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ASSÉDIO MORAL E SEXUAL SOFRIDO PELAS MULHERES NO AMBIENTE DE TRABALHO

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS - UEMG 
CURSO DE DIREITO DE PASSOS 
 
 
 
 
 
 
 
 
ASSÉDIO MORAL E SEXUAL SOFRIDO PELAS MULHERES NO 
AMBIENTE DE TRABALHO 
 
Clara Pereira Martínez 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Passos 
2019 
 
 
 
Clara Pereira Martínez 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ASSÉDIO MORAL E SEXUAL SOFRIDO PELAS MULHERES NO AMBIENTE DE 
TRABALHO 
Monografia apresentada no curso de 
graduação em Direito, da Universidade do 
Estado de Minas Gerais – Unidade 
Passos, como requisito parcial para a 
obtenção do grau de Bacharel em Direito. 
Orientador: Prof. Me. Zaíra Garcia de 
Oliveira 
 
 
 
 
 
 
 
Passos 
2019 
 
 
 
Clara Pereira Martínez 
 
 
 
 
 
 
ASSÉDIO MORAL E SEXUAL SOFRIDO PELAS MULHERES NO AMBIENTE 
DE TRABALHO 
 
 
 
Monografia apresentada no curso de graduação em Direito, da Universidade do 
Estado de Minas Gerais – Unidade Passos, como requisito parcial para a obtenção 
do grau de Bacharel em Direito. 
 
 
 
 
__________________________________ 
Presidente 
 
__________________________________ 
Examinador 
 
__________________________________ 
Examinador 
 
 
 
 
Passos, ____ de ________________ de 2019 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dedico este trabalho à todas as mulheres que de 
alguma maneira sofreram qualquer tipo de violência 
durante suas vidas. E que elas possam continuar 
lutando por uma vida sem violência. 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Quero agradecer primeiramente a todos os meus verdadeiros amigos que 
estiveram comigo durante esta passagem acadêmica, agradecer por toda força que 
me proporcionaram durante esta caminhada. Em especial quero agradecer ao meu 
fiel e companheiro marido Héctor Darío, por acreditar na mulher que eu sou e me 
proporcionar todo apoio necessário para conclusão do curso de Direito. 
Quero agradecer minha mãe Lilian Shorreyla por ter me dado a vida e ser meu 
modelo de mulher, guerreira, batalhadora, empoderada e me mostrar o quanto nós 
mulheres podemos ser fortes diante a todas as adversidades da vida. 
À minha avó Irene e meu avô Gaspar por acreditarem em mim e me apoiarem 
durante este período acadêmico. 
Agradeço todos os professores que com toda sabedoria proporcionaram minha 
aprendizagem durante a graduação e me tornaram uma pessoa melhor como 
pensadora crítica dos nossos direitos enquanto parte de uma sociedade. 
E por fim, agradecer a todos que de todas as formas colaboraram para que 
mais essa etapa em minha vida fosse vencida. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Que nada nos defina, que nada nos 
sujeite. Que a liberdade seja a nossa 
própria substância, já que viver é ser livre.” 
Simone de Beauvoir 
 
 
 
 
 
RESUMO 
A organização de normas reguladoras em defesa das mulheres no ambiente se faz 
necessária. Onde alguns dos enfrentamentos sofridos por elas no trabalho são os 
assédios, tanto morais como sexuais, e quando praticados podem causar danos à 
saúde psíquica, física e na sociabilidade destas mulheres. Constata-se por pesquisas 
e estudos que as mulheres são as que mais sofrem assédios no ambiente de trabalho, 
advindo de uma posição histórico-social onde o machismo e o patriarcalismo ainda 
prevalecem nos tempos atuais. Desta forma, os assédios se classificam como um dos 
tipos de violência, este trabalho se faz necessário para que possa se compreender 
um pouco sobre este tipo de violência, e porque quando cometidos, não são 
denunciados pelas mulheres no ambiente de trabalho ou acionando o judiciário. 
Justifica-se que tal estudo pode colaborar para a construção de normas jurídicas que 
comportem toda realidade vivida pela mulher no ambiente de trabalho, visto que 
existem dificuldades na estabilidade das percepções do judiciário quanto a defesa dos 
direitos femininos. Apresentamos como objetivo investigar o assédio moral e sexual 
sofrido por mulheres em ambiente de trabalho, no sentido de entender a forma como 
as mulheres compreendem o assédio moral e sexual no ambiente de trabalho, 
investigar o assédio moral e sexual sofrido no ambiente de trabalho pela mulher em 
Passos/MG e averiguar os entendimentos jurídicos quanto ao tema. Para construção 
da pesquisa, estabeleceu-se a seguinte metodologia: o desenvolvimento de uma 
pesquisa bibliográfica e teórica, seguida por uma investigação de campo dada por 
uma pesquisa qualitativa. Conclui-se que há uma preocupação em inibir estes tipos 
de violência contra a mulher, e verifica-se que seja necessário conscientizar, prevenir, 
criar leis, punir e até mesmo condenar em relação à estas condutas. Palavras-chave: 
Assédio Moral. Assédio Sexual. Violência no trabalho. Violência contra mulher. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 08 
1 BREVE ANÁLISE SOBRE FATORES SOCIAIS E PSICOLÓGICOS DA MULHER 
NO MERCADO DE TRABALHO ......................................................................... 10 
2 ANÁLISE JURÍDICA DO ASSÉDIO MORAL E SEXUAL ................................... 19 
2.1 Assédio moral ..................................................................................................... 19 
2.2 Assédio sexual .................................................................................................... 27 
2.3 Saúde no trabalho ............................................................................................... 32 
2.4 Natureza jurídica do assédio moral e sexual ....................................................... 37 
3 A REALIDADE DAS MULHERES A PARTIR DO ASSÉDIO EM AMBIENTE DE 
TRABALHO ........................................................................................................ 46 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 69 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 71 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO 
O assédio moral e sexual no ambiente de trabalho é um tema em discussão na 
sociedade brasileira. Por diversas vezes, é um assunto cercado de tabu, onde as 
mulheres têm pouca compreensão ou debate sobre o tema. As leis definem-se como 
um reflexo das construções sociais, entretanto em determinados momentos, os 
instrumentos legislativos não demonstram suficiência para suprir as demandas da 
sociedade. 
Sob essa percepção, identificamos a existência de limbos legislativos quando 
se fala do assédio sexual e do assédio moral em ambiente de trabalho, principalmente 
na relação com a violência de gênero. Identificamos que não é distribuída a devida a 
atenção para a construção das mulheres trabalhadoras. 
 Logo, essa pesquisa tem como objetivo realizar um estudo direcionado às 
mulheres, que por uma questão histórico-social, são as maiores vítimas destas 
violências no ambiente de trabalho. Com o progresso da evolução do mercado a 
revolução industrial e o capitalismo, a mulher conseguiu a inserção no mercado de 
trabalho articulado com a conquista dos seus direitos fundamentais. 
 As mulheres têm ocupado espaços que, historicamente, possuíram um 
predomínio masculino. Esse quadro tem gerado a leitura que a tomada das mulheres 
do mercado de trabalho é uma afronta à imagem masculina, que sempre foi vista como 
principal ferramenta no mercado de trabalho. Consequentemente, isso causou uma 
competitividade e intensificou muitas contradições, como o sofrimento de assédios 
morais e sexuais no ambiente de trabalho pelas mulheres. 
 Por conseguinte, relata-se os aspectos sociais e psicológicos da mulher no 
mercado de trabalho, de maneira que se transpareça certos danos que esta violência 
contra as mulheres possa causar a elas como por exemplo em sua saúdefísica, 
psíquica, moral e com consequência em sua sociabilidade. 
 Em um sentido metodológico, o presente trabalho aborda o conceito de assédio 
moral e sexual no ambiente de trabalho e ainda dos danos que possam causar nestas 
mulheres trabalhadoras. Faz-se uma relação de gênero explicitada em desfavor das 
mulheres com os danos em termos pessoais e sociais. 
 Segue-se para a análise jurídica destes assédios cometidos no ambiente de 
trabalho, dentre estas normas, Convenções, Princípios, Leis e Projetos de Leis e a 
9 
 
 
 
 
omissão do legislativo em relação do assédio moral e sexual para a pessoa 
trabalhadora. Possuímos a pretensão de explorar questões de criar mecanismos de 
conscientizar, prevenir, inibir e punir a conduta do assediador. 
 Adiante, uma breve análise de saúde no trabalho e a importância dessa 
garantia fundamental para qualquer trabalhador, conceituando o que é saúde e saúde 
no ambiente de trabalho, fazendo com que se reflita o moderno conceito de um 
ambiente de trabalho sadio e seguro para se laborar. 
 E por fim, faz-se uma investigação, a partir de uma metodologia de pesquisa 
qualitativa, a partir de entrevistas com mulheres ativas no mercado de trabalho a fim 
de demonstrar a realidade da mulher trabalhadora e estes enfrentamentos que são os 
assédios sofridos no ambiente de trabalho. Outras entrevistas realizadas foram com 
uma psicóloga e uma advogada, com o intuito de reafirmar o presente trabalho em 
associação com a saúde psíquica da mulher trabalhadora e jurídica em questão da 
não denuncia dos assédios sofridos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
 
 
1 BREVE ANÁLISE SOBRE FATORES SOCIAIS E PSICOLÓGICOS DA 
MULHER NO MERCADO DE TRABALHO 
Em pleno século XXI, as mulheres enfrentam inúmeros tipos de desigualdades 
no ambiente de trabalho, como a diferença de remuneração, valorização do serviço 
prestado, vulnerabilidade física, moral e sexual. Compreendemos que a sociedade se 
dá sob um molde patriarcal, que de modo estrutural, traz reflexos para a vida cotidiana. 
O campo jurídico também se submete a tal lógica, havendo fragilidades quando se 
fala em leis e igualdade de direitos entre homens e mulheres. 
Em se tratar do Direito Nacional, a Lei é clara quando dispõe em seu artigo 5º, 
inciso I: 
 
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
 
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta 
Constituição (BRASIL, 1988). 
 
 Encontramos no apresentado acima uma disposição sobre a igualdade entre 
os sexos na lei, como representação de uma tentativa de organizar e manter o mínimo 
de equidade entre os sujeitos da sociedade. 
O artigo citado dispõe sobre o Princípio da Isonomia ou da Igualdade Formal, 
o qual qualifica, a partir do inciso I, uma referência quanto à desigualdade entre os 
gêneros. Podemos dizer que “a igualdade material é a que abrange o tratamento igual 
aos iguais e desigual aos desiguais” (MARTINS, 2015, p. 44). 
Essa igualdade de gênero, quanto direitos e obrigações, se faz necessária para 
que as mulheres possam exercer seus papéis de cidadania de forma digna e com 
equidade. Nossa sociedade contém influências, o que gera um abismo prático entre 
homens e mulheres. O direito à igualdade, apesar de tipificado em lei, é uma pauta de 
luta das mulheres, visto a necessidade de ir para além de uma mera formalidade. 
A luta das mulheres para serem inseridas no mercado de trabalho vem do início 
dos anos 1970, onde elas saem da sua esfera privada, que é o lar, para a esfera 
pública, onde é o espaço de atuação do homem. Esse contexto foi intensificado por 
conta da crise econômica da época, e não exclusivamente por um caráter de 
emancipação de igualdade entre os gêneros (FUKUDA, 1992). 
11 
 
 
 
 
A mulher tem ganhado cada vez mais espaço no mercado de trabalho, onde 
isso traz autonomia e dignidade como ser humano, à torna mais útil e aberta as 
oportunidades que a permitem escolher. 
 
O trabalho fora de casa é visto hoje pelas mulheres como necessidade 
econômica e financeira, como fator de valorização pessoal, como fonte de 
status, independência financeira, poder, competição com os homens, uma 
forma de ter amigos (as), etc... e mesmo para manter sua própria família. 
(PATTI, 2004, p. 75). 
 
A presença das mulheres no mercado de trabalho é um indicador do quanto foi 
conquistado, com a saída de casa e a libertação, para algumas, do papel de “dona de 
casa”, a conquista do direito ao voto, tornando-as parte dos sujeitos de direito do 
Estado. As mulheres ainda são vítimas do preconceito pelo fato de serem mulheres, 
e ainda passar por vários tipos de enfrentamentos no local de trabalho. A sociedade 
atual nos mostra um quadro em que as desigualdades prevalecem, e podemos 
encontrar exemplo dessas questões nas diferenças salariais para cargos de mesma 
atuação e responsabilidade entre os gêneros. 
Mesmo que a mulher tenha adentrado ao mercado de trabalho e requerido 
alguns direitos de igualdade entre os gêneros, existe uma expectativa social para que 
a mulher cumpra seu papel social. Assumir um lugar no mercado de trabalho é visto 
como uma postura inadequada para quem veio ao mundo para desempenhar um 
papel exclusivo da esfera privada, do lar, como a dona de casa e a esposa que cuida 
da família dentro destes liames (FUKUDA, 2012). 
Com base nas opressões sofridas, a inclusão das mulheres no mercado de 
trabalho não garante a igualdade, justamente pelos elos machistas que constroem as 
relações sociais. As mulheres utilizam capacidades físicas e intelectuais no 
enfrentamento do preconceito que sofrem. Sofrem diversas dificuldades no espaço de 
trabalho, com a subjugação a assédios, que pode ser morais ou sexuais. 
É notório que os homens têm uma conduta de superioridade, imposição e 
hostilidade em relação à mulher desde o momento em que elas entraram no ambiente 
de trabalho. As mulheres são tidas como meras invasoras e não são vistas como 
sujeitos de direitos, mas como uma pessoa que entrou para ocupar o espaço do 
homem, desencadeando a elas sofrerem assédio moral e assédio sexual. 
(MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO, 2017). 
12 
 
 
 
 
As mulheres acabam em um papel de vítima de forma mais frequente e isso 
ocorre porque a implicação do assédio sobre elas é diferente. Carrega uma conotação 
machista e sexista, constantemente presente nos discursos e nos ambientes de 
trabalho por parte dos agressores. Não é possível pensar na questão do assédio 
sofrido sem realizar a análise do contexto sociocultural. 
 
No Brasil, investigação realizada em 97 empresas no Estado de São Paulo, 
com 2.072 entrevistados, demonstrou que 42% explicitaram histórias de 
humilhação no trabalho e que, destes, as mulheres são as vítimas mais 
frequentes (BOBROFF; MARTINS, 2013, p. 253). 
 
 
Observando o dado apresentado, entendemos que as humilhações no trabalho 
existem e que existe uma frequência maior de mulheres como vítimas de situações 
vexatórias. É um exemplo de como há interferência dos estigmas nas relações sociais, 
a partir da sujeição de mulheres ao assédio. 
Quanto à diferenciação entre o assédio sofrido por homens e mulheres, vemos 
que as mulheres são assediadas justamente por serem mulheres, como intimidação 
e submissão, comentários e piadas ligadas ao seu sexo, a sua vestimenta e o ser 
mulher, como mãe. Já os homens encaram um assédio que ataca sua virilidade 
(BOBROFF, MARTINS, 2013); 
Essa inserção da mulher no mercado de trabalho e sua posição de inferioridade 
que permanece faz com que ela tenha cargos tidos como afeminados e abaixo dos 
homens, postos em uma posição hierárquica superior. Como já dito, a relação de 
desigualdade de gênero fica evidente quandoa mulher recebe um salário menor que 
homem exercendo a mesma função ou cargo. 
Consta-se que existe, também, dificuldade por parte das mulheres que tentam 
concorrer a cargos diretivos ou a nível maior de participação como chefia, ainda que 
elas possuam a mesma qualificação que um homem para tal disputa. Uma mulher que 
se põe em um nível de liderança e comando sofre os rechaços sociais, com base nos 
resquícios do patriarcado. 
Com isso vale ressaltar que não existe uma similitude entre homens e mulheres 
no local de trabalho, pois, a tendência é que o homem ocupe um poder de 
hierarquização maior em relação a mulher no ambiente de trabalho. De acordo com 
13 
 
 
 
 
Liza Bastos Duarte (2001), a posição da mulher em relação ao homem em 
consequência a ser vítima do assédio sexual: 
 
É nesse contexto que o assédio sexual é também uma questão de gênero, 
tendo como sujeito passivo a mulher. Evidentemente, a lei constitucional é 
genérica, pois lhe é vedada a discriminação dos sexos. Dessa forma, repele 
a conduta de quaisquer dos sexos que se valha de uma relação de hierarquia 
para pressionar um inferior hierárquico a prestar favores de ordem sexual por 
intermédio de chantagens. Mas, o que acontece na prática na grande maioria 
das vezes é ter-se como vítimas do assédio sexual uma mulher. [...] no Brasil, 
pesquisa realizada no ano de 1995, constatou que 52% das mulheres que 
trabalham fora já foram assediadas" (DUARTE, p. 22/23, 2001). 
 
 
De acordo com a Cartilha do Ministério público do Trabalho, os sujeitos ativos 
dos assédios são, em sua grande maioria, os homens, com uma prática que pode ser 
individual ou coletiva, direcionada contra a mulher. Esses enfrentamentos pela mulher 
no ambiente de trabalho encontram uma tendência de não serem exteriorizados, 
combatidos e denunciados, o que impede o encaminhamento de uma punição ao 
agressor, que consegue manipular de forma que a vítima se sinta coagida a não reagir. 
Conforme relata MENICUCCI (1999), as trabalhadoras não são adeptas a 
denunciar. Possuem receio e acreditam que poderão ser desacreditadas, humilhadas, 
com exposição de sua intimidade, apesar de existir um sentimento de indignação 
quanto as situações de assédio. 
 
As mulheres que reagem às inúmeras situações de abuso no local de trabalho 
são alvo de processos de humilhação; os familiares e amigos tendem a 
desacreditar a sua experiência de vitimação e acabam geralmente no 
desemprego. Neste caso, perdem simultaneamente o emprego e o estatuto 
de mulheres “sérias”. O medo de perder o emprego é real. Nos EUA, entre 
60% a 70% das vítimas de assédio sexual que procuraram ajuda junto das 
agências de serviço social encontravam-se desempregadas (Morgan, 2001). 
 
Ao visualizar o tema sob uma ótica de gênero, pode se destacar o padrão 
cultural da sociedade brasileira, que legitima condutas sexuais do homem como 
predatórias. Trata a conduta do agressor como banal e uma mera relação trabalhista, 
em vez de problematizar esta conduta como uma violência contra a mulher. É notória 
a existência de uma relação de poder e submissão, que gera a vulnerabilidade da 
mulher trabalhadora em relação aos seus direitos, como direito à liberdade, à vida, à 
segurança pessoal e a sua integridade física, moral e mental (FUKUDA, 2012) 
14 
 
 
 
 
O fato de a mulher silenciar-se e não denunciar a conduta do assediador gera 
danos a ela, como alteração de fatores psicológicos, que desencadeiam contextos 
extremamente prejudiciais tanto para a vida laboral quanto particular. Como expõe 
Isabel Dias (2008) em relação ao assédio sexual contra a mulher trabalhadora: 
 
De uma forma geral, o assédio sexual é psicológica e emocionalmente 
perturbador para as vítimas. É sentido como uma perda da dignidade e da 
confiança dos outros. Provoca depressão e comportamentos autodestrutivos. 
Suscita o sentimento de desânimo e de abandono. Afecta a saúde das 
mulheres em termos gerais. Estas mulheres queixam-se frequentemente de 
dores de cabeça, náuseas, cansaço, distúrbios alimentares, inibição sexual, 
etc. (DIAS, 2008, p.16). 
 
 O cenário social e o cultural que descreve a mulher dentro do perfil da vítima 
é composto por alguns elementos, como: os papéis sexuais femininos e masculinos, 
o comportamento da mulher, frequente questionamento sobre o assédio. São levados 
em conta a sua postura e comportamento como forma de julgamento, principalmente 
nos casos de assédios sexuais (FUKUDA, 2012). 
 É importante destacar que assediador não tem a sua conduta julgada e que na 
maioria das vezes eles são homens. A vítima, muitas vezes, não confronta este 
assediador de maneira direta, mas se afasta para que, em determinadas situações, a 
conduta do assediador não traga a ela maiores constrangimentos e problemas no 
ambiente de trabalho. Por melhor que seja a intenção da conduta da vítima a se 
afastar, esse comportamento gera uma nova oportunidade para o assediador manter 
a postura de violência contra ela ou outras mulheres. 
 
Acumulando as desvantagens sociais associadas ao seu estatuto, as 
mulheres em situação de monoparentalidade também são particularmente 
afectadas pelo assédio sexual. Em contrapartida, quanto mais elevado for o 
nível de instrução e o poder das mulheres, maior é o risco de serem 
encaradas como uma ameaça pelos perpetradores, e consequentemente 
será superior a probabilidade de se tornarem alvo de assédio sexual. A 
imagem da mulher activa, “emancipada e autónoma” é muitas vezes 
confundida pelos homens com maior disponibilidade sexual por parte do 
género feminino. O tipo de profissão, o nível de instrução, o estatuto do 
emprego e certos estatutos precários (e. g., monoparentalidade; divórcio; 
minorias étnicas; emigrantes) aumentam assim a probabilidade de as 
mulheres serem vítimas de violência sexual no trabalho. As mulheres jovens, 
celibatárias e divorciadas acumulam, em particular, todos estes factores de 
risco (GUTEK, 1985 apud DIAS, 2008, p. 15). 
 
A tendência destes assédios aumentarem se revela também, através do poder 
de hierarquização, quando a mulher trabalha em um ambiente onde a predominância 
15 
 
 
 
 
é do poder masculino. As organizações de trabalho, de maneira geral, promovem uma 
cultura discriminatória de gênero (DIAS, 2008). 
 O perfil das mulheres que sofrem um determinado tipo de assédio, como por 
exemplo o sexual, revela que as mulheres vítimas são as mais jovens e solitárias. A 
exposição ao risco de se tornar uma vítima está conectado com um contexto onde as 
mulheres parecem depender de homens para construírem suas carreiras. 
 O quadro fica intensificado quando se trata de mulheres que são mães solos, 
divorciadas, separadas, viúvas, principalmente quando não possuem um apoio 
familiar fortalecido. É importante colocar que existe maior incidência de vítimas de 
assédios entre as mulheres que trabalham no horário noturno (DIAS, 2008). 
 O receio, o medo, o sentimento de constrangimento, a humilhação e o 
sentimento de culpa são elementos que formam o ideal de que a exposição da 
situação de assédio se tornará vexatória para a vítima. Dado o contexto social e 
cultural, pode existir uma retaliação para a vítima, com vários danos e julgamentos a 
sua vida, o que faz com que a vítima permaneça em silêncio. 
 Por conta desta omissão, fica fortalecida uma situação de desigualdade de 
poder entre o agressor e a vítima, que faz com que a vítima não tome uma postura 
mais ríspida e incisiva com receio de ser demitida e perder o emprego, pois existe 
uma necessidade do trabalho para sua subsistência, sem que haja denúncias formais 
contra os assediadores (FUKUDA, 2012). 
De acordo com o que foi apresentado até esse ponto, colocamos que o 
patriarcado instala uma cultura que carrega ares primitivos, onde o homem em seu 
estado natural, em seu universo sexual, revela a linguagem de ser o agente possuidor, 
dominador, conquistador, enquanto a mulher passa poruma significativa sexual de 
ser passiva, de dar, de esperar e receber, de ser possuída pelo homem. Se a mulher 
não aceita, se nega as investidas, é porque a mulher tem que fazer o papel de “difícil”, 
para colaborar com um suposto jogo de sedução. 
Portanto, analisando por esta ótica, o assédio contra a mulher se vale da cultura 
por investidas sexuais que o homem pratica como se fosse uma ação natural, partindo 
de seu estado e necessidade fisiológica humana. Ao associar com a cultura 
majorante, a sociedade esbarra na dificuldade em separar e diferenciar uma investida 
de paquera ocasional de um assédio sexual (FUKUDA, 2012). 
16 
 
 
 
 
Na psicanálise, traça-se o perfil do assediador e como isso gera reflexos à 
vítima. O assediador vê seus atos como corretos e acaba por compreender que a 
negativa se torna uma afirmativa implícita que muitas vezes serve como um motor de 
arranque para continuar com estas atitudes. 
Se o assediador se vê confrontado pela vítima ou por um terceiro, isso o torna 
mais agressivo e frustrado, fazendo com que cause uma desqualificação da vítima, e 
acaba por desencadear uma série de consequências desfavoráveis à vítima, como as 
ameaças, perseguições, perda do emprego e terrores psicológicos. 
O que se verifica é que as relações das mulheres em ambiente de trabalho se 
encontram submetidas a fatores psíquicos que interferem na produção de um contexto 
sem assédios e abuso. Ou seja, existem questões ligadas com a saúde mental do 
homem que acabam por gerar sujeitos ativos na sociedade que se relacionam com 
base em agressividades, com determinados egocentrismos e ilusões. 
Estas reações físicas e psíquicas podem acarretar sérios danos à vida da vítima 
e como consequência o rendimento laboral pode diminuir drasticamente. Algumas 
reações físicas seriam as dores nas costas, dores de cabeça e enxaquecas, náuseas, 
dificuldades para dormir, as perturbações do sono, diarreia, perda de apetite 
(MAGALHÃES, 2011). 
Como um dos elementos desencadeado através do assédio, apresenta-se a 
debilidade da saúde psicológica da mulher, que faz com que ela também deixe de 
denunciar o assediador. Cabe destacar algumas consequências psicológicas 
causadas na vítima por conta do assédio: a Síndrome de Bournout, estresse, a falta 
de desempenho, a autoculpabilidade, medo, insônia, ansiedade, depressão, dores de 
cabeça, que podem se tornar crônicas de acordo com o tempo prolongado do assédio. 
A vítima assediada pode apresentar persistência na tristeza, várias crises de 
choro, autoestima baixa, ansiedade, irritabilidade, vergonha, culpabilização, raiva, 
insegurança, medo entre outros. Além destas consequências físicas e psíquicas pode-
se frisar também as interferências nas relações interpessoais, na família, na igreja 
(MAGALHÃES, 2011). 
De modo geral, podemos dizer que existe um caráter extremamente 
perturbador no assédio sexual sobre as mulheres, que ganha uma dimensão 
emocional e psicológica, para além da violência física. Acaba por envolver questões 
17 
 
 
 
 
como confiança, autoestima e dignidade, que pode produzir quadros de depressão e 
fragilidade geral da saúde. 
Mulheres que sofrem assédio tendem a se queixar mais de doenças e 
sofrimentos cotidianos, como náuseas, maior cansaço, enxaquecas crônicas, 
distúrbios psicológicos, distúrbios alimentares, inibição sexual. Resta percebido 
também que quanto mais intensidade existe no assédio sofrido, em questões de 
tempo e abordagem, intensificam-se tais sintomas, que podem gerar, inclusive, 
isolamento social e problemas na construção da carreira profissional. 
É importante ressaltar que todos estes fatores em desfavor da vítima, faz com 
que ela perca sua posição no ambiente de trabalho, afetando a sua vida em todo e 
qualquer sentido. Conforme o tempo passa, fica cada vez mais difícil fazer a denúncia 
contra este agressor. O impacto causado na vida da vítima assume uma maneira tão 
grotesca que vem junto da auto-culpabilidade, o abandono do emprego, problemas 
financeiros, vergonha, impotência diante de um sentimento de humilhação por não 
prover o sustento básico da família (ANTUNES, 2017). 
As mulheres ainda lidam com o julgamento da sociedade que tende a colocar 
as mulheres como culpadas pelo favorecimento recebido em algumas ocasiões. Recai 
sobre elas a culpa por “não se dar ao respeito”, forma popular de veiculação a uma 
mulher que rompe com determinados padrões. A culpa ainda chega por estarem no 
local errado no momento errado, por deixarem algumas situações se desenvolverem 
por algum tempo, com enfrentamento de dores psicológicas e sofrimentos diários. 
Em relação à situação apresentada das mulheres trabalhadoras, apontamos o 
que trata a Organização Mundial da Saúde. Define a saúde do trabalhador não só 
como ausência de doença ou de enfermidades e frisa o estado de completo bem-estar 
físico, mental e social. Para a OMS, a violência está referida em força física ou ameaça 
psicológica e considera a saúde uma garantia fundamental. Nesse sentido, traçamos 
uma conexão com o quadro apresentado quanto às violações dos direitos das 
mulheres no ambiente de trabalho. 
Existem outros aspectos que constroem a existência das mulheres dentro do 
mercado do trabalho, de forma que no próximo capítulo será tratado com maior 
profundidade como o direito brasileiro tipifica estes tipos de condutas e se realmente 
há um vazio legal em se tratar de jurisprudências e doutrinas, e em quais esferas elas 
se encontram. 
18 
 
 
 
 
Outro elemento que deve ser levado em conta é a regulamentação das leis no 
sentido de coibir os assédios, e esse ponto será tratado de maneira mais explicativa 
sob a percepção de como o legislativo é falho e omisso nas relações legislativas 
trabalhistas em proteção à pessoa que sofre esses tipos de assédios no ambiente de 
trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
19 
 
 
 
 
2 ANÁLISE JURÍDICA DO ASSÉDIO MORAL E SEXUAL 
 
2.1 Assédio moral 
 
O assédio moral no trabalho passou por inúmeras expressões utilizada para 
determinar esta violência no ambiente de trabalho, sendo o assédio moral a forma 
linguística considerada pela língua portuguesa. Como conceitua Soares (2012), 
assédio moral é uma das inúmeras expressões utilizadas para nominar esse tipo de 
violência no trabalho, sendo consagrada em língua portuguesa. 
Em outros países e por diversas organizações a matéria assumiu várias 
terminologias como por exemplo na Alemanha, Itália, Suíça e nos países nórdicos o 
termo usado é Mobbing, na Espanha Acoso Moral, Ijime, no Japão, na França o termo 
é Harcèlement moral, na Inglaterra Bullying, Estados Unidos da América Harassment 
ou mobbing e por fim Assédio moral no Brasil e em Portugal (SILVA, 2007). 
Assim pode se observar as diferentes nomenclaturas do assédio moral em 
diferentes países, mas todos no sentido de tratar a violência moral entre os seres 
humanos, muitos na relação de poder e autoridade por parte dos empregadores e até 
mesmo por parte dos colegas de trabalho e clientes das empresas. Os estudos e 
pesquisas foram se desenvolvendo de modo que, pudesse denominar os fatores 
causais de cada situação. 
No que diz respeito a estas designações ao assédio moral Hirigoyen (2002), 
destaca que as diferenças terminológicas se dão por parte das experiencias culturais 
e organizacionais. E que além dessas diferentes terminologias, o assédio moral nada 
mais é do que um fenômeno de sociedade. 
O assédio moral, em suas diferentes terminologias, com o passar do tempo foi 
sendo estudado de diversas maneiras pelos autores, de modo que pudessem traçar 
e definir o que é assédio moral, dando destaque para questões que contribuíssem 
efetivamente para concretização de um conceito. 
De acordo com Marie-France Hirigoyen (2002), psiquiatra francesa, ela define 
assédio moral no trabalho como qualquer condutaabusiva, como gestos, palavras, 
atitudes e comportamentos que atentam contra a integridade psíquica ou física e a 
dignidade da pessoa e colocando em risco seu trabalho e fazendo o tornar um hostil. 
20 
 
 
 
 
 Na construção teórica, trazemos a conceituação do que é assédio, segundo 
Sergio Pinto Martins (2015). Trata-se de uma importunação e moléstia que acontece 
de forma insistente e inoportuna. Ao dizer que uma pessoa está sofrendo um assédio, 
queremos dizer que, existe um uma intenção de limitar e afetar o sujeito assediado, o 
que acaba resultando em um abalo moral. 
Entre características determinantes no estabelecimento do que é assédio, 
precisamos dizer que os seguintes comportamentos precisam ser avaliados: 
procedimentos ou atitudes repetitivas que gerem degradação do sujeito passivo, 
direitos e dignidade da trabalhadora feridos, alterações relativas à saúde mental ou 
física, e por fim o nível de comprometimento da carreira profissional. O assédio moral 
pode acontecer tanto pelo empregador quanto por colegas de trabalho. 
 Apresentamos a seguinte definição: 
 
O assédio moral é a conduta ilícita do empregador ou seus prepostos, por 
ação ou omissão, por dolo ou culpa, de forma repetitiva e geralmente 
prolongada, de natureza psicológica, causando ofensa à dignidade, à 
personalidade e à integridade do trabalhador. Causa humilhação e 
constrangimento ao trabalhador. Implica guerra de nervos contra o 
trabalhador, que é perseguido por alguém. O trabalhador fica exposto a 
situações humilhantes e constrangedoras durante a jornada de trabalho e no 
exercício de suas funções (MARTINS, 2015, p. 17). 
 Ao discutir assédio moral, temos que observar que a moralidade compõe um 
conjunto de regras sociais. Não há como analisar os assédios no interior ambiente de 
trabalho sem entender o envolvimento de ideias éticas e morais, visto que as vítimas 
se encontram submetidas ao maltrato e rejeição a partir de condutas abusivas. 
Comportamentos, palavras e gestos podem afetar a integridade humana de um 
indivíduo que é assediado. 
O assédio moral pode ser cometido por parte do empregador e ainda por 
pessoas que frequentam o ambiente de trabalho. Pode acontecer por outros 
empregados, clientes da empresa que, por ação ou omissão, podem causar danos ao 
empregado assediado. Acontece o constrangimento no ambiente de trabalho de 
maneira que atinge a integridade física e psíquica da trabalhadora, em algumas vezes 
de forma prolongada e repetitiva. 
De acordo com Sergio Pinto Martins, acredita-se que para que se caracterize o 
assédio moral, é necessário que seja causado um prejuízo ou um dano ao empregado. 
Porém, em certos casos, a vítima não irá captar este assédio moral sofrido de forma 
21 
 
 
 
 
prejudicial para ela, ainda que os atos ilícitos cometidos pelo assediador se 
caracterizem como assédio moral. Uma outra contradição que se apresenta é de que 
a vítima ainda pode se sentir fortalecida com este ato ilícito, de modo que ela passa a 
se sentir importante para o assediador. 
Em se tratar sobre a repetição do ato, o art. 2º da Lei nº12.250/06 do Estado 
de São Paulo, trata sobre a necessidade de repetição do ato para a configuração do 
assédio moral. Se for cometido somente um ato isolado, não existirá caracterização 
de assédio moral (MARTINS, 2015). 
Contudo, de acordo com Heinz Leymann, para ele o ato deverá ser cometido 
somente uma única vez por semana e durante ao menos seis meses para a 
caracterização do assédio moral. É importante analisar cada ato isolado para que se 
determine a caracterização do assédio moral, com a possibilidade dele ser diário, 
semanal, quinzenal e não vinculado a um período exato. Sendo até mesmo alguns 
casos iguais tratados de formas diferentes para a configuração do assédio moral 
(MARTINS, 2015). 
Essa repetição pode ocorrer e caracterizar o assédio moral, sem a necessidade 
de ser o ato prolongado. A tendência é que ocorra uma constante progressão do 
assédio moral e de existir prolongamento no tempo, de acontecer de modo reiterado. 
Quando se prolonga o assédio moral no tempo, são verificadas várias etapas ou 
estágios em que o assediador escolhe quem vai ser assediado e as várias formas de 
assédio que serão empregadas, em grupo ou de forma individual. 
Um elemento importante que se deve levar em conta para a prática do assédio 
moral é a intenção. Praticada por determinada pessoa com ação certa ou quando não 
se pune o assediador, o empregador pratica por omissão. Em outros casos, a pessoa 
pode pensar que está sendo vítima de assédio moral, quando na realidade não há 
intenção por parte de quem está sendo acusado do ato ilícito. Há um equívoco na 
interpretação da vítima. 
O assédio moral no ambiente de trabalho é determinado pela submissão que o 
empregado tem em relação ao empregador, é aquela em que o empregador utiliza de 
constantes humilhações e constrangimentos sofridos por parte do empregado. Isso 
causa danos ao emprego com repercussão de maneira negativa, ferindo sua 
dignidade e direitos fundamentais garantidos. 
22 
 
 
 
 
No assédio moral, o agente geralmente tem por objetivo que a vítima, por meio 
de tantas e repetitivas pressões psicológicas, venha deixar a empresa. Outra maneira 
que o assédio moral ocorre é quando o empregador assedia uma determinada vítima 
de modo que possa causar medo em outros empregados, para que fiquem atentos 
com determinadas atitudes no ambiente de trabalho. Esse é um meio que o 
empregador encontra para mostrar autoridade sob seus empregados. Em 
contrapartida, não é necessária a vantagem sexual no assédio moral. 
No assédio moral, existe o efeito psicológico, chamado de acaso psicológico 
ou assédio psicológico, que é nocivo ao assediado. Além do efeito psicológico do 
assédio moral, podem existir outros como econômicos, familiares e físicos. É 
importante pontuar que o fato de determinado trabalho ser estressante, não fica 
configurado como assédio psicológico ao empregado; um exemplo é quando o 
empregado precisa bater metas perante a empresa. 
 O assédio moral não só repercute nas relações de trabalho, mas como em sua 
saúde mental e física, na vida pessoal/familiar, social e profissional. Decorre de vários 
estudos no âmbito da psicologia e da medicina, onde foram analisados quais são os 
efeitos que acarretam o assédio moral ao indivíduo. Conforme a Organização Mundial 
de Saúde (OMS), o assédio moral implica em formar “multiatitudes” ao redor de 
alguém para atacá-lo. 
 
O assédio moral é caracterizado pela degradação deliberada das condições 
de trabalho, visto que, quando surte efeito, é capaz de instaurar um pacto de 
tolerância e silêncio coletivos quanto à gradativa desestabilização e 
fragilização da vítima. Esta paulatinamente perde sua autoestima, duvida de 
si mesma e sente-se mentirosa à medida que se vê desacreditada pelos 
outros. Dessa maneira, aniquilam-se suas defesas e abala-se 
progressivamente sua autoconfiança, dificultando ou mesmo impossibilitando 
o desempenho de suas atividades laborais e às vezes familiares e sociais 
(BOBROFF, MARTINS, 2013, p. 252). 
 
A premeditação não é requisito para a caracterização do assédio moral, pois o 
indivíduo pode fazer ou começar a fazer uma ação contra a vítima de forma 
espontânea. O dano psíquico não é tratado como elemento de caracterização do 
assédio moral, pois esse pode ou não ocorrer na vítima. Mesmo que a vítima seja forte 
e demonstre resistência ao assédio, o fato de ser assediada não deva ser 
desconsiderado só porque não causou os danos psíquicos aparentes ao trabalhador. 
23 
 
 
 
 
O que normalmente acontece em um ambiente de trabalho para que se chegue 
em um determinado resultado, são discussões e conflitos, de maneira que isso traga 
melhora de determinadas condições perante os resultados. Quanto ao conflito, 
apontamos a posição de Sergio Pinto Martins: 
 
O conflito pressupõe posiçõesantagônicas, vendo ataque e contra-ataque. O 
assédio moral gera insegurança na vítima e a exclusão no ambiente de 
trabalho. No assédio moral não existe normalmente um conflito, mas a 
tentativa de exclusão do assediado, nem exatamente posições antagônicas, 
nem há contra-ataques, pois a pessoa não consegue sequer se defender. 
Terminado o conflito, pode ser o perdedor, ao não aceitar a situação, tente 
assediar a pessoa que foi responsável pela sua derrota (MARTINS, 2015, p. 
24). 
 
Esse efeito do contra-ataque existe na relação entre empregado em 
empregador, mas não no assédio moral. A vítima do assédio moral não contra-ataca, 
pois a própria natureza do ato faz com que o empregado se silencie, muitas vezes 
para não gerar a perda do emprego. 
 É importante lembrar e frisar que o monitoramento e a tomada de decisões do 
empregador ao empregado não se definem como assédio moral, como monitorar e-
mails, mudar o empregado de determinada função, impor metas. Exige-se uma 
razoabilidade, no sentido de medida do que não fere a integridade e intimidade do 
empregado, para que não se caracterize um assédio moral (MARTINS, 2015). 
O assédio moral pode ser caracterizado como um processo em que o 
assediador utiliza um conjunto de atos destinados a expor o assediado em situações 
humilhantes e incômodas. Assim, o assediador que em alguns casos se vê 
denunciado, utiliza-se das típicas alegações: “Foi só uma brincadeira”, “não é nada 
disso, você entendeu mal”, “a senhora está vendo e/ou ouvindo coisas”, “isso é 
paranóia sua “, “ela é louca”, “não fiz nada demais, ela (ele) é que era muito sensível” 
(MENEZES, 2002, pag. 191). 
 Para o assediador – majoritariamente com o empregador como sujeito ativo do 
assédio - é mais fácil empregar uma comunicação não-verbal como olhares de 
desprezo, silêncio, suspiros, ignorar o empregado, entre outros. Assedia o empregado 
moralmente de forma mais implícita, o que possibilita reações de negação quando for 
questionado. 
24 
 
 
 
 
 Isso não quer dizer que o empregador/assediador não vá assediar o 
empregado no ambiente de trabalho de outras formas, muito pelo contrário, é possível 
que o assédio moral se dê de maneira agressiva, como por meio de: 
 
rigor excessivo, confiar tarefas inúteis ou degradantes, desqualificação, 
críticas em público, isolamento, inatividade forçada, ameaças, exploração de 
fragilidade psíquicas e físicas, limitação ou coibição de qualquer inovação ou 
iniciativa do trabalhador, obrigação de realizar autocríticas em reuniões 
públicas, exposição a ridículo (impor a utilização de fantasia, sem que isso 
guarde qualquer relação com sua função; inclusão no rol de empregados de 
menor produtividade); divulgação de doenças e problemas pessoais de forma 
direta e/ou pública, (MENEZES, 2002, pag.191). 
 
 
 Outras características a serem elencadas são os modos de exteriorização: 
 
gestos, comportamentos obsessivos e vexatórios, humilhações públicas e 
privadas, amedrontamento, ameaças, ironias, sarcasmos, difamações, 
exposição ao ridículo, sorrisos, suspiros, trocadilhos, jogo de palavras de 
cunho sexista, indiferença à presença do outro, silêncio forçado, sugestão 
para pedido de demissão, ausência de serviço e tarefas impossíveis ou de 
dificílima realização, controle do tempo no banheiro, divulgação pública de 
detalhes íntimos, agressões e ameaças, etc. (HIRIGOYEN, 2002 apud 
MENEZES, 2002, pag. 191). 
 
 Ao pensar em algumas hipóteses de assédio moral, podemos levantar a 
situação em que o empregado já adquiriu estabilidade no emprego ou qualquer 
garantia no emprego. Nesses casos o empregador, quando assediador, se utiliza de 
meios rigorosos e excessivos com o empregado, com sujeição ao empregado para 
serviços pesados que não condizem com sua força laboral. Em outras, faz com que o 
empregado se submeta a funções vexatórias ou distintas das funções que inicialmente 
lhe foram destinadas (MENEZES, 2002). 
 Em outros casos, quando o empregado teve a coragem de mover ação contra 
o empregador e o empregado ainda continua na empresa, o empregador o submete 
a situações humilhantes e desfavoráveis às suas funções, muitas vezes o rebaixa de 
cargo e torna sua vida no trabalho insuportável. 
 Estabelece o empregador tarefas que sejam impossíveis de serem realizadas, 
constantes ameaças por parte do empregador, declarando por várias vezes que irá 
dispensar o emprego, de forma individual ou até mesmo coletiva. Outras hipóteses 
são aquelas em que o empregador, ao despedir o empregado, age de maneira a 
humilhá-lo, esvaziando suas gavetas, batendo a porta, trancando-os em sala isolada, 
deixando seus pertences na porta. 
25 
 
 
 
 
 No âmbito jurídico, a CLT resguarda o emprego em determinados casos ao ser 
submetido a esse tipo de situação, como expõe os art. 483, d, da CLT, ao 
descumprimento por parte do empregador nas obrigações do contrato. E ainda, o art. 
483, a e b, da CLT, ao garantir ao empregado a não exercer trabalho com rigor 
excessivo ou exigência de serviços além de suas forças. 
O Código Penal Brasileiro de 1940 é falho em se tratar desta violência sofrida 
por inúmeras pessoas no trabalho. Fica aberta a exceção da criminalização da 
violência no ambiente de trabalho em relação aos estados e municípios que criam 
regras entre os funcionários públicos. 
 Em questões legislativas, coloca-se que não há uma lei em nível federal que 
pense juridicamente e socialmente o assédio moral dentro do ambiente de trabalho, 
no sentido de criminalizar e estabelecer uma pena. Em contrapartida, o que se 
apresenta como exceção são algumas leis municipais e estaduais referentes ao 
funcionário público. Entre os munícipios que se preocuparam com a questão, 
apresentamos: Ubatuba, Cascavel, Guarulhos, Iracemápolis, Sidrolândia, Jaboticabal, 
cidade de São Paulo, Natal, Americana, Campinas, São Gabriel do Oeste, Ribeirão 
Preto, Presidente Venceslau, Porto Alegre, Santo André e Catanduva. Entre os 
Estados, apresentamos Rio de Janeiro, Paraíba, São Paulo e Rio Grande do Sul 
(MARTINS, 2015). 
 Ao apresentar os múltiplos exemplos legislativos, o que se denota é a 
percepção jurídica de que instrumentos de lei que tratem sobre assédio moral e sexual 
no trabalho são necessários diante das perspectivas sociais brasileiras. A falta de uma 
lei em nível federal acarreta uma situação de limbo jurídico para diferentes 
trabalhadoras que não encontram embasamento jurídico em situações de assédio 
dentro do ambiente de trabalho. 
Em março de 2019, foi aprovada pela Câmara dos Deputados o projeto de lei 
que tipifica para o Código Penal Brasileiro a violência do assédio moral no ambiente 
de trabalho, o projeto de Lei 4742/01, onde acontece a criminalização dessa conduta. 
Sobretudo, para que este projeto de Lei possa ser promulgado e sua entrada em vigor, 
ainda falta a provação a apreciação e aprovação do Senado. 
No âmbito jurisdicional sobre o tema do assédio moral, alguns países criaram 
leis especificas para tipificar essa conduta, e outros países tem projetos de lei acerca 
26 
 
 
 
 
deste assunto. No mundo, atualmente só a França e a Argentina criaram leis 
especificas para o assédio moral (BOBROFF E MARTINS, 2013). 
 A falta de legislação especifica do âmbito federal sobre o assédio moral, traz 
consequências para o ambiente de trabalho, como não há uma forma de punir o 
assediador, o agente está fadado a repetir sua conduta por inúmeras vezes. A 
finalidade das leis especificas seria de minimizar e combater estas condutas no 
ambiente de trabalho, tornando o local de labor mais favorável ao trabalhador. 
No Brasil, algumas normas aprovadas como as do serviço público 
administrativo, vem para resguardar o ambiente de trabalho do servidor público, onde 
normalmente o assédio que acontece no setor público está ligado ao fator psicológico, 
na disputa de poderes, cobiça e inveja, e não associada a produtividade. Se houvesseuma lei especifica em âmbito federal, a maneira de combater estes assédios seria 
mais eficaz. 
 Atualmente tende-se a aplicar em questões de sanções disciplinares a 
Constituição Federal, a CLT, o Código Civil e os princípios gerais do direito, em 
conjunto com determinas leis estaduais e municipais (BOBROFF E MARTINS, 2013). 
Desta maneira, este conjunto de normas tende a proteger e assegurar os direitos do 
empregado de forma saudável, estruturada, em bem-estar e de qualidade de vida, são 
um dos elementos da organização estrutural do trabalhador. 
 
Nas relações de trabalho regidas pela CLT, além do empregado, o 
empregador (pessoa física ou jurídica) também pode ser responsabilizado em 
casos de assédio moral por não evitar ou reprimir condutas indesejáveis. 
Nesta circunstância, a responsabilidade do empregador é subjetiva, por dolo 
ou por culpa, mas com culpa presumida, de modo que se inverte o ônus da 
prova, ou seja, o empregador deve provar que não agiu culposamente. 
(BOBROFF E MARTINS, 2013, p. 256). 
 
 
 Por fim, consideramos que o assédio moral é realizado em diversos níveis, 
funções, trabalhos e espaços. Caracteriza-se, principalmente, pela sujeição da 
trabalhadora a situações que geram constrangimento, humilhações e posições 
vexatórias. Existem algumas dificuldades na identificação do assédio moral, pois 
considera-se que há uma linha tênue entre cobranças necessárias e posições 
excessivas. 
 
 
27 
 
 
 
 
2.2 ASSÉDIO SEXUAL 
 
O assédio sexual é toda a situação indesejada pela parte da vítima, com caráter 
de obter vantagens sexuais. Podem se manifestar de diversas formas, verbal, física, 
não verbal, assim violando a dignidade da pessoa humana, com ofensa de sua 
integridade física e moral. O assédio sexual pode tornar o ambiente de trabalho um 
local hostil, inibindo o crescimento profissional e o desempenho laboral do empregado. 
De acordo com a Cartilha elaborada pelo Ministério Público do Trabalho, junto 
a Procuradoria-geral do Trabalho com o apoio da Organização Internacional do 
Trabalho (OIT), temos o conceito de assédio sexual no ambiente de trabalho: 
 
Assédio sexual no ambiente de trabalho é a conduta de natureza sexual, 
manifestada fisicamente, por palavras, gestos ou outros meios, propostas, 
impostas a pessoas contra sua vontade, causando-lhe constrangimento e 
violando a sua liberdade sexual. O assédio sexual viola a dignidade humana 
e os direitos fundamentais da vítima, tais como a liberdade, a intimidade, a 
vida privada, a honra, a igualdade de tratamento, o valor social do trabalho e 
o direito ao meio ambiente de trabalho sadio e seguro. De cunho opressivo e 
discriminatório constitui violação a Direitos Humanos (MPT, Brasília, maio de 
2017). 
 
 Em um sentido conceitual, acreditamos ser importante, no sentido científico, a 
apresentação de definições dadas por outros autores, como COUTINHO (2015), que 
diz o seguinte sobre a caracterização do assédio sexual: 
 
[...] para caracterizar o assédio sexual faz-se necessário um pedido de 
favores sexuais, sob diversos modos, seja de maneira direta ou indireta, 
verbal ou não verbal, sob pena de oferta de vantagens no caso de aceitação, 
ou algum tipo de ameaça, em casos de recusa. Isto é, o assédio só se 
configura nos casos em que há o uso do poder como forma de obter favores 
libidinosos, e há resistência por parte da vítima [...] (COUTINHO, 2015, p. 14). 
 
 Ainda sobre o conceito, apontamos a definição de DUARTE (2001), o qual 
expõe sobre a caracterização do assédio sexual e algumas de suas formas: 
 
Configura-se assédio sexual quando se vislumbram atos de insinuação 
sexual que atingem o bem estar de uma mulher ou um homem, constituindo-
se esses no meio pelo qual o assediador constrange o sujeito, objeto de seu 
desejo, a prestar favores sexuais sob a condição de com isso preservar ou 
adquirir direitos; [...] um comportamento que inclui comentários, olhares, 
submissão a contatos físicos repetidos e não recíprocos e não desejados, 
suscetíveis de ameaçar a segurança do emprego de uma pessoa ou criar um 
ambiente de trabalho angustiante ou intimidante (DUARTE, 2001). 
 
 
28 
 
 
 
 
O assédio sexual não é uma novidade no Brasil, e nem advém do 
desenvolvimento econômico, pois voltando ao passado brasileiro, na época 
escravagista, temos o senhor e sua serva, a escrava que pertencia a ele de corpo e 
alma e não somente do seu trabalho escravo, a diferença é que o castigo era a morte. 
Normalmente as relações como por exemplo o professor e a aluna, o médico e a 
enfermeira, o chefe e a secretária, tem como o primeiro elemento o sexo masculino, 
sendo o homem a figura imponente. (FREITAS, 2001). 
A história brasileira demonstra a face desta sociedade machista em que 
vivemos, onde a mulher ainda pode ser considerada objeto de uso para satisfazer 
desejos sexuais. O brasileiro reconhece que nas gerações passadas, o homem 
iniciava sua vida sexual com as domésticas a seu serviço ou nos prostíbulos. 
Era comum que o pai e patrão desse a opção ao seu filho para violentar a 
empregada doméstica com ameaças de dispensá-la do emprego, onde ela tirava todo 
o seu sustento, que por consequência não teria outra opção. A famosa expressão 
popular “ter um pé na cozinha” origina desta pratica da época (FREITAS, 2001). 
Os assédios vão transcorrendo até o ambiente de trabalho na atualidade e na 
realidade da mulher trabalhadora. Nota-se que no assédio sexual, a figura da mulher 
como vítima é predominante, o que não é o caso do assédio moral que atinge ambos 
os sexos, por ter o assediador, objetivos diferentes. 
Adentrando neste aspecto, necessária se faz a elucidação da diferença entre o 
assédio sexual e o assédio moral. Em síntese, o primeiro é aquele cujo objetivo é obter 
vantagens de cunho sexual da vítima, por meio de sedução ou chantagem, já o 
assédio moral tem por objetivo destruir, desestabilizar e humilhar a vítima. 
Outra diferença é que o assédio sexual já está tipificado no Código Penal 
Brasileiro: 
Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou 
favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior 
hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou 
função (BRASIL, 1940). 
 
 De acordo com o autor Sergio Pinto Martins: 
 
O objetivo do assédio moral seria ofender, humilhar, denegrir, degradar, isolar 
a vítima, violar a dignidade ou a integridade moral do trabalhador enquanto 
pessoa humana, ferindo um direito fundamental, um bem jurídico fundamental 
(MARTINS, 2015, p. 23). 
 
29 
 
 
 
 
 Além do conceito de assédio sexual, é importante ressaltar que o não 
consentimento e a falta de reciprocidade da vítima é requisito essencial para a 
caracterização do assédio sexual. 
 
Mais do que uma discriminação, o assédio sexual é uma forma de violência 
que se traduz em diversos tipos de comportamentos, desde um comentário 
de cariz sexual, podendo escalar até uma agressão física grave, ou até 
mesmo uma violação. O requisito base do assédio sexual é a falta de 
reciprocidade e de consentimento a que acresce o teor sexual da conduta, 
que humilha, ofende e intimida (MORAIS, et al, 2014, p.46). 
 
Podemos dizer que a diferença entre as modalidades de assédio apresentada 
se dá, em partes, pelos interesses que são defendidos. O assédio sexual atinge a 
liberdade sexual do sujeito, enquanto o assédio tem como objetivo atentar contra a 
pessoa por meio da fragilização da saúde mental e psíquica (COUTINHO, 2015). 
Esclarecida tal distinção entre os tipos de assédio predominantes no mercado de 
trabalho, fica evidente que o assédio sexual constitui uma forma de violência de 
gênero. 
Há não muito tempo a mulher trabalhadora era submetida também ao famoso 
“teste do sofá”, se ela quisesse merecer uma promoção no trabalho ou uma seleção 
ela deveria ter passado por este teste, era considerada a moral da época, a mulher 
não era reconhecidapelo seu esforço laboral e sim como e o que ela fez para ser 
merecedora de tal gratificação ou bonificação (FREITAS, 2001). 
 Mas a mulher que era submetida a esta situação por troca de favores sexuais 
e recusa-se, poderia perder a promoção, este assedio conhecido como quid pro quo, 
que significa troca de favores e neste caso sexuais, se opera por meio de chantagem 
do empregador em relação a empregada (DIAS, 2008). 
 Não se pode ignorar o histórico da mulher ao adentrar no ambiente de trabalho. 
De fato, as leis como um processo histórico e ideológico foram criadas de maneira 
benéfica em maior defesa dos homens do que leis específicas para as mulheres e em 
conjunto com a omissão, a influência cultural e ideológica da sociedade brasileira. 
 De acordo com a autora Eleonora Menicucci de Oliveira, a linguagem a que se 
refere a mulher, se encontra marcada junto a violência sexual: 
 
A incorporação da linguagem de gênero evidenciou a dimensão da violência 
sexual contra as mulheres como agressão à pessoa e a não mais aos valores 
e costumes. Isso descontrói umas das mais antigas assertivas patriarcais 
sobre os direitos humanos, inscrevendo os direitos da mulher ao trabalho, à 
30 
 
 
 
 
saúde integral, aos direitos reprodutivos e sexuais no âmbito dos direitos 
humanos (MENICUCCI, 1999, p. 107). 
 
 
 Essa linguagem traz a relação cultural e ideológica ao qual a mulher foi 
submetida e que adentra ao mercado de trabalho como violência sexual. Salienta-se 
que tal tipo de violência tem mais repetição no ambiente de trabalho: 
 
É no ambiente de trabalho que o assédio sexual se manifesta com mais 
freqüência, incidindo quase que unicamente sobre as mulheres, isto é, são 
elas que ocupam neste cenário o papel de vítimas, de assediadas. Daí o 
porquê do assédio, pelo menos na cultura brasileira, configurar-se uma 
questão de gênero (DUARTE, 2001) 
 
 Baseada na relação de poder, a chantagem é um tipo de assédio sexual, 
caracterizada quando a troca de favores sexuais acontecem em relação a um 
benefício na empresa, uma promoção, uma recompensa, aumento de salário, entre 
outros. Já no caso dos assédios sexuais por intimidações, o assediador utiliza de 
palavras humilhantes de baixo calão, que baixam a autoestima da vítima, no qual, 
habitualmente as vítimas são as mulheres (ANDRADE, BAPTISTA, 2017). 
 Fica evidente a hierarquização e organização no ambiente de trabalho em 
desfavor da mulher. É sabido que o ambiente mais comum para a realização de tais 
condutas é o ambiente de trabalho, pela relação hierárquica e prevalência da cultura 
masculina, onde são praticadas dois tipos de condutas: a chantagem e a intimidação. 
As mulheres que ocupam profissões mais feminizadas, como no campo da 
enfermagem, correm maior risco de assédios sexuais tanto por parte dos colegas de 
trabalho, quanto dos pacientes na prestação e cuidados do serviço. O risco das 
empregadas domésticas se iguala aos riscos das enfermeiras (DIAS,2008). 
Ainda há omissão legislativa tanto em ambientes profissionais quanto em 
outros ambientes. Várias condutas cometidas contra a mulher, ainda não se 
encontram tipificadas no ordenamento jurídico brasileiro, como o assédio cometido 
nas ruas, em locais públicos, sendo este tipo de crime comum, com uma postura de 
passividade em relação a criminalização dessas condutas. 
 De acordo com DIAS (2008), alguns comportamentos até o momento não são 
reconhecidos como assédio sexual, que são violências contra a mulher como 
conversas de cunho sexual, contato físico indesejado, a pressão para marcar 
encontros, o assediador ainda apresenta exibicionismo, troca de mensagens, imagens 
31 
 
 
 
 
de conteúdo pornográfico, voyerismo. A autora acrescenta que para a sociedade é 
muito difícil o reconhecimento destas condutas como crime de assédio sexual. 
 É a falta de uma conceituação maior de algumas conotações sexuais partidas 
de algumas expressões que envolve a tipificação do assédio sexual no ordenamento 
jurídico brasileiro. Em questões jurídicas, a vítima que quiser acionar o judiciário, deve 
reunir o máximo de provas possíveis para denunciar o assediador. Muitas vezes, a 
vítima se encontra em difíceis situações de prova dos fatos ocorridos, pois, na maioria 
dos casos, os assédios acontecem de forma velada e sem testemunhas. 
 O Ministério Público do Trabalho expõe em Cartilha elaborada junto à 
Procuradoria-geral do Trabalho com o apoio da OIT, a dificuldade que a vítima tem de 
provar os assédios sofridos no ambiente de trabalho conta que: 
 
[...] na maioria dos casos é praticado às escondidas - a doutrina e a 
jurisprudência têm valorizado a prova indireta, ou seja, prova por indícios e 
circunstâncias de fato. Por isso, as regras de presunção devem ser admitidas 
e os indícios possuem sua importância potencializada, sob pena de se 
permitir que o assediador se beneficie de sua conduta oculta (MPT, Brasília, 
2017, p.16). 
 
 A dificuldade para coleta de provas se dá por conta que a conduta do 
assediador, que tende a ocorrer de portas fechadas. Desse modo, não fica possível a 
comprovação de testemunhas do crime ocorrido. Isso dificulta a comprovação do 
crime de assédio no ambiente de trabalho por parte da vítima, e com isso aumenta-se 
a impunidade dos assediadores no ambiente de trabalho (COUTINHO, 2015). 
Na mesma Cartilha pelo Ministério Público do Trabalho (2017), colocam-se 
algumas maneiras de comprovar os assédios sexuais acorridos no local de trabalho, 
como, e-mails, vídeos, documentos, presentes, registros de canais internos da 
empresa ou até mesmo órgãos públicos, ligações via telefone, redes socias, Skype, 
WhatsApp, Facebook, entre outros. É um fator muito importante que a testemunha em 
favor da vítima, obtenha todo conhecimento em relação aos fatos ocorridos. 
Por fim, considera-se que há necessidade de estratégias de prevenção, 
intervenção e divulgação do assunto, bem como fortalecimento das formas de punição 
dos assediadores, para que as vítimas conheçam seus direitos e não hesitem em 
denunciar sabendo que estarão protegidas pelo Judiciário e pela sociedade. 
 
 
32 
 
 
 
 
2.3 SAÚDE NO TRABALHO 
 
 É importante ressaltar a saúde das mulheres no ambiente de trabalho. Como 
já foi exposto neste trabalho, o primeiro capítulo aborda alguns dos fatores 
psicológicos da mulher trabalhadora. 
 Desenvolvendo um pouco mais sobre o assunto, apresenta-se a definição de 
saúde pela Organização Mundial de Saúde - OMS como: “um estado de completo 
bem-estar físico, mental e social, e não somente a ausência de doença ou 
enfermidade” (MARTINS, p. 52, 2015). 
 Para o Ministério Público do Trabalho em conjunto com OIT refere-se um 
conceito moderno de saúde: 
 
saúde está incluído o ambiente de trabalho sadio e no conceito de ambiente 
de trabalho sadio estão atreladas a saúde física e a saúde mental. A higidez 
de um ambiente de trabalho depende da ausência ou minimização dos riscos 
físicos, químicos, biológicos e psicossociais. A saúde e segurança de um 
ambiente de trabalho precisam ser construídas sob o ponto de vista físico e 
ergonômico, assim como sob o ponto de vista ético, moral e mental. Nesse 
aspecto, ambiente sadio é também aquele acessível e inclusivo (MPT, 2017, 
p. 23). 
 
 Como o presente trabalho apresenta foco nas mulheres, que são as maiores 
vítimas de violências no ambiente de trabalho, no que diz respeito à mulher como 
trabalhadora, não se pode negligenciar a compreensão do grau de desigualdade e 
discriminações no qual estas estão inseridas. Como visto anteriormente uma das 
formas de violência que elas enfrentam é o assédio, tanto moral quanto o sexual. 
Com ênfase à saúde e ao ambiente, deve-se compreender que a falta de um 
ambiente de trabalho sadio e seguro poderá afetar a integridade e a dignidade do 
trabalhador. Para a mulher trabalhadora, um ambiente de trabalho sadio e seguro 
pode ser dado como um ambiente livre de assédios,onde não existam modos ou 
sujeitos que atentem contra sua saúde mental e física. 
 Tanto a mulher quanto o homem trabalhador, podem sofrer assédio moral no 
ambiente de trabalho. O assédio moral poderá vir associado à uma série de doenças 
e sintomas cotidianos que causam danos à saúde destes trabalhadores, como 
sintomas psicossomáticos, distúrbio psicológicos, náuseas, enxaquecas crônicas, 
maior cansaço, perturbações da atenção, estresse, depressão, ansiedade, abuso de 
álcool, perturbações do comportamento alimentar, doenças cardiovasculares, 
33 
 
 
 
 
desencadeamento da Síndrome de Bournout, falta de desempenho, a auto 
culpabilidade, medo, insônia, acidentes e até mesmo suicídio. 
Como exposto, umas das consequências do assédio moral é o estresse. Trata-
se do entendimento que o trabalho pode causar estresse em decorrência de muitas 
atividades. Um exemplo é quando o emprego tem uma carga excessiva de trabalho 
excessivo, dentre outros aspectos do exercício do trabalho que a depender da pessoa 
pode desencadear o estresse. 
 Já a Síndrome de Burnout, é quando o empregado não pode lidar com alto 
estresse laboral individual e excessivo. Ocorre uma transação de desadaptação do 
labor, onde o empregado cria uma posição acomodada perante as situações de 
trabalho e não traz resoluções de outra forma para administrar determinadas 
situações. Trata-se do esgotamento mental, físico e emocional, gerado pelo 
envolvimento crônico no trabalho em situações intensas no sentido emocional 
(MARTINS, 2015). 
 A Síndrome de Burnout, é um termo psicológico muito conhecido na atualidade. 
Está relacionado às atividades no ambiente de trabalho, que se refere quando o 
empregado deixar de sentir vontade de trabalhar, não encontra ânimo para exercer 
suas funções. 
A diferença entre o estresse e a Síndrome de Burnout, é que o estresse 
acontece por um determinado tempo e pode passar. Já a síndrome possui efeitos que 
podem ser mais permanentes, terem maior durabilidade na vida do trabalhador, além 
de causar a exaustão emocional que implica na insatisfação de trabalhar. 
 
A Organização Internacional do Trabalho (OIT), em conjunto com a OMS, 
demonstrou em uma pesquisa no ano 2000 que as perspectivas para os 
próximos 20 anos, para os trabalhadores, são muito pessimistas no tocante 
aos aspectos psicológicos; afirmando que o estresse, as angústias, os 
desajustes familiares, o sofrimento no trabalho oriundo de diversas causas e 
outros danos psíquicos, advindos inclusive do assédio moral, tendem a 
predominar no ambiente laboral nas próximas décadas (BOBROFF, 
MARTINS, p. 253, 2013). 
 
Embora o assédio moral em si, não se tratar de uma doença, ele pode acarretar 
todos estes danos e sofrimentos à vítima, desencadeando assim, tais enfermidades 
aos trabalhadores vítimas das condutas. 
34 
 
 
 
 
 Já o assédio sexual atinge psicologicamente as mulheres trabalhadoras e 
podem causar algumas das mesmas doenças e sofrimentos elencados acima. A 
trabalhadora pode sentir a perda de sua confiança e dignidade, ocasionando também 
sentimentos como de abandono e desanimo, trazendo para si comportamento 
autodestrutivos (DIAS, 2008). 
 O assédio sexual com toda sua problemática pode ser classificado com relação 
ao tempo e ao grau de intensidade: 
 
[...] a) em curto prazo – estresse, ansiedade, sentimento de impotência e 
humilhação, dentre outros. Destes prejuízos decorrem algumas perturbações 
físicas como cansaço, nervosismo, distúrbios do sono, enxaqueca, distúrbios 
digestivos e até mesmo dores na coluna; 
b) em longo prazo – depressão, redução da libido, tentativa de suicídio, 
distúrbios psicossomáticos como rápido aumento de peso ou emagrecimento 
exagerado, gastrites, úlceras, hipertensão arterial, doenças de pele, vertigens 
etc (MADUREIRA, p. 55, 2006). 
 
Dessa forma, é perceptível que a mulher vítima de assédio sexual pode sofrer 
sérios danos à sua saúde física e psíquica, tendo como consequência seu baixo 
rendimento na vida laboral. Isso pode fazer com que se sinta inútil, desqualificada e 
que tenha dúvidas de si mesma. Traz para si a auto-culpabilidade. É neste contexto 
que existem normas para que se garanta a qualidade de um ambiente de trabalho 
sadio e seguro, onde o trabalhador tenha o direito fundamental de nele permanecer e 
dele sair tão íntegro, capaz e são quando nele entrou. 
Como elucida MARTINS (2015): 
 
O artigo 25 da Constituição da OMS considera a saúde é um direito 
fundamental. A saúde mental também deve ser observada no ambiente de 
trabalho. A empresa deve implementar medidas preventivas para tornar 
saudável o ambiente de trabalho, inclusive no aspecto mental, visando 
também o tratamento e a reabilitação das pessoas (MARTINS, p 52, 2015). 
 
 
Iniciando a conscientização sobre a importância da saúde ocupacional, no ano 
de 1957 a OMS e a OIT, traçam os objetivos em relação a saúde ocupacional: 
 
A Saúde Ocupacional tem como finalidade incentivar e manter o mais elevado 
nível de bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores em todas as 
profissões; prevenir todo o prejuízo causado à saúde destes pelas condições 
de seu trabalho; protegê-los em seu serviço contra os riscos resultantes da 
presença de agentes nocivos à sua saúde; colocar e manter o trabalhador em 
um emprego que convenha às suas aptidões fisiológicas e psicológicas e, em 
resumo, adaptar o trabalho ao homem e cada homem ao seu trabalho 
(NOGUEIRA, 1984, p. 485). 
35 
 
 
 
 
 
E de acordo com a Convenção 155 da OIT estabelece em seu artigo 3º, e, 
saúde em relação ao trabalho: 
 
[...] e) o termo "saúde", com relação ao trabalho, abrange não só a ausência 
de afecção ou de doenças, mas também os elementos físicos e mentais que 
afetam a saúde e estão diretamente relacionados com a segurança e a 
higiene no trabalho (OIT, 1992). 
 
Sobre a Declaração Universal dos Direitos do Homem, expõe Martins, (2015) 
que no ano de 1948, a lei prevê que: 
 
"ninguém será objeto de ingerências arbitrárias em sua vida privada, em sua 
família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de atentados a 
sua honra e a sua reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra 
tais intromissões ou atentados " (art. XII). "Todo homem tem direito a um 
padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar 
[...]" (art. XXV) (MARTINS, p. 53, 2015). 
 
 
E ainda, em 12 de dezembro de 1991 o Brasil ratificou o Pacto Internacional 
dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais por meio de Decreto Legislativo nº 226, 
no qual foi promulgado pelo Decreto nº 591, em 1992, que dispõe sobre a saúde física 
e mental em seu artigo 12, “Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o 
direito de toda pessoa de desfrutar o mais elevado nível possível de saúde física e 
mental”. 
Já em 1969, a Convenção Interamericana de Direitos Humanos, trata da 
Proteção da Honra e da Dignidade em seu artigo 11, números 1, 2 e 3: 
 
1. Toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhecimento de 
sua dignidade. 2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou 
abusivas em sua vida privada, na de sua família, em seu domicílio ou em sua 
correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra ou reputação. 3. Toda 
pessoa tem direito à proteção da lei contra tais ingerências ou tais ofensas 
(ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 1969). 
 
De acordo com a Constituição Federal Brasileira de 1988, em seu artigo 5º, X: 
“são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, 
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua 
violação” (BRASIL, 1988). 
Os assédios, tanto o moral como o sexual podem ferir diretamente os direitos 
fundamentais dos trabalhadores. Estes direitos fundamentais que são protegidos pela 
36 
 
 
 
 
Constituição Federal Brasileira, como por exemplo os direitos à integridade física e 
psicológica dos trabalhadores e da saúdeno ambiente de trabalho. 
No Capítulo II Dos Direitos Sociais, art. 7º da Constituição Federal Brasileira 
dispõe em seu o inciso XXVII: “redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de 
normas de saúde, higiene e segurança” em relação ao trabalho (BRASIL, 1988). Ainda 
pela Constituição Federal Brasileira trata o art. 225 no Capítulo VI, do Meio Ambiente: 
 
Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso 
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder 
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as 
presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988). 
 
Este é um conceito moderno em relação ao ambiente em conjunto com o 
ambiente de trabalho, que na ausência de um ambiente de trabalho sadio e seguro 
dessa forma poderá acarretar a integridade física e psíquica e a dignidade do 
trabalhador. 
Por parte do Sistema Único de Saúde, em relação a proteção do meio 
ambiente, em suas competências traça uma correlação com o trabalho. Como 
atribuição do SUS, coloca-se no art. 200 da Constituição Federal, inciso VIII “colaborar 
na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho” (BRASIL, 1998). 
Compreende-se que o presente artigo diz respeito a saúde do trabalhador, sendo ela 
física, mental ou psicológica. 
Ainda sobre as normas que possam garantir a saúde física e psíquica do 
trabalhador no ambiente de trabalho, apresenta-se o art. 2º da Lei nº 8.080/90 que 
“dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a 
organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras 
providências” (BRASIL, 1990), com o art. 2º que coloca que “A saúde é um direito 
fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis 
ao seu pleno exercício” (BRASIL, 1990). 
No campo de atuação do Sistema Único de Saúde inclui-se a execução de 
ações de saúde do trabalhador, como expõe o artigo 6º, I, c, da Lei nº 8.080/90. Ainda 
na Lei nº 8.080/90 sobre o que se entende sobre saúde do trabalhador, apresenta o 
artigo 6º, § 3º, I: 
 
§ 3º Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, um conjunto de 
atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e 
37 
 
 
 
 
vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, 
assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores 
submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho, 
abrangendo: 
I - assistência ao trabalhador vítima de acidentes de trabalho ou portador de 
doença profissional e do trabalho (BRASIL, 1990). 
 
Diante de todo o exposto, verifica-se que o empregado tem direito à saúde no 
ambiente de trabalho e não pode ficar suscetível a ser assediado moralmente e 
sexualmente pelo empregador ou seus prepostos. Os assédios estão diretamente 
conectados com o quadro de saúde da trabalhadora, com impactos na vida pessoal e 
profissional. 
 
2.4 NATUREZA JURÍDICA DO ASSÉDIO MORAL E SEXUAL 
 
 Quando se fala da proteção ao trabalhador, com relação às leis trabalhistas, 
seu advento foi com ascensão de Getúlio Vargas ao poder, como Presidente da 
República. Em 1943, foram criados decretos, carga horária, a instituição de 
regulamentação sobre o trabalho feminino, e a criação da Justiça do Trabalho até que 
então se atingiu a instauração à Consolidação das Leis do Trabalho - CLT (LOPES, 
2019). 
 Getúlio Vargas deu início às primeiras leis de proteção ao trabalhador, acerca 
de uma história transcorrida por muito sofrimento que anteriormente adveio com a 
revolução industrial, onde estes trabalhadores não tinham normas regulamentadas 
paro exercer suas funções e com isso as reivindicações que transpassaram até o 
poder de Getúlio Vargas. 
 Após essa primeira atenção para o trabalhador no sentido jurídico, buscamos 
a inserção do tema do assédio sexual e moral no ambiente de trabalho. Por 
conseguinte, foi promulgada a Constituição em 1988, que expõe em seu Artigo 1º, 
incisos III e IV: 
 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos 
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado 
Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
[...] 
III - a dignidade da pessoa humana; 
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa (BRASIL, 1988). 
 
 E ainda, no artigo 5º, incisos V e X da Constituição Federal: 
38 
 
 
 
 
 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
[...]; 
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da 
indenização 
[...]; 
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das 
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral 
decorrente de sua violação (BRASIL, 1988). 
 
 Assim, resguarda o trabalhador nos princípios como o da dignidade da pessoa 
humana, a dignidade dos valores sociais, a intimidade e a vida privada. Ao pensar no 
assédio moral no ambiente de trabalho, compreende-se que esse tipo de conduta 
pode gerar provocações ao judiciário. Em um caso de assédio moral o assediado 
exerce seu direito ao dano moral como trata o inciso V e X do artigo 5º da CF/88 na 
garantia e proteção contra os atos que possam causar danos morais ao trabalhador e 
do mesmo modo, a ser reparador pelos prejuízos em que o trabalhador foi sujeitado 
pelo dano. Não há como se falar em assédio moral sem o dano moral sofrido pela 
vítima. 
É importante ressaltar que não existe tipificação para o assédio moral no 
Código Penal Brasileiro, ou lei específica e, âmbito federal, mas no início deste ano a 
Câmara votou a favor do o Projeto de Lei 4742/01, que aguarda apreciação pelo 
Senado Federal, que tem como objetivo criminalizar o assédio moral cometido no 
ambiente de trabalho. Ao apresentar atos que se enquadrem no contrato de trabalho 
em relação a discriminação e ainda atingir a desigualdade entre os trabalhadores no 
ambiente de trabalho, a competência será da Justiça do Trabalho, como expõe o art. 
114, I, CF/88: 
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I - as ações 
oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público 
externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, 
do Distrito Federal e dos Municípios (BRASIL, 1988). 
 
 Em determinados casos, o assédio moral apresenta caráter discriminatório e 
pode desencadear um assédio sexual. O assédio moral gera uma série de atos ilícitos 
contra o empregado, como o ato discriminatório. Entre exemplos, apontamos a 
discriminação do empregado em razão de sua idade. 
39 
 
 
 
 
 Já houveram várias propostas legislativas no âmbito jurídico brasileiro para 
combater e tipificar o assédio moral sofrido no ambiente de trabalho, as quais 
apontamos: Projeto de Lei da Deputada Federal Rita Camata; Projeto de Lei de 
reforma do Código Penal, de coordenação do Deputado Federal Inácio Arruda e o 
Projeto de reforma do Código Penal, de iniciativa do Deputado Federal Marcus de 
Jesus (MENEZES, 2002). 
 No âmbito estadual e municipal foram criados alguns estatutos para garantir 
que esse ato não seja cometido no ambiente de trabalho, como a Lei municipal nº 
13.288, de 10/01/2001, do Estado de São Paulo, sancionada na data de 10/01/2002. 
Tem como objetivo estabelecer o conceito de assédio no âmbito da Administração 
Pública (MENEZES, 2002): 
 
Art. 1º, parágrafo único: Para fins do disposto neste artigo considera-se 
assédio moral todo tipo de ação, gesto ou palavra que atinja, pela repetição, 
a auto-estima e a segurança de um indivíduo, fazendo-o duvidar de si e de 
sua competência, implicando em dano ao ambiente de trabalho, à evolução 
da carreira profissional ou à estabilidade do vínculo empregatício

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