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Análise das funções comunicativas expressas por terapeutas e pacientes do espectro autístico

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239
Pró-Fono Revista de Atualização Científica, v. 18, n. 3, set.-dez. 2006
Análise das funções comunicativas expressas por terapeutas e pacientes do espectro autístico
Análise das funções comunicativas expressas por terapeutas e
pacientes do espectro autístico****
Analyses of the communicative functions expressed by language
therapists and patients of the autistic spectrum
* Fonoaudióloga. Mestranda em
Ciências da Reabilitação -
Comunicação Humana - Universidade
de São Paulo. Endereço para
correspondência: Rua Ibraim Habib, 51
- Osasco - SP. CEP 06040-400
(li_miilher@hotmail.com).
**Fonoaudióloga. Professora Livre
Docente do Departamento de
Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia
Ocupacional da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo.
***Trabalho Realizado no
Departamento de Fisioterapia,
Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional
da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo. Pesquisa
Financiada pela Fundação do
Desenvolvimento Administrativo do
Estado de São Paulo (FUNDAP).
Artigo de Pesquisa
Artigo Submetido a Avaliação por Pares
Conflito de Interesse: não
Recebido em 28.11.2005.
Revisado em 11.09.2006; 09.11.2006.
Aceito para Publicação em 09.11.2006.
Liliane Perroud Miilher *
Fernanda Dreux Miranda Fernandes **
Abstract
Background: communicative functions used by language therapists and patients. Aim: to analyze the
communicative functions used by language therapists and patients of the autistic spectrum. Method: the
communicative functions expressed by six therapists in interaction with six patients each were analyzed,
constituting 36 profiles of communicative functions expressed by the dyad therapist-patient. All therapists
were part of a Training Program in Childhood Psychiatric Disorders and the patients were diagnosed within
the autistic spectrum. Data were gathered using the transcriptions of a videotaped therapy session and these
were analyzed according to the criteria suggested by Fernandes (2000). The communicative functions were
divided in two different ways: interpersonal and non-interpersonal, and instrumental, regulatory, interactive,
personal, heuristic and imaginative. Results: the comparison between the functions used by the language
therapists and the patients indicated a statistically significant difference in use of the following functions:
request of social routine, request of information, request of action, comment, recognition of other, exclamation,
non-focused, exploratory, exhibition, play and reactive. There was also a statistically significant difference
between the use of interpersonal, non-interpersonal, regulatory, interactive, personal and heuristic
communicative functions. Conclusion: the functional communicative profile of language therapists is
different from the one presented by their patients when comparing each communicative function and when
the communicative functions are grouped (interpersonal and non-interpersonal, and instrumental, regulatory,
interactive, personal, heuristic and imaginative). Therapists use communicative functions to fill in the
communicative space and to make requests. This finding agrees with the findings of previous studies.
Key Words: Pragmatics; Communication; Autism.
Resumo
Tema: funções comunicativas utilizadas por terapeutas e pacientes. Objetivo: analisar o uso de funções
comunicativas por terapeutas de pacientes do espectro autístico. Método: Foram analisadas as funções
comunicativas utilizadas por seis terapeutas em interação com seis pacientes cada, constituindo um corpo de
análise de 36 perfis de funções comunicativas por díade terapeuta-paciente. Todas as terapeutas faziam parte
do Programa de Aprimoramento em Distúrbios Psiquiátricos da Infância, seus pacientes pertenciam ao
espectro autístico. Para a coleta dos dados foram utilizadas as transcrições da gravação de uma sessão de
terapia e analisadas segundo Fernandes, (2000). As funções comunicativas foram divididas de duas formas:
mais e menos interpessoais e instrumental, regulatória, interacional, pessoal, heurística e imaginativa .
Resultados: a comparação entre as funções usadas por terapeutas e paciente revelou que houve diferença
estatisticamente significante no uso das funções: pedido de rotina social, de informação e de ação, comentário,
reconhecimento do outro, exclamativa, não focalizada, exploratória, exibição, jogo e reativa. Quanto à
divisão em funções mais e menos interpessoais ou entre funções instrumental, regulatória, interacional,
pessoal, heurística e imaginativa houve diferença estatisticamente significante no uso das funções mais e
menos interpessoais e das funções regulatória, interacional, pessoal e heurística. Conclusão: o perfil funcional
da comunicação das terapeutas é bastante distinto do de seus pacientes quando comparamos cada uma das
funções e quando analisamos os agrupamentos de funções (mais e menos interpessoais e instrumental,
regulatória, interacional, pessoal, heurística e imaginativa). As terapeutas utilizam funções para preencher
o espaço comunicativo e realizar pedidos, resultado que concorda com estudos anteriores.
Palavras-Chave: Pragmática; Comunicação; Autismo.
Referenciar este material como:
MIILHER, L. P.; FERNANDES, F. D. M. Análise das funções comunicativas expressas por terapeutas e pacientes do espectro autístico. Pró-Fono Revista de
Atualização Científica, Barueri (SP), v. 18, n. 3, p.239-248, set.-dez. 2006.
v18n3a2por.pmd 7/12/2006, 10:48239
Pró-Fono Revista de Atualização Científica, v. 18, n. 3, set.-dez. 2006
Miilher e Fernandes.240
Introdução
O desenvolvimento da linguagem é assunto
de controvérsias e foco de diferentes áreas e linhas
de pesquisas. Existem questionamentos a respeito
dos fatores intervenientes nesse processo, sendo
que alguns consideram as questões sociais e
cognitivas como pré-requisitos e outros as
consideram questões afetadas pela linguagem.
Mesmo que uma posição rígida não seja adotada,
a questão da interdependência dos aspectos
sociais, cognitivos e lingüísticos existe (Molini-
Avejonas e Fernandes, 2004).
Tal inter-relação não é apenas verdadeira para
o desenvolvimento típico, mas também, em outras
patologias que se manifestam na infância. Dentre
estas, uma das mais intrigantes são as pertencentes
ao espectro autístico. A primeira descrição
científica dessa população foi realizada por Kanner
em 1943; desde então, inúmeros pesquisadores
dedicaram-se ao estudo desse quadro. Dentre as
diferentes linhas de pesquisa e explicações sobre
a causa do autismo, a descrição dos aspectos
lingüisticos permanece como uma marca
constantemente presente em todos os estudos que
analisam o quadro (Fernandes, 2000a). Em vários
destes, fica evidente que os questionamentos
sobre a união nos aspectos mencionados -
cognição, socialização e linguagem - são
absolutamente importantes para a compreensão
dos transtornos do espectro autístico, cuja marca
distintiva é a acentuada dificuldade de interação
social.
O primeiro vínculo afetivo no desenvolvimento
é estabelecido com o cuidador. Este, sendo o
portador da cultura, será o guia da criança em seu
conhecimento de mundo e será o primeiro a
significar as vocalizações inicialmente não
comunicativas (Borges e Salomão, 2000; Sperry e
Symons, 2003).
Este papel, de primeiro parceiro comunicativo,
adquire maior importância quando se enfoca a
atenção compartilhada. Essa habilidade, adquirida
precocemente no desenvolvimento típico,
pressupõe que a criança deseja comunicar ao outro
seu desejo, seja através da alternância de olhar ou
do uso de gestos (Jones e Carr, 2004). As trocas
afetivas que ocorrem durante a interação cuidador-
criança, em relação a outro referente (objeto ou
evento), funcionariam como base para a
comunicação não verbal; esta, por sua vez,
contribuiria para o aumento das habilidades sócio-
cognitivas da criança (Bosa e Callias, 2000). Os
estudos que enfocam tal habilidadenas crianças
com autismo são unânimes em afirmar que essas
crianças apresentam déficits na aquisição e
desenvolvimento dessa habilidade que pressupõe
a intenção comunicativa.
Os pais, primeiros parceiros comunicativos,
ajustam sua fala à da criança com o intuito de
facilitar a comunicação; por esta razão o
comportamento comunicativo dos pais pode ser
um importante facilitador no desenvolvimento das
habilidades comunicativas das crianças (Siller e
Sigman, 2002; Sperry e Symons, 2003). Siller e
Sigman (2002) relataram que pais de crianças
autistas sincronizam seu comportamento ao foco
de atenção da criança, tal como acontece com pais
de crianças com atraso de desenvolvimento e
típicas. Eles hipotetizaram que o estilo
comunicativo dos pais tenha evoluído a partir do
conhecimento que os mesmos têm das habilidades
comunicativas de seus filhos. A sintonia entre
criança e pais também foi observada por Newland
et al. (2001), os autores observaram que, conforme
a criança fica mais velha, e linguisticamente mais
competente, os jogos entre a díade também se
tornam mais elaborados, sugerindo que há uma
ligação entre o jogo social e a emergência da
linguagem. A relação entre jogo e linguagem, na
díade mãe-criança, também foi analisada com
relação ao contexto proporcionado pela mãe para
a construção da linguagem da criança e pelo
incentivo, dado por ela, para que a criança use
palavras e gestos para comunicar-se. Williams
(2003) referiu que as crianças com autismo engajam-
se em mais atividades solitárias e exploratórias que
crianças normais, durante brincadeiras com os pais,
e utilizam menos gestos de atenção conjunta para
compartilhar tópicos de interesse com o
interlocutor.
Loveland et al. (1988) observaram que pais de
crianças autistas iniciam mais episódios de
comunicação e usam mais frases imperativas que
pais de crianças normais.
O destaque para o papel de intérprete,
desempenhado por pais e cuidadores, remete à
noção de especularidade. Nesta, fica evidenciada
a dependência no diálogo entre o adulto e a criança
(Borges e Salomão, 2000), ou seja, o adulto está em
dependência dialógica com a criança tanto quanto
esta está em relação ao adulto.
Em um estudo sobre uso de software para
melhorar as habilidades lingüísticas de crianças
autistas e com outras desordens de
desenvolvimento, Tjus et al. (2001) relataram que
houve uma correlação entre o comportamento
expresso pelo professor e pela criança, sendo que,
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241
Pró-Fono Revista de Atualização Científica, v. 18, n. 3, set.-dez. 2006
Análise das funções comunicativas expressas por terapeutas e pacientes do espectro autístico
quanto mais passivo era o comportamento da
criança, mais diretivo o professor se tornava; além
disso, observaram que existe uma relação entre a
habilidade lingüística da criança e a comunicação
do professor.
Cervone e Fernandes (2005), destacaram que,
durante a interação entre adulto e crianças de
quatro e cinco anos, houve um equilíbrio com
relação ao número de atos por minuto utilizados
por ambos, ainda que tenha sido encontrada
diferença estatisticamente significativa com relação
a essa medida.
Durante a interação social, os interlocutores
consolidam sua competência comunicativa. Tal
competência possui estreita relação com o aumento
da sensibilidade em relação ao ouvinte e as
condições sob as quais os atos de fala são
considerados apropriados ou não. Além da
aprendizagem fonológica e sintática, a criança
aprende as normas sociais que regem a interação
com o parceiro comunicativo. Os pré-requisitos
cognitivos e sociais, as funções de linguagem, as
normas conversacionais e as variações estilísticas
são aprendidas na interação social e esta é o
fundamento dos processos de aquisição (Prutting,
1982). Estudos mostram que os indivíduos do
espectro autístico apresentam intenção
comunicativa (Molini e Fernandes, 2003) e
mostram-se sensíveis ao interlocutor (Bernard-
Optiz, 1982). Esta última autora estudou a
interferência de diferentes interlocutores na
comunicação da criança autista. Os resultados
mostraram que estas crianças utilizavam mais
funções comunicativas quando interagiam com um
adulto familiar (clínico e a mãe) do que com um
adulto não familiar. Analisando a comunicação do
adulto, foi observado que estes realizavam mais
pedidos que outras funções.
Em geral, os estudos sobre aquisição e
desenvolvimento de linguagem no autismo
focalizam a comunicação da criança (Fernandes e
Barros, 2001; Cardoso e Fernandes, 2003; Molini e
Fernandes, 2003), e alguns analisam a díade mãe
(cuidador) - criança, buscando compreender em
que medida a papel de pais e cuidadores influencia
a comunicação da criança autista (Borges e
Salomão, 2000; Siller e Sigman, 2002).
A contribuição destes estudos é inegável,
porém pouca atenção foi dada ao papel do
fonoaudiólogo, o que pode ser comprovado pela
ausência de trabalhos a respeito nas bases de
dados internacionais. A ação do terapeuta, ainda
que não seja sistematicamente estudada, adquire
relevância quando se pensa em intervenção, que,
como amplamente divulgado, deve ser realizada o
mais precocemente possível (Diehl, 2003).
O foco terapêutico evoluiu de considerações e
motivações comportamentais, para uma abordagem
que enfatiza os aspectos pragmáticos de linguagem
(Molini e Fernandes, 2003). Com relação às
técnicas comportamentais, uma das grandes
críticas foi a pouca transferência das mesmas para
situações cotidianas. Ou seja, não havia
generalização dos aspectos enfocados em
situações naturais de interação. Isso levou
pesquisadores e clínicos a buscarem
procedimentos terapêuticos mais naturais e que
promovessem, não apenas a adequação da
linguagem, mas também questões como melhores
competências interacionais, levando o interlocutor
em consideração (Beisler e Tsai, 1983). Alguns
estudos focalizaram a eficácia terapêutica em termos
de medidas padronizadas, mas não enfocaram a
ação direta do terapeuta (Law e Garret, 2004). Com
relação a esta, algumas diretrizes, tais como: maior
simetria na relação com o paciente; adoção de um
posicionamento real em relação à comunicação do
outro, no qual o não entender e não ser entendido
fazem parte do processo comunicativo;
consistência entre funções e meios; e o trabalho
com as funções e meios comunicativos, tornando-
os cada vez mais funcionais, são relatadas como
importantes aspectos da ação do terapeuta de
crianças do espectro autístico (Fernandes, 2003).
Grande parte das abordagens terapêuticas tem
como objetivo desenvolver fala funcional; para isso,
algumas das técnicas utilizadas são: aumento da
motivação, uso de reforço diretivo, variação de
estímulos materiais, reforço de tentativas verbais
de comunicação, uso de múltiplos exemplos e outras
(Koegel et al., 1987). Apesar de questões referentes
aos interlocutores serem levadas em consideração,
a preocupação primordial é o aumento no uso de
vocábulos sem necessariamente enfocar outras
questões, como outros meios comunicativos e
diferentes contextos. Koegel (2000) apontou que o
processo de intervenção tem enfocado aspectos
como: aumento na espontaneidade, variar funções,
iniciar a comunicação, usar socialmente a linguagem
e outras questões.
O aumento da interação social tem sido o foco
de vários estudos (McConnel, 2002). Segundo o
autor, as pesquisas adotam as seguintes linhas de
atuação: variações ecológicas, intervenção em
habilidades colaterais, intervenção específica com
a criança, intervenção mediada por um par (de
mesma idade) e intervenção compreensiva (na qual
aspectos das demais abordagens são utilizados).
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Pró-Fono Revista de Atualização Científica, v. 18, n. 3, set.-dez. 2006
Miilher e Fernandes.242
Estas pesquisas, ainda que forneçam informações
sobre o papel do terapeuta, não analisam a ação
deste de forma específica,mas sim, os seus
princípios norteadores.
Na literatura, poucos estudos (Bernard-Optiz,
1982; Fernandes, 2000a), enfocam a dupla
comunicativa terapeuta-paciente, no entanto essa
díade é sempre ressaltada como potencialmente
importante para o prognóstico da criança
pertencente ao espectro. Fernandes (2000a)
estudou os aspectos funcionais de crianças
autistas no contexto de terapia fonoaudiológica.
Foram realizadas comparações entre as funções
utilizadas prioritariamente pelos pacientes e seus
terapeutas. Os resultados indicaram que os adultos
comunicaram-se realizando pedidos (de informação
e ação) com o intuito de interagir com o paciente.
Para preencher o espaço comunicativo, foram
realizados comentários e performativos, e, para
obtenção da atenção da criança, foi utilizada a
função "exibição". O número total médio de
pedidos foi de 44,8%; os comentários e
performativos somaram um total de 22,5% e os atos
de exibição totalizaram 18,5%. Os pedidos também
foram utilizados pelos terapeutas estudados por
Bernard-Optiz (1982).
Analisar a comunicação terapeuta-paciente é
necessário para a reflexão sobre a prática clínica.
Desta forma, o objetivo geral da presente pesquisa
científica é verificar e analisar o perfil pragmático
de terapeutas de paciente autistas.
Como objetivos específicos foram definidos:
. Identificar as funções comunicativas expressadas
por terapeutas e pacientes, segundo os critérios
propostos por Cardoso e Fernandes (2003).
. Identificar as funções comunicativas expressadas
por terapeutas e pacientes, segundo os critérios
propostos por Halliday (1978).
. Comparar as funções comunicativas expressadas
pelos diferentes terapeutas.
Método
Sujeitos
Participaram desta pesquisa seis terapeutas de
indivíduos diagnosticados como pertencentes ao
espectro autístico. As terapeutas participantes eram
as que realizavam o maior número de atendimentos
semanais no Laboratório de Investigação
Fonoaudiológica nos Distúrbios do Espectro
Autístico do Curso de Fonoaudiologia da
Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo. As participantes estavam inseridas no
programa de Aprimoramento Profissional em
Fonoaudiologia nos Distúrbios Psiquiátricos da
Infância ou no Curso de Especialização, ou seja, eram
fonoaudiólogas recém-formadas, no início da terceira
década de vida, inseridas em programas de atenção
continuada específicos da área. Todas as terapeutas
eram do gênero feminino e não tinham, anteriormente,
formação específica ou experiência no atendimento
de crianças autistas, embora durante o período da
pesquisa atendessem a, em média, 15 crianças cada
uma (dp = 3), em sessões semanais individuais, há
um período aproximado de seis meses.
Foram utilizados os dados de seis pacientes de
cada terapeuta, constituindo 36 pares de análise. O
referencial teórico que fundamenta a abordagem
terapêutica utilizada baseia-se nas teorias
pragmáticas da lingüística. O tempo médio de
atendimento, desde a sessão inicial até a sessão
utilizada nas análises foi de seis meses.
Todos os pacientes foram diagnosticados por
médicos psiquiatras segundo os critérios do DSM-
IV e CID - 10 e freqüentavam terapia fonoaudiológica
semanal no Laboratório de Investigação
Fonoaudiológica nos Distúrbios do Espectro
Autístico há, em média, 18 meses (dp = 6). A faixa
etária dos pacientes variou entre 5 a 16 anos.
Material
Foram gravadas em video-tape sessões de 30
minutos de terapia, segundo protocolo de pesquisa
aprovado pela Comissão de Ética da Instituição
sob número 460/02. Para as gravações foram
utilizados brinquedos que eliciavam as melhores
situações comunicativas da díade terapeuta-
paciente. Os dados, após gravados, foram
transcritos em protocolo próprio. Para a análise da
pragmática foram considerados os 15 minutos de
interação mais simétrica de cada gravação.
A análise do perfil pragmático foi realizada
através do Protocolo de Registro da Pragmática
(Fernandes, 2000b). Foram analisados os dados das
funções comunicativas, discriminadas a seguir:
Pedido de objeto - PO: atos ou emissões
usados para solicitar um objeto concreto desejável.
Pedido de ação -PA : atos ou emissões usados
para solicitar ao outro que execute uma ação. Inclui
pedidos de ajuda e outras ações envolvendo outra
pessoa ou outra pessoa e objeto.
Pedido de rotina social - PS: atos ou emissões
usados para solicitar ao outro que inicie ou continue
um jogo de interação social. É um tipo específico
de pedido de ação envolvendo uma interação.
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243
Pró-Fono Revista de Atualização Científica, v. 18, n. 3, set.-dez. 2006
Análise das funções comunicativas expressas por terapeutas e pacientes do espectro autístico
Pedido de consentimento - PC: atos ou
emissões usados para pedir o consentimento do
outro para a realização de uma ação. Envolve uma
ação executada.
Pedido de informação - PI: atos ou emissões
usados para solicitar informações sobre um objeto
ou evento. Inclui questões "wh" e outras emissões
com contorno entoacional de interrogação.
Protesto - PR: atos ou emissões usados para
interromper uma ação indesejada. Inclui oposição
de resistência à ação do outro e rejeição de objeto
oferecido.
Reconhecimento do outro - RO: atos ou
emissões usados para obter a atenção do outro e
para indicar o reconhecimento de sua presença.
Inclui cumprimentos, chamados, marcadores de
polidez e de tema.
Exibição - E: atos usados para atrair a atenção
para si. A performance inicial pode ser acidental e a
criança repete-a quando percebe que isto atrai a
atenção do outro.
Comentário - C: atos ou emissões usados para
dirigir a tenção do outro para um objeto ou evento.
Inclui apontar, mostrar, descrever, informar e nomear
de forma interativa.
Auto-regulatório - AR: emissões usadas para
controlar verbalmente sua própria ação. As
emissões precedem imediatamente ou co-ocorrem
com o comportamento motor.
Nomeação - N: atos ou emissões usados para
focalizar sua própria atenção em um objeto ou
evento através da identificação do referente.
Performativo - PE: atos ou emissões usados
em esquemas de ação familiares aplicados a objetos.
Inclui efeitos sonoros e vocalizações ritualizadas
produzidas em sincronia com o comportamento
motor da criança.
Exclamativo - EX: atos ou emissões que
expressem uma reação emocional a um evento ou
situação. Inclui expressões de surpresa, prazer,
frustração e descontentamento e sucede
imediatamente um evento significativo.
Reativos - RE: emissões produzidas enquanto
a pessoa examina ou interage com um objeto ou
parte do corpo. Não há evidência de intenção
comunicativa, mas o sujeito está focalizando
atenção em um objeto/parte do corpo e parece estar
reagindo a isto. Pode servir a funções de treino ou
auto-estimulação.
Não-focalizada - NF: Emissões produzidas
embora o sujeito não esteja focalizando sua
atenção em nenhum objeto ou pessoa. Não há
evidência de intenção comunicativa. Pode servir a
funções de treino ou auto-estimulação.
Jogo - J: atos envolvendo atividade organizada,
mas auto-centrada; inclui reações circulares
primárias. Pode servir a funções de treino ou auto-
estimulação.
Exploratória - XP: atos envolvendo atividades
de investigação de um objeto particular ou parte
do corpo ou vestimenta do outro.
Narrativa - NA: emissões destinadas a relatar
fatos reais ou imaginários, pode haver ou não
atenção por parte do ouvinte.
Expressão de protesto - EP: choro, manha, birra
ou outra manifestação de protesto não
necessariamente dirigida a objeto, evento ou
pessoa.
Jogo compartilhado - JC: atividade organizada
compartilhada entre adulto e criança.
Procedimento
Após o registro dos dados em protocolos
específicos, foi realizado o levantamento da
incidência de cada função comunicativa utilizada
pela terapeuta e pelo paciente. Para a análise as
funções foram divididas em: maisinterpessoais
(PO, PA, PI, PC, PS, C, RO, PR, EP, NA, JC, E e EX)
e menos interpessoais (RE, NF, AR, J, XP, PE e N)
segundo proposto por Cardoso e Fernandes (2003).
As funções foram também agrupadas segundo
classificação proposta por Halliday (1978) em:
instrumental, regulatória, interacional, pessoal,
heurística e imaginativa. Na primeira, foram
incluídas as funções: PO, PR, EP, EX, AR, PE e J; a
categoria "regulatória" abarcou as funções de PA,
PS, PC; as funções da categoria "interacional"
foram: C, N, JC, RO; as funções de E, RE e NF,
foram agrupadas como "pessoal"; como
"heurística" foram consideradas as funções: PI e
XP; a função NA foi considerada "imaginativa".
Análise dos dados
Os dados foram analisados estatisticamente
utilizando o Teste t de Student para Dados
Pareados, com o intuito de verificar possíveis
diferenças entre as médias das variáveis de
interesse. O nível de significância adotado foi de
5% (0,050), para a aplicação dos testes estatísticos.
Para a comparação entre o desempenho das
diferentes terapeutas foi utilizado o Teste de
Análise de Variância (ANOVA).
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Miilher e Fernandes.244
Resultados
A Tabela 1 apresenta os resultados totais (todas
as terapeutas comparadas com todos os seus
pacientes). Pode-se observar os valores médios, o
desvio padrão e a significância para cada uma das
funções analisadas. O "P valor" foi calculado
utilizando-se o teste T de Student para dados
pareados. Os valores numéricos (indicam a
quantidade total) relacionam-se com o número de
atos comunicativos e os valores percentuais
relacionam-se com o espaço comunicativo.
TABELA 1. Análise das médias numéricas e percentuais para cada uma das funções comunicativas utilizadas pelas terapeutas e seus pacientes.
 Valor Numérico Valor Percentual 
 Paciente Terapeuta Paciente Terapeuta 
 Média Desvio Padrão P-Valor Média 
Desvio 
Padrão Média 
Desvio 
Padrão P-Valor Média 
Desvio 
Padrão 
PO 1,36 1,71 0,073 0,83 0,97 2,37 3,31 0,012* 0,93 1,09 
PS 0,36 1,10 0,021* 1,22 1,76 0,57 2,04 0,085 1,42 1,93 
PI 2,19 4,31 < 0,001* 20,72 15,06 2,96 5,21 < 0,001* 21,34 10,77 
RO 3,64 4,20 0,003* 1,53 1,81 5,24 5,58 0,001* 1,99 2,63 
C 6,64 9,76 < 0,001* 23,75 9,92 8,94 11,80 < 0,001* 27,25 10,37 
N 1,56 3,85 0,804 1,44 2,90 1,99 4,21 0,222 1,25 2,25 
EX 1,36 4,15 0,015* 2,83 3,40 1,61 4,83 0,072 2,79 3,35 
NF 9,44 10,27 < 0,001* 0,00 0,00 15,77 19,27 < 0,001* 0,00 0,00 
XP 8,06 6,67 < 0,001* 0,33 0,79 13,75 12,91 < 0,001* 0,34 0,83 
EP 2,33 3,57 0,316 1,72 2,37 3,94 6,07 0,059 1,95 2,74 
PA 4,89 7,61 < 0,001* 14,94 7,63 6,80 8,79 < 0,001* 16,27 7,04 
PC 0,56 1,92 0,318 1,00 1,55 1,28 5,02 0,780 1,03 1,47 
PR 1,83 3,88 0,720 2,06 2,68 3,06 6,08 0,390 2,20 2,80 
E 2,58 5,24 0,001* 6,83 8,42 3,95 7,95 0,012* 7,26 7,95 
AR 0,53 2,21 0,161 0,00 0,00 0,64 2,32 0,107 0,00 0,00 
PE 9,44 7,37 0,843 9,19 6,60 16,03 13,28 0,050 11,44 8,66 
JC 1,53 2,41 0,091 1,17 1,81 2,88 5,37 0,013* 1,34 2,59 
J 2,36 3,37 0,010* 0,72 1,65 3,83 5,81 0,005* 0,76 1,71 
NA 0,19 1,01 0,560 0,36 1,42 0,28 1,50 0,926 0,25 0,97 
RE 2,08 3,07 0,001* 0,42 0,81 3,36 5,01 0,001* 0,45 0,87 
TOTAL 62,94 25,02 < 0,001* 91,08 27,00 40,31 8,05 < 0,001* 59,96 8,33 
 
Legenda: PO - pedido de objeto; OS - pedido de rotina social; PI - pedido de informação; RO - reconhecimento do outro; C - comentário; N
- nomeação; EX - exclamativo; NF - não-focalizada; XP - exploratória; EP - expressão de protesto; PA - pedido de ação; PC - pedido de
consentimento; PR - protesto; E - exibição; AR - auto regulatório; PE - performativo; JC - jogo compartilhado; J - jogo; NA - narrativa;
RE - reativo; * p < 0,05 (Teste t de Student para dados pareados).
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245
Pró-Fono Revista de Atualização Científica, v. 18, n. 3, set.-dez. 2006
Análise das funções comunicativas expressas por terapeutas e pacientes do espectro autístico
Os resultados das análises de agrupamentos
de funções podem ser vistos na Tabela 2. Observar-
se que apenas as funções classificadas como
instrumentais e imaginativas não apresentaram
resultados estatisticamente significantes.
A comparação entre cada terapeuta com relação
ao total de funções utilizadas é apresentada na
Tabela 3. As diferentes variáveis (paciente e
terapeuta) indicam dois modos distintos de entrada
da análise de dados. Em ambos os casos a análise
incide sobre a terapeuta, sendo que isto pode ser
visto tanto pelas funções utilizadas pelo paciente
como pela própria terapeuta. O tratamento
estatístico foi realizado através do uso do teste de
Análise de Variância. O p valor fixado foi de 0,05,
sendo que os valores abaixo deste foram
considerados estatisticamente significantes e os
valores acima, estatisticamente não significantes.
A análise comparativa entre as terapeutas com
relação ao uso das funções não interpessoais e
interpessoais é apresentada na Tabela 4. Observar-
se que todas as comparações foram estatisticamente
significantes, indicando uma diferença qualitativa
no uso funcional da comunicação.
Na Tabela 5 pode-se observar a análise
comparativa entre as seis terapeutas com relação
ao uso das funções instrumental, regulatória,
interacional, pessoal, heurística e imaginativa.
Destas, apenas as funções instrumental e
interacional apresentaram resultados
estatisticamente significantes quando as funções
das terapeutas são observadas.
TABELA 3. Análise comparativa entre terapeutas com relação ao total numérico e percentual de funções utilizadas.
Valores Numéricos Valores Percentuais 
Variável Terapeuta N 
Média Desvio Padrão Significância (P - Valor) Média Desvio Padrão Significância (P - Valor) 
1 6 105,83 9,79 59,83 7,22 
2 6 100,00 12,13 67,83 7,00 
3 6 93,00 51,07 65,83 5,12 
4 6 61,67 13,50 54,82 8,69 
5 6 101,83 17,30 54,33 5,50 
6 6 84,17 13,24 
0,038* 
57,13 7,60 
0,007* 
Terapeuta 
TOTAL 36 91,08 27,00 59,96 8,33 
 
n - número de sujeitos; * p < 0,05 (ANOVA).
TABELA 2. Análise dos agrupamentos de funções utilizadas pelas terapeutas e
seus pacientes.
Variáveis Média Desvio-Padrão Significância (P-Valor) 
P_FNI 33,47 15,74 
T_FNI 12,11 7,25 
< 0,001* 
P_FI 29,47 20,67 
T_FI 78,97 27,07 
< 0,001* 
P_Ins 19,22 8,48 
T_Ins 17,75 7,28 
0,347 
P_Reg 5,81 7,90 
T_Reg 17,17 8,36 
< 0,001* 
P_Int 18,61 13,59 
T_Int 27,89 12,11 
< 0,001* 
P_Pes 14,11 10,72 
T_Pes 0,78 1,53 
< 0,001* 
P_Heu 10,25 7,06 
T_Heu 21,06 15,13 
< 0,001* 
P_Ima 0,19 1,01 
T_Ima 0,36 1,42 
0,560 
P - paciente; T - terapeuta; FNI - função não interpessoal; FI - função
interpessoal; Ins - instrumental; Reg - regulatória; Int - interacional; Pes -
pessoal - Heu - heurística; Ima - imaginativa; * p < 0.05 (Teste t de Student
para Dados Pareados).
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Pró-Fono Revista de Atualização Científica, v. 18, n. 3, set.-dez. 2006
Miilher e Fernandes.246
Discussão
A análise do perfil funcional da comunicação
mostrou que há funções que tanto as terapeutas
quanto os pacientes utilizam de forma semelhante,
enquanto que outras funções são mais utilizadas
ou pelo paciente ou pela terapeuta. Pensando na
similaridade do uso, vemos que houve uma
sincronia de utilização durante a interação
terapeuta-paciente, sendo que o primeiro moldou-
se à criança, tornando-se um interlocutor mais
simétrico (Fernandes, 2003) e compartilhando o
foco de atenção do paciente (Siller e Sigman, 2002).
No entanto a simetria não ocorreu em todas as
funções estudadas, enfatizando que a atuação
terapêutica nesse quadro exige uma atuação mais
intensa e diretiva, como pode ser observado pelo
uso da função "exibição". Houve funções, por
outro lado, usadas exclusivamente pelos pacientes,como "não-focalizada", que, juntamente com a
função "exploratória" são descritas como típicas
do comportamento de crianças do espectro
autístico (Williams, 2003).
Em algumas funções: "pedido de objeto" e
"jogo compartilhado", "pedido de rotina social" e
"exclamativo", a diferença estatística apareceu ou
no valor numérico ou no valor percentual. Nas duas
primeiras funções ("pedido de objeto" e "jogo
compartilhado"), houve diferença estatisticamente
significante no valor percentual (mas não no valor
numérico), indicando que estas diferenças dizem
respeito a questões relacionados ao espaço
comunicativo. Nas duas últimas funções, ocorreu
o inverso, ou seja, não foram encontradas
diferenças estatisticamente significantes no valor
percentual, e sim no numérico. Tal resultado indica
que a análise do número de atos e do espaço
comunicativo fornece diferentes informações
terapêuticas e devem, portanto, ser utilizadas para
diferentes objetivos.
TABELA 4. Análise comparativa entre terapeutas com relação ao total de funções não interpessoais e interpessoais.
 Funções Não Interpessoais Funções Interpessoais 
Variável Terapeuta N Média Desvio Padrão Significância (P – Valor) Média Desvio Padrão Significância (P – Valor) 
1 6 5,83 4,62 100,00 13,51 
2 6 10,00 5,55 90,00 12,18 
3 6 7,83 6,91 85,17 46,52 
4 6 13,00 4,34 48,67 11,72 
5 6 22,50 4,97 79,33 19,10 
6 6 13,50 4,09 
< 0,001 
70,67 15,02 
0,012 
Terapeuta 
TOTAL 36 12,11 7,25 78,97 27,07 
 
n - número de sujeitos; * p < 0,05 (ANOVA).
TABELA 5. Análise comparativa das funções instrumental, regulatória, interacional, pessoal, heurística e imaginativa das seis terapeutas.
 Instrumental Regulatória Interacional Pessoal Heurística Imaginativa 
média 17,75 17,17 27,89 0,78 21,06 0,36 
desvio padrão 7,28 8,36 12,11 1,53 15,13 1,42 
significância (P - valor) 0,026* 0,053 0,001* 0,083 0,324 0,070 
 
* p < 0,05 (ANOVA).
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Pró-Fono Revista de Atualização Científica, v. 18, n. 3, set.-dez. 2006
Análise das funções comunicativas expressas por terapeutas e pacientes do espectro autístico
As maiores diferenças de desempenho
ocorreram nas funções "não-focalizada",
"exploratória", "pedido de informação",
"comentário" e "pedido de ação". Destas, as
terapeutas apresentaram uma maior média em
todas, exceto "não-focalizada" e "exploratória".
Este resultado distancia-se do observado em
crianças típicas de 4 e 5 anos, visto que essas
crianças utilizaram amplamente a função
"comentário" (Cervone e Fernandes, 2005).
As terapeutas utilizaram, prioritariamente, as
funções: "comentário", "pedido de informação",
"pedido de ação", "performativo" e "exibição". A
primeira dessas funções atua como um vínculo
entre realidade e brincadeira e comunica ao
interlocutor os pensamentos do falante. As funções
de pedido (de informação e ação) dirigem o
comportamento da criança para a realização do que
o adulto deseja e mostram o caráter diretivo da
comunicação (Bernard-Optiz, 1982; Tjus et al.,
2001). O uso de "exibição" mostrou que, em
determinadas situações, os pacientes não
estiveram atentos ao foco de atenção do
interlocutor, demonstrando assim, dificuldade em
compartilhar (Jones e Carr, 2004). A função
"performativa", considerada menos interpessoal,
foi utilizada como um mantenedor da brincadeira.
Considerando que dificuldades na atividade
imaginativa são uma das características dos
quadros pertencentes ao espectro autístico
(American..., 1995; Williams, 2003), esta função foi
utilizada para criar um ambiente lúdico envolvente.
Os resultados encontrados nessa pesquisa foram
similares aos descritos por Fernandes (2000a), ou
seja, as funções mais utilizadas foram os pedidos,
comentários, performativos e exibição.
O agrupamento das funções em mais e menos
interpessoal e instrumental, regulatória,
interacional, pessoal, heurística e imaginativa
mostrou que, ainda que tais junções auxiliem na
distinção do perfil do interlocutor, elas exacerbam
as diferenças de desempenho. Nos agrupamentos
"instrumental" e "imaginativa" não houve
diferença significativa, sendo que, no primeiro
desses agrupamentos, estão as funções que
aparecem mais precocemente no desenvolvimento
pragmático e, no segundo agrupamento, a função
pragmática mais elaborada e que requer maior nível
de competência comunicativa (Prutting, 1982).
A comparação entre as terapeutas mostrou que,
ainda que estivessem interagindo com pacientes
pertencentes ao mesmo quadro clínico e que todas
tivessem conhecimento especializado (Diehl, 2003),
cada uma manteve sua individualidade e distinguiu-
se da outra. Isso ocorreu não somente com relação
às funções quando analisadas isoladamente, mas
também com relação à diferenciação entre
interpessoal e não interpessoal e instrumental e
interacional. O uso, por parte das terapeutas, de
funções consideradas não interpessoais, indica que
as terapeutas utilizam um comportamento similar ao
da criança com vistas a compartilhar o foco de
atenção e assim, utilizar uma variável ambiental
durante a terapia (McConnel, 2002).
Tal como relatado por Sperry e Symons (2003), em
sua pesquisa com pais de crianças autistas, as
terapeutas cercaram seus pacientes de estímulos
interpessoais. Isto ocorreu, pois as terapeutas julgaram
os atos de seus pacientes como menos intencionais e,
para contrabalancear, fornecem-lhes um estímulo
oposto para atrai-los para a situação comunicativa.
Conclusão
A análise do uso das funções comunicativas
por terapeutas de pacientes do espectro autístico
enfocou o terapeuta, tido como interlocutor ideal e
elemento mediador do processo terapêutico. As
semelhanças e diferenças encontradas nos
mostraram que a comunicação é uma construção
individual e que a interação é um fenômeno vivo,
onde os interlocutores apresentam pontos de
confluência e de distanciamento.
Foi possível identificar as funções utilizadas
pelas terapeutas, agrupando as funções segundo
os critérios propostos por Cardoso e Fernandes
(2003), e Halliday (1978). O uso de tais critérios
forneceu diferentes formas de análise com relação
à comunicação da terapeuta.
Ainda que as terapeutas estivessem interagindo
com crianças do mesmo quadro clínico, isto não
significou uma homogeneidade na atuação, outro
aspecto que ratifica a diversidade interativa.
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Pró-Fono Revista de Atualização Científica, v. 18, n. 3, set.-dez. 2006
Miilher e Fernandes.248
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