito mais simples que multiplicar por outro número qualquer, pelo menos para os que adotam a escrita decimal. Assim sendo, o processo que acabamos de apresentar permite o)lte1: !esul- tados <:O!l} uma rapidez muilo maior. EUCLIDES SEM LAGRIMAS 149 QUATRO DEMONSTRAÇOES DE MEDl?ÃO DE SOMBRAS Para nós, produtos urbanos da civilização nórdica, habi~uados a morar em casas de grandes janelas, dotadas de todo o conforto mo- derno, com gás, luz elétrica, relógios e até m.esmo (ao me~os p~ra os mais felizes) geladeiras e aspiradores de po, be"_1 .c.usta_ Ima~mar a importância que tinham luz e sombra, ~as velh~s ciVIh~açoes c;Iadoras das primeiras cidades de pedra. .~oJe em dm, precisamos mventa~ experiências que mostrem aos menmos que a luz, atravess.ando uma fresta caminha segundo uma trajetória reta, e que os raws do sol são p~ralelos. Os primeiros habitantes de cidades, que tinham apena~ por janelas estreitos orifícios pelos quais a luz .d? sol e o lu~r ~e coavam fazendo cintilar a poeira 'em suspensão, vivtam na abundancta da luz ~olar que projetava sombras lon~as e nítidas, bem.,defit~idas na areia. Não precisavam de quem lhes dtssesse que a luz cammh~ se- gundo trajetórias retas" ou que. ~aios de ~uz provindos de objetos muito distantes formam entre st angulos tao pequenos que bem se pode considerá-los paralelos. P.odiam. percebê-lo à própria custa, a qnalquer hora do dia ou da nmte (Ftg. 41). Quando Tales visitou o Egito e calculou a altura da Gran~e Pirâmide meuindo-lhe a sombra, a velha civilização do Nilo já havia sucumbido, sucessivamente, aos assírios e .aos hitita~ . Conquant? ~os afirmem as crônicas de seu tempo ter e~e. marav1l~ado os egipctos com êste proceder, não resta a menor duvida que ele empregara o F I~ U Quanto nuta dhh.nto um corpo celeste, menor .o ln~ln. fo r ~11'LilD ~los niM . . d• kla proveniente& de a uns extremidades. Quando a du;tnn cll\ c 111 1\ lln granüe, os I ~ 10 ' paruom 'P&taleloa. O l.ngulo existente entre o.a doi! pontos . maia a{a!.tad~s do d1~~ aolar, ou lnnr.r (t.&l com, 6 ob!ervado da t&rra) é de npcna! .me10 grau, llpro~tme.damente. O .par•tellamo doa raios do a.ol ou da lua .ora um conh ectmen~o comunisstmo para. o• llomen. quo .'iriam an\o~ da invenç~o do ndro, em easa• de 1anolas alt.aa • oalr&Jkt. 160 MARAVILHAS DA MATEMJTICA mesmo pnnCJpiO de medição arquitetôniL-a adotado pelos construtores das pirâmides. A arte de medir sombras era uma das grandes arte! da antiguidade. A geometria do triângulo resultou da prática da medição da sombra para fins arquitetônicos, clo mesmo modo que a geometria do retângulo resultou da prática de medir a superfície dos terrenos, com o fito de taxar o pequeno lavrador. A geometria es· tava em pleno florescer, no Egito e na Mesopotâmia, quando oo povot nórrl icos erigiram aquêles drculos e avenidas de pedra que ainda hoje se podem ver em Devon f'. Cornwall, províncias a que aportavam GS navios fenícios em busca de estanho. Aliás, em tôdas as regiões em que êste metal era abundante, encontram-se ruínas de inúmeras aldeias totalmente constituídas de choupanas de pedra. Os nórdicos, como os bantus, jamais construíram templos ou cidades por iniciativa prÓ· pria. O atraso dos habitantes da Europa setentrional não era devido à sua estupidez - como cria Aristóteles, o apóstolo da escravatura, - ou como ensinava o culto Said de Toledo na época em que os mouros construíam m~gníficos lYalneários destinados a serem destmídos pelos mesmos conquistadores nórdicos que, expulsan{lo os judeus, introdu- dram na arte espanhola o odor de santidade que ela até hoje conserva. Aristóteles e Said tinham tanta razão em desprezar o nórdico, quanto os civilizados modernos que espezinham os bantus. Todos êsses cri· ticos severos esquecem-se de tomar em consideração as condições ma- teriais que possibilitaram o advento das civilizações. Todo progresso era impossível. antes de se descobrir a arte de registrar o tempo. Nas regiõesem que o quadrante solar não podia ser mais que um enfeite de jarrlim, a vida metropolitana e a lavoura pouco progrediram tté o dia em que uma casta sacerdotal estrangeira introduziu um relógio-de-vela, destinado a marcar a hora das matinas e das vésperas. As quatro demonstrações que seguem figuram, respedivamen· le, no I ( 5, 6, 8) e sexto (7) livros de Euclides. As três primeiras1 conhecia-as o fenício Tales. A última ainda hoje se acha associada ao nome de Pitágoras, outro fenício, conqüanto não nos faltem motivoa para crer que êle a aprendeu dos chineses. Ao explicá-las, preten· demos dar exemplos de sua utilização na arquitetura e na agrimensura e mostrar como, mais tarde, os alexandrinos aplicaram-nas à repre- sentação dos céus. A primeira - de tôdas a mais simples - .não tem aplicação direta. Sua importância reside no fato de contribuir para a compreensão das outras três. Demo11stra.ção 5 "A soma dos três ângulos de um triângulo é igual a dois ângulos retos". Para rlemonstrar esta verdade, tudo o que temos a fazer é apoiar o vértice de um triângulo numa barra reta e ~?:irá-lo até que o lado 1 I I l i EUOLIDES SEM LAGR'J.MAS l bl - ·------ oposto fique paralelo à barra. Na Fig. 42 (i), (ii) e (iii), as legen d:u esclarecem o processo, que se pode resumir como segue: A. + B + C = D + C + E (Regra N.• 2 de Paralelismo) D +C+ E= 180" (Regra N.• 1 dos Angnlos- Fig. 33 (i)). A demonstração é tão simples que aproveitaremos o ensejo pa1a aplicar como é usada para ilustrar os princípios da medição de som- bras, expostos nas três demonstrações que seguem. (a) Dois triâng~tl os séW equivalentes quat1do I êtn 14tn lado ' dois â11gulos equit•alet1tes. A regra confere com a que aprendemos páginas atrás, a chamada Regra N .• j dos Triângulos, que afirma que se pode traçar um triân- gulo, conhecidos o lado a e os ângulos B e C. E, se ~o invés de .B. r C se conhecesse A (ângulo oposto ao lado a, conhecido) e B, facii· mente se calcularia o ângulo C da maneira seguinte: A+ B +C= 180• '' C = 18()<> - (A+ B) rir. 62. - DElÚ)NBTRAO.lO ~. .J 151 MARAVILHAS DA MATEMATICA isto é, se A fôr 600 e B = 60•, C será 180•- (600 + 600) ou C= 60". Se A fôr 45• e B = 900, C será igual a 1800- ( 45• + 900), isto é, 45•. Se A fôr 3Ü" e B = 900, C será igual a 6()<>, Reciprocamente, conhecidos A e C, podemos calcular B. Por exemplo, se A fôr fJ:J' e C= 900, B = 1800- (A+ C), isto é, 30•. ( b) Conhecido um dos ângulos não-retos de um triângulo r~- 18t~gulo, (A), conhece-se, ipso-facto, o outro ângulo não-reto (90•-A). Isto, aliás, não é novidade. Se os três ângulos de um triângulo valem respe<:tj_va.mente A, 900 e (90•- A), sua soma vale 1~ •. ist9 ~ A + 900 + 90• - A = 1800 Os três lados do triângulo .retângulo têm denominações especiai!. O lado maior, oposto ao ângulo reto, chama-se hipotenusa. Sendo A um dos ângulos não-retos, o lado que lhe é oposto se chama altura. O terceiro lado se chama base. E' evidente que as denominações base e alt11ra dependem da posição do triângulo e que a altura, com referência ao ângulo 90•- A, é a base com referência a A, e vice- versa. (Fig. 42 (iv), (v) e (vi)). (c) Triângulos t·ctâ11gulos ccrm o mesmo ângttlo agudo são se- tndha1.1t_es, isto ~~ equiâug_u[os ~Fig: . 43 _(i))_. (i) (i i) 90 (i v) 90'~ lhê,-A rir. 43 ·i EUCLIDES SEM LÁGRIMAS 153 (d) Triâ11g1úos retângulos que, coloc~dos vértice sôbre vértice (como na Fig. 43 (i i)), ficarem com as lnpote1111sas e um .dos lados tm li11ha, são semelhantes, isto á, eqiiiângulos (Fig. 43 (1~). (e) A perpendicular, baixada d~ ângulo reto. !ôbre a lup~tenusa, divide o triângulo retângulo em do1s outros trtangulos retangulos, semelhantes entre si e ao triângulo primitivo. . Eis o que apresenta a Fig. 43 (iii) e (iv). E' êste um dos ma1s importantes truques para a dissccaçã.o de triângulos. A A A [(a) O Triângulo Eqt~ilátao AA (b) O Triângulo Retângulo isósceles ~se Flr. U. - DEMONSTRAÇÃO .5. 154 MARAVILHAS DA MATEMÁTICA Demonstração 6 "Se dois lados de um triângulo são equiva'lentes, os ângulos que lhes são opostos, também são equivalentes; e, se dois ângulos são equivalentes, os lados opostos também o serão". A demonstração enuncia, pois, uma dupla verdade, mas a rlis~e cação é a mesma para ambas . Disseca-se o triângulo em dois, divi- dindo-se o ângulo formado pelos lados equivalentes (isto é, o ângulo não-equivalente do triângulo) pela sua bissetriz, segundo a primeira regra de dissecação. (i) Se nos afiançam que AB =I= AC {Fig. 44 (i)), com• parando os triângulos ADP e APC verificamos que: AB = l = AC Ângulo BA P - !- a = Ângulo CAP AP - AP (elemento comum) Portanto, segundo a Regra N.• 2 de Triâ11gulos, os dois triân· gulos são equivalentes. Isto quer dizer que seus lados e ângulos correspondentes são equivalentes. Assim sendo, o ângulo ACB, opos· to a AB, é equivalente ao ângulo ABC, oposto ao lado equivalente AC. (ii) Se nos afianç-am (Fig. 44 (ii)), que os ângulos B (ABC) e C (ACB) são equivalentes, teremos : ABC DAP AP ACB (segundo nos informam) !a= CAP AP (elemento comum) Mas, vimos na Demonstração 5 (n) que dois triângulos são equi· valentes quando têm um lado e dois ângulos correspondentes equiva- lentes. Assim sendo, os triângulos APB e APC são equivalentes. Portanto, o lado AB oposto ao ângulo ACB é equivalente ao lado correspondente AC, oposto ao ângulo equivalente ABC. Antes de mostrarmos como se poclc utilizar êstc conhecimento para calcular a altma de um barranco pela somhra projetada, ou para dar a um e<li fício a altura que se deseja, vejamos como esta demonstração nos fornece um método mui simples de traçar ângulos de 300, f:JJ' e 45• (Vide Fig. 44, na sua parte inferior). (a) Como traçar ât~gulos d'e 30• e 60•. - Podemos construir um triângulo equilátero (triângulo que tem os três lados iguais), dobrando uma corda dividida por nós, em três segmentos iguais. Pelo que acabamos de aprender, se os três lados são equivalentes (com· primento l), os três ângulos também o serão. E como os três per- \ r I I I I I I I ; I I ! EUCLIDES SEM LÁGRIMAS Como se mede a a!cum de um barranco l'lr . • !. - MEDINDO A SOMBRA PARA OALOULAR A. ALTURA. 155 O elroulo que rodtia o ~qusno obal~oo 1nlar, te.m como ra;o o comprimento ct. tr6prlo obelisco, de maneira que, qul\ndo o 8ol atinro a alLura de 4.5• aôbre o hori110nk, • 1ombra tanrenci1 a circunferência tracada, fazem 1800, cada um dêles é igual a um têrço de 1800, isto é, flY'. Se atentardes para a Fig. 44 (i), vereis que, como os triângulos ABP é ACP são equivalentes, o lado BP é equivalente ao lado correspon- dente, PC, isto é, P divide BC em duas partes equh'alen.tes. No triângulo eqi.tiláter<> dissecado similarmente na parte inferior da fi. gura, vemos que os lados opostos aos ângulos de 30•, valem !-I. Basta pois unir o vértice .de um triângulo equilátero ao meio do lado oposto, para se obter um ângulo de 300. Os dois ângulos formados sôbre o lado oposto, de cada lado desta bissetriz, valem 90". (Demonstra- ção 5). (b) Como traçar âng11los de 45•. - A demonstração 5 (b) mostrou-nos que, se um dos ângulos de um triângulo retângulo, vale 45•, o outro também vale 45•. Assim sendo, todo o triângulo retâQ- gulo com um ângulo agudo de 45•, tem necessàriamente dois ângulos equivalentes e, pois , dois lados equivalentes. Uma vez traçado um ângulo reto, para obter um ângulo de 45•, basta medir distâncias equi- valentes (l), aplicá-las sôbre a altura e sôbre a base e unir as extre- midades. Os geômetras e arquitetos egípcios faziam o mesmo com bastonetes e cordas sôbre a areia. Nós outros, fazêmo-lo com tachi- nhas e barbante, sôbre a pranche-ta de desenho.A utilidade desta demonstração (outrora chamada, a Pons Asi- norum, isto é, a ponte dos burros - porque os burros que a ensina- vam davam-se a todos os cuidados para destruir a ponte que a liga ao mundo real) - vêmo-la na Fig. 45. Quando o sol alcança a altura de ~5· sôbre o horizoote (a 45• do zen i te, por conseguinte), i 156 MARAVILHAS DA MATEMATICA os raios "de luz, 0 barranco e a sombra, o~.'o raio de .luz, a s.o~bra e qualquer objeto elevado, formam um tnangul~ retangulo 1sosceles. Isto quer dizer que, neste momento, ~ compnmento da sombra ~ equivalente à altura do barranco. Um processo dt medir a altura da grande Pirãmidt, lll n+S c h Fir. 's .l (• Sombra ... , · ~a escac!& ············p-r,- -- ... l .. ) ... __ _ · Qtiii>~õ i iõmliri tõõft ii blrõuli de~ r a. lo icual à ai tu ra da. est..1ca.; a altura (h) da pil·nmide é obtida aomando o con1prim'!n la da som.1 ora (8) ~ IIIOIWO da !>Ali (b) 1 Quondo 0 col ~11& i 45' ,abrii o borizonh, a jlllura d!! plr&mlde I lcuol aõ õomp>im•!!lo d~ •ombn m6ia ~ !l'•l•d~ da buo, Para: calctâ~i~-.~tiirii{ altura: por êste métod~ indireto, finca-se um bastonete na areia e espera-se oaté que o compnmento da sombra seja igual à altura· · ~o bastonete·. Neste momento, mede-se a som?ra do barranco, e ipso-facto, obtém-se a s~":. a~tura. Ac01~tece, porem; que na região em que se edificaram as ptramtdes, o sol so alcança ~5 de altura ao meio-dia, em dois dias do ano. Naturalmente era Im- possível esperar estas duas raras ocasiões, para to~ar a altura . das pirâmides. E' muito mais incômod? e demorado f~car espera~do a data propícia, que aprender a segumte demonstraçao, que ensma a usa~ () process() para quall!U!!.!: ~ngu!<:l 9o ~Q\. ~e ~orycntura ~ ach~.r· i . ' ,. ; EUCLIDES SEM LÁGRIMAS !57 des demasiado longa, consolai-vos pensando no tempo que, graças a · ela, economizareis mais tarde. A Fig. 46 é o projeto de um quadrante solar que qualquer pessoa pode construir num terraço ou num quintal e que lhe permitirá - p;>mo mais tarde vereis - calcular a altura da casa, sua latitude ~ L s IS) parafuso o Nível de bõlha l'ir. 46. - PROJETO DE UM QUADRANTE IMPROVISADO. longitude, a hora e o quanto a terra parece oscilar em seu eixo du- rante o ano (isto é, a inclinação da órbita em relação aos polos, chamada, pelos astrônomos, - obliqüidade da eclíptica). DemoJJslração 7 "A relação dos lados correspondentes dos triângulos semelhantes é a mesma". A dissecação que vamos fazer é manhosa e em três est{tgios. A esquerda da Fig. 47, traçaram-se dois triângulos semelhãntes, ABC e DEF, de modo que se pudesse observar a equivalência dos ângulos . Quando queremos demonstrar algo de novo, a primeira coisa que deve- mos fazer é perguntar-nos o que já sabemos sôbre o objeto de nossa demonstração. No caso em aprêço, êste objeto são as relações, ou ra- zões. Até então, a única coisa que sôbre elas sabemos é que as áreas de triângulos da mesma altura estão na mesma razão que suas respec- tivas bases (Demonstração 3). Assim sendo, temos de achar triân- gulos cujas bases sejam lados correspondentes nos dois triângulos que estamos oa comparar. Para isto, comecemos colocando os dois triân- gulos na mesma figura. (i) Figura da direita: Aplica-se o comprimento DF sôbrc AC, a partir de A, e obtém-se assim AH, equivalente a DF. Em seguida 15S ~IAil.AVILHAS DA MATEMÁTICA A o A A ti E F E'ir. '7. - DEMONSTRAQAO 1. traça-se GH, paralela a BC. Comparando os triângulos AGH e ABC. verificamos que os ângulos: GAH = BAC GAH = EDF (·.·os triângulos ABC e DEF são semelhante!) AHG = ACB L AGH = ABC f Regra N.• 1 de Paralelismo AHG = DFE; e AGH = DEF (·: os triângulos ABC e DEF são semelhantes). Assim, comparando os triângulos DEF e AGH temos; ângulo EDF = ângulo GAH DF = AH (por construção) ângulo DFE = ângulo AHG Em virtude da Regra N.• 3 dos Triângulos, DEF ~ AGH slio equivalentes, GH = EF e AG =DE (o) (ii) Na Demonstração 3 aprendemos que triângulos que têm base sôbre a mesma reta e o vértice oposto sôbre uma paralela à base, terão necessàriamente a mesma altura. Dêste fato nos valeremos, para darmos o próximo passo. Traçando as lin~as que unem os pontos GC e HB (Fig. 47, à direita) e pondo a figura de cabeça para baixo (como na Fig. 48 (ii), percebe-se imediatamente que (Demonstração 3 (c) Fig. 39 (iii)): Área do Triângulo BGH = Área do Triângulo GCH ,(b) EUCLIDES SEM LÁGRIMAS 151 (i) (i i) A :A B G A G A~ Flc. 48. - DEMONSTllAQÃO 1 (Coc!.lnuaç!lo). (iii) Na Demonstração 3 aprendemos, também, que os triângu- los cujos bases estão sôbre uma reta e cujos vértices opostos, coinci- dam, terã?~ necessàriamente, a mesma altura. Podemos obter dois pa- res de trtangulos nestas condições, incorporando o triângulo AGH, primeiro ao triângulo GHB e depois ao triângulo GCH. E' claro que: Área dos triângulos AGH+BGH =Área dos triângulos AGH+GCH ou Área do triângulo AHB =Área do triângulo AGC (c) Os triângulos AHB e AGH, assim como AGH e AGC, têm a mesma altura (Demonstração 3 (b)). Assim sendo, e em virtude da Demonstração 3 (a) - que afirma que as áreas dos triângulos de mesma altura estão na mesma razão que as suas bases - podemos escrever: Área AHB Área AGH = AB AG e Área AGC Área AGH Como as áreas de AHB e AGC são equivalentes, AB A~ AC AH AC AH ~ · ·• 160 MARAVILHAS DA MATEJMATICA ;Em yjrtude de .(a), (pág. 157), . AB AC --=-- DE DF Ou. em virtude ~a regra diagonal (pág. 105). AB DE AC DF Dissecação semelhante, permite demonstrar que: BC EF BC EF AC DF ou AB DE A Fig. 49 mostra-nos como Thales utilizou esta relação para medir a altura da Grande Pirâmide de Queops, evitando esperar um dos dias em que o sol meridiano atingisse a altura de 4So sôbre o hori· zonte. Fincou um bastão no solo, bem na extremidade da sombra da pirâmide. Bastão, raio de sol e sombra formavam um triângulo, de ângulos iguais a 90°, A e 90° - A. A altura da pirâmide, os raios de sol e a sombra acrescida da metade da base formavam outro, de ângulos equivalentes. Como os dois triângulos são semelhantes, os lados corrcspond.entes estão entre s1 na mesma razão, isto ~_; H !b + s p s Aplicando a regra diagonal, obtém-se para a altura da ~irâmide: A altura do bastão (p), a base (b) e as duas sombras ·(s e S) podem ser fàciimentc medidas ao meio-dia de qualquer data. O mesmo método pode servir para determinar a altura de qualquer objeto inacessível. Também podemos calcular a distância a que s~ encontra de nós, desde que possamos medir o ângulo que o seu tôpo faz com o horizonte (usando para isto um teodolito como o da Fig. 12). A maneira mais rudimentar de determinar êsses elementos é fazer uma figura em escala. Era êste o método displicente dos ~regos. Mas existe um método melhor que o precedente: o da geometria socializada 011 trigonometria _(ta! ~om~ a costu!lla!110S chamar) dos ~exandrinos: j I t 1 EUCLIDES SEM. LAGRIMAS 161 vara de medir Plr. 40. - OOMO TALES MEDIU A ALTURA DA GRANDE PI!l.AMIDE. O Anruto A 6 a lnclinaçlio do ool oObre o horizonte ao meio ·dia o ê, poio, e mew>~ para amboa oa lrillogulo!, Consiste em se organizar, de uma vez para tôdas, uma tabela das razões entre o bastão e ~ somiJra, para vários ângulos de inclinação. Se voltardes à Fig. 31, vereis que a relação entre bastão e sombra para um ângulo de inclinação, A, é o que, na linguagem dicionária da tri- gonometria, se denomina tg A. Isto significa: "Procurai um nú- mero num dicionário (tábua de tangentes) organizado de uma vez para tôdas, ao invés de vos dar ao trabalho de fazer uma figuro em escala cada vez que quiserdes estimar uma altura ou uma distància".
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