Buscar

As pesquisas em erosão do solo realizadas pelo IAPAR entre 1975 e 1999

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

1 
As pesquisas em erosão do solo realizadas pelo IAPAR entre 1975 e 
1999(1) 
 
Tiago Santos Telles
(2)
; Rafael Fuente Llanillo
(3)
; Carlos Eduardo das Neves
(4)
; Graziela 
Moraes de Cesare Barbosa
(5)
 
 
(1) 
Trabalho executado com recursos do CNPq.
 
(2) 
Pesquisador B, Instituto Agronômico do Paraná, Londrina, PR, E-mail: telles@iapar.br; 
(2) 
Pesquisador C, Instituto 
Agronômico do Paraná; 
(3)
 Mestrando em Geografia, Universidade Estadual de Londrina; 
(4) 
Pesquisador B, Instituto 
Agronômico do Paraná. 
 
 
 
RESUMO: Desde a sua criação, na década de 
1970, o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), 
realiza atividades de pesquisa sobre o manejo e a 
conservação dos solos agrícolas no estado do 
Paraná, com destaque aos estudos sobre erosão. 
Nesse contexto, o objetivo desse trabalho é 
apresentar, através de um resgate histórico, as 
pesquisas e os programas realizados no estado do 
Paraná, que possibilitaram o desenvolvimento de 
tecnologias e medidas conservacionistas para o 
controle da erosão do solo. Para tanto, foram 
utilizados os relatórios técnicos anuais, os relatórios 
de experimentos do IAPAR e os boletins técnicos, 
empregando o método de pesquisa historiográfica. 
Um amplo trabalho de planificação de uso, manejo e 
conservação dos recursos naturais foi executado, 
com destaque nas microbacias hidrográficas, 
representando um feito pioneiro no Brasil, pelo seu 
enfoque, duração e dimensões. 
 
Termos de indexação: manejo e conservação do 
solo e da água, história, Paraná. 
 
INTRODUÇÃO 
 
O estado do Paraná ao longo dos séculos 
passou por ciclos econômicos de Mineração de 
Ouro, do Tropeirismo, de Erva-Mate, da Madeira e 
do Café até meados dos anos 1960. Com a crise 
cafeeira no Norte e a abertura de novas áreas no 
Oeste, o estado se incorporou ao processo da 
Revolução Verde da produção de grãos em 
sistemas intensivos de preparo de solo (Konzen & 
Zaparolli, 1990). 
No entanto, práticas agrícolas inadequadas 
advindas desse sistema contribuíram para o 
aumento dos processos erosivos e a consequente 
perda do potencial produtivo em muitas áreas 
agricultáveis, principalmente, pela perda de 
nutrientes, diminuição da matéria orgânica e 
aumento da acidez do solo (Derpsch et al., 1986; 
1991). 
A preocupação com tecnologias para o controle 
do processo acelerado de erosão dos solos 
agrícolas,criou uma nova demanda de pesquisa. 
Assim, a partir dos anos de 1970, atividades de 
pesquisa e de desenvolvimento sobre o manejo e 
conservação dos solos agrícolas, no estado do 
Paraná, com destaque aqueles diretamente 
relacionados a tema da erosão, foram realizados 
pelo IAPAR (Castro Filho et al., 1991). 
Nesse contexto, objetiva-se realizar um resgate 
histórico das pesquisas sobre erosão do solo 
realizadas pelo Instituto Agronômico do Paraná 
(IAPAR). 
 
MATERIAL E MÉTODOS 
 
Foram utilizados os relatórios técnicos anuais, os 
relatórios de experimentos, os boletins técnicos e as 
demais publicações sobre erosão do solo, do 
Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR). 
Para realização do estudo foi empregado o 
método de pesquisa historiográfica. 
Para melhor visualização da espacialização dos 
experimentos em erosão do solo realizados pelo 
IAPAR, com o uso do software ArcGIS 9.1, efetuou-
se um mapeamento síntese das parcelas onde se 
realizaram os ensaios. Para isso, utilizou-se uma 
base cartográfica por municípios, referente ao 
estado do Paraná. 
 
RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
A execução dos programas e políticas públicas 
de conservação de solos e águas no estado do 
Paraná, contavam com o suporte técnico de 
pesquisas do IAPAR, tendo sido um dos motivos de 
sua criação em 1972, atender a sociedade 
paranaense no tocante ao controle da erosão. Como 
a erosão era um problema para o setor agrícola 
desde a ocupação do Norte, Oeste e Sudoeste do 
Paraná nos anos 1950 e com a intensificação da 
agricultura no modelo da Revolução Verde no fim da 
década de 1960 e no início da de 1970, foi feito um 
grande esforço de pesquisa no IAPAR através de 
seu Programa Manejo e Conservação de Solos na 
segunda metade dos anos 1970 e durante os anos 
1980. Esse Programa chegou a contar com o 
envolvimento de 25 pesquisadores e da sua agenda 
de pesquisas foram originadas práticas integradas 
 
 
 
 
2 
de manejo e conservação de solos inclusive o 
desenvolvimento do Sistema Plantio Direto que 
deram suporte técnico à implantação desses 
programas de desenvolvimento rural 
conservacionista já relatados. 
Um dos primeiros projetos de C&T executado no 
IAPAR pelo Programa Manejo e Conservação de 
Solos, foi realizado em pareceria com a GTZ, dentro 
de um projeto denominado “Minimização do 
processo erosivo pela identificação das causas e 
dos níveis aceitáveis de perdas do solo em 
diferentes sistemas de uso e manejo”. O referido 
projeto foi desenvolvido entre os anos 1975 e 1992 e 
teve como objetivo identificar sistemas de uso e 
manejo do solo que reduzissem as perdas de solo, 
água e nutrientes pelo processo erosivo em nível de 
estado. Também se destaca o projeto denominado 
“Controle da Erosão do Solo no Estado do Paraná”, 
o qual visou, entre 1977 e 1985, recuperar e 
preservar o potencial produtivo dos solos 
paranaenses que vinham sendo degradados com a 
expansão da agricultura na região (Derpch et al., 
1991; 2010). Com essa rede de colaboração se 
avançou nas pesquisas acerca do SPD no estado 
do Paraná. 
Assim, a necessidade de informações acerca 
dos problemas da erosão rural no estado do Paraná, 
juntamente com a política nacional (PCNS) e 
estadual (PROICS) de conservação de solos, levou 
o IAPAR a desenvolver atividades de pesquisa em 
parcelas experimentais, visando avaliar os custos e 
a eficiência do controle da erosão sobre diferentes 
condições físico-geográficas (clima, solo e relevo) e 
de manejo. 
Buscou-se ainda, avaliar as perdas através de 
distintas parcelas, chuva natural e simulada, 
distintas culturas agrícolas, formas de preparo, tipos 
de solo e declividades, para que com isso, fosse 
possível estabelecer práticas conservacionistas e 
homogeneização de tecnologia, diminuindo 
praticamente metade das perdas de solo gerado 
pela erosão. Para tanto, a partir de 1975 foram 
instalados, pelo IAPAR, parcelas experimentais em 
diferentes municípios (Bela Vista do Paraíso, Campo 
Mourão, Cerro Azul, Cianorte, Ibiporã, Lapa, 
Londrina, Morretes, Paranavaí, Ponta Grossa e 
Rolândia) para avaliar as perdas por erosão 
(Figura 1). 
As primeiras parcelas de erosão, com 11 m x 3,5 
m (38,5 m²) e de 22 m x 3,5 m (77 m²), foram 
instaladas em Londrina, no ano de 1975, em 
Latossolo Vermelho distrófico (LVd) antigo Latossolo 
Roxo distrófico (LRd), com 6% de declividade. Os 
experimentos foram realizados entre 1976 e 1999, 
conduzidos tanto com chuva natural quanto com 
chuva simulada, em solo sem cultura (solo 
descoberto) e com as culturas de algodão, café, 
milho, pousio, soja e trigo, em preparo convencional 
(PC) e SPD. Os tratamentos ocorreram em cafeeiro 
plantados com espaçamento 4 x 2 m e em solo sem 
cultura a partir de duas repetições, que foram 
sulcadas e escarificadas todos os anos e dispostas 
no sentido do declive. 
 
 
Em Londrina delimitou-se parcelas por meio de 
chapas galvanizadas de 0,30 metros de altura por 
2,50 metros de comprimento, cravadas no solo. Na 
parte inferior das parcelas foram instaladas calhas 
coletoras, conectadas a um conjunto de tangue, 
dotados de divisores de vazão. O tratamento com 
cafeeiro foi conduzido por dois ciclos de cultivo: 1) 
do plantio as 62º mês de cultivo, ou pleno 
estabelecimento após recepa, iniciado ao 99º mês e 
finalizado 182º mês de cultivo. Os estágios de 
cultivo do cafeeiro, do tratamento
após recepa, 
foram determinados segundo as práticas culturais 
aplicadas assim distribuídas: arruação (março-
agosto) e esparramação (setembro-fevereiro). 
Em Bela Vista do Paraíso os experimentos 
ocorreram, na Fazenda Horizonte, entre 1976 a 
1990, e foram conduzidos em parcelas de 38,5m² e 
77m² montadas e plantadas no sentido do declive, 
sob condição de chuva natural, Argissolo Vermelho-
Amarelo distrófico (PVAd), 4% de declividade, 
rampa de 11 e 22 m de comprimento, com solo sem 
cultura, café (plantado no sentido do declive) em 
espaçamento 4 x 2, e através da rotação das 
culturas de algodão, arroz, aveia, , milho, soja, 
sorgo, tremoço e trigo (plantadas em nível), a partir 
de PC, SPD, plantio mínimo com grade (PMG) 
plantio mínimo com escarificador (PME). 
Os experimentos de Ibiporã foram realizados 
entre 1987 a 1991 em parcela de 11 m x 3,5 m (38,5 
m²), rampa de 11 m de comprimento, 12% de 
 
Figura 1 – Parcelas experimentais para pesquisa 
em erosão do Instituto Agronômico do Paraná 
(IAPAR). 
 
 
 
 
3 
declividade, sob Nitossolo Vermelho eutrófico (NVe), 
em condição de chuva natural. Os experimentos 
ocorreram sem repetições, com a sucessão aveia, 
soja, milho, algodão, a partir de PC, dispostos no 
sentido do declive. 
Entre 1981 a 1991 realizaram-se ensaios em 
Campo Mourão em parcela de 4% declividade, 
77m²m e 38,5m², com rampa de 22 e 11 metros, 
respectivamente. Os mesmos ocorreram em 
condição de chuva natural, sob Latossolo Vermelho 
distrófico (LVd), com a sucessão das culturas do 
trigo e soja e solo sem cultura em PC e SPD. 
Em Paranavaí os experimentos ocorreram entre 
1981 a 1991, em parcelas de 77 m² e 38,5m², com 
rampa de 22 m 11 m de comprimento, 
respectivamente, chuva natural, em solo sem cultura 
e com a rotação das culturas de amendoim, café, 
cana-de-açúcar, colonião, mamona, mandioca, 
milho e tremoço (Lupinus), sob Latossolo Vermelho 
distrófico (LVd), 4% de declividade e a partir do 
tratamento de PC, todos conduzidas no sentido do 
declive. 
No município de Rolândia os experimentos foram 
com chuva natural, tendo como culturas a sucessão 
soja e trigo a partir de PC e SPD. 
Os ensaios efetuados na parcela experimental de 
Ponta Grossa ocorreram entre 1977 e 1998 
realizados a partir de chuva natural em parcelas 
padrão de 38,5m² e 77 m², em rampas de 11 e 22 
metros de comprimento, respectivamente, 
declividade de 8%, sob Latossolo Vermelho 
distrófico (LVd). Houve também experimentos em 
duas macroparcelas de 5.000m² com rampa de 50 
m, e declividade de 6,9% e 7,1%. Efetuou-se 
também, um experimento em uma macroparcela de 
10.000m² com rampa de 100 m, declividade de 
8,1% a partir de Latossolo Vermelho distrófico (LVd). 
Os experimentos que ocorreram na parcela 
padrão de Ponta Grossa dividiram-se em duas 
fases. A primeira corresponde ao período de 1977 a 
1990, onde se estabeleceram quatro tratamentos. 
Em dois mensuraram-se a sucessão trigo e soja e 
os demais se mantiveram sem cultura, cultivados 
com SPD e PC. Na segunda fase, entre 1990 e 
1998, passou-se a trabalhar com seis parcelas, 
avaliando-se a sucessão das culturas da aveia, soja, 
ervilhaça, milho, trigo e soja, sendo as demais 
mantidas sem cultura, sendo utilizados PC, SPD, 
preparo com escarificação com duas gradagens 
leves (PEGL), dispostos no sentido do declive. Já os 
experimentos em macroparcelas, ocorreram entre 
1981 e 1991, a partir de três distintos sistemas de 
sucessão de trigo e soja e em rotação para as 
culturas de adubo verde, aveia preta, milho, soja, 
tremoço e trigo, através do preparo com arado de 
disco hidráulico reversível (PADHR), preparo 
mínimo (PM), grade pesada (GP), PC e SPD, 
dispostos em nível. 
Os ensaios efetuados na parcela experimental de 
Lapa ocorreram entre 1985 e 1994 dispostos em 
parcelas de 38,5m² e 77 m² com rampa de 11 e 22 
m de comprimento, respectivamente, em declividade 
de 24%, em Cambissolo Háplico (CX) a partir de 
chuva natural. Os experimentos realizados em solo 
sem cultura ocorreram a partir do PC, dispostos 
morro abaixo para os anos de 1986 a 1991. Os 
experimentos realizados a partir de 1989 ocorreram 
com a cultura da aveia, batata, feijão, forrageira 
perene (coast-cross), gramínea (pensacola), 
mandioca, milho, laranja-ponkan e tremoço, através 
de plantio em nível e morro abaixo sob o tratamento 
de PC. Os tratamentos com repetição, na sucessão 
das culturas de milho e feijão, foram cultivados com 
tração animal e em solo sem cultura nas parcelas de 
38,5 m². 
Em Cianorte os experimentos ocorreram entre 
1985 e 1994 a partir de chuva natural, em solo sem 
cultura e nas culturas de milho, soja e trigo, através 
de PC e SPD, dispostos no sentido do declive. 
Em Morretes os experimentos ocorreram entre 
1985 a 1994 em parcela de 77 m² com rampa de 22 
m de comprimento, a partir de chuva natural e 
preparo de solo sem cultura, através de PC disposto 
morro abaixo, declividade de 36%, sob Argissolo 
Vermelho-Amarelo (PVA). 
Em Cerro Azul os experimentos de perda de solo 
e água ocorreram entre 1985 e 1994 em parcela de 
38,5m² com rampa de 11 m, declividade de 34%, 
sob Argissolo Amarelo distrófico (PAd), e a partir de 
chuva natural, correspondente às culturas de 
laranja-ponkan com espaçamento 3 x 3 m, através 
de sistema tradicional de preparo e em solo sem 
cultura. Também ocorreram ensaios em parcela de 
77 m² com rampa de 22 m, declividade de 27%, em 
Cambissolo Háplico (CX) e através de solo sem 
cultura, por meio do tratamento de PC, disposto 
perpendicular à curva de nível. 
 
CONCLUSÕES 
 
No estado do Paraná, a pesquisa realizou um 
excelente trabalho de planificação de uso, manejo e 
conservação dos recursos naturais renováveis, em 
microbacias hidrográficas, representando um feito 
pioneiro no Brasil, pelo seu enfoque, duração e 
dimensões. No entanto, os problemas de 
degradação ambiental por meio da erosão e os 
prejuízos a ela associados são prementes, ao passo 
que na atualidade o não atendimento aos 
parâmetros e indicações estabelecidos pelas 
pesquisas, gerados nos sistemas de manejo do 
solo, podem representar o retorno de processos 
erosivos severos. 
 
 
 
 
4 
 
REFERÊNCIAS 
 
CASTRO FILHO, C.; Henklain, J. C.; VIEIRA, M. J. & 
CASÃO JÚNIOR, R. Tillage methods and soil and water 
conservation in southern Brazil. Soil & Tillage Research, 
20:271-283, 1991. 
 
DERPSCH R.; FRIEDRICH, T.; KASSAM, A. & LI, H. 
Current status of adoption of no-till farming in the world 
and some of its main benefits. International Journal of 
Agricultural and Biological Engineering 3:1-25, 2010. 
 
DERPSCH, R.; ROTH, C.H.; SIDIRAS, N. & KÖPKE, U. 
Controle da erosão no Paraná, Brasil: Sistemas de 
cobertura do solo, plantio direto e preparo 
conservacionista do solo. Eschborn, GTZ/IAPAR, 1991. 
272p. (Sonderpublikation der GTZ, 245) 
 
DERPSCH, R.; SIDIRAS, N. & ROTH, C. H. Results of 
studies made from 1977 to 1984 to control erosion by 
cover crops and tillage techniques in Paraná, Brazil. Soil 
& Tillage Research, 8:253-263, 1986. 
 
KONZEN, O. G. & ZAPAROLLI, I. D. Estrutura agrária e 
capitalização da agricultura no Paraná. Revista de 
Economia e Sociologia Rural, Brasília, 28:155-173, 1990.

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais