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CONCEITO DE ALMA PROS PRESSOCRA.odt


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O SIGNIFICADO DA ALMA NOS PENSAMENTOS MÍTICO E PRÉ-SOCRÁTICO
Antes de abordar o pensamento filosófico, é importante ancorar na forma mais antiga de pensamento a que temos acesso. Para tanto, a Antropologia nos oferece, através de suas pesquisas, um retrato de como o homem primitivo concebia a realidade (séc. X a VIII a.C.). O pensamento mítico, que dominou esses séculos, oferece-nos uma “lógica sensível” da realidade. Através das vozes dos poetas e declamadores ambulantes, a história é contada, os fenômenos são explicados, as relações sociais justificadas através dos mitos. São eles que oferecem a primeira compreensão coletiva da realidade. Há muito que se aprender com os mitos; a própria origem da palavra psicologia deriva da mitologia grega (Psyché = alma). A primeira compreensão de alma nos aponta para uma essência que é da natureza do vento e que está numa ligação simbiótica com as forças próprias da vida.
O mundo homérico, em que prevalece o heroísmo, é regido por deuses cheios de vida, força e eterna juventude. O herói morre no momento em que sua alma abandona o corpo. A descrição desse momento é bastante interessante, pois a alma é entendida como a instância responsável pela respiração e pelo movimento do sangue (morrer é sem dúvida nenhuma exalar o último suspiro ou dessangrar-se). Esta essência desprende-se do corpo pela boca ou pela ferida do agonizante, descendo até o mundo dos mortos. No pensamento grego primitivo, a alma está implícita nas concepções de homem e de seu destino. É semelhante ao corpo que habita, embora mais tênue, menos densa… como um sopro. É possível ilustrar essa idéia com dois trechos da Ilíada. O primeiro relata as últimas palavras de Pátroclo, ao ser ferido de morte por Heitor e predizendo a morte deste: “A morte que tudo acaba já o envolve / e a alma abandona seus membros e se vai, voando para o Hades, lamentando seu destino, deixando a força e a juventude…”. o segundo trecho refere-se ao momento em que Aquiles reconhece a alma de Pátroclo, seu grande amigo, a lhe implorar sepultura: “Sepúlta-me logo para que eu passe as portas do Hades…”. ** Sugestão de leitura: Hesíodo (Os trabalhos e os dias, Teogonia) e Homero (Ilíada e Odisséia)
O pensamento mítico não desapareceu com a evolução da intelectualidade. Em nosso cotidiano esbarramos em manifestações míticas, nas diferentes formas de expressão humana. No entanto, o conceito de alma muda de configuração entre os séculos VII e VI a.C.
Esse período foi marcado pelo surgimento de uma forma de pensar racional, matemática, doutrinária, que tinha como base a observação dos fenômenos cotidianos. O homem desenvolve as idéias de movimento e de transformação. Surge o pensamento de que tudo tem uma origem, ao mesmo tempo que é passível de originar.
Tales (625-558 a.C.), Pitágoras (580-497 A.C.), Heráclito (540-470 a.C.), Parmênides(530-460 a.C.), são alguns dos pensadores dessa época, que inserem uma abordagem racional, por um lado buscando um princípio ordenador do universo e por outro desenvolvendo o uso da retórica.
Neste contexto, a alma humana é atribuída com parte da realidade universal, ou seja, se o homem é capaz de respirar, é porque no universo existe ar; se é capaz de pensar, é porque existe a razão. A idéia de que a alma universal e a alma humana co-existem pode ser observada neste postulado de Heráclito. Ele diz: “Assim como o carvão que muda e se torna ardente quando o aproximamos do fogo, e se extingue quando dele afastamos, a parte do espírito circunjacente que reside em nosso corpo perde a razão quando dele é desligada, e de igual maneira recupera uma natureza semelhante a do todo, quando o contato se estabelece pelo maior número de aberturas”.
O pensamento racional estabelece-se com esses pensadores, denominados pré-socráticos; com o século V a.C. adentramos no delineamento da subjetividade humana. O relativismo dos fenômenos, idéias e grandes explicações começam a dominar a expressão da própria consciência humana. Um exemplo de subjetividade: observe as frases dos sofistas – Protágoras (485-410 a.C.) “O homem é a medida de todas as coisas, das que são e das que não são”; Górgias (487-380 a.C.) “Nada existe; ainda que houvesse ser, seria incognoscível; ainda que houvesse e fosse cognoscível, seria incomunicável a outrem”.

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