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DEPARTAMENTO DE GEOLOGIA – SCT/UFPR GEOLOGIA ECONÔMICA / PROSPECÇÃO GERAL E PESQUISA MINERAL 2007 Profa. Dra. Maria José Mesquita DEPÓSITOS DE OURO OROGÊNICO E EPITERMAIS 1. DEPÓSITOS DE OURO OROGÊNICO Depósitos de Ouro mesotermal estão associado com terrenos de metamorfismo regional de todas as idades (fig.1). O minério se formou por processos deformacionais, compressionais a extensionais, em limite de placas de terrenos de acresção ou colisão. Nos dois tipos de terrenos, sedimentos marinhos hidratados e rochas vulcânicas foram introduzidas em margem continental durante 10 ou 100 milhões de anos de colisão. Eventos termais relacionados à subducção, podem aumentar episodicamente o gradiente geotérmico dentro das seqüências de acresção hidratadas, iniciar e controlar a migração de fluidos hidrotermais por longas distâncias. Os veios de quartzo auríferos resultantes são alojados em um intervalo único para depósitos hidrotermais, com deposição de ouro desde 15-20Km a ambientes próximos da superfície. Com base no amplo intervalo de profundidade de formação, o termo mesotermal não é bem aplicado a este tipo de depósito como um todo. A única associação espacial e temporal deste tipo de depósito é a orogenia e por isso o sistema de veios é melhor designados de “depósitos de ouro orogênico” conforme descrito pela primeira vez por Groves et al. (1998). Muitos depósitos são pós-orogênicos em relação ao tectonismo das rochas encaixantes, mas são simultaneamente sin- orogênicos em relação aos processos termais relacionados à subducção em profundidade crustal. Por isso, o prefixo orogênico satisfaz ambas as condições. Com base na profundidade de formação, os depósitos orogênicos são melhor subdivididos nas classes: Com base na profundidade de formação, os depósitos podem ser subdivididos nas classes (Groves et al. 2003) e figura 2: • epizonal (< 6Km), • mesozonal (6 - 12Km) • hipozonal (>12Km). O sufixo zonal pode ser sinônimo de termal, contudo a classificação de Lindgren (1933) não corresponde a profundidades aceitas hoje em dia. Em termos de nomenclatura, o nome ouro orogênico refere-se à associação temporal e espacial dos depósitos com deformação e orogenia. Sinônimos deste depósito são: • Depósitos de ouro mesotermais • Depósitos de ouro tipo lode • Tipo mother lode • Depósitos de ouro Nomes usados em terrenos específicos são: • Depósitos de ouro Arqueanos • Depósitos em greenstone belts 2 Figura 1 - Ambientes tectônicos de depósitos de ouro epigenéticos. Depósitos de veios epitermais e Cu-Au pórfiros /escarnitos formam em profundidades rasas (<5Km) em arcos continentais ou de ilhas e regimes compressionais a extensionais. Os veios epitermais e os depósitos sedimentares tipo Carlim, também são alojados em nível crustal raso de regiões de back-arc (afinamento crustal) extensionais. Em contraste, os ditos depósitos de Au mesotermais” (chamados orogênicos neste artigo) são alojados durante regimes compressionais a transpressionais da crosta superior, em cinturões acrescionários a adjacentes a arcos magmáticos continentais. Figura 2 - Ambiente crustal de depósitos de ouro hidrotermais em termos de profundidade de formação e ambiente estrutural dentro da margem de placa convergente (Groves et al. 1998). Indicacação dos depósitos epizonais, mesozonais e hipozonais. Os depósitos de ouro orogênicos se distinguem da maioria dos demais depósitos de ouro, como tipo - pórfiro, tipo epitermal, tipo sulfeto maciço vulcanogênico (VMS), por pelo menos uma das premissas citadas a seguir: 3 (a) Ausência de concetrações anômalas de Cu, Pb, Zn e ausência de concetrações de Mo ou Bi; (b) Alta razão Au:Ag, normalmente >1, mas raramente <0,1; (c) abundância de alteração hidrotermal carbonática no depósito em ambientes metamórficos de fácies xistos verdes; (d) Inclusões fluidas com baixa salinidade e composição H2O-CO2-CH4, com XCO2 >10 mol% e δ18O do fluido entre 5-12 ‰; (e) feições estruturais tardias em relação ao pico metamórfico. 1.1 DISTRIBUIÇÃO GLOBAL E AMBIENTE TECTÔNICO Os depósitos de ouro orogênico são distribuídos globalmente e ocorrem minas em todos os continentes, exceto Antártica. Aproximadamente 70 províncias significativas são conhecidas e os cinturões do Arqueano, Paleoproterozoico, Paleozóico e Mesozóico contém a maioria dos depósitos. Com base em uma esplêndida reconstituição do Rodínia a 1000Ma (figura 3), observa-se a localização das principais províncias de ouro na época. O autor individualiza blocos cratônicos Arqueanos e Paleoproterozóicos envoltos por faixas móveis da época, os cinturões orogênicos Mezoproterozóicos. O retrabalhamento dos cinturões colisionais do Rodínia durante o último 1 Ga expôs rochas, de alto grau metamórfico, do embasamento que estão em baixo de zonas favoráveis para formação de ouro. É claro, que estas zonas podem ter sido erodidas. Figura 3 - Reconstituição do Rodínia a 1000M conforme Unrung (1996). `Províncias auríferas conforme Goldfarb et al. (2001). Antártica Leste Laurentia Sibéria China norte Báltica Amazonia Africa oeste Rio de La Plata Congo Tapajos - Parima São Francisco Índia 4 Já na reconstituição do Paleozóico, é possível observar que a distribuição das maiores províncias de ouro estão bastante alinhadas com os cinturões orogênicos, na borda dos crátons (em cinza). Reconstituição global em 356 M.a. Por causa do forte controle tectônico, os depósitos de ouro orogênicos tendem a formar províncias alongadas, ao longo do comprimento dos cinturões orogênicos, onde se formam. Isso é bem observado na distribuição dos depósitos Mesozóicos e Paleozóicos ao longo dos cinturões orogênicos desta idade Figuras 4 e 5, extensamente discutido em Goldfarb et al (1998). Figura 4 - Reconstituição global na era paleozóica (Goldfarb et al. 2001). Distribuições similares existem em cinturões mais antigos, mas são menos claras, pois os cinturões orogênicos antigos foram fragmentados e subsequentemente reconstruídos, como parte do ciclo dos supercontinentes (Fig. 3). Uma reconstrução tectônica detalhada deve ser feita nestes terrenos Pré-cambrianos, para determinar a continuidade prévia das províncias orogenéticas auríferas. Estas reconstruções tem significados importantíssimos para a exploração mineral, pois podem definir regiões prospectivas da Terra, que uma vez formaram partes adjacentes do mesmo cinturão orogenético. 5 Figura 5 - Distribuição das províncias de ouro orogênico nos cinturões orogênicos do Paleozóicos e Mesozóicos do Circum-Pacífico (Goldfarb et al. 1998). 1.2 FLUXO DE FLUIDOS EM DEPÓSITOS DE OURO OROGÊNICO O que é possível interpretar sobre os padrões de grande escala de fluxo de fluidos a partir das características do depósito (Fig. 6): a) O fluxo de fluidos ocorre em distâncias verticais significativas. A continuidade em profundidade do depósito (aproximadamente 3Km) é tomada como distância vertical mínima de fluxo. Muitas minas não apresentam uma raiz geológica bem definida, e a profundidade de mineração é restrita, o que pode influenciar diminuição gradual de teor com a profundidade. O modelo proposto por Groves (1993) é de que cada corpo de minério (orebody) deve ser contínuo por 10 a 15Km ao longo do plunge. b) O fluxo de fluido é dominantemente ascendente. O forte ângulo de mergulho dos corpos de minério indicam um movimento de fluido sub-vertical. A distribuição dos veios de quartzo e silicificação no depósito são as evidências mais fortes do movimento vertical ascendente. Este tipo de fluxo é indicativo do papel fundamental da pressão de fluidos nestes sistemas, com jádescrito por Sibson no seu modelo “fault-valve behavior” (Mesquita, 1995 texto no xerox). c) Fluxo de fluido em canais simples. O modelo de fluxo simples é mais condizente com os corpos de minério com morfologia tabular a pipe, e ausência de zonas de alteração hidrotermal lateralmente adjacentes aos corpos. d) Fluxo de fluido fortemente canalizado. É evidenciado pelas zonas de alteração hidrotermais bem marcadas ao redor dos veios de quartzo mineralizados, pelos espaços vazios preenchidos por sistemas de vênulas na rocha encaixante, como jogs dilatacionais, e evidências de cisalhamento simples controlando as zonas de falha reversa, responsáveis pelo bombeamento do fluido e canalização deste. 6 Figura 6 - Modelo de canalização do fluido, interação fluido-rocha e precipitação do ouro. 1.3 MODELO ATUAL DE FORMAÇÃO DOS DEPÓSITOS DE OURO OROGÊNICO Se pegarmos o modelo atual de subducção da placa Ruan de Fuca sobre a placa norte-americana, os dados termais crustais de alta condutividade elétrica indicam camadas com porosidade alta, ricas em fluidos (figura 7). Estes dados podem indicar uma devolatização da placa Juan de Fuca e grande circulação deste fluidos na região. Usando medidas de fluxo de calor, é possível visualizar gradientes termais muito altos se estendendo por 20Km oeste do arco magmático Cascade. Isso pode indicar a geração de um reservatório de fluidos em profundidade. Nos dois casos, os fluidos poderão ser canalizados por zonas de cisalhamento, gerar sistemas hidrotermais gigantescos e formar depósitos de ouro orogênicos modernos. Estes vão estar expostos na superfície daqui a dezenas de milhões de anos (Groves et al. 2003). E poderão vir a formar os futuros depósitos de ouro orogênico! Figura 7 – Modelo hipotético e visionário da subducção da Placa Juan de Fuca e Norte- americana, geração de fluidos e formação futura de depósitos de ouro orogênico, indicado pelos símbolos de mina (cf. Groves et al. 1998). 7 1.4 RESUMOS DAS FEIÇÕES CARACTERÍSTICAS DOS DEPÓSITOS A tabela 1 resume as características principais dos depósitos de ouro orogênicos e a figura 8 apresenta o modelo de formação destes depósitos e os critérios que podem ser utilizados na prospecção mineral. 8 Figura 8 – O modelo de formação dos corpos de minério auríferos nos depósitos orogênicos e os critérios que podem ser utilizados para a prospecção mineral. 9 2. DEPÓSITOS EPITERMAIS 2.1 ABSTRACT Abstract apresentado no 1º Simpósio de Metalogenia, Gramado, 2005. Depósitos de Au e Ag-Au em veios epitermais: estilos antigos, novos alvos Jeffrey W. Hedenquist Colorado Schools of Mines, Golden, Colorado, 80401, USA, jhedenquist@mines.edu Tradução: Cristiane Rubini Depósitos epitermais têm sido explorados no mundo desde os tempos pré- romanos, tanto para ouro quanto prata. Eles formam-se a menos de 1 km da superfície, principalmente em cinturões vulcânicos, possuindo uma variedade de formas, dependendo da permeabilidade primária das rochas encaixantes e da secundária estrutural. A bonanza de veios de ouro é bem conhecida, particularmente em riftes vulcânicos nas Américas, e os enormes sistemas de veios no México estão entre os maiores produtores de prata do mundo; veios polimetálicos, ricos em zinco e chumbo, também contém prata e outras substâncias valiosas como irídio. Durante os anos 90, depósitos de ouro de baixo grau, nos quais minérios sulfetados foram oxidados, foram os alvos de muitos grupos de exploração de ouro. Entretanto, o curto tempo entre a descoberta e a exploração, e o baixo impacto de uma mina subterrânea de alto grau, levaram a uma nova apreciação dos benefícios potenciais dos depósitos em veios epitermais. A bonanza de veios de ouro, com 10-50 g/ton de Au e <10g/ton de Ag-Au, teor muito baixo de metais-base e de As (<100 ppm), são agora reconhecidos como formados em condições extensionais caracterizadas por rifteamento, com pequenas acumulações sedimentares, incluindo depósitos lacustrinos. Vulcanismo silicático é comumente acompanhado por evidência de magmatismo basáltico. Os intervalos com minério ocorrem entre 100 e 300m na vertical, na média <200 m; o minério está hospedado em veios de quartzo com texturas bandada e coloforme que indicam deposição como gel de sílica amorfa, refletindo extremo desequilíbrio. O topo da zona de minério, tipicamente achatada, pode estar localizada ~10 a 250 m abaixo da paleosuperfície; ouro decresce abruptamente de 10 ppm para décimos de ppm acima de 10 m em direção à superfície. Os halos de alteração são estreitos, <10 m, e caracterizados por argilo-minerais, desde esmectita até ilita, com o aumento da profundidade. Tais veios são comumente capeados por uma capa de alteração de caolinita-alunita friável, onde há pouca erosão, formada pelo vapor condensado da zona vadosa. Os estreitos veios e os halos de alteração, adicionados à falta de sulfetos (<1%), significam que as técnicas geofísicas não são efetivas para localizar os veios que não afloram. O mapeamento dos litotipos, da alteração e das estruturas são os métodos de exploração mais eficazes, combinados com geoquímica convencional. Em contraste aos veios epitermais ricos em ouro, os veios com prata e/ou variedades ricas em metais (Ag/Au) formam-se em arcos vulcânicos e comumente mostram evidências de ser uma intrusão centrada. As estruturas dos veios podem ter halos de alteração argílica avançada próximo à intrusão geradora, incluindo pirofilita, dickita, zunita, topázio etc., e são zonados externamente à muscovita. Os veios são constituídos por quartzo grosso laminado e carbonatos de Mn, com sulfetos acima de 10%, incluindo sulfossais de prata e minerais relacionados. Tais veios podem ocorrer em distritos com mais de 100 km2 de área e com vários km de veios (10 -100 km). O topo das zonas com minério está tipicamente 100 m abaixo da paleosuperfície, com 10 intervalos verticais de 300 a 800 m; os topos das zonas de minério podem ter uma elevação variável no distrito. Apesar da sua natureza rica em prata, os veios podem ser amplos e podem constituir depósitos de ouro multimilionários, adicionalmente ao seu conteúdo de prata. Estes veios podem ser capeados por caolinita-alunita, bem como por capas de argila, desafiando os exploradores a localizar veios cegos. A reconstrução do paleorelevo a partir do mapeamento geológico e a identificação das zonas de alteração e dos trends estruturais podem fornecer as primeiras pistas para a avaliação dos veios. 2.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS O ambiente de formação dos depósitos epitermais é dominado pelos processos de alteração hidrotermal argílica, como descrito para a zona de alteração superficial associada aos depósitos de Cobre-pórfiro. Ocorrem a profundidades de até 2Km entre 100 – 200ºC. A alteração argílica pode ser dividida em: argílica intermediária e argílica avançada. Argílica intermediária é caracterizada por fluidos levemente neutros, gerando o par ilita (sericita) – adularia. A alteração argílica avançada se caracteriza por intenso ataque ácido e lixiviação completa dos cátions alcalinos e destruição de máficos e feldspatos. Minerais como o par caulinita – alunita, e os sulfetos enargita, digenita, covelita são característicos de ambiente ácido. Outros minerais presentes são: dickita, diásporo, (barita, sericita, qzo, turmalina, topázio). A alteração argílica intermediária é o ambiente principal dos depósitos epitermais de baixa sulefetação e a alteração argílica avançada é o ambiente característico dos depósitos epitermais de alta sulfetação. O termo epitermal refere-se à classede depósitos hidrotermais, relacionados a fluidos magmáticos. São formados a temperaturas menores que 300°C e profundidades de até 2Km . Os depósitos epitermais são divididos em: • alta sulfetação (HS de high sulphidation), • sulfetação intermediária (IS) • baixa sulfetação (LS, low sulphidation) Os depósitos de alta sulfetação são formados por fluidos oxidados e ácidos, em ambiente de alteração argílica avançada. Normalmente se forma acima do conduto vulcânico. Os depósitos de baixa sulfetação, cuja relação com o magmatismo não é bem clara, são formados por um fluido redutor, com pH aproximadamente neutro. Geralmente os depósitos de baixa sulfetação formam-se distantes da suposta fonte magmática, a temperaturas de 200° e 300°C, geradas por alteração argílica intermediária. Os depósitos de sulfetação intermediária ocorrem geralmente associados aos depósitos de alta sulfetação. A tabela 2 reúne as principais características dos tipos alta e baixa sulfetação. 11 Tabela 2 - Características de campo para diferenciar depósitos do tipo epitermais. Alta Sulfetação (HS) Baixa Sulfetação (LS) Ambiente de formação Oxidante e pH ácido Redutor e ~ neutro R. vulcânicas associadas Andesitos - riodacitos Riodacito – riolito (nem sempre vinculado) Zonas de alteração hidrotermal Extensiva e proeminente (muitos Km2) Restrita e menos marcante Minerais-chaves de alteração Caulinita-alunita, cristalina, pirofilita (níveis + profundos) Sericita (ilita)- adulária, V- mica (alcalinas), clorita Tipo de estrutura Vuggy quartz (pH ácido) Veios de carbonato laminado (pH neutro) Ganga de quartzo Grão fino, maciço; cavidades c/ ouro. Se formam por substituição Calcedônia ou qz crustiforme, colomorfo, preenchimento de espaços abertos Ganga de carbonato Ausente (ambiente ácido) Comumente de manganês Outros minerais de ganga Barita (associada ao minério) S nativo preenche cavidades Barita e fluorita localmente, barita acima do minério Abundância de sulfetos 10-90% do vol., pirita de grão muito fino laminada 1-20%, < 5%, pirita predominante Principais sulfeto Sulfossais de Cu (enargita- luzonita); sulfetos de Cu (calcocita, covelita, bornita) Esfalerita, galena, tetrahedrita. Cu só calcopirita. Metais presentes Cu, Au, As (Ag, Pb) Au e/ou Ag (Zn, Pb, Cu) Metais presentes localmente Bi, Sb, Mo, Zn, Te (Hg) Mo, Sb, As (Te, Se, Hg) Existe estreita associação entre os depósitos de Cu e Au denominados de alta sulfetação e os depósitos do tipo Cu-pórfiro, sugerindo relação genética. Nos depósitos de baixa sulfetação não existem concentrações econômicas de cobre. 2.3 AMBIENTE GEOTECTÔNICO DOS DEPÓSITOS EPITERMAIS Com base no estudo de 43 depósitos epitermais do Circum-Pacífico, é possível caracterizar (Sillitoe, 1989): Os depósitos epitermal tipo alta sulfetação (HS) e sulfetação intermediária (IS) ocorrem em ambientes de regime geotectônico neutro a fracamente extensional, em arcos predominantemente vulcânicos do tipo andesitos-dacitos pertencentes à série magmática calcio-alcalina. Estes podem ser divididos em: • 22 domos vulcânicos • 12 ventas centrais de vulcões (incluindo IS) • 3 Calderas • 3 Diatremas Os depósitos epitermal tipo baixa sulfetação ocorrem em ambiente extensional, como back-arc, rifts pós-colisionais (não estão associados aos pórfiros). O magmatismo principal é bimodal (domos riolíticos-diques de basaltos). 12 2.4 DEPÓSITOS EPITERMAIS DE ALTA SULFETAÇÃO A filiação magmática dos depósitos epitermais de alta sulfetação foi aceita recentemente (Sillitoe, 1989, observar figura 9). O grande problema é conseguir distinguir a alteração argílica avançada em ambiente hipogênico, associada a depósitos de alta sulfetação da alteração argílica gerada acima do paleo–lençol freático em ambos depósitos de alta e baixa sulfetação. As relações entre depósitos pórfiros e de alta sulfetação ocorrem em mais de 50 localidades nos depósitos Circum-Pacífico e Cinturões Himalaia-Alpes. No Distrito de Mankayan, Filipinas há uma diferença temporal de 0,3 M.a. entre o alojamento do depósito pórfiro de Cu-Au e o depósito de alta sulfetação Lepanto enargita-Au. Dois estilos de depósitos podem ser distinguidos: a) Depósitos de substituição, corpos maciços a semi-maciços ou veios tabulares. Os corpos são a base de pirita e enriquecidos em enargita e outros sulfossais de cobre, além de Au e Ag (O primeiro estágio do Depósito El Índio no Chile, Bor na Yoguslávia, Chelopech na Bulgária e Lepanto nas Filipinas). b) Depósitos de ouro em veios, stockworks, disseminados ou em brecha (breccia- hosted). Estes vão conter bem menos sulfetos e cobre, podendo incluir muita barita (Publo Viero na República Dominicana; último estágio do El Índio). O tipo (a) tende ao (b) como resultado da oxidação supergênica de sulfetos. Ambos estilos de mineralização são acompanhados de assembléias de alteração argílica avançada, como quartzo e alunita, e cavidades de sílica que podem alojar ouro (em sub-superfície). O depósito de sulfeto maciço é zonado verticalmente, onde da base para o topo pode se observar: Pirita-bornita ± calcopirita ± tenantita para pirita-enargita ± luzonita ± digenita ± calcocita ± covelita. A capa de alteração argílica capeia alteração fílica, definindo a parte superior dos depósitos Cu-pórfiros. Gênese Em altas pressões, uma parte dos metais magmáticos particiona para uma fase volátil, coexistindo com uma salmoura rica em metais, como descreve o processo de efervecência ou degaseificação, mostrado na figura 10. Esta separação da fase volátil durante a ascenção causa complexação cloro-metais, como ouro e cobre. A mistura de fluidos magmáticos com os fluidos superficiais, de águas conatas é o principal fator descomplexante e desinstabilizador dos metais e formador dos depósitos. 2.5 DEPÓSITOS EPITERMAIS DE BAIXA SULFETAÇÃO A filiação magmática dos depósitos de baixa sulfetação não são tão claras como para os de alta sulfetação. Contudo a associação de metais é a maior evidência, onde: • Ag e Sn ocorre em depósitos de magmas reduzidos, granitos cálcio alcalinos alto K peraluminosos ou tipo S; • Ag e/ou Au + Mo em riolitos alta sílica; • Au e Te + V em rochas alcalinas. 13 A Zonação vertical é bem marcada em muitos sistemas de baixa sulfetação, onde o conteúdo de metais-preciosos diminui com o aumento de Zn, Pb e Cu (calcopirita e tetraedrita). Anidrita pode substituir os metais-preciosos em profundidade. Essa variação vertical é um ótimo guia prospectivo. Entretanto, alguns depósitos gigantes como Cripple Creek no Colorado e Comstock Lode am Nevada não apresentam variações verticais em 1000 m. Muitos depósitos de baixa sulfetação não apresentam relação com depósitos do tipo pórfiro, contudo, sistemas Cu-pórfiro tem normalmente veios de Au e Ag de baixa sulfetação na periferia destes. Depósitos de alta e de baixa sulfetação tendem a ocorrer associados e no mesmo nível topográfico, mas somente em poucos distritos ambos são mineralizados. Figura 10 - Evolução de um fluido de origem magmática (5% NaCl) que ocorre como uma fase supercrítica em zonas de pressão litostática altas. O líquido exsolve do magma a temperaturas próximas de 800oC. Ascende na crosta (descompressão) e vai se separar em duas fases, por processos de efervênscencia a 1,3 Kbar. Se forma: - uma fase líquida hipersalina, de alta densidade, - uma fase vapor de baixa densidade. As fases ficam cada vez mais e menos salinas, a partir da condensação de hiperlíquidos oriundos da fase vapor. Figura 9 – modelo de formação dos fluidos mineralizantese depósitos epitermais de alta sulfetação (extraído de Sillitoe, 1989). 14 2.5 ALTERAÇÃO HIDROTERMAL Na alta sulfetação, a alteração hidrotermal se dá por substiuição da rocha encaixante, formando halos pervasivos de alteração argílica a base de sílica (quartzo vuggy), alunita, barita, anidrita. Por cima, ocorre uma litocapa estéril, com um núcleo silicoso e um halo de quartzo-alunita, mineralizado a Cu, Au, As (Ag, Pb). A sulfetação intermediária ocorre na forma de veios de quartzo com sericita (ilita), rodocrosita, barita e anidrita. Os veios de Au e Ag ocorrem associados aos depósitos de alta sulfetação. Na baixa sulfetação, o par mineral característico é a adularia – sericita (que de fato é uma ilita, mineralogicamente). Ocorrem veios de calcedônia e calcita (roscoelita). Os metais principais são Au e/ou Ag (Zn, Pb, Cu). Na figura abaixo, é possível observar como os processos de mistura, boiling e condensação podem gerar alteração hidrotermal argílica avançada e possíveis depósitos epitermais. Somente o caso (A) é capaz de gerar mineralização do tipo alta sulfetação (HS), embora (B) e (C) podem revestir ou mascarar mineralizaçãoes do tipo intermediária e baixa sulfetação. Figura 11 – Origem de três tipos de alteração argílica avançada: (A) hipogênica profunda, própria da condensação de voláteis magmáticos ácidos e dissolução de condensados de águas meteóricas; (B) hipogênico raso (lixiviação ácida) próprio da condensação e absorção de voláteis (sem boiling) e oxidação subseqüente de H2S na zona vadosa; (C) supergênica, própria da oxidação de sulfetos acima do nível d´água. (HCl, SO2) Qualquer ambiente com sulfetos Steam-heated waters, blanket morphology Litocapa (± HS) LS 15 2.6 FLUIDOS Dois tipos distintos de fluidos são responsáveis pela formação dos dois tipos de depósitos hidrotermais: • Em ambientes de alta sulfetação, os fluidos são ácidos e oxidantes; • Em ambientes de baixa sulfetação os fluidos são quase neutros e redutores. Estes dois fluidos tendem a circular em diferentes partes do sistema, o de baixa sulfetação geralmente externo ao de alta sulfetação (Figura 11). A neutralização dos fluidos de alta sulfetação devem produzir os fluidos neutros (franjas de Zn-Pb-Ag em depósitos de alta sulfetação, Butte, Montana). Em depósitos tipo alta sulfetação, o minério é hospedado por rochas lixiviadas, associadas com fluidos ácidos gerados em ambiente vulcânico-hidrotermal. A presença de sulfetos de alto estado de oxidação indicam a formação a partir de fluidos ácidos hipogênicos. Ao contrário, a composição dos fluidos responsáveis pela formação de veios mineralizados em depósitos de baixa sulfetação é similar a de águas observadas em poços de campos geotérmicos; sulfetos de baixo estado de oxidação se formam a partir destas águas reduzidas, de pH próximo a neutro. Figura 11 – Modelo de circulação de fluidos, mistura e formação de depósitos epitermais. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA Goldfarb, R.J., Groves, D.I. & Gardoll, S. 2001. Orogenic gold and geological time: a global synthesis. Ore Geology Review, 18:1-85. Groves, D.I., Condie, K.C., Goldfarb, R.J., Hronsky, M.A. & Vielreicher, R.M. 2005. Secular changes in Global tectonic processes and their influence on the temporarl distribution of glod-bearing mineral deposits. Economic Geology, 100, n.2: 203-225. Groves, D.I., Goldfarb, R.J., Robert, F. & Hart, J.C.R. 2003. Gold deposits in FFlluuiiddooss ee aammbbiieenntteess ddiiffeerreenntteess HHSS CCuu ppóórrffiirroo CCuu ((MMoo,, AAuu)) HHSS AAllttaa ssuullffeettaaççããoo CCuu,, AAuu BBSS bbaaiixxaa ssuullffeettaaççããoo Au, Ag 16 metamorphic belts: overview of current understanding, outstanding problems, future research and exploration significance. Economic geology, v.98: Groves, D.I., Goldfarb, R.J., Gebre-Mariam, M., Hageman, S.G. & Robert, F. !998. Orogenic gold deposit: A proposal classification in the context of their crustal distribution and relationship to other gold deposit types: Ore Geology, 13:7-27. Hagemann, S.G. & Cassidy, K.F. 2000. Archean orogenic lode gold deposit. Reviews in Economic Geology, 13, 9-68. Hedenquist – 2005. Palestra proferida no 1o Simpósio de Metalogênese – Gramado, RS. Lindgren, W. 1933. Mineral Deposits, 4th edition, Mcgraw Hill, New York, 930p. Sillitoe, 1993. Epitermal Models: Genetic types, geometrical controls and shallow feactures. Ed. 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