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USO DO CONDICIONAMENTO FISIOLÓGICO EM SEMENTES FLORESTAIS Engenharia Florestal- Silvicultura- Sementes Florestais Luiz Carlos de Oliveira Junior 2015 1 Introdução A utilização de técnicas que possam melhorar o desempenho e a qualidade de lotes de sementes é uma demanda cada vez maior, de forma a conseguir uma maior germinação e uniformidade, seja para confecção de mudas ou semeadura direta em campo. Quanto mais rápida a formação de uma muda em campo, menor será a susceptibilidade dessa aos fatores abióticos, como a seca e abióticos, como microrganismos patógenos. Em espécies de interesse agronômico, como milho e soja, as técnicas de pré- tratamento das sementes e manutenção em campo parecem estar bem mais avançadas quando se compara com sementes de espécies florestais, que ainda apresentam poucos estudos e muitos são contrastantes entre si, dificultando ainda mais chegar a uma conclusão sólida sobre técnicas que possam melhorar o desempenho desse tipo de semente em campo. Dentre os diversos métodos de tratamento de sementes, está o chamado condicionamento fisiológico, uma técnica muito propagada principalmente entre espécies de hortaliças, porém ainda pouco utilizada em culturas agrícolas e ainda mais discriminada em espécies florestais. É uma técnica relativamente de baixo custo, não tóxico ao ambiente e a semente e que, em teoria, otimiza o desempenho do lote em condições adversas de campo, já que através da hidratação controlada, principio básico do método, pode-se obter uma melhor preparação da semente para a germinação. Buscando-se entender melhor como o condicionamento fisiológico interfere na qualidade de lotes de sementes de espécies florestais, o objetivo foi analisar como diferentes espécies respondem a esse tratamento pré-germinativo, a fim de obter uma conclusão mais consistente se a técnica é realmente eficiente. 2 Revisão de literatura Os tratamentos pré-germinativos de sementes remetem aos tempos da Grécia Antiga (Paparella Et al. 2015). A capacidade de uma semente germinar em condições adversas, que também é o conceito de vigor de sementes, é o que se busca com os diversos tipos de técnicas, ou seja, aumentar o vigor, ou talvez os metabólitos que melhorem o desempenho do lote. A técnica denominada condicionamento fisiológico, ou somente priming, visa proporcionar essa melhora no vigor das sementes. As sementes apresentam um padrão de embebição trifásico, onde a fase I consiste em uma entrada rápida de água nas sementes, sendo uma fase basicamente física, a fase II é caracterizada por uma redução da absorção de água e a produção de metabólitos que serão de grande importância para a germinação e a fase III, que se inicia no momento que a radícula protrunde e se dá início o desenvolvimento da planta. No condicionamento fisiológico, busca- se basicamente manter a semente o maior tempo possível na fase II, dentro dos padrões biológicos, utilizando uma matriz sólida ou soluções osmóticas, como os sais de NaCl, KNO3 e MgSO; polietilenoglicol (PEG), manitol e sacarose, em uma temperatura pré-determinada (Scalon Et al. 2014). Após esse período pré-determinado, as sementes são retiradas da hidratação e podem ser colocadas para germinar ou secas novamente e armazenadas. A partir daí, espera-se obter os benefícios do tratamento. A reparação do DNA na fase II é considerada a chave do metabolismo pré-germinação, e é uma das principais teorias que apoia o método (Paparella Et al. 2015). Scalon Et al. (2014), estudando o osmocondicionamento gerado por PEG e KNO3 (PEG -1,0 MPa; PEG -1,0 + KNO3 -1,0 MPa; PEG -0,5 MPa; PEG -0,5 + KNO3 -0,5 MPa; KNO3 -1,0 MPa) e o condicionamento em água, juntamente com o sombreamento, em sementes de Barbatimão (Stryphnodendron polyphyllum e S. adstringens) concluíram que os agentes osmóticos e o sombreamento influenciam a germinação e o crescimento inicial dessas espécies, descrevendo o condicionamento em água como o mais adequado para essas espécies, dentro dos diversos sombreamentos utilizados. Já Mota Et al. (2013), trabalhando com Anadenanthera falcata, outra espécie arbórea do Cerrado brasileiro, constatou para esses mesmos tratamentos, porém com potenciais osmóticos diferentes (PEG -0,5 MPa; PEG -1,0 MPa; PEG -0,5 MPa + KNO3 -0,5 MPa; PEG -1,0 MPa + KNO3 -1,0 MPa; KNO3 -0,5 MPa; KNO3 -1,0 MPa) e o condicionamento em água, observaram uma redução na germinação dessa espécie quando se utilizou PEG isoladamente, descrevendo a possível causa dessa redução devido ao potencial osmótico utilizado. Kissmann (2011) testaram a embebição de Jacaranda decurrens subsp. Symmetrifoliolata Farias & Proença em PEG -1,0 MPa; PEG -1,0 Pa + KNO3 -1,0 MPa; KNO3 -1,0 MPa e Água, porém não encontraram diferença estatística entre nenhum desses tratamentos para as características analisadas, porém a variação de temperatura e tempo de condicionamento apresentou diferenças, sendo que tempos mais longos foram até mesmo prejudiciais ao lote. O trabalho de Brancalion Et al (2010) com Guazuma ulmifolia, concluiu que sementes condicionadas somente em água e em PEG -0,8 MPa propiciaram uma melhora no desempenho do lote, quando condicionadas por 56 horas. Por sua vez, Masetto & Scalon (2014) condicionaram sementes de Hancornia speciosa Gomes em PEG nos potenciais de - 0.2; -0.4; -0.6 MPa e em água, por dois dias em temperatura de 25ºC e puderam observar que não houve diferença significativa no uso desse tratamento, indicando que sementes dessa espécie não precisam de osmocondicionamento com solução de PEG para conseguir valores altos de germinação. Para Sesbania virgata, Masetto Et al. (2013) testaram o osmocondicionamento em solução de PEG nas concentrações -0,2; -0,4; -0,6 e -0,8 MPa por 12, 24 e 48 horas. Nesse trabalho, observaram que, para sementes que sofreram envelhecimento acelerado, o condicionamento por mais tempo (24 e 48h), apresentou melhores resultados, concluindo que esse tratamento proporciona benefícios para sementes de S. virgata em relação à germinação e ao índice de velocidade de germinação, sendo o período de 24h de condicionamento o mais indicado para essa espécie. Já Alvarado-Lopez Et al. (2014), em um experimento onde sementes de Tecoma stans e Cordia megalantha foram condicionadas em uma matriz sólida composta por solo em ambiente natural, onde as sementes ficaram enterradas no campo e ambiente de laboratório (23 - 25 °C e 20 - 50% humidade relativa do ar). Os dois tipos de condicionamento apresentaram resultados positivos na germinação das duas espécies, principalmente propiciar uma maior mobilização de reservas durante o condicionamento. Kissmann Et al. (2013) testaram o condicionamento fisiológico em solução osmótica de PEG em sementes de Bixa orellana L. em dois experimentos, o primeiro utilizando PEG 6000 -1,0 MPa; PEG 6000 -1,0 MPa + KNO3 -1,0 MPa; KNO3 -1,0 MPa; água e água deionizada, em temperaturas de 10 e 20°C, durante 0 (controle), 6, 12 e 24 h e o segundo com PEG 6000 + KNO3 e em água deionizada, e incubadas a 10°C durante 24 h, além da testemunha e, semeadas em sacos de polietileno e acondicionadas em casas de vegetação sob sombreamento de 0, 50 ou 70%. As condições mais eficientes para o condicionamento de sementes foi o uso de solução mista de PEG + KNO3 sob 10°C após 24 horas de embebição. Braga Et al. (2012), trabalhando com hidratação controlada de pinhão manso (Jatropha curcas L.), imergiu essas sementes em água destilada, a 20oC, e com isso pode-se observar uma melhora do desempenho do lote após as sementes serem secas e colocadas para germinar. Entretanto apenas as sementes de qualidade fisiológica intermediária foi beneficiada pela hidratação. Por fim Liu Et al. (2013) realizaram um trabalho com pinhão branco e puderam observar que o condicionamento fisiológico auxilia na quebra de dormência destas sementes, podendo indicar que esta técnica pode ser usada para este fim. 3 Conclusão Baseado nos trabalhos elucidados acima pode-se inferir que o condicionamento fisiológico de sementes florestais age de formas diferentes dependendo da espécie com que se está trabalhando. Além disso, outros fatores estão diretamente relacionados ao sucesso ou falha deste tratamento, por exemplo, temperatura, o tempo em que as sementes são expostas a solução condicionante, o potencial hídrico dessa solução, luminosidade e armazenamento. Muito dos estudos mostraram uma melhora significativa na germinação, velocidade de germinação e uniformidade de lotes de sementes tratadas por este método, porém outros trabalhos mostram que este método não interfere ou até mesmo diminui a qualidade das sementes. Logo deve-se ressaltar a importância da realização de estudos focados para cada espécie já que os resultados são muito diversos entre cada uma dessas. 4 Referências bibliográficas ALVARADO-LOPEZ, S.; SORIANO, D.; VELÁZQUEZ, N.; OROZCO-SEGOVIA, A.; GAMBOA-DEBUEN, A. Priming effects on seed germination in Tecoma stans (Bignoniaceae) and Cordia megalantha (Boraginaceae), two tropical deciduous tree species. Acta Oecologica 61 (2014) 65 - 70. BRANCALION, P. H. S.; TAY, D.; NOVEMBRE, A. D. L. C.; RODRIGUES, R. R.; MARCOS FILHO, J. Priming of pioneer tree Guazuma ulmifolia (Malvaceae) seeds evaluated by an automated computer image analysis. Scientia Agricola, (Piracicaba, Braz.), v.67, n.3, p.274-279, May/June 2010. 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