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Métodos e Técnicas de Estudo em Oceanografia – 2100107 Oceanografia biológica Prof. Mario Katsuragawa Objetivo: Apresentar noções básicas sobre métodos e instrumentos de estudos quali-quantitativos do plâncton, do nécton de regiões costeiras, pelágicas e mar profundo, e do bentos das regiões entre-marés e fundos submersos. 1- Definições: Basicamente, o estudo dos organismos marinhos pode ser classificado em dois tipos: - Pesquisa qualitativa – essencialmente voltada para o estudo do indivíduo (anatomia, fisiologia, bioquímica etc.). Neste caso não há necessidade de grande precisão do sistema de amostragem. - Pesquisa quantitativa – orientada mais para o estudo da população (distribuição, abundância etc.) que do indivíduo. A base destas pesquisas é a obtenção de uma amostra efetivamente representativa da população em estudo. Neste caso a metodologia de coleta é de fundamental importância. Etapas da pesquisa biológica: coleta de dados ⇒ processamento ⇒ análise estatística ⇒ tomada de decisão. Antes da fase de coleta é preciso fazer um planejamento detalhado com os objetivos definidos e as hipóteses de trabalho. - Amostragem – processo para efetuar coleta de uma parte representativa da população, com o propósito de se obter uma estimativa compreensiva acerca da natureza desta população. 2- Plano de amostragem É necessário um planejamento detalhado antes da expedição, para melhorar o rendimento durante as coletas, minimizar erros de amostragem e diminuir o custo (diminuir o tempo de cruzeiro sem diminuir as atividades). - cruzeiro oceanográfico ===> custo muito elevado - N/Oc."Prof.W.Besnard" - custo operacional = US$3.700,00/dia - navio parado = R$4.000,00/dia - alimentação p/ 22 trip.+ 15 pesq. = R$1.354,00/dia. - combustível = 4.100 l óleo diesel/dia + óleo lubrificante - seguro do navio = R$60.000,00/ano - no porto===> energia elétrica + água = aprox. R$1.200,00/mês - uma docagem/3,5 anos = R$340.000,00 (ultima docagem) - Barcos pequenos (Veliger) = 30 litros de combustível/hora gasto diário em viagem = R$800,00 2.1) Etapas de um planejamento de amostragem 1- Antes de tudo é necessário estabelecer os objetivos da viagem, definindo os tipos de dados a serem coletados (dados físicos e químicos, fitoplâncton e produção primária, zooplâncton e ictioplâncton, peixes adultos considerando diferentes metodologias para pelágicos e demersais, bentos) e a metodologia de coleta empregada (p.e. garrafas, redes de plâncton, dragas, etc.). Dependendo da embarcação é melhor dividir em etapas (levando-se em consideração a capacidade em termos de pessoal embarcado e a autonomia do barco). Definir também o número e a periodicidade da coleta. 2- Fazer o plano de cruzeiro (Survey design), com a previsão da duração da viagem. Consiste em fazer o planejamento da derrota do cruzeiro, procurando-se adequá-lo aos objetivos estabelecidos e buscando obter uma amostra representativa dos organismos em estudo. Em linhas gerais, os itens do planejamento são: 1- Definição da área geográfica a ser coberta, 2- Decisão sobre a estratégia de amostragem e o tipo de derrota, 3- Fazer um mapa plotando as posições das estações oceanográficas ou locais dos arrastos a serem realizados, 4- Cálculo do tempo de cruzeiro, levando em consideração todas as atividades planejadas. Um cruzeiro oceanográfico sempre está sujeito a uma série de imprevistos, o que pode levar a um atraso na execução dos trabalhos. Portanto, é conveniente acrescentar um tempo extra (cerca de 20% do período) no cruzeiro. 5- Fazer a estimativa dos recursos necessários e o custo de cada cruzeiro. 3- Listagem dos equipamentos e materiais em geral. O cruzeiro oceanográfico envolve uma logística, muitas vezes complexa e dispendiosa, de modo que, quando se sai do porto, não é possível retornar para pegar um determinado material esquecido. Daí a necessidade de se fazer uma listagem completa de equipamentos e materiais diversos a serem utilizados no cruzeiro, que deve ser conferido, antes do embarque. 4- Escolha da equipe. A montagem de uma boa equipe de trabalho a bordo é fundamental para o bom andamento de um cruzeiro oceanográfico. O ideal é que cada participante embarque com uma função definida, sendo que, a bordo, as atividades consistam principalmente em execução de atividades, e o mínimo possível em discussões metodológicas. Uma reunião prévia para definir as funções é importante. 2.2) Tipos de plano de amostragem As medições de dados biológicos podem ser tomadas de três diferentes formas: a) através de pontos (ex.: estações oceanográficas) b) através de linhas (ex: prospecção hidroacústica, registro de termossalinógrafo, registrador contínuo de Hardy) c) através de quadrados (ex: praia, costão) 2.3) Métodos para decidir sobre a localização dos pontos, linhas ou quadrados de amostragem: a) Amostragem ao acaso simples (simple random sample) A amostragem ao acaso é selecionada desenhando-se primeiro uma grade sobre a área desejada e, em seguida, numerando-se as linhas da grade. A posição de cada ponto de amostragem é determinada escolhendo-se dois números ao acaso, o primeiro para fixar a posição da ordenada (eixo norte-sul), e a segunda para fixar a posição da abscissa (eixo leste-oeste). O cruzamento das duas coordenadas representa o ponto de amostragem. Vai se repetindo o processo até que se estabeleça um número suficiente de pontos. Embora todas as partes da área de estudo tenham chances iguais e independentes de receber um ponto de amostragem, este método sempre apresenta uma cobertura desigual sobre a área, o que pode ser desvantajoso quando há interesse pela variação espacial. b) Amostragem sistemática ou em grade (sistematic sampling) Neste caso, o ponto inicial é escolhido aleatoriamente e todos os demais são determinados por um intervalo fixo. Isto dá uma cobertura uniforme da área. Por outro lado, o padrão de amostragem regular pode levar a vícios de amostragem, pela sobreposição com a periodicidade na população. c) Amostragem ao acaso estratificado ou agregado ("stratified random sampling") A área é dividida em estratos ou sub-áreas e, dentro destes, os pontos são determinados ao acaso. Por exemplo, no caso de amostragem no porão de um barco de pesca. Quando já existe investigação preliminar e já se conhece a distribuição, pode-se agregar a investigação em locais que interessam mais. ===> Diminui o custo e aumenta a precisão da pesquisa. d) Amostragem em rota ("route sampling") Esta estratégia de amostragem serve para estudos exploratórios, quando se quer varrer grandes áreas em pouco tempo, porém apresenta menor precisão, com resultados mais grosseiros. Por exemplo, caso da primeira viagem ao Brasil c/ o navio de pesquisa "Toko-maru". Em cada caso deve ser utilizada uma metodologia diferente. Para o estudo de recursos pesqueiros demersais, Macket (1973) classifica em 4 tipos: TIPO Característica da distribuição Tipo de amostragem necessária 1 Distribuição por toda a área de investigação e a frequência de ocorrência razoável para toda a área. Amostragem geral para toda a área. Amostragem sistemática ou amostragem ao acaso, com relativamente poucos pontos de amostragem. 2 Distribuição por toda a área, mas com baixa frequência de ocorrência. Amostragem por toda a área, porém com maior frequência de estações. 3 Distribuição esporádica, mas com razoável frequência de ocorrência. Ausência em algumas subáreas, mas altamente concentradoem outras. (grande parte dos animais marinhos) Amostragem estratificada com intensidades variáveis de amostragem de acordo com as diferentes subáreas. 4 Distribuição esporádica e com pouca abundância. Amostragem estratificada para toda a área de ocorrência. Como estratificar a área de investigação: 1- escolher as espécies mais importantes com as quais queremos definir a distribuição. 2- obter carta geográfica mais detalhada da área de estudo. 3- coletar informações preliminares sobre a distribuição da espécie através de informações científicas e de pescadores. 4- coletar informações oceanográficas da região. 5- utilizando informações obtidas nos itens 2, 3 e 4, determinar a área de maior concentração. 6- eliminar a área onde não há ocorrência da espécie. 7- estratificar a área de estudo de acordo com a densidade da espécie. 2.4) Periodicidade de amostragem É difícil obter medidas representativas de uma variável que muda com o tempo. Muitas variáveis ambientais flutuam regularmente ou quase regularmente no tempo. Caso exista um ciclo ou periodicidade na variável que está sendo medida, corremos o risco de que uma observação por um período mais curto do que o ciclo completo revele apenas parte da variável que está ocorrendo. Isto representa uma tendência, isto é, um aumento ou diminuição nos valores dos dados. O estabelecimento de uma frequência de observação dentro de um período de tempo depende fortemente da natureza da investigação. Por exemplo, medidas da temperatura do mar a cada hora fornecem informações úteis para o estudo de pequenos vórtices na circulação oceânica, mas é um detalhe desnecessário para o pesquisador interessado em relacionar a captura de peixes com a temperatura do oceano em escala mundial. A frequência de amostragem é difícil de ser estabelecida sem um estudo piloto. As amostragens, quer seja no tempo ou em área, podem ser do tipo ao acaso ou sistemático, sendo que o sistemático é mais comum. O tipo sistemático pode as vezes, registrar a mesma parte de um ciclo e perder partes importantes da variação dos dados. Este é um tipo de vício chamado "aliasing". (figura de Krebs, 1989) 2.5) Erros de amostragem. Os resultados de um reconhecimento de grupos de organismos podem estar viciados por dois tipos de erros: acidental ou sistemático. Os erros acidentais ocorrem devido a variações entre lances. A precisão neste caso pode ser melhorado aumentando-se o número de lances ou concentrando-se a amostragem em zonas onde ocorre grande densidade de organismos (amostragem estratificada). No entanto às vezes, mesmo com o número muito grande de lances e, portanto, com alto grau de precisão, as estimativas obtidas podem ser diferentes dos valores reais. Neste caso, mesmo se repetidos muitas vezes, os resultados serão sempre muito similares, mas sempre diferentes do real, pois o sistema está viciado por um erro sistemático. Os erros sistemáticos podem ser devidos a vários fatores, tais como o emprego de um tipo equivocado de arte de amostragem, variações diurnas no comportamento dos organismos. Dois termos, precisão e exatidão das estimativas são definidos do ponto de vista estatístico. Exatidão refere-se ao tamanho do desvio da estimativa da investigação, em relação à estimativa real. Precisão refere-se ao tamanho dos desvios da média estimada, calculada a partir de aplicações repetidas de um mesmo procedimento de amostragem. (figura de Krebs, 1989) A exatidão é influenciada pelos vícios introduzidos através de erros de medida ou da inacessibilidade de certa parte da população (seletividade da rede). A precisão é influenciada pelo número de amostras, a forma como a amostra é tratada e a maneira como os dados são analisados. Pode-se dizer que nenhum método ou aparelho de amostragem é 100% perfeito. Todos apresentam problemas e muitas vezes não é possível corrigi-las. É necessário, entretanto, pelo menos saber da sua existência e levá-las em consideração no momento da interpretação dos resultados. 3- Amostragem do plâncton marinho. O termo plâncton, originário do grego “plágchton” (errante), é muito genérico e inclui várias classes de organismos, desde virus até alguns vertebrados. Este conjunto de organismos apresenta em comum a capacidade limitada de locomoção, o que faz com que dependam, em grande parte, dos movimentos da água para se deslocarem no ambiente aquático. CLASSES DE TAMANHO Nome das classes Femtoplâncton (0,02-0,2 m) Picoplâncton (0,2-2,0 m) Nanoplâncton (2.0-20 m) Microplâncton (20-200 m) Mesoplâncton (0,2-20 mm) Macroplâncton (2-20 cm) Megaplâncton (20-200 cm) Viroplâncton ___________ Bacterioplâncton __________ Micoplâncton _____________ Fitoplâncton ____________________________________________ Protozooplâncton _________________________________________ Metazooplâncton _________________________________________ Esquema de classificação dos organismos planctônicos por categoria de tamanho (adaptado de Nibakken, 1997). A amostragem do plâncton em geral consiste em separar os seres vivos planctônicos do meio líquido onde se encontram. Tal operação depende de dois fatores: a) a concentração (ou densidade) da população planctônica dentro da massa de água considerada, que condiciona o tamanho do volume da amostra; e b) as dimensões dos indivíduos que formam a população, que condicionam as modalidades práticas da separação (sedimentação, centrifugação, filtros mais finos ou mais grossos, separação visual). 3.1) Métodos de estimativa da biomassa do fitoplâncton e da produtividade primária Estudo qualitativo Uma amostra é obtida com rede de fitoplâncton e fixada. O fixador mais comum é o formol 10%, mas o lugol também é utilizado pelo fato de preservar melhor os flagelados. A contagem de células pode ser feita através de um microscópio. Estudo quantitativo Para estimar o “standing stock” ou biomassa, que é dada em número de células por volume de água, a amostra é obtida com garrafas, com a contagem feita em microscópio invertido. A biomassa do fitoplâncton pode também ser estimada através da determinação da quantidade de clorofila-a na água do mar. A clorofila-a está presente em todas as espécies de fitoplâncton e é facilmente medida. Filtra-se uma amostra de volume conhecido e a quantidade do pigmento pode ser medida por absorbância com um aparelho chamado espectrofotômetro, ou fluorescência pelo uso de um fluorímetro. A biomassa pode ser expressa como uma quantidade de clorofia-a por volume de água. As medidas de standing stock ou biomassa são medidas instantâneas. Mas para a ecologia, é mais interessante conhecer a taxa na qual o material vegetal é produzido, ou seja, a produtividade primária. O método mais utilizado para estimar a produtividade primária é o conhecido por método do 14C, que consiste no seguinte procedimento: Uma pequena quantidade de bicarbonato radioativo é adicionada à amostra de água contendo fitoplâncton, que é incubado por um certo tempo, em laboratório ou no próprio ambiente. O material é então filtrado e a radioatividade é medida por um aparelho especial chamado cintilador. A produtividade é expressa em quantidade (mg) de carbono fixado como matéria orgânica nova, por volume de água (m-3) por unidade de tempo (h-1). O valor varia entre 0 até cerca de 80 mg C m-3 h-1. A coleta de água é geralmente feita com garrafas especiais (Van Dorn, Niskin), que fornece água para determinar a Produtividade Primária, Clorofila, Fitoplâncton Total, podendo-se ainda aproveitar o restante da água para servir como amostra de nutrientes. Os níveis de profundidade são escolhidos baseando-se na penetração da luz. Para isso usa-se um fotômetro ou o disco de Secchi,e através de uma tabela (que relaciona a profundidade com a intensidade luminosa) são obtidas as profundidades para as coletas dos diferentes níveis da camada eufótica (desde a superfície, com 100% de luz, até uma profundidade onde a luz tenha sido atenuada para 1%). Esquema geral dos procedimentos para a determinação das profundidades de coleta e coleta de material para produção primária e clorofila. (figura fornecida pelo Prof. Clóvis Teixeira, 1985) 3.2) Coleta de zooplâncton Existem vários equipamentos de amostragem do zooplâncton descritos na literatura, tais como garrafas, bombas de sucção e redes de plâncton, dentre os quais a última tem sido a mais comumente utilizada. As garrafas, como visto para estudos de produção primária, são fundamentais para um estudo quantitativo. Mas para o zooplâncton o método pode ser pouco eficiente, dependendo da densidade dos organismos. A quantidade de água coletada pela garrafa, por maior que seja, será sempre menor que a quantidade amostrada por bombas e redes. Por outro lado, como se conhece exatamente o volume da água coletada pela garrafa, é possível obter uma amostra quantitativa importante, em casos de organismos zooplanctônicos das faixas do nano e microplâncton. Um outro método descrito para coletar zooplâncton é a bomba de sucção. Um tubo flexível (ou uma mangueira longa) é abaixado na coluna de água e uma bomba, que pode estar localizada no convés ou na extremidade do tubo, é responsável pelo bombeamento da água para o convés, onde é devidamente filtrada e quantificada. Por este método é possível obter uma amostra quantitativa, de um certo ponto ou de uma faixa da coluna de água. Além disso, pode-se ao mesmo tempo obter os dados físico-quimicos da água. Mas apresentam várias desvantagens, entre as quais podemos citar a limitação do alcance do tubo, restrito a cerca de 100 m, danos físicos aos organismos mais delicados. Preparação de um conjunto de garrafas de Niskin na rosette, para a coleta de água Coleta de zooplâncton utilizando-se garrafas (acima) e bomba de sucção (abaixo). (figuras de Omori & Ikeda, 1984) Redes de plâncton As redes de plâncton, apesar dos vários problemas de amostragem, constituem os meios mais rápidos e mais comumente utilizados para a coleta de organismos planctônicos da faixa do meso e macroplâncton. Uma rede simples consiste basicamente de três partes: a boca, geralmente circular, feita de metal ou outro material rígido; uma parte cônica constituída de panagem de rede feita de material resistente, principalmente nylon; e um copo coletor de plástico ou metal fixado no final da rede. Existem redes dos mais diversos formatos, sendo que a mais simples possui a forma cônica, com a parte superior mais larga da rede presa a um aro que, por sua vez é atado, através de tirantes, a um cabo que é manipulado do barco. Outro tipo de rede tradicionalmente usado é o conhecido por cilíndrico- cônico, por possuir uma panagem com parte anterior cilíndrica além da cônica. O tamanho e a forma da panagem varia de acordo com os vários modelos existentes. A boca de rede mais simples apresenta forma circular de diâmetros diversos, mas outras formas como quadrada ou retangular são observadas. Alguns modelos possuem um sistema de fechamento ou fechamento-abertura- fechamento, que servem para amostragens estratificadas na coluna de água. Três tipos básicos de arrasto são conhecidos: a horizontal, que pode ser em superfície ou em meia-água; vertical, amostrando a coluna de água em níveis diversos de profundidade; e oblíquo, no sentido superfície – fundo – superfície. No caso do arrasto vertical a embarcação deve estar parada, e a velocidade do guincho deve ser em torno de 1m/seg., enquanto que os arrastos horizontal e oblíquo são feitos com a embarcação em movimento, sendo importante o controle da velocidade do barco. O tamanho da malhagem das redes para zooplâncton varia grandemente, mas geralmente entre cerca de 50m até 500m. Quando se deseja coletar organismos menores é desejável utilizar redes de malhas mais finas, mas se o objetivo for o de capturar organismos grandes como os de macrozooplâncton, geralmente usa-se malhas mais grossas. As redes de plâncton apresentam vários problemas de amostragem que devem ser considerados. Costuma-se classificar estes problemas em três tipos: 1- Fuga de organismos da boca da rede (net avoidance) que depende do tipo do aparelho, velocidade do arrasto, hora do dia, bem como da capacidade visual e de fuga do organismo; 2- Seletividade (escapement), que ocorre devido ao escape dos organismos através da malhagem da rede e pode ocorrer de duas formas: escape passivo dependendo do tipo de organismos, da velocidade da rede etc., e escape ativo dependendo do tamanho, forma, plasticidade e comportamento dos organismos, além da natureza e tecelagem do material de que é fabricada a rede; 3- Entupimento ou colmatação (clogging) que consiste na variação da eficiência de filtração devido a vários fatores como o tipo de rede, abertura da malha, tempo de arrasto, concentração de organismos, etc. Utilizando-se um fluxômetro na boca da rede é possível a obtenção de amostragens quantitativas. Algumas recomendações para o planejamento de coleta do zooplâncton: Quando os estudos são mais qualitativos, como na investigação da riqueza, distribuição, flutuação sazonal, é conveniente realizar uma amostragem preliminar para determinar o local mais representativo. Preferencialmente, deve- se utilizar o mesmo processo de amostragem em todas as viagens. Seria conveniente um conhecimento um conhecimento prévio sobre os fatores físico- químicos da área de coleta. Quando se quer coletar um número maior de espécies é necessário utilizar maior variedade de equipamentos de coleta, com diferentes capacidades. Para coletar organismos com tendência a agregação, ou aqueles de ocorrência rara, é melhor aumentar o volume de água filtrada aumentando a distância de arrasto, do que aumentar o tamanho do equipamento. Em caso de estudos quantitativos, é importante se obter uma amostra que seja representativa da população. Podem ocorrer variações devido ao crescimento, reprodução, mortalidade e migração dos organismos, bem como devido a advecção e distribuição agregada (heterogeneidade espacial na densidade e composição). No caso de amostragens feitas a intervalos regulares durante o período de um dia ou mais, pode ocorrer a influência do ritmo comportamental diário ou lunar dos organismos. É conveniente fazer uma amostragem piloto em várias localidades e profundidades, a fim de obter materiais para estimativas da composição e variabilidade específica. O ideal é testar vários métodos de amostragem com diferentes tipos de aparelhos para escolher o melhor método para o caso em estudo. Para distinguir os efeitos das fontes de variação, a divisão da área total em estratos pode ser um procedimento útil. Uma vez coletado o plâncton deve ser fixado o mais rápido possível. A substância fixadora mais amplamente utilizada é a solução de formaldeído, diluído a 4% (formol 10%), tamponado com tetraborato de sódio. Rede bongo – utilizado como equipamento padrão para a coleta de ovos e larvas de peixes. (figuras de Smith & Richardson, 1977) Esquemas de funcionamento da rede de fechamento para arrastos verticais, e rede Motoda (MTD) para realizar amostragem estratificada horizontal. (figura de Omori & Ikeda, 1984) c) a) Redes para arrasto estratificado horizontal: a, b) Rede Mult Plankton Sampler (MPS), c) Rede rectangular mid-water trawl (RMT) (figura de Omori & Ikeda, 1984) b) Sediment traps Estesaparelhos consistem num tipo de armadilha, geralmente colocada na coluna de água, para coletar os materiais particulados biogênicos (desde fezes até pedaços de organismos) ou inorgânicos que caem das águas superficiais para camadas mais profundas. Servem para estimar o fluxo vertical no oceano, de uma variedade de componentes químicos e biogênicos, bem como elucidar a natureza qualitativa desses componentes. Os aparelhos podem ser instalados na coluna de água, tanto fundeados, como em deriva; as amostras podem ser coletadas no decorrer de um período de tempo. Flotation Sediment Trap Mooring Wire Multiple Traps Acoustic Release Anchor Assembly Backup Flotation (figura do site www.pangaea.de/Projects/JGOFS/Methods/ cap. 24 – Sedment trap) 4- Metodologia de estudo e coleta do nécton A palavra nécton é originária do grego “nektós”, “que nada”. Os organismos do nécton diferem dos planctônicos pela mobilidade. Estes organismos podem nadar com os próprios meios e com capacidade suficiente para torná-los independentes dos movimentos de água e aptos a realizarem migrações em larga escala. Comparando-se com o plâncton e o bentos, o nécton não constitui um grupo muito diverso e, considerando a totalidade dos organismos, corresponde a apenas cerca de 0,1% da biomassa viva nos oceanos. Mas, devido ao tamanho e a visibilidade, para nós o nécton é o grupo mais familiar dentre os vários componentes da comunidade biológica marinha. Embora alguns mamíferos, répteis, aves e até alguns invertebrados (moluscos cefalópodes – lulas e sépias), sejam considerados nectônicos, os peixes constituem o grupo mais abundante e, portanto, são os mais estudados. Em parte devido à exploração da pesca e à necessidade em se obter informações acerca dos estoques, vários métodos foram desenvolvidos desde o início do século passado, tanto para os estudos biológicos das espécies, como para estudos relacionados com a dinâmica de populações, identificação dos estoques, estimativa de abundância, etc. Essas pesquisas constituem vastos campos de estudo, com inúmeras metodologias de coleta e análise específicas. Nos estudos biológicos os seguintes aspectos são considerados: genética, sistemática, taxonomia, eletroforese, análise cromossômica, histologia, bioenergética, fisiologia, toxicologia aquática, reprodução, comportamento, autoecologia e ecologia de comunidades. Em termos de estudos ecológicos, podemos considerar a autoecologia que inclui a distribuição, abundância e migração das espécies, enquanto que a ecologia de comunidades inclui a diversidade, a interação entre as espécies e a análise da trama trófica. Para os estudos relacionados com a dinâmica de população, são importantes os seguintes parâmetros: crescimento e determinação de idade, mortalidade (natural e por pesca) e recrutamento. Dinâmica de população pode ser definido como sendo o estudo de uma população como uma unidade vivente, em termos de balanço do que entra e o que sai desta população. A entrada se dá através do crescimento somático e recrutamento de novos indivíduos para a população, enquanto que a saída se refere à perda devido a mortalidade que pode ser natural ou por pesca. Outro dado importante a ser obtido é a estimativa de abundância ou biomassa da população. Essa estimativa é feita através de modelos matemáticos que requerem, além das informações sobre os processos biológicos, dados sobre o esforço de pesca e sobre o desembarque. Através deles pode-se fazer previsões sobre o desempenho da captura e o impacto de mudanças no esforço de pesca (no de barcos, tipo de redes, etc.) visando principalmente subsidiar as medidas de gerenciamento no sentido de conservar os estoques pesqueiros. A abundância pode ser considerada em termos relativos ou absolutos. O índice de abundância relativa mais utilizada é a Captura Por Unidade de Esforço (CPUE). O princípio básico do uso desse índice é que as variações no CPUE refletem as variações na abundância no estoque de peixes. Através da observação das variações deste índice em diferentes profundidades, áreas ou épocas, pode-se inferir sobre as mudanças na abundância absoluta do estoque pesqueiro. A CPUE pode ser tomada de diversas formas, dependendo do tipo de pescaria e das espécies capturadas. Alguns exemplos são: peso ou número de indivíduos capturados por anzol por hora; por armadilha por dia; ou por hora de arrasto. A abundância absoluta refere-se ao número real de indivíduos do estoque. Na maioria dos casos este valor é estimado através de métodos de avaliação direta como o senso visual e, principalmente através de avaliação indireta. Os principais métodos de avaliação indireta descritos são: Levantamento hidroacústico; Marcação e recaptura; Método de análise de dados estatísticos (captura e esforço); Estimativa do estoque desovante através do ictioplâncton; Método da área varrida (Técnica da pesca exploratória). As amostras de peixes para os estudos biológicos, assim como informações sobre a estatística de pesca são geralmente obtidas de duas formas: da pesca comercial (industrial ou artesanal) ou através de pesca experimental realizada por pesquisadores. O primeiro tipo apresenta como vantagem o baixo custo e a abundância de dados, porém as informações fornecidas pelos pescadores são, as vezes, pouco confiáveis. Além disso, o produto da pesca pode passar por uma seleção antes do desembarque. A amostragem a partir de pescas experimentais são confiáveis e existe a vantagem de se poder coletar conjuntamente outros dados importantes para o estudo, como os dados hidrográficos. Mas o maior problema desta estratégia é o custo da operação. Os dados mais importantes obtidos da pesca são os dados estatísticos de captura (quantidade, local, data etc.) e de esforço de pesca (tipo de aparelho, número de lances etc.), bem como os dados biológicos (freqüência de comprimento, peso, idade etc.). As capturas são geralmente muito grandes para serem examinadas nas suas totalidades, de modo que é necessário separar alguns indivíduos para serem analisados, isto é, fazer subamostragens, o que exige um procedimento cuidadoso e adequado para assegurar uma amostra representativa. Todos os aparelhos usados para pesca apresentam um certo grau de seletividade. Por exemplo, o tamanho do anzol vai determinar os tamanhos mínimo e máximo dos peixes a serem fisgados. O tamanho da malha da rede vai determinar o tamanho mínimo do peixe a ser capturado. a) b) c) d) a) Rede de cerco do tipo traineira (purse seine) para a captura de peixes pelágicos. (Royce,1996) b) Pesca com espinhel (long line) em águas oceânicas, para a captura de peixes pelágicos de grande porte. (King, 1997) c) Rede de arrasto de fundo (otter trawl) para captura de peixes demersais (Jennings et al., 2001). d) Rede de espera de fundo (set net) para captura de peixes demersais (Jennings et al., 2001). Técnica hidroacústica para a detecção de cardumes. Os cardumes são detectados através do eco-sonda (acima), e a forma com que os sinais são registrados no eco-grama (abaixo). Método de marcação e recaptura: - migração - comportamento - estimativas em estudos de populações (recrutamento, taxa de exploração, taxa de sobrevivência, etc. Aplicação de um método de estimativa de biomassa. O Método da área varrida (Técnica da pesca exploratória) é um dos métodos que tem sido utilizado para a estimativa de biomassa de peixes demersais nos projetos doIOUSP. Desta forma apresentamos, a título de exercício, este procedimento para ser aplicado com os dados a serem obtidos em Ubatuba. Procedimento: - realizam-se arrastos de fundo com redes de porta - a partir desses resultados podemos calcular a quantidade de peixes por área, ou seja, a biomassa. - A estimativa de biomassa é dada pela equação: B = Cw/v * (A/a), onde: Cw = captura média em peso efetuada por arrasto a = área varrida em uma unidade de esforço Cw/v = captura por unidade de área (CPUA) A = área total da viagem ou subárea v = Vulnerabilidade = fração de biomassa, na trajetória da rede, que é realmente capturada (proporção de peixes retidos) difícil de ser estimada devido a grande variação comportamental entre espécies. (valor escolhido entre 0,5 e 1,0) 1/v = fator de escapamento a = t.V.h.x , onde: t = tempo de arrasto V = velocidade de arrasto h = comprimento da tralha da boia (parte superior da boca) x = fração da tralha de boia que é igual a largura da trajetória varrida pelo arrasto (0,4 ~ 0,6). Pauly (1980) sugere o valor de 0,5. Esquema de uma rede de arrasto de porta (acima) e da área arrastada pelo aparelho. (figura de Sparre & Venema, 1997) 5- Amostragem dos organismos bentônicos Os organismos bentônicos podem ser coletados utilizando-se uma variedade de aparelhos. A metodologia e a forma de utilização dos equipamentos dependem de uma série de fatores, tais como o tipo de substrato, da profundidade local, embarcação, etc. Alguns equipamentos são apropriados para realizar amostragens quantitativas, enquanto que outras servem somente para amostragem qualitativa. Em ambientes de costões e praias, devido às facilidades de acesso ao local de amostragem, não há necessidade do emprego de equipamentos sofisticados de coleta. Mas há a necessidade do estabelecimento prévio do plano de coleta para prevenir eventuais erros ou vícios de amostragem. Dentre os métodos adotados os mais conhecidos são: método do quadrado, fotografias, amostragem sistemática em grade de amostragem. Em ambientes submersos, ao contrário, há necessidade de utilização de equipamentos, geralmente caros e sofisticados, tanto para alcançar os locais de coleta como efetuar a coleta propriamente dita. Em águas mais rasas que 30 m, a observação direta, contagem e coleta através do mergulho autônomo, constituem técnicas efetivas, que permitem ao mergulhador fazer coleta em todos os tipos de substrato, assim como fazer uma boa apreciação das condições naturais e distribuição dos organismos do megabentos. Comumente utilizam-se também pequenas embarcações e equipamentos de pequeno porte. Em profundidades além do limite dos mergulhadores, a maioria das informações sobre a ecologia do fundo marinho provém de inferências indiretas baseadas em amostragens. As amostragens tornam-se praticamente dependentes de aparelhos de coleta, sendo as mais tradicionais utilizadas para bentos os pegadores-de-fundo (Petersen, Van-Veen), corers (corer hidráulico, box corer), dragas, e redes de arrasto. A técnica da filmagem também é utilizada. Principalmente em região da plataforma continental estes equipamentos, embora longe do ideal, têm permitido a obtenção de grande volume de amostras o que possibilitou um largo conhecimento sobre o bentos, tanto do ponto de vista qualitativo como quantitativo. A eficiência destes aparelhos vai diminuindo a medida que se vai aumentando a profundidade. Muito pouco se conhece a respeito da vida nas zonas batial, abissal e hadal, devido a problemas relacionadas ao acesso. Neste caso, têm-se recorrido ao uso de submersíveis ou câmaras controladas para descer milhares de metros de profundidade. Nas últimas décadas, com o avanço da engenharia oceânica e robótica, têm sido desenvolvidos aparelhos, tanto tripulados como não tripulados (Alvin, Keiko), capazes de alcançar grandes profundidades, de modo que algumas comunidades de oceanos profundos, como as de fontes hidrotermais, puderam ser descobertas. Essas metodologias porém são muito caras o que limita as pesquisas do fundo marinho. Uma outra limitação é o fato de a vida animal não ser muito abundante em muitas áreas do fundo marinho, portanto seria desejável ter um grande número de amostras. O pegador e “box corer” são normalmente usados para amostrar a comunidade do substrato mole. Estes equipamentos são adequados para proceder uma amostragem quantitativa, sendo que os organismos podem ser separados do sedimento através do peneiramento. Corers hidráulicos para amostragem não perturbada também são usados, mas devido ao tamanho da amostra, estes são mais adequados para o meiobentos e microbentos. As dragas são armações pesadas de metal que são arrastadas sobre o assoalho marinho, enquanto os materiais vão sendo depositados num saco em forma cônica, geralmente constituído por panagens de rede reforçadas. Estes aparelhos não fornecem uma amostra quantitativa, mas permitem a coleta de grande quantidade de material, o que é útil em casos de locais muito pobres, como em oceanos profundos. As redes de arrasto de fundo, são comumente utilizadas na pesca, mas como no caso da draga, podem ser úteis na amostragem da epifauna, principalmente do megabentos. Beam trawl – um tipo de rede de arrasto com uma vara rígida sustentando a abertura da boca. Utilizado na pesca de peixes demersais, porém é util também para coleta do megabentos. (figura de Jennings et al., 2001) Draga com panagem de rede e armação de metal reforçado. (figura de Jennings et al., 2001) Esquema de funcionamento do box corer. Referências: BONEY, A.D., 1975. Phytoplankton. Edward Arnold (publ) Ltd, London. 116 p. BOURDILLON, A., 1971. L'Échantillonnage du zooplancton marin. In: Lamotte, M. & Bourlière, F. Problemes d'Ecologie: L'échantillonnage des peuplements animaux des milieux aquatiques. Masson et Cie, Paris. 294p. 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