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HAITI, UM ESTUDO DE CASO

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Programa de Pós-graduação em Ciências Aeroespaciais - UNIFA 59 
 
 
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A FALÊNCIA DO ESTADO E AS QUESTÕES HUMANITÁRIAS PARA A 
COMUNIDADE SUL-AMERICANA: HAITI, UM ESTUDO DE CASO 
 
 
Carlos Alberto Leite da Silva1 
 
RESUMO 
 
O trabalho discute as dificuldades de implementação de ações humanitárias em 
relação a regiões onde ocorre a falência do Estado. Busca-se a compreensão dos 
óbices para a atuação da comunidade internacional, pela multiplicidade de fatores a 
serem identificados em níveis político e estratégico. A pesquisa apresenta a 
evolução dos fatos que culminaram com a crise humanitária do Haiti, em 2010, e 
procura identificar o grau de sinergia nas contribuições efetuadas pela Comunidade 
Sul-Americana. O universo delimitado trata da tragédia humanitária, tendo como 
amostra a atuação do poder político e da comunidade internacional, além dos 
resultados observados na atuação de instituições como a Força Aérea Brasileira. 
Observam-se as dificuldades impostas pela quebra do monopólio do uso da força. 
Palavras-chave: Estado. Soberania. Direito Humanitário. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Compreender a realidade da relações internacionais é verificar a 
participação de outros atores e fatores, além do Estado, como redes transnacionais, 
grupos terroristas, organizações não-governamentais, e as dificuldades de 
manutenção, em algumas regiões do mundo, da figura do Estado soberano. 
As recentes dificuldades ocorridas no Haiti, mostraram ao mundo mais um 
Estado onde convergem catástrofes humanitárias e ambientais, aliadas à 
desestruturação das instituições. A proximidade do Haiti dos interesses sul-
americanos permite a reflexão sobre a relevância do tema para as discussões sobre 
Estudos Estratégicos. O tema tem grande apelo pela dificuldade de delimitação dos 
diversos elementos que compõem as questões humanitárias da atualidade. Para as 
forças armadas brasileiras, a discussão é fundamental na compreensão das 
dificuldades em caracterizar os esforços a serem desenvolvidos, no apoio às vítimas 
de uma situação de quebra do monopólio da força, e pela multiplicidade de fatores a 
serem identificados em níveis político e estratégico, dentro do contexto proposto 
pela Estratégia Nacional de Defesa, em relação a participação da Defesa com uma 
 
1
 Carlos Alberto Leite da Silva – Tenente-Coronel da Ativa da Força Aérea Brasileira, Mestre em Ciência Política 
pela Universidade Federal Fluminense. Possui os títulos de Bacharel em Ciências Aeronáuticas pela Academia 
da Força Aérea, Bacharel em Ciências Contábeis, pela Universidade Federal do Maranhão e de Especialização 
em História Militar, pela UNIRIO. Atualmente é instrutor da Escola de Comando e Estado Maior da Aeronáutica. 
Programa de Pós-graduação em Ciências Aeroespaciais - UNIFA 60 
 
 
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agenda regional. Busca-se, então, verificar qual a atuação humanitária da 
comunidade sul-americana em um país que apresenta características de falência do 
Estado. 
Visando uma maior compreensão sobre o tema é importante a identificação 
do contexto onde se insere o Haiti, bem como a caracterização da evolução da 
desagregação institucional. 
O Haiti é um país das Caribe que ocupa o terço ocidental da Ilha Hispaniola 
(ou Ilha de São Domingos), possuindo uma das duas fronteiras terrestres da região, 
a fronteira que faz com a República Dominicana, a leste. Possui uma área de 27.750 
km² e uma população estimada em 8.121.622 habitantes, no ano de 2008. O país 
possui o IDH de 0,532, colocando-o na posição 149, daquele ranking, em 2007. A 
sua população está concentrada nas zonas urbanas, planícies costeiras e vales. 
Cerca de 90% dos haitianos são de ascendência africana. O resto da população é 
principalmente mulata, de ascendência mista caucasiana-africana. Uma minúscula 
minoria descende diretamente europeus ou levantinos. Cerca de dois terços da 
população vivem em áreas rurais2. 
Diversos elementos tem afetado as questões humanitárias no Haiti, 
determinando a sua fragilidade. O país tem sofrido sérios revezes em relação à crise 
interna, provocada a partir de 2004, com dificuldades no fornecimento de alimentos, 
pela crise financeira internacional e a devastação provocada pelo furação de 2008. 
Aliado a estes fatos, observou-se a ocorrência, em 12 de janeiro de 2010, de um 
terremoto de magnitude 7 na escala Richter. 
No período de 1994-2000, apesar de avanços como a eleição democrática 
de dois presidentes, o Haiti viveu mergulhado em crises. Devido à instabilidade, não 
puderam ser implementadas reformas políticas profundas. 
A eleição parlamentar e presidencial de 2000 foi marcada pela suspeita de 
manipulação pelo Presidente Jean Bertrand Aristide e seu partido. O diálogo entre 
oposição e governo ficou prejudicado. Em 2003, a oposição passou a clamar pela 
renúncia do Presidente Aristide. A Comunidade do Caribe, Canadá, União Europeia, 
França, Organização dos Estados Americanos e Estados Unidos, apresentaram-se 
como mediadores. Entretanto, a oposição refutou as propostas de mediação, 
aprofundando a crise. 
 
2 ENCICLOPEDIA BRITANNICA. Haiti. Encyclopædia Britannica Online, 27 jun 2010. Disponível em: 
http://www.britannica.com/EBchecked/topic/339254/Haiti Acesso em 27 jun. 2010. 
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Em fevereiro de 2004, ex-integrantes do exército haitiano (tontons macoutes) 
deram início a um levante militar em Gonaives, espalhando-se por outras cidades 
nos dias subsequentes. Gradualmente, os revoltosos assumiram o controle do norte 
do Haiti. Apesar dos esforços diplomáticos, a oposição armada ameaçou marchar 
sobre Porto Príncipe, onde se preparava uma resistência pró-Aristide. 
Aristide foi retirado do país, por militares norte-americanos, em 29 de 
fevereiro, contra a sua vontade, e conseguiu asilo na África do Sul. De acordo com 
as regras de sucessão constitucional, o presidente do Supremo Tribunal (Cour 
Suprême), Bonifácio Alexandre, assumiu a presidência interinamente e requisitou, 
de imediato, assistência das Nações Unidas para apoiar uma transição política 
pacífica e constitucional e manter a segurança interna. Nesse sentido, o Conselho 
de Segurança (CS) aprovou o envio da Força Multinacional Interina (MIF), liderada 
pelo Brasil, que prontamente iniciou seu desdobramento. 
A situação de crise e o colapso observados no Haiti, entre 2003 e 2004, 
levaram países do cone sul – Brasil, Argentina e Chile – a lançar, em 2004, uma 
iniciativa regional combinada com ação multilateral conduzida pelas Nações Unidas. 
 
 
MONOPÓLIO DO USO DA FORÇA E ESTADOS FALIDOS 
 
Alguns autores clássicos e contemporâneos permitem o entendimento da 
discussão sobre a falência do Estado, pela observação da problemática relacionada 
com a dispersão da violência. 
Hobbes3 explanou, na obra “Leviatã”, o seu ponto de vista sobre uma 
natureza humana negativa e a necessidade de governos e sociedades. De acordo 
com Hobbes, tal sociedade necessita de uma autoridade na qual todos os membros 
devem render o suficiente da sua liberdade natural, para permitir que a autoridade 
possa assegurar a paz interna e a defesa comum. Este soberano, quer sejaum 
monarca ou uma assembléia, deveria ser o “Leviatã”, uma autoridade 
inquestionável. 
No estado natural, apesar de alguns homens serem mais fortes ou mais 
inteligentes do que outros, nenhum se colocará acima dos demais, suplantando o 
medo de que outros homens lhe possam fazer mal. Por isso, todos teriam direito a 
tudo, e uma vez que todas as coisas seriam escassas, ocorreria uma constante 
 
3 HOBBES, Thomas. Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um Estado Eclesiástico e Civil. São Paulo: 
Editora Martim Claret, 2004 
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guerra, que ele denomina: Bellum omni omnes. Esta expressão seria, no 
entendimento de Bobbio4, “a guerra de todos contra todos”. Bobbio discute que, 
onde existissem as condições que caracterizam o estado de natureza hobbesiano, 
este seria um estado de guerra de todos os que nele se encontrassem. 
Segundo Hobbes5, no entanto, os homens têm um desejo, que é também 
em interesse próprio, de acabar com a guerra, e por isso formam sociedades 
mediante um contrato social. Para aquele autor, tal sociedade necessita de uma 
autoridade a qual todos os membros devem render o suficiente da sua liberdade 
natural, para que a mesma possa assegurar a paz interna e a defesa comum. Este 
soberano, quer seja um monarca ou uma assembléia, deveria ser o "Leviatã" , uma 
autoridade inquestionável, que se constitui no Estado. 
A discussão sobre o pensamento de Thomas Hobbes permite a 
compreensão da dificuldade em se manter uma sociedade onde os interesses 
individuais se destacam. A necessidade de um contrato entre os indivíduos 
pressupõe, no pensamento de Hobbes, a perspectiva de subordinação daqueles 
interesses a uma estrutura que restrinja os conflitos, utilizando a coerção. A 
ausência dessa estrutura (Estado) representa a possibilidade de um continuado 
conflito “de todos contra todos”. Nota-se que a desagregação da estrutura 
institucional no Haiti e a falta de uma autoridade política criaram as condições para a 
crise humanitária. O estado de “anomia”, identificado por Hobbes, reflete a falta de 
leis e a ausência de normas de conduta que permitam um convívio social que 
valorize o ser humano. 
Weber6 discute, no final do século XIX, a caracterização da vida em 
sociedade como linkada ao uso da força. O Estado é um instrumento de dominação 
do homem pelo homem, para ele, só o Estado pode fazer uso da força da violência, 
e essa violência é legítima, pois se apóia num conjunto de normas. 
Shultz Jr.7 discorre a respeito dos conflitos que ocorreram na década de 90, 
principalmente em regiões da África e Ásia. Ele cita: Líbano, Argélia, Chechênia, 
Tadjiquistão, Bósnia, Kosovo, Somália, Colômbia, Israel, Turquia, Iraque, Ruanda, 
Burundi, Timor Leste, Sudão, Sri Lanka e Angola. Destes, treze eram conflitos 
internos. Com o início do século XXI, novos embates aumentaram sua virulência em 
 
4 BOBBIO, Noberto. Thomas Hobbes. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1991, p.36 
5 HOBBES, Thomas. Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de um EstadoEclesiástico e Civil. Editora Martim 
Claret. São Paulo. 2004 
6 WEBER, Max.Ciência e Política: Duas Vocações. Trad. Jean Melville. Editora Martin Claret. São Paulo. 2005 
7 SHULTZ JR, Richard H, Dew Andrea. Insurgents, terrorists and militias: The Warrios of Contemporary 
Combat. New York: Columbia University Press, 2006, p.29 
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regiões como Serra Leoa (2000), Afeganistão (2001), Costa do Marfim (2002), 
Libéria (2003), Iraque (2003), Haiti (2003), Somália (2006) e Chade (2008). Todos os 
conflitos citados possuem elementos marcantes da atualidade: a quebra do 
monopólio do uso da força, por um dos contendores, papel tradicionalmente 
desempenhado pelo Estado, ocasionando a dispersão da violência; e a dificuldade 
de distinção, geradora de crises humanitárias. Entende-se distinção como a 
capacidade de diferenciação no tratamento previsto para os combatentes e vítimas 
(feridos, enfermos, prisioneiros de guerra e população civil), conforme preconizado 
pelo Direito Humanitário 
O termo “Estados Falidos” causa muitas discussões nos teóricos da Ciência 
Política por apresentar uma nova dimensão, presente principalmente a partir do fim 
da guerra fria, em que, Estados soberanos perdem sua capacidade de auto-
determinação, característica marcante do sistema internacional consagrado com a 
Paz de Vestifália, em 1648. 
Pressupõe-se que o Estado possue, na sua constituição, três elementos 
básicos: nação, com valores e interesses comuns; instituições, que visam o 
desenvolvimento da sua capacidade de gerir seus interesses, e o monopólio do uso 
da força, característica que permite a coesão daqueles interesses, evitando o estado 
de anarquia8. Thomas Hobbes, discutiu no “Leviatã”, a presença do Estado como um 
ente onde seus membros (povo), abrem mão de uma parte da sua liberdade9, 
visando o atendimento de interesses comuns (o medo da morte violenta). 
Segundo o relatório The Peace Reseach Center10 o aspecto fundamental da 
arquitetura internacional é a premissa que os Estados são soberanos, isto é, 
possuem capacidade de exercitar o legítimo controle sobre seu território e população 
e atuam com outros Estados. O mesmo relatório identifica, contudo, a presença de 
regiões onde o aparato institucional do Estado não consegue exercer o efetivo 
monopólio da violência, sob todo o seu território, ocorrendo lacunas nas instituições 
judiciárias, bem como a incapacidade de efetivarem suas obrigações internacionais, 
além de não conseguirem impedir a atuação de organizações criminosas que 
disseminam a violência. 
As três características citadas pelo relatório The Peace Reseach Center 
são: legado colonial, em Estados que foram submetidos a regulações de 
 
8 SALDANHA, Nelson. O Estado Moderno e o Constitucionalismo. São Paulo: Editora: José Bushatsky SP. 
1976 
9 BOBBIO, Noberto. Thomas Hobbes. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1991, p.43 
10 CIP-FUHEM, The Peace Reseach Center. Failed and Collapsed States in the International System. 
December 2003. P.4 
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exploração colonial e pela falta de autoridade interna para garantir a lealdade da 
população, pela falta de legitimidade de instituições enfraquecidas pela retirada dos 
colonizadores; o fim da guerra fria e a desestruturação ocasionada em regiões do 
terceiro mundo que passaram a ter um incremento dos conflitos entre facções rivais, 
pela perda da legitimidade do Estado; e o processo de globalização que provocou 
o livre fluxo de bens, como por exemplo acesso a armas, bem como o 
enfraquecimento do papel do Estado, que se vê submetido aos interesses 
internacionais. 
A discussão pode ser observada, ainda, nos trabalhos de Van Creveld, 
Holsti e Hobsbawn, que tratam das questões da falência do Estado e dos conflitos 
armados. 
Van Creveld11 mostra a evolução dos conflitos irregulares em regiões pouco 
desenvolvidas do mundo. O autor discute, na obra Transformation of War, a 
importância dos chamados“Conflitos de Baixa Intensidade”12. Estes conflitos seriam 
mais uma abordagem para as características presentes nas guerras irregulares. 
Segundo Van Creveld13, conflitos de baixa intensidade têm sido recorrentes 
desde o fim da 2ª Guerra Mundial. Os embates entre hindus e muçulmanos, no 
período de 1947-1949, mataram mais de um milhão de pessoas. Na Guerra Civil da 
Nigéria de 1966 a 1969 o número de pessoas mortas foi de três milhões. Durante o 
conflito no Afeganistão, no início da década de 80, cerca de um milhão de pessoas 
morreram e cinco milhões de pessoas se tornaram refugiados. Van Creveld 
menciona, ainda, que um número próximo de vinte milhões de pessoas morreram 
em diversas localidades como Filipinas, Tibet, Tailândia, Sri Lanka, Sudão, Etiópia, 
Uganda e Angola. 
O segundo aspecto apontado por Van Creveld, diz respeito às falhas na 
implementação dos sistemas de armas em combate, dadas as condições onde os 
conflitos de baixa intensidade ocorrem. Para ele14, as mais potentes forças armadas 
são largamente irrelevantes para a guerra moderna, já que a importância desta 
guerra esta inversamente proporcional a sua modernidade, pelo desconhecimento 
da conduta e do cenário onde os embates serão travados. A explicação para tais 
acontecimentos estaria, segundo Van Creveld, no fato das forças regulares 
 
11 VAN CREVELD, Martin. The Transformation of War. New York: The Free Press, 1991 
12 VAN CREVELD, Martin. The Transformation of War. New York: The Free Press, 1991, p. 20 
13 VAN CREVELD, Martin. The Transformation of War. New York: The Free Press, 1991, p. 21 
14 VAN CREVELD, Martin. The Transformation of War. New York: The Free Press, 1991, p. 32 
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considerarem no seu cálculo a trindade clausewitzana15 (povo, forças armadas e 
governo). Contudo, a maioria das forças em várias regiões do terceiro mundo, não 
tem um exército e seu governo não representa claramente o seu povo. Não tendo 
uma organização regular, nem experiência, nem armas pesadas, passam a deixar 
de utilizar armas abertamente, e vestir uniformes, para dificultarem a sua 
identificação, conseguindo uma vantagem sobre as forças regulares. Em todos estes 
locais não existe uma clara distinção entre combatentes e vítimas. Aliado a utilização 
destes métodos, as forças que constituem os conflitos de baixa intensidade usam 
uma combinação de violência e persuasão para trazer a população local para o seu 
lado, intimidando o inimigo16. 
O pensamento de Holsti17 sobre a natureza do conflito irregular utiliza a 
denominação “Guerras do Terceiro Tipo” associada a Estados fracos. Seriam todas 
as guerras que compartilhariam características estruturais sustentadas por legados 
coloniais e aspectos proporcionados pelas disfunções do sistema econômico 
mundial. Uma das características mais críticas é o baixo nível ou a falta de 
legitimidade vertical. Para Holsti, os principais apoios da legitimidade vertical seriam: 
autoridade, reciprocidade, confiança e responsabilidade, que mantêm largamente 
ausentes. Existe, para Holsti, uma perene contestação entre as autoridades 
nacionais, representantes do Estado, e os centros de poder local que detêm uma 
efetiva fidelidade de importantes segmentos da população. Estados fracos 
possuiriam, ainda, falta de legitimidade horizontal. Não há simples comunidades com 
membros, que tenham assinado um contrato social entre eles. Em vez disso existem 
numerosas comunidades e categorias que compartilham a natureza da política e 
estruturas autoritárias. A legitimidade horizontal falha em desenvolver ou é destruída 
quando, no Sudão, vários grupos ou comunidades, sistematicamente e dentro de um 
período de tempo, dominam, oprimem, exploram, forçam a assimilação ou ameaçam 
a segurança de outros grupos e comunidades18. O papel do Estado é seriamente 
limitado, no pensamento de Holsti19, pela resistência de centros locais, a corrupção e 
inércia da burocracia e a fragmentação social causada por razões religiosas, étnicas, 
tribais e culturais. 
 
15 ARON, Raymond. Pensar a Guerra, Clausewitz. A Era Planetária. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 
1986, p.19 
16 VAN CREVELD, Martin. The Transformation of War. New York: The Free Press, 1991, p. 59 
17 HOLSTI, K.J. The State, War and the State of War. Cambridge: Cambridge University Press ,1996 
18 HOLSTI, K.J. The State, War and the State of War. Cambridge: Cambridge University Press ,1996, p.115 
19 HOLSTI, K.J. The State, War and the State of War. Cambridge: Cambridge University Press ,1996, p.116 
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Hobsbawn20 defende que no início do século XXI, as operações armadas já 
não estão essencialmente nas mãos dos governos ou dos seus agentes autorizados, 
e as partes disputantes não tem característica, status e objetivos em comum, exceto 
quanto a vontade de utilizar à violência. A guerra tem ocorrido muitas vezes em 
áreas territoriais, sem a autoridade de governos efetivos que detenham o monopólio 
dos meios de coerção e onde o poder público deixou de ter aplicação. Alguns 
Estados teriam perdido, nos trinta últimos anos do século XX, boa parte da sua 
própria estabilidade e, cada vez mais, o sentido fundamental da legitimidade, ou da 
aceitação da sua permanência, que permitem aos governos impor obrigações 
consensuais aos cidadãos, como o pagamento de impostos e o serviço militar. 
Trata-se, ainda, do fato de que nenhum governo está, hoje, em condições de ignorar 
ou eliminar minorias internas armadas. O mundo estaria cada vez mais dividido em 
países capazes de administrar seus territórios e seus cidadãos efetivamente; e em 
um número crescente de territórios onde as fronteiras oficialmente reconhecidas 
como de Estados soberanos flutuam entre a debilidade, a corrupção e a não-
existência21. 
É importante salientar que a discussão teórica possui uma perspectiva que 
valoriza o pensamento de Hobbes. Um exemplo desta abordagem diz respeito ao 
prognóstico de Hobsbawn22 para o século XXI, ao tratar as guerras como menos 
mortíferas do que os grandes enfrentamentos bélicos do século XX, mas com uma 
violência armada gerando sofrimento e perdas desproporcionais, endêmicas e 
onipresentes. Para Hobsbawn, a perspectiva de paz no século XXI é remota. 
 
 
EVOLUÇÃO DA CONJUNTURA: 2003 A 2010 
 
Em virtude dos fatos apresentados, em relação ao Haiti, foram 
desenvolvidos esforços pela comunidade internacional para o restabelecimento da 
ordem institucional. Três aspectos orientaram a ação da Missão de Estabilização 
das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH): a manutenção da ordem e da segurança; 
o incentivo ao diálogo político, com vistas à reconciliação nacional; e a promoção do 
desenvolvimento econômico e social. 
 
20 HOBSBAWM, Eric. Globalização, Democracia e Terrorismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p.21 
21 HOBSBAWM, Eric. Globalização, Democracia e Terrorismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 34 
22 HOBSBAWM, Eric. Globalização, Democracia e Terrorismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 35 
 
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A participação da MINUSTAH observou a evolução do processo haitiano a 
partir de 2003, em três fases: 
• Fase I (2003-2004) – atuação efetiva dos Estados Unidos e França no 
período de falência do governo Jean Bertrand Aristide e da intervenção 
da Froça Multinacional Provisional. Em março de 2004, o governo do 
Chile anunciou a decisão de enviar tropas para o Haiti, com um total de 
508 soldados e 22 policiais, participando de uma força de pacificação 
junto com os EUA, França e Canadá. Na sequência ocorreu a 
incremento da participação do Brasil como observador e o empenho 
para a incorporação da Argentina na constituição do MINUSTAH. 
• Fase II (2004 – 2006) – Início da intervenção do MINUSTAH, que se 
caracterizou pelo uso moderado da força, o emprego da dissuação 
política e miltiar e a garantia da estabilidade para a transição política. 
• Fase III (2006 em diante) - Buscou-se garantir a estabilidade interna, 
contribuir para a reconstrução do Estado haitiano estimulando diversos 
campos de políticas públicas.Tais esforços seriam assegurados com a 
participação da MINUSTAH. Nota-se o aporte de recuros provenientes 
do Canadá, França, Alemanha, Japão, Espanha, Suécia, Estados 
Unidos e Brasil. Participaram, ainda, organizações como o Banco 
Mundial, Comissão Européia, Banco Interamericano de 
Desenvolvimento e Fundo Internacional para o Desenvolvimento da 
Agricultura. 
Notam-se os desafios da MINUSTAH em assegurar o restabelecimento do 
ordenamento institucional, do controle de abusos aos Direitos Humanos e o 
desarmamento de bandos armados, garantindo a segurança da população. Tal 
postura propiciou o desenvolvimento de condições mínimas para a realização de 
eleições no Haiti. 
Tornou-se fundamental a atuação de contingentes do MINUSTAH em 
operações policiais, visando a desativação e a contenção de grupos armados (ex-
militares, delinquentes e ativistas políticos leais a Jean Bertrand Aristide). 
Segundo Hirst23, a participação do Brasil no Haiti se destacou no âmbito da 
ação dos países latino-americanos pela sua abrangência e visibilidade. A tal esforço 
se conjugou a construção de um discurso oficial de países sul-americanos, no qual 
se buscou somar um sentido identitário regional às motivações políticas e 
humanitárias normalmente presentes na participação em operações de paz. Nota-se 
 
23 HIRST, Monica. A Intervenção Sul-Americana no Haiti. Análise de Conjuntura. Observatório Político Sul-
Americano. Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro. n. 6. Jun .2007. 
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a presença expressiva de tropas do Exército Brasileiro e contingentes da Marinha do 
Brasil, junto a MINUSTAH, no período de 2004 a 2009, além do incremento da 
participação da Força Aérea Brasileira, a partir do terremoto, em janeiro de 2010. 
Notam-se os esforços sul-americanos, destacando-se o Brasil, Chile e 
Argentina, como o Grupo Contadora e o Grupo de Apoio, além de iniciativas na 
pacificação de países da América Central. 
Em relação ao MINUSTAH ocorreu uma ampliação das responsabilidades 
de atores e organizações regionais em iniciativas de intervenção multilateral nas 
situações de quebra do monopólio da força. Notou-se a disposição de ser efetuada 
uma ação que garantisse o restabelecimento institucional e o apoio a ação 
humanitária de forma compartilhada, associando-se a uma organização multilateral 
(ONU)24, sem contudo vincular-se, ainda, a um projeto de construção institucional 
regional. 
 
 
ESFORÇOS EFETUADOS 
 
Em virtude da ocorrência do terremoto, no dia 12 de janeiro de 2010, 
observou-se o colapso da estrutural do Haiti. Foram efetuados esforços por Estados, 
organizações internacionais e não-governamentais25. Observa-se a atuação de 
diversas entidades que procuraram socorrer as necessidades de socorro às vítimas, 
bem como a necessidade de reestruturação institucional, que se encontravam 
colapsadas. 
 
24 O desenvolvimento da legitimidade e responsabilidade nas instituições do Haiti era considerado fundamental 
para a consolidação da estabilidade daquele país. UNITED NATIONS. Report of the Security Council Mission 
to Haiti (11 to 14 March 2009). Security Council. 2009, p.6 
25 Até junho de 2010 foram levantandos US4 876.727,27 em doações para aplicação para as vítimas do 
terremoto do Haiti. São listados, abaixo, os Estados e organizações internacionais que participaram do apoio ao 
Haiti: 
Estados = Brasil, Chile, Guiana, Guatemala, Equador, Peru, Nicarágua, Uruguai, El Salvador, Venezuela, 
República Dominicana, Panamá, Cuba, Colômbia, EUA, Mèxico, Canadá, Reino Unido, Dinamarca, Rússia, 
Itália, Holanda, Espanha, França, Suiça, Alemanha, Jordânia, Comissão Européia e China . 
Organizações Internacionais e Não-Governamentais= ONU, CICV, Banco Interamericano de 
Desenvolvimento (BID), Oxfam, Banco Mundial, ACDI, ACF, ACTED, ADRA, Aide et Action, ARC, AVSF, AVSI, 
Bioforce, CARE International, CECOSIDA, CEHPAPE, CISP, COOPI, CW, Deep Springs International 
Entrepreneurs du Monde, OCHA, FAD, FHED-INC, Finnchurchaid, Floresta, FRATERNITE NOTRE-DAME, 
Heartland, HFHI, HHI, HI, Hospital Albert Schweltzer, Hospital Sante Croix, HWA, ILD, IMC, Internews, 
INTERSOS, IOM, IRC, IRD, IRD, JRS, MARCH, WDM, Mercy Corps, MERLIN, NCA, OCHA, OHCHR, Plan, 
Project K.I.D, RedR UK, RI, Samaritan`s Purse, SC, Terre Des Hommes, UCODEP, UM Agencies: UNAIDS, 
UNDOCO, UNDP, UNDSS, UNEP, UNESCO, UNFPA, UM-HABITAT, UNHCR, UNICEF, UNIFEM, UNISDR, 
UNCIOSA, UNOPS, UNOSAT, USCRI, WCH, WFP, WHO, WMO, World Concer World YWCA e MVI. 
Fonte: UNITED NATIONS. Haiti Revised Humanitarian Appeal - 2010. Requirements, 
Commitments/Contributions and Pledges per Appealing Organization. Report as of 05-June-2010. 
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Por ocasião do terremoto, estima-se que morreram cerca de 217.000 
pessoas26, além de mais de três milhões de pessoas (1/3 da população) que foram 
diretamente afetadas pela catástrofe, e da destruição de cerca de 1,3 milhões de 
casas. A UNHCR estimou que cerca de 500.000 pessoas foram obrigadas a se 
refugiar fora da capital Port-au-Principe. 
Foram desenvolvidos esforços para apoiar a população desabrigada em 
relação às necessidades básicas. Foram, ainda, providenciados alojamentos em 
barracas, escolas, igrejas e residências no território do Haiti e próximo a fronteira 
com a República Dominicana. 
Em relação aos efetivos disponibilizados, houve a participação de diversos 
países, apresentando a seguinte disposição: 
• Efetivos militares: Argentina, Benim, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, 
Croácia, Equador, Espanha, França, Guatemala, Jordânia, Marrocos, 
Nepal, Paraguai, Peru, Filipinas, Sri Lanka, Estados Unidos e Uruguai. 
• Força policial e civis: Argentina, Benin,Brasil, Burkina Faso, 
Camarões, Canadá, Chade, Chile, China, Colômbia, Egito, El Salvador, 
França, Granada, Guiné, Jordânia, Madagascar, Mali, Maurícia, Nepal, 
Níger, Nigéria, Paquistão, Filipinas, Romênia, Federação Russa, 
Ruanda, Senegal, Serra Leoa, Espanha, Togo, Turquia, Estados 
Unidos, Uruguai, Vanuatu e Iêmen. 
Foram desenvolvidos esforços brasileiros, no sentido de participar 
efetivamento no apoio a reconstrução do Haiti, alinhando-se com os interessesespressos na Estratégia Nacional de Defesa27 de priorização em relação aos temas 
de interesse na América do Sul e Atlântico Sul. O mesmo documento, trata ainda, do 
apoio na ajuda humanitária e em operações humanitárias. 
Destaca-se a observação de que foram envidados os seguintes esforços da 
América do Sul: 
 
País Ajuda Efetuada 
Brasil 
Apoio com ajuda humanitária, através de pessoal, víveres e 
medicamentos, transporte de contigentes do MINUSTAH e de 
meios de apoio ao Hospital de Campanha. Deslocamento de um 
Hospital de Campanha para apoio às vítimas do terremoto. 
Chile 
Apoio de mantimentos e de um esquadrão para evacuação 
aeromédica, com helicópteros e aeronaves. 
 
26 UNITED NATIONS HIGH COMMISSIONER FOR REFUGEES. Situation Response 2010. Protection and 
assistance to internally displaced persons and host communities in Haiti. Geneva. 2010, p.3 
27 BRASIL. Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008. Estratégia Nacional de Defesa. Diário Oficial da 
República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 01 jul 2005. 
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Guiana Envio de um milhão de dólares para ajudar as vítimas. 
Equador 
Envio de profissionais para efetuar a busca e o resgate das 
vítimas, além de remédios e alimentos. 
Venezuela 
Envio de profissionais como médicos, bombeiros, e de Defesa 
Civil. 
Colômbia 
Envio de profissionais especialistas em desastres, além do 
fornecimento de remédios e alimentos. 
Argentina 
Apoio com um Hospital de Campanha, ao contingente do 
MINUSTAH. 
Fonte: UNCHR 
 
Na atualidade, ocorre ainda, a participação do Brasil, Chile, Argentina, 
Bolívia e Uruguai nos esforços de reconstrução ocasionados após o terremoto de 
2010. 
Foram transportados, pela Força Aérea Brasileira, 2.759,88 toneladas de 
ajuda humanitária (alimentos, remédios, itens de primeira necessidade) e apoio ao 
contingente do MINUSTAH, no ano de 2010, com aeronaves C-130 (Hércules), 
KC137, C-105 (Amazonas) e C-99. Foram voadas, em 2010, 3.769 horas no apoio 
ao terremoto do Haiti e ao contingente da MINUSTAH. Ressalta-se que cerca de 
2.000 horas foram efetivadas no apoio ao terremoto. 
Comparativamente, foram transportadas cerca de 370 toneladas de 
equipamentos e materiais no apoio aos contingentes do MINUSTAH, em 2009. No 
primeiro semestre de 2010 o volume de carga transportada ampliou-se em quase 
sete vezes, em relação a 2009, totalizando 2759 toneladas de apoio logístico. 
Nota-se que a média de transporte de carga aérea, no período de 2004 a 
2009, ampliou-se com a disponibilização de horas de vôo na faixa de 800 horas 
anuais, para um grande incremento que totalizou cerca de 3.700 horas, só no 
primeiro semestre de 2010. Além do transporte logístico, foram utilizadas aeronaves 
de transporte de pessoal (C-99, C-130 e KC-137), para o translado de pessoal 
especializado, autoridades brasileiras e corpos de militares e civis brasileiros. 
Entre janeiro e maio de 2010 foram efetuados mais de 50.000 
procedimentos de enfermagem, cerca de 20.000 atendimentos pelo Hospital de 
Campanha da FAB, além de ultrassonografias, exames de RX, laboratoriais e 
atendimentos odontológicos. 
As iniciativas desenvolvidas pelo Brasil qualifacaram-no como liderança 
regional nos esforços desenvolvidos pela América do Sul. Tal constatação é advinda 
da estrutura logística montada pelo governo brasileiro, em relação aos demais 
países da América do Sul. O apoio desenvolvido pelas forças armadas brasileiras foi 
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expressivo para as necessidades iniciais advindas da catástrofe no Haiti. A presença 
de autoridades civis brasileiras consubstanciou-se na participação do corpo 
diplomático, de autoridades da área de defesa, em equipes especializadas das 
Forças Armadas, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros. 
 
 
CONCLUSÃO 
 
Os dados apresentados permitem a compreensão dos esforços dispendidos 
pelas autoridades da América do Sul, no sentido de atender as necessidades 
advindas da catástrofe no Haiti, ocasionadas pela insolvência institucional e 
acrescidas pelo terremoto de janeiro de 2010. 
As questões discutidas pelos teóricos, em relação à falência do Estado e as 
questões contemporâneas presentes na quebra do monopólio do uso da força, 
podem ser constatadas na crise humanitária presente no Haiti. Observa-se a 
dificuldade no rápido restabelecimento da atuação do Estado, e a necessidade de 
um aporte significativo de recursos para propiciar uma atuação inicial, pelo 
agravamento das condições humanitárias. 
O pensamento de Thomas Hobbes discutiu a realidade presente no choque 
de interesses que ele caracterizou como “anomia”. Tanto para a comunidade 
internacional, quanto para a América do Sul, o Haiti expõe a relevância de 
legitimação da soberania para o sistema internacional. 
Os trabalhos de Van Creveld, Hobsbawn e Holsti estão alinhados com a 
discussão apresentada por Hobbes, e criam a necessidade da discussão, no campo 
dos estudos estratégicos, de novos caminhos a serem efetivados pelas autoridades 
políticas para um resgate do papel do Estado soberano, em situações onde permeia 
a dispersão da violência. 
Os esforços dispendidos deixaram claras as iniciativas governamentais 
pelos países sul-americanos, sem, entretanto, se configurarem em uma atividade 
coodenada, sob a supervisão de qualquer organismo regional. Contudo, observa-se 
o esforço precursor dos países do cone sul (Argentina, Chile e Brasil), no sentido de 
comporem uma força multinacional, que convergiu esforços com um organismo 
internacional (ONU), na busca da recuperação do monopólio do uso da força no 
Haiti, a partir de 2004. Ressalta-se, ainda, a iniciativa brasileira no sentido de 
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estimular a participação da Argentina nas ações que seriam desenvolvidas junto ao 
MINUSTAH. 
Em relação às forças internacionais, nota-se a participação de mais de trinta 
países com forças militares, policiais e civis, em ações de garantia da ordem e no 
esforço de restabelecer os sistemas de segurança, social e econômico haitiano. 
Com a ocorrência do terremoto, observa-se, ainda, a atuação de cerca de 80 
organismos internacionais e não-governamentais, na busca de diminuição da crise 
humanitária do Haiti. 
A presença das forças armadas brasileiras teve, como eixo principal, a 
atuação do Exército Brasileiro e da Marinha do Brasil, a partir de 2004. Após o 
terremoto de 2010, houve o incremento das atividades da Força Aérea Brasileira, 
com a utilização de um Hospital de Campanha. Depreende-se que a atuação das 
forças armadas brasileiras confirma o papel instrumentalizador do uso da força do 
Estado, em uma perspectiva presente na Estratégia Nacional de Defesa. Tal 
abordagem propicia esforços para a atuação em ações humanitárias e converge 
com os interesses manifestados pela Política de Defesa Nacional. 
A disposição dos meios diplomâticos e militares do Brasil no Haiti, serve 
como ponto de reflexão para o aprimoramento do papel das forças armadas 
brasileiras, no sistema internacional vigente, pela garantia dos interessesda 
soberania brasileira, e sua conjugação com as capacidades para o atendimento das 
necessidades advindas da difícil realidade do Haiti. O tema é de grande relevância 
para os interesses regionais do Brasil e os esforços de cooperação desenvolvidos 
pelos países sul-americanos. 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
 
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Universidade de Brasília, 1986. 
BOBBIO, Noberto. Thomas Hobbes. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1991. 
BRASIL. Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008. Estratégia Nacional de 
Defesa. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 01 jul 2005. 
BRASIL. Decreto nº 5.484, de 30 de junho de 2005. Política de Defesa Nacional. 
Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 01 jul 2005. 
COMITÊ INTERNACIONAL DA CRUZ VERMELHA. Convenções de Genebra de 
12 de Agosto de 1949. Genebra:Comitê Internacional da Cruz Vermelha, 1992. 
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