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FUNDAÇÃO PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS CARLOS-FUPAC FACULDADE PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS DE UBERLÂNDIA BRUNA SOUZA SILVA JOSÉ MÁRIO TEIXEIRA ROSA KAMILLA APARECIDA DA SILVA MACHADO PRISCILA PEREIRA SILVA RAFAEL MENDES DE ALMEIDA THIAGO MIRANDA DE JESUS ASSÉDIO SEXUAL Uberlândia 2016 BRUNA SOUZA SILVA JOSÉ MÁRIO TEIXEIRA ROSA KAMILLA APARECIDA DA SILVA MACHADO PRISCILA PEREIRA SILVA RAFAEL MENDES DE ALMEIDA THIAGO MIRANDA DE JESUS ASSÉDIO SEXUAL Trabalho de Seminário apresentado à Faculdade Presidente Antônio Carlos Uberlândia, sob orientação da Prof.ª Dr.ª Lurdes Lucena, do curso Direito 1° Período. Uberlândia 2016 SUMÁRIO 1 - INTRODUÇÃO................................................................................................................... ..4 2 - DEFINIÇÃO DE LIBERDADE SEXUAL...........................................................................4 3 - ASSÉDIO SEXUAL..............................................................................................................5 3.1 - CONCEITO........................................................................................................................5 3.2 – ELEMENTOS CARACTERIZADORES..........................................................................5 3.3 - CONDUTAS DE NATUREZA SEXUAL.........................................................................6 3.4 - REJEIÇÃO A CONDUTA DO AGENTE.........................................................................6 3.5 – DIFERENÇAS ENTRE ASSÉDIO E CANTADA(PAQUERA)......................................7 4 - PODER E ASSÉDIO SEXUAL............................................................................................8 5 - ESPÉCIES DE ASSÉDIO SEXUAL..................................................................................10 5.1 - ASSÉDIO SEXUAL POR CHANTAGEM.....................................................................10 5.2 - ASSÉDIO SEXUAL POR INTIMIDAÇÃO....................................................................11 6 - A QUESTÃO DA CULPA CONCORRENTE...................................................................13 6.1 - CULPA CONCORRENTE...............................................................................................13 6.2 - O CONLUIO ENTRE VÍTIMA E ASSEDIANTE..........................................................13 7 - A FIGURA MASCULINA E O ASSÉDIO SEXUAL........................................................14 8 - COMPORTAMENTO DO ASSÉDIO NAS RELAÇÕES TRABALHISTAS...................14 9 - CONSEQÜÊNCIAS DO ASSÉDIO SEXUAL................................................. ..................16 9.1 - PARA VÍTIMA................................................................................................................16 9.2 - CARACTERIZAÇÃO DA DESPEDIDA INDIRETA....................................................17 9.3 - REPARAÇÃO PATRIMONIAL E DANO MORAL......................................................18 9.4 - PARA O AUTOR.............................................................................................................19 9.5 - DISPENSA POR JUSTA CAUSA...................................................................................20 9.6 - RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL......................................................................20 9.7 - CONSEQÜÊNCIAS CRIMINAIS...................................................................................21 9.8 – F OCO EM SAÚDE PARA A VITIMA E QUEM PRATICA O ATO...........................22 10 - PREJUÍZOS PARA O EMPREGADOR...........................................................................22 11 - DA PRODUÇÃO DE PROVAS.......................................................................................23 12 - O ASSÉDIO SEXUAL ALÉM DO ÂMBITO CORPORATIVO....................................27 13 - O ASSÉDIO SEXUAL NO BRASIL................................................................................28 13.1 LEGISLAÇÃO PENAL E O ASSÉDIO SEXUAL..........................................................29 14 - ESTATÍSTICAS DO TEMA.............................................................................................31 14.1 - ANÁLISE AMOSTRAL................................................................................................31 14.2 - ANÁLISE ESTATÍSTICA.............................................................................................33 14. 3 - ANÁLISE REGIÃO GEOGRÁFICA...........................................................................33 15 - CALÚNIA (DENÚNCIA CALUNIOSA).........................................................................33 16 - AÇÕES FEITAS CONTRA A REDUÇÃO DO ABUSO SEXUAL................................35 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................36 REFERÊNCIAS...................................................................... ..................................................37 4 1. INTRODUÇÃO Falar sobre assédio sexual, é na verdade falar sobre um grave problema da sociedade. Com base nesse contexto, este trabalho conceituará os principais tópicos sobre este assunto. Constantemente ouvimos falar algo sobre o crime de assédio sexual, mas uma minoria da população, realmente, tem conhecimento deste tema. No decorrer deste trabalho iremos tratar realmente no que consiste o “assédio sexual”, que muitas vezes, vemos leigos ou quem não tem conhecimento sobre o assunto, usando essa terminologia Assédio Sexual , para se referir a algo completamente diferente do crime de assédio sexual propriamente dito, trataremos também das sanções disciplinares, além de mostrar o resultado do cenário atual através de estatísticas realizados por alunos da UNIPAC- Uberlândia. Faremos uma abordagem, neste trabalho procurando sintetizar vários tópicos, permitindo uma visão panorâmica e esclarecedora, para que possamos passar esse conhecimento e até ajudar a sociedade enfrentá-la. 2. LIBERDADE SEXUAL Antes de Adentrarmos ao tema principal deste trabalho, para termos um fácil entendimento mais a frente, é necessário discorrer sobre liberdade sexual. A Professora Maria Helena Diniz, em seu “Dicionário Jurídico”, entende que “liberdade sexual” pode ser definida como: LIBERDADE SEXUAL. Direito penal. Direito de disposição do próprio corpo ou de não ser forçado a praticar ato sexual. Constituirão crimes contra liberdade sexual: o ato de constranger mulher à conjunção carnal, mediante violência ou grave ameaça; o atentado violento ao pudor, forçando alguém a praticar ato libidinoso diverso da conjunção carnal; a conjunção carnal com mulher honesta, mediante fraude, a praticar ato libidinoso. Nessa mesma linha de raciocínio destaca Munoz Conde: à liberdade sexual, entendida como aquela parte da liberdade referida ao exercício da própria sexualidade e, de certo modo, a disposição do próprio corpo, aparece como bem jurídico merecedor de uma proteção específica, 5 não sendo suficiente para abranger toda sua dimensão a proteção genérica concedida à liberdade geral. Então podemos considerar que a liberdade sexual, nada mais é do que de forma individual a pessoa ter a liberdade de fazer o que bem entende com seu próprio corpo dentro dos limites da lei. 3. ASSÉDIO SEXUAL 3.1 - CONCEITO Assédio sexual é toda tentativa, por parte do superior hierárquico (chefe), oude quem detenha poder hierárquico sobre o subordinado, de obter dele favores sexuais por meio de condutas reprováveis, indesejáveis e rejeitáveis, com o uso do poder que detém, como forma de ameaça e condição de continuidade no emprego. Pode ser definido, também, como quaisquer outras manifestações agressivas de índole sexual com o intuito de prejudicar a atividade laboral da vítima, por parte de qualquer pessoa que faça parte do quadro funcional, independentemente do uso do poder hierárquico”. Cartilha do Ministério da Saúde – 2011 Através da lei 10.224/2001 introduziu-se no Código Penal o crime de assédio sexual no art. 216-A, com a seguinte definição: Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função”. Pena: detenção de 1(um) a 2( dois) anos. 3.2 ELEMENTOS CARACTERIZADORES Para que haja o crime de assédio sexual, é preciso a presença do assediador (sujeito ativo), assediado (sujeito passivo), e que o ato seja de natureza sexual, que haja rejeição deste ato pela vítima e que exista repetição dos atos praticados pelo agente. Paulo Viana de Albuquerque Jucá, na Revista Jurídica LTr, vol.61, n° 2 em fevereiro do ano de 1997 dispôs o que é necessário à configuração do assédio sexual: 6 que a conduta tenha conotação sexual, que não haja receptividade, que seja repetitiva em se tratando de assédio verbal e não necessariamente quando o assédio é físico (...) de forma a causar um ambiente desagradável no trabalho, colocando em risco o próprio emprego, além de atentar contra a integridade e dignidade da pessoa, possibilitando o pedido de indenização por danos físicos e morais.. 3.3 - CONDUTAS DA NATUREZA SEXUAL É quase impossível elaborar uma lista com todos os diferentes tipos de condutas que podem configurar o delito de assédio sexual, no entanto, citaremos alguns exemplos como: comentários sobre o corpo e situação familiar; elogios atrevidos; passeios a lugares parados; aproximações ousadas ( roçar, mão boba) ;sugestão de filmes sexuais; carícias; piadas atrevidas; pedido de favores; promessa de promoção ou demissão e até ameaça. É importante ressaltar que todas atitudes levantadas acima se não vierem com a intenção de alcançar alguma vantagem sexual não é caracterizado o assédio, e também é preciso analisar com cautela, pois se o subordinado aceita com tranquilidade as intimidades, também não se caracteriza assédio, pois para esse fim é necessário negação da outra parte. Também temos que enfatizar-se que não é o ponto de vista do assediado ou do assediador que deve se caracterizar o assédio, tendo em vista que os costumes variam de sociedade para sociedade e de tempos em tempos, então é a comunidade que produzirá os elementos capazes de definir os limites entre uma aproximação normal e o assédio, como por exemplo: “as vezes em uma cultura um abraço pode não ser assédio em outras sim e vice-versa.” 3.4 REJEIÇÃO À CONDUTA DO AGENTE Para que a configuração do assédio sexual se configure claramente, é crucial que este comportamento seja rejeitado pelo seu destinatário. O assédio considera sempre uma conduta sexual indesejada, não se considerando como tal o simples galanteio. Sobre o entendimento do Jurista Rodolfo Pamplona Filho, em razão de pessoas trabalharem muito tempo juntos por longas horas, desempenhando atividades habituais, esse tipo de 7 ambiente de trabalho facilita a aproximação de indivíduos, e nada impede que nesse contato frequente, colegas de trabalho tenham entre eles um relacionamento amoroso. Enquanto esse relacionamento for de vontade dos dois, não há de que se falar em questões jurídicas na relação do labor. Portanto, pode acontecer em que uma paixão florescida somente em um não seja correspondida pelo outro, e caso ocorra a insistência do primeiro e a circunstância se dê em funcionários de diferentes níveis hierárquicos ou entre empregador e empregado, em que uma pessoa é capaz de decidir o futuro da outra dentro do ambiente de trabalho, caracteriza-se assédio sexual, se ocorrer por parte do assediante pressões ou ameaças afins de obter favores sexuais da vítima. Para Ernesto Lippmann a participação voluntária da vítima em manter relações sexuais com seu superior hierárquico, descaracteriza o assédio sexual, advertindo: Creio que a conduta de quem diz ter sido obrigada a consentir em fazer sexo com o superior para não perder o emprego, tendo praticado o ato repetidas vezes, não tem por que ser prestigiada pelo Direito. Neste caso, há cumplicidade e não humilhação. A atitude correta seria a oposta, ou seja, a resistência às pretensões do sedutor, e esta é a que merece uma reparação Por isso é importante que as pessoas que estejam se sentindo vítima de assédio sexual, mostre claramente de que seus atos são indesejados e inoportunos. Uma vez que isso não ocorre descaracteriza-se o assédio sexual. 3.5 - DIFERENÇA ENTRE ASSÉDIO E CANTADA( PAQUERA) No dicionário Michaelis: “Assédio sexual: a) insistência inoportuna com intenções sexuais; b) constrangimento em alguém com o intuito de obter favorecimento sexual, prevalecendo o agente de sua condição de superior hierárquico.” “Cantada: 1-Conversa hábil e cativante com que se tenta seduzir ou conquistar alguém. 2-Tentar seduzir alguém com palavras ou frases galantes e envolventes; passar uma conversa em.” 8 Com os significados acima, facilmente conclui-se que o que difere assédio sexual de cantada é o respeito a mulher e o interesse dela na interação, ou seja, se ela corresponder no interesse. A cantada como elogio afins de conquista tem como intuito agradar a mulher, deixa-la bem, a cantada pejorativa caracteriza o assédio sexual partindo do lado masculino ou feminino, independe da vontade do assediado e não leva em conta se o mesmo irá ou não gostar . A jornalista Karin Hueck elaborou uma pesquisa online que “revelou que 99,6% das 7.762 mulheres que participaram da pesquisa já sofreram algum tipo de assédio sexual ou verbal enquanto estavam na rua, no transporte público, no trabalho e na balada.” ““Linda”, “Gostosa” e “Delícia” são algumas das cantadas mais listadas pelas participantes. Destas, 83% diz não levar em consideração como algo positivo, e 90% disseram já ter trocado de roupa com medo do assédio que poderia sofrer ao sair de casa.” Segundo Aparecida Gonçalves(Secretária Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres da Secretaria de Políticas para as Mulheres do governo federal) esses tipos de cantadas configuram assédio moral e sexual, na medida em que há um constrangimento das mulheres que, ao passarem nas ruas, são obrigadas a ouvir o que não querem. Para a professora de Antropologia da USP Heloísa Buarque de Almeida a reciprocidade é essencial para determinar o que é uma manifestação saudável de interesse de uma pessoa por outra. “A grande diferença é que uma coisa é uma paquera e outra coisa é uma cantada. A paquera pressupõe que a menina está lá também olhando para este homem, que há uma reciprocidade, um interesse mútuo.” 4 - PODER E ASSÉDIO SEXUAL A participação da mulher no mercado profissional e a liberalização dos costumes provocaram reviravolta nos domínios antes masculinos, especialmente em locais de trabalho. Há pouco tempo, a mulher que trabalhava fora do lar considerada uma séria candidata à vadia, pois a moral da época manifestava que, para a mulher vencer a seleção ou merecer uma promoção, condição ter de se submeter ao “famoso” teste do sofá. 9 Quanto mais uma mulherera bem-sucedida em seu trabalho, mais era mal vista e caluniada. As mães contra a vontade de suas filhas de trabalharem fora de casa, os pais sentiam-se ofendidos, os possíveis maridos ficavam assustados com as imagens e os comentários que os amigos fariam sobre as suas noivas. Com trabalho, dedicação e muita paciência, as mulheres conseguiram ampliar sua participação no mercado, onde hoje, uma visão distorcida como sua posição tem perdido espaço, ainda que não tenha desaparecido completamente e afinal, continuamos vivendo em uma sociedade machista, onde o machismo não é uma mentalidade exclusivamente masculina. A necessidade de complementar o orçamento doméstico presente na vida de parte dos casais e uma maior reivindicação dos direitos iguais entre os gêneros conduziram à uma aceitação maior ou mesmo à naturalização da presença das mulheres nos ambientes de trabalho, isso não significa que necessariamente essa presença seja confortável ou que tudo se passe sem conflito. Persiste ainda um mal necessário de que a gente tem de engolir. Existem profissões que antes eram particularmente consideradas de grande risco e muito sujeita a uma vitimação potencial no imaginário coletivo, que agrava algumas relações inevitáveis entre: o médico e a enfermeira, o professor e a aluna, o diretor e a atriz, o patrão e a secretária. Normalmente essas relações acontecem entre um superior e um subordinado, sendo que quase sempre, o primeiro vem do sexo masculino. Quando buscamos um pouco mais no passado, especialmente em um passado escravagista brasileiro, encontramos o senhorio, dono não apenas do trabalho, mas também do corpo e da alma de sua serva. Assédio sexual não é simplesmente uma cantada, é chantagem. O aspecto visível ou óbvio nestas situações de assédio sexual é que na maioria dos casos não se trata de relações entre os iguais, entre os pares, nos quais a negativa pode ocorrer em maiores consequências para quem está fazendo se recusando. Verifica-se também que o assédio sexual está entre os desiguais, na questão de gênero masculino e feminino, mas porque um dos elementos na relação dispõe de formas de penalizar o outro lado. Constitui-se não apenas um pedido constrangedor, que produz um embaraço e um vexame, pois um convite por mais indelicado que seja, pode ser não aceito, mas há também explicita a diferença entre o convite e a intimação entre um convite e uma intimidação, entre convidar e acuar o outro também. 10 A questão de haver um poder nas relações com o assédio sexual, não é uma prática nova no Brasil ou uma ação considerada em uma consequência, no desenvolvimento econômico dos últimos anos. É verdade que conforme aumenta a participação das mulheres no mercado de trabalho, cresce também a sua exposição aos riscos pertinentes. Também é verdade que cada vez mais, as mulheres têm feito merecer o respeito e a admiração de seus superiores. Eles reconhecem que uma presença maior das mulheres nos locais de trabalho veio a modificar as feições de organizações e balançou o meio masculino em diversas formas, pois a mulher tem sua preocupação de ficar sempre aprendendo e além de precisar em provar ser mais competente do que um homem, mesmo quando ocupam vários cargos bem semelhantes. 5. ESPÉCIES DE ASSÉDIO SEXUAL 5.1 ASSÉDIO SEXUAL POR CHANTAGEM (ASSÉDIO SEXUAL “QUID PRO QUO”) Assédio sexual por chantagem é aquele praticado por algum superior tendo em vistas vantagens vinculadas ao meio empregatício por meio de favores de cunho sexual. Neste caso, o assediador, com a promessa de ganho de alguma vantagem constrange a vítima, cuja concessão dependa totalmente da anuência deste. Onde o assediado só terá vantagem sobre algo se aceitasse a oferta do autor, sabendo que só poderá consegui-lo com a recomendação do mesmo. Para se caracterizar assédio sexual por meio de chantagem deve haver antes de tudo uma relação de hierarquia entre o assediador e o assediado. Pois com este poder, o superior impõe o ato de natureza sexual não desejado ao seu subordinado, para que o mesmo consiga adquirir vantagens trabalhistas, desta forma agredindo a dignidade do trabalhador. Em acórdão elaborado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 10ª Região verifica-se o assédio sexual por chantagem, no qual apresenta-se parte: (...) Quanto à alegação do recorrente de inexistência de favorecimento e existência de ‘jogo de sedução’, merece destaque o trecho do parecer do d. Ministério Público, verbis: “Não se diga que inexistiu prova de favorecimento às vítimas em troca de favores sexuais como sustentado nas razões recursais, pois o próprio Recorrente confirma a ameaça disparada contra uma das assediadas, na parte final de fls. 1519, verbis: ‘...Você deve estar pensando que é a melhor mulher do mundo... Afinal pode dizer não quantas vezes quiser... Pode? Eu nunca deixei de tentar algo que me parece ser bom. Só me resta uma coisa a dizer. Azar o seu, o que perdeu seria algo que você, com certeza, nunca teve. Beijos, Ramos’ (grifamos) A transcrição deste e-mail enviado pelo Recorrente afasta a tese sustentada pelo Recorrente de que não houve proposta 11 de favorecimento à vítima em troca de favores sexuais, pois demonstra com clareza a chantagem dirigida a uma das vítimas, e não mero jogo de sedução entre os interlocutores, como quer fazer parecer aos olhos da Justiça... (fls. 151/ 152). O assédio sexual por chantagem é conhecido pela troca de favores, é isto por aquilo(quid pro quo;) 5.2 ASSÉDIO SEXUAL POR INTIMIDAÇÃO (“ASSÉDIO SEXUAL AMBIENTAL”) Assédio sexual por intimidação é aquele praticado através de insinuações ou solicitações inoportunas sexuais onde o único objetivo é prejudicar o assediado, gerando para o mesmo desconforto no ambiente de trabalho. Embora este não seja um tipo de assédio criminalizado, pois o Código Penal apenas tipificou o assédio sexual por chantagem, pode ocorrer rescisão indireta ou até mesmo a dispensa via justa causa do assediador. O assédio sexual por intimidação tem como objetivo interferir no desempenho do assediado, fazendo com que o mesmo se prejudique nas suas funções. Com isto se cria um ambiente de trabalho tenso e hostil. Em importantíssima decisão da Excelentíssima Juíza Presidenta do 3° Tribunal Regional do Trabalho Alice Monteiro de Barros, autora de diversos artigos e livros sobre o tema, aborda o assédio sexual por intimidação, no qual transcreve-se parte: “(...) A avaliação do pleito exige estudo sobre a definição de assédio sexual, matéria que tem apresentado novos problemas para o Direito do Trabalho, principalmente em face das várias atitudes culturais que se devem sopesar na elaboração desse conceito o qual se encontra em franco desenvolvimento na legislação dos países. Esses conceitos destacam o ‘assédio sexual por chantagem’e o ‘assédio sexual por intimidação’. Através da Lei n 10.224, de 15 de maio de 2001, introduziu-se no Código Penal Brasileiro o art. 216-A, tipificando o assédio sexual como crime. O comportamento delituoso consiste em ‘constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o 12 agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função’. A pena é de detenção de um a dois anos. Além do assédio como figura delituosa, a doutrina tem apontado o assédio por intimidação, que, embora não seja crime, autoriza a rescisão indireta e a reparação por dano moral. O ‘assédio por intimidação’ caracteriza-se por ‘incitações sexuais importunas, por uma solicitação sexual ou outras manifestações da mesma índole, verbais ou físicas, com o efeitode prejudicar a atuação laboral de uma pessoa ou de criar uma situação ofensiva, hostil, de intimação ou abuso no trabalho’. O aspecto relevante para a caracterização do assédio sexual é, portanto, o comportamento com conotação sexual, não desejado pela vítima e com reflexos negativos na sua condição de trabalho. A conduta do assediador compreende um comportamento físico ou verbal de natureza sexual, capaz de afetar a dignidade do homem ou da mulher no local de trabalho (...)”. Normalmente o que ocorre nestes casos é que o ambiente de trabalho do assediado se torna um local totalmente desconfortável, em decorrência do comportamento do assediador, onde a vítima muitas das vezes é humilhada, importunada e até mesmo em público esses fatos ocorrem. O que ocorre em muitos casos é que o assediante passa deixar a entender que a vítima só esta atuando profissionalmente naquele cargo, por ser mulher e por possuir qualidade femininas interessantes ao mesmo. Entretanto, neste caso não existe a obrigatoriedade de hierarquia entre assediante e assediado, este tipo de assédio muita das vezes ocorre entre colegas de trabalho que possui a mesma posição dentro da empresa. 13 6. A QUESTÃO DA CULPA CONCORRENTE 6.1 CULPA CONCORRENTE (PROVOCAÇÃO PELA VÍTIMA) Em alguns ambientes é exigido determinados tipos de conduta social, que deve ser observada, inclusive como uma cláusula contratual, em diversos tipos de atividades. O termo “conduta” se aplica desde a vestimenta com que se vai ao trabalho e até mesmo posturas e formas de falar, o que pode soar como algo extremamente razoável. Em alguns ambientes de fato, como igrejas, universidades, hospitais, exigem determinadas vestimentas que não seriam exigíveis, por exemplo, em locais de trabalhos ao ar livre, academias etc. Sendo assim, se a vítima possui o hábito de se vestir de uma forma que irá causar provocações, ou se pactua livremente com certas intimidades em público, não há como deixar de reconhecer que, desta forma, a mesma está assumindo o risco de receber propostas de natureza sexual. Não defendendo a conduta dos assediadores, mas considerando importante, que muita das vezes um ato agressivo sexualmente é apenas uma resposta a conduta da vítima. Em conclusão, o comportamento da alegada vítima, no ambiente de trabalho, bem como sua “vida pregressa”, devem ser levados em consideração na hora de se avaliar se um ato pode ser enquadrado ou não como assédio sexual. 6.2 O CONLUIO ENTRE VÍTIMA E ASSEDIANTE O tema do assédio sexual tem sido um grande motivo para reflexões sobre o tema da litigância de má fé. Por causa das vultosas indenizações que se tem notícia no direito comparado, é fato que, tem- se falado muito em supostas “armações” entre alegada vítima e o suposto assediador com o intuito de lesionar terceiros envolvidos. Na área trabalhista, isto vem se tornando cada vez mais “tentador”, uma vez que o direito positivo brasileiro estabelece a responsabilidade civil do empregador com culpa presumida por ato de seus prepostos, conforme se verifica dos artigos 1521/1523 do vigente Código Civil brasileiro e a Súmula 14 341 do Supremo Tribunal Federal que dispõe: “É presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto”. 7. A FIGURA MASCULINA E O ASSÉDIO MORAL Habitualmente, quando analisamos o devido tema, automaticamente já correlacionamos a vítima mulher. Porém o homem também pode se tornar vítima por assédio de uma mulher ou até mesmo por outro homem, no entanto, quando analisamos as estatísticas verifica-se que é algo muito raro uma vez que a sociedade possui uma visão inferiorizada das mulheres. Até então o “mind set” da civilização são de que homens são mais viris. Esta cultura e forma de pensamento paralelamente compara as mulheres como ferramentas, itens de consumo, algo que nasce para servir as necessidades do homem. Logicamente estas visões são criadas quando analisamos de forma segmentada o tema de assédio sexual. Com estas visões, o assédio neste caso torna-se um bem, algo que fortalece a masculinidade do homem, sendo inclusive, alternativa para se colocar a frente de seus demais colegas de profissão. Claro os dados e relatos descritos acima não possuem o objetivo de tornas as mulheres como “coitadas” ou “vítimas”, mas apenas para ilustrar que nos dias atuais o homem não sofre tanto a prática do assédio quanto a mulher, e ainda mantém as posições machistas em relação a ela. Friso, que o assédio sexual, é caracterizado nas relações empregatícias, nas relações entre professores e alunos, e vice-versa, e ainda na relação de profissionais liberais, tais como médicos, odontólogos, psicólogos, etc., para com seus pacientes. Mas, fora desta situação, não há que falarmos desta prática ilícita. 8. COMPORTAMENTO DO ASSÉDIO NAS RELAÇÕES TRABALHISTAS Dificilmente haverá uma organização onde não tenha ocorrido ainda pelo menos um caso de assédio sexual. Infelizmente também será difícil encontrar uma empresa em que o tratamento utilizado no caso não envolveu o desligamento da vítima, ainda que forma espontânea. 15 O assédio sexual pode ser um caso onde provoca uma grande tristeza, revolta e grande indignação. Entristece pelo lado patético, pequeno, mortal, miserável e revolta pela maneira que ocorre e provoca indignação pela impunidade que acontece os que o cerca. Impunidade que vem haja vista a indiferença seja também pelo escárnio. O esperto humilha publicamente as vítimas por várias vezes. O brasileiro adora em falar sobre sexo, mas não do sexo de conflitos e daí a uma tendência em banalizar a questão, e é só um passo. Outra vez ocorre nosso lado cultural escapista surge em socorro de um perverso. A lei brasileira não existe ainda a figura do assédio sexual. Assistimos a uma grande discussão em que as alterações que deverão ser elaboradas no novo código penal, substituindo o que está em vigor desde 1940 e que não mais transmite uma boa parte dos problemas enfrentados na modernidade. Existem várias propostas em pauta, inclusive de crime passível de multa ou prisão que pode variar de seis meses a dois anos. Muitos veem que a justiça do trabalho seria mais eficiente e adequada para poder tratar do assunto, visto que podem forçar as empresas a encarar esse problema. Como o assédio ainda não consta na CLT e nem no Código Penal, as ocorrências raramente são registradas em delegacias como uma perturbação da tranquilidade ou o constrangimento ilegal. Um dos textos em pauta propostos considera crime assediar alguém com a violação de dever do cargo pertinente, ministério ou profissão, exigindo direta ou indiretamente a prestação de favores sexuais como uma condição para criar ou conservar o direito, ou para atender as pretensões da vítima. Independente que haja desdobramentos jurídicos e legais que possam vir a serem aceitos na lei, acreditamos que as organizações tenham ou deveriam ter um grande interesse em controlar esse tipo de ocorrência em seu meio. Admitir a todos que não é uma questão fácil, mas em muitos casos concordam que é uma questão necessária. Existem várias formas de as organizações assumirem a retaguarda nesse aspecto e não deixarem de esperar que esse tipo de situação precise necessariamente de ser intermediado pela Justiça. Grande parte das empresas tem interesse em desenvolver ambientes internos e externos saudáveis, onde o respeito e a dignidade do outro não seja apenas mais um discurso no vazio, mas algo realizado em seu cotidiano. Sabe-se que as organizações buscam construir uma imagem de seriedade, de respeito e de confiança que sefundamenta em vários pilares. Entretanto, existem vários meios dentro das organizações para disseminar as políticas contra esse tipo de situação. É necessário que pessoas e empresas se conscientizem que o assédio 16 sexual não é apenas uma brincadeira, nem uma implicância pessoal, nem um anseio incontrolável, nem um ato inconsequente e muito menos uma cantada infeliz. Não há uma negativa absolutamente, o papel dos tribunais é avaliar se as organizações de hoje estão mais preparadas para lidar com essa questão e suas antecessoras em meados das décadas de 60, 70 e 80. Existe uma grande preocupação com a qualidade do ambiente e dos relacionamentos, onde as empresas têm hoje uma grande necessidade de lucros e de produtividade, onde a elevação do comprometimento dos seus colaboradores. Nenhuma empresa tem o seu desempenho ou a sua imagem melhorada porque nunca ocorreu um assédio. Por outro lado, quando ocorre algo dessa natureza, o estrago já está feito e evidentemente, quanto maior for à divulgação, maior será o dano. 9. CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO SEXUAL 9.1PARA A VÍTIMA O assédio sexual, tem muitas das vezes agressões físicas as vítimas, mais as psicológicas são as mais frequentes. Mais embora as duas sejam de formas diferentes elas tem suas drásticas e tristes consequências em comum. Além de gerar transtornos, mudanças na personalidade, auto estima baixa, falta de motivação, falta de concentração, dificuldade de integração e interação com as pessoas de trabalho e pessoas do cotidiano. São consideradas consequências psicológicas do assédio sexual a readaptação sexual, afetiva e interpessoais de ligamentos diretos com pessoas, em relação a outras pessoas, já que se torna difícil a confiança em quem seja. Os sintomas apresentados de primeiro momento são a depressão, ansiedade, inconfiança, medos, isolamento social, queixas somáticas. Transtorno de stress, comportamentos regressivos e agressivos, pensamentos autodestrutivos, problemas escolares e até mesmo pensamentos suicidas. Essa situação não prejudica somente a vítima, prejudica também a empresa que expõe seu nome a essa situação e gera custos operacionais já que deixa a vítima sem nenhuma produtividade e baixa motivação. Aumentando os erros do serviço, temos a consequência psicológica pela vítima e a consequência econômica ao dono da empresa. Já que ela não terá mais interesse em produzir nada tudo reside em déficit para o empregador. Os sintomas apresentados pelas vítimas são diversos e variam de acordo com a intensidade do caso. 17 A conduta assediante, se mostra por vários fatos: Informações internas, rivalidades, inveja, ausência de uma boa relação humana, e até mesmo a perversidade de muitas pessoas. Resumindo a vítima é colocada sob pressão o tempo todo, seja por medo de falar e perder o emprego ou por ninguém acreditar já que é difícil de se provar, e por diversos outros fatores. Os sintomas apresentados pelas vítimas de assédio variam de acordo com a intensidade da agressão. 9.2 CARACTERIZAÇÃO DA DESPEDIDA INDIRETA O assédio sexual também caracteriza-se, do ponto de vista do direito do positivo brasileiro, é uma hipótese de despedida indireta (ou demissão forçada, como prefere denominá-la José Martins Catharino) da vítima, que as vezes por não aguentar mais, medo ou por intimidação toma essa decisão. Entre as atitudes que a vítima poderá tomar contra a prática do assédio, está em conjuto a despedida indireta, em decorrência do descumprimento das normas de contrato estabelecido pelo empregador, por fazer do ambiente de trabalho, um lugar que deveria saudável e tranquilo, um verdadeiro lugar de medo e raiva, chegando ao maior grau de tristeza e indignação para ela. O empregador por agir fora dos padrões de moralidade e respeito comum e estar desrespeitando as normas a serem cumpridas estará descumprindo obrigação contratual e dando à outra parte o direito de rescindir o pacto laboral. Podendo levar o empregado encontrado em causa justa em ato praticado pelo empregador, impedindo-o de continuar a manter o contrato de trabalho. Levando ele a ser despedido por justa causa, pagando multa e até sendo preso. Os Tribunais Regionais convergem na possibilidade de despedida indireta em casos de assédio sexual, veja-se a ementa, in verbis: “ASSÉDIO SEXUAL. RESCISÃO INDIRETA. A empregada que sofre assédio sexual por superior hierárquico, registrando a ocorrência e sem que a administração empresarial tome quaisquer providências, tem autorizada a rescisão indireta do contrato de trabalho”. Reafirmando, a rescisão indireta do contrato de trabalho pode ser aquela que ocorre em presença de uma justa causa cometida pelo empregador, ou seja, os donos da empresa, seus diretores, seus prepostos, seus altos empregados, visto que, o 18 empregado é contratado para trabalhar e não para atender aos desejos sexuais do empregador. 9.3 REPARAÇÃO PATRIMONIAL E DANO MORAL A vítima sofrendo todas as consequências danosas físicas, psicológicas insculpidas pelo assédio, poderá pleitear na justiça uma reparação material e moral pelos prejuízos sofridos. O artigo 5° da Constituição da República, em seu inciso V, assegura à vítima, não só o direito de resposta, mas também o direito à indenização por danos materiais, morais ou à imagem. Ao sofrer o assédio sexual a vítima, terá direito à indenização pelas perdas diretas (dano emergente) com o ato ilegal, mas também pelo que deixou de ganhar, e perdeu devido aos atos do infrator. Conforme o artigo 1059 do Código Civil. A vítima terá direito a um valor em pecúnia, visto não ser possível devolver a dignidade e a honra perdidos em toda a jornada de processo. Esta indenização é para tanto tentar amenizar as lesões à integridade corporal, como também as morais, já que elas não possuem valores reais em dinheiro, suposto como uma perda psicológica. (Aloysio Santos) repisa o que vem a ser dano patrimonial: Dano material é, portanto, aquele que lesiona o patrimônio da pessoa, causando a perda ou avaria do conjunto de bens ou de um apenas, tornando-o inútil ao uso ou para o comércio ou somente reduzindo o seu valor. Não é por outra razão que ele também é denominado ‘dano patrimonial’.” Já o dano moral atinge outras espécies de bens, os imateriais que como os patrimoniais, são suscetíveis de indenização em pecúnia resumindo- se em uma dor interna. A vítima se vê constrangida e humilhada em sofrer o assédio e muito mais em ter que comunicar a empresa do fato. A humilhação e problemas que podem decorrer desta violência são às vezes irreparáveis. A indenização ao empregado por assédio sexual pode ser pleiteada na Justiça de Trabalho e essa é uma posição pacífica entre os doutrinadores e os tribunais brasileiros. A parte mais difícil de todo processo costuma ser as provas do delito e talvez por isso o motivo de tão baixa denúncias desta natureza nos tribunais brasileiros, além do constrangimento as vítimas tem de denunciarem, para que não percam seus empregos ou talvez não consigam outro com facilidade, além do medo de serem julgadas perante a sociedade. Um detalhe relevante nas questões de indenização moral decorrente de assédio sexual vem se 19 tornando tão frequente que vem preocupando as empresas, já que o que se argumenta é que o empregador deve zelar pelos seus empregados, sendo portanto, responsável pelos danos sofridos por estes, ainda mais, se o agressor não tiver condições pagar a indenização. A empresa se torna responsável pelo ressarcimento. Por isso muitas pessoas e empresas estão mudando as formas de seus contratos de trabalho a serem assinados com futurosempregados já como uma prevenção para o futuro. Há uma clara tendência de as empresas colocarem cláusulas referentes ao assédio sexual nos contratos, tentando garantir o ressarcimento em eventual problema, como sendo responsável por seus próprios atos dentro da empresa em termos de danos morais em crime de assédio praticado. 9.4 PARA O AUTOR Pela permanência da integridade das relações humanas e sociais, não pode o culpado ficar impune depois da sua prática. Ele deve arcar com os prejuízos produzidos à vítima, tanto materiais (a vítima perdeu o emprego, não conseguiu sua promoção, etc.) e outros como integridade, equilíbrio emocional ética, humilhação entre outros. A indenizar moralmente, tentando restabelecer a ordem e o equilíbrio na vida do assediado. As consequências são analisadas em três ordens: trabalhista (aplicação de penas disciplinares ao agente ativo, com advertência ou suspensão, dispensa por justa causa, com base no art. 482, “b”, da CLT, qual seja, a incontinência de conduta, que se liga diretamente à moral e a desvios de comportamento sexual, além de outros prejuízos futuros como dificuldade nos relacionamentos sociais e em conseguir outro emprego), civil (responsabilidade patrimonial direta pelo dano causado) e criminal (aplicação de sanções penais, caso os atos praticados se enquadrem em tipo previamente existente). O Congresso Nacional então decreta, no artigo 1° - O decreto lei n° 2.848, de 07 de dezembro de 1940, que no artigo 136- A, depreciar, de qualquer forma, e reiteradamente, a imagem ou o desempenho de servidor público ou empregado, em razão de subordinação hierárquica funcional ou laboral, sem justa causa, ou trata-lo com rigor excessivo, colocando em risco ou afetando sua saúde física ou psíquica pode acarretar uma pena de um a dois anos de reclusão, com multa. Temos também o acordo com o artigo 216 do Código Penal, o assédio sexual caracteriza-se por constrangimentos e ameaças com a finalidade de obter favores sexuais feita por alguém normalmente de posição superior à vítima. A pena é de detenção e varia entre um 20 e dois anos, caso o crime seja comprovado. A mesma legislação enquadra como Ato Obsceno (artigo 233) quando alguém pratica uma ação de cunho sexual (como por exemplo, exibe seus genitais) em local público, ou para alguém em particular, a fim de constranger ou ameaçar alguém. A pena varia de 3 meses a um ano, ou pagamento de multa. 9.5 DISPENSA POR JUSTA CAUSA Uma das consequências para o agente do ilícito é ser dispensado por justa causa, por ter Uma das consequências para o agente do ilícito é ser dispensado por justa causa, por ter cometido ato de incontinência de conduta gravíssimo, não podendo mais, permanecer naquele ambiente que tanto prejudicou. A prática do assédio sexual contra os empregados ou empregadas, por parte do outro trabalhador, que exerce função superior a do assediado, e, por isto mesmo, encontra-se na condição de preposto do empregador, pode ser justa causa para a rescisão do contrato de trabalho. É assim que a doutrina e a jurisprudência têm feito. Os Tribunais do País também entendem que a incontinência de conduta sexual gera a prática de assédio sexual e consequente justa causa. Para tanto o assédio sexual no âmbito trabalhista encontra-se tipificado como incontinência de conduta prevista na alínea b do artigo 482 consolidado hipótese autorizadora da dispensa por justa causa ante o uso do poder pelo assediador para obter favores sexuais de outras empregadas no local de trabalho tolhendo suas vítimas do exercício de sua liberdade. A influência de conduta está relacionada ao mau comportamento do trabalhador no ambiente de trabalho. Para a caracterização desse procedimento, não é necessário que o trabalhador tenha praticado o ato concreto que gere prejuízo ou danos ao basta uma conduta imoral ou de má-fé, incompatível com o comportamento que deve se ter na atuação de empregado ou de qualquer cidadão comum. 9.6 RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL Em diversos países, o agente que pratica o assédio sexual, é responsável diretamente, pelo pagamento dos danos sofridos pelo trabalhador, independentemente da responsabilidade da empresa em fazê-lo. No Brasil, o direito trouxe a previsão de responsabilizar diretamente o 21 agente pelos pagamentos dos prejuízos, mas com presunção de culpa do empregador pelos atos de seus empregados e prepostos. Tal o fato, não exclui possibilidades do empregador acionar o empregado, para ressarcimento dos gastos que ele gerou ao ato para o qual foi condenado. Se houver provas ou se ficou comprovado que o empregado agiu com dolo, poderá o empregador objetivar qualquer desconto para que possa ver ressarcido de todos seus prejuízos causados por conta do cidadão. O dano material é na maioria das vezes reversíveis já que se é caro a indenização, porque ela é avaliada em vários sentidos. Já o dano moral atinge outras espécies de bens, os imateriais, que possuem maior valor de indenização já que são mais irreversíveis que os patrimoniais. São a honra, a imagem, a liberdade que estarão sendo violentados. Compreende-se assim que o trabalhador ou trabalhadora vítima de assédio sexual tem direito não apenas às verbas rescisórias, caso saia do seu local de trabalho , mas também a indenização por danos morais. 9.7 CONSEQUÊNCIAS CRIMINAIS Como se pôde constatar, as consequências do assédio sexual são de várias ordens e cada caso com sua exceção, podendo prejudicar a imagem da empresa, afetar custos, vendas, despesas e o que é mais grave, atingir muitas vezes de maneira irreparável a vítima, que sofreu humilhações e desconfianças no ambiente de trabalho. Além das consequências, trabalhistas (justa causa) e civil (responsabilidade patrimonial e moral), deve se considerar, a responsabilidade criminal, ressaltando que a lei penal brasileira criminaliza somente o assédio sexual por chantagem. Assim, a esfera penal deve ser a última a ser instaurada, pois limita sobremaneira a possibilidade de enquadramento e responsabilização do autor. Outros sim, em se tratando do crime de assédio, por força da previsão penal de um a dois anos de detenção, não pode ser objeto de apreciação pelos Juizados Especiais Criminais, posto que 22 a sanção para delitos apreciáveis naquele juízo não pode ultrapassar a um ano (Lei n. 9.099/95, art. 61). 9.8 FOCO EM SAÚDE PARA A VÍTIMA E QUEM PRÁTICA O ATO A pessoa mais atingida com o crime de assédio sexual, sem nenhuma dúvidas é a vítima. O ambiente desfavorável gerado pelas agressões pode conduzir a um prejuízo na mente da pessoa, e no rendimento do trabalhador, prejudicando suas promoções, transferências ou quaisquer outras evoluções profissionais que possa ter, pois cria um ambiente inadequado e de grandes decepções, com extrema pressão psíquico e emocional do empregado . Além de prejudicar totalmente a vida particular, por estes motivos as vezes é necessário um acompanhamento em saúde a vítima. 10. PREJUÍZOS PARA O EMPREGADOR Os recursos humanos consideram esse tipo de situação como um grande problema a ser encarado. Buscam desenvolver políticas de conscientização, levando para discussão em vários níveis organizacionais. A própria discussão já é uma forma de prevenir. Sem levar em conta o descrédito que os excessos provocam, uma organização pode incorporar sem maiores transtornos as preocupações mais recentes da sociedade. Se essa questão é de momento, ela é também de futuro. Pois o meio feminino tende a aumentar em todos os setores e em todos os níveis hierárquicos. Além do reflexo direto de uma sociedademais aberta ao diálogo, tende a comportar-se em diferentes arranjos amorosos. Isso eleva a possibilidade de que as organizações sejam cada vez mais um palco para vários tipos de ocorrências infelizes. Ressaltamos que em muito das vezes as mulheres têm sido as vítimas principais do assédio sexual, mas nada impede que um homem também possa vir a receber o assédio e não sendo necessariamente uma mulher, nem mesmo uma linda mulher do outro lado. Não adianta desqualificar a questão alegando que o homem pode reagir com mais facilidade, o que é necessariamente verdadeiro. Exatamente pelo modo cultural e também para ele será uma chantagem ou uma maldição que poderia ter sido evitada. 23 Além do autor e da vítima, o assédio sexual prejudica e muito o empregador. À medida que produz prejuízos imagem da empresa, a rentabilidade e a produção. Mas a empresa deve prestar demasiada atenção é com relação a responsabilidade que terão pela indenização em condenações judiciais gerada pelo ato acediosos de seu empregado e responsabilizando-se pelos danos causados aos seus empregados ou prepostos. Com efeito, o Código Civil dispõe acerca da responsabilidade do empregador em decorrência dos danos produzidos pelos atos de seus prepostos. Assim, não existe a necessidade de dolo do empregador, bastando que tenha agido com culpa, deixando de tomar atitudes importantes e fundamentais que evitariam o crime. 11. DA PRODUÇÃO DE PROVA No meio jurídico a prova de qualquer fato é de extrema importância. Para que assim, tenha a responsabilização do assediador, em qualquer da esferas, penal, cível ou trabalhista em decorrência do assédio sexual é imprescindível que a vítima do caso tenha o mínimo possível de lastro probatório para comprovar o direito que foi alegado. A prova judicial da prática do assédio sexual no meio trabalhista possui uma grande dificuldade de sua comprovação, uma vez, que na maioria das vezes a conduta ocorre de forma oculta, tendo à vítima a difícil missão de provar o fato. Diante disso e para melhores resultados para a descoberta do caso, alguns princípios devem ser aplicados e respeitados no momento da probatória, para assim de evitar atos injustos. Para que se possa reger o processo probante do assédio sexual no ambiente de trabalho, alguns princípios devem ser utilizados: necessidade da prova, unidade da prova, proibição da prova obtida por meio ilícito, livre convencimento do juiz ou persuasão processual, obrigatoriedade, contraditório e da ampla defesa, aquisição processual e imediação. 24 PRINCÍPIO DA NECESSIDADE DA PROVA: Conforme Bezerra (2008, p.554) ‘‘ As alegações das partes em juízo não são suficientes para demonstrar a verdade ou não de determinado fato é necessário que a parte faça prova de suas alegações, pois os fatos não provados são inexistentes no processo. ’’ PRINCÍPIO DA UNIDADE DA PROVA As provas devem ser apresentadas em conjunto, devendo ser analisadas em um todo de forma unitário e não de forma isolada. Porém, no caso do assédio sexual, por existir uma grande dificuldade para comprovação dos fatos por ausência ou insuficiência de prova, nada impede que o Juiz resolva por uma ou outra parte. PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DA PROVA OBTIDA POR MEIO ILÍCITO Todas as partes não devem agir de má-fé, só podendo apenas serem acolhidas em juízo provas legais e moralmente legítimas. Não podendo ser aceitas provas ilícitas, devendo estas ser descartadas do processo (artigo, 5 ,LVI, da CR/88). PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO DO JUIZ OU PERSUASÃO PROCESSUAL O princípio do livre convencimento do juiz opõe ao preceito da veracidade legal. Onde o mesmo pode julgar sem atentar, fundamentalmente, para a prova dos atos, recorrendo a meios que esquivam ao controle das partes, no sistema da persuasão racional. O juiz, verificando somente às provas do processo, formará seu convencimento com livre-arbítrio e conforme sua consciência. Este princípio está firmado no artigo 131 do CPC. Para o assédio sexual o princípio em tela, talvez seja o mais utilizado no caso, pelo fato da impossibilidade da aquisição de provas no processo. Com este sentindo, deve o Juiz recorrer a outros métodos que achar merecedores, sem ficarem adstrito a provas existentes ou inexistentes dos fatos. PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE A prova é do interesse das partes e também do interesse do Estado. Sendo assim o juiz possui uma grande liberdade na condução do processo probatório. 25 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA Este é um princípio constitucional basilar, onde as partes podem se manifestarem mutuamente sobre as provas apresentadas em juízo, podendo se opor a mesma. Assim, os litigantes têm que ter oportunidades iguais tanto de requerimento e produção para apresentarem suas provas no ato processual adequado (artigo. 5, II da CR/88). PRINCÍPIO DA IMEDIAÇÃO O poder de direção do processo cabe ao Juiz (artigo 765 da CLT) é ele quem verifica prontamente a atividade probatória apresentada pelas partes, podendo também buscar diferentes atividades para maiores esclarecimentos dos fatos, estando tal princípio firmado com o artigo 848 da CLT, que permite ao juiz interrogar os litigantes. No lastro probatório do assédio sexual, junto com o princípio do livre convencimento do Juiz este também se caracteriza por ser um princípio importante sendo o interrogatório feito a ambas as partes, sendo na maior parte das vezes, o único meio de prova que prova a conduta de que o assédio ocorreu. PRINCÍPIO DA AQUISIÇÃO PROCESSUAL A prova produzida e introduzida nos autos do processo passa a integrá-lo, sendo irrelevante quem a produziu. Estes princípios são de grande importância no ato processual do assédio sexual, tendo em vista a existência de dificuldade probatória da conduta. Assim, os princípios servem para orientar a instrução jurisdicional, servindo com pilar para o Juiz e as partes litigantes. Obter-se prova do assédio sexual ocorrida no ambiente de trabalho é extremamente difícil, pois a maioria das vezes o ato não acontece de maneira pública e notória. “De fato, o assédio sexual não é ato que se pratique, normalmente, às claras, na presença de diversas pessoas, em lugares públicos, mas sim ‘à boca miúda’, de portas fechadas, em locais restritos [...].” (PAMPLONA, 2001, p. 147). Desta forma, requerer prova legítimas para a comprovação do assédio sexual é uma tarefa difícil, podendo assim gerar grande impossibilidade no seu cumprimento, devendo assim, o 26 julgador ser compassivo no momento de copilar a prova do assédio sexual, para que não cometa nenhum ato injusto, Ainda que aceita indícios e provas indiretas os meios de prova utilizados pela parte deve ser os meios legais, não só os estabelecidos na nossa Constituição ou nas normas infraconstitucionais, mas aqueles moralmente legítimos que podem provar o fato alegado. Assim, como meios de provas a vítima pode reunir: mensagem de celular, cartas, e-mails, roupas rasgadas, prova testemunhas e até mesmo a gravação de conversa. A prova testemunhal é feita por um terceiro, distinto das partes do processo, que presta depoimento, por ter conhecimento próprio dos fatos narrados pelas partes. Segundo Aduz Bezerra (2008) afirma que a prova testemunhal é um do meios mais inseguros, nesse caminho, Martins alega (2007, p.332) “Entretanto, a prova testemunhal é a pior prova que existe, sendo considerada a prostituta das provas, justamente por ser a mais insegura. ’’ isso porque muitas das vezes a testemunha não tenha armazenadona memória todo fato, trazendo ao processo incertezas ou até mesmo nem presencio o fato mais depõe em favor de uma das partes. A prova testemunhal tornou-se o meio mais aplicado, pôr na maior parte das vezes ser a única maneira dos litigantes fazerem a prova de suas alegações. Portanto, ainda que se entenda que a prova testemunhal seja um meio inseguro e que os meios documentais sejam mais eficazes, cabe salientar que a prova testemunhal é sempre aceitável, devendo ser descartada somente nos casos já provados por documento, confissão da parte ou que só possa ser provado por meio de documento ou exame pericial, conforme consubstancia o artigo 400 do CPC. Como se pode notar existe um grande problema na constatação da conduta do assédio, sexual no ambiente de trabalho, assim os Órgãos Trabalhistas, muitas vezes vem aceitando o depoimento da própria vítima, como prova dos fatos, pautado pela dificuldade da comprovação do assédio e por seu acontecimento ser de forma implícita, segundo Lippmann (2005, P. 34/35): A questão da prova no assédio torna-se mais grave, na medida em que geralmente e praticada as portas fechadas, o que poderia levar a conclusão precipitado de que a única maneira de provar o assédio seria a palavra da vítima contra o do ofensor, especialmente quando a não houver testemunhas presentes. 27 Sendo assim, diante da questão de insuficiência e da dificuldade de comprovação probatório da conduta do assédio sexual no ambiente laboral o poder judiciário vem sendo mais maleável quanto aos meios de provas trazidas aos autos no caso de assédio sexual no ambiente de trabalho. Aceitando dessa forma, provas que talvez se considerasse ilícitas, como as gravações ambientais, bem como provas únicas, como o testemunho de uma pessoa que presenciou o fato ou até mesmo o depoimento isolado da vítima. Atente-se, porém que apesar da insuficiência de provas e os órgãos estarem mais flexíveis quanto aos meios de provas, tal conduta, deve ser feita de forma bem cautelosa, uma vez que, a conduta de assédio sexual é grave. Devendo o Juiz não só utilizar de seu poder de livre convencimento, mas, observar os princípios basilares que regem a instrução probatória, para que não ocorra falsas denúncias e acarrete em injustas condenações. 12. O ASSÉDIO SEXUAL ALÉM DO ÂMBITO CORPORATIVO Vem crescendo também os casos de assédio sexual fora do âmbito de trabalho, segundo uma pesquisa realizada em São Paulo o número de mulheres que realizaram denúncias de assédio sexual desde o ano passado até o presente momento foram triplicados, essas denúncias vieram de assédios sexuais ocorridos dentro de ônibus, as famosas encoxadas, diante superlotação de ônibus, trens e metrôs que circulam na capital paulista, usuários se espremem uns contra os outros em busca de espaço. Esse roçado facilita "mãos bobas" nada bobas, sussurros indecorosos e encoxadas propositais, reportados por uma a cada três paulistanas entrevistadas pelo Datafolha em pesquisa sobre assédio. Segundo o levantamento, que entrevistou 1.092 homens e mulheres, o transporte público é o local onde mais ocorre assédio às mulheres da cidade: 35% dizem já ter sido alvo de algum tipo de assédio nesses apertos. 22% delas dizem ter sofrido assédio físico, enquanto 8% foram alvo de assédio verbal e 4% de ambos. 28 Em seguida ao transporte público, os palcos de assédio são a rua (33%), a balada (19%) e o trabalho (10%). 13.LEGISLAÇÃO PENAL E O ASSÉDIO SEXUAL Todos, além de inúmeros outros direitos, tem o direito de dispor de seu corpo da forma que lhe convier, observando sempre, os limites impostos para o convívio social. Sendo assim, qualquer ato de violação do princípio basilar, é visto como violação da lei. Qualquer pessoa, seja por dolo ou culpa, fere a liberdade sexual de outrem, sofrerá as imposições legais impostas pela lei, bem como, qualquer pessoa, seja por dolo ou culpa, fere ou prejudica a integridade moral ou física de alguém, terá que reparar o dano causado. Com o advento da Lei n°. 10.224, de 15.05.2001, por força do artigo 216-A, o assédio sexual foi incluído no Código Penal Brasileiro, através do Decreto-Lei n° 2.848/40, finalizando um capítulo na história jurídica brasileira e iniciando para muitos um grande temor. Hoje, a prática de assédio sexual no Brasil é crime, tendo o processo de criminalização primeiramente se materializado com o Projeto Lei n° 424, de 1995, de autoria da Deputada Raquel Capiberibe (PSD-AM), apresentado na Câmara dos Deputados, em 28.03.1995. Logo após este projeto, adveio o da Senadora e hoje Ministra Benedita da Silva (PT-RJ), apresentando no Senado da República, em 16.08.1995, que recebeu o n° 235/95. Durante a tramitação desse projeto de lei, houve um substitutivo de autoria do Senador José Bianco (PFL- RO) e, posteriormente, uma Emenda em Plenário de autoria do Senador Jéferson Peres (PDT- AM). Marta Suplicy criou o Projeto de Lei n° 2.493/96-CD,que na época era Deputada Federal, e a Senadora Benedita da Silva criou o Projeto de Lei n°157/97, que propunha a inclusão do assédio sexual na CLT como ilícito trabalhista. Mas em 1999 que foi criado o Projeto de Lei n° 61 que resultou na lei que vigora hoje feito pela Deputada Iara Bernardi aprovado pelo Congresso nacional em 1999. 29 13.1. LEGISLAÇÃO A Lei n◦ 10.224 de 15 de Maio de 2001 Comparado com outros países, a regulamentação da conduta do assédio sexual no Brasil veio tardiamente. A Lei n° 10.224, de 15 de Maio de 2001, introduziu no Código Penal (Decreto-Lei n° 2.848, de 1940), no Capítulo dos Crimes contra a liberdade Sexual, o delito de assédio sexual, com a seguinte redação, in verbis: “Art. 216-A. Constranger alguém, com intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função: pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos.” Doutrinadores brasileiros se manifestaram com críticas ao texto da lei, considerando o mesmo incompleto por deixar determinador “vazios” para regulamentação de algumas situações, bem como, assédio entre professor e aluno e etc. Para caracterizar o assédio se este foi praticado pelo superior ao subordinado, exige-se a condição “sine quo non”. Em resumo, o assédio sexual, com a introdução da lei ora citada, que altera o dispositivo do código penal artigo 216 a partir de maio de 2001,visa penalizar qualquer indivíduo homem ou mulher, podendo ser definido como um constrangimento físico, moral ou de qualquer outra natureza, dirigido a homem ou mulher, com inafastáveis insinuações sexuais, visando a prática de ato sexual, prevalecendo-se o autor de determinadas circunstâncias que o põe em situação de superioridade em relação à pessoa assediada, seja em razão do seu emprego, da sua função ou do seu cargo, a fim de obter vantagens e prática sexual. A jurisprudência produzida pelos Tribunais pátrios preconizam pela responsabilidade do empregador quanto da prática do assédio sexual, visto ser de sua obrigação, a guarda da idoneidade e tranquilidade dos seus empregados. Analisa-se a ementa, in verbis: 30 ASSÉDIO SEXUAL NO LOCAL DE TRABALHO. DANO MORAL. RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR. O empregador tem o dever de assegurar ao empregado, no ambiente de trabalho, a tranquilidade indispensável às suas atividades, prevenindo qualquer possibilidade de importunações ou agressões, principalmente as decorrentes da libido, pelo trauma resultante às vítimas. No mesmo sentido, o Tribunal da 03ª Região estabeleceu o que se segue na ementa in verbis: ASSÉDIO SEXUAL. DANOS MORAIS. Demonstradaa prática de ato lesivo à honra e à dignidade da obreira, em face do comportamento assediante dos prepostos, de conotação sexual, resta configurado o dano moral, que deve ser reparado pelo empregador, a teor do disposto nos artigos 2°/CLT, 159 e 1521, III, do Código Civil. O doutrinador e jurista Aloysio Santos, como outros estudiosos, conformam-se no sentido de responsabilizar a empresa objetivamente pela desídia causada ao seu empregado: Assim sendo, se o assediante é o próprio empregador, incorrerá em responsabilidade civil, inclusive por dano moral. Se for seu empregado, representando-o ou não, a responsabilidade também será sua, sem afastar a responsabilidade patrimonial do assediador, o que poderá ser objeto de lide própria regressiva ou, como nos parece cabível, de denunciação da lide no processo trabalhista correspondente. Apresentando outra posição, José Pastore e Luiz Carlos Amorim Robortella, julgam que a responsabilidade do empregador pela prática do assédio, deve ser vista com cautela, veja-se: Não se deve erigir em critério absoluto a responsabilidade objetiva do empregador quanto ao assédio praticado nas relações de trabalho por seus agentes ou prepostos. Seria instituir um enorme risco à atividade empresarial e estimular verdadeira febre de indenizações. Por isto que as medidas preventivas se fazem tão importantes em empresas. O problema é mais complexo quando se trata do empregador literalmente como autor do crime. Nestes casos, a vítima se encontra solitária e demasiadamente pressionada para não tomar qualquer atitude, pois na maioria dos casos, certamente poderá perder seu emprego. Rescindir o contrato por despedida indireta, por atentado a boa fama ou à honra do empregado parece ser a solução, mais adequada, principalmente porque não terá mais condições de permanecer no mesmo ambiente de trabalho com o assediador. A empresa também pode ser responsabilizada objetiva e subsidiariamente, e arcar com o pagamento da indenização ao assediado por danos morais, além das verbas rescisórias, caso o autor não esteja em condições de fazê-lo. Isso faz com que as empresas tenham que assumir 31 desde logo uma política de prevenção à prática do assédio, como algumas já vêm desenvolvendo e com grande êxito. 14. ESTATÍSTICAS DO TEMA Com o objetivo de se chegar uma melhor análise do tema, trazemos neste documento uma visão quantitativa. 14.1 ANÁLISE AMOSTRAL Para isto, foi realizada uma pesquisa em campo com uma quantidade de amostras específicas, incluindo estudantes de diversas áreas de atuação, profissionais de empresas privadas/públicas bem como pessoas que executam atividades remuneradas de forma autônoma. Abaixo os principais indicadores identificados: 1 – Você sabe o que significa assédio sexual? 2 – Você acredita que assédio sexual é encontrado apenas dentro de empresas? Gráfico 1 Gráfico - 2 32 3 - Se o "chefe" de uma empresa pratica o assédio, qual seria seu julgamento sendo o dono da empresa 4 - Você concorda com a aplicação da Lei do Brasil sobre o tema Gráfico- 4 Grande parte das pessoas correlacionam o assédio sexual sendo algo diretamente ligado ao âmbito profissional e não se referindo aos demais locais abrangentes. Além disto, há um alto volume de pessoas que não procurariam entender bem a situação com a comunicação (33,3%), sendo possível criar-se um risco de assédio moral em caso de erros em entendimento, difamações e etc.. Também é possível identificar um alto volume de pessoas que não concordam com as leis aplicadas no país. No entanto não podemos garantir a efetividade deste número mediante a falta de conhecimento do tema referido junto a sociedade. Gráfico- 3 33 14.2 ANÁLISES ESTATÍSTICAS Uma pesquisa feita com 2.285 mulheres entre 14 e 24 anos, com renda familiar de até R$ 6 mil, moradoras de 370 cidades brasileiras, revela que 94% delas já foram assediadas verbalmente e, 77%, sexualmente. Entre os crimes cometidos, 72% ocorreram com desconhecidos. São as famosas "encoxadas" no transporte público, a "passada de mão" durante um passeio ou o beijo forçado na balada. O estudo foi feito pela ONG ÉNois Inteligência Jovem, em parceria com Instituto Vladimir Herzog e o Instituto Patrícia Galvão. De acordo com a pesquisa, 90% já deixaram de fazer algo por medo da violência, “especificamente por serem mulheres”. Além disso, de acordo com dados da pesquisa, 82% das mulheres já sofreram algum tipo de preconceito por serem do sexo feminino - 23% em casa, 39% na escola ou na faculdade e 14% no trabalho. A paulista Vanessa Oliveira, de 21 anos, conta que já tentou se candidatar a uma vaga de emprego para edição de vídeos, no entanto, foi vetada - apenas - por ser mulher. “Ele me disse que a vaga era somente para homens”, conta. 14.3 ANÁLISE POR REGIÃO GEOGRÁFICA De acordo com a pesquisa, 86% das brasileiras já sofreram algum tipo de assédio sexual fora de casa. A região Centro Oeste aparece com o maior número de casos, 92%, seguida do Norte, com 88%, Nordeste e Sudeste, com 86% e o Sul do País, com 85%. Entre as formas de assédio, o assobio aparece no topo do ranking, seguido por olhares, comentários e xingamentos. 15. CALUNIA (DENÚNCIA CALUNIOSA) Quando se fala de calúnia, a primeira referência de muitas pessoas é a difamação e a injuria. Mais as três apesar de abordar as mesmas coisas possuem distinções diferentes. Difamação de acordo com o Art. 139 é – Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo a sua reputação, com pena detenção, de três meses a um ano, e multa. Injúria de acordo com o Art. 140 – é injuriar alguém, ofendendo lhe a dignidade ou o decoro: Pena, detenção de um a seis meses ou multa. 34 E a calunia é a exceção da verdade, caluniar alguém é um delito, é um fato definido como crime, calunia é a afirmação desprovida de verdade que ofende a honra e a reputação de alguém. No amplo jurídico é um crime que consiste numa falsa acusação contra alguém, caracterizado como um ato de má fé. De acordo com o Art.138 do decreto. Lei n° 2.848 de 07 de dezembro de 1940: “Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga. § 2º - É punível a calúnia contra os mortos. Exceção da verdade § 3º - Admite-se a prova da verdade, salvo: I - se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; II - se o fato é imputado a qualquer das pessoas indicadas no nº I do art. 141; III - se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.” A ação de calunia pode ser vista em vários sentidos e diversos aspectos e lugares , na rua, na escola no trabalho e em vários outros lugares, algumas pessoas de má fé usam isso para causar danos a outra, seja ele psicológico, material ou profissional. Ela é a falsa acusação de ato causado ou ato não ocorrido, vemos com frequência esse fato no nosso dia a dia, com falsas acusações para prejudicar outras pessoas, as vezes por poder, por raiva, inveja. Enfim, causar um dano sobre a conduta da outra. Seja ele empregador ou de quem tenha o maior poder hierárquico sobre o empregado, na maioria das vezes de obter dele favores sexuais, através de condutas questionáveis, indesejadas e rejeitadas, com o uso do poder que detém como forma de ameaça e condição de continuidade no emprego. Temos também o outro lado que a pessoaque faz a calunia se passa por vítima, mentindo para prejudicar a profissionalmente ou por ridicularização espontânea. Resumindo sob o prisma do Direito do Trabalho, se o assédio é iniciativa de um empregado em relação a outro colega de trabalho, poderá o assediador ser dispensado por justa causa. Se o autor do assédio é o empregado poderá postular a rescisão indireta do contrato de trabalho. Em ambas as situações o pleito abordará também sobre indenização por danos morais dada a violação do direito a intimidade assegurado no Art. 5° da constituição federal. 35 16. AÇÕES PARA REDUÇÃO DO ABUSO SEXUAL Atualmente temos ferramentas que mapeiam diversas instituições para denúncias de casos que violem direitos humanos (violência sexual, trabalho infantil, violência sexual, violência física etc.), facilitando a pessoa achar o endereço e telefone da instituição mais próxima para relatar alguma violação ou ligar diretamente para o Disque 100, Ouvidoria Nacional responsável por receber, examinar e encaminhar as denúncias de violações de direitos humanos. No entanto, as criações de ferramentas não possuem um efeito de reduzir drasticamente o alto número de assédios sexuais identificados. É necessário que o “mind set” das empresas e sociedades sejam alterados. Abaixo alguns exemplos de ações que podemos citar com foco na melhoria do indicador atual: Investimento de ações educativas, treinamento a gestores e profissionais de diferentes níveis hierárquicos; Inclusão forte dos direitos humanos na cultura organizacional das empresas; Acompanhamento anual do indicador, incluindo se possível nas pesquisas de clima organizacionais; Um bom canal de comunicação (ouvidoria), para criação da imparcialidade e melhor proteção das vítimas; Vale salientar que tais ações além de melhorar o clima dentro das empresas, reduzem drasticamente o custo com processos abertos pelo empregado contra o empregador. 36 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho teve como propósito elaborar um conjunto de tópicos para através deste, se conhecer e esclarecer sobre o tema assédio sexual, que é um grande problema da sociedade. Conforme se viu no decorrer deste trabalho, houve um grande avanço desde a criação da lei 10.224 de 15 de Maio de 2001, mas conclui-se que o Brasil precisa de medidas mais eficazes contra o assédio sexual, pois nesta lei há diversas lacunas que não estão resguardada. Conclui-se também que o assédio sexual ocorre também em diversos lugares mais principalmente nas relações de trabalho, e o sexo da pessoa que comete e/ou sofre a conduta lesiva é irrelevante. O crime pode ser cometido por homem x mulher; mulher x homem; homem x homem e mulher x mulher. Para que este trabalho não se limitasse a teoria, buscou junto ao público por meio de enquete do google feita exclusivamente para este trabalho, saber o que eles sabem sobre assédio Sexual, se sabem onde ocorre, e se conhecem a lei que resguarda contra o assédio. Pode-se chegar, assim, a algumas conclusões: que o público em sua maioria tem conhecimento sobre o que é o assédio sexual, e tem a consciência de que este não ocorre somente dentro das empresas, mas também constatou-se que as pessoas tem alguma dúvida em como agir se for acometido de assédio e não tem tanto conhecimento da lei e do que dela se trata. Então além de uma legislação mais eficaz, precisa-se de ser feita campanhas publicitárias afim de encorajar as vítimas a sempre denunciarem e de forma educativa esclarecer a toda sociedade do que realmente se trata e de como se agir em um possível caso de assédio, porque não adianta somente criar leis severas para punir, se a grande parte da sociedade continua vendo as mulheres como inferiores. Cabe aos nossos legisladores juntamente com os órgãos e ong’s competentes através de debates até com a própria população tentar achar uma saída para que cada vez menos este tipo de crime nascido em épocas patriarcais possa aparecer em pleno século XXI. E para finalizar, lembramos que na nossa Constituição Federal de 1988 em seu Art.5 diz no parágrafo: “X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;”. 37 REFERÊNCIAS AREF, Omar. Assédio sexual nas relações de trabalho. Disponível em: http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1826. Acesso em: 05 Nov. 2016. ÁVILA, Rosemari Pedrotti. Assédio sexual nas relações de trabalho: agressão a direitos fundamentais. Rev. Disc. Jur. Campo Mourão, v. 3, n. 1, p. 102-113, jan./jul. 2007.Disponivel em: http://revista.grupointegrado.br/revista/index.php/discursojuridico/article/view/208/95. 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