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Aula 23
Direito Penal p/ PC-PA (Delegado) -
Pós-Edital
Autor:
Michael Procopio
Aula 23
17 de Dezembro de 2020
 
 
 
 
 
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 136 
AULA 23 
DOS CRIMES PRATICADOS CONTRA A ADMINISTRAÇÃO 
PÚBLICA ESTRANGEIRA, CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA 
JUSTIÇA E CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS 
 
SUMÁRIO 
DOS CRIMES PRATICADOS CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTRANGEIRA, CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA E 
CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS ........................................................................................................... 1 
SUMÁRIO ....................................................................................................................................... 1 
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS ............................................................................................................. 4 
2. DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTRANGEIRA ................... 4 
2.1 CORRUPÇÃO ATIVA EM TRANSAÇÃO COMERCIAL INTERNACIONAL .......................................................... 5 
2.2 TRÁFICO DE INFLUÊNCIA EM TRANSAÇÃO COMERCIAL INTERNACIONAL ................................................... 6 
2.3 FUNCIONÁRIO PÚBLICO ESTRANGEIRO .............................................................................................. 6 
3. DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA ......................................................................... 7 
3.1 REINGRESSO DE ESTRANGEIRO EXPULSO ........................................................................................... 7 
3.2 DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA ............................................................................................................ 8 
3.3 COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU CONTRAVENÇÃO ....................................................................... 10 
3.4 AUTOACUSAÇÃO FALSA ............................................................................................................... 11 
3.5 FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA ......................................................................................... 11 
3.6 CORRUPÇÃO ATIVA DE TESTEMUNHA, SERVIDOR OU AUXILIAR DA JUSTIÇA ............................................ 14 
3.7 COAÇÃO NO CURSO DO PROCESSO ................................................................................................ 15 
3.8 EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES ................................................................................ 17 
Michael Procopio
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3.9 EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES: MODALIDADE ESPECIAL ............................................... 18 
3.10 FRAUDE PROCESSUAL .............................................................................................................. 18 
3.11 FAVORECIMENTO PESSOAL ....................................................................................................... 20 
3.12 FAVORECIMENTO REAL ............................................................................................................ 21 
3.13 INTRODUÇÃO DE APARELHO TELEFÔNICO MÓVEL OU SIMILAR EM ESTABELECIMENTO PRISIONAL ........... 22 
3.14 EXERCÍCIO ARBITRÁRIO OU ABUSO DE PODER............................................................................... 23 
3.15 FUGA DE PESSOA PRESA OU SUBMETIDA A MEDIDA DE SEGURANÇA ................................................. 24 
3.16 EVASÃO MEDIANTE VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA ........................................................................ 26 
3.17 ARREBATAMENTO DE PRESO ..................................................................................................... 27 
3.18 MOTIM DE PRESOS ................................................................................................................. 27 
3.19 PATROCÍNIO INFIEL ................................................................................................................. 28 
3.20 PATROCÍNIO SIMULTÂNEO OU TERGIVERSAÇÃO ............................................................................ 29 
3.21 SONEGAÇÃO DE PAPEL OU OBJETO DE VALOR PROBATÓRIO ............................................................ 29 
3.22 EXPLORAÇÃO DE PRESTÍGIO ...................................................................................................... 29 
3.23 VIOLÊNCIA OU FRAUDE EM ARREMATAÇÃO JUDICIAL ..................................................................... 31 
3.24 DESOBEDIÊNCIA A DECISÃO JUDICIAL SOBRE PERDA OU SUSPENSÃO DE DIREITO ................................. 32 
4. DOS CRIMES CONTRA AS FINANÇAS PÚBLICAS ................................................................................. 32 
4.1 CONTRATAÇÃO DE OPERAÇÃO DE CRÉDITO ...................................................................................... 33 
4.2 INSCRIÇÃO DE DESPESAS NÃO EMPENHADAS EM RESTOS A PAGAR ....................................................... 34 
4.3 ASSUNÇÃO DE OBRIGAÇÃO NO ÚLTIMO ANO DE MANDATO OU LEGISLATURA ........................................ 35 
4.4 ORDENAÇÃO DE DESPESA NÃO AUTORIZADA ................................................................................... 35 
4.5 PRESTAÇÃO DE GARANTIA GRACIOSA .............................................................................................. 36 
4.6 NÃO CANCELAMENTO DE RESTOS A PAGAR ..................................................................................... 37 
4.7 AUMENTO DE DESPESA TOTAL COM PESSOAL NO ÚLTIMO ANO DO MANDATO OU LEGISLATURA ............... 38 
4.8 OFERTA PÚBLICA OU COLOCAÇÃO DE TÍTULOS NO MERCADO ............................................................. 38 
5. QUESTÕES ............................................................................................................................. 39 
5.1 LISTA DE QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS ......................................................................................... 39 
5.2 GABARITO ................................................................................................................................ 54 
5.3 LISTA DE QUESTÕES COM COMENTÁRIOS ........................................................................................ 55 
6. DESTAQUES DA LEGISLAÇÃO E DA JURISPRUDÊNCIA .......................................................................... 86 
7. RESUMO ..............................................................................................................................114 
8. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................................136 
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1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS 
Nesta aula, prosseguiremos no estudo do Título XI da Parte Especial, denominada de Crimes Contra a 
Administração Pública. O Título abrange os seguintes capítulos: “Dos Crimes Praticados por Funcionário 
Público Contra a Administração em Geral”, “Dos Crimes Praticados por Particular Contra a Administração 
em Geral”, “Dos Crimes Praticados por Particular Contra a Administração Pública Estrangeira”, “Dos Crimes 
Contra a Administração da Justiça” e “Dos Crimes Contra as Finanças Públicas”. 
Dada a extensão do tema dos crimes contra a Administração Pública, já tivemos a introdução ao tema e o 
estudo dos dois primeiros capítulos abrangidos pelo Título XI da Parte Especial. Cumpre, agora, estudar os 
capítulos referentes aos crimes praticados por particular contra a Administração Pública Estrangeira, aos 
crimes contra a Administração da Justiça e aos crimes contra as finanças públicas. 
A divisão da aula corresponderá aos capítulos do Título XI a serem abordados: 
 
 
 
Ao final da aula, finalizaremoso estudo dos crimes em espécie previstos no Código Penal. Foram diversos 
delitos estudados, envolvendo a tutela de bens jurídicos importantes para a sociedade e diversas 
modalidades e tipos penais. Com isso, encerraremos o próprio estudo do Código Penal, já que são os crimes 
objeto da presente aula o teor dos últimos dispositivos do estatuto. 
Não se esqueçam de que o estudo sempre deve ser pesado para que a prova seja leve. E espero que 
encerremos a análise do Código com uma aula agradável, didática e aprofundada. Não é porque o estudo é 
pesado, no sentido de suficiente, que ele precisa ser penoso. Espero que o formato do livro digital tenha 
agradado no decorrer do estudo e continue agradando nesta reta final. 
Se chegou até aqui sem fazer isso, não perca a oportunidade: SIGA O PERFIL PROFESSOR.PROCOPIO NO 
INSTAGRAM. A ideia é obter informações relevantes de aprovação de novas súmulas, alterações legislativas 
e tudo o que houver de atualização, de forma ágil e com contato direto. Espero que mantenham sempre 
contato por lá, inclusive comunicando as vitórias, com aprovação no concurso dos sonhos. 
 
2. DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A 
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTRANGEIRA 
O Capítulo II-A do Título XI da Parte Especial se denomina “Dos Crimes Praticados por Particular Contra a 
Administração Pública Estrangeira” e foi introduzido pela Lei 10.467, de 11 de junho de 2002. Compõe-se 
de apenas três artigos, sendo que os dois primeiros contêm os seguintes crimes: corrupção ativa em 
Dos Crimes 
Praticados por 
Particular 
Contra a 
Administração 
Pública 
Estrangeira
Dos Crimes 
Contra a 
Administração 
da Justiça
Dos Crimes 
Contra as 
Finanças 
Públicas
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transação comercial internacional e tráfico de influência em transação comercial internacional. O último é 
uma norma penal não incriminadora, que traz o conceito de funcionário público estrangeiro. 
 
2.1 CORRUPÇÃO ATIVA EM TRANSAÇÃO COMERCIAL INTERNACIONAL 
O artigo 337-B do CP contém a norma que dispõe sobre o crime de corrupção ativa em transação comercial 
internacional: 
Art. 337-B. Prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida a funcionário 
público estrangeiro, ou a terceira pessoa, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício 
relacionado à transação comercial internacional: 
Pena – reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa. 
Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3 (um terço), se, em razão da vantagem ou promessa, o 
funcionário público estrangeiro retarda ou omite o ato de ofício, ou o pratica infringindo dever 
funcional. 
Prometer é comprometer-se a dar, fazer promessa de dar. Oferecer é dar de presente, 
apresentar. Dar é doar, ceder. Cuida-se de forma especial do crime de corrupção ativa, aqui 
com um núcleo do tipo a mais (dar), além de a vantagem poder se destinar a funcionário 
público ou a terceira pessoa (sua esposa, seu filho, seus genitores etc) e o ato se referir à 
transação comercial internacional. 
A conduta incriminada é prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem 
indevida a funcionário público estrangeiro ou a terceira pessoa, para determiná-lo a: 
 Praticar ato de ofício relacionado à transação comercial internacional; 
 Omitir ato de ofício relacionado à transação comercial internacional; 
 Retardar ato de ofício relacionado à transação comercial internacional. 
Note que se trata de modalidade especial do crime de corrupção ativa, neste caso envolvendo funcionário 
público estrangeiro e ato de ofício relacionado à transação comercial internacional. 
O crime tutela a regularidade e a probidade das relações comerciais internacionais de que o Brasil seja parte. 
Como exceção à teoria monista, no caso de corrupção, a prática da conduta pelo funcionário público 
estrangeiro e pelo particular, mesmo que em concurso, configura crimes diferentes para cada um deles. Se 
o particular oferece a vantagem e o funcionário público estrangeiro a aceita, o primeiro responde por 
corrupção ativa em transação comercial internacional, enquanto o último vai responder segundo as leis do 
seu país. 
O crime é comum, por não exigir qualidade específica do sujeito ativo para sua configuração. É doloso, sem 
previsão de modalidade culposa. Há a previsão de elemento subjetivo especial do tipo, consistente em “para 
determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício relacionado à transação comercial internacional”. 
É formal nas modalidades oferecer e prometer, independendo sua consumação da ocorrência de resultado 
naturalístico. Por outro lado, é material na modalidade de dar. 
Considera-se plurissubsistente, já que sua conduta admite fracionamento e, por conseguinte, admite a 
modalidade tentada. Entretanto, se as condutas de prometer ou oferecer forem praticadas verbalmente, 
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não é possível a tentativa. Sua consumação ocorre em um momento determinado no tempo, sendo 
classificado como instantâneo. 
 
2.2 TRÁFICO DE INFLUÊNCIA EM TRANSAÇÃO COMERCIAL INTERNACIONAL 
O crime de tráfico de influência em transação comercial internacional está tipificado no artigo 337-C do 
Código Penal: 
Art. 337-C. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, vantagem 
ou promessa de vantagem a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público estrangeiro 
no exercício de suas funções, relacionado a transação comercial internacional: 
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 
Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é 
também destinada a funcionário estrangeiro. 
Incluído pela Lei 10.467, de 11 de junho de 2002, cuida-se de forma especial do crime de tráfico de 
influência, previsto no artigo 332 do Código Penal. 
As ações nucleares do tipo misto alternativo são solicitar (pedir, pleitear, rogar), exigir (impor, obrigar), 
cobrar (reclamar o pagamento, fazer com que seja pago) ou obter (lograr, obter, conseguir). A conduta 
incriminada é solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, vantagem 
ou promessa de vantagem. A justificativa usada pelo agente é que ele conseguiria influir em ato praticado 
por funcionário público estrangeiro no exercício da função, relacionado à transação comercial internacional. 
Cuida-se de uma modalidade próxima ao venditio fumi do tráfico de influência, mas aqui voltado a 
funcionário público estrangeiro e ato relacionado a transação comercial internacional. 
Não é preciso que ele realmente tenha a influência ou que ele realmente consiga modificar a atuação do 
funcionário público estrangeiro, basta que ele use tal pretexto para solicitação, exigência, cobrança ou 
recebimento de vantagem ou promessa de vantagem. O bem jurídico tutelado é a regularidade e a 
probidade das relações comerciais internacionais de que o Brasil participe. 
O crime é comum, por não exigir qualidade específica do sujeito ativo para sua configuração. É doloso, sem 
previsão de modalidade culposa. É formal nas modalidades “solicitar”, “exigir” e cobrar”, enquanto é 
material na forma de “obter”. Classifica-se como delito de forma livre. Por fim, é plurissubsistente, já que 
sua conduta admite fracionamento e, por conseguinte, admite a modalidade tentada. 
2.3 FUNCIONÁRIO PÚBLICO ESTRANGEIRO 
O artigo 337-D, caput e parágrafo único, do Código Penal, constitui norma penal não incriminadora, da 
espécie explicativa ou interpretativa. Ou seja, é um dispositivo legal que não traz a incriminação de 
determina conduta, mas sim uma explicitação de conceitos para a adequada aplicação da legislação penal. 
Referido dispositivo trata do conceito de funcionário público estrangeiro para efeitos penais, afastando a 
aplicaçãodo conceito advindo do Direito Administrativo no que se refere à interpretação das leis criminais: 
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Art. 337-D. Considera-se funcionário público estrangeiro, para os efeitos penais, quem, ainda que 
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública em entidades 
estatais ou em representações diplomáticas de país estrangeiro. 
Parágrafo único. Equipara-se a funcionário público estrangeiro quem exerce cargo, emprego ou função 
em empresas controladas, diretamente ou indiretamente, pelo Poder Público de país estrangeiro ou 
em organizações públicas internacionais. 
A conceituação de funcionário público estrangeiro para fins penais é bastante ampla, 
bastando o exercício de cargo (vínculo estatutário), emprego (vínculo trabalhista) ou função 
pública (um múnus público, um conjunto de atribuições, como as de mesário nas eleições ou 
de jurado). Envolve o exercício transitório (por exemplo, estagiário) ou permanente (como o 
servidor da Secretaria de Estado ou Ministério das Relações Exteriores), remunerado ou não 
remunerado (serviço voluntário). 
Ademais, o parágrafo primeiro ainda traz o funcionário público estrangeiro por equiparação, que seria todo 
aquele que exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal e quem trabalha para empresa 
prestadora de serviço contratada ou conveniada para execução de atividade típica da Administração Pública, 
como os funcionários terceirizados que exercem suas funções na Polícia Federal, na atividade de emissão 
de passaportes. 
 
3. DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA 
O Capítulo III do Título XI da Parte Especial (Dos Crimes Contra a Administração Pública) trata do tema: “Dos 
Crimes Contra a Administração da Justiça”. Nele, estão incluídos os crimes reingresso de estrangeiro 
expulso; denunciação caluniosa; comunicação falsa de crime ou contravenção; autoacusação falsa; falso 
testemunho ou falsa perícia; corrupção ativa de testemunha, servidor ou auxiliar da justiça; coação no curso 
do processo; exercício arbitrário das próprias razões; modalidade especial de exercício arbitrário das 
próprias razões; fraude processual; favorecimento pessoa; favorecimento real; exercício arbitrário ou abuso 
de poder; fuga de pessoa presa ou submetida a medida de segurança; evasão mediante violência contra a 
pessoa; arrebatamento de preso; motim de presos; patrocínio infiel (incluído o patrocínio simultâneo ou 
tergiversação); sonegação de papel ou objeto de valor probatório; exploração de prestígio; violência ou 
fraude em arrematação judicial e desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito. 
São crimes que tutelam a Administração Pública, mas mais especificamente o funcionamento do Poder 
Judiciário. Entretanto, não tutelam apenas a atividade jurisdicional, mas do entendimento da Justiça como 
um todo, como aquelas funções relacionadas à Justiça, mas administrativas. É o caso da expulsão do 
estrangeiro por ato do Ministério da Justiça, ato não revestido de natureza judicial, mas ligado à ideia de 
Justiça. 
 
3.1 REINGRESSO DE ESTRANGEIRO EXPULSO 
O crime de reingresso de estrangeiro expulso está previsto no artigo 338 do Código Penal: 
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Art. 338 - Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da pena. 
Reingressar é entrar novamente, é ingressar de novo. A conduta tipificada é a de o estrangeiro retornar ao 
território nacional após já ter sido expulso. Obviamente, exige-se que o estrangeiro tenha consciência de 
que houve sua regular expulsão e não é permitido seu retorno, por não ter havido revogação da decisão. 
Diverge a doutrina sobre configurar o crime a entrada no território jurídico ou por extensão, ou se apenas 
se satisfaz o tipo com o ingresso no território físico. Mirabete defende a primeira posição, que, ao que 
parece, é a posição também de Cezar Bitencourt1. Já Damásio de Jesus defende a segunda posição. 
O crime é próprio, só podendo ser praticado pelo estrangeiro expulso do território nacional. O crime é 
doloso, sem previsão de modalidade culposa. A maioria entende ser crime material. É instantâneo, 
consumando-se em um dado instante no tempo, mas alguns entendem ser crime permanente. Por ser sua 
conduta fracionável, de acordo com a maioria é plurissubsistente e admite a forma tentada. 
O Superior Tribunal de Justiça, por meio da sua Primeira Seção, já decidiu que não cabe ao magistrado 
analisar a justiça da decisão da expulsão para o fim de tipificação do crime previsto no artigo 338 do Código 
Penal: 
“(...) 1. Não cabe ao magistrado avaliar se o decreto de expulsão do paciente do território nacional 
foi justo ou não, para caracterização de eventual tipificação do crime previsto no art. 338 do Código 
Penal. Precedente: HC 218.279/DF, Relator Ministro Teori Albino Zavascki, Primeira Seção, DJe 
16/11/2011 2. Ordem denegada.” (STJ, HC 290849/DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Seção, 
DJe 02/06/2014). 
 
3.2 DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA 
O delito de denunciação caluniosa está previsto no artigo 339 do Código Penal: 
Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de 
investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, 
imputando-lhe crime de que o sabe inocente: 
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. 
§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto. 
§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção. 
A conduta nuclear é dar causa a, que significa motivar, provocar, ocasionar. A conduta incriminada é dar 
causa à instauração de investigação policial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou 
ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente. 
Pune-se, portanto, aquele que, sabendo que alguém é inocente, mesmo assim dá causa à instauração de 
um dos seguintes procedimentos: 
 Investigação policial; 
 
1 BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, volume V: parte especial. 4ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010, p. 299. 
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 Instauração de investigação administrativa; 
 Inquérito civil; 
 Ação de improbidade administrativa. 
Cumpre notar que, no caso de investigação pela polícia, o tipo não exige a instauração do inquérito, mas se 
contenta com o início da investigação policial em virtude da falsa imputação do crime a alguém. 
Se houver instauração da improbidade administrativa, só se configura o crime de denunciação 
caluniosa se a demanda for consequência da imputação falsa de um crime ou contravenção 
penal. Caso o ato de improbidade não possua conteúdo criminal, ou seja, não configure 
infração penal, o crime será o previsto no artigo 19 da Lei de Improbidade Administrativa, que 
se contenta com a representação contra alguém, por ato de improbidade, quando o autor o 
sabe inocente. 
No caso de ação penal privada ou pública condicionada à representação, quem pode praticar o crime é a 
vítima, que apresenta queixa ou representação, ou seu representante legal, conforme o caso. As autoridades 
que atuam na área criminal também podem praticar o delito, como delegados, promotores, procuradores e 
até mesmo magistrados. 
O crime é comum, por não exigir qualquer qualidade específica do sujeito ativo. É, ainda, instantâneo, por 
se consumar em um dado instante do tempo. É doloso, sem previsão de modalidade culposa. Por ser sua 
conduta fracionável, classifica-se com plurissubsistentee admite a tentativa. 
Além disso, é crime material, conforme o seguinte julgado do STJ, que consigna ser necessária a instauração 
de um dos procedimentos elencados no artigo 339 do CP para a configuração do crime correlato: 
“(...) 1. Para a configuração do crime previsto no artigo 339 do Código Penal, é necessário que a 
denúncia falsa dê ensejo à deflagração de uma investigação, seja ela policial ou administrativa, ou 
de um processo judicial, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra a pessoa 
alvo da imputação. 2. Na espécie, constatando-se que a acusação formulada pelo paciente não deu 
ensejo à instauração de auto de apuração de ato infracional contra o adolescente indicado como 
partícipe do crime de roubo objeto de investigação policial em curso, impõe-se o reconhecimento da 
atipicidade da conduta. Precedentes. (...)” (STJ, HC 428355/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, 
DJe 01/08/2018). 
Como se depreende do tipo penal, é necessária, para a configuração do tipo penal, a ciência de que o sujeito 
não cometeu o delito que se lhe imputa: 
Consoante a jurisprudência desta Corte Superior, "para caracterização do crime de denunciação 
caluniosa é imprescindível que o sujeito ativo saiba que a imputação do crime é objetivamente falsa 
ou que tenha certeza de que a vítima é inocente." (RHC 106.998/MA, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI 
CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 21/2/2019, DJe 12/3/2019). (STJ, AgRg no HC 501188/RO, Rel. Min. 
Ribeiro Dantas, DJe 02/03/2020). 
 
Forma majorada 
O parágrafo primeiro do artigo 339 prevê majorante de sexta parte da pena, caso o agente se sirva de 
anonimato ou de nome suposto. 
 
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Forma minorada 
O artigo 339, em seu parágrafo segundo, traz uma minorante da pena. Determina a diminuição da pena pela 
metada, no caso de a imputação ser de prática de contravenção. 
 
3.3 COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU CONTRAVENÇÃO 
O artigo 340 traz o crime de comunicação falsa de crime ou contravenção: 
Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção 
que sabe não se ter verificado: 
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. 
Provocar é impelir, incitar, causar, ocasionar. A conduta típica é provocar a ação de autoridade, 
comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não ter se verificado. Configura-se o 
crime com a prática de qualquer diligência para elucidação da infração penal, não sendo necessária a 
instauração do inquérito criminal. 
A conduta incriminada no artigo 340 do CP é diferente daquela tipificada no artigo 339 do 
CP, que trata da denunciação caluniosa. Na comunicação falsa de crime ou contravenção, o 
agente comunica a ocorrência de uma infração penal que sabe não ter ocorrido. Já na 
denunciação caluniosa, o sujeito ativo comunica a prática de um crime por determinada 
pessoa, sabendo que ela é inocente. 
A doutrina majoritária aponta não haver crime no caso de comunicação a um policial, dado 
que a expressão autoridade não pode ser objeto de analogia, pois seria em prejuízo do réu. Deste modo, a 
ação de autoridade seria, por exemplo, a do delegado de polícia ou do promotor de justiça 
O crime é instantâneo, consumando-se em determinado momento temporal. É doloso, sem previsão de 
punição a título de culpa em sentido estrito. Classifica-se como material, por ser necessária a modificação 
do mundo exterior para sua consumação, ou seja, o início das providências pela autoridade. Por ser a 
conduta fracionável, é possível a tentativa, sendo o crime plurissubsistente. 
Vale a leitura de interessante precedente do STJ sobre o delito de comunicação falsa de crime, envolvendo 
atletas que vieram ao Brasil participar dos Jogos Olímpicos: 
“(...) 2. O delito inserto no artigo 340 do Código Penal se configura com a provocação da autoridade 
competente pela persecução penal a realizar alguma diligência destinada a apurar a prática de 
crime ou contravenção, comunicando por qualquer meio a ocorrência de infração penal que sabe 
não ter ocorrido, tratando-se de crime de forma livre. 3. No caso, resta incontroverso nos autos que 
a instauração do inquérito policial ocorreu exclusivamente em razão da ação do recorrido, atleta 
estrangeiro participante das Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro, que provocou a atuação da 
Delegacia Especial de Atendimento ao Turista - DEAT ao comunicar a ocorrência do falso delito de 
roubo qualificado através da imprensa. 4. Ainda que se requisite a comunicação direta à autoridade 
da falsa ocorrência do delito, na espécie houve a reiteração da falsa comunicação delitiva em 
depoimento prestado pelo recorrido diretamente aos policiais, demonstrando-se a princípio o 
enquadramento típico da conduta, que teve como consequência a indevida continuidade da 
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persecução penal. (...)” (STJ, REsp 1727501/RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, Sexta Turma, 
DJe 16/08/2018). 
 
3.4 AUTOACUSAÇÃO FALSA 
A autoacusação falsa encontra previsão no artigo 341 do Código Penal: 
Art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem: 
Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa 
Acusar-se é atribuir uma infração a si mesmo, é apresentar-se como responsável. Tipifica-se a ação de se 
acusar, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem. O agente comunica que 
cometeu um crime que não ocorreu ou se arroga a autoria de crime cometido por outra pessoa. 
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É formal, de modo que não precisa de 
resultado naturalístico (prática de algum ato pela autoridade) para a sua consumação. É instantâneo, 
consumando-se em um dado momento do tempo, sem prolongamento da fase de consumação. 
Existe controvérsia entre os penalistas sobre a ocorrência de concurso material de crimes no caso de a 
autoacusação falsa for feita para a ocorrência do estelionato, na modalidade de fraude para recebimento 
de indenização ou valor de seguro (artigo 171, § 2º, V, do CP). Parte entende que, por ser crime-meio, deve 
ser absorvido pelo crime-fim, com incidência do princípio da consunção. A outra corrente defende que os 
dois crimes tutelam bens jurídicos diversos, razão pela qual devem ser aplicadas as penas de ambos. 
O crime é doloso, sendo que há divergência sobre a necessidade de finalidade específica por parte do 
agente. Parte da doutrina entende ser necessário o elemento subjetivo especial do tipo, consistente no 
intuito de provocar a ação inútil da autoridade, com base na afirmação do agente de que ele mesmo praticou 
o crime. Por ser fracionável a conduta, o crime é classificado como plurissubsistente e admite a tentativa. 
 
3.5 FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA 
O artigo 342 do CP dispõe sobre o crime de falso testemunho ou falsa perícia: 
Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, 
tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: 
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se 
cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil 
em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. 
§ 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente 
se retrata ou declara a verdade. 
As condutas incriminadas, a serem praticadas por testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete são: 
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 fazer afirmaçãofalsa: é declarar que aconteceu o que não aconteceu ou afirmar algo diverso ou 
diferente da realidade. 
 negar a verdade: é negar algo que é verdadeiro, não reconhecer algo que efetivamente é verdade. 
 calar a verdade: é ficar em silêncio ou omitir-se a respeito daquilo que é a realidade, da qual tem 
ciência. 
A falsidade pode ocorrer em processo judicial (instaurado no âmbito do Poder Judiciário, presidido por um 
juiz, para exercício da jurisdição), ou administrativo (procedimento instaurado no âmbito da Administração 
Pública), inquérito policial (procedimento de investigação criminal, a cargo da polícia judiciária) ou em juízo 
arbitral (aquele instaurado por meio da arbitragem, método de resolução de conflitos que depende da 
convenção de arbitragem, ou seja, decisão das próprias partes de submeter a controvérsia à apreciação de 
um árbitro ou uma turma de árbitros). 
Trata-se de crime de mão própria, razão pela qual não se admite a coautoria, pois só a própria testemunha 
ou o próprio perito pode praticá-lo. Entretanto, o crime em estudo é o que admite a excepcionalíssima 
coautoria em crime de mão própria, no caso de falsa perícia, se forem dois os peritos e eles assinarem 
conjuntamente o laudo falso sobre a perícia por eles realizada. 
Grande parte da doutrina ressalva a necessidade de potencialidade lesiva da conduta praticada, apta a 
influenciar o julgador em relação ao seu convencimento no processo ou o curso das investigações no 
inquérito. 
Claus Roxin classifica o crime de falso testemunho como crimes de expressão, por se referir a 
um processo interno ocorrido na mente do autor. O agente recebe uma informação e a 
interpreta, processa, praticando então a conduta típica. Ele toma ciência de determinados fatos 
e, então, depõe de forma diversa. O crime não está na contradição entre o que o agente disse 
e a realidade (concepção objetiva), pois o agente pode ter percebido a realidade de forma 
diversa. A contradição que leva à configuração do falso testemunha é a que ocorre entre a 
convicção íntima da testemunha e a sua manifestação ou entre o seu conhecimento dos fatos e sua atitude 
de calar-se (concepção ou teoria subjetiva). 
A conduta do advogado que instrui a testemunha a mentir seria, então, de participação no crime de falso 
testemunho, segundo a doutrina e a jurisprudência majoritárias. Deve-se consignar, entretanto, que o 
Supremo Tribunal Federal já decidiu ser possível a coautoria em caso de advogado que induziu testemunha 
a mentir em processo trabalhista (RHC 81327/SP, Rel. Min. Ellen Gracie, Primeira Turma, Julgamento em 
11/12/2001). 
O crime é instantâneo, consumando-se em um instante determinado no tempo. É doloso, sem previsão de 
forma culposa. O crime é plurissubsistente na modalidade de falsa perícia, admitindo a tentativa. No caso 
de falso testemunho, o entendimento que prevalece é o da impossibilidade do conatus. 
Tanto o STJ quanto o STF possuem precedentes em que se consigna não ser pressuposto do delito o 
compromisso de a testemunha dizer a verdade, feito no início do seu depoimento: 
“(...) 2. Não se desconhece a existência de discussão doutrinária e jurisprudencial acerca da 
imprescindibilidade ou não de a testemunha estar compromissada para a caracterização do crime 
previsto no artigo 342 do Código Penal, tendo esta Corte Superior de Justiça se orientado no sentido 
de que o compromisso de dizer a verdade não é pressuposto do delito. Precedentes do STJ e do STF. 
(...). (STJ, HC 192659/ES, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 19/12/2011). 
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A doutrina diverge se o informante pode praticar o crime previsto no artigo 342 do Código Penal, sendo que 
o posicionamento do STJ é de que não se admite a analogia in malam partem para se incluir o informante 
no conceito de testemunha: 
“(...) 3. Se o próprio legislador, em clara hipótese de interpretação autêntica, definiu ele mesmo 
o conceito de testemunha (art. 415 do Código de Processo Civil/1973 e art. 288 do Código Civil), não 
cabe ao julgador se afastar dessa definição, para nela inserir aqueles a que a Lei vedou figurarem 
como testemunhas, mormente em se tratando de verificação de abrangência de norma 
incriminadora, em cuja interpretação é vedada a analogia in malam partem. (...)” (STJ, REsp 
1549417/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, DJe 08/09/2016). 
O STF já decidiu que o declarante pode ser equiparado à testemunha, mas, nos votos proferidos, percebe-
se a ressalva de que não havia impedimento ou vedação à oitiva da pessoa como testemunha, tendo sido 
apenas ouvida como declarante (HC 83254/PE, Rel. p/ acórdão Min. Joaquim Barbosa, Primeira Turma, 
Julgamento em 23/09/2003). 
No caso de o falso testemunho ocorrer em processo trabalhista, a competência para julgamento do crime é 
da Justiça Federal, nos termos da Súmula 165 do STJ: 
Compete à Justiça Federal processar e julgar crime de falso testemunho cometido no processo 
trabalhista. 
O STJ já decidiu que o crime de falso testemunho é de natureza formal, não exigindo resultado naturalístico 
para sua consumação. Ademais, considerando que se configura com o encerramento do depoimento, 
consignou ser dispensável a instauração de inquérito policial ou outro procedimento de investigação: 
“(...) III - Nessa ordem de ideias e considerando que o crime de falso testemunho é de natureza formal, 
consumando-se no momento da afirmação falsa a respeito de fato juridicamente relevante, 
aperfeiçoando-se quando encerrado o depoimento, a cópia integral dos autos no qual foi constatada 
a suposta prática criminosa fornece elementos suficientes para a persecução penal, dispensando, de 
consequência, a instauração de qualquer procedimento investigativo prévio, notadamente o 
inquérito. (...)” (STJ, RHC 82027/SC, Rel. Min. Félix Fischer, Quinta Turma, DJe 09/05/2018). 
No mesmo sentido: 
“É pacífico o entendimento de que o crime de falso testemunho é formal, consumando-se no momento 
em que é feita a afirmação falsa sobre fato juridicamente relevante, razão pela qual não é necessária 
a prolação de sentença condenatória no processo em que o depoimento foi prestado para que o 
delito se configure, exatamente como na espécie. Doutrina. Jurisprudência.” (STJ, AgRg no RHC 
122081/MG, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 05/03/2020). 
Também há precedente do Supremo Tribunal Federal, reconhecendo a natureza formal do crime em tela: 
“(...) 3. Quanto ao desvalor da afirmação tida como falsa no deslinde da causa em que se deu o 
depoimento do paciente, é firme o entendimento deste Supremo Tribunal de que "o crime de falso 
testemunho é de natureza formal e se consuma com a simples prestação do depoimento falso, sendo 
de todo irrelevante se influiu ou não no desfecho do processo" (HC nº 73.976, Rel. Min. Callos Velloso). 
(...)” (HC 81951/SP, Rel. Min. Ellen Gracie, Primeira Turma, Julgamento: 10/02/2004). 
Ademais, o Superior Tribunal de Justiça entende que a conduta da testemunha é atípica quando muda seu 
depoimento, prestado perante a autoridade policial, com o intuito de evitar a responsabilização por crime, 
que no caso do precedente era o de posse de drogas para consumo próprio: 
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“(...) Como bem demonstrado na decisão agravada, é cediço que a jurisprudência desta Corte tem se 
direcionado no sentido de reconhecer a atipicidade da conduta, em casos semelhantes ao dos autos, 
por considerar manifesta a ilegalidade quando o réu é acusado de falso testemunho por modificar 
o depoimento prestado na fase policial, com o intuito de se eximir do crime previsto no art. 28 da Lei 
n. 11.343/06, qual seja, posse de drogas para consumo pessoal. (...)” (AgRg no HC 351788/SC, Rel. Min. 
Joel Ilan Paciornik, Quinta Turma, DJe 17/10/2017).Modalidades majoradas 
Há a previsão de causa de aumento de pena, de um sexto a um terço, no artigo 342, parágrafo primeiro, do 
Código Penal. O crime será majorado quando praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de 
obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade 
da administração pública direta ou indireta. 
 
Retratação 
O parágrafo segundo do artigo 342 do Código Penal determina que o fato deixa de ser 
punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou 
declara a verdade. Trata-se da retratação, que é a causa de extinção da punibilidade 
consistente no ato do agente de retirar totalmente o que disse anteriormente. 
Em se tratando de crime de falso testemunho ou falsa perícia, a retratação pode ser oferecida até a 
sentença de primeira instância, mas não do processo penal em que o sujeito é acusado do próprio crime de 
falsa perícia ou falso testemunho. O termo final do prazo é ser proferida sentença, de primeiro grau, no 
processo em cujo curso o acusado prestou falso testemunho ou elaborou falsa perícia. 
O Código Penal prevê que a retratação do falso testemunho ou da falsa perícia tem como consequência a 
extinção da punibilidade do fato. Ora, se o fato deixa de ser punido, esta causa de extinção da punibilidade 
se estende aos demais agentes, coautores ou partícipes. 
 
3.6 CORRUPÇÃO ATIVA DE TESTEMUNHA, SERVIDOR OU AUXILIAR DA 
JUSTIÇA 
Passamos à análise do artigo 343 do CP e, portanto, sobre o crime de corrupção ativa de testemunha, 
servidor ou auxiliar da Justiça: 
Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, perito, 
contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em depoimento, 
perícia, cálculos, tradução ou interpretação: 
Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa. 
Majorante 
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Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é cometido com o fim de 
obter prova destinada a produzir efeito em processo penal ou em processo civil em que for parte 
entidade da administração pública direta ou indireta. 
As ações nucleares são dar (ceder, alienar gratuitamente, transferir); oferecer (dar de presente, apresentar) 
ou prometer (comprometer-se a dar, fazer promessa de dar). A conduta incriminada é dar, oferecer ou 
prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete. 
Exige-se que o agente tenha como finalidade que o sujeito (testemunha, servidor ou auxiliar da 
Justiça) faça afirmação falsa, negue ou cale a verdade em depoimento, perícia, cálculos, 
tradução ou interpretação. Cuida-se de elemento subjetivo especial do tipo. 
O que se pune aqui é que o agente dê, ofereça ou prometa dinheiro ou qualquer outra 
vantagem, ou seja, suborne alguém para que esta pessoa pratique o crime de falso testemunho. 
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. Cuida-se de crime doloso, com exigência de 
finalidade especial do tipo, consistente no intuito de obter do terceiro uma afirmação falsa, consistente em 
que ele faça afirmação falsa, negue ou cale a verdade. É formal, não dependendo de resultado naturalístico 
(a efetiva prática do falso testemunho ou falsa perícia pelo terceiro) para sua consumação. É instantâneo, 
consumando-se em um instante determinado no tempo. Por ser sua conduta fracionável, é 
plurissubsistente, admitindo a tentativa. 
O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que a mãe e representante legal da vítima, menor de idade, não 
pode ser a pessoa que recebe a doação, o oferecimento ou a promessa de dinheiro ou vantagem a que se 
refere o artigo 343 do Código Penal. Por não poder ser considerada testemunha, o oferecimento de 
vantagem a ele não configura o crime em estudo: 
“(...) 2. A mãe e representante legal da vítima menor de idade não tem legitimidade ativa para 
cometer o injusto do art. 342 do Código Penal e, por consequência, não pode figurar como objeto do 
delito do art. 343 do mesmo estatuto, por não se inserir no conceito de testemunha previsto nos 
dispositivos. (...)” (STJ, REsp 1549417/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, DJe 
08/09/2016). 
O STJ, em acórdão mais recente, também analisou o caso de configuração do crime: 
“Inviável a absolvição pelo crime de corrupção ativa de testemunha porque, conforme se extrai da 
prova oral analisada pelas instâncias ordinárias, a vítima, depois de prestar declarações como 
testemunha na delegacia de polícia, foi procurada pelo acusado que, de posse de cópia do depoimento, 
exibiu-lhe dinheiro, oferecendo-lhe a vantagem para que mudasse sua versão caso fosse chamada 
a depor em juízo, visando assim obter prova destinada a produzir efeito em processo criminal.” (STJ, 
AgRg no AREsp 1141970/SC, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 02/03/2018). 
 
3.7 COAÇÃO NO CURSO DO PROCESSO 
O crime de coação no curso do processo está tipificado no artigo 344 do Código Penal: 
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Art. 344 - Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra 
autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir em processo judicial, 
policial ou administrativo, ou em juízo arbitral: 
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da pena correspondente à violência. 
A conduta incriminada é usar (utilizar, empregar) de violência (vis absoluta, coação física) ou grave ameaça 
(vis compulsiva, coação moral) contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é 
chamada a intervir em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral. É necessário, ainda, 
que o emprego de violência ou grave ameaça tenha o fim de favorecer interesse próprio ou alheio. 
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É formal, pois se consuma 
independentemente da ocorrência do resultado naturalístico. É doloso, exigindo o elemento subjetivo 
especial do injusto, consistente no favorecimento de interesse próprio ou de outrem. É instantâneo, 
consumando-se em um dado instante do tempo. É plurissubsistente, admitindo a tentativa, já que a conduta 
é fracionável. 
O preceito secundário do artigo 344 prevê a sanção penal de reclusão, de um a quatro anos, e 
multa, além da pena correspondente à violência. Parte da doutrina entende que há concurso 
material entre os crimes, enquanto alguns penalistas defendem que a lei se refere à aplicação da 
regra do cúmulo material, não à modalidade de concurso de crimes. 
Quanto à soma das penas referentes ao crime de coação no curso do processo e ao relativo à 
violência, há o interessante julgado do STJ: 
“(...) 4. A determinação contida no preceito secundário do art. 344 do CP ("reclusão, de um a quatro 
anos, e multa, além da pena correspondente à violência") refere-se tão-somente à incidência da regra 
do cúmulo material entre os crimes, é dizer, se reconhecida a prática do crime de coação no curso 
do processo, existindo violência, o juiz, por expressão da vontade do legislador, deverá somar sua 
pena ao do delito resultante daquela violência. 5. No caso, o paciente agrediu com pedaço de madeira 
e foice a vítima, visando a coagi-la, porquanto testemunha de acusação em processo no qual responde 
por homicídio. 6. Embora elementar do delito do art. 344 do Código Penal, não haveria como o 
resultado advindo da violência se exaurir tão-somente no tipo penal em questão, isto é, ser por ele 
absorvido, de modo que, a depender das consequências da conduta violenta, como resposta penal, o 
somatório das penas. Na hipótese em questão, a violência empregada causou lesões de natureza 
gravíssima, crime pelo qual restou corretamente condenadoem segundo grau. (...)” (STJ, HC 
388983/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, DJe 27/09/2017). 
O Superior Tribunal de Justiça já decidiu não ser cabível a substituição da pena privativa de liberdade por 
restritiva de direitos no caso do crime de coação no curso do processo, por envolver violência ou grave 
ameaça: 
“(...) Não há que se falar em substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos, haja 
vista que a violência ou grave ameaça é elemento do tipo do crime de coação no curso do processo 
(art. 344 do CP), pelo qual os acusados foram condenados, não se verificando o cumprimento do 
requisito exigido pelo artigo 44 do Código Penal. (...)” (STJ, AgRg no AREsp 1031908/DF, Rel. Min. Jorge 
Mussi, Quinta Turma, DJe 07/03/2018). 
Vale conhecer julgado sobre coação no curso do processo, praticada por guarda municipal e que determinou 
o seu afastamento de suas funções: 
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“No caso em tela, as medidas cautelares diversas da prisão foram decretadas porque o paciente, "na 
condição também de Guarda Municipal desta urbe, na obrigação funcional de praticar atos de ofício - 
comunicar responsável sobre o ocorrido, qualificar as testemunhas - pois sabia que um crime contra a 
vida ocorreu, devendo de tudo realizar como agente de segurança pública para sua elucidação, há 
indícios que assim não o fez, além de que teria coagido testemunha no curso da investigação criminal, 
no interior de uma Delegacia de Polícia".” (STJ, HC 538273/SP, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, 
Sexta Turma, DJe 10/02/2020). 
 
3.8 EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES 
O artigo 345 do Código Penal trata do crime de exercício arbitrário das próprias razões: 
Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando 
a lei o permite: 
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência. 
Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa. 
A conduta incriminada é fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo 
quando a lei o permite. O tipo prevê que se configura o crime nos casos em que a lei não permite que o 
indivíduo faça justiça pelas próprias mãos, hipóteses em que a lei faculta que se aja em defesa de seu direito, 
como nos casos legais de permitida retenção dos bens e na legítima defesa. 
Fazer justiça pelas próprias mãos é defender a sua pretensão por via transversa, que não 
a legal. Cuida-se de crime de forma livre, possibilitando diversas formas de execução, de 
defesa da pretensão, mesmo que seja legítima. Assim, há exercício arbitrário das próprias 
razões se alguém, ao invés de promover ação judicial, buscar receber dívida ameaçando o 
devedor ou, aproveitando-se de sua distração, pega algo que havia entregado em 
comodato. 
Existe divergência sobre a necessidade do resultado naturalístico do crime para a consumação do delito, 
sendo que parte da doutrina entende necessária a satisfação da pretensão, classificando o crime como 
material. É a opinião de Nelson Hungria. Por outro lado, alguns doutrinadores defendem que o crime é 
formal, não dependendo de resultado naturalístico para sua consumação. 
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É doloso, exigindo o elemento subjetivo 
especial do injusto, consistente na satisfação de sua pretensão. É instantâneo, consumando-se em um dado 
instante do tempo. É plurissubsistente, admitindo a tentativa, já que a conduta é fracionável. 
Com relação à natureza da pretensão, surgiu a discussão sobre ser possível que o agente 
busque o pagamento de serviço sexual prestado, ou seja, o valor de um programa. Deste 
modo, no caso levado a julgamento, controvertia-se sobre a tipificação da conduta do agente 
que cobrava a remuneração pelo serviço sexual – roubou ou exercício arbitrário das próprias 
razões. O STJ decidiu ser o caso de configuração de artigo 345 do Código Penal: 
“(...) 2. Não mais se sustenta, à luz de uma visão secular do Direito Penal, o entendimento do Tribunal 
de origem, de que a natureza do serviço de natureza sexual não permite caracterizar o exercício 
arbitrário das próprias razões, ao argumento de que o compromisso assumido pela vítima com a ré 
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- de remunerar-lhe por serviço de natureza sexual - não seria passível de cobrança judicial. 3. A figura 
típica em apreço relaciona-se com uma atividade que padece de inegável componente moral 
relacionado aos "bons costumes", o que já reclama uma releitura do tema, mercê da mutação desses 
costumes na sociedade hodierna e da necessária separação entre a Moral e o Direito. 4. Não se pode 
negar proteção jurídica àquelas (e àqueles) que oferecem serviços de cunho sexual em troca de 
remuneração, desde que, evidentemente, essa troca de interesses não envolva incapazes, menores de 
18 anos e pessoas de algum modo vulneráveis e desde que o ato sexual seja decorrente de livre 
disposição da vontade dos participantes e não implique violência (não consentida) ou grave ameaça. 
5. Acertada a solução dada pelo Juiz sentenciante, ao afastar o crime de roubo - cujo elemento 
subjetivo não se compatibiliza com a situação versada nos autos - e entender presente o crime de 
exercício arbitrário das próprias razões, ante o descumprimento do acordo verbal de pagamento, pelo 
cliente, dos préstimos sexuais da paciente. (...)” (STJ, HC 211888/TO, Rel. Min. Rogério Schietti Cruz, 
Sexta Turma, DJe 07/06/2016). 
 
3.9 EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES: MODALIDADE 
ESPECIAL 
O artigo 346 traz um crime que configura uma modalidade especial do crime de exercício arbitrário das 
próprias razões: 
Art. 346 - Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria, que se acha em poder de terceiro por 
determinação judicial ou convenção: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. 
São núcleos do tipo tirar (apanhar, arrancar, remover); suprimir (sonegar, abolir, eliminar), destruir 
(aniquilar, exterminar) ou danificar (deteriorar, estragar, romper). Cuida-se de tipo penal sem denominação 
legal, ou seja, nomen iuris. A doutrina costuma denominá-lo de modalidade especial de exercício arbitrário 
das próprias razões. 
Só pode ser o sujeito ativo aquele que é o proprietário da coisa, o que faz com o que crime seja classificado 
como próprio. É material, pois só se consuma com o resultado naturalístico. É instantâneo, consumando-se 
em um instante determinado no tempo. Seu elemento subjetivo é o dolo, não havendo previsão de 
modalidade culposa. É plurissubsistente, admitindo o conatus. 
Imaginem que o carro de alguém foi penhorado, por dívida decorrente de negócio firmado com outrem, e 
que o credor seja nomeado depositário. Caso o proprietário destrua o veículo, que se encontra na posse do 
depositário por determinação judicial, cometerá o crime do artigo 346 do Código Penal. 
 
3.10 FRAUDE PROCESSUAL 
O crime de fraude processual está previsto no artigo 347, que tem o seguinte teor: 
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Art. 347 - Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o estado de lugar, 
de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito: 
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. 
Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado, 
as penas aplicam-se em dobro. 
Inovar é modificar, alterar, mudar, variar. A conduta incriminada é inovar artificiosamente, na pendência 
de processo civil ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o 
juiz ou o perito. 
Pune-se osujeito que busca se utilizar de fraude, ardil ou engodo para modificar o estado de lugar, de coisa 
ou de pessoa. Ele tenta enganar o juiz ou o perito por meio de uma alteração do estado de um dos objetos 
materiais previstos no tipo, com uso de ardil, artifício. A modificação de estado deve ser de lugar, coisa ou 
pessoa, sendo vedada a inclusão de algum outro objeto por analogia. 
Nesta modalidade, prevista no caput do artigo 347, exige-se que a conduta ocorra na pendência de processo 
civil ou administrativo. Portanto, o início do procedimento antes da ação do agente é condição para a 
configuração do tipo penal. 
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É doloso, exigindo o elemento subjetivo 
especial do injusto, consistente no intuito de induzir o juiz ou o perito a erro. É instantâneo, consumando-
se em um dado instante do tempo. É plurissubsistente, admitindo a tentativa, já que a conduta é fracionável. 
Por fim, importante mencionar que o artigo 158-C do Código de Processo Penal, incluído pela 
Lei n. 13.964/2019 (Pacote Anticrime), prevê uma forma específica de tipificação do crime de 
fraude processual, ao dispor sobre a cadeia de custódia da prova. A custódia da prova trata do 
regramento da preservação da prova obtida pela polícia, demonstrando que não houve a sua 
corrupção ou alteração desde a coleta da prova até a sua apreciação judicial. O artigo 158-C, § 
2º, traz a seguinte determinação: 
§ 2º É proibida a entrada em locais isolados bem como a remoção de quaisquer vestígios de locais de 
crime antes da liberação por parte do perito responsável, sendo tipificada como fraude processual a 
sua realização. 
 
Forma majorada 
O parágrafo único traz forma majorada do crime de fraude processual, determinando a aplicação da pena 
em dobro. Incide a majorante no caso de a inovação ocorrer para produzir efeito em processo penal. 
Nesta modalidade, não prevê a lei que a conduta deve ocorrer na pendência de processo penal, mas para 
produzir efeito no processo penal. Por isso, o Superior Tribunal de Justiça já entendeu se caracterizar 
referida modalidade de crime ainda que não haja procedimento criminal instaurado: 
“(...) III - Para a caracterização do delito de fraude processual, especificamente em relação à conduta 
descrita no parágrafo único do art. 347 do CP, é despicienda a existência de um procedimento 
previamente instaurado, diferentemente da conduta prevista no caput do mesmo preceito de 
regência, o qual veda a inovação artificiosa "na pendência de processo civil ou administrativo [...] com 
o fim de induzir a erro o juiz ou o perito". (Precedentes). (...)” (STJ, RHC 53491/PE, Rel. Min. Félix Fischer, 
Quinta Turma, DJe 27/11/2005). 
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3.11 FAVORECIMENTO PESSOAL 
O delito de favorecimento pessoal está previsto no artigo 348 do Código Penal: 
Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de 
reclusão: 
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. 
§ 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão: 
Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa. 
§ 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento 
de pena. 
Auxiliar é amparar, ajudar, assistir. A conduta incriminada é ajudar o autor de crime punido com reclusão a 
subtrair-se da ação de autoridade pública. Pune-se aquele que praticou crime, com previsão de pena de 
reclusão, e que busca se furtar da resposta do Estado, querendo sair impune do que fez. 
A conduta do agente deve ocorrer após a consumação do crime ou, se o delito for tentado, após o fim da 
prática dos atos executórios. Ademais, não pode ter havido acordo prévio, para a prática do fato delitivo, 
entre o agente e o sujeito que vai ajudá-lo. Caso contrário, tem-se um caso de concurso de pessoas, 
respondendo o agente que auxilia uma outra pessoa a se furtar da ação da autoridade pela participação no 
crime cometido por ela. 
Vale lembrar, no caso, o favorecimento deve se voltar diretamente ao agente, a fim de que ele 
consiga evitar a ação da autoridade pública, ou seja, sair impune em relação ao que ele fez. 
Caso o auxílio seja destinado a tornar seguro o proveito do crime, o crime será o de 
favorecimento real, ou seja, aquele que se volta diretamente da coisa, desde que, como 
consigna a lei, não se configure o crime de receptação. Caso se configura o crime de 
receptação, afasta-se a regra do favorecimento real, que é subsidiário em relação àquele. 
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É doloso, não havendo previsão de forma 
culposa nem de exigência de elemento subjetivo especial do injusto. É formal, consumando-se 
independentemente da ocorrência de resultado naturalístico. É instantâneo, consumando-se em um dado 
instante do tempo. É plurissubsistente, admitindo a tentativa, já que a conduta é fracionável. 
O STJ já decidiu que o auxílio para que criminoso receba atendimento médico não configura o crime: 
“(...) 1. A conduta descrita denúncia não se amolda ao tipo penal descrito no artigo 348 do Código 
Penal: o auxílio prestado pelo paciente ao suposto assaltante não objetivava sua fuga, mas sim para 
que recebesse atendimento médico; 2. Ordem concedida para trancar a ação penal movida em 
desfavor do paciente, pelo crime previsto no artigo 348 do Código Penal.” (STJ, HC 46209/BA, Rel. Min. 
Hélio Quaglia Barbosa, Sexta Turma, DJ 26/06/2006). 
 
Modalidade privilegiada 
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O parágrafo primeiro do artigo 348 prevê modalidade do crime cuja pena é menor, consistente em 
detenção, de quinze dias a três meses, e multa. Configura-se caso o crime praticado pelo indivíduo que é 
auxiliado pelo sujeito ativo não tiver cominação de pena de reclusão. Deste modo, é essa modalidade do 
crime que se configura se o agente assistir alguém que praticou crime punido com detenção a fugir da 
polícia, por exemplo, para não ser preso em flagrante. 
É de se notar que nem a modalidade simples nem a majorada se referem ao auxílio a autor de contravenção 
penal, razão pela qual se o sujeito ativo ajuda um contraventor a se subtrair da ação da autoridade, sua 
conduta não se subsome ao artigo 348 do CP. 
 
Isenção de pena 
O artigo 348, em seu parágrafo segundo, prevê uma causa de exclusão da punibilidade ou uma hipótese de 
isenção pessoal de pena. Neste caso, o direito de punir do Estado não chega a nascer, pois já existe uma 
norma que impede a punibilidade ab ovo, ou seja, desde o início. Prevê a norma que, se quem presta o 
auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena. Como se trata de 
norma que limita o poder de punir do Estado, pode-se incluir no rol o companheiro ou companheira, pois 
equiparados, pela ordem constitucional, ao cônjuge. 
 
3.12 FAVORECIMENTO REAL 
O artigo 349, por sua vez, trata do favorecimento real: 
Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar 
seguro o proveito do crime: 
Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. 
Prestar auxílio é ajudar, amparar, assistir. A conduta incriminada é prestar auxílio a criminoso, destinado a 
tornar seguro o proveito do crime, desde que não seja caso de coautoria ou de receptação. 
Enquanto no artigo 348 se pune o favorecimento pessoal, consistente na busca do sujeito de se livrar impune 
do que fez, no artigo 349 do CP se criminaliza a conduta de se garantir o proveito do crime. Ou seja, neste 
caso o auxílio se volta à coisa, ao proveito do crime, razão pela qual se denomina o crime de favorecimento 
real. 
A conduta do agente deve ocorrer após a consumação do crime ou, se o delito for tentado, após o fim da 
prática dos atos executórios. Ademais, não podeter havido acordo prévio, para a prática criminosa, entre 
o agente e o sujeito que vai ajudá-lo. Caso contrário, tem-se um caso de concurso de pessoas, respondendo 
o agente que auxilia uma outra pessoa a tornar seguro o proveito do crime pela participação no crime 
cometido por ela. 
Também não pode ser o caso de receptação, o que torna o crime de favorecimento real subsidiário em 
relação àquele. Só se configura o crime em tela se a conduta do agente, ao buscar assegurar o proveito do 
crime, não se amoldar ao tipo penal da receptação, em qualquer de suas modalidades. 
A lei fala em proveito do crime, que não pode ser entendido de modo a abarcar a contravenção penal, sob 
pena de analogia in malam partem. 
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O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É doloso, não havendo previsão de forma 
culposa. Além do dolo, exige-se o elemento subjetivo especial do tipo, que consiste na finalidade específica 
do agente de tornar seguro o proveito do crime. 
É formal, consumando-se independentemente da ocorrência de resultado naturalístico. É instantâneo, 
consumando-se em um dado instante do tempo. É plurissubsistente, admitindo a tentativa, já que a conduta 
é fracionável. 
O STJ já consignou ser da natureza do crime de favorecimento real a punição autônoma de atos que buscam 
garantir ou levar ao proveito do resultado de outra infração penal, sendo, portanto, crime acessório: 
 “(...) IV- É próprio da lavagem de dinheiro, como também da receptação (Código Penal, art. 180) e do 
favorecimento real (Código Penal, art. 349), que estejam consubstanciados em atos que garantam 
ou levem ao proveito do resultado do crime anterior, mas recebam punição autônoma. (...)” (STJ, 
APn 458/SP, Rel. p/ acórdão Gilson Dipp, Corte Especial, DJe 18/12/2009). 
 
3.13 INTRODUÇÃO DE APARELHO TELEFÔNICO MÓVEL OU SIMILAR EM 
ESTABELECIMENTO PRISIONAL 
O artigo 349-A, incluído pela Lei 12.012/2009, passou a criminalizar a introdução de aparelho telefônico 
móvel ou similar em estabelecimento prisional: 
Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de 
comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional. 
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. 
De início, cumpre registrar que o crime do artigo 349-A foi introduzido no Código Penal sem nomen iuris, ou 
seja, sem denominação legal. Foi a doutrina que passou a chamá-lo de delito de introdução de aparelho 
telefônico móvel ou similar em estabelecimento prisional ou entrada na prisão de aparelho telefônico móvel 
ou similar, com suas variações. 
O tipo penal, que é misto alternativo, ingressar (adentrar, entrar, penetrar), promover (causar, provocar, 
realizar), intermediar (interceder, interferir, mediar), auxiliar (ajudar, assistir, amparar) ou facilitar (tornar 
fácil ou mais fácil, simplificar). A conduta incriminada é ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar 
a entrada de aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar em estabelecimento prisional, 
desde que não haja autorização legal. 
No caso de o Diretor de Penitenciário ou agente público deixar de cumprir seu dever de vedar ao preso o 
acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, o crime será o do artigo 319-A do Código Penal. Se o preso 
utilizar o aparelho celular dentro do estabelecimento prisional, haverá a prática de falta grave, com perda 
de parte dos dias remidos, regressão de regime e outras consequências para a execução da sua pena. 
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É doloso, não havendo previsão de forma 
culposa nem de exigência de elemento subjetivo especial do injusto. É formal, consumando-se 
independentemente da ocorrência de resultado naturalístico. É instantâneo, consumando-se em um dado 
instante do tempo. É plurissubsistente, admitindo a tentativa, conforme entendimento majoritário. 
 
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3.14 EXERCÍCIO ARBITRÁRIO OU ABUSO DE PODER 
O exercício arbitrário ou abuso de poder encontra previsão no artigo 350 do Código Penal: 
Art. 350 - Ordenar ou executar medida privativa de liberdade individual, sem as formalidades legais ou 
com abuso de poder: 
Pena - detenção, de um mês a um ano. 
Revogação tácita (majoritário) pela Lei 4.898/65 – Abuso de Autoridade. 
Parágrafo único - Na mesma pena incorre o funcionário que: 
I - ilegalmente recebe e recolhe alguém a prisão, ou a estabelecimento destinado a execução de pena 
privativa de liberdade ou de medida de segurança; 
II - prolonga a execução de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno 
ou de executar imediatamente a ordem de liberdade; 
III - submete pessoa que está sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não 
autorizado em lei; 
IV - efetua, com abuso de poder, qualquer diligência. 
Referido tipo penal foi revogado pela Lei de Abuso de Autoridade. A legislação só pode ser 
aplicada se, tratando-se de crime previsto na nova lei, sua aplicação se revelar, no caso, mais 
benéfica ao agente, em atenção ao princípio da continuidade normativo-típica e 
retroatividade da lei penal mais benigna. É possível a situação, já que, por exemplo, no caso 
de prisão manifestamente ilegal não relaxada, a pena passou a ser de a 1 a 4 anos de reclusão, 
além de multa, nos termos do artigo 9º da Lei n. 13.869/2019. Por isso, foram mantidos os 
comentários abaixo. 
A conduta típica é ordenar (dar a ordem, mandar) ou executar (por em prática, efetivar) medida privativa 
de liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder. 
Seria o caso da autoridade que prende alguém em flagrante, sem haver o suporte fático, ou seja, sem que 
no caso concreto tenham sido preenchidos os requisitos legais para a decretação da prisão em flagrante. 
Também há abuso de poder no caso de alguém que prende alguém para satisfação de interesse pessoal, por 
simples desentendimento, aproveitando-se da sua condição de autoridade. 
Apesar de haver divergências, pode-se conceber o crime como comum, já que qualquer pessoa pode 
prender alguém em flagrante delito. É doloso, não havendo previsão de forma culposa nem de exigência de 
elemento subjetivo especial do injusto. É formal, consumando-se independentemente da ocorrência de 
resultado naturalístico. É instantâneo, consumando-se em um dado instante do tempo. É plurissubsistente, 
admitindo a tentativa, já que a conduta é fracionável. 
 
Forma equiparada 
O parágrafo primeiro prevê formas equiparadas de cometer o crime, que só podem ser praticadas pelo 
funcionário público: 
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 ilegalmente recebe e recolhe alguém a prisão, ou a estabelecimento destinado a execução de pena 
privativa de liberdade ou de medida de segurança; 
 prolonga a execução de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno 
ou de executar imediatamente a ordem de liberdade; 
 submete pessoa que está sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado 
em lei; 
efetua, com abuso de poder, qualquer diligência (por exemplo, busca e apreensão na residência da 
vítima, sem mandado judicial e sem existir alguma exceção legal à exigência de ordem judicial). 
 
Revogação tácita? 
Quanto à coexistência do crime previsto no artigo 350 do CP e os delitos previstos na Antiga Lei de Abuso 
de Autoridade, a Lei 4.898/65, a doutrina majoritária defende ter havido a revogação do crime de exercício 
arbitrário ou abuso de poder. Entretanto, o Superior Tribunal de Justiça decidiu o seguinte: 
“(...) 1. A Lei n.º 4.898/65 não trouxe dispositivo expresso para revogar o crime de abusode poder 
insculpido no Código Penal. Assim, nos termos do art. 2.º, §§ 1.º e 2.º, da Lei de Introdução ao Código 
Civil, aquilo que não for contrário ou incompatível com a lei nova, permanece em pleno vigor, como é 
o caso do inciso IV do parágrafo único do art. 350 do Código Penal. (...)” (STJ, HC 65499/SP, Rel. Min. 
Laurita Vaz, Quinta Turma, DJe 28/04/2018). 
A controvérsia chegou ao fim com o início da vigência da nova Lei de Abuso de Autoridade, a Lei 
13.869/2019, com vacatio legis de 120 dias, que prevê, em seu artigo 44: 
Art. 44. Revogam-se a Lei nº 4.898, de 9 de dezembro de 1965, e o § 2º do art. 150 e o art. 350, ambos 
do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal). 
 
3.15 FUGA DE PESSOA PRESA OU SUBMETIDA A MEDIDA DE SEGURANÇA 
O crime de fuga de pessoa presa ou submetida e medida de segurança tem seu tipo penal no artigo 351 do 
Estatuto Repressivo: 
Art. 351 - Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa ou submetida a medida de 
segurança detentiva: 
Pena - detenção, de seis meses a dois anos. 
§ 1º - Se o crime é praticado a mão armada, ou por mais de uma pessoa, ou mediante arrombamento, 
a pena é de reclusão, de dois a seis anos. 
§ 2º - Se há emprego de violência contra pessoa, aplica-se também a pena correspondente à violência. 
§ 3º - A pena é de reclusão, de um a quatro anos, se o crime é praticado por pessoa sob cuja custódia 
ou guarda está o preso ou o internado. 
§ 4º - No caso de culpa do funcionário incumbido da custódia ou guarda, aplica-se a pena de detenção, 
de três meses a um ano, ou multa. 
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As ações nucleares são promover (causar, provocar, realizar) e facilitar (tornar fácil ou mais fácil, simplificar), 
sendo o tipo penal misto alternativo. A conduta incriminada é promover ou facilitar a fuga de alguém 
legalmente preso ou submetido a medida de segurança detentiva. 
A medida de segurança detentiva é a internação em estabelecimento para tratamento psiquiátrico. A prisão 
abrange o cumprimento das penas de prisão simples, reclusão e detenção, bem como de presos em 
flagrante ou por prisão processual. 
O crime é comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa. É doloso, não havendo previsão de forma 
culposa nem de exigência de elemento subjetivo especial do injusto. É material, consumando-se com a fuga 
do preso ou internado. É instantâneo, consumando-se em um dado instante do tempo. É plurissubsistente, 
admitindo a tentativa, já que a conduta é fracionável. 
Como o tipo penal menciona a promoção ou a facilitação de fuga de pessoa presa ou em cumprimento de 
medida de segurança consistente em internação, este rol não pode ser estendido pelo intérprete, pois 
haveria uma analogia em norma penal incriminadora, violando o princípio da legalidade. Neste sentido, o 
STJ já decidiu não configurar o crime de fuga de pessoa presa ou submetida a medida de segurança: 
“(...) 2. A expressão "pessoa legalmente presa ou submetida a medida de segurança detentiva", 
contida no caput do art. 351 do Código Penal, não abrange os menores internados em razão do 
cumprimento de medida socioeducativa decorrente da prática de ato infracional. 3. Conforme a lição 
de Guilherme Nucci, "o fato é atípico quando se tratar de fuga de menor infrator, pois não se pode 
considerá-lo preso ou submetido a medida de segurança" (NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de 
Direito Penal. 13ª ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 1196). 4. Forçoso reconhecer 
a impossibilidade de aplicação da lei incriminadora à hipótese por ela não abrangida, por caracterizar 
analogia in malam partem, o que não se admite em razão do princípio da estrita legalidade que rege 
o sistema penal pátrio. Por certo, não compete ao magistrado, sobrepondo-se ao legislador, ampliar o 
sentido da norma e o objeto material do crime, por entender que o tipo penal deveria ter previsto 
conduta assemelhada, de modo a prejudicar o réu. Precedentes. (...)” (STJ, RHC 86991/SE, Rel. Min. 
Ribeiro Dantas, Quinta Turma, DJe 18/10/2017). 
 
Modalidade qualificada 
O parágrafo primeiro do artigo 351 do Código Penal traz uma forma qualificada do crime, com pena de 
reclusão, de dois a seis anos. Configura-se caso o crime seja praticado a mão armada, ou por mais de uma 
pessoa, ou mediante arrombamento. A posição mais acertada é a que defende que arma não pode ser 
concebida como arma própria, por ser termo amplo. Assim, pode ser arma branca, arma de fogo e até 
mesmo arma imprópria, como um espeto de churrasco ou uma tesoura de salão de cabeleireiro. O crime 
ser praticado por mais de uma pessoa traz a controvérsia doutrinária sobre serem contados apenas os 
coautores ou também partícipes. Por fim, o arrombamento é a destruição ou deslocamento de obstáculo, 
consiste na violência empregada contra a coisa. 
 
Emprego de violência 
O artigo 351, em seu parágrafo primeiro, prevê a aplicação também da pena correspondência à violência, 
caso esta seja praticada contra a pessoa. A doutrina converge no ponto em que se deve adotar o sistema do 
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cúmulo material, sendo que alguns falam em concurso material e outros, em concurso formal impróprio. O 
STJ já decidiu o seguinte: 
 “(...) 1. É certo que a disposição do parágrafo 2º do artigo 351 do Código Penal caracteriza concurso 
material ex vi legis, a determinar que o Juiz, para além da pena prevista para o ilícito de promoção 
ou facilitação de fuga de pessoa presa, imponha, em cúmulo material, as penas correspondentes à 
violência contra pessoa, empregada como meio de execução daquele delito. (...)” (STJ, HC 33515/SP, 
Rel. Min. Hamilton Carvalhido, Sexta Turma, DJ 01/08/2005). 
 
Modalidade qualificada 
O parágrafo terceiro do artigo 351 traz mais uma modalidade qualificada, com pena de reclusão, de um a 
quatro anos. Configura-se caso o crime seja praticado por pessoa sob cuja custódia ou guarda está o preso 
ou o internado. É o caso de o próprio diretor do hospital em que o sujeito cumpre a medida de segurança 
promover sua fuga, assim como do carcereiro que facilita a fuga do preso sob seus cuidados. 
 
Modalidade culposa 
O parágrafo quarto do artigo 351 traz a forma culposa. Neste caso, o crime é próprio, sendo funcional, ou 
seja, só pode ser praticado pelo funcionário público. Incide no caso de culpa do funcionário incumbido da 
custódia ou guarda, que promove ou facilita a fuga do preso ou do internado por negligência, imprudência 
ou imperícia. A pena é a de detenção, de três meses a um ano, ou multa. 
 
3.16 EVASÃO MEDIANTE VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA 
O artigo 352 do CP traz o delito de evasão mediante violência contra a pessoa? 
Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança 
detentiva, usando de violência contra a pessoa: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena correspondente à violência. 
Evadir é escapar, fugir. A conduta incriminada é a de o preso ou o internado (por medida de segurança 
detentiva) evadir-se ou tentar evadir-se, usando de violência contra a pessoa. 
O crime é de forma vinculada, sendo praticado por meio de violência contra a pessoa, ou seja, utilização ou 
emprego de coação física contra alguém. 
O tipo penal equipara a forma tentada e a forma consumado do delito, ao trazer como condutas típicas as 
de “evadir-se” ou “tentar evadir-se”. Por isso, é classificado como crime de atentado ou de 
empreendimento. 
Cuida-se de delito próprio, pois só pode praticá-lo o preso ou o sujeito internado para tratamento 
psiquiátrico, por imposição de medida de segurança. É, ainda, crime de mão própria, não admitindo a 
coautoria. 
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