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DIREITO PENAL IV crimes contra a administração da justiça

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DIREITO PENAL IV
Crimes praticados por particular contra a Administração Pública
Prof. Juenil Antonio dos Santos
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA.
ART. 338 - Reingresso de estrangeiro expulso.
Tutela o prestígio, a autoridade e a eficácia do ato de expulsão.
Sujeitos do delito.
Ativo – estrangeiro (pode haver participação, de nacional ou não).
Passivo – o Estado.
Consumação e tentativa.
Consumação – no instante em que ocorre o reingresso do estrangeiro expulso.
Tentativa – admissível.
ART. 339 - Denunciação caluniosa.
Tutela a administração da justiça.
Sujeitos do delito.
Ativo – qualquer pessoa. Se o crime imputado for de ação penal privada ou pública condicionada, somente poderá ser sujeito passivo quem tem legitimidade para exercer o direito de queixa ou representação, pois, sem estas, não se pode dar início à persecutio criminis.
Passivo – o Estado, imediatamente; a pessoa atingida em sua honra, mediatamente.
Consumação e tentativa.
Consumação – com a instauração da investigação policial, do inquérito civil ou do processo judicial.
Tentativa – admissível.
É imprescindível que a ação da autoridade pública tenha sido provocada pela conduta do agente.
Semelhanças e dessemelhanças com a calúnia.
	A denunciação caluniosa não se confunde com o crime de calúnia. Nesta, o sujeito somente atribui, falsamente, à vítima, a prática de um fato descrito como delito. Na denunciação caluniosa ele vai além: não somente atribui à vítima, falsamente, a prática de um delito, como leva o fato ao conhecimento da autoridade, causando a instauração de inquérito policial ou de ação penal contra a mesma.
Modalidade qualificada.
Se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto para praticar a denunciação caluniosa, terá a pena aumentada da sexta parte. Tal se justifica, pois a própria Constituição Federal de 1988 determina ser livre a manifestação de pensamento, mas veda o anonimato (art. 5º, inciso IV da CF/88).
Diminuição de penas: Denunciação caluniosa de contravenção.
Se a imputação é somente de prática de contravenção, a pena será reduzida de metade.
Concurso de crimes: denunciação caluniosa e extorsão indireta.
É possível o concurso com o art. 160 do CP, quando o documento exigido seja falso e o agente o utiliza para dar causa a procedimento judicial ou administrativo contra a vítima ou contra terceiro.
ART. 340 - Comunicação falsa de crime ou contravenção.
Tutela a administração da justiça.
Sujeitos do delito. 
Ativo – qualquer pessoa.
Passivo – o Estado.
Consumação e tentativa.
Consumação – com a ação da autoridade.
Tentativa – admissível.
Distinção entre comunicação falsa de crime e denunciação caluniosa.
A comunicação falsa de crime ou contravenção não se confunde com a denunciação caluniosa, pois, nesta o sujeito indica uma pessoa determinada como autora (suposta) da infração; na falsa comunicação, ao contrário, não se aponta um indivíduo determinado como autor do crime ou contravenção que se alega ter acontecido.
ART. 341- Autoacusação falsa.
Tutela a administração da justiça.
Sujeitos do delito.
Ativo – qualquer pessoa.
Passivo – o Estado.
Consumação e tentativa.
Consumação – no instante em que a autoridade toma conhecimento da autoacusação.
Tentativa – admissível na forma escrita.
Distinção entre falso testemunho e autoacusação falsa.
A autoacusação falsa é especial em relação ao falso testemunho. Por isso, aquele prevalece, isto é, não se há de falar em falso testemunho quando o agente assume a autoria de crime praticado por outrem na tentativa de evitar a ação penal contra o verdadeiro autor do delito. Porém, não havendo o intuito de proteger-se ou de proteger a terceiro, a autoacusação falsa feita na qualidade de testemunha, pode vir a caracterizar o crime previsto no art. 342 do Código Penal. 
ART. 342 - Falso testemunho ou falsa perícia.
Tutela a administração da justiça.
Sujeitos do delito.
Ativo – somente testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete. É importante ressaltar que, mesmo não prestando compromisso, a testemunha (numerária ou simplesmente o informante do juízo) pode ser sujeito ativo do crime de falso testemunho, embora haja entendimento no sentido contrário, ou seja, se a testemunha se enquadra em um dos casos dos arts. 206 e 208 do CPP, não pode ser sujeito ativo do crime previsto no art. 342 do CP.
Passivo – imediatamente, o Estado; mediatamente, particular que possa ser prejudicado pela conduta.
Consumação e tentativa .
Consumação – com o encerramento do depoimento, pois, pode a testemunha retificar o que declarou.
Tentativa – há controvérsias sobre sua admissibilidade. Para quem entende que a consumação se dá com o encerramento do depoimento, será possível a tentativa quando, por exemplo, o depoimento, por alguma razão, não se encerra.
Modalidade qualificada.
No § 1º do art. 342 o legislador previu causa de aumento de pena para os casos em que o crime é cometido mediante suborno ou para obter prova destinada a produzir efeito em processo penal ou civil em que for parte entidade da Administração Pública direta ou indireta. Delmanto entende que, em face do princípio da estrita legalidade, não incide a causa de aumento quando a prova for destinada a gerar efeito em inquérito policial, processo administrativo ou juízo arbitral. Luiz Flávio Gomes, porém, entende que o inquérito policial está abrangido pelo § 1º, pois, é nele que serão produzidas provas para utilização na instância processual.
	No caso do suborno, é preciso que haja o falso testemunho ou a falsa perícia. Não basta o simples oferecimento ou efetivação do suborno, se o falso testemunho ou a falsa perícia não chegam a ocorrer.
 
Retratação.
Retratar-se é desdizer-se, retirar o que foi dito e, no caso do art. 342 do CP, constitui causa de extinção da punibilidade (art. 107, VI, do CP). Para a validade da retratação exige-se que seja voluntária (não precisa ser espontânea), explícita, completa, incondicional e feita perante o órgão que recebeu as declarações falsas. É indispensável que ocorra antes da sentença (de 1º grau), pois, se feita posteriormente, só permite a aplicação da atenuante genérica do art. 65, III, “b” do CP.
	Quanto à comunicabilidade dos efeitos da retratação aos partícipes, há duas correntes: Luiz Régis Prado entende não incidir a regra do art. 30 do CP, pois, a retratação seria circunstância de caráter pessoal e não é elementar do crime; Para Delmanto, há comunicabilidade, pois, a uma, o § 2º do art. 342 do CP menciona que “o fato deixa de ser punível”; a duas, haveria um caráter misto, e não subjetivo; a três, com a retratação desaparece o perigo gerado pelo falso testemunho ou falsa perícia.
Concurso de pessoas.
	É controvertida a possibilidade de existir ou não participação ou coautoria em crime do art. 342 do CP. Majoritariamente, entende-se ser impossível a coautoria. Porém, não há restrição em relação à participação stricto sensu, haja vista tratar-se de crime de mão própria. Porém, quem suborna as pessoas elencadas no art. 342 para que prestem falso testemunho, responde pelo art. 343 do CP, havendo aí, quebra da teoria monista. Se o legislador puniu tal forma de participação de forma mais grave, significa que preferiu não incriminar outras formas mais brandas.
O início da ação penal.
Segundo Delmanto, a ação penal pelo crime de falso testemunho pode ter início normalmente, porém, a sentença condenatória não pode ser proferida antes que se profira a decisão no processo em que o falso testemunho ou a falsa perícia ocorreram, tudo isso em razão da regra do § 2º do art. 342 do CP. Entretanto, o próprio autor acima mencionado afirma que é razoável, em razão do princípio da economia processual, que se aguarde a decisão no processo em que o falso testemunho ou a falsa perícia ocorreram para poder iniciar a ação penal por tais crimes. 
Vide art. 211 do CPP.
ART. 343- Corrupção ativa de testemunha ou perito.
Tutela a administração da justiça.Sujeitos do delito.
Ativo – qualquer pessoa.
Passivo – o Estado.
Consumação e tentativa.
Consumação – no momento em que o sujeito dá, oferece ou promete o objeto material, independentemente de qualquer resultado posterior. 
Para Delmanto, é preciso que a testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete aceitem a oferta. 
Luiz Régis Prado entende não ser necessária a aceitação da oferta.
Damásio entende que, mesmo havendo retratação do agente, no crime do art. 342 do CP, subsiste o delito do art. 343.
Tentativa – admissível na forma escrita.
Modalidade qualificada. 
Prevista no parágrafo único do art. 343 do CP. Delmanto entende que não se aplica aos casos em que se tratar de prova destinada a gerar efeito em inquérito policial, processo administrativo ou juízo arbitral.
ART. 344 -Coação no curso do processo.
Tutela a administração da justiça.
Sujeitos do delito.
Ativo – qualquer pessoa.
Passivo – o Estado, imediatamente; o coacto, mediatamente.
Consumação e tentativa.
Consumação – com o emprego da violência ou grave ameaça.
Tentativa – admissível.
ART. 345 - Exercício arbitrário das próprias razões.
Tutela a administração da justiça.
Sujeitos do delito.
Ativo – qualquer pessoa.
Passivo – imediatamente, o Estado; mediatamente, a pessoa lesada pela conduta.
Consumação e tentativa.
Consumação – para uma corrente, com o emprego dos atos executórios, ainda que a pretensão não seja satisfeita (majoritária); para outra corrente, com a satisfação da pretensão.
Tentativa – admissível.
Distinção com o furto, violação de domicílio, cárcere privado.
A distinção entre o crime de exercício arbitrário das próprias razões e os delitos de furto, violação de domicílio e cárcere privado reside no animus do agente, isto é, havendo a finalidade de fazer justiça pelas próprias mãos para satisfazer pretensão, incide o art. 345 do CP, em razão da especialidade.
ART. 346 - Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria em poder de terceiro por determinação judicial.
Tutela a administração da justiça.
Sujeitos do delito.
Ativo – somente o proprietário (crime próprio).
Passivo – o Estado, imediatamente; a pessoa prejudicada pela conduta, mediatamente.
Consumação e tentativa.
Consumação – no momento da supressão, subtração, destruição ou danificação do objeto material.
Tentativa – admissível.
ART. 347-Fraude processual.
Também recebe da doutrina a denominação de “estelionato processual”.
Tutela a administração da justiça.
Sujeitos do delito.
Ativo – qualquer pessoa, mesmo não tendo interesse imediato na lide.
Passivo – o Estado.
Consumação e tentativa.
Consumação – com a efetiva inovação, ainda que não chegue a enganar o juiz ou o perito.
Tentativa – admissível.
Arts. 348 e 349 -Favorecimento pessoal e real.
Tutelam a administração da justiça.
Sujeitos do delito.
Ativo – qualquer pessoa, menos o co-autor ou partícipe do delito anterior e as pessoas elencadas no § 2º do art. 348 do CP (escusa absolutória).
Passivo – o Estado.
Consumação e tentativa.
Consumação – no momento em que o beneficiado consegue subtrair-se, ainda que por breves instantes, da ação da autoridade, no caso do art. 348 do CP; no art. 349 do CP, a consumação ocorre com a prestação do auxílio, independentemente de se tornar seguro o proveito do crime anterior.
Tentativa – admissível em ambos os casos.
Distinção.
Distinguem-se o favorecimento real do pessoal, pois, naquele o sujeito visa a tornar seguro o proveito do delito, enquanto neste, visa tornar seguro o autor de crime antecedente.
Distinção entre favorecimento real e receptação.
1) No favorecimento real, o sujeito age exclusivamente em favor do autor do delito antecedente; na receptação, age em proveito próprio ou de terceiro, que não o autor do crime anterior;
2) No favorecimento real, o proveito pode ser econômico ou moral; na receptação, o proveito é sempre econômico;
3) no favorecimento real a ação do sujeito visa ao autor do crime antecedente e na receptação, a conduta incide sobre o objeto material do crime anterior.
Obs.: não esquecer da escusa absolutória presente no § 2º do art. 348 do Código Penal.

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