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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS - UEMG CURSO DE DIREITO DE PASSOS ASSÉDIO MORAL E SEXUAL SOFRIDO PELAS MULHERES NO AMBIENTE DE TRABALHO Clara Pereira Martínez Passos 2019 Clara Pereira Martínez ASSÉDIO MORAL E SEXUAL SOFRIDO PELAS MULHERES NO AMBIENTE DE TRABALHO Monografia apresentada no curso de graduação em Direito, da Universidade do Estado de Minas Gerais – Unidade Passos, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Me. Zaíra Garcia de Oliveira Passos 2019 Clara Pereira Martínez ASSÉDIO MORAL E SEXUAL SOFRIDO PELAS MULHERES NO AMBIENTE DE TRABALHO Monografia apresentada no curso de graduação em Direito, da Universidade do Estado de Minas Gerais – Unidade Passos, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito. __________________________________ Presidente __________________________________ Examinador __________________________________ Examinador Passos, ____ de ________________ de 2019 Dedico este trabalho à todas as mulheres que de alguma maneira sofreram qualquer tipo de violência durante suas vidas. E que elas possam continuar lutando por uma vida sem violência. AGRADECIMENTOS Quero agradecer primeiramente a todos os meus verdadeiros amigos que estiveram comigo durante esta passagem acadêmica, agradecer por toda força que me proporcionaram durante esta caminhada. Em especial quero agradecer ao meu fiel e companheiro marido Héctor Darío, por acreditar na mulher que eu sou e me proporcionar todo apoio necessário para conclusão do curso de Direito. Quero agradecer minha mãe Lilian Shorreyla por ter me dado a vida e ser meu modelo de mulher, guerreira, batalhadora, empoderada e me mostrar o quanto nós mulheres podemos ser fortes diante a todas as adversidades da vida. À minha avó Irene e meu avô Gaspar por acreditarem em mim e me apoiarem durante este período acadêmico. Agradeço todos os professores que com toda sabedoria proporcionaram minha aprendizagem durante a graduação e me tornaram uma pessoa melhor como pensadora crítica dos nossos direitos enquanto parte de uma sociedade. E por fim, agradecer a todos que de todas as formas colaboraram para que mais essa etapa em minha vida fosse vencida. “Que nada nos defina, que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa própria substância, já que viver é ser livre.” Simone de Beauvoir RESUMO A organização de normas reguladoras em defesa das mulheres no ambiente se faz necessária. Onde alguns dos enfrentamentos sofridos por elas no trabalho são os assédios, tanto morais como sexuais, e quando praticados podem causar danos à saúde psíquica, física e na sociabilidade destas mulheres. Constata-se por pesquisas e estudos que as mulheres são as que mais sofrem assédios no ambiente de trabalho, advindo de uma posição histórico-social onde o machismo e o patriarcalismo ainda prevalecem nos tempos atuais. Desta forma, os assédios se classificam como um dos tipos de violência, este trabalho se faz necessário para que possa se compreender um pouco sobre este tipo de violência, e porque quando cometidos, não são denunciados pelas mulheres no ambiente de trabalho ou acionando o judiciário. Justifica-se que tal estudo pode colaborar para a construção de normas jurídicas que comportem toda realidade vivida pela mulher no ambiente de trabalho, visto que existem dificuldades na estabilidade das percepções do judiciário quanto a defesa dos direitos femininos. Apresentamos como objetivo investigar o assédio moral e sexual sofrido por mulheres em ambiente de trabalho, no sentido de entender a forma como as mulheres compreendem o assédio moral e sexual no ambiente de trabalho, investigar o assédio moral e sexual sofrido no ambiente de trabalho pela mulher em Passos/MG e averiguar os entendimentos jurídicos quanto ao tema. Para construção da pesquisa, estabeleceu-se a seguinte metodologia: o desenvolvimento de uma pesquisa bibliográfica e teórica, seguida por uma investigação de campo dada por uma pesquisa qualitativa. Conclui-se que há uma preocupação em inibir estes tipos de violência contra a mulher, e verifica-se que seja necessário conscientizar, prevenir, criar leis, punir e até mesmo condenar em relação à estas condutas. Palavras-chave: Assédio Moral. Assédio Sexual. Violência no trabalho. Violência contra mulher. SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 08 1 BREVE ANÁLISE SOBRE FATORES SOCIAIS E PSICOLÓGICOS DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO ......................................................................... 10 2 ANÁLISE JURÍDICA DO ASSÉDIO MORAL E SEXUAL ................................... 19 2.1 Assédio moral ..................................................................................................... 19 2.2 Assédio sexual .................................................................................................... 27 2.3 Saúde no trabalho ............................................................................................... 32 2.4 Natureza jurídica do assédio moral e sexual ....................................................... 37 3 A REALIDADE DAS MULHERES A PARTIR DO ASSÉDIO EM AMBIENTE DE TRABALHO ........................................................................................................ 46 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 69 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................ 71 8 INTRODUÇÃO O assédio moral e sexual no ambiente de trabalho é um tema em discussão na sociedade brasileira. Por diversas vezes, é um assunto cercado de tabu, onde as mulheres têm pouca compreensão ou debate sobre o tema. As leis definem-se como um reflexo das construções sociais, entretanto em determinados momentos, os instrumentos legislativos não demonstram suficiência para suprir as demandas da sociedade. Sob essa percepção, identificamos a existência de limbos legislativos quando se fala do assédio sexual e do assédio moral em ambiente de trabalho, principalmente na relação com a violência de gênero. Identificamos que não é distribuída a devida a atenção para a construção das mulheres trabalhadoras. Logo, essa pesquisa tem como objetivo realizar um estudo direcionado às mulheres, que por uma questão histórico-social, são as maiores vítimas destas violências no ambiente de trabalho. Com o progresso da evolução do mercado a revolução industrial e o capitalismo, a mulher conseguiu a inserção no mercado de trabalho articulado com a conquista dos seus direitos fundamentais. As mulheres têm ocupado espaços que, historicamente, possuíram um predomínio masculino. Esse quadro tem gerado a leitura que a tomada das mulheres do mercado de trabalho é uma afronta à imagem masculina, que sempre foi vista como principal ferramenta no mercado de trabalho. Consequentemente, isso causou uma competitividade e intensificou muitas contradições, como o sofrimento de assédios morais e sexuais no ambiente de trabalho pelas mulheres. Por conseguinte, relata-se os aspectos sociais e psicológicos da mulher no mercado de trabalho, de maneira que se transpareça certos danos que esta violência contra as mulheres possa causar a elas como por exemplo em sua saúdefísica, psíquica, moral e com consequência em sua sociabilidade. Em um sentido metodológico, o presente trabalho aborda o conceito de assédio moral e sexual no ambiente de trabalho e ainda dos danos que possam causar nestas mulheres trabalhadoras. Faz-se uma relação de gênero explicitada em desfavor das mulheres com os danos em termos pessoais e sociais. Segue-se para a análise jurídica destes assédios cometidos no ambiente de trabalho, dentre estas normas, Convenções, Princípios, Leis e Projetos de Leis e a 9 omissão do legislativo em relação do assédio moral e sexual para a pessoa trabalhadora. Possuímos a pretensão de explorar questões de criar mecanismos de conscientizar, prevenir, inibir e punir a conduta do assediador. Adiante, uma breve análise de saúde no trabalho e a importância dessa garantia fundamental para qualquer trabalhador, conceituando o que é saúde e saúde no ambiente de trabalho, fazendo com que se reflita o moderno conceito de um ambiente de trabalho sadio e seguro para se laborar. E por fim, faz-se uma investigação, a partir de uma metodologia de pesquisa qualitativa, a partir de entrevistas com mulheres ativas no mercado de trabalho a fim de demonstrar a realidade da mulher trabalhadora e estes enfrentamentos que são os assédios sofridos no ambiente de trabalho. Outras entrevistas realizadas foram com uma psicóloga e uma advogada, com o intuito de reafirmar o presente trabalho em associação com a saúde psíquica da mulher trabalhadora e jurídica em questão da não denuncia dos assédios sofridos. 10 1 BREVE ANÁLISE SOBRE FATORES SOCIAIS E PSICOLÓGICOS DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO Em pleno século XXI, as mulheres enfrentam inúmeros tipos de desigualdades no ambiente de trabalho, como a diferença de remuneração, valorização do serviço prestado, vulnerabilidade física, moral e sexual. Compreendemos que a sociedade se dá sob um molde patriarcal, que de modo estrutural, traz reflexos para a vida cotidiana. O campo jurídico também se submete a tal lógica, havendo fragilidades quando se fala em leis e igualdade de direitos entre homens e mulheres. Em se tratar do Direito Nacional, a Lei é clara quando dispõe em seu artigo 5º, inciso I: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição (BRASIL, 1988). Encontramos no apresentado acima uma disposição sobre a igualdade entre os sexos na lei, como representação de uma tentativa de organizar e manter o mínimo de equidade entre os sujeitos da sociedade. O artigo citado dispõe sobre o Princípio da Isonomia ou da Igualdade Formal, o qual qualifica, a partir do inciso I, uma referência quanto à desigualdade entre os gêneros. Podemos dizer que “a igualdade material é a que abrange o tratamento igual aos iguais e desigual aos desiguais” (MARTINS, 2015, p. 44). Essa igualdade de gênero, quanto direitos e obrigações, se faz necessária para que as mulheres possam exercer seus papéis de cidadania de forma digna e com equidade. Nossa sociedade contém influências, o que gera um abismo prático entre homens e mulheres. O direito à igualdade, apesar de tipificado em lei, é uma pauta de luta das mulheres, visto a necessidade de ir para além de uma mera formalidade. A luta das mulheres para serem inseridas no mercado de trabalho vem do início dos anos 1970, onde elas saem da sua esfera privada, que é o lar, para a esfera pública, onde é o espaço de atuação do homem. Esse contexto foi intensificado por conta da crise econômica da época, e não exclusivamente por um caráter de emancipação de igualdade entre os gêneros (FUKUDA, 1992). 11 A mulher tem ganhado cada vez mais espaço no mercado de trabalho, onde isso traz autonomia e dignidade como ser humano, à torna mais útil e aberta as oportunidades que a permitem escolher. O trabalho fora de casa é visto hoje pelas mulheres como necessidade econômica e financeira, como fator de valorização pessoal, como fonte de status, independência financeira, poder, competição com os homens, uma forma de ter amigos (as), etc... e mesmo para manter sua própria família. (PATTI, 2004, p. 75). A presença das mulheres no mercado de trabalho é um indicador do quanto foi conquistado, com a saída de casa e a libertação, para algumas, do papel de “dona de casa”, a conquista do direito ao voto, tornando-as parte dos sujeitos de direito do Estado. As mulheres ainda são vítimas do preconceito pelo fato de serem mulheres, e ainda passar por vários tipos de enfrentamentos no local de trabalho. A sociedade atual nos mostra um quadro em que as desigualdades prevalecem, e podemos encontrar exemplo dessas questões nas diferenças salariais para cargos de mesma atuação e responsabilidade entre os gêneros. Mesmo que a mulher tenha adentrado ao mercado de trabalho e requerido alguns direitos de igualdade entre os gêneros, existe uma expectativa social para que a mulher cumpra seu papel social. Assumir um lugar no mercado de trabalho é visto como uma postura inadequada para quem veio ao mundo para desempenhar um papel exclusivo da esfera privada, do lar, como a dona de casa e a esposa que cuida da família dentro destes liames (FUKUDA, 2012). Com base nas opressões sofridas, a inclusão das mulheres no mercado de trabalho não garante a igualdade, justamente pelos elos machistas que constroem as relações sociais. As mulheres utilizam capacidades físicas e intelectuais no enfrentamento do preconceito que sofrem. Sofrem diversas dificuldades no espaço de trabalho, com a subjugação a assédios, que pode ser morais ou sexuais. É notório que os homens têm uma conduta de superioridade, imposição e hostilidade em relação à mulher desde o momento em que elas entraram no ambiente de trabalho. As mulheres são tidas como meras invasoras e não são vistas como sujeitos de direitos, mas como uma pessoa que entrou para ocupar o espaço do homem, desencadeando a elas sofrerem assédio moral e assédio sexual. (MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO, 2017). 12 As mulheres acabam em um papel de vítima de forma mais frequente e isso ocorre porque a implicação do assédio sobre elas é diferente. Carrega uma conotação machista e sexista, constantemente presente nos discursos e nos ambientes de trabalho por parte dos agressores. Não é possível pensar na questão do assédio sofrido sem realizar a análise do contexto sociocultural. No Brasil, investigação realizada em 97 empresas no Estado de São Paulo, com 2.072 entrevistados, demonstrou que 42% explicitaram histórias de humilhação no trabalho e que, destes, as mulheres são as vítimas mais frequentes (BOBROFF; MARTINS, 2013, p. 253). Observando o dado apresentado, entendemos que as humilhações no trabalho existem e que existe uma frequência maior de mulheres como vítimas de situações vexatórias. É um exemplo de como há interferência dos estigmas nas relações sociais, a partir da sujeição de mulheres ao assédio. Quanto à diferenciação entre o assédio sofrido por homens e mulheres, vemos que as mulheres são assediadas justamente por serem mulheres, como intimidação e submissão, comentários e piadas ligadas ao seu sexo, a sua vestimenta e o ser mulher, como mãe. Já os homens encaram um assédio que ataca sua virilidade (BOBROFF, MARTINS, 2013); Essa inserção da mulher no mercado de trabalho e sua posição de inferioridade que permanece faz com que ela tenha cargos tidos como afeminados e abaixo dos homens, postos em uma posição hierárquica superior. Como já dito, a relação de desigualdade de gênero fica evidente quandoa mulher recebe um salário menor que homem exercendo a mesma função ou cargo. Consta-se que existe, também, dificuldade por parte das mulheres que tentam concorrer a cargos diretivos ou a nível maior de participação como chefia, ainda que elas possuam a mesma qualificação que um homem para tal disputa. Uma mulher que se põe em um nível de liderança e comando sofre os rechaços sociais, com base nos resquícios do patriarcado. Com isso vale ressaltar que não existe uma similitude entre homens e mulheres no local de trabalho, pois, a tendência é que o homem ocupe um poder de hierarquização maior em relação a mulher no ambiente de trabalho. De acordo com 13 Liza Bastos Duarte (2001), a posição da mulher em relação ao homem em consequência a ser vítima do assédio sexual: É nesse contexto que o assédio sexual é também uma questão de gênero, tendo como sujeito passivo a mulher. Evidentemente, a lei constitucional é genérica, pois lhe é vedada a discriminação dos sexos. Dessa forma, repele a conduta de quaisquer dos sexos que se valha de uma relação de hierarquia para pressionar um inferior hierárquico a prestar favores de ordem sexual por intermédio de chantagens. Mas, o que acontece na prática na grande maioria das vezes é ter-se como vítimas do assédio sexual uma mulher. [...] no Brasil, pesquisa realizada no ano de 1995, constatou que 52% das mulheres que trabalham fora já foram assediadas" (DUARTE, p. 22/23, 2001). De acordo com a Cartilha do Ministério público do Trabalho, os sujeitos ativos dos assédios são, em sua grande maioria, os homens, com uma prática que pode ser individual ou coletiva, direcionada contra a mulher. Esses enfrentamentos pela mulher no ambiente de trabalho encontram uma tendência de não serem exteriorizados, combatidos e denunciados, o que impede o encaminhamento de uma punição ao agressor, que consegue manipular de forma que a vítima se sinta coagida a não reagir. Conforme relata MENICUCCI (1999), as trabalhadoras não são adeptas a denunciar. Possuem receio e acreditam que poderão ser desacreditadas, humilhadas, com exposição de sua intimidade, apesar de existir um sentimento de indignação quanto as situações de assédio. As mulheres que reagem às inúmeras situações de abuso no local de trabalho são alvo de processos de humilhação; os familiares e amigos tendem a desacreditar a sua experiência de vitimação e acabam geralmente no desemprego. Neste caso, perdem simultaneamente o emprego e o estatuto de mulheres “sérias”. O medo de perder o emprego é real. Nos EUA, entre 60% a 70% das vítimas de assédio sexual que procuraram ajuda junto das agências de serviço social encontravam-se desempregadas (Morgan, 2001). Ao visualizar o tema sob uma ótica de gênero, pode se destacar o padrão cultural da sociedade brasileira, que legitima condutas sexuais do homem como predatórias. Trata a conduta do agressor como banal e uma mera relação trabalhista, em vez de problematizar esta conduta como uma violência contra a mulher. É notória a existência de uma relação de poder e submissão, que gera a vulnerabilidade da mulher trabalhadora em relação aos seus direitos, como direito à liberdade, à vida, à segurança pessoal e a sua integridade física, moral e mental (FUKUDA, 2012) 14 O fato de a mulher silenciar-se e não denunciar a conduta do assediador gera danos a ela, como alteração de fatores psicológicos, que desencadeiam contextos extremamente prejudiciais tanto para a vida laboral quanto particular. Como expõe Isabel Dias (2008) em relação ao assédio sexual contra a mulher trabalhadora: De uma forma geral, o assédio sexual é psicológica e emocionalmente perturbador para as vítimas. É sentido como uma perda da dignidade e da confiança dos outros. Provoca depressão e comportamentos autodestrutivos. Suscita o sentimento de desânimo e de abandono. Afecta a saúde das mulheres em termos gerais. Estas mulheres queixam-se frequentemente de dores de cabeça, náuseas, cansaço, distúrbios alimentares, inibição sexual, etc. (DIAS, 2008, p.16). O cenário social e o cultural que descreve a mulher dentro do perfil da vítima é composto por alguns elementos, como: os papéis sexuais femininos e masculinos, o comportamento da mulher, frequente questionamento sobre o assédio. São levados em conta a sua postura e comportamento como forma de julgamento, principalmente nos casos de assédios sexuais (FUKUDA, 2012). É importante destacar que assediador não tem a sua conduta julgada e que na maioria das vezes eles são homens. A vítima, muitas vezes, não confronta este assediador de maneira direta, mas se afasta para que, em determinadas situações, a conduta do assediador não traga a ela maiores constrangimentos e problemas no ambiente de trabalho. Por melhor que seja a intenção da conduta da vítima a se afastar, esse comportamento gera uma nova oportunidade para o assediador manter a postura de violência contra ela ou outras mulheres. Acumulando as desvantagens sociais associadas ao seu estatuto, as mulheres em situação de monoparentalidade também são particularmente afectadas pelo assédio sexual. Em contrapartida, quanto mais elevado for o nível de instrução e o poder das mulheres, maior é o risco de serem encaradas como uma ameaça pelos perpetradores, e consequentemente será superior a probabilidade de se tornarem alvo de assédio sexual. A imagem da mulher activa, “emancipada e autónoma” é muitas vezes confundida pelos homens com maior disponibilidade sexual por parte do género feminino. O tipo de profissão, o nível de instrução, o estatuto do emprego e certos estatutos precários (e. g., monoparentalidade; divórcio; minorias étnicas; emigrantes) aumentam assim a probabilidade de as mulheres serem vítimas de violência sexual no trabalho. As mulheres jovens, celibatárias e divorciadas acumulam, em particular, todos estes factores de risco (GUTEK, 1985 apud DIAS, 2008, p. 15). A tendência destes assédios aumentarem se revela também, através do poder de hierarquização, quando a mulher trabalha em um ambiente onde a predominância 15 é do poder masculino. As organizações de trabalho, de maneira geral, promovem uma cultura discriminatória de gênero (DIAS, 2008). O perfil das mulheres que sofrem um determinado tipo de assédio, como por exemplo o sexual, revela que as mulheres vítimas são as mais jovens e solitárias. A exposição ao risco de se tornar uma vítima está conectado com um contexto onde as mulheres parecem depender de homens para construírem suas carreiras. O quadro fica intensificado quando se trata de mulheres que são mães solos, divorciadas, separadas, viúvas, principalmente quando não possuem um apoio familiar fortalecido. É importante colocar que existe maior incidência de vítimas de assédios entre as mulheres que trabalham no horário noturno (DIAS, 2008). O receio, o medo, o sentimento de constrangimento, a humilhação e o sentimento de culpa são elementos que formam o ideal de que a exposição da situação de assédio se tornará vexatória para a vítima. Dado o contexto social e cultural, pode existir uma retaliação para a vítima, com vários danos e julgamentos a sua vida, o que faz com que a vítima permaneça em silêncio. Por conta desta omissão, fica fortalecida uma situação de desigualdade de poder entre o agressor e a vítima, que faz com que a vítima não tome uma postura mais ríspida e incisiva com receio de ser demitida e perder o emprego, pois existe uma necessidade do trabalho para sua subsistência, sem que haja denúncias formais contra os assediadores (FUKUDA, 2012). De acordo com o que foi apresentado até esse ponto, colocamos que o patriarcado instala uma cultura que carrega ares primitivos, onde o homem em seu estado natural, em seu universo sexual, revela a linguagem de ser o agente possuidor, dominador, conquistador, enquanto a mulher passa poruma significativa sexual de ser passiva, de dar, de esperar e receber, de ser possuída pelo homem. Se a mulher não aceita, se nega as investidas, é porque a mulher tem que fazer o papel de “difícil”, para colaborar com um suposto jogo de sedução. Portanto, analisando por esta ótica, o assédio contra a mulher se vale da cultura por investidas sexuais que o homem pratica como se fosse uma ação natural, partindo de seu estado e necessidade fisiológica humana. Ao associar com a cultura majorante, a sociedade esbarra na dificuldade em separar e diferenciar uma investida de paquera ocasional de um assédio sexual (FUKUDA, 2012). 16 Na psicanálise, traça-se o perfil do assediador e como isso gera reflexos à vítima. O assediador vê seus atos como corretos e acaba por compreender que a negativa se torna uma afirmativa implícita que muitas vezes serve como um motor de arranque para continuar com estas atitudes. Se o assediador se vê confrontado pela vítima ou por um terceiro, isso o torna mais agressivo e frustrado, fazendo com que cause uma desqualificação da vítima, e acaba por desencadear uma série de consequências desfavoráveis à vítima, como as ameaças, perseguições, perda do emprego e terrores psicológicos. O que se verifica é que as relações das mulheres em ambiente de trabalho se encontram submetidas a fatores psíquicos que interferem na produção de um contexto sem assédios e abuso. Ou seja, existem questões ligadas com a saúde mental do homem que acabam por gerar sujeitos ativos na sociedade que se relacionam com base em agressividades, com determinados egocentrismos e ilusões. Estas reações físicas e psíquicas podem acarretar sérios danos à vida da vítima e como consequência o rendimento laboral pode diminuir drasticamente. Algumas reações físicas seriam as dores nas costas, dores de cabeça e enxaquecas, náuseas, dificuldades para dormir, as perturbações do sono, diarreia, perda de apetite (MAGALHÃES, 2011). Como um dos elementos desencadeado através do assédio, apresenta-se a debilidade da saúde psicológica da mulher, que faz com que ela também deixe de denunciar o assediador. Cabe destacar algumas consequências psicológicas causadas na vítima por conta do assédio: a Síndrome de Bournout, estresse, a falta de desempenho, a autoculpabilidade, medo, insônia, ansiedade, depressão, dores de cabeça, que podem se tornar crônicas de acordo com o tempo prolongado do assédio. A vítima assediada pode apresentar persistência na tristeza, várias crises de choro, autoestima baixa, ansiedade, irritabilidade, vergonha, culpabilização, raiva, insegurança, medo entre outros. Além destas consequências físicas e psíquicas pode- se frisar também as interferências nas relações interpessoais, na família, na igreja (MAGALHÃES, 2011). De modo geral, podemos dizer que existe um caráter extremamente perturbador no assédio sexual sobre as mulheres, que ganha uma dimensão emocional e psicológica, para além da violência física. Acaba por envolver questões 17 como confiança, autoestima e dignidade, que pode produzir quadros de depressão e fragilidade geral da saúde. Mulheres que sofrem assédio tendem a se queixar mais de doenças e sofrimentos cotidianos, como náuseas, maior cansaço, enxaquecas crônicas, distúrbios psicológicos, distúrbios alimentares, inibição sexual. Resta percebido também que quanto mais intensidade existe no assédio sofrido, em questões de tempo e abordagem, intensificam-se tais sintomas, que podem gerar, inclusive, isolamento social e problemas na construção da carreira profissional. É importante ressaltar que todos estes fatores em desfavor da vítima, faz com que ela perca sua posição no ambiente de trabalho, afetando a sua vida em todo e qualquer sentido. Conforme o tempo passa, fica cada vez mais difícil fazer a denúncia contra este agressor. O impacto causado na vida da vítima assume uma maneira tão grotesca que vem junto da auto-culpabilidade, o abandono do emprego, problemas financeiros, vergonha, impotência diante de um sentimento de humilhação por não prover o sustento básico da família (ANTUNES, 2017). As mulheres ainda lidam com o julgamento da sociedade que tende a colocar as mulheres como culpadas pelo favorecimento recebido em algumas ocasiões. Recai sobre elas a culpa por “não se dar ao respeito”, forma popular de veiculação a uma mulher que rompe com determinados padrões. A culpa ainda chega por estarem no local errado no momento errado, por deixarem algumas situações se desenvolverem por algum tempo, com enfrentamento de dores psicológicas e sofrimentos diários. Em relação à situação apresentada das mulheres trabalhadoras, apontamos o que trata a Organização Mundial da Saúde. Define a saúde do trabalhador não só como ausência de doença ou de enfermidades e frisa o estado de completo bem-estar físico, mental e social. Para a OMS, a violência está referida em força física ou ameaça psicológica e considera a saúde uma garantia fundamental. Nesse sentido, traçamos uma conexão com o quadro apresentado quanto às violações dos direitos das mulheres no ambiente de trabalho. Existem outros aspectos que constroem a existência das mulheres dentro do mercado do trabalho, de forma que no próximo capítulo será tratado com maior profundidade como o direito brasileiro tipifica estes tipos de condutas e se realmente há um vazio legal em se tratar de jurisprudências e doutrinas, e em quais esferas elas se encontram. 18 Outro elemento que deve ser levado em conta é a regulamentação das leis no sentido de coibir os assédios, e esse ponto será tratado de maneira mais explicativa sob a percepção de como o legislativo é falho e omisso nas relações legislativas trabalhistas em proteção à pessoa que sofre esses tipos de assédios no ambiente de trabalho. 19 2 ANÁLISE JURÍDICA DO ASSÉDIO MORAL E SEXUAL 2.1 Assédio moral O assédio moral no trabalho passou por inúmeras expressões utilizada para determinar esta violência no ambiente de trabalho, sendo o assédio moral a forma linguística considerada pela língua portuguesa. Como conceitua Soares (2012), assédio moral é uma das inúmeras expressões utilizadas para nominar esse tipo de violência no trabalho, sendo consagrada em língua portuguesa. Em outros países e por diversas organizações a matéria assumiu várias terminologias como por exemplo na Alemanha, Itália, Suíça e nos países nórdicos o termo usado é Mobbing, na Espanha Acoso Moral, Ijime, no Japão, na França o termo é Harcèlement moral, na Inglaterra Bullying, Estados Unidos da América Harassment ou mobbing e por fim Assédio moral no Brasil e em Portugal (SILVA, 2007). Assim pode se observar as diferentes nomenclaturas do assédio moral em diferentes países, mas todos no sentido de tratar a violência moral entre os seres humanos, muitos na relação de poder e autoridade por parte dos empregadores e até mesmo por parte dos colegas de trabalho e clientes das empresas. Os estudos e pesquisas foram se desenvolvendo de modo que, pudesse denominar os fatores causais de cada situação. No que diz respeito a estas designações ao assédio moral Hirigoyen (2002), destaca que as diferenças terminológicas se dão por parte das experiencias culturais e organizacionais. E que além dessas diferentes terminologias, o assédio moral nada mais é do que um fenômeno de sociedade. O assédio moral, em suas diferentes terminologias, com o passar do tempo foi sendo estudado de diversas maneiras pelos autores, de modo que pudessem traçar e definir o que é assédio moral, dando destaque para questões que contribuíssem efetivamente para concretização de um conceito. De acordo com Marie-France Hirigoyen (2002), psiquiatra francesa, ela define assédio moral no trabalho como qualquer condutaabusiva, como gestos, palavras, atitudes e comportamentos que atentam contra a integridade psíquica ou física e a dignidade da pessoa e colocando em risco seu trabalho e fazendo o tornar um hostil. 20 Na construção teórica, trazemos a conceituação do que é assédio, segundo Sergio Pinto Martins (2015). Trata-se de uma importunação e moléstia que acontece de forma insistente e inoportuna. Ao dizer que uma pessoa está sofrendo um assédio, queremos dizer que, existe um uma intenção de limitar e afetar o sujeito assediado, o que acaba resultando em um abalo moral. Entre características determinantes no estabelecimento do que é assédio, precisamos dizer que os seguintes comportamentos precisam ser avaliados: procedimentos ou atitudes repetitivas que gerem degradação do sujeito passivo, direitos e dignidade da trabalhadora feridos, alterações relativas à saúde mental ou física, e por fim o nível de comprometimento da carreira profissional. O assédio moral pode acontecer tanto pelo empregador quanto por colegas de trabalho. Apresentamos a seguinte definição: O assédio moral é a conduta ilícita do empregador ou seus prepostos, por ação ou omissão, por dolo ou culpa, de forma repetitiva e geralmente prolongada, de natureza psicológica, causando ofensa à dignidade, à personalidade e à integridade do trabalhador. Causa humilhação e constrangimento ao trabalhador. Implica guerra de nervos contra o trabalhador, que é perseguido por alguém. O trabalhador fica exposto a situações humilhantes e constrangedoras durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções (MARTINS, 2015, p. 17). Ao discutir assédio moral, temos que observar que a moralidade compõe um conjunto de regras sociais. Não há como analisar os assédios no interior ambiente de trabalho sem entender o envolvimento de ideias éticas e morais, visto que as vítimas se encontram submetidas ao maltrato e rejeição a partir de condutas abusivas. Comportamentos, palavras e gestos podem afetar a integridade humana de um indivíduo que é assediado. O assédio moral pode ser cometido por parte do empregador e ainda por pessoas que frequentam o ambiente de trabalho. Pode acontecer por outros empregados, clientes da empresa que, por ação ou omissão, podem causar danos ao empregado assediado. Acontece o constrangimento no ambiente de trabalho de maneira que atinge a integridade física e psíquica da trabalhadora, em algumas vezes de forma prolongada e repetitiva. De acordo com Sergio Pinto Martins, acredita-se que para que se caracterize o assédio moral, é necessário que seja causado um prejuízo ou um dano ao empregado. Porém, em certos casos, a vítima não irá captar este assédio moral sofrido de forma 21 prejudicial para ela, ainda que os atos ilícitos cometidos pelo assediador se caracterizem como assédio moral. Uma outra contradição que se apresenta é de que a vítima ainda pode se sentir fortalecida com este ato ilícito, de modo que ela passa a se sentir importante para o assediador. Em se tratar sobre a repetição do ato, o art. 2º da Lei nº12.250/06 do Estado de São Paulo, trata sobre a necessidade de repetição do ato para a configuração do assédio moral. Se for cometido somente um ato isolado, não existirá caracterização de assédio moral (MARTINS, 2015). Contudo, de acordo com Heinz Leymann, para ele o ato deverá ser cometido somente uma única vez por semana e durante ao menos seis meses para a caracterização do assédio moral. É importante analisar cada ato isolado para que se determine a caracterização do assédio moral, com a possibilidade dele ser diário, semanal, quinzenal e não vinculado a um período exato. Sendo até mesmo alguns casos iguais tratados de formas diferentes para a configuração do assédio moral (MARTINS, 2015). Essa repetição pode ocorrer e caracterizar o assédio moral, sem a necessidade de ser o ato prolongado. A tendência é que ocorra uma constante progressão do assédio moral e de existir prolongamento no tempo, de acontecer de modo reiterado. Quando se prolonga o assédio moral no tempo, são verificadas várias etapas ou estágios em que o assediador escolhe quem vai ser assediado e as várias formas de assédio que serão empregadas, em grupo ou de forma individual. Um elemento importante que se deve levar em conta para a prática do assédio moral é a intenção. Praticada por determinada pessoa com ação certa ou quando não se pune o assediador, o empregador pratica por omissão. Em outros casos, a pessoa pode pensar que está sendo vítima de assédio moral, quando na realidade não há intenção por parte de quem está sendo acusado do ato ilícito. Há um equívoco na interpretação da vítima. O assédio moral no ambiente de trabalho é determinado pela submissão que o empregado tem em relação ao empregador, é aquela em que o empregador utiliza de constantes humilhações e constrangimentos sofridos por parte do empregado. Isso causa danos ao emprego com repercussão de maneira negativa, ferindo sua dignidade e direitos fundamentais garantidos. 22 No assédio moral, o agente geralmente tem por objetivo que a vítima, por meio de tantas e repetitivas pressões psicológicas, venha deixar a empresa. Outra maneira que o assédio moral ocorre é quando o empregador assedia uma determinada vítima de modo que possa causar medo em outros empregados, para que fiquem atentos com determinadas atitudes no ambiente de trabalho. Esse é um meio que o empregador encontra para mostrar autoridade sob seus empregados. Em contrapartida, não é necessária a vantagem sexual no assédio moral. No assédio moral, existe o efeito psicológico, chamado de acaso psicológico ou assédio psicológico, que é nocivo ao assediado. Além do efeito psicológico do assédio moral, podem existir outros como econômicos, familiares e físicos. É importante pontuar que o fato de determinado trabalho ser estressante, não fica configurado como assédio psicológico ao empregado; um exemplo é quando o empregado precisa bater metas perante a empresa. O assédio moral não só repercute nas relações de trabalho, mas como em sua saúde mental e física, na vida pessoal/familiar, social e profissional. Decorre de vários estudos no âmbito da psicologia e da medicina, onde foram analisados quais são os efeitos que acarretam o assédio moral ao indivíduo. Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), o assédio moral implica em formar “multiatitudes” ao redor de alguém para atacá-lo. O assédio moral é caracterizado pela degradação deliberada das condições de trabalho, visto que, quando surte efeito, é capaz de instaurar um pacto de tolerância e silêncio coletivos quanto à gradativa desestabilização e fragilização da vítima. Esta paulatinamente perde sua autoestima, duvida de si mesma e sente-se mentirosa à medida que se vê desacreditada pelos outros. Dessa maneira, aniquilam-se suas defesas e abala-se progressivamente sua autoconfiança, dificultando ou mesmo impossibilitando o desempenho de suas atividades laborais e às vezes familiares e sociais (BOBROFF, MARTINS, 2013, p. 252). A premeditação não é requisito para a caracterização do assédio moral, pois o indivíduo pode fazer ou começar a fazer uma ação contra a vítima de forma espontânea. O dano psíquico não é tratado como elemento de caracterização do assédio moral, pois esse pode ou não ocorrer na vítima. Mesmo que a vítima seja forte e demonstre resistência ao assédio, o fato de ser assediada não deva ser desconsiderado só porque não causou os danos psíquicos aparentes ao trabalhador. 23 O que normalmente acontece em um ambiente de trabalho para que se chegue em um determinado resultado, são discussões e conflitos, de maneira que isso traga melhora de determinadas condições perante os resultados. Quanto ao conflito, apontamos a posição de Sergio Pinto Martins: O conflito pressupõe posiçõesantagônicas, vendo ataque e contra-ataque. O assédio moral gera insegurança na vítima e a exclusão no ambiente de trabalho. No assédio moral não existe normalmente um conflito, mas a tentativa de exclusão do assediado, nem exatamente posições antagônicas, nem há contra-ataques, pois a pessoa não consegue sequer se defender. Terminado o conflito, pode ser o perdedor, ao não aceitar a situação, tente assediar a pessoa que foi responsável pela sua derrota (MARTINS, 2015, p. 24). Esse efeito do contra-ataque existe na relação entre empregado em empregador, mas não no assédio moral. A vítima do assédio moral não contra-ataca, pois a própria natureza do ato faz com que o empregado se silencie, muitas vezes para não gerar a perda do emprego. É importante lembrar e frisar que o monitoramento e a tomada de decisões do empregador ao empregado não se definem como assédio moral, como monitorar e- mails, mudar o empregado de determinada função, impor metas. Exige-se uma razoabilidade, no sentido de medida do que não fere a integridade e intimidade do empregado, para que não se caracterize um assédio moral (MARTINS, 2015). O assédio moral pode ser caracterizado como um processo em que o assediador utiliza um conjunto de atos destinados a expor o assediado em situações humilhantes e incômodas. Assim, o assediador que em alguns casos se vê denunciado, utiliza-se das típicas alegações: “Foi só uma brincadeira”, “não é nada disso, você entendeu mal”, “a senhora está vendo e/ou ouvindo coisas”, “isso é paranóia sua “, “ela é louca”, “não fiz nada demais, ela (ele) é que era muito sensível” (MENEZES, 2002, pag. 191). Para o assediador – majoritariamente com o empregador como sujeito ativo do assédio - é mais fácil empregar uma comunicação não-verbal como olhares de desprezo, silêncio, suspiros, ignorar o empregado, entre outros. Assedia o empregado moralmente de forma mais implícita, o que possibilita reações de negação quando for questionado. 24 Isso não quer dizer que o empregador/assediador não vá assediar o empregado no ambiente de trabalho de outras formas, muito pelo contrário, é possível que o assédio moral se dê de maneira agressiva, como por meio de: rigor excessivo, confiar tarefas inúteis ou degradantes, desqualificação, críticas em público, isolamento, inatividade forçada, ameaças, exploração de fragilidade psíquicas e físicas, limitação ou coibição de qualquer inovação ou iniciativa do trabalhador, obrigação de realizar autocríticas em reuniões públicas, exposição a ridículo (impor a utilização de fantasia, sem que isso guarde qualquer relação com sua função; inclusão no rol de empregados de menor produtividade); divulgação de doenças e problemas pessoais de forma direta e/ou pública, (MENEZES, 2002, pag.191). Outras características a serem elencadas são os modos de exteriorização: gestos, comportamentos obsessivos e vexatórios, humilhações públicas e privadas, amedrontamento, ameaças, ironias, sarcasmos, difamações, exposição ao ridículo, sorrisos, suspiros, trocadilhos, jogo de palavras de cunho sexista, indiferença à presença do outro, silêncio forçado, sugestão para pedido de demissão, ausência de serviço e tarefas impossíveis ou de dificílima realização, controle do tempo no banheiro, divulgação pública de detalhes íntimos, agressões e ameaças, etc. (HIRIGOYEN, 2002 apud MENEZES, 2002, pag. 191). Ao pensar em algumas hipóteses de assédio moral, podemos levantar a situação em que o empregado já adquiriu estabilidade no emprego ou qualquer garantia no emprego. Nesses casos o empregador, quando assediador, se utiliza de meios rigorosos e excessivos com o empregado, com sujeição ao empregado para serviços pesados que não condizem com sua força laboral. Em outras, faz com que o empregado se submeta a funções vexatórias ou distintas das funções que inicialmente lhe foram destinadas (MENEZES, 2002). Em outros casos, quando o empregado teve a coragem de mover ação contra o empregador e o empregado ainda continua na empresa, o empregador o submete a situações humilhantes e desfavoráveis às suas funções, muitas vezes o rebaixa de cargo e torna sua vida no trabalho insuportável. Estabelece o empregador tarefas que sejam impossíveis de serem realizadas, constantes ameaças por parte do empregador, declarando por várias vezes que irá dispensar o emprego, de forma individual ou até mesmo coletiva. Outras hipóteses são aquelas em que o empregador, ao despedir o empregado, age de maneira a humilhá-lo, esvaziando suas gavetas, batendo a porta, trancando-os em sala isolada, deixando seus pertences na porta. 25 No âmbito jurídico, a CLT resguarda o emprego em determinados casos ao ser submetido a esse tipo de situação, como expõe os art. 483, d, da CLT, ao descumprimento por parte do empregador nas obrigações do contrato. E ainda, o art. 483, a e b, da CLT, ao garantir ao empregado a não exercer trabalho com rigor excessivo ou exigência de serviços além de suas forças. O Código Penal Brasileiro de 1940 é falho em se tratar desta violência sofrida por inúmeras pessoas no trabalho. Fica aberta a exceção da criminalização da violência no ambiente de trabalho em relação aos estados e municípios que criam regras entre os funcionários públicos. Em questões legislativas, coloca-se que não há uma lei em nível federal que pense juridicamente e socialmente o assédio moral dentro do ambiente de trabalho, no sentido de criminalizar e estabelecer uma pena. Em contrapartida, o que se apresenta como exceção são algumas leis municipais e estaduais referentes ao funcionário público. Entre os munícipios que se preocuparam com a questão, apresentamos: Ubatuba, Cascavel, Guarulhos, Iracemápolis, Sidrolândia, Jaboticabal, cidade de São Paulo, Natal, Americana, Campinas, São Gabriel do Oeste, Ribeirão Preto, Presidente Venceslau, Porto Alegre, Santo André e Catanduva. Entre os Estados, apresentamos Rio de Janeiro, Paraíba, São Paulo e Rio Grande do Sul (MARTINS, 2015). Ao apresentar os múltiplos exemplos legislativos, o que se denota é a percepção jurídica de que instrumentos de lei que tratem sobre assédio moral e sexual no trabalho são necessários diante das perspectivas sociais brasileiras. A falta de uma lei em nível federal acarreta uma situação de limbo jurídico para diferentes trabalhadoras que não encontram embasamento jurídico em situações de assédio dentro do ambiente de trabalho. Em março de 2019, foi aprovada pela Câmara dos Deputados o projeto de lei que tipifica para o Código Penal Brasileiro a violência do assédio moral no ambiente de trabalho, o projeto de Lei 4742/01, onde acontece a criminalização dessa conduta. Sobretudo, para que este projeto de Lei possa ser promulgado e sua entrada em vigor, ainda falta a provação a apreciação e aprovação do Senado. No âmbito jurisdicional sobre o tema do assédio moral, alguns países criaram leis especificas para tipificar essa conduta, e outros países tem projetos de lei acerca 26 deste assunto. No mundo, atualmente só a França e a Argentina criaram leis especificas para o assédio moral (BOBROFF E MARTINS, 2013). A falta de legislação especifica do âmbito federal sobre o assédio moral, traz consequências para o ambiente de trabalho, como não há uma forma de punir o assediador, o agente está fadado a repetir sua conduta por inúmeras vezes. A finalidade das leis especificas seria de minimizar e combater estas condutas no ambiente de trabalho, tornando o local de labor mais favorável ao trabalhador. No Brasil, algumas normas aprovadas como as do serviço público administrativo, vem para resguardar o ambiente de trabalho do servidor público, onde normalmente o assédio que acontece no setor público está ligado ao fator psicológico, na disputa de poderes, cobiça e inveja, e não associada a produtividade. Se houvesseuma lei especifica em âmbito federal, a maneira de combater estes assédios seria mais eficaz. Atualmente tende-se a aplicar em questões de sanções disciplinares a Constituição Federal, a CLT, o Código Civil e os princípios gerais do direito, em conjunto com determinas leis estaduais e municipais (BOBROFF E MARTINS, 2013). Desta maneira, este conjunto de normas tende a proteger e assegurar os direitos do empregado de forma saudável, estruturada, em bem-estar e de qualidade de vida, são um dos elementos da organização estrutural do trabalhador. Nas relações de trabalho regidas pela CLT, além do empregado, o empregador (pessoa física ou jurídica) também pode ser responsabilizado em casos de assédio moral por não evitar ou reprimir condutas indesejáveis. Nesta circunstância, a responsabilidade do empregador é subjetiva, por dolo ou por culpa, mas com culpa presumida, de modo que se inverte o ônus da prova, ou seja, o empregador deve provar que não agiu culposamente. (BOBROFF E MARTINS, 2013, p. 256). Por fim, consideramos que o assédio moral é realizado em diversos níveis, funções, trabalhos e espaços. Caracteriza-se, principalmente, pela sujeição da trabalhadora a situações que geram constrangimento, humilhações e posições vexatórias. Existem algumas dificuldades na identificação do assédio moral, pois considera-se que há uma linha tênue entre cobranças necessárias e posições excessivas. 27 2.2 ASSÉDIO SEXUAL O assédio sexual é toda a situação indesejada pela parte da vítima, com caráter de obter vantagens sexuais. Podem se manifestar de diversas formas, verbal, física, não verbal, assim violando a dignidade da pessoa humana, com ofensa de sua integridade física e moral. O assédio sexual pode tornar o ambiente de trabalho um local hostil, inibindo o crescimento profissional e o desempenho laboral do empregado. De acordo com a Cartilha elaborada pelo Ministério Público do Trabalho, junto a Procuradoria-geral do Trabalho com o apoio da Organização Internacional do Trabalho (OIT), temos o conceito de assédio sexual no ambiente de trabalho: Assédio sexual no ambiente de trabalho é a conduta de natureza sexual, manifestada fisicamente, por palavras, gestos ou outros meios, propostas, impostas a pessoas contra sua vontade, causando-lhe constrangimento e violando a sua liberdade sexual. O assédio sexual viola a dignidade humana e os direitos fundamentais da vítima, tais como a liberdade, a intimidade, a vida privada, a honra, a igualdade de tratamento, o valor social do trabalho e o direito ao meio ambiente de trabalho sadio e seguro. De cunho opressivo e discriminatório constitui violação a Direitos Humanos (MPT, Brasília, maio de 2017). Em um sentido conceitual, acreditamos ser importante, no sentido científico, a apresentação de definições dadas por outros autores, como COUTINHO (2015), que diz o seguinte sobre a caracterização do assédio sexual: [...] para caracterizar o assédio sexual faz-se necessário um pedido de favores sexuais, sob diversos modos, seja de maneira direta ou indireta, verbal ou não verbal, sob pena de oferta de vantagens no caso de aceitação, ou algum tipo de ameaça, em casos de recusa. Isto é, o assédio só se configura nos casos em que há o uso do poder como forma de obter favores libidinosos, e há resistência por parte da vítima [...] (COUTINHO, 2015, p. 14). Ainda sobre o conceito, apontamos a definição de DUARTE (2001), o qual expõe sobre a caracterização do assédio sexual e algumas de suas formas: Configura-se assédio sexual quando se vislumbram atos de insinuação sexual que atingem o bem estar de uma mulher ou um homem, constituindo- se esses no meio pelo qual o assediador constrange o sujeito, objeto de seu desejo, a prestar favores sexuais sob a condição de com isso preservar ou adquirir direitos; [...] um comportamento que inclui comentários, olhares, submissão a contatos físicos repetidos e não recíprocos e não desejados, suscetíveis de ameaçar a segurança do emprego de uma pessoa ou criar um ambiente de trabalho angustiante ou intimidante (DUARTE, 2001). 28 O assédio sexual não é uma novidade no Brasil, e nem advém do desenvolvimento econômico, pois voltando ao passado brasileiro, na época escravagista, temos o senhor e sua serva, a escrava que pertencia a ele de corpo e alma e não somente do seu trabalho escravo, a diferença é que o castigo era a morte. Normalmente as relações como por exemplo o professor e a aluna, o médico e a enfermeira, o chefe e a secretária, tem como o primeiro elemento o sexo masculino, sendo o homem a figura imponente. (FREITAS, 2001). A história brasileira demonstra a face desta sociedade machista em que vivemos, onde a mulher ainda pode ser considerada objeto de uso para satisfazer desejos sexuais. O brasileiro reconhece que nas gerações passadas, o homem iniciava sua vida sexual com as domésticas a seu serviço ou nos prostíbulos. Era comum que o pai e patrão desse a opção ao seu filho para violentar a empregada doméstica com ameaças de dispensá-la do emprego, onde ela tirava todo o seu sustento, que por consequência não teria outra opção. A famosa expressão popular “ter um pé na cozinha” origina desta pratica da época (FREITAS, 2001). Os assédios vão transcorrendo até o ambiente de trabalho na atualidade e na realidade da mulher trabalhadora. Nota-se que no assédio sexual, a figura da mulher como vítima é predominante, o que não é o caso do assédio moral que atinge ambos os sexos, por ter o assediador, objetivos diferentes. Adentrando neste aspecto, necessária se faz a elucidação da diferença entre o assédio sexual e o assédio moral. Em síntese, o primeiro é aquele cujo objetivo é obter vantagens de cunho sexual da vítima, por meio de sedução ou chantagem, já o assédio moral tem por objetivo destruir, desestabilizar e humilhar a vítima. Outra diferença é que o assédio sexual já está tipificado no Código Penal Brasileiro: Art. 216-A. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função (BRASIL, 1940). De acordo com o autor Sergio Pinto Martins: O objetivo do assédio moral seria ofender, humilhar, denegrir, degradar, isolar a vítima, violar a dignidade ou a integridade moral do trabalhador enquanto pessoa humana, ferindo um direito fundamental, um bem jurídico fundamental (MARTINS, 2015, p. 23). 29 Além do conceito de assédio sexual, é importante ressaltar que o não consentimento e a falta de reciprocidade da vítima é requisito essencial para a caracterização do assédio sexual. Mais do que uma discriminação, o assédio sexual é uma forma de violência que se traduz em diversos tipos de comportamentos, desde um comentário de cariz sexual, podendo escalar até uma agressão física grave, ou até mesmo uma violação. O requisito base do assédio sexual é a falta de reciprocidade e de consentimento a que acresce o teor sexual da conduta, que humilha, ofende e intimida (MORAIS, et al, 2014, p.46). Podemos dizer que a diferença entre as modalidades de assédio apresentada se dá, em partes, pelos interesses que são defendidos. O assédio sexual atinge a liberdade sexual do sujeito, enquanto o assédio tem como objetivo atentar contra a pessoa por meio da fragilização da saúde mental e psíquica (COUTINHO, 2015). Esclarecida tal distinção entre os tipos de assédio predominantes no mercado de trabalho, fica evidente que o assédio sexual constitui uma forma de violência de gênero. Há não muito tempo a mulher trabalhadora era submetida também ao famoso “teste do sofá”, se ela quisesse merecer uma promoção no trabalho ou uma seleção ela deveria ter passado por este teste, era considerada a moral da época, a mulher não era reconhecidapelo seu esforço laboral e sim como e o que ela fez para ser merecedora de tal gratificação ou bonificação (FREITAS, 2001). Mas a mulher que era submetida a esta situação por troca de favores sexuais e recusa-se, poderia perder a promoção, este assedio conhecido como quid pro quo, que significa troca de favores e neste caso sexuais, se opera por meio de chantagem do empregador em relação a empregada (DIAS, 2008). Não se pode ignorar o histórico da mulher ao adentrar no ambiente de trabalho. De fato, as leis como um processo histórico e ideológico foram criadas de maneira benéfica em maior defesa dos homens do que leis específicas para as mulheres e em conjunto com a omissão, a influência cultural e ideológica da sociedade brasileira. De acordo com a autora Eleonora Menicucci de Oliveira, a linguagem a que se refere a mulher, se encontra marcada junto a violência sexual: A incorporação da linguagem de gênero evidenciou a dimensão da violência sexual contra as mulheres como agressão à pessoa e a não mais aos valores e costumes. Isso descontrói umas das mais antigas assertivas patriarcais sobre os direitos humanos, inscrevendo os direitos da mulher ao trabalho, à 30 saúde integral, aos direitos reprodutivos e sexuais no âmbito dos direitos humanos (MENICUCCI, 1999, p. 107). Essa linguagem traz a relação cultural e ideológica ao qual a mulher foi submetida e que adentra ao mercado de trabalho como violência sexual. Salienta-se que tal tipo de violência tem mais repetição no ambiente de trabalho: É no ambiente de trabalho que o assédio sexual se manifesta com mais freqüência, incidindo quase que unicamente sobre as mulheres, isto é, são elas que ocupam neste cenário o papel de vítimas, de assediadas. Daí o porquê do assédio, pelo menos na cultura brasileira, configurar-se uma questão de gênero (DUARTE, 2001) Baseada na relação de poder, a chantagem é um tipo de assédio sexual, caracterizada quando a troca de favores sexuais acontecem em relação a um benefício na empresa, uma promoção, uma recompensa, aumento de salário, entre outros. Já no caso dos assédios sexuais por intimidações, o assediador utiliza de palavras humilhantes de baixo calão, que baixam a autoestima da vítima, no qual, habitualmente as vítimas são as mulheres (ANDRADE, BAPTISTA, 2017). Fica evidente a hierarquização e organização no ambiente de trabalho em desfavor da mulher. É sabido que o ambiente mais comum para a realização de tais condutas é o ambiente de trabalho, pela relação hierárquica e prevalência da cultura masculina, onde são praticadas dois tipos de condutas: a chantagem e a intimidação. As mulheres que ocupam profissões mais feminizadas, como no campo da enfermagem, correm maior risco de assédios sexuais tanto por parte dos colegas de trabalho, quanto dos pacientes na prestação e cuidados do serviço. O risco das empregadas domésticas se iguala aos riscos das enfermeiras (DIAS,2008). Ainda há omissão legislativa tanto em ambientes profissionais quanto em outros ambientes. Várias condutas cometidas contra a mulher, ainda não se encontram tipificadas no ordenamento jurídico brasileiro, como o assédio cometido nas ruas, em locais públicos, sendo este tipo de crime comum, com uma postura de passividade em relação a criminalização dessas condutas. De acordo com DIAS (2008), alguns comportamentos até o momento não são reconhecidos como assédio sexual, que são violências contra a mulher como conversas de cunho sexual, contato físico indesejado, a pressão para marcar encontros, o assediador ainda apresenta exibicionismo, troca de mensagens, imagens 31 de conteúdo pornográfico, voyerismo. A autora acrescenta que para a sociedade é muito difícil o reconhecimento destas condutas como crime de assédio sexual. É a falta de uma conceituação maior de algumas conotações sexuais partidas de algumas expressões que envolve a tipificação do assédio sexual no ordenamento jurídico brasileiro. Em questões jurídicas, a vítima que quiser acionar o judiciário, deve reunir o máximo de provas possíveis para denunciar o assediador. Muitas vezes, a vítima se encontra em difíceis situações de prova dos fatos ocorridos, pois, na maioria dos casos, os assédios acontecem de forma velada e sem testemunhas. O Ministério Público do Trabalho expõe em Cartilha elaborada junto à Procuradoria-geral do Trabalho com o apoio da OIT, a dificuldade que a vítima tem de provar os assédios sofridos no ambiente de trabalho conta que: [...] na maioria dos casos é praticado às escondidas - a doutrina e a jurisprudência têm valorizado a prova indireta, ou seja, prova por indícios e circunstâncias de fato. Por isso, as regras de presunção devem ser admitidas e os indícios possuem sua importância potencializada, sob pena de se permitir que o assediador se beneficie de sua conduta oculta (MPT, Brasília, 2017, p.16). A dificuldade para coleta de provas se dá por conta que a conduta do assediador, que tende a ocorrer de portas fechadas. Desse modo, não fica possível a comprovação de testemunhas do crime ocorrido. Isso dificulta a comprovação do crime de assédio no ambiente de trabalho por parte da vítima, e com isso aumenta-se a impunidade dos assediadores no ambiente de trabalho (COUTINHO, 2015). Na mesma Cartilha pelo Ministério Público do Trabalho (2017), colocam-se algumas maneiras de comprovar os assédios sexuais acorridos no local de trabalho, como, e-mails, vídeos, documentos, presentes, registros de canais internos da empresa ou até mesmo órgãos públicos, ligações via telefone, redes socias, Skype, WhatsApp, Facebook, entre outros. É um fator muito importante que a testemunha em favor da vítima, obtenha todo conhecimento em relação aos fatos ocorridos. Por fim, considera-se que há necessidade de estratégias de prevenção, intervenção e divulgação do assunto, bem como fortalecimento das formas de punição dos assediadores, para que as vítimas conheçam seus direitos e não hesitem em denunciar sabendo que estarão protegidas pelo Judiciário e pela sociedade. 32 2.3 SAÚDE NO TRABALHO É importante ressaltar a saúde das mulheres no ambiente de trabalho. Como já foi exposto neste trabalho, o primeiro capítulo aborda alguns dos fatores psicológicos da mulher trabalhadora. Desenvolvendo um pouco mais sobre o assunto, apresenta-se a definição de saúde pela Organização Mundial de Saúde - OMS como: “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente a ausência de doença ou enfermidade” (MARTINS, p. 52, 2015). Para o Ministério Público do Trabalho em conjunto com OIT refere-se um conceito moderno de saúde: saúde está incluído o ambiente de trabalho sadio e no conceito de ambiente de trabalho sadio estão atreladas a saúde física e a saúde mental. A higidez de um ambiente de trabalho depende da ausência ou minimização dos riscos físicos, químicos, biológicos e psicossociais. A saúde e segurança de um ambiente de trabalho precisam ser construídas sob o ponto de vista físico e ergonômico, assim como sob o ponto de vista ético, moral e mental. Nesse aspecto, ambiente sadio é também aquele acessível e inclusivo (MPT, 2017, p. 23). Como o presente trabalho apresenta foco nas mulheres, que são as maiores vítimas de violências no ambiente de trabalho, no que diz respeito à mulher como trabalhadora, não se pode negligenciar a compreensão do grau de desigualdade e discriminações no qual estas estão inseridas. Como visto anteriormente uma das formas de violência que elas enfrentam é o assédio, tanto moral quanto o sexual. Com ênfase à saúde e ao ambiente, deve-se compreender que a falta de um ambiente de trabalho sadio e seguro poderá afetar a integridade e a dignidade do trabalhador. Para a mulher trabalhadora, um ambiente de trabalho sadio e seguro pode ser dado como um ambiente livre de assédios,onde não existam modos ou sujeitos que atentem contra sua saúde mental e física. Tanto a mulher quanto o homem trabalhador, podem sofrer assédio moral no ambiente de trabalho. O assédio moral poderá vir associado à uma série de doenças e sintomas cotidianos que causam danos à saúde destes trabalhadores, como sintomas psicossomáticos, distúrbio psicológicos, náuseas, enxaquecas crônicas, maior cansaço, perturbações da atenção, estresse, depressão, ansiedade, abuso de álcool, perturbações do comportamento alimentar, doenças cardiovasculares, 33 desencadeamento da Síndrome de Bournout, falta de desempenho, a auto culpabilidade, medo, insônia, acidentes e até mesmo suicídio. Como exposto, umas das consequências do assédio moral é o estresse. Trata- se do entendimento que o trabalho pode causar estresse em decorrência de muitas atividades. Um exemplo é quando o emprego tem uma carga excessiva de trabalho excessivo, dentre outros aspectos do exercício do trabalho que a depender da pessoa pode desencadear o estresse. Já a Síndrome de Burnout, é quando o empregado não pode lidar com alto estresse laboral individual e excessivo. Ocorre uma transação de desadaptação do labor, onde o empregado cria uma posição acomodada perante as situações de trabalho e não traz resoluções de outra forma para administrar determinadas situações. Trata-se do esgotamento mental, físico e emocional, gerado pelo envolvimento crônico no trabalho em situações intensas no sentido emocional (MARTINS, 2015). A Síndrome de Burnout, é um termo psicológico muito conhecido na atualidade. Está relacionado às atividades no ambiente de trabalho, que se refere quando o empregado deixar de sentir vontade de trabalhar, não encontra ânimo para exercer suas funções. A diferença entre o estresse e a Síndrome de Burnout, é que o estresse acontece por um determinado tempo e pode passar. Já a síndrome possui efeitos que podem ser mais permanentes, terem maior durabilidade na vida do trabalhador, além de causar a exaustão emocional que implica na insatisfação de trabalhar. A Organização Internacional do Trabalho (OIT), em conjunto com a OMS, demonstrou em uma pesquisa no ano 2000 que as perspectivas para os próximos 20 anos, para os trabalhadores, são muito pessimistas no tocante aos aspectos psicológicos; afirmando que o estresse, as angústias, os desajustes familiares, o sofrimento no trabalho oriundo de diversas causas e outros danos psíquicos, advindos inclusive do assédio moral, tendem a predominar no ambiente laboral nas próximas décadas (BOBROFF, MARTINS, p. 253, 2013). Embora o assédio moral em si, não se tratar de uma doença, ele pode acarretar todos estes danos e sofrimentos à vítima, desencadeando assim, tais enfermidades aos trabalhadores vítimas das condutas. 34 Já o assédio sexual atinge psicologicamente as mulheres trabalhadoras e podem causar algumas das mesmas doenças e sofrimentos elencados acima. A trabalhadora pode sentir a perda de sua confiança e dignidade, ocasionando também sentimentos como de abandono e desanimo, trazendo para si comportamento autodestrutivos (DIAS, 2008). O assédio sexual com toda sua problemática pode ser classificado com relação ao tempo e ao grau de intensidade: [...] a) em curto prazo – estresse, ansiedade, sentimento de impotência e humilhação, dentre outros. Destes prejuízos decorrem algumas perturbações físicas como cansaço, nervosismo, distúrbios do sono, enxaqueca, distúrbios digestivos e até mesmo dores na coluna; b) em longo prazo – depressão, redução da libido, tentativa de suicídio, distúrbios psicossomáticos como rápido aumento de peso ou emagrecimento exagerado, gastrites, úlceras, hipertensão arterial, doenças de pele, vertigens etc (MADUREIRA, p. 55, 2006). Dessa forma, é perceptível que a mulher vítima de assédio sexual pode sofrer sérios danos à sua saúde física e psíquica, tendo como consequência seu baixo rendimento na vida laboral. Isso pode fazer com que se sinta inútil, desqualificada e que tenha dúvidas de si mesma. Traz para si a auto-culpabilidade. É neste contexto que existem normas para que se garanta a qualidade de um ambiente de trabalho sadio e seguro, onde o trabalhador tenha o direito fundamental de nele permanecer e dele sair tão íntegro, capaz e são quando nele entrou. Como elucida MARTINS (2015): O artigo 25 da Constituição da OMS considera a saúde é um direito fundamental. A saúde mental também deve ser observada no ambiente de trabalho. A empresa deve implementar medidas preventivas para tornar saudável o ambiente de trabalho, inclusive no aspecto mental, visando também o tratamento e a reabilitação das pessoas (MARTINS, p 52, 2015). Iniciando a conscientização sobre a importância da saúde ocupacional, no ano de 1957 a OMS e a OIT, traçam os objetivos em relação a saúde ocupacional: A Saúde Ocupacional tem como finalidade incentivar e manter o mais elevado nível de bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores em todas as profissões; prevenir todo o prejuízo causado à saúde destes pelas condições de seu trabalho; protegê-los em seu serviço contra os riscos resultantes da presença de agentes nocivos à sua saúde; colocar e manter o trabalhador em um emprego que convenha às suas aptidões fisiológicas e psicológicas e, em resumo, adaptar o trabalho ao homem e cada homem ao seu trabalho (NOGUEIRA, 1984, p. 485). 35 E de acordo com a Convenção 155 da OIT estabelece em seu artigo 3º, e, saúde em relação ao trabalho: [...] e) o termo "saúde", com relação ao trabalho, abrange não só a ausência de afecção ou de doenças, mas também os elementos físicos e mentais que afetam a saúde e estão diretamente relacionados com a segurança e a higiene no trabalho (OIT, 1992). Sobre a Declaração Universal dos Direitos do Homem, expõe Martins, (2015) que no ano de 1948, a lei prevê que: "ninguém será objeto de ingerências arbitrárias em sua vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de atentados a sua honra e a sua reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais intromissões ou atentados " (art. XII). "Todo homem tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar [...]" (art. XXV) (MARTINS, p. 53, 2015). E ainda, em 12 de dezembro de 1991 o Brasil ratificou o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais por meio de Decreto Legislativo nº 226, no qual foi promulgado pelo Decreto nº 591, em 1992, que dispõe sobre a saúde física e mental em seu artigo 12, “Os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa de desfrutar o mais elevado nível possível de saúde física e mental”. Já em 1969, a Convenção Interamericana de Direitos Humanos, trata da Proteção da Honra e da Dignidade em seu artigo 11, números 1, 2 e 3: 1. Toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhecimento de sua dignidade. 2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou abusivas em sua vida privada, na de sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra ou reputação. 3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais ingerências ou tais ofensas (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS, 1969). De acordo com a Constituição Federal Brasileira de 1988, em seu artigo 5º, X: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação” (BRASIL, 1988). Os assédios, tanto o moral como o sexual podem ferir diretamente os direitos fundamentais dos trabalhadores. Estes direitos fundamentais que são protegidos pela 36 Constituição Federal Brasileira, como por exemplo os direitos à integridade física e psicológica dos trabalhadores e da saúdeno ambiente de trabalho. No Capítulo II Dos Direitos Sociais, art. 7º da Constituição Federal Brasileira dispõe em seu o inciso XXVII: “redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança” em relação ao trabalho (BRASIL, 1988). Ainda pela Constituição Federal Brasileira trata o art. 225 no Capítulo VI, do Meio Ambiente: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRASIL, 1988). Este é um conceito moderno em relação ao ambiente em conjunto com o ambiente de trabalho, que na ausência de um ambiente de trabalho sadio e seguro dessa forma poderá acarretar a integridade física e psíquica e a dignidade do trabalhador. Por parte do Sistema Único de Saúde, em relação a proteção do meio ambiente, em suas competências traça uma correlação com o trabalho. Como atribuição do SUS, coloca-se no art. 200 da Constituição Federal, inciso VIII “colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho” (BRASIL, 1998). Compreende-se que o presente artigo diz respeito a saúde do trabalhador, sendo ela física, mental ou psicológica. Ainda sobre as normas que possam garantir a saúde física e psíquica do trabalhador no ambiente de trabalho, apresenta-se o art. 2º da Lei nº 8.080/90 que “dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências” (BRASIL, 1990), com o art. 2º que coloca que “A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício” (BRASIL, 1990). No campo de atuação do Sistema Único de Saúde inclui-se a execução de ações de saúde do trabalhador, como expõe o artigo 6º, I, c, da Lei nº 8.080/90. Ainda na Lei nº 8.080/90 sobre o que se entende sobre saúde do trabalhador, apresenta o artigo 6º, § 3º, I: § 3º Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e 37 vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho, abrangendo: I - assistência ao trabalhador vítima de acidentes de trabalho ou portador de doença profissional e do trabalho (BRASIL, 1990). Diante de todo o exposto, verifica-se que o empregado tem direito à saúde no ambiente de trabalho e não pode ficar suscetível a ser assediado moralmente e sexualmente pelo empregador ou seus prepostos. Os assédios estão diretamente conectados com o quadro de saúde da trabalhadora, com impactos na vida pessoal e profissional. 2.4 NATUREZA JURÍDICA DO ASSÉDIO MORAL E SEXUAL Quando se fala da proteção ao trabalhador, com relação às leis trabalhistas, seu advento foi com ascensão de Getúlio Vargas ao poder, como Presidente da República. Em 1943, foram criados decretos, carga horária, a instituição de regulamentação sobre o trabalho feminino, e a criação da Justiça do Trabalho até que então se atingiu a instauração à Consolidação das Leis do Trabalho - CLT (LOPES, 2019). Getúlio Vargas deu início às primeiras leis de proteção ao trabalhador, acerca de uma história transcorrida por muito sofrimento que anteriormente adveio com a revolução industrial, onde estes trabalhadores não tinham normas regulamentadas paro exercer suas funções e com isso as reivindicações que transpassaram até o poder de Getúlio Vargas. Após essa primeira atenção para o trabalhador no sentido jurídico, buscamos a inserção do tema do assédio sexual e moral no ambiente de trabalho. Por conseguinte, foi promulgada a Constituição em 1988, que expõe em seu Artigo 1º, incisos III e IV: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa (BRASIL, 1988). E ainda, no artigo 5º, incisos V e X da Constituição Federal: 38 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...]; V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização [...]; X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação (BRASIL, 1988). Assim, resguarda o trabalhador nos princípios como o da dignidade da pessoa humana, a dignidade dos valores sociais, a intimidade e a vida privada. Ao pensar no assédio moral no ambiente de trabalho, compreende-se que esse tipo de conduta pode gerar provocações ao judiciário. Em um caso de assédio moral o assediado exerce seu direito ao dano moral como trata o inciso V e X do artigo 5º da CF/88 na garantia e proteção contra os atos que possam causar danos morais ao trabalhador e do mesmo modo, a ser reparador pelos prejuízos em que o trabalhador foi sujeitado pelo dano. Não há como se falar em assédio moral sem o dano moral sofrido pela vítima. É importante ressaltar que não existe tipificação para o assédio moral no Código Penal Brasileiro, ou lei específica e, âmbito federal, mas no início deste ano a Câmara votou a favor do o Projeto de Lei 4742/01, que aguarda apreciação pelo Senado Federal, que tem como objetivo criminalizar o assédio moral cometido no ambiente de trabalho. Ao apresentar atos que se enquadrem no contrato de trabalho em relação a discriminação e ainda atingir a desigualdade entre os trabalhadores no ambiente de trabalho, a competência será da Justiça do Trabalho, como expõe o art. 114, I, CF/88: Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (BRASIL, 1988). Em determinados casos, o assédio moral apresenta caráter discriminatório e pode desencadear um assédio sexual. O assédio moral gera uma série de atos ilícitos contra o empregado, como o ato discriminatório. Entre exemplos, apontamos a discriminação do empregado em razão de sua idade. 39 Já houveram várias propostas legislativas no âmbito jurídico brasileiro para combater e tipificar o assédio moral sofrido no ambiente de trabalho, as quais apontamos: Projeto de Lei da Deputada Federal Rita Camata; Projeto de Lei de reforma do Código Penal, de coordenação do Deputado Federal Inácio Arruda e o Projeto de reforma do Código Penal, de iniciativa do Deputado Federal Marcus de Jesus (MENEZES, 2002). No âmbito estadual e municipal foram criados alguns estatutos para garantir que esse ato não seja cometido no ambiente de trabalho, como a Lei municipal nº 13.288, de 10/01/2001, do Estado de São Paulo, sancionada na data de 10/01/2002. Tem como objetivo estabelecer o conceito de assédio no âmbito da Administração Pública (MENEZES, 2002): Art. 1º, parágrafo único: Para fins do disposto neste artigo considera-se assédio moral todo tipo de ação, gesto ou palavra que atinja, pela repetição, a auto-estima e a segurança de um indivíduo, fazendo-o duvidar de si e de sua competência, implicando em dano ao ambiente de trabalho, à evolução da carreira profissional ou à estabilidade do vínculo empregatício
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