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~ .~'. -::-:o" Visite_nos em WWW.garamond.com.br Martin (oy e Gerd Kohlhepp (coords.) Amazônia sustentável Desenvolvimento sustentóvel entre políticas públicas, estratégias inovadoras e experiências locais ~ 'J' •.•',.r.i':';.. ': ~ ... Coleção • A D'Fic'L SUSTENTA81L1DADE Política energética e conflitos ambientais Mareei BlIrsz/yn (org.) • AGRICULTURA FAMILIAR •.: REFORMA AGR ..\RIA "'O Sf:Cl"I.O XXI Carlos Guaflziroli/ Ademar Romeiro/ Antônio 8uaina;1I Alberto Di Sabbotol Gilson Bitteneourt • BIO(sóclO) D'VERSIDADE e empreendedorismo ambiental na Amazônia Joseli/o Santos Abrantes • CONFLITOS [ Uso SUSTENTÁVEL DOS RECURSOS NATURAIS Suzi Huff Theodoro (org) • CONSTRUINDO o DESENVOLVIMENTO SOCIAL SUSTENTÁVEL Metodologia de planejamento Sergio C. Buarque • DILEMAS DO CERRADO Entre o ecologicamente (in)correto e o socialmente (in)justo Suti Huff Theodoro (org) • O VALOR DA N '\TliREZA Economia e política dos recursos ambientais José Arouelo Alota • Ái\1A7.ilNlA Geopolítica na virada do II1 milênio Berla K. Bccker Martin (oy e Gerd Kohlhepp (c-.ls.) . AMAZÔNIA SUSTENTÁVEL Desenvolvimento sustentóvel entre políticas públicas, estratégios inovodoras e experiências locais Garamond Copyrlght odos autores. 2005 Direitos cedidos pata esta edição à Editora Garamond Ltda. Caixa Postal 16.230 C.p 22.222-970 T.I.rax: (21) 2224-9088 E-mail: garamond@garamond.com.br Co-editor: TOBINGER GEOGRAPIIISCIIE STUDIEN Herausgegeben von D. Eb.rl.' 11.FOrSl'" G. Kohlh.pp' K.-II. pr.rr.r Schriftleitung H. Eck lI.ft 145 Sond.rband 20 Tübinger Beitrll.ge zur Geographischen Lateinamerika-Forschung Herausgegeben VOR Gerd Kohlhepp lI.ft 28 Diagramação Maíra Alves Capa Estúdio Garamond Revisão Laura ZúiHga Miche1le Strzoda CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS. RJ. Sumário In/rodução Mar/in Coye Gerd Koh/hepp 7 Primeira parte AMAZÔNIA NO ÁI\1BITO DAS rOliTICAS PÚBLICAS Amazônia: perdida no rumo da história Lúcio F/ávio Pin/o.......................................... 15 Amazônia: nova geografia, nova polllica regional e nova escala de ação Bertha K. Becker 23 A Amazônia lfsustentávelU de ft-far;nQ e Lula Neli Aparecida de Mel/o. Richard Pasquis e Hervé Théry ,.. 45 Análise das principais grandes obras de infra-estrutura do P/alio P/uriallua/ (PPA) 2004-2007110 Amazônia Roberto Smeraldi 63 Desenvolvimento sustentável lia Amazônia? Dúvidas fia consolidação do Programa Piloto, as recentes estratégias e a realidade amazônica Gerd Koh/ hepp 75 A527 Amazônia sustentável : desenvolvimento sustentável entre politicas publicas, estraté. gias inovadoras e experiências locais I Martin Coy e Gerei Kohlhepp (coord.). - Rio de Janeiro: Garamond : TGbinger, Alemanha: Geographischen Instituis der UniversítlU TGbingen. 2005 332p. ISBN 85.7617-082-5 1. Projetos de desenvolvimento integrado. Amazônia. 2. Amazônia - Condições sociais. 3. Amazônia - Condições econômicas. 4. Recursos naturais - Conservaçao - AmazOnia 5 Desenvolvimenlo sustentavel • AmazOnia I. Coy, Martin. 11. Kohlhepp, Gerd 05-3697. coa 338.9811 COU 33828(811) ilfAP: uma sigla de esforço e colaboração na região da Amazônia sul.ocidelltal EIsa R. Alcnrfoza, Guillermo Rioja. Foster Brown, Flavio Rio,,,, Alollica de los Rios e Ernesto Raez 97 l'o/ít;cas públicas l'o/ratlas para a a~t:,.icllftllrafamiliar e desenvo/vimellto local .Hl!:;(elltál'l-'/ como desafio t' c//(lI1Cl' para a ai/ministração 1I11I11ici"al: " ca.\'() de Seio /)omiugo." do Capim (Pará) /)ijrlc! Segebarr e José Cn.Hilll/O ,\!(lrlius Nunes 111 Todos os lIireitos reservados. A reprodução não.autorizada desta publicação, por qualquer meio, seja tola I ou parcial, constitui violação da Lei nO9.61 0/98. .' Segunda parle AMAZÔNIA ENTRE PROCESSOS GLOBAIS E DESENVOLVIMENTO LOCAL O desenvolvimento entre tensões globais e locais: uma leitura preliminar da Amazônia A Iberlo A cosia 127 Projetos econômicos com povos ittdigenas: experiências "acionais e internacionais Pelei" Sc II,.oder 155 A 111fapela ferra 110Brasil: conflito, sobrev;l'ê"cia e a interface rUr;al-lIrbaIlQ A1// 1101/)' Ha li ,........... 1TI A agricultura moderna em J,;[ato Grosso: riqueza e pobreza João Ca rIos 8a rrazo ooooooooo. o. oo........ .•.•.•.•..•.. ••••••••••••. •••• .•• •••••......•.....•..•...... 189 CIJancese riscos de um desellvolvimellto slIstelltál-'el regional lia Amazônia boliviana Freddy lleinric!l e Marlilla Nellburger 197 O cllltivo de coca lia Amazônia colombialla: l'isão dos produtores e implicações políticas Cesal' Enrique Ortiz Guerrerro : 205 O sistema l/e assentamentos humanos na Amazônia colombialla lar/n" .,..1rie/ Salazar 215 E~.tlI(IO!!ii"legratln,\' tio território e ecologia tia paisagem: perspecti""s tle aplicação para a região amazônica Lu;s Alberto Vil/a Durúu 223 Introduçõo Martin Coyl e Gerd Kohlhepfl A presente publicação é um trabalho conjunto da Rede Susam. A Rede Amazônia Sustentável (Sustainable Amazonia - Susam) é truta dc um longo trabalho científico de um grupo de pesquisadores de universidades do Brasil, da Bolívia, de alguns países europeus e de organizações não governamentais (ONGs) sobre a região amazônica com a temática "desenvolvimento susten- tável", O objetivo foi. e continua sendo. unir os contatos existentes em uma rede multilateral e interdisciplinar, e pôde ser realízado com o apoio financeiro da Comissão Européia, no âmbito do Programa Inco. Durante anos, a temática "desenvolvimento sustentável" tem de- sempenhado um papel muito importante dentro da política de pesquisas da União Européi~ (UE), revelando-se no empenho da UE e de alguns países membros no Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropi- cais do Brasil (PPG7). Os parceiros da rede Susam são: O Instituto de Geociências, Laboratório de Gestão do Território - Depar- tamento de Geografia, Universidade l'ederal do Rio de Janeiro; A ONG Amigos da TelTa - Amazônia Brasileira. cm São Paulo; O Instituto Latinoamericano de Invcstigaciones Socialcs (lIdis) dn Fundação Friedrich Ebert em La Paz. flolí"ía: O gJUpo de trabalho do proressor l'c1ipe ~'iaI1silla. em La Paz, 1301í"ia; - O Departamento de Políticns Sociais, London School ofEconomics and Political Sciencc. 110 Reino Unido: O Departamento de Geogratia. École Normale Supàicurc. em Pa- ris. França; - O Centro de Pesquisas sobre a Américl Latina ~. [nslillllo d\;.'(jeo- grafia, Universidade de °l"libingen. na Alemanha. como coord~nn~ dor do projeto. Pflll.~s~or litular lltl Dl:parlaJl1~lll(l lk G~ogr~(;:J tia Ul\i\<;..ISlll~úçlk Innshnll:k. ,-\uslri:J. I'rllkssol lilul~r 110Dl:pal'l:l111l,'11l0tle G':(lgr:lJiJ tI:J lJl1i\ l'rsid:ld •..\k Tuehing..-n. ,\lcl11:Jllha o objetivo central do trabalho da rede é a discussão e a elaboração de estratégias e instrumentos de regulação, no sentido de contribuir para o desenvolvimento regional sustentável da Amazônia. Para tal feito, é impor- tante o diálogo intensoenlre a pesquisa aplicadanas diferentes disciplinas, as políticas públícas, o planejamentoregional,maSsobretudo, como aspecto nm- damental, considerar os interesses e as necessidades da população regional. Para promover este diálogo, dois workshops, um, de 15 a 18 de junho de 2003, e outro, de 3 a 5 de novembro de 2003, foram realizados em Belém (PA).O motivo dos encontros foi o interessedos participantes da rede Susam na discussão sobre estratégias de desenvolvimento sustentável. Os eventos contaram com peritos oriundos da ciência e da prática e com representantes dos mais diferentes grupos sociais das diferentes sub-regiões da Amazõnia que realizam análise comparativa in loco. A consolidação e a ampliação de uma rede como esta têm como meta a intensificação das relações entre Europa e América Latina emuma ne/work de pesquisas. Dessa forma, podem ser alcançados importantes efeitos sinergéticos de modo a possibilitar a transformação dos resultados obtidos em prática regional. Nos últimos trinta anos, houve uma profunda mudança estrutural social, econômica e espacial na Amazônia devido a processos de colonização e urbanização naquela região. A esperança de muitos migrantes que vinham para esta região, com perspectivas de lá pennanecer uma vida inteira, muitas vezes foi desiludida. As cidades pioneiras, com rápido crescimento nos últimos anos, e as'metrópoles regionais da Amazônia mostraram-se como meta final, mas provisória para muitos migrantes. Condições de desenvolvimento sustentável nas regiões rurais e urbanas são imprescindíveis para a preservação dos recursos naturais e para o combate á pobreza nesta região. Não há dúvidas de que, nos últimosanos, a política de desenvolvimento regional aprendeu experiências negativas de programas passados e tenta. por conseguinte, uma retomada ao desenvolvimento sustentável. Isto está sendo alcançado com grandes esforços por parte das organizações não governamentais, principalmente na implementação de conceitos de desenvolvimento sustentável.Querer-se-ia,pois, a proteção do meio ambiente e dos territórios indígenas c dar incentivo às iniciativas locais para assegurar fundamentos vitais da população regional. INTlCOOÇlo No âmbito das inieiativas estatais, o leque entre bes/ e wors/ prac/ices era muito extenso. Isto porque, entre os atores estatais, dos mais diferentes níveis, há conflitos de interesse e contradições entre programas de ideologia de exclusivo crescimento econômieo eom medidas abrangentes de infra- estrutura e a tradicional e desrespeitosa exploração de recursos naturais e programas para o fomento regional de princípios de sustentabilidade. Quem analisa os inúmeros programas e projetos realizados chegará à conclusão de que justamente nas regiões mais problemáticas da Amazônia, sob o ponto de vista ecológico e social, até hoje qoase não são praticados modelos com orientação duradoura de desenvolvimento nos objetivos de sustentabilidade. Isto se refere especialmente ás áreas de pequenos colo- nos, às regiões de pecuária extensiva em latifúndios, à frente pioneira da soja, avançando cada vez mais nas florestas tropicais, e à região urbana, na qual vivem hoje cerca de 70% da população regionaL Assim, os objetivos da rede Susam abrangem, sobretudo, a análise das interações entre os meios rurais e urbanos e suas implicações para as estratégias de desenvolvimento regional sustentáveL Continua a corrente migratória de zonas rurais para áreas urbanas de desenvolvimentos dife- rentes. De acordo com o meio ambiente de cada região, diferenciam-se fundamentalmente os tipos de lugarejos da zona rural e os das áreas urba- nas devido ao desenvolvimento demográfico, ao potencial econômico e ás estruturas socioculturais. Dois objetivos gerais uniram os membros da rede Susam nos dois lI'orksllOps em 2003. Sobo ponto de vista científico, os resultados dos trabalhos empiricos dos participantes do projeto foram apresentados, analisados comparativamente e examinados quanto á sua aplicabilidade no âmbito de conceitos estratégicos paraum desenvolvimento sustentável. A discussão foi fundamcntada em bases teóricas diversas e métodos de trabalho da análise dos diferentes aspectos das interações entre cidade e campo. O lema da aplicahilidade dos resultados científicos na prática foi discutido entre 1)"; particlpalltes do projeto. pessoas de poder de decisão. locaiS e rL'gioll:.lis. 1..'lilfcl\.'ntL's s{akellOlders, Desta fomla, 0$ resultados da pcsquis:.l eicntirlL'j (oralll colocados à disposição das instituições de planejamento. a fim de dcspcrtar maior consciência para a relevância da politica regional na.• rcb";I~\L'S entre cidade e campo. Tentaram-se avaliar modelos de desennlh.in,,'nlu rural e urbano com base na sustenlabilidade. Além disso, os obstáculos políticos, institucionais e financeiros para a implementação de conceitos de desenvolvimento sustentável tiveram de ser identificados e analisados segundo o ponto de vista dos user groups, de forma a obter informações sobre pesquisas adicionais necessárias, orientadas à aplicabilidade. Nesse contexto, devem-se comparar o desenvolvimento nos setores urbano e regional e as formas econômicas em diferenles partes da Amazônia, e examiná-los quanto ao seu potencial para um desenvolvimento regional sustentável. Por esse motivo, os seguintes pontos foram acentuados: A transformação da estrutura tradicional de desenvolvimento ur- bano e regional e sua relação entre si; Processos de desenvolvimento urbano como conseqüência da interação rural-urbana; Desenvolvimento rural em dependência do espaço urbano e periurbano; Políticas públicas, processos decisórios e planejamentos para regiões urbanas e rurais; Possibilidades de transferência de estratégias e políticas públicas entre 0$ diferentes países amazônicos. A análise das relações funcionais entre regiões rurais e urbanas e en- tre os atores envolvidos deve servir para definir e categorizar as interações socioeconômicas, espaciais e setoriais. Esta será a base para o conceito teórico das relações rurais-urbanas. Além do mais. deve ser elaborada a base teórica para estratégias adap- tadas ao desenvolvimento regional sustentável e às relações rurais-urbanas como sua parte integral. Os princípios existentes de planejamento regional ecologicainente COI11- patin'l, com base na sllstelltabilidade, devem ser avaliados e analisados quanto ao sell \'alor c Ú Sll<ltransmissibilidade às regiões da Amazôni<t. 1J~\'er~()ser deSCIl\'oh'iJas estrat~gias de :,olw.';io par<teliminar obstá- elll\l~ cqrllturais c políticos na implemcntaçào llL' Jl..'sclln}l\'imcnto susten- tá\'cl em Ji\'crsas regiües da Amazônia. O trabalho da rede SlISi.tl11 de\'e ser compreendido como medida par<tlela às pesquisas indi\'iduais existcntcs c serve para apl\\ÜmJar o rdacionamento hmoou(lo europeu-latino-americano no campo da pesquisa e possibilitar, amédio prazo, ativídades conjuntas em prol daAmazônia. Tudo isso com a esperança de que projetos de desenvolvimento sustentável na Amazônia restituam estratégias até então existentes, mas que, sob o ponto de vista ecológico e social, tinham conseqüências destruídoras. A publicação Amazônia sustentável apresenta, com uma série de con- tribuições, na primeira parte, críticas, dúvidas, inovações e novas iniciativas quanto aos princípios para a suslentabilidade das politicas públicas. Na se- gunda parte, são analisados processos de desenvolvimento na Amazônia que oferecem as chances e os riscos da suslentabilidade confOlme causas globais ou regionais, locais, diferentes. O enfoque das exposiç.ões está na Amazônia brasileira, mas algumas contribuições, com fins de avaliação com- parativa, dedicam-se às regiões amazônicas nos países vizinhos: Peru, Bolí- via e Colômbia. O agradecimento dos editores é dedicado aos autores das contribui- ções e aos colaboradores do Centro de Pesquisas sobre a América Latina, na Universidade de Tübingen, em especial à doutora Martina Neuburger e à geógrafa Elke Neudert, que muito se empenharam na realização dos workshops e na preparação da impressão deste livro. 11 V\ C••••.- ..c '::::l Co V\ C••••.-,- o Co V\ C ""C .E.:.c E <c oc: c.-c: <o N C E c:::e Amazônia: perdida no rumo do história Lúcio Flávio Pintol A grande imprensa não se preocupa e não assume sua função na tarefa de aproximar a agenda do cidadão da agenda da história. Principal- mente a elite local, em sua mente colonizada, aeha que estar na Amazônia é uma coisa sacrificante, provinciana. Nós estamos aqui porque nós não eonseguimos sair, porque não eonseguimos ir para São Paulo, Rio de Janei- ro, Brasília, Nova York ou Paris. No entanto, aqui é um lugar maravilhoso, privilegiadopara o inteleetual. Porque aqui se faz história e a gente vê a história surgir, se desenvolver, às vezes consumar o seu ciclo e terminar. Eu, por exemplo, vi o ciclo do manganês no Amapá. Eu tinha 7 anos quando navios carregados de minério começaram a sair do porto de Santana e vi se exaurir, meio século depois, uma das mais ricas jazidas de um dos mais estratégicos minerais do mundo. Os Estados Unidos, a mais poderosa nação do- planeta, não tem auto-suficiência de manganês e por isso tem uma política nacional, anual, para definir como obter esse elemento para alimentar os altos fomos do parque siderúrgico americano. Minha geração formou a sua consciência revoltada contra os embar- ques de matéria-prima no porto de Santana para ser estocada nos EUA como reserva estratégica. Achávamos que ali estava a personificaçno do velho enclave colonial, que transfere as riquezas e deixa os ossos do ban- quete. Desgraçadamente, agora que a Icomi (fruto da associação do grupo nacional Caem; com a multi nacional americana Bethlehem Sleel) encerrou o eiclo do manganês, a gente verifica que este modelo de enclave colonial de velho estilo, apesar de tudo, ainda é melhor do que o atual. O alual é pior do que aquilo que nos parecia a fáce velha do colonialismo espoliado!'. Se a gente hoje compara o que foram os cinqüenta anos da CX3ust£in d...., uma da", melhores jazidas de manganês do mundo e 31l11lisa o início da explon.1ÇÜO L' Jornalisl:l, UelClll. " AlIi1âM SlISIlHT.bll. alguma exaustão que já está ocorrendo nas áreas novas (como no caso do estanho), chega-se à triste constatação de que nós andamos para trás. A Icomi construiu a Vila Amazônia. Uma excelente vila, ainda que segregacionista. Já a vila residencial para a fábrica que fornece a maior quan- tidade de alumínio para o Japão (15% do total), a Albrás - maior do Brasil e segunda do continente latino-americano - quem construiu foi uma empresa estatal, a Codebar. O porto foi uma empresa estatal, a Portobrás (já extinta), embora aquele terminal sirva quase exclusivamente apenas à Albrás, uma empresa privada. Quando.se faz essa comparação, com todo rigor, chega-se a um resultado que se conlTapõeá retórica do momento, do desenvolvimen- to auto-sustentável. Realmente, a consciência social sobre as agressões ecológicas, sobre relações de trocas desiguais, sobre a camuflagem do va- Iar das mercadorias, estabelecido em mercados abertos ou fechados, tudo isso não está em consonância, não tem coerência com a realidade fática. Nós não temos essa percepção porque a agenda do cidadão é vazia. A Amazônia é um capítulo extremamente complexo da história da humanidade. Não é simples, embora se possa falar no velho colonialismo, na velha relação de troca desigual do pobre com o rico. As formas de consolidar esses mecanismos de exploração são extremamente sofistica- das, é o que há de mais avançado na inteligência, seja de Estados nacionais, seja de corporações econômicas de grande porte. Essas unidades de poder podem cometer erros inacreditáveis e impensáveis. Como os grandes pro- jetos de produção de celulose e de arroz do milionário norte-americano Daniel Ludwig, no vale do rio Jari, entre o Pará e o Amapá, entre as décadas de 1970 e 1980, que fracassaram por concluir que, trazendo uma espécie vegetal de outra região tropical, essa espécie se reproduziria sem problemas. Os responsáveis pelo empreendimento nem mesmo fizeram um estudo elementar do solo. O projeto fracassou por ineficácia do em- preendimento colonial. Uma das maiores dificuldades da Amazônia é conhecê-Ia. É uma difi- t:uldaue enorme, porque às vezes o conhecimento que nós temos é visual, t.'mpírico. ou baseado nas teorias mais sofisticadas, que por vezes dispen- SJm a realidade. Ainda mais agora, com as matrizes de computador. A Amazônia está sujeita a um processo irracional, um processo que lail'ez seja mais bem percebido por escritores, poetas, romaneistas que por sociólogos, antropólogos e geógrafos. Ilá um momento em que a irracionalidade parece que é um Behemoth, ou um Leviatã. Ela é autofágica, febril, delirante. É concebível que se comece a construir uma hidrelétrica com um orçamento de pouco mais de dois bilhões de dólares e se chegue ao fim com um custo de dez bilhões de dólares? É concebível que você implante uma das maiores fábricas de alumínio do mundo e no perlodo de vinte anos você entregue, só de subsídio tarifário da energia, uma nova fábrica de graça, sem considerar a relação de troca desfavorável entre exportar lingote de aluminio e no primei- ro beneficiamento do valor agregado multiplica por quatro, sendo que o beneficiamento é fora da região e do pais? Quando se analisa o PAS(PlanoAmazônia Sustentável, lançado em abril de 2003 pelo presidente Lula), e vê logo no início do plano o que diz quanto foi investido na Amazônia nas últimas quatro décadas, o valor é chocante. Segun- do os números do plano, tem sido seis bilhões de dólares por ano de investi- mento. Em qualquer região do mundo, haveria desenvolvimento. Constrói-se uma obra pública de dez bilhões de dólares sem que a região onde essa obra se encontra se desenvolva. Como isso não acontece, é possível que se chegue á conclusão de que não há vida inteligente nesse lugar, não há vontade nesse lugar, esse lugar é destituído de gente e de história. Só num lugar onde não há gente e não há história se pode admitir que um empreendimento de vinte anos não tenha devolução do subsídio de energia, sendo a energia 30% do custo do alumínio, que é o bem omais eletrointensivo domundo industrial. Isso é um atestado da impotência da Amazônia. Em parte, a impotên- cia dos que participam do processo, que poderiam perceber essa realidade e transformá-Ia, em parte do Estado nacional e em parte daquela unidade do poder público que tem poder arbitral. Tenho convicção de que não existe Estado nacional no Brasil. E que a forma federativa brasileira é a moldura da falência da Amazônia. A organi- zação jurídica do pais jamais vai permitir que nós desfaçamos a realidade dos eteitos mais importantes do processo de desenvolvimento da Amazô- nia. que gera, PI,X perversidade inevitável, o subdesenvolvimento d:1 região. Resultados qUl: contradizt:m {} enunciado do lllod('lo. dI..'ttldo ..•o.• modelos formulados desde 1953. :mo cUl1siJ~rado 1I111111:.1rco. o inki~)do ma i."'; antigo pklllcjamcnlo rc:gioll:.li do Brasil, ate hoje. O Atlas do Desenvoh'imento - elaborado pelo I'NUD. Ipe" c pela Fundação Joaquim Nabuco, com base no [ndice de D<~scn\'ol\"llll\:nto flu- mano (lDH). mostra essas duas realidades claras. Apesar de lodo esse • investimento, nós, da Amazônia, crescemos menos do que o Brasil. A Amazô- nia, que deveria ser a região com desenvolvimento mais acelerado para suple- mentar a insuficiência da poupança nacional, cresceu menos. A nossa renda per capita é pouco mais da metade da renda per capita nacional. A Amazônia tem 61% do território brasileiro, 12% da população e SÓ 6,5% do PID. Nem aritmeticamente o nosso perfil econômico corresponde à nossa realidade demogràfica. A concentração da renda gerada na Amazônia é maior do que no Brasil. a sonho de que aqui é a !Tonteira brasileira acabou. a sonho de que aqui poderíamos realizar uma realidade diferente do Brasil continua. Na década de 1970, quando começaram a ser rasgadas as grandes estradas de integração nacional da Amazônia, a região não tinha ligação física nem histórica com o Brasil. Somos a região tardia do Brasil, somos os brasileiros atrasados (alguns gostariam de dizer: retardados). Nós não fa- zemos parte da história brasileira. Dela, somos apêndice ou resíduo. Temos um cxemplo dessa situação na documentação, encontrada recentemente nos arquivos do Foreign affíce, em Londres, sobre a corres- pondêncía entre a Arrnada inglesa baseada em Barbados, o embaixador da Inglaterra no Brasil e o Ministério das Relações Exteriores, na época che- fiadopor Lord Palmerston. A correspondência inforrna sobre o pedido do regente na época da minoridade de d. Pedro lI, o paulista Diogo Antônio Feijó, para que os ingleses invadissem a Amazônia para controlar uma situa- ção dc revolta. a governo imperial tãria de conta desconhecer os fatos até que a revolta fosse sufocada e os estrangeiros se retirassem. Mas a Ingla- terra não aceitou a proposta, mesmo em caráter confidencial. O motivo principal era que, para rln. não interessava naquele momento explorar a Amazônia com ocupação colonial. Era mais rentável explorar a região por intennédio do governo brasileiro. Esse episódio é importante, pois temos aí todos os componentes da hislÚri<l amazõnicn posterior. O Estado nacional dizendo que defende a ..\nKlzônia, que ~ o int~rprete da Amazônia. Os estrangeiros apontados como Ih \.'\lhh;auorcs. explorando os recursos (1<.1t\mazôni3. Mais uma conivên- 1.'1;1. 1;;\"'l!:1. implíL'ilaOlllISlell~I\"a entre ambos para rcalizar um objetivo co- IlHllll" [Irar pro\"CllO d:l rc,giJo. ()s resultados mais oslensi\'OS da "integração" da Amazônia são a des- In:II;.ld dos rccursos naturais dJ rcgião e a drcnagem e concentração da rl..'n~l.l~craJapela atividade eCllllômica. Por isso a fronteira cresce menos do lA 1 ; que o próprio país. Apenas dois estados da Amazônia, depois de cinqüenta anos de desenvolvimento regional, fazem parte do segundo Brasil (do primei- ro Brasil, todos estão excluídos). a restante dos estados integra o terceíro Brasil, na companhia dos estados nordestinos mais pobres (como o Maranhão, de José Sarney, e Alagoas, de Fernando Collor de Mello), o que é um atesta- do da falência das elites locais como atores para o desenvolvimento. a presidente Lula lançou, em abril de 2003, em Rio Branco, uma pro- posta de revolução, por meio do Plano Amazõnia Sustentàvel, para mudar o modelo agrário até agora prevalecente pelo modelo florestal. E tudo () que acontece na Amazõnia é devido à matriz do modelo agricola. Ainda não surgiu o Iwmo florestal, só o !lama agrícola. Nós somos um povo desmatador, de lenhadores. Até recentemente, a frente de expansão na Amazônia seguia uma irracionalidade com uma determinante muito clara: a floresta nada vale. a conceito de valor era o VTN (valor da terra nula). Por quatro décadas, foi esse o combustível da expansão da fronteira da Amazônia, da integração da Amazônia ao Brasil. a presidente propôs então que coloquemos o eixo no aproveitamento da floresta, desenvolvimento sustentável, modelo agro-florestal. Em vez do colono agncola, o colono florestal. Mas se nós analisarrnos a história recente (os últimos cinqüenta anos na Amazônia), vemos que nenhum povo destruiu mais floresta na. Amazônia que o brasileiro nesse periodo. Nós Jestruímos 17% da Amazônia, uma área equivalente a duas vezes o Estado de São Paulo, que concentra 1/3 da riqueza nacional. Um episódio importante aconteceu em 1976, quando o satélite Skylah fotografou o maior incêndio que um satélite já tinha registrado. praticado pela Volkswagel1, em Santana do Araguaia. A tecnologia mais sofisticada. a do satélite, registrava a mais primitiva tecnologia do homem em aç:io, n fogo. A Volkswagen se instalou na Amazônia não para montar n:ículos automotores, que é sua especialidade, a única, mas para criar hoi. P1.'1:J primcira vcz na sua história. E fracassou complctJlllenle.:\ indú ...ln;! Illol. demo. no Illundo foma-sc anacrônica quando pcnelra na li.olllL'lr:1;111l;I/Ú. nica. Rcgride décaJas. Ou séculos. Apcs3rde se poder dizer que a Amazônia é vítima (k UI11\"dllll 1Il1)liL'- lo de exploração colonial, as formas Je consolidação Jcssc l11\1lkl" ..,i" sofisticadas. Por exemplo: esta fábrica da Albrús, que eSlã J cll1qiknla quilômetros de Belém e que fornece 15%de todo o aluminio consumido no Japão, é a maior fábrica japonesa de alumlnio do mundo, embora esteja a vinte mil quilômetros do território japonês. Essa fábrica, para dar ao Japão ganhos maiores do que recebeu, adotou uma nova forma financeira, que foi a dupla paridade cambial. No auge da guerra comercial com os EUA, o Japão praticamente tinha o seu câmbio controlado pelo Banco Central ame- ricano. E para se proteger das imposições cambiais dos EUA, o Japão adotou a dupla qualidade cambial a seu favor nos financiamentos que con- cedia, como o da Albrás, no valor de oitocentos milhões de dólares. Quando perde em dólar, o agente financeiro japonês transforma o contrato com a Albrás para o iene e quando perde em iene transforma em dólar. É um custo financeiro tão violento que, em 1987, apenas a variação cambial desse empréstimo significou três vezes mais do que o orçamento do Estado do Pará; ou seja, todos os gastos do governo mais os seus investimentos. Esse exemplo nos mostra que essas unidades produtivas têm um po- der imensamente maior do que o próprio Estado. E como nós não temos um conhecimento do processo e nossa vida está desligada dos fatos concretos, nós ficamos impotentes e incapazes de compreender o que está acontecen- do diante dos nossos olhos. Somos meros espectadores da nossa história. No momento em que o Japão fecha todas as fábricas em território japonês e transfere para o Brasil a maior dessas fábricas, garantindo que o Japão mantivesse sua infra-estrutura industrial, temos um periodo opor- tuno para o Brasil. E que deveria ter sido de mobilização dos intelectuais. Um momento para preservar e preparar a Amazônia a fim de entrar na nova divisão internacional do trabalho. Estas são as possibilidades que a história oferece, e não conseguimos aproveitá-Ias por despreparo. Essas possibilidades estão se renovando sempre. Iniciamos um pro- cesso, de/lagrado em 2004, com o inicio da produção de cobre. Inúmeras tarefas que poderiam ser desempenhadas pela sociedade estão fora de seu alcance porque a sociedade não vê. Hoje temos cobre, mas não temos política para o cobre, sendo o Brasil um dos maiores importadores de cobre do mundo. E mesmo produzindo cobre, vamos acabar tendo de continuar importando cobre, poís não existe mais o arbitramento do Estado nacional nesse setor da economia. O presidente atual fez boas promessas, mas até agora realizou muito pouco de concreto para cumpri-Ias. Temos uma continuação do modelo do lúoo Fúm PIml antecessor. E parece que a Amazônia só serve para gerar divisas, gerar dólares para pagarmos a dívida pública. Assim, teremos uma retórica com uma dissonância cada vez maior da realidade. Seja na direção que faz o caminho da soja, ou o dos minérios. Um fato relevante me ocorreu a partir de uma entrevista não publicada que recebi, anonimamente, de alguém importante na região, o doutor Eliezer Batisla. Na entrevista, concedida a duas pesquisadoras, ele afirmou que se não tivesse ocorrido corrupção na construção da hidrelétrica de Tucuruí, não teria sido preciso subsidiar a energia para o pólo de aluminio montado em Belém e em São Luís do Maranhão (com a Alumar, da Alcoa e da Billiton). Tentei, com a publicação da entrevista e com um deputado fede- ral, que essa questão fosse pauta em Brasília. Mas ela acabou sendo arqui- vada pelo Tribunal de Contas da União, sob a alegação de que já se tinha passado muito tempo. Conto essa história para mostrar o dilema da região, entre a história e a anti-história, entre a condenação a repetir o passado colonial de todos os outros povos e a perspectiva do desenvolvimento sus- tentável, do modelo /lorestal, da Amazônia identificada com a sua vocação, com a sua determinação geográfica. ! ;1 " 11,. j Amazônia: nova geografia, nova política regional e nova escala de ação Benha K. Becker1 Certamente a Amazônia brasileira hoje não é mais a mesma dos anos 1960. Intensas transformações ocorreram na região, mas esse fato é apreen- dido de forma variada segundo motivações e interesses de diferentes ato- res, ou nem mesmo é percebido por grande parte da própria nação brasilei- ra. Perduramimagens obsoletas sobre a região, verdadeiros mitos. Não apenas os mitos tradicionais da terra exótica e dos espaços vazios, mas também mitos recentes que obscurecem a realidade regional e dificultam a elaboração de politicas públicas adequadas ao seu desenvolvimento. Historicamente, a ocupação da Amazônia se fez em surtos a partir da valorização de produtos extrativos no mercado internacional. As metrópo- les e o poçer econômico comandaram esses surtos. Inicialmente Portugal e as companhias de comércio, a seguir a Inglaterra e depois os Estados Uni- dos na passagem da mercantilização para a industrialização. Uma primeira mudança no processo de ocupação só passou a ocorrer a partir de 1960. A ocupação passa a ser continua no tempo e em maior exten- são, rompendo O padrão em surtos e em áreas localizadas. O comando do processo passa a ser do Estado brasileiro, com uma politica deliberada de integração regional. Em todos esses séculos, até então, o paradigma da relação sociedade- natureza foi a economia de fronteira, em que o progresso é entendido como linear e infinito, baseado na incorporação contínua de terras c recursos nalurilis igualmente percebidos como inlinilos. Nas duas últimas décadas do sécult> X.\.. Illudanças b('/l1 mais Jrásti. cas ocorreram na r~gião, tanto em termos políti .....os c ~coJlômic{)s (('omo os atores em cena, com suas múltiplas demanda:;;)L1l1anlo das politicas j1libli- PeS4UIS3d'lra e pwfcssora emérl1a d,l lahllral,'orj" dc" \ i,;~!.i,' .~,' r."tntúrw .- Ocpart:1Il1enlll de Geografia da Uni"ersidade Federal do Rio.te h!lell.l li 'I iV. caso As populações tradicionais se organizam e se tornam atores políticos significativos, a cooperação internacional financeira e tecnocientífica assu- me influência crescente, e o terceiro setor emerge Como mediador de inte- resses diversos, reduzindo o papel do Estado. Hoje, novas e diversificadas tendências se confrontam na região, ge- rando uma teia complexa de atores e relações que dificultam a compreensão do processo de mudança e da ação política. Um esforço para desvendar tal complexidade é, portanto, crucial. Este texto tem, assim, como objetivo, contribuir para lima maior aproxi- mação da realidade contemporànea da Amazônia, Segundo uma abordagem geopolitica, e baseado em reflexões e pesquisas de campo sistemáticas, ana- lisa, numa primeira seção, as profundas mudanças estruturais verificadas no final do século XX, decorrentes da politica de ocupação do território implementada nas décadas de 1960 a 1980, Em seguida, aponta tendências de redefinição regional contemporânea referentes a uma nova geografia amazônica e à superação da política de ocupação do território. Na terceira e última seção, apresenta as novas políticas direcionadas à região e a uma nova escala de ação, a Amazônia continental. Ocupalãa da territ6ria e mudanlas estruturais regionais em fins da século XX As mudanças estruturais verificadas na região foram forjadas no bojo do projeto nacional para acelerada modemi7.ação da sociedade e do território nacio- nais implementado entre 1960 e 1985, em que a Amazônia assumiu prioridade, sendo foco de uma politica de rápida ocupação de seu território que alterou profundamente a região. Bases institucionais implantadas no periodo anterior foram resgatadas, alteradas em suas funções, e novas foram criadas. Projeto nacional e ocupação do território Somente entre 1966 e 1985 se iniciou o planejamento regional efetivo da região. O Estado tomou para si a iniciativa de um novo c ordenado ciclo Lic devassamento amazônico num projeto geopolítico para a modernidade. Nesse projeto, a ocupação da Amazônia assumiu prioridade por várias ra- zões. Foi percebida como solução para as tensões sociais internas decor- rentes da expulsão de pequenos produtores do Nordeste e do Sudeste pela modernização da agricultura, Sua "eupação também foi percebida como I '\ " BElTIlI K. BElXII prioritária em face da possibilidade de nela se desenvolverem focos revolu- cionários. Em nível continental, duas preocupações se apresentavam: a mi- gração nos países vizinhos para suas respectivas Amazônias que, pela di- mensão desses países, localizam-se muito mais próximos dos seus centros vitais, e a construção da Carretera Bolivariana Marginal de la Selva, artéria longitudinal que se estende pela face do Pacífico na América do Sul, signifi- cando a possibilidade de vir a capturar a Amazônia continental para a órbita do Caribe e do Pacífico, reduzindo a influência do Brasil no coração do continente. Finalmente, em nivel internacional, vale lembrar a proposta do Instituto Hudson de transformar a Amazônia num grande lago para facilitar a circulação e a exploração de recursos, o que certamente não interessava ao projeto nacional (Becker, 1982 e 1990). Para acelerar a ocupação regional, modernizaram-se as instituições. Em 1966 o Banco de Crédito da Borracha é transformado em Banco da Amazônia S/A (Basa), que se tomou alicerce fundamental para a politica de incentivos fiscais de crédito para a ocupação regional, e que permanece até hoje; a SPVEA em 1966 é transformada na Superintendência de Desen- volvimento da Amazônia (Sudam), recém-reformulada; em 1967 é iniciada efetivamente a Zona Franca de Manaus, um enclave industrial em meio à economia extra ti vista e próximo às fronteiras do norte. Entre 1968 e 1974, o Estado brasileiro implantou uma malha tecoo-política na Amazônia, visando completar a apropriação fisica e o controle do território (Becker, 1990), Redes de circulação rodoviária, de telecomunicações, urbana etc; subsidios ao fluxo de capital por meio de incentivos fiscais e crédito a juros baixos, indução de fluxos migratórios parapovoamento e fommção de um mer- cado de trabalho regional, inclusive com projetos de colonização, e superposição de territórios federais sobre os estaduais compuseram a malha tecnopolitica, A primeira crise do petróleo, em 1974, reduzindo a disponibilidade de recursos. alterou a geopolitica regional, que se voltou para a exportação de recursos naturais explorados em grandes projetos com financiamentos ex- ternos, como o projeto hidrelétrico de Tucunlí, projetos minerais, cuja maior expressão é Carajás, transformando assim a Amazônia numa grande fron- teira de recursos nacional e mundial. O segundo choque do petróleo c a súbita elevação dos juros no mercado internacional levando ti escalada da divida externa esgotaram esse modelo, cujo último grande projeto foi o Calha Not1e (1985), Esta fase foi marcada por intensos conllilos sociais e impactos BI'TH.l K. Blo", . I. A conectividade foi crucial para uma reglao que permanecera ate enlão isolada como uma grande "ilha" voltada para o exterior. Estabeleceu uma articulação do território, interna e sobretudo externa por meio das re- des, em que sobressaem as de telecomunicações e as rodovias. Se e~tas últimas estimularam a imigraç:"io e () destlorestamcnto, as telecomUnica- ções permitiram forjar aliath;a..; l' parcerias. 2" :\ im/uslriali:,/rtio l'lllblllui uma importante mudança na estrutura da ,,:col1omiu. De uma r":~I:iol'xtrativista, a Amazônia passou a ocupar o secundo IU~~1I'110pais no \.~llor total na produ~'jo mineral. e o terceiro lugar IlU'- \":1lor to~al na produl.;;:h1 d....b....ns de consumo duráveis, decorrência da Zona Franca de: ~ 1:.1l1:lU",. • redução da primazia histórica - Inchação - problema de Belém-Manaus ambiental • rós das redes de - rede nJ"aH.•.bana • sem circulaçãollnformação 3. Urbanização - . presença material da cidade: • retenção da expa.nsão sobre a estrutll"a do favelas floresta po\K>amento • sobrelXbanização • I.e. sem • mercado verde base produtiva • Jocus de actrnuação interna, - arco do desflorestamento e primeira vez na história recente focos de calor - base de iniciativas polfticas e da gestão ambiental • diversificação da estrulLl'"asocial • formação de novas sociedadeslocais. sub-regiões 4. Organização conflitos socioambientais • conscientizaçãolaprerdizado Social Civil - conectividade + mobilidade + polilico estrutlJ"a da urbanizaçâo • organização das demandas em sociedade projetos allemativos com alianças/parceiros externos • despertar da regiâo/conquistas da cidadania • fonnação de lJll vetor tecnoecológico • demarcação de terras indígenas 5. Malha • multiplicação e consolidação de Socioambiental- . conflitos de terra e de Unidades de Conservação (UCs) estrutura de territorialidade • Projetos de Gestão Ambiental apropriaçãl} do . conflitos ambientais hlegrada (PGAIs) nos estados; território Projetos de Demorstração (PO/A) - capacitação de quadros Zoneamento Ecológico- Econômico (ZEE) 6. ntegração- • Amazônia como una região do estrutura do - conflitos/construções Brasil imaginário social '- Quadro 1 - Mudanças estruturais na Amazônia ambientais negativos. Conflitos de terra entre fazendeiros, posseiros, serin- gueiros, índios, e desflorestamento desenfreado pela abertura de estradas, exploração da madeira, expansão agropecuária e intensa mobilidade espa- cial da população, impactos por todos devidamente conhecidos. Que lições podem ser extraídas da política regional de ocupação do território? O privilégio atribuído aos grandes grupos e a violência da implan- tação acelerada da malha tecnopolítica, que tratou o espaço como isotrópico e homogêneo, com profundo desrespeito pelas diferenças sociais e ecológi- cas, teve efeitos extremamente perversos nas áreas onde foi implantada, destmindo, inclusive, gêneros de vida e saberes locais historicamente construidos. Essas são lições a aprender como não planejar uma região. Tais constatações, contudo, não devem fazer tábula rasa das mudan- ças eslrulurais que acompanharam esse conflituoso processo. I\Judanças estruturais Há que reconhecer as mudanças estruturais (Quadro I) porquc são polencialidades com que a região pode contar para seu desenvolvimento (Becker,2001a). Mudança estrutural PrIncipais impactos Novas realidadesnegativos • migração/mobilidade do • acréscimo e diversificação da 1. Conectividade _ trabalho popuação estrulura de ~desnorestamento • casos de mobilidade articulação do • desrespeito às diferenças ascerx:lenle território sociais e ecolôgicas • acesso à informação. alianças/parcerias • urbanização • urbanização e industrialização de Manaus. Belém, São Luis, Marabá - grandes projetos - -ecoromia • segLn:fa no paíS/vaiar lotaI~. Industrialização- de erclave~ prodLÇào mineraleSlrutura da • Subsidio à grarde empresa • terceira no pa&' valor total daeconomia • desterritorialização e meio prodl.çãOde bef'5 de COnsLmO ambiente afetado tTucurUl) dll<iveis - transnacionalização da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) 3. Uma terceira mudança fundamental se deu na estrutura do povoamento. A Amazônia passou a ser uma floresta urbanizada; entre 1970 e 1996 a taxa de crescimento wbano na região foi a maior do país. Em 1996,61 % da popula- ção regional vivia em núcleos wbanos; e em 2000, 69,07%. O processo de wba- nização trouxe o problema da inchação das cidades, núcleos wbanos sem servi- ços para atender a população que se amontoa nas periferias, e de uma rede rurnl-urbana constituída de aglomerados'rurnis, verdadeiros favelõcs ern que a população reside, mas é mobilizada para atender a diversas tarefas no campo e na cidade. Apesar desses impactos negativos, a urbanização é um elemento fundamental para o desenvolvimento, porque os núcleos wbanos são os nós das redes de informação, são um mercado de trabalho altemativo para a população - podendo significar uma retenção da expansão sobre a floresta - e um mercado verde para produtos da floresta que não têm valor no mercado internacional. Fato novo: pela primeira vez na história recente da região, o urbano passou a ser um lugar de acumulação interna de capital justamente no momento em que há escassez de dinheiro público, observando-se inclusive, por vezes, um investimen- to em tomo dos núcleos urbanos. Uma outra mudança na estrutura do povoa- mento importante foi a desconcentração da população, ou seja, as cidades com menos de cem mil habitantes estão crescendo mais, relativamente às grandes metrópoles. As grandes cidades também cresceram, mas menos do que as cida- des de cinqilenta mil, e sobretudo as de até vinte mil habitantes, ligadas em parte à formação dos municípios, reduzindo a primazia histórica de Manaus e Belém. A urbanização se adensou mais justamente onde houve maior adensamento das rodovias e do povoamento, gerando um macrozoneamento regional: concentra- ção do povoamento, das estradas, das cidades e das atividades econômicas ao longo das rodovias, sobretudo no grande arco que contorna a hiléia, separadas por grandes extensões florestais com baixas densidades demográficas. 4. Talvez a mais importante mudança tenha sido a que ocorreu Illl eslrulura da sociedade, constituída pela organização da sociedade civil e as conquistas da cidadania. Ela é decorrência da ação conjugada dos vio- lentos conniloS soci<lis c ~1I11hit'rHais. da conectividade, da mobilidade da população - um processo Jllloroso de conscientização e de aprendizado social e político - t: da urbaniZ<.hl:ào, que veicularam a informação c trouxe- ram lima diversificação social com a atirmaçào de grupos sociais "tradicio- nais" e a fomlaçào de dtft..'n:nlcS segmentos da configuração capitalista. pequenos produtores. IlI,:lltll.'lln..; comerciantes que não existiam em expressão " 8EITIIAK. 8[(m na região até então. A mudança e a diversificação da estrutura social, a conscientização e o aprendizado político permitiram à população organizar suas demandas em projetos alternativos e reivindicar o seu direito à região de forma muito mais organizada graças, inclusive, às parcerias e alianças que não pode- riam ser feitas sem as redes de telecomunicações centradas nos núcleos urba- nos. A urbanização favoreceu o despertar da região na sua organização social e política. Hoje, o político está estimulando a urbanização. 5. Importante mudança foi a implantação da malha socioambiental, ou seja, uma verdadeira mudança na estrutura da apropriação do territó- rio. O processo de ocupação trouxe imensos conflitos de terra e de territorialidade, como é o caso, por exemplo, das populações indígenas, e dos seringueiros reivindicando o direito ao uso dos seus territórios. Mas desses conflitos emergiu a organização da sociedade e tal pressão, somada às do movimento ambientalista, está na base de novas formas de apropria- ção do território por grupos indígenas, seringueiros, pequenos produtores e pela multiplicação das unidades de conservação. 6. Enfim, a Amazônia passou a ter uma nova imagem como uma efetiva região do país, integrando-se na estrutura do imaginário nacio- tlal. E nesse processo de conflitos e mudanças, elaboraram-se geopolíticas de diferetl.tes grupos sociais e, fato novo na região, resistências à sua livre apropriação externa, tanto em nível da construção material quanto da organização social, que influíram no seu contexto atual. A transição para novo rumo Dois processos opostos têm como marco o ano de 1985. Por um lado, o esgotamento do nacional-desenvolvimentismo inaugurado na Era Vargas com a intervenção do Estado na economia e no território, cujo último gran- de projeto na Amazônia é o Calha Norte. Por outro lado, neste mesmo ano. um novo processo tem início com a criação do Conselho Nacional dos Seriogueiros, simbolizando movimento de resistência das populaçôes io- cais - autóctones e migranlcs - à expropriação da tcrra. A crise do Estado e à resistência social, somou-se a pressão ambicntalista intclllaciollai e nacional para configurar a Amazônia como Lima fronteira socioambiental entre 1985 e 1996, apoiada num novo vetor de desenvolvimento - tecnoecológico -, vetor entendido como a força resultante da coalescenciade múltiplos projetos. Os conflitos das décadas de 1970 e 1980 transfiguraram-se, organizando suas demandas em diferentes projetos de desenvolvimento alternativos, conservacionistas, elaborados a partir "de baixo". Para sua sobrevivência, graças às redes transnacionais, contam com parceiros externos, tais como ONGs, igrejas, partidos políticos, governos. Tratam-se de experimentos associados á biossociodiversidade, novas territorialidades que resistem á expropriação. Cada um desses experimentos se desenvolve em um dado ecossistema, Com popu- lações de origem étnica elou geogràfica diferente, estrutura sociocconõmica c política, técnicas e parccrias diversas (8ecker, 1997 e 200 la). Enfim, a estra- tégia básica desses grupos é a utilização das redcs dc comunicação que lhes permitem articular com atores em várias escalas geográficas. Mas o vetor tecnoecológico e a fronteira socioambiental por ele gerada não se resumem aos projetos coletivos e seus parceiros. Dele participam outros atores comoo G7, o Banco Mlmdial e o governo brasileiro. Inicialmente, através do Prol,>rama Piloto para Proteção das Florestas Tropicais Brasileiras (PP-G7), e a seguir com a criação do Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazõnia Legal e sua Secretaria de Coordenação dos Assuntos da Amazõnia Legal, que vem implementando uma política regio- nal voltada para um novo padrão de desenvolvimento sustentável. Se a lição ensinada por esse vetor é sua positividade social e ambiental, há, contudo, que registrar dois problemas que impedem a sua plena expan- são: a di ficuldade de inserção nos mercados, em virtude de carências gerenciais, de acessibilidade e competitividade, e a Sua característica pon- tuai. que não aleança escala significativa de atuação em tão vasta região. Tais problemas se acentuam a pm1ir de 1996, quando uma nova fase no processo de ocupação regional se configura. Fase marcada pela retomada do planejamento territorial pela União. JOl1alecendo o ,'etor tecnoindustriaI que pcnn3nccera 3ITeíecido na fase anterior. Tal '"elorreúnc projetos de atores interessados na mobilização de recursos natur~is c de negócios, como el11- presários, bancos, segmentos de- gO\'emos estaduais, federJis c das Forças Armadas, estas preocupadas com a soberania sobre ri região. O lançamento do Programa Brasil em Açjo em 1996. com sua :\~end<l de Eixos Nacionais de Intcgrnç:'io c DL's~ll\'ol,.ill1eJHo ampliado como A:.ança Brasil, para o periodo 1999-2003, é Ul1ll1lareona trajetória regional. Ainda em 1996, na tentalj\'a de ampliar a escala de sua atuação. o \.ctm tccnoecoló"ico propõe o Projeto dos Corredores Ecológicos ou de Conservação no âl11bit~do - ~ B'illll K. BEl"" PP-G7, grandes extensões constituídas de um mosaico de unidades de con- servação, terras indígenas, e reservas florestais privadas. Corredores de trans- porte e corredores de conservação consolidam, em 1996, políticas públicas paralelas e conflitantes, que expressam o novo significado adquirido pela Amazônia no processo de globalização. Novo geografia Amazônico o esgotamento do nacional-desenvolvimentismo, as mudanças estm- turais, o processo de globalização e o não menos importante processo de organização da sociedade civil provocaram tão rápida e abrangente mu- dança na Amazõnia e no país, que é mesmo difícil captar as marcas do novo contexto e definir diretrizes de ação. Tem-se como hipótese que tais dificuldades decorrem, em grande parte, da vigência de concepções que não mais correspondem á realidade regional e que devem ser superadas, para o que se apresentam algumas propostas de reflexão. A nova geografia amazônica A primeira proposta de reflexão refere-se ao fato de que as novas tendências nacionais, regionais e globais acentuarnm a diversidade interna da região configurando nova geografia amazônica que urge considerar para as ações de politicas públicas (Becker, 1999). Com efeito, a dinâmica regional na década de 1990 foi intensa e apresenta inov;]ções, como se pode verificar no processo de povoamento e no uso d;]terra. No que tange ao povoamento, ressaltam: a) a continuidade do proces- so de urbanização de tal sorte que, em 2000, 69,07% da população da re- gião Norte habitavam núcleos urbanos; b) a redução relativa da imigração e intensificação das migrações intra.regionais, destacando-se três novos corredores de ocupação: o que segue pela rodovia Cuiabá-Santarém. o que Sé estende pela estrada 1'0110Velho-Manaus continuando pela estrada que taz ligação dc-sta ci(bJe com a Venezuela, e o do baixo Amazonas par;] o :\mapJ: c) ,'ale aínd:l rl'l::!istrar o processo de descentralização adminislra- ti\.~lcom a lllultipli, ..::I)';jp de no\'os municípios. O usn da tl'lT:I :,c l'aracleriza pclu munutcnç:io de p:}(.1rõcs tr;juiL'iolliJisc a cllleri!ência til' n,)\"ns.Por um lado, persiste a reprodução do ciclo expansão da PC~I~~lria(.'\pl\ Ir;h;tlt I LI:I Illadeira/destlorestumento, porém não mais de for- Ill~lt:io C.'\ll'lbl'.a, (11Ih.:clllrando-se nas áreas já povoadas c em frentes de expansão localizadas ao longo dos novos corredores de povoamento. Por outro lado, duas grandes inovações se verificam na região. A primeira diz respeito à introdução da agricultura capitalizada. Ressalta a agroindústria de grãos, principalmente da soja. Se os cerrados do Mato Grosso respondiam até agora pela presença desta agroindústria, há numa nítida tendência de ela se expandir por outros estados. Mas a capitalização da agricultura não se reduz à expansão da agroindústria de grãos. É digno de nota o que se verifica em tomo de Marabá, com a melhoria da pecuária com métodos mais intensi- ,"os de criação. A segunda inovação se refere aos eco negócios. É bastante generalizada hoje na região a convicção de que é necessário melhorar o nível de vida das populações como condição para proteger O meio ambiente. Pe- quenos produtores, seringueiros e Índios tentam, assim, crescentemente, ven- der e certificar seus produtos. Entretanto, grandes investidores vislumbram a possibilidade de auferir grandes lucros com atividades de valorização não predatória do capital natural, tais como a madeira certificada obtida pelo manejo norestal, modemas plantações de açaí, ecoturismo. Agroindústria, pecuária melhorada e produtos certificados consti- tuem, sem dúvida, um incremento de produtividade até então estranho à região. A essa tendência acresce o movimento vinculado ao mercado de créditos de carbono, pela conservação ou replantio de florestas, na ver- dade. a mais rentável das novas oportunidades econômicas regionais, mas que tem fortes implicações políticas, tendo em vista o controle do território. Uma observação atenta desses processos sugere que a Amazônia não é mais apenas a grande fronteira nacional de expansão econômi- ca e demográfica que respondeu pela formação do chamado "arco do fogo" ou "do desflorestamento". embora frentes de expansão localizadas persistam, muitas delas são induzidas por dinãmicas internas à região. Nesse sentido, deve-se chamar a atenção para o dinamismo econômico que '"em ocorrendo no Sudeste e Sul do Pará, Tocantins, Mato Grosso e Rondônia que, na prática, toma obsoletas duas imagens sobre a região. A pri- meira imagem tlJl. respeito no "arco do logo ou do desflorestamento", desig- naçào absurda pJra l'S'i3 :Íreadinâmica, onde se localiza o Estado do {\1ato Grosso -UIll dos maiores produtores de soja no país e no mundo - e o Estado do Pará - onde. além da mineração. vem se desenvolvendo uma pecuária melhorada. J)~rll1iIJ\'~II11t.'ntenão se trata mais de uma fronteira, mas sim de uma árt.'3d~ PO\'OJIllt.'1l10consolidado. A segunda imagem diz respeito " BEll1llK. BmEl à própria "Amazônia Legal", construção geopolítica que hoje se deleta com a dinâmica socioeconômica do cinturão dinâmico que nem ecologicamente, nem economicamente, nem culturalmente participa da Amazônia. Embora haja interessepolítico em manter a "Amazônia Legal", esta e sobretudo o "arco do fogo" não são mais designações adequadas para a Amazônia, na medida em não expressam a realidade regional e, conseqUentemente, prejudicam a concepção e as práticas das políticas de desenvolvimento regional. É possível, assim, identificar três macrorregiões na Amazônia, com características e demandas diversificadas, tal como demonstra a figura nas páginas seguintes. Da política de ocupação à de consolidação do desenvolvimento As politicas públicas paralelas e conflitantes destinadas à Amazônia expressam, em grande parte, o desconhecimento da nova geografia ama- zônica que exige uma nova politica regional. A acentuação da diversidade interna na região não se restringe ao incre- mento da produtividade em certas áreas e ao cinturão dinâmico. A tendência dominante na região hoje é a de consolidação do povoamento e de desenvolvi- mento. E os estados amazônicos perseguem estratégias diversas para consoli- dar o povoamento e alcançar o desenvolvimento sustentáve!. Todos incluem o ecoturism~ como uma atividade básica, mas outras estratégias variam conside- ravelmente em função de seus contextos históricos. culturais e politicos, da sua localização geográfica e dos níveis em que foram afetados pelo recente pro- cesso de ocupaçâo. Os estados do Mato Grosso, Tocantins e parte dos estados do Pará, Maranhão, Rondônia e Roraima têm um modelo de ocupação extcn- sivo em área, baseado na agropecuária. Em contraste, o modelo de ocupação do Estado do Amazonas é pontual, fundamentado na concentraçào industrial na Zona Franca de Manaus e pretende mantê-lo, mediante investimentos em alta tecnologia. Contudo, os estados do Acre e do Amapá apostam el11l11odelos baseados na utilização conserv3cionista da floresta. Nno se trata mais, port.lllto, de ocupar () território. Ele jú está ocupa- do, e espera-se que as florestas existentes sl:jam mantidas com suas r~s. pectivas populações. No no\'o contexto. a prioridade uas políticas pllblicas para a região não dc\'e ser mais a ocupação do território. mas sim a política de consolidação do povoamento \'isando ao desel1\'ol\'iml:nto. almejndo hoje por todos os grupos sociais. Para muitos deles, um dcsen\'ol\'imento sllstelllún:1, embora estc conccito seja apropriado sob formas muito di"ersa5. • o." ,"' .. o • .. ".. '. 0, c o J / ,,, c o •.' "ti o < ,,,r. g 3 (\) ~~- °1o (\) .; :!: fi Dl .~ na à Na virada do milênio a demanda da região por desenvolvimento entra em sinergia com as novas tendências nacionais e globais. A política preservacionista então estabelecida em contraposição ao de- senvolvimento a qualquer custo, concretamente, resultou em três novidades: a) formação de grandes reservas de capital natural por meio da ampliação das áreas protegidas (Unidades de Conservação e Terras Indígenas) que, com o projeto Arpa (Áreas Protegidas da Amazônia) em curso, representarão 30% do território amazônico; recortes territoriais excluidos do circuito produtivo, mas também sib'J1ificando proteção da floresta e da terra, que são bens públicos e trunfos do poder do Estado; b) a presença de um novo ator na região, a "coope- ração internacional", envolvendo ajuda financeira e técnica com múltiplos atores - organizaçôes não governamentais (ONGs), bancos, agências de desenvolvi- mento, organizações religiosas - com forte poder de agenda e cooperação assimétrica; c) atenção especial aos grupos sociais excluídos, por meio da im- plantação de novos modelos de uso do território, como as Reservas Extrativistas (Resex) e os projetos demonstrativos para produção agrossilvicultural. Hoje, na virada do milênio, inicia-se o uso do capital natural reservado na década de 1990,acentuando-se a vertente da acumulação em contraposição à vertente ambienta lista. Observa-se um processo de mercantilização de elementos da natureza transformados em mercadorias fictícias, pois não foram produzidas para venda no mercado (Polanyi, 1980; Becker, 200 1)- que geram mercados reais, cuja regulação está em curso nos grandes fóruns globais. É o caso do mercado do ar, por meio do Protocolo de Quioto, o mais avançado; da Convenção sobre Diversidade Biológica, que procura superar os conflitos quanto à propriedade intclectual. c de múltiplas agências que tentam com grande dificuldade regularo uso global da água, considera- da o "ouro azul" do século XXI. Além disso, cresce o consumo de fármacos, extratos, cosméticos e de alimentos protéicos que não de origem animal, como já sinalizado pela soja. Poços de carhono - conhecidos ou não -. localizados não npenas na Ama/ônia. al~lIIhse cstabekccndo, inc!usin= mediante c:ol1lpra dI.' ~rca~ florestais '-, cl:rtilicac;ão da madeira com base em mallL'Jo llort:staI por grandes L'l1lpn:sas. econegócios para toda a SOrlt: ti..: produtores são sina- lizaçõt:s da no,,;) tendência, fortalecidas pelo falO de o Ban~o l\lulloial negligenciar o Seu papel de gestor no PP~G7 e ,'olt:.1r à sua Cunç;10 de banco, finanCiando projetos diretamente nos estndos. Simultaneamentl'. BEI1IIAK. BEan expandem-se os investimentos de empresas multinacionais no agronegócio, a partir do Mato Grosso, sobretudo da soja. Em nível nacional, é imperativa a urgência da retomada do crescimen- to econômico, com imprescindível inclusão social e conservação do meio ambiente. O necessário aumento da produção, da produtividade e da flui- dez do território - com a intensificação de redes de circulação, comunica- ção e de energia - conciliado com a geração de emprego e a conservação ambiental não é de modo algum trivial. A valorização da base de recursos naturais toma-se um elemento crucial na retomada do crescimento, haja vista o papel crescente das exportações de soja e de carne no balanço de pagamentos, sobretudo da soja: A escala de expansão alcançada por essa lavoura forma hoje um imenso cinturão ocupando os cerrados do Mato Grosso, da Bahia, do Maranhão e do Piauí, ex tendendo-se a oriente pelo Tocantins e pelas áreas desmatadas do Pará, e a ocidente por Rondônia e, em breve, pela Bolívia. Nesse contexto, um confronto gigantesco se configura entre dois mO"- dos de uso do território, baseados em formas de produção em dois tipos de ecossistemas distini:os, um uso atual e um uso potencial futuro: De um lado, o uso atual, em expansão no cerrado, comandado por grandes c~nglomerados internacionais - como a Bunge, Cargill, ADM _ e nacionais, como o grupo Amaggi, do governador do Estado de Mato Grosso; sua produção é baseada na pesquisa e no desenvolvimento e são dotados de logística poderosa, gerando uma forma específica de ordenamento do território. A demanda de tal modo de produzir é por expandir a produção e a logística, visando reduzir os custos de transporte para exportação. De outro lado, o uso do território que aponta para o futuro nos ecossistemas amazônicos florestais que têm baixa densidade de população, à exceção de enclaves empresariais (que estão deixando, aliás, de ser enclaves) e das cida- des, são utilizados pela economia extrativista elou pequena produção agricola. Sem conhecimento científico pleno de seu potencial e de tecnologias adequa- das à SU3 uttlizaçào, os ecossistemas amazônicos. no entanfo, dcn=m ser "Islns hoje na imensa escala da Amazônia sul-americana, ~ demandam um nl{)(!c:io de uso capaz de gerar liqueza e emprego e/ou trabalho sem destruir a floresta. o que só poderá s~rconseguido condicionado a oO"as tecnologias, O cinturão soja/boi vem provocando um revigoramcnto da fromeira móvel, que penetra na noresta amazônica em três frentes de expansão ~0111 forte desflorestamento a partir do Sudeste do Pará em direção à chamada Terra do Meio, e do Norte do Mato Grosso em direção à rodovia Cuiabà- Santarém e ao Sul do Estado do Amazonas, para o qual se dirige um fluxo que parte de Rondônia. Nesse contexto, as áreas protegidas tomam-sevul- neráveis e menos capazes de barrar a expansão da fronteira móvel. A administração desse confronto é um grande desafio para o governo federal, na medida em que ambos os usos, o atual e o futuro, são essenciais à economia e it sociedade nacional e que o confronto é acompanhado por conflitos de governabilidade que afetam a face interna da soberania sobre a região. O que não se justifica é destruir o potencial de um futuro _ jà pre- sente - da Amazônia, em nome do uso atual, que tem grandes espaços para se expandir no cerrado e nas áreas desmatadas. Além disso, a história do Brasil está repleta de experiências desastrosas baseadas em monoculturas orientadas para a exportação e dependentes da oscilação dos mercados externos. Os processos em curso revelam dois importantes fatos: a) o esgota- mento do ambientalismo preservacionista como modelo de desenvolvimento regional; b) o desafio de conceber um novo padrão de uso do território capaz de promover o crescimento econômico e a inclusão social com conservação ambiental, em que ciência e tecnologia assumem papel central. O outro não é o sentido das atuais politicas públicas. Políticos públicas atuais Para a maioria da nação, as políticas públicas, pouco nrticuladas. não permitem configurar um projeto nacional e o papel da Amazônia nesse projeto. Sob a complexidade do atual contexto, contudo, é possivel identifi- car um projeto nacional baseado: a) na inserção competitiva para assegurar um lugar no ccnnrio cconõ- mico e político globa Iem que o ajuste das contJS públicas. entendido C0l110 condição necessária à Jtração de in\'estimentos, c: o elclllento centrJI. Pé.lra tanto, o crescimento das exportaçües assume prioridade. N() plano t:.'\.tcrno. o projeto ainda incorpora a integração continental. necessária para ala!'!!ar o espaço econômico nacional e ganhar força política: b) no plano doméstico, enfatiza-se a questiio social - gcraç~10 de ri- queza, trabalho e renda - Com conservação ambiclllal e a rcgiollalilaç~lü das políticas. 'I I \ B[mu, K.B"xu o novo signlf1cado do patrimônio naturai amazônico para o desenvolvimento regional A Amazônia hoje é uma questão nacional. Seu imenso patrimônio na- tural pouco e ínadequadamente utilizado é um desafio à ciência nacional e mundial, e também um instrumento de pressão externa para adesão ao "norte" e de negociação do Brasil contra essa pressão. As politicas públicas destinadas à região a um só tempo expressam e con- foon3111 o no\'o contexto. Visam, corretamente, compatibilizar o crescimento econômico com a inserção social e a conservação ambiental; paratanto, contu. do, necessitam administrar intensos conflitos que resultam na paralisação das ações, gerando uma perversa defasagem de tempo em relação às ações da sociedade, muito mais ràpídas, e um forte clima de desobediência cívil. São vários os planos formulados para a Amazônia: a) O Plana Plurianual (PPA) 2004.2007, só no final do mês de julho de 2004 aprovado pelo Congresso, é o núcleo diretor dos demais planos e políticas que a ele devem se ajustar em ãmbito nacional e regional. Embora correto em sua proposição, contém contradições dificeis de solucionar, tais como promover o crescimento econômico com emprego e renda, tendo como bas~a dinamização do consumo de massa, ao mesmo tempo que estabelece a necessidade de elevar os investimentos e a produtividade, e de reduzir a vulncrabílidade externa, o que pressupõe menos emprego e ênfa- se nas exportações. A ênfase recorrente na regionalização das politicas e programas é um ponto positivo no PPA; b) O Plallo Amazôllia SlIslellfá,'el (PAS) representa um grande avanço na política para a Amazônia, estabelecendo as diretrizes gerais para a ação regional. Concluído em outubro de 2003, encontra-se ainda na Casa Civil, aguar- dando compatibilização com o PPA. Fundamenta-se no princípio da trnns\'I?I"Salidadee significa a inserçãoda variúvelambientalnaspolíticas setoriais, princípio expresso na c,iação de Gn,pos de Trabalho Intenninisteriais (GTls) para ~I.h.<in púhlica 'mrcgi50. Visando compatibilizar crescimento econômico, 1:l,.'J~l-..~itl..•ill.'l~1l ~ cons(,[Yí.lçào ambiental, t~1l1como mcta uma Amazônia 1110- llCrlll/alb l.' alnblentalmenle protegida, abandonandoa posturapreservacionista. :\tlndadl.': cslabl.:kce a conexão da ciência e tecnologia com a base de recursos na!crai ... para lima 1Hl\'í.l inserção nos mercados e geração de emprego e renda. SJ.\ ,.'mcu os eixos do PAS: I) produção sustentável com tt:cnologiJ 11l1l\'adtlra l.' \.'ompetiti\'idadc; 2) inclusão social: 3) gestào ambiental e AMI.z!Ii.lllSlBn\vll. ordenamento do território; 4) infra-estrutura para o desenvolvimento; 5) novo padrão de financiamento. Além disso, contêm uma estratégia espacial ba- seada na regionalização interna da região. O calcanhar-de-aquiles do PAS é a infra-estrutura para o desenvolvimen- to, gerando intensos conflitos, debates e resistências entreos "desenvolvimentistas" e os "ambientalistas", estes em parceria com os produtores familiares; c) O Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento. O objetivo geral deste plano é promover a redução das taxas de desmatamento na Amazônia, por meio de um conjunto de ações integradas - de ordenamento territorial e fundiário, monitoramento c controle, fomento a atividades produti- vas sustentáveis e infra-estrutura com base em parcerias entre governo, socie- dade civil e setor privado. A expectativa é reduzir os índices de desmatamento e queimadas, de grilagem de terras públicas e de exploração madeireira ilegal, e aumentar a adoção de práticas sustentáveis e a capacidade institucional na implementação integrada de medidas de prevenção e na viabilização de ativi- dades produtivas sustentáveis. Realizado igualmente por um Grupo de Traba- lho Interministerial e ajustado ao PAS, o plano já iniciou seus trabalhos; d) O Plano BR-163 Suslefllável está efetivamente em ação, embora a duras penas. A pavimentação da BR-I 63 (rodovia Cuiabá-Santarém), aber- ta na década de 1970, tomou-se o foco da guerra entre "desenvolvimentistas" e "ambientalistas", e é emblemática no contexto atual da Amazônia. Em face das pressões dos dois grupos, o governo federal decidiu criar um novo mode- lo para a implantação de-cstradas na Amazônia, partindo do pressuposto de que não é a estrada em si que necessariamente provoca desl1orestamcnto e expropriação dos produtores familiares, mas sim o modo pelo qual a estrada é planejada. Foram estabelecidas como medidas prévias a regularização fundiária, prevista pelo Inera a ser concluída em um ano (o que é difkil). ações emergenciais, consultas à sociedade c audiências públicas (já rt.'ali.-:a- das), o Estado do Pará já realizou um ZEE para lodo o seu território, c a Agência de Desenvolvimento da Âmazônia (ADA). ex-Sud~lIll. iniciou um outro detalhado. para 200 km1 em t0l110 lb rodm'ia" Inici:ldo em agosto (200-1). o plano teria sua primeira versão pronta no linal ún mesmo. Enquanto isso, contudo, lima enomlt.' grilíJgcm de.:tcn-as públicas _ tcita, aliás, com uso de tecnologia de satéliles -, acompanhada de explora- ção desordenada da madeira e de grande agressi\"idadc: dos fazendeiros, JcrescerHa obst,ículos ao planejamento, , , BII1llA K. BEaII c) A Política Nacional de Desenvolvimento Regional, ajustada ao PAS, é outro elemento da ação pública a considerar, Entendendo que as políticas para as regiões devem partir de uma visão nacional, essa política se baseia na identificação de mesorregiões para as quais deve ser formula- do um planejamento específico, no contexto dos princípios gerais. Tal ótica é fundamental, sobretudo, para a Amazônia, onde condições históricas, geográ- ficas, econômicas e culturais geram demandas e possibilidades de parcerias diversas, c a possibilidade de reduzir a pulverização de recursos favorecen- do a tão almejada presença do Estado. Mudanças em nível global,nacional e regional em sintonia indicam que a valorização do patrimônio natural amazônico é imperativo e urgente, para atender às demandas sociais e à competitividade internacional. Mas o desafio que se impõe não é trivial. Ele exige o uso do patrimônio sob uma nova ótica que supere a falsa dicotomia entre desenvolvimento e preservação ambiental. Para tanto, três estratégias parecem cruciais: a) o fortalecimento institucional; b) a estratégia espacial, por meio da regionalização, ajustando os prin- cípios das políticas públicas às diferenciações internas, de modo a melhor atendê-Ias c a não desperdiçar recursos, Outra questão associada à regionalização é o reconhecimento de que a Amazônia hoje deve ser pen- sada na escala da Amazônia sul-americana, tendo em vista a cooperação em termos do uso dos recursos e da garantia de soberania; c) o uso do conhecimento científico-tecnológico e a inovação como funda- mento de um novo modo de uso do tenritório para impedir a destruição da iloresla, atribuindo-lhe valor econômico para que possa competir com as comf1lodities e a exploração madeireira convencional. A utilização econômica da biodiversidade é a mais flagrante prioridade. Tendo em vista os imperativos inadiá\'eis de inclusão social, c não apenas de competitividade global, a inovação tecnológica não pode se ater a tecnologias de ponta, mas sim considerar dife- rentes níveis tecnológicos, desde as mais sofisticadas às mais simples técnicas. O Brasil já realizou importantes revoluções cientilico-lCcnológicas, tais como a exploração do petróleo em águas profundas. a Embracr, a transfomlação da cana-de-açúcar em combustível na i\lata :\tl5.ntica, a COf4 reção das condições ecológicas do cerrado, que permitiu a lavoura da soja e outros grãos. Já é hora de realiz:lr outra para O~ CÚ)s";lstemas nOl"estais amazônicos. Integraçlio d. Amazônia sul-americana A integração continental é parte do projeto nacional pelas razões aci- ma assinaladas. No caso dos estados amazônicos pelo menos mais duas ponderações devem ser acrescentadas: a) Importância da escala do capital natural da Amazônia sul-americana dos mais extensos do planeta, que constitui um trunfo para o desenvolvimen~ to se aproveitado adequadamente com tecnologias avançadas, e também um fato: poderoso de barganha no cenário econômico e político. A exigên- cia conjunta dos países amazônicos pela urgente regulação dos mercados do ar, da vida e da água será certamente uma força que beneficiará a todos eles; . b) As dificuldades a que estão submetidos os paises sul-americanos configurando um entorno de grande risco para o Brasil. Por um lado, registra- se a c~nvulsãofinanceira e econômica da Argentina, abalando o Mercosul, sugenndo que uma parceria amazônica poderia ser importante para reforçá- lo. Por outro lado, assiste-se à crescente presença militar na América Cen- tral e na fachada sul-americana do Pacifico. Após a Guerra Fria, verifica-se a mtenção de transformar os Andes em mare nos/rum, utilizando a instabili- da~epolitica dos países andinos e a Alca como contraponto estratégico. Essa pohtlCa é patente na instalação de bases de operação avançada na Costa RI."a, no Panamá, em Curaçau, no Equador, no Peru, na Bolívia e no Chile, alem do Plano Colômbia, um verdadeiro "cordão sanitário" em nome de con- tenção da crise colombiana. A Amazônia brasileira constitui uma resistência à instalação de bases e~trangelrasn~ terntório nacional e sul-americano. Nela, a incidência das pres- soes da globahzação se faz pela cooperação internacional técnica, científica e fi~anceJra, seja em projetos bilaterais, em grandes projetos com poderosos ~hados, ou em redes locais-globais de parcerias não devidamente conhecidas. E c~rtoque tal cooperação assume por vezes autonomia excessiva, mas vale regIstraro esforço ~o Ministério da Ciência e Tecnologia em assumir o Coman- do nessa relação. E certo, também, que não há hoje condiçôes no mundo de prescmdlr da cooperação int . I R I .. emaclOna, esu ta.aSSim,que a cooperação intcr- naclOnalpodeserumimportant . . _ .. e mstnnnento na mtegraçao regIonal, estabelecidas as negociações adequadas para eliminar uma cooperação assimétrica. É fácil ~ompreender que o TCA (Tratado de Cooperação Amazônica), em sua nova \ ersão pode constItuir b tãn .. .. ,, su S ClaInstitucIOnala essa resistência e integração, 42 , f, 1 .! B"TlIAK.B,,,,, Finalmente, uma proposta para reflexão: o que significa hoje integração e como efetuá-la? Trata-se de uma reflexão de alerta, envolvendo múltiplas questões, algumas das quais podem ser lembradas, tais como: a) A passagem da cooperação para a integração envolve o reconheci- mento e a compatibilização das diferenças, atribuindo especial importância ao papel da negociação. Isso porque íntegração nlio significa homogeneidade e perda de identidade, e sim ganhos em sinergia. Os oito Estados que par- ticipam do TCA são muito desiguais em sua extensão geográfica, em seu papel econômico e geopolítico e em sua presença nos organismos multilate- rais. exigindo grande sensibilidade para lidar com essas diferenças; b) No que tange à integração fisica, a proposta se fundamenta sobre- tudo na infra-estrutura (URSA, 2002), entendida como capaz de, automati- camente, gerar sinergia econômica e melhor qualidade de vida, O que é, pelo menos, discutível. Não se deve, c não se pode efetuar a integração segundo o modelo ue ocupação amazônica dos anos 1970, baseado na extensão de rodovias, indução da imigração e subsídios ao capital. Modelo que, em escalas va- riadas, foi utilizado em todos os oito paises. Se o capital natural é básico para a competividade regional, há que utilizá-lo de modo conservacionista. E. sobretlido, não será possível promover a integração sem intemalizar seu beneficios para as populações locais, sob o risco de afetar negativa- mente a govemabilidade. Ao que tudo indica, tecnologias avançadas terão um papel dominante n3 integraç;io tisica dos oito países. envolvendo as redes de pesquisa; as redes técnicas menos impactantes - de telecomunicações, de energia, de circulação fluvinl com equipamento moderno, de circulação aérea -, o plane- jamcnlo do liSO inlcbll"adoda água e dos eixos transfronteiriços; a biotecnologia, p3ra aproveitamento imediato da biodiversidade. QUJnto à IIlkrnalização do desenvolvimento em nível local, as lições ~lpfl:ndidas cnsinmn ser necessários; a definição de uma base econômica I.'tlI11p('liti,'acm rebç:io ao narcotráfico. envolvendo a agregação de valor ,!tl:. rl.....:lIrsn~ 113turaislocais; a utiliznção dos equipamentos tenitoriais exis- 11..'1111.. •••• constituíuus pebs redes de circulação e comunicação que convergem !1tI..; nllck'os urbanos; o f0l1alecimento das economias solidárias de fronteira, \.'111que cidades gêmeas e fluxos transfronteiriços representam embriões de IIl!l.'grJçoioa serem reforçados e convenientemente geridos. 43 Referências bibliográficas BECKER, B. K. Geopolítica da Amazônia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1982. ___ o Amazônia. Série Princípios. São Paulo: Ática. 1990. ___ o • Novos rumos da política regional. In: BECKER, 8.; MIRANDA, M. A. (orgs.) Geografia política do desem'olvimento suslenttÍw!l. Rio de Janeiro: Ed. 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