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A Terra é possivelmente um planeta único no universo a qual, na verdade, deveria ser chamada de Planeta Água, uma vez que esta cobre 71% de sua super- fície. Ou, ainda, se fosse observada desde o espaço, Planeta Azul, já que esta é sua cor predominante. Assim, em função da influência marcante do oceano sobre o clima e o tempo, estudá-lo se torna importante porque: – é fonte de alimentos, energia, recursos minerais, princípios ativos de medica- mentos, entre outros recursos; – proporciona vias de navegação; – tem importância militar; – possibilita usos recreacionais; – é um rico cenário cultural e histórico. EMBARQUES CIENTÍFICOS Jorge P. Castello Instituto de Oceanografia – FURG Universidade Federal do Rio Grande C A P ÍT U L O 1 19EMBARQUES CIENTÍFICOS A superfície do oceano encontra-se em constante movimento, respondendo aos ventos, às correntes e a uma série de forças físicas que controlam sua dinâmica. Apesar da agitação da superfície, é possível ao homem observá-la e estudá-la – o que não ocorre com a água que se encontra em maiores profundidades, que lhe é um meio estranho devido à limitada capacidade humana de observação direta. Entretanto, é nesse mundo submerso que se encontra a maior diversidade de ambientes e seres vivos. Nesse contexto, a Oceanografia é um exemplo de ciência multi e interdisciplinar. Ou seja, já que cada feição oceanográfica tem uma assinatura física, química, biológica e geológica, é necessário ter uma abordagem múltipla e articulada. Isso tem levado cientistas, curiosos e ávidos por entender mais e melhor, conscientes dessa multidisciplinaridade, a colaborarem para responder a importantes questões. Para entender o que se sucede no mar, é necessário, na maioria das vezes, estar no mar e coletar informações que permitam observar o que está na superfície, mas também o que se encontra na coluna de água e sobre o leito marinho. Para essa finalidade, o sensoriamento remoto é uma ferramenta importante com a grande van- tagem da sinoticidade e da larga abrangência de escalas espaciais e temporais. No entanto, ele ainda é essencialmente limitado a uma lâmina superficial de água. Para saber mais e examinar com maior detalhe, é necessário aumentar a profundidade das observações e a maneira de resolver isso é baixar aparelhos e redes ao longo da coluna de água e/ou posicioná-los sobre o fundo do mar. Então, o emprego de uma embarcação é fundamental. No entanto, não pode ser qualquer embarcação. Ela deve reunir um mínimo de requisitos que levem em Fo to : S ér gi o Es tim a Fi lh o 20 JORGE P. CASTELLO D A N IL O C A L A Z A N S ( O R G .)consideração: segurança, autonomia de combustível e água, navegabilidade, capacida- de de manter posições, meios de comunicação, espaço de convés, potência, velocida- de média, potência elétrica dos geradores, número de tripulantes, dotação para pes- quisadores, técnicos e alunos, instrumentação fixa, tipo e número de guinchos para operar equipamentos, instrumentos e redes, entre outros requisitos. Assim, quando é proposto um cruzeiro oceanográfico, está intrínseco o compro- metimento com a procura de respostas para uma série de perguntas e hipóteses, as quais surgem, por exemplo, do exame dos antecedentes publicados, dos dados preté- ritos e das necessidades identificadas. Dessa forma, procura-se minimizar o risco de não obter as respostas procuradas e a consequente dilapidação de recursos. Os custos operativos de uma embarcação de pesquisa são muito onerosos e, por isso, um planejamento cuidadoso e adequado é fundamental. 1 PLANEJANDO UM CRUZEIRO OCEANOGRÁFICO 1.1 Considerações básicas A definição do objetivo do cruzeiro e a metodologia que será utilizada são aspec- tos cruciais em um evento desse tipo, da mesma maneira que quando se planeja uma pesquisa no laboratório. Após ter definido um ou mais objetivos para o cruzeiro, é recomendável pesquisar os antecedentes. Uma análise dos dados pretéritos costuma revelar que já se sabe mais do que se imagina. Entre as informações importantes para um bom planejamento encontram-se as seguintes: – extensão da área a ser pesquisada; – principais características batimétricas e topográficas; – cartas náuticas disponíveis e suas escalas; – regime meteorológico da região (temperatura média do ar, pressão atmosférica média, direção e intensidade dos principais ventos, frequência de passagem de frentes atmosféricas) de acordo com a época do ano. Lembrar que as diferenças são mais marcadas quanto maior é a latitude; – regime oceanográfico de acordo com a época do ano, distância da costa, profundidade e declive da plataforma continental (isso envolve a distribuição espacial de parâmetros como temperatura, salinidade, teor de oxigênio dissol- vido, concentração de nutrientes, material em suspensão, transparência e turbidez da água, penetração da luz, ondas de maré, entre outros). Hoje, existem bancos de dados detalhados contendo muita informação acumulada e interpretada; – presença ou ausência de aporte de águas continentais; – níveis médios de produtividade primária; 21EMBARQUES CIENTÍFICOS E S T U D O S O C E A N O G R Á F IC O S: D O I N S T R U M E N T A L A O P R Á T IC O – principais espécies vegetais e animais e suas inter-relações tróficas; – disponibilidade e acesso a dados satelitais em tempo quase real (fundamental- mente, Temperatura da Superfície do Mar (TSM), ventos, ondas e topografia submarinha). Em função dessas informações, ou de parte delas, deve-se considerar a questão das escalas espaciais e temporais. Determinados componentes do ecossistema e seus processos ou fenômenos abran- gem escalas temporais da ordem de minutos/horas e escalas espaciais da ordem de centímetros/metros (plâncton, desenvolvimento de ovos e larvas etc) e outros abran- gem escalas espaciais de dezenas a centenas ou milhares de quilômetros e escalas temporais da ordem de dias a meses ou anos (giros oceânicos, frentes termo-halinas, formação e destruição de termoclinas, migração de plâncton, peixes, mamíferos marinhos entre outros) (FIG. 1.1). Isso significa que a extensão espacial e a duração de um evento condicionam as melhores estratégias e escolha de amostragem. Provavel- mente nem sempre será possível fazer a escolha ideal e o pesquisador deverá adotar um compromisso viável com conhecimento das limitações inerentes à sua escolha. Levando em consideração a questão espacial e temporal, definem-se os equipa- mentos, os instrumentos e todo o material que será utilizado, a frequência de amostragem e o grau de cobertura. Fo to : P ro je to A m az ôn ia A zu l 22 JORGE P. CASTELLO D A N IL O C A L A Z A N S ( O R G .) Figura 1.1 Ilustração mostrando o espectro de escalas temporais e espaciais dos fenômenos (escalas logarítmicas) oceanográficos [adaptado de MCGOWAN e FIELD, 2002]. 1.2 Escolhendo a rede de amostragem e a cobertura espacial A escolha da rede de amostragem e o grau de cobertura espacial requerem equacionar a extensão da área de trabalho, os dias de navio disponíveis, o número de tripulantes, pesquisadores, técnicos e alunos que executarão o trabalho, o regime de horas (18-24h), o número de coletas (estações) a serem feitas, o tempo médio de operação dessas estações, entre outras variáveis. Normalmente, as estações de amostra são dispostas espacialmente para formar uma retícula cuja distância linear costuma ser de 20 milhas náuticas (mn) entre elas (FIG. 1.2A). Por sua vez, as estações costumam ser alinhadas numa transversal perpendicu- lar à costa (o que, no Rio Grande do Sul, equivale ao rumo 120° no sentido costa-mar). ciclos de duração das províncias biogeográficas extinção das espécies Variabilidade na abundância das espécies Espaço Te mp o cardumes migrações nictemerais anual fenômenos físicos de mesoescala Gera ção Hum ana marés 10 3 km 10 2 km Log L (cm ) km m cm s 2 4 6 8 10 0 min h dia mês 2 4 6 8 10 12 14 Log P ( s ) 3 4 10 10 2 10 ano ano ano ano sem ana períodode glaciação e deglaciação 23EMBARQUES CIENTÍFICOS E S T U D O S O C E A N O G R Á F IC O S: D O I N S T R U M E N T A L A O P R Á T IC O Essas transversais são regularmente separadas por 15-20 mn. A embarcação segue então um percurso sequencial, visitando cada uma dessas estações e executando as observações e coletas previstas. Outro planejamento pode usar a batimetria da região como, por exemplo, 10, 25, 50, 100, 150 e 200 m como base de coleta de dados (FIG. 1.2B). A embarcação pode seguir também uma rota em ziguezague ou retangular, o que é conhecido como rota grega. Figura 1.2 Redes de estações oceanográficas tendo a Plataforma Continental do sul do Brasil como exemplo: (A) com percurso equidistante; (B) em função da batimetria; (C) em pontos escolhidos aleatoriamente (detalhe no círculo dos números escolhidos); (D) em um determinado ponto. latitude Rio Grande - 28 ° - 29 ° - 30 ° - 31 ° - 32 ° - 33 ° - 34 ° - 49 ° - 48 ° - 47 °- 53 ° - 52 ° - 51 ° - 50 ° 21 20 19 18 17 16 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 3233 10 0 10 0 10 0 10 0 20 0 20 0 20 0 20 0 A 1 2 8 7 6 3 4 5 9 10 11 12 13 14 15 B C D 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 20 21 30 31 40 41 50 49 58 57 65 66 73 74 91 1 2 3 4 5 6 7 8 17 16 25 26 34 35 39 44 51 52 57 58 63 64 68 69 72 11 73 74 82 9 43 50 58 57 65 66 73 74 91 1 2 3 4 5 66 73 74 82 9 Santa Marta lo n g itu d e 24 JORGE P. CASTELLO D A N IL O C A L A Z A N S ( O R G .)Em determinadas circunstâncias, em que seja necessário garantir uma amostragem aleatória, outro tipo de desenho amostral pode ser adotado. Para isso, a superfície do mar ou de seu fundo pode ser dividida em subáreas de iguais dimensões e a escolha da subárea que será amostrada é decidida aleatoriamente ou seguindo uma estratificação, de acordo com classes de profundidade ou natureza do sedimento do fundo mari- nho (FIG. 1.2C). A escolha do tipo de percurso tem que levar em conta distância, tempo disponível e eficiência da cobertura. Ainda, é possível que seja necessário permanecer em um único local (FIG. 1.2D) por um tempo prolongado, realizando observações in situ durante 24h ou mais. Nesse caso, a estratégia é outra e ela é recomendada para acompanhar processos intensiva- mente em pequena área, mas com alta cobertura temporal. 1.3 Escolhendo os aparelhos É muito importante listar todo o material necessário antes do início do Cruzeiro (TAB 1.1, como exemplo). Em função não apenas dos parâmetros escolhidos para mensurar mas também das coletas de material vivo ou não vivo que seja necessário recolher, serão feitas as escolhas dos instrumentos de medição, como direção e inten- sidade do vento, ecossonda, roseta oceanográfica, Conductivity, Temperature and Depth (CTD), correntômetro, irradiômetro, fluorímetro, turbidímetro entre outros; e equi- pamentos de coleta, como garrafa, redes de plâncton, busca-fundo (pegadores de fundo), dragas, rede de barra ou de vara (beam trawl) para sedimentos e organismos de fundo e redes de arrasto de fundo e de meia água, emalhe, espinhel para peixes de fundo ou na coluna de água. Cada um desses instrumentos ou equipamentos tem demandas específicas de guinchos, bitola de cabo, resistência e velocidade de descida/ içado ou arrasto. Os instrumentos de medição devem estar previamente calibrados e o usuário ter os respectivos manuais de uso e manutenção sempre disponíveis. Detalhes como baterias com baixa carga ou sulfatadas, infiltração de água, umidade, conexões USB ou RS 32 defeituosas, por exemplo, podem provocar leituras erradas, que depois não poderão ser corrigidas, ou ainda impedir a leitura de um ou mais parâmetros. Ainda, sempre que possível – e se não houver restrições orçamentárias –, é recomendável ter unidades de reposição a bordo. Para os equipamentos de coleta, deve-se considerar a possibilidade de avarias ou perda. Portanto, cabos de segurança, revisão e reforço de manilhas (já que a trepidação provoca o afrouxamento e a soltura de parafusos), panos de rede para substituição são quase obrigatórios. 25EMBARQUES CIENTÍFICOS E S T U D O S O C E A N O G R Á F IC O S: D O I N S T R U M E N T A L A O P R Á T IC O Tabela 1.1 Exemplo de uma lista de material para um embarque científico. 1.4 As operações de convés e sua logística As operações de convés necessitam de ter um bom planejamento. Com esse fim, o Chefe científico tem que pensar na sequência das operações, quando a embarcação é posicionada numa estação. É de praxe que os trabalhos na estação comecem estan- do a embarcação parada, com o lançamento da roseta armada com o CTD, as garrafas de coleta, um fluorímetro, entre outros equipamentos. Ainda com a embar- cação parada, são usados os amostradores de organismos bentônicos e sedimento (os pegadores de fundo ou busca-fundo) e a rede vertical de plâncton. Depois, com a embarcação em movimento, costumam ser lançadas as redes para coleta de plâncton horizontais e oblíquas, dragas, side scan sonar e, por último, as operações de pesca, que variam de acordo com as espécies visadas. Material Consumo Álcool Copo completo para plâ Mangueira de látex Mangueira plástica Mangueira de silicone Manilhas Manuais de campo Manuais dos equipamentos Material de dissecção Monobloco Pesos de 1 kg Pedra p/ar Pinça Planilha de registro Régua paralela Abraçadeira de inox Agulha histológica Balde com tampa 20 L Bandeja plástica Bomba de ar 110 V Bomba de ar 220 V Bomba de ar a pilha Bambonas Botas de borracha Cabo de aço de 4 mm Cabo de náilon seda de 6 mm Cabo de náilon seda de 10 mm Camburão 50 L/100 L/200 L Caixa de ferramentas Caixa de isopor Caixa plástica Capa de chuva Capacete Compasso Conexão plástica p/tubo ncton Engradado de garrafas plásticas Etiqueta Faca de peixe Formol puro Frascos plásticos vários volumes Funil sMalhas de náilon para con erto Lanterna comum Lanterna de mineiro Luva de pano b iaJaqueta o Luva de látex P / M / G Material de Escritório Adaptador de tomada Atilho Borracha Cabos diversos para informática Calculadora Caneta Cartuchos de tinta Clipes Cola tipo Araldite Cola tipo silicone DVD Envelope pardo Estilete Extensão T Fio de extensão Fita crepe Fita isolante Grampeador Hubs Impressora Lápis Notebook Papel A4 Papel toalha Pen Drive Pilha AAA, AA, Média, Grande Pilha 9V Pincel atômico Prancheta Projetor multimídia Régua comum Saco plástico Tesoura Amostrador van Veen Sonar de varredura lateral Sonda multiparâmetro Termossalinômetro Termômetro de cubeta Turbidímetro Rede meia água com portas Rede de barra (Beam trawl ) Rede Isaacs-Kidd Rede bongo Rede cônica Rede cilindrocônica Rede neustônica Roseta Softwares básicos Soluções químicas ADPS Amostrador Dietz-Lafond Amostrador cilíndrico Balança pequena Balança 300 kg Balança de precisão Balança eletrônica Box corer Carta náutica Clinômetro Correntômetro CTD Depressor Disco de Secchi Draga biológica Ecossonda portátil Fluorímetro Fluxômetro Garrafa coletora de água GPS Ictiômetro Irradiômetro Kit para química Máquina fotográfica Mecanismo fechamento Mensageiro Oxímetro Ph metro Polia hodométrica Profundímetro Rede de fundo com portas Refratômetro Aparelhos uantQ QuantQuant 26 JORGE P. CASTELLO D A N IL O C A L A Z A N S ( O R G .)Em todas essas operações o ideal é que uma tripulação permanente trabalhe no navio lado a lado com os pesquisadores, técnicos e alunos. No entanto, aquelas opera- ções ou manobras que envolvam guinchos de qualquer natureza são de responsabili- dade dos tripulantes, após serem instruídos pelo Comandante do navio. Nesse aspec- to, é necessário ressaltar que o Comandante é a máxima autoridade a bordo, respon- sável pela segurança das vidas e da embarcação. Por isso, é recomendável que o Chefe científico do cruzeiro mantenha uma reunião prévia com o Comandante, explicando- lhe o roteiro de navegação, todas as operações previstas e o pessoal técnico/científico que será alocado nas diversas tarefas. A experiência indica que, antes deiniciar um cruzeiro, que pode demandar 15 a 25 dias de navegação, contemple-se a realização de uma saída piloto de apenas 1 ou 2 dias de duração, na qual serão testadas todas as operações, com a finalidade de verificar a viabilidade, as dificuldades, os riscos e acertar/corrigir detalhes que podem poupar a ocorrência de problemas não previstos. Cada embarcação é diferente de outra e, portanto, é difícil indicar um modelo de operações único. No entanto, com um pouco de experiência, é possível chegar a um plano de trabalho como, por exemplo, o do Navio de Pesquisa (N/Pq) Atlântico Sul, onde cada atividade tem um lugar e uma sequência certa no convés (FIG. 1.3). 1.5 O registro das informações Durante o cruzeiro, muitas informações são geradas. Por isso, organizá-las visando a sua pronta recuperação e seu uso é algo indispensável. Planilhas de registro bem elaboradas, de fácil interpretação e uso amigável são fundamentais. Ainda, numa etapa mais avançada das análises, é preciso realizar diversos testes estatísticos; em função disso, as planilhas devem estar bem organizadas e sempre à disposição de todos os participantes do cruzeiro e de outros interessados. Outra informação importante é a de que cruzeiros oceanográficos requerem a inter-relação dos dados. Assim, para cada estação de amostragem e as respectivas coletas de dados ambientais e de material biológico ou geológico, é necessário saber todos os pormenores que ajudarão na melhor interpretação dos resultados obtidos. O material biológico ou geológico coletado, que será processado e analisado em terra, tem que estar devidamente conservado, identificado e etiquetado. Dependendo da natureza da amostra coletada, as etiquetas têm que ser de material resistente à água e ao manuseio, como papel vegetal ou mesmo papiro e escritos de forma a conter informações básicas, como nome do projeto, número da estação e data de coleta. Também é necessária, para cada tipo de coleta, uma planilha de registro (ANEXOS 2 a 19), em que serão anotadas todas as observações pertinentes. Vale a pena lembrar que uma amostra coletada com identificação deficiente equi- vale a uma amostra perdida, de difícil ou impossível substituição. 27EMBARQUES CIENTÍFICOS E S T U D O S O C E A N O G R Á F IC O S: D O I N S T R U M E N T A L A O P R Á T IC O Figura 1.3 Planta do convés do N/Pq Atlântico Sul, mostrando o arranjo dos guinchos e os locais indicados para as diferentes operações (* com a embarcação em movimento). água de superfície disco de Secchi multisonda plâncton-bomba BO BE garrafa CTD rede vertical de plâncton busca-fundo rede horizontal de plâncton rede neustônica * * disco de Secchi rede Isaacs-Kidd rede de meia água rede de arrasto draga beam trawl* * * * * rede Bongo rede Multinet * * *box corer side scan sonar la b o ra tó ri o 28 JORGE P. CASTELLO D A N IL O C A L A Z A N S ( O R G .)1.6 Acondicionamento e estocagem O acondicionamento das amostras em vidros, sacos plásticos, congeladas ou con- servadas em formalina a 10%, 4% ou 2%, ou álcool 70%, é outro aspecto importante a considerar. Devido ao balanço do navio, é importante que as amostras sejam esto- cadas de forma segura até o momento do desembarque, sob pena de comprometer total ou parcialmente o esforço despendido na coleta. Para preparar 1 litro de solução de formalina a 4% o procedimento, usando a equação global de diluição, é: em que: V 1 é o volume do formoldeído comercial necessário; V 2 é o volume da solução desejada (no caso 1.000 mL); C 1 é a concentração do formoldeído comercial (100%); C 2 é a concentração da formalina desejada (4%). Então, o volume é de 40 mL de formoldeído e 960 ml de água do local para completar 1.000 mL de solução de formalina a 4%. Para neutralizar o pH dessa solução utiliza-se 4 g de tetraborato de sódio (Bórax). Para preparar 1 litro de solução de álcool a 70% o procedimento é: em que: V 1 é o volume do álcool comercial necessário; V 2 é o volume da solução desejada (no caso 1.000 mL); C 1 é a concentração do álcool comercial (96%); C 2 é a concentração do álcool desejado (70%). Então, o volume é de 729 mL de álcool e 271 mL de água do local para comple- tar 1.000 ml de álcool a 70%. V C = V C1 1 2 2x x V 100% = 1.000 mL 4%1 x x V 96% = 1.000 mL 70%1 x x V C = V C1 1 2 2x x 29EMBARQUES CIENTÍFICOS E S T U D O S O C E A N O G R Á F IC O S: D O I N S T R U M E N T A L A O P R Á T IC O 1.7 Resultados preliminares e relatórios É recomendável analisar os resultados obtidos de forma preliminar durante a própria execução do cruzeiro. As facilidades de computação presentes, com softwares que permitem rápida elaboração de gráficos, constituem-se como uma ferramenta importante para a análise inicial dos resultados obtidos numa estação ou num perfil/transversal. Dessa forma, é possível obter informações que ajudem a tomar decisões para direcionar melhor as amostragens ou ainda detectar erros que podem ser reparados. Seguindo uma rotina pré-estabelecida, é importante elaborar um relatório de cruzeiro que deverá ser distribuído a todos os cientistas do cruzeiro, sintetizando as principais atividades e os resultados preliminares. CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar do planejamento, não se pode descartar a ocorrência de diversos imprevistos como, por exemplo, condições meteorológicas adversas, problemas mecânicos da embarcação, anomalias nos equipamentos, falhas eletrônicas nos instrumentos ou, ainda, problemas de saúde dos tripulantes, pesquisadores, técnicos e alunos. Para minimizar seus efeitos, pode-se reservar 10% de tempo adicional na programação e no cálculo de custos. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA McGOWAN, J.A.; FIELD, J.G. Ocean Studies. In: FIELD, J.G.; HEMPEL, G.; SUMMERHAYES, C.P. (Ed.). Oceans 2020: science, trends and the challenge of sustainability. Washington, DC: Island Press, 2002. p. 9-48. Fo to : D im as G ia nu ca