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Documentário conceito


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Documentário conceito
É no início do século XX, com o aparato técnico para a captura de imagens e com o advento da montagem que os filmes de ficção começaram a cativar o público (LIMA, 2009). Essas conquistas fizeram com que o cinema fosse visto como uma forma diferente de olhar, representar e interpretar o real, a vida. Os documentaires vão perdendo espaço, no cenário cinematográfico da época, uma vez que, apresentavam fragmentos da realidade, que sem os recursos de montagem não despertava mais interesse do público. Com o declínio desta forma de fazer cinema, os filmes de atualidade, que registravam acontecimentos contemporâneos eram exibidos em salas de cinemas e teatros começaram a despertar o interesse do publico. [1: Nome dado as primeiras películas (filmes) que mostravam atividades cotidianas das populações urbanas. (LIMA, 2009, p.14)]
	Segundo Lima (2009), os filmes de atualidades, então, são considerados como os primeiros documentários, já que registravam aspectos da realidade com pessoas e paisagem. Como afirma Lima (2009), os dois gêneros (documentário e filmes de atualidades), coincidiram por captar a vida em seu cenário natural. A autora ainda enfatiza que está aí à raiz do gênero documentário e seu desenvolvimento assumiria identidade própria. 
Os termos documentário e documentarista como afirma Lima (2009), surgem em 1926, quando o inglês John Grierson usou pela primeira vez os termos em um artigo sobre o filme Moana de Flaherty para o jornal britânico The New York Times. Para Grierson o documentário não é como um espelho da realidade, reprodução do que se desenrola em frente à câmera. E, sim a interpretação criativa dos temas e estruturação dramática das cenas (montagem), em outras palavras o tratamento criativo da realidade. Contudo, Nicholls (2005), afirma que esse conceito é muito vago. De fato, o documentário apresenta esse tratamento criativo da realidade por ser um produto cinematográfico e estar passível das técnicas de edição e montagem na pós-produção, assim como toda e qualquer obra fílmica. A essas características, somam-se: o olhar do documentarista, seu ponto de vista, caráter autoral com destaque para a intervenção do autor no material coletado. [2: Filme de Robert Flaherty e Frances Flaherty produzido em 1923 na ilha de Savai’i, Polinésia, que mostra a vida dos moradores samoanos do local.]
Bernardet (1988, apud LIMA, 2009, p. 22), enfatiza que, no processo de produção do documentário, a veracidade não deve ser buscada no processo de enunciação técnica das imagens, e sim, nas fontes e objeto de estudo. Conclui-se que, a busca pelo verídico deve vir a partir da investigação dos índices que compõem o produto. Essa investigação e consequentemente a representação na tela não é a reprodução da realidade, mas sim a interpretação pela ótica do documentarista desse dado no mundo real. DocComparato (1995), retoma a ideia da “interpretação” anteriormente citada e afirma que a máxima de um documentário está para seu compromisso com a verdade, informar baseando-se em fatos, sendo imparcial, portanto, “evitando pontos de vista puramente pessoais” (ibidem pg. 341). Assim, se a opinião pessoal do documentarista for expressa deverá ter uma indicação clara nesse sentido. (LIMA, 2009). 
Segundo Penafria (apud LIMA, 2009, p. 23): 
O documentário tem como ponto de partida imagens recolhidas in loco, podendo as mesmas ser utilizadas para além do seu valor de evidência ou simples denotação; a abordagem a um dado assunto é realizada tendo em conta determinado ponto de vista; finalmente, o documentário não se obriga ao cumprimento de objetivos como os de noticiar, descrever, explicar ou publicitar; tem como atributo tratar os seus temas com profundidade.
Retomando ao que se convenciona como ponto de vista, opinião, posicionamento do documentarista dentro do documentário, Lima (2009, p.23) diz que o mesmo é fruto de um olhar sobre determinado assunto que existe na realidade, na forma de um discurso, argumento. Mesmo que a imparcialidade seja descartada, assumindo o caráter autoral, o documentário, contudo, não tem a pretensão de convencer o espectador a qualquer custo, uma vez que, cabe ao mesmo a interpretação e reflexão sobre a temática. Assim, "acrescenta-se a consciente abertura do produtor do argumento para o repertório do espectador, sem constituir-se em algo manipulativo" (ibidem, p. 24). 
Nesta perspectiva já vimos quais fatores dão ao documentário este dito tratamento criativo da realidade. É claro que, esta breve discussão não consegue abarcar todas as teses e discussões lançadas sobre a pergunta: O que é documentário? Na busca por responder essa questão Ramos (2008), defini-o de maneira bem clara como: 
[...] narrativa com imagens-câmera que estabelece asserções sobre o mundo, na medida em que haja um espectador que receba essa narrativa como asserção sobre o mundo. A natureza das imagens-câmera e, principalmente, a dimensão da tomada através da qual as imagens são constituídas determinam a singularidade da narrativa [...] (RAMOS, 2008, p. 22).
Assim, O documentário como produto, possibilita ao documentarista a autoexpressão criativa e de reflexão sobre a realidade, fazendo com que esse tipo de produto audiovisual seja apontado como "um domínio de grande relevo no todo da produção audiovisual" (LIMA, 2009, p.31).