Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DOMINIOS DE MANGUEZAL COMO PROXY PARA A DETERMINAÇÃO DOS PADRÕES DE INUNDAÇÃO DIFERENCIAL NO ESTUÁRIO DO RIO POJUCA, CAMAÇARI, BAHIA. Emanuel Henrique Valença Silva 1. Introdução Os manguezais são ecossistemas costeiros que ocorrem nas regiões tropicais e subtropicais do planeta na transição entre os ambientes terrestres e marinhos (e.i. estuários, lagunas e planícies de maré), e estão sujeitos ao regime diário das marés (LONDE et al., 2013; COSTA et al., 2014). São comumente atribuídos com ambientes heterogêneos e complexos, visto a forte interação entre as características físicas e químicas que ocorre nesses ecossistemas (MEIRELES et al., 2017; SANTOS, 2018). A vegetação lenhosa dos manguezais é altamente adaptada às condições físicas e químicas da água salobra, do solo lamoso e pouco oxigenado (SANTOS, 2018). Além da salinidade, fatores como: umidade, radiação solar, temperatura, salinidade, altitude, topografia, características do solo e declividade (LOBÃO e VALE, 2008; SANTOS, 2018). Contudo é a variação da salinidade nesses ambientes que determina a distribuição das espécies vegetais encontradas nesse ecossistema (SANTOS, 2018; SOUZA, 2018; PAULINO, 2022). Figura 1: Mapa de localização da bacia hidrográfica do Rio Pojuca. As marés constituem o principal mecanismo de entrada das águas salinas nos manguezais (MEIRELES et al., 2017; SANTOS, 2018). Nestes ambientes, a dinâmica das marés forma dois gradientes ambientais: o gradiente vertical, relacionado ao alagamento das marés, e o horizontal de salinidade, que aumenta com a proximidade do mar (GOMES, 2018; SANTOS, 2018; MELO, 2019). Dentro desse contexto, foi realizado um levantamento experimental da salinidade da desembocadura do Rio Pojuca em busca de determinar o desenho da cunha salina do estatuário em relação ao domínio e extensão do manguezal do Rio Pojuca. 2. Metodologia Área de estudo O estudo foi conduzido na foz do Rio Pojuca, localizado em Camaçari, Bahia. Com a nascente localizada a quase 200 km da sua foz, o Rio Pojuca abrange parte da zona rural de Feira de Santana e os municípios de Irará, Coração de Maria, Terra Nova, Teodoro Sampaio, Alagoinhas, Catu, Pojuca, Mata de São João e Camaçari (BAHIA, 1992; BAHIA 1997; VILLALBA, 2020). Figura 2: Mapa de localização do estudo na foz do Rio Pojuca. O rio Pojuca também constitui o divisor natural dos municípios de Camaçari e Mata de São João (BAHIA 1997; VILLALBA, 2020). O estuário do Rio Pojuca é típico de regiões tropicais que são influenciadas pela ação das marés e protegidas da ação das ondas (BAHIA 1997). Figura 3: Fotos da foz do Rio Pojuca, a direita (1) encontra-se a foz do Rio sentido continente e a esquerda (2) a foz do Rio sentido oceano. Amostragem dos pontos A coleta das amostras foi realizada no dia 04 de maio de 2023. Foram coletados inicialmente 14 amostras de água, sendo 11 pontos de água superfície e 3 pontos de fundo. Conforme as amostras eram coletadas em um pequeno frasco plástico e posteriormente uma pequena parte delas eram pingadas sobre a lente do refratômetro de bolso onde a salinidade era analisada. Contudo só foram utilizados os 10 pontos coletados em superfície, visto que os pontos de fundo não apresentaram valores divergentes dos pontos de superfície. Os resultados obtidos para salinidade das amostras coletadas encontram-se na tabela 1. Figura 4: Coleta de água em campo, sendo realizada por um dos alunos da disciplina. Posteriormente a coleta, os pontos foram plotados no software QGIS e interpolado com a função de interpolação TIN com o método de interpolação do cúbica em busca de valores mais representativos e melhores distribuídos. Figura 5: Mapa de localização dos pontos de amostragem de água. Limites do manguezal De acordo com o relatório do Centro de Recursos Ambientais (CRA) o manguezal da região apresenta espécies vegetais com aspecto bastante homogêneo, tanto do ponto de vista fisionômico, estrutural e de sua composição fitológica. Ainda de acordo com o mesmo relatório a maré é um dos fatores físicos que mais influenciam na estrutura do estuário em seu funcionamento. Onde a amplitude vertical da maré determina a profundidade de inundações e extensão vertical da vegetação e seu ciclo controla a frequência e duração da submergência e emergência. As flutuações periódicas do nível d’água decorrentes das marés favorece à colonização pela vegetação do mangue, de modo a salinizarem o solo e impedirem que plantas que não possuem mecanismos de adaptação para suportar a presença de sal não desenvolvam (PAULINO, 2022). Para esse estudo os limites da vegetação de manguezal foi considerado o shapefile da vegetação de manguezal disponibilizada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), atualizado em 2021 e da delimitação traçada pelo autor com base em imagens de satélite disponibilizadas pela Google. Figura 6: Mapa das zonas de mangue da foz do Rio Pojuca. 3. RESULTADOS E DISCURSÃO Variação espacial da salinidade A variação da salinidade no estuário ocorre de forma não linear, conforme exposto na tabela 1. Com o valor mais alto de salinidade ocorre do na boca do estuário e os mais baixos no berço. Contudo o estuário do Rio Pojuca apresentou uma camada de mistura entre a água do rio e a oceânica anômala. Ponto Latitude Longitude Salinidade 1 -12°35'52,9" -38°01'52,2" 31 2 -12°35'48" -38°01'54,4" 0 3 -12°35'50,3" -38°01'51,1" 19 4 -12°35'50,6" -38°01'51,3" 15 5 -12°35'50,3" -38°01'52,9" 11 6 -12°35'49,9" -38°01'52,9" 8 7 -12°35'47,6" -38°01'54,7" 2 8 -12°35'47" -38°01'55,3" 0 9 -12°35'45,7" -38°01"55,8" 0 10 -12°35'45,4" -38°01'57,2" 0 Tabela 1: dados coletados em campo dos 10 pontos utilizados para a análise da cunha salina do Rio Pojuca no dia da coleta. Essa anomalia ocorre devido a formação de uma zona de salinidade 0 (ponto 2) cercada a norte (ponto 7) por salinidade 2 e a sul (ponto 6) salinidade 8. A sul, sentido interior do continente, a salinidade do estuário volta a decair. A norte a salinidade aumenta, contudo não atinge o valor médio para a salinidade das águas oceânicas que indica que parte da água doce ainda atinge partes externas do estuário. Figura 7:Mapa das isolinhas de salinidade estimadas a partir da interpolação realizada no QGIS. A chegada de água do rio na parte externa do estuário pode ser melhor vista a partir da interpolação dos dados de salinidade. Além da chegada de água doce na praia a interpolação sugere uma inundação diferencial do estuário com a formação de uma cunha salina bifurcada levemente assimétrica. Onde ocorre uma invasão de água salina sendo mais intensa na face direita do rio que na esquerda Essa inundação diferencial do estuário pode ocorrer por diversos motivos. Um deles sendo irregularidades no fundo do estuário provocada pela ocorrência de bancos de areia submersos, estes que podem ser observados emersos a partir da analise de fotos de satélite de séries histórica da região quando a vazão do rio é reduzida nos períodos de seca. Outro fator que pode colaborar com a formação da cunha salina bifurcada é a ocorrência de um pequeno afluente na margem esquerda que derrama água doce diretamente na zona proximal do estuário. Limites do manguezal O limite do manguezal observado na região em relação as margens do Rio Pojuca encontram-se em posições diferentes das margens. Enquanto na margem esquerda do rio o manguezal estendesse até o início da praia, o manguezal na margem direita encontra-se recuado, com a formação de dunas embrionárias no pós-praial. Figura 8:Mapa das zonas de mangue e estimativa de salinidade foz do Rio Pojuca. Esse recuo do manguezal na margem direita colabora com a interpolação dos dados de salinidade e com a proposta de que inundação do estuário do Rio Pojuca é diferencial. À medida quea água que invade o rio vinda do oceano é bifurcada e desviada para as margens formando duas cunhas salinas, uma a direita e outra a esquerda. Onde margem esquerda, pela ocorrência de um afluente menor a invasão da água oceânica durante o processo de cheia da maré é barrada com sua cunha salina sendo mais curta e estendendo-se até a zona de praia. Já na margem direita o processo de invasão é mais intensa com a extensão da cunha salina em uma parte mais interna do estuário. Dessa forma a ocorrência de mangue ao sul, mais próximo a praia, na margem direita seria inibida pela alta salinidade que chega em zonas mais internas ao estuário (QUIÑONES, 2000; OLIVEIRA, 2018). A alta salinidade representa um desafio fisiológico ainda maior das plantas para manter a condutividade hidráulica devido os potenciais hídricos altamente negativos que tornam a aquisição de água com mais riscos de falhas (QUIÑONES, 2000; MÉNDEZ-ALONZO et al., 2016). O mesmo em grande quantidade torna-se um agente estressor que prejudica o crescimento e pode ocasionar a morte o indivíduo (MÉNDEZ-ALONZO et al., 2016; RODRIGUES, 2020). A oposto da margem direita, a margem esquerda encontra-se abrigada por uma barreira de água doce que reduz a influência da salinidade oceânica no desenvolvimento do manguezal nessa margem (MÉNDEZ-ALONZO et al., 2016; OLIVEIRA, 2018; RODRIGUES, 2020). 4. CONCLUSÃO O desenvolvimento da atividade permitiu associar os conceitos de influência dos fatores abióticos, nesse caso a salinidade, nos ecossistemas marinhos e costeiros. E como esses são importantes determinantes na extensão e domínios dos mesmos sobre as áreas. A determinação da relação entre alcance salino e ocorrência de manguezais é fundamental para estudos de zoneamento socioambiental, definições de áreas de preservação ambientais (APAs) e reservas legais (RLs) no caso de propriedades privadas e particulares. 5. REFERÊNCIAS BAHIA (Estado). Decreto nº 1.046, 17 mar. 1992. Cria a Área de Proteção Ambiental do Litoral Norte do Estado da Bahia e dá outras providências. Disponível em: < http://www.inema.ba.gov.br/>. BAHIA (Estado). Resolução 1.040, 21 fev. 1995. Aprova o Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) do Litoral Norte do Estado da Bahia. Disponível em: < http://www.inema.ba.gov.br/>. http://www.inema.ba.gov.br/ http://www.inema.ba.gov.br/ COSTA, Diógenes Félix da Silva et al. ANÁLISE FITOECOLÓGICA E ZONAÇÃO DE MANGUEZAL EM ESTUÁRIO HIPERSALINO. Mercator, Fortaleza, v. 13, n. 1, p. 119-126, 1 jan. 2014. CRA - CENTRO DE RECURSOS AMBIENTAIS (BA). Bacias Hidrográficas do Recôncavo Norte. Salvador, 2004. GOMES, Jacqueline Ellen Pinheiro. EXTENSÃO DA INTRUSÃO NO ESTUÁRIO MOCAJUBA E SUA INFLUÊNCIA DOS PARÂMETROS FÍSICO QUÍMICOS E QUALIDADE DE ÁGUA. Orientador: Iranilson Oliveira Silva. 2018. 70 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Oceanografia) - Faculdade de Oceanografia, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Pará, Belém, 2019. MELO, Átila Dantas Escóssia de. VARIAÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL DE ASSEMBLEIAS DE PEIXES EM POÇAS DE MARÉ EM MANGUEZAL. 2019. 52f. Dissertação (Mestrado em Ecologia) - Centro de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2019. MEIRELES, Antonio Jeovah De Andrade et al. ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA) DA BARRA GRANDE EM ICAPUÍ-CE: CAMINHOS PARA A SUSTENTABILIDADE. Conex. Ci. e Tecnol., Fortaleza/CE, v. 11, n. 5, p. 90-100, 1 dez. 2017. Méndez-Alonzo, R., López-Portillo, J., Moctezuma, C., Bartlett, M. K., & Sack, L. OSMOTIC AND HYDRAULIC ADJUSTMENT OF MANGROVE SAPLINGS TO EXTREME SALINITY. TREE PHYSIOLOGY, 36 (12), 1562-1572. 2016. OLIVEIRA, M. H. de. USOS DA TERRA E VULNERABILIDADE AMBIENTAL NO ESTUÁRIO-LAGUNAR DO GURIÚ, COSTA OESTE DO CEARÁ. 2018. 76 f. Monografia (Graduação em Ciências Ambientais) - Instituto de Ciências do Mar, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2018. QUIÑONES, Eliane Marta. RELAÇÕES ÁGUA -SOLO NO SISTEMA AMBIENTAL DO ESTUÁRIO DE ITANHAÉM (SP). Orientador: Archimedes Perez Filho. 2000. Tese de Doutorado (Doutorado) - UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, [S. l.], 2000. SANTOS, Elisângela Carmo dos. A INFLUÊNCIA DE GRADIENTES AMBIENTAIS NA DIVERSIDADE DE TEREDINÍDEOS EM UM MANGUEZAL ESTUARINO. 2018. 87 f. Dissertação (Mestrado em Ecologia e Recursos Naturais) - Centro de Ciências, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2018. SOUZA, C.A.; DUARTE, L.F.A.; JOÃO, M.C.A. & PINHEIRO, M.A.A. BIODIVERSIDADE E CONSERVAÇÃO DOS MANGUEZAIS: IMPORTÂNCIA BIOECOLÓGICA E ECONÔMICA, Cap. 1: p. 16-56. In: Pinheiro, M.A.A. & Talamoni, A.C.B. (Org.). Educação Ambiental sobre Manguezais. São Vicente: UNESP, Instituto de Biociências, Câmpus do Litoral Paulista, 165 p. 2018. PAULINO, Rachel Santini. EFEITO DA SALINIDADE, TEMPERATURA E COMPETIÇÃO INTERESPECÍFICA SOBRE A DISTRIBUIÇÃO DE TRÊS ESPÉCIES DE MACRÓFITAS AQUÁTICAS TROPICAIS. Orientador: Antonio Fernando Monteiro Camargo. 2022. Tese de doutorado (Doutorado) - UNESP, São Paulo, 2022. VILLALBA, KELVIN SOJO. ANÁLISE DA CAPACIDADE E CONFLITOS DO USO E COBERTURA ATUAL DA TERRA NA APA-LITORAL NORTE DO ESTADO DA BAHIA, ENTRE OS RIOS POJUCA E IMBASSAÍ – MUNICÍPIO DE MATA DE SÃO JOÃO. Orientador: Dr. Alisson Duarte Diniz. 2020. 170 p. Dissertação (Pós-Graduação em Geografia) - Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2020.
Compartilhar