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Apostila de Direito Civil V

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Prof. Me. RENATO DE AGUIAR LIMA PEREIRA
CONTRATOS EM ESPÉCIE
ÍNDICE
I – DOS CONTRATOS EM ESPÉCIE
1. Contrato de Compra e Venda 
2. Da troca ou permuta
3. Do contrato estimatório
4. Da doação
5. Do contrato de locação de coisas
6. Do empréstimo
7. Da prestação de serviço
8. Da empreitada
9. Do depósito
10. Do mandato
11. Da comissão
12. Da agência e distribuição
13. Da corretagem
14. Do transporte
15. Do seguro
16. Da constituição de renda
17. Do jogo e da aposta
18. Da fiança
19. Da transação
20. Do compromisso e da arbitragem
I - DOS CONTRATOS EM ESPÉCIE
	O Código Civil de 2002 disciplina os chamados contratos típicos e nominados, ou seja, aqueles que estão inseridos e descritos no bojo do diploma legal. Contudo o art. 425 dispõe que as partes podem realizar contratos atípicos, através de junções dos contratos existentes, ou outros negócios jurídicos, desde que sejam observadas as regras gerais fixadas para o direito contratual. Desse modo, vamos verificar as principais características dos contratos em espécies.
1. Contrato de Compra e venda 
	É sem dúvida o contrato mais utilizado pelas pessoas durante as negociações diárias. Trata-se de um contrato nominado onde uma pessoa se obriga a transferir a outra a propriedade de determinada coisa, mediante o pagamento do preço acordado.
	Carlos Roberto Gonçalves aponta que: “Denomina-se compra e venda o contrato bilateral pelo qual uma das partes (vendedor) se obriga a transferir o domínio de uma coisa à outra (comprador), mediante a contraprestação de certo preço em dinheiro”. (...) Os contratantes apenas obrigam-se reciprocamente. Mas a transferência do domínio depende de outro ato: a tradição, para os móveis (CC, arts. 1.226 e 1.267); e o registro, para os imóveis (arts. 1.227 e 1.245)”.
	Os professores Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho trazem as seguintes palavras sobre o contrato: “A definição do contrato de compra e venda é extremamente simples, dispensando grande esforço intelectual: traduz o negócio jurídico em que se pretende a aquisição da propriedade de determinada coisa, mediante o pagamento de um preço. Trata-se, pois, de um negócio jurídico bilateral, pelo qual uma das partes (vendedora) se obriga a transferir a propriedade de uma coisa móvel ou imóvel à outra (compradora), mediante o pagamento de uma quantia em dinheiro (preço).[1: Novo Curso de Direito Civil, vol. IV: tomo 2. Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 03.]
	A natureza jurídica do contrato de compra e venda pode ser classificado como: bilateral, pois gera obrigações para ambas as partes; consensual, pois se aperfeiçoa com o acordo de vontades, independentemente de entrega da coisa, salvo nos bens imóveis; oneroso, pois ambos os contratantes obtém proveito e detém sacrifícios ou obrigações; comutativo, pois apresenta prestações recíprocas, exceto na hipótese de contratos aleatórios.
	O contrato de compra e venda apresenta como elementos essenciais: a coisa, o preço, o consentimento e a forma.
	O consentimento diz respeito a manifestação de vontade das partes, e consequentemente, a capacidade para a realização dos atos da vida civil. Assim, o contratante deve ter capacidade civil plena para contratar, ou, então, estar devidamente representado ou assistido, nos termos da legislação.
	O preço é o elemento que determina o valor da coisa vendida, devendo ser atribuído pelas partes. O preço pode ser certo em moeda corrente, sendo o mais utilizado, ou determinável, nas situações de fixação com índices e bolsas específicas. A doutrina explica que: “O preço é o segundo elemento essencial da compra e venda. Sem a sua fixação, a venda é nula (sine pretio nulla venditio, dizia Ulpiano). É determinado, em regra, pelo livre debate entre os contraentes, conforme as leis do mercado, sendo por isso denominado preço convencional. Mas, se não for desde logo determinado, deve ser ao menos determinável, mediante critérios objetivos estabelecidos pelos próprios contratantes”.[2: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 221.]
	A coisa objeto do contrato de compra e venda deve ser atual ou futura, na hipótese de uma colheita futura por exemplo, corpórea ou incorpórea, individualizada e disponível. Complementando a afirmação: “Por obvia razão, o bem, objeto do contrato de compra e venda, deverá ser coisa passível de circulação no comércio jurídico, certa e determinada (ou determinável), o que afasta, por consequência, todos os interesses não suscetíveis de aferição ou valor econômico essencial, como a honra, o nome, a integridade física, a vida etc”.[3: Novo Curso de Direito Civil, vol. IV: tomo 2. Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 11.]
	Ainda, sobre o objeto da compra e venda: “A coisa, objeto do contrato de compra e venda, deve atender a determinados requisitos, quais sejam, os de existência, individualização e disponibilidade”.[4: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 225.]
	Cumpre destacar que o art. 483 do Código Civil permite a contratação de coisas atuais e também de coisas futuras. Vejamos o seguinte julgado sobre o tema:
COMPRA E VENDA. Laranja. Preço. Modificação substancial do mercado. O contrato de compra e venda celebrado para o fornecimento futuro de frutas cítricas (laranja) não pode lançar as despesas à conta de uma das partes, o produtor, deixando a critério da compradora a fixação do preço. Modificação substancial do mercado que deveria ser suportada pelas duas partes, de acordo com a boa-fé objetiva (art. 131 do C. Comercial). Recurso conhecido e provido. (STJ, REsp 256456/SP, Recurso Especial (2000/0039981-7), DJ 07/05/2001, p. 147, Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar )
	A forma do contrato no direito brasileiro, como já dito, adota a modalidade livre, ou seja, as partes determinam como realizaram o contrato. Entretanto, em algumas situações a lei estabelece formas solenes a serem seguidas, como é o caso da compra e venda de bens imóveis, nos termos do art. 108 do Código Civil.
	O contrato de compra e venda trás para o para o vendedor o dever de transferir a coisa e para o comprador de pagar o preço. O vendedor também é responsável pelos defeitos da coisa alienada. Assim é a fundamentação da doutrina: “Os principais efeitos da compra e venda são:a) gerar obrigações recíprocas para os contratantes: para o vendedor, a de transferir o domínio de certa coisa, e para o comprador, a de pagar-lhe certo preço em dinheiro (CC, art. 481); e b) acarretar a responsabilidade do vendedor pelos vícios redibitórios e pela evicção”.[5: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 227.]
	A doutrina também aponta os chamados efeitos secundários ou subsidiários da compra e venda que são os seguintes: a responsabilidade pelos riscos; a reparação das despesas e o direito de reter a coisa ou o preço na hipótese de não cumprimento de uma das partes.
	Outro fator relacionado ao contrato de compra e venda, pauta-se na proibição, em regra, do contrato entre ascendente e descendente. Carlos Roberto Gonçalves explica que:
“A finalidade da vedação é evitar as simulações fraudulentas: doações inoficiosas disfarçadas de compra e venda. Os outros descendentes e o cônjuge devem fiscalizar o ato do ascendente, para evitar que faça doação a um só dos filhos, conferindo ao ato a aparência e a forma de compra e venda, para que este último não fique obrigado à colação, em prejuízo das legítimas dos demais”.[6: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 234.]
	Por oportuno, vale conferir um julgado sobre o tema:
CIVIL. SUCESSÃO HEREDITÁRIA. ALIENAÇÃO DE ASCENDENTE A DESCENDENTES. VENDA POSTERIOR A TERCEIROS. AÇÃO DE DECLARAÇÃO DE NULIDADE DAS ESCRITURAS. CC, ART. 1.132. AQUISIÇÃO DE BOA-FÉ. ATO ANULÁVEL. PROVADE VENDA EFETUADA POR VALOR INFERIOR AO DOS BENS. AUSÊNCIA. I. A venda por ascendente aos filhos depende do consentimento de todos os descendentes, nos termos do art. 1.132 do Código Civil, sendo desinfluente o fato de o reconhecimento e registro daqueles concebidos fora da relação matrimonial, mas em sua constância, ter ocorrido após a alienação dos imóveis, porquanto se a existência de irmãos era desconhecida dos filhos legítimos, o mesmo não acontecia em relação ao genitor, na hipótese. II. Inobstante farta discussão doutrinária e jurisprudencial, adota-se a corrente que entende cuidar-se de ato anulável, de sorte que o seu desfazimento depende da prova de que a venda se fez por preço inferior ao valor real dos bens, para fins de caracterização da simulação, circunstância sequer aventada no caso dos autos, pelo que é de se ter como hígida a avença. III. Impossibilidade, de outro lado, e independentemente disso, de se atingir as alienações ulteriores a terceiros de boa-fé, mormente quando concluído nos autos que os descendentes que lhes venderam parte dos imóveis não sabiam, à época, da existência de irmãos concebidos de vínculo extraconjugal. IV. Recurso especial não conhecido. (STJ, REsp 74135/RS. Recurso Especial (1995/0045394-0), DJ 11/12/2000, Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior).
	O contrato de compra e venda pode ser realizada algumas espécies de vendas especiais, como venda mediante amostra, ad corpus e ad mensuram. Para a doutrina, as explicações são as seguintes: “Amostra é o mesmo que paradigma. Constitui reprodução integral da coisa vendida, com suas qualidades e características, apresentada em tamanho normal ou reduzido. Se a mercadoria entregue não for em tudo igual à amostra, caracteriza-se o inadimplemento contratual, devendo o comprador protestar imediatamente, sob pena de o seu silêncio ser interpretado como tendo havido correta e definitiva entrega”.[7: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 246.]
	Já as espécies de vendas ad corpus, que tem como fator preponderante a coisa em sua integralidade, e a ad mensuram, que se estabelece como venda por medida de extensão, os ensinamentos da doutrina são os seguintes: 
“Trata-se da venda ad mensuram, em que o preço é estipulado com base nas dimensões do imóvel (p. ex., tal preço por alqueire). A venda é ad mensuram, pois, quando se determina o preço de cada unidade, de cada alqueire, hectare ou metro quadrado. Se se verifica, em posterior medição, que a área não corresponde às dimensões dadas, tem o comprador o direito de exigir a sua complementação. Somente se esta não for possível, por não ter o vendedor área remanescente contígua, é que se abre para aquele a opção de reclamar a resolução do contrato ou abatimento proporcional ao preço. (...)
Na venda ad corpus a situação é diferente. O par. 3º do citado art. 500 prescreve que “não haverá complemento de área, nem devolução de excesso, se o imóvel for vendido como coisa certa e discriminada, tendo sido de modo expresso, ter sido a venda ad corpus”. Nessa espécie de venda o imóvel é adquirido como um todo, como corpo certo e determinado (p.ex., Chacará Palmeira), caracterizado por sua confrontações, não tendo nenhuma influência na fixação do preço as suas dimensões. Presume-se que o comprador adquiriu a área pelo conjunto que lhe foi mostrado e não em atenção à área declarada”.[8: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 247.]
	Em continuidade ao contrato de compra e venda, existem as chamadas cláusulas especiais, que apresentam situações específicas para cada tipo de contrato. As cláusulas especiais são as seguintes: da retrovenda, da venda a contento e da sujeita a prova, da preempção ou preferência, da venda com reserva de domínio e da venda sobre documentos.
	Na retrovenda, o vendedor se reserva no direito de recobrar o bem imóvel vendido, restituindo o preço e as despesas do contrato ao comprador. A doutrina explica que: “A retrovenda é instituto atualmente em desuso. Constitui esta um pacto adjeto, pelo qual o vendedor reserva-se o direito de reaver o imóvel que está sendo alienado, em certo prazo, restituindo o preço, mais as despesas feitas pelo comprador, inclusive as que, durante o perido de resgate, se efetuaram com a sua autorização escrita, ou para a realização de benfeitorias necessárias (CC, art. 505). (...) O prazo máximo para o exercício do direito de retrato ou de resgate é de três anos”.[9: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 252.]
	Vale registrar, que a retovenda não pode ser utilizada para mascarar ou simular um empréstimo com taxas abusivas. Vejamos o seguinte julgado:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. MEDIDA LIMINAR. COMPRA E VENDA COM CLÁUSULA DE RETROVENDA. NEGÓCIO JURÍDICO QUE ENCOBRE PACTO COMISSÓRIO. REQUISITOS DO ART. 273 DO CPC.
Existindo plausibilidade nas alegações da agravada acerca de contrato de compra e venda com cláusula de retrovenda que encobre contrato de mútuo com cobrança de juros ilegais e, também, o pacto comissório, é de ser mantida medida liminar que sustou o prazo da referida cláusula e impediu a disposição do bem pelo agravante até decisão ulterior de mérito da ação anulatória do negócio jurídico. A verossimilhança dos argumentos trazidos na inicial da ação, acrescidas do periculum in mora autorizam o deferimento da antecipação de tutela requerida, consoante art. 273 do CPC. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO. (TJRS, AgI 70015698350, Rel. Des. Adré Luiz Planella Villarinho, julgado em 24/08/2006, 18ª Câmara Cível).
	A compra e venda a contento é aquela que ocorre sob condição de só tornar-se perfeita e acabada quando o comprador declarar que a coisa o satisfez integralmente. Existe uma condição suspensiva. O mestre Carlos Roberto Gonçalves aponta que: “ A venda a contento do comprador constitui pacto adjeto a contratos de compra e venda relativos, em geral, a gêneros alimentícios, bebidas finas e roupas sob medida. A cláusula que a institui é denominada ad gustum. Entende-se realizada sob condição suspensiva, ainda que a coisa tenha sido entregue ao comprador. E não se reputará perfeita, enquanto o adquirente não manifestar seu agrado (CC, art. 509).[10: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 255.]
	Já a compra e venda sujeita a prova, ocorre um negócio jurídico onde a coisa alienada será submetida a um exame do comprador, para averiguar as qualidades demonstradas pelo vendedor, para fins de aperfeiçoar o acordo. Também existe uma condição suspensiva. Carlos Roberto Gonçalves demonstra que: “Também a venda sujeita a prova presume-se feita sob a condição suspensiva de que a coisa tenha as qualidades asseguradas pelo vendedor e seja idônea para o fim a que se destina. (CC, art. 510). Recebida sob essa condição a coisa comprada, as alegações do comprador também são as de mero comodatário, enquanto não manifeste aceitá-la (art. 511)”.[11: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 257.]
	A cláusula especial de preempção ou preferência inserida no contrato de compra e venda, significa que o contratante terá prioridade na aquisição do bem na hipótese de alienação. O texto doutrinário aponta que: “Preempção ou preferência é o pacto, adjeto à compra e venda, pelo qual o comprador de uma coisa, móvel ou imóvel, se obriga a oferecê-la ao vendedor, na hipótese de pretender futuramente vendê-la ou dá-la em pagamento, para que este use do seu direito de prelação em igualdade de condições. É, em outras palavras, o direito atribuído ao vendedor de se substituir ao terceiro nos mesmos termos e condições em que iria adquirir a coisa. (...) O prazo para o exercício da preempção pode ser convencionado por lapso não excedente a cento e oitenta dias, se a coisa for móvel, ou a dois anos, se imóvel (art. 513, parágrafo único)”.[12: Direito CivilBrasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 258.]
	Por ser relevante, vejamos um julgado sobre o tema:
Civil. Promessa de venda unilateral. Direito de preferência. Alienação do bem a terceiro, à revelia do comprador. Indenização. Verba honorária. Litigância de má-fé. Em linha de princípio, o vendedor responde por perdas e danos, se a alienação se der sem o conhecimento do titular do direito de preferência. Entretanto, comprovada cabalmente que o comprador, na época do fato, não reunia mínimas condições financeiras para pagar o preço da coisa, a só circunstancia de não ter sido notificado para exercer a opção de compra tanto por tanto não gera perdas e danos. Sentença de rejeição de pedido tem natureza meramente declaratória. Assim, a verba honorária há de ser fixada com base no art. 2º, par. 4º, do CPC. ( TJRS, Ap. Cív. 2006.001.08157, Rel. Des. Nametala Machado Jorge, j. 31/05/2006, 13ª Câmara Cível).
	Na compra e venda com reserva de domínio o vendedor transfere ao comprador a posse direta do bem, mas conserva para si a propriedade. Após o pagamento total ou a quitação do preço pelo comprador, a propriedade lhe será transferida. Trata-se de venda sob condição resolutiva. Carlos Roberto Gonçalves nos explica que: “A venda com reserva de domínio constitui modalidade especial de venda de coisa móvel, em que o vendedor tem a própria coisa vendida como garantia do recebimento do preço. Só a posse é transferida ao adquirente. A propriedade permanece com o alienante e só passa aquele após o recebimento integral do preço. Dispõe, com efeito, o art. 521 do Código Civil que, na venda de coisa móvel, pode o vendedor reservar para si a propriedade, até que o preço esteja integralmente pago”.[13: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 262.]
	Vejamos um julgado sobre o tema:
APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS DE TERCEIRO. AUTOMÓVEL ALIENADO APÓS A PENHORA. MANUTENÇÃO DA CONSTRIÇÃO SOBRE O BEM ALIENADO. VENDA COM RESERVA DE DOMÍNIO. CONTRATO AINDA NÃO-QUITADO. IRRELEVÂNCIA DA BOA-FÉ DO ADQUIRENTE.
Diante da evidência de fraude à execução, visto que a alienação do veículo foi posterior à penhora, impõe-se a manutenção da sentença que julgou improcedentes os Embargos de Terceiro. O comprador que, adquire veículo com garantia de reserva de domínio e não tendo quitado o contrato, não tem propriedade do bem a ser protegida através de Embargos de Terceiro, independentemente da sua alegada boa-fé. Apelação desprovida. (TJRS, Ap. Civ. 70014238877, Rel. Desa. Lúcia de Castro Boller, julgado em 14/09/2006, 13ª Câmara Cível).
	A compra e venda sobre documentos é aquela onde a tradição da coisa é substituída pela entrega de seu título representativo ou de outros documentos exigidos, nos termos do art. 529 do Código Civil. Vejamos as seguintes explicações: “O vendedor, entregando os documentos, libera-se da obrigação e tem direito ao preço; e o comprador, na posse justificada de tal documento, pode exigir do transportador (vettore) ou depositário a entrega da mercadoria. Há uma substituição da tradição real pela simbólica. A entrega física da coisa pode não ser feita, sendo suficiente que esteja à disposição do comprador. Ocorre com frequência na venda de mercadoria que está depositada em armazém, em transporte ou dependente de liberação na alfândega. O vendedor entrega ao comprador o título, warrant ou outro documento que permite o recebimento ou levantamento da mercadoria”.[14: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 267.]
	Vale examinar um julgado a respeito de venda sobre documento:
CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. CONTRATO DE CREDITO DOCUMENTARIO. CANCELAMENTO DE PAGAMENTO. O BANCO INTERMEDIARIO, MESMO COM A OBRIGACAO DE EXAMINAR A DOCUMENTACAO NECESSARIA A LIBERACAO DO CREDITO, NAO PODE RESPONDER POR OMISSOES E INADEQUACOES APRESENTADAS PELA EXPORTADORA. DISPONIBILIDADE DE PRAZO PARA EXAME DE DOCUMENTOS, IMPOSSIBILIDADE DE COMPLEMENTACAO APOS O PERIODO PARA A ENTREGA, COM A FALTA DE PECA ESSENCIAL. CANCELAMENTO PELO BANCO CREDITANTE, RESPONSABILIDADE QUE NAO SE TRANSFERE AO INTERMEDIARIO. INEXISTENCIA DE ATO ILICITO, DECORRENTE DE CULPA, NAO IDENTIFICANDO A AOBRIGACAO DE INDENIZAR. ACAO IMPROCEDENTE. APELACAO PROVIDA. (Apelação Cível Nº 598036762, Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Ari Azambuja Ramos, Julgado em 14/05/1998)
2. Da troca ou permuta
	O contrato de troca ou permuta é aquele onde as partes obrigam-se a dar uma coisa em troca de outra coisa diferente de dinheiro. O contrato de troca ou permuta é diferente da compra e venda, pois os contratantes assumem obrigações equivalentes em relação as coisas que são negociadas, não existindo prestação em dinheiro.
	Vejamos o seguinte conceito doutrinário:
“A troca é, portanto, o contrato pelo qual as partes se obrigam a dar uma coisa por outra, que não seja dinheiro. Diferente da compra e venda apenas porque, nesta, a prestação de uma das partes consiste em dinheiro. (...) O contrato de troca ou permuta perdeu, no entanto, a sua importância, historicamente, com o surgimento da moeda, quando as coisas deixaram de ser permutadas por outras e passaram a ser trocadas por dinheiro, surgindo assim o contrato de compra e venda, que teve rápida ascensão e tornou-se responsável pelo desenvolvimento das nações”.[15: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 271.]
Os professores Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho trazem as seguintes palavras sobre o contrato: “Trata-se de uma das modalidades contratuais de mais antiga utilização, mesmo antes do desenvolvimento da compreensão do sistema normativo moderno, consistindo seu conceito, em síntese, em negócio jurídico em que as partes se obrigam a entregar reciprovamente coisas, que não sejam dinheiro”.[16: Novo Curso de Direito Civil, vol. IV: tomo 2. Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 75.]
	Trata-se de um contrato consensual, bilateral, oneroso e comutativo. Com as devidas adequações, aplicam-se ao contrato de troca ou permuta todas as regras inerentes ao contrato de compra e venda. Explicando: “Considerando a semelhança existente entre a permuta e a compra e venda, determinou, no art. 533 do Código Civil, que se aplicassem àquela todas as disposições referentes a esta, com apenas duas modificações: a) salvo disposição em contrário, cada um dos contratantes pagará por metade as despesas com o instrumento da troca; b) é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes, sem consentimento expresso dos outros descendentes e do cônjuge do alienante”.[17: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 273.]
	Por oportuno, vejamos um julgado sobre o respectivo contrato:
CIVIL. CONTRATO DE PERMUTA DE IMOVEIS. PAGAMENTO DE DIFERENÇA DE PREÇO EM PRESTAÇÕES. NÃO QUITAÇÃO NO TERMO CONTRATUALMENTE ESTIPULADO. INTERPELAÇÃO. AÇÃO DE RESOLUÇÃO DO AJUSTE. MORA CARACTERIZADA. EMENDA NO PRAZO DA CONTESTAÇÃO. INADMISSIBILIDADE. RECURSO NÃO CONHECIDO. - AO CONTRATANTE QUE, TENDO INJUSTIFICADAMENTE DEIXADO DE CUMPRIR OBRIGAÇÃO NO VENCIMENTO AJUSTADO, FOI INTERPELADO PARA, EM PRAZO SUFICIENTE, PURGAR A MORA "EX RE" EM QUE INCORRETA, DESCABE PRETENDER FAZE-LO QUANDO DO OFERECIMENTO DE CONTESTAÇÃO NA AÇÃO DE RESOLUÇÃO DO CONTRATO. (STJ, REsp 38.858/SP, DJ 07/02/1994, p. 1187, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, julgado em 16/11/1993, 4ª Turma).
3. Do contrato estimatório
	Contrato estimatório, também chamado de venda por consignação, é aquele onde o contratante denominado de consignatário, recebe do contratante denominado de consignante, um bem móvel para vendê-lo, dentro de um prazo estipulado, pagando o preço acordado. Na hipótese da venda não ser realizada, o consignatário poderá devolver o bem objeto do contrato.
	Carlos RobertoGonçalves demonstra que:
“Contrato estimatório ou de vendas em consignação é aquele em que uma pessoa (consignante) entrega bens móveis a outra (consignatária), ficando esta autorizada a vendê-los, obrigando-se a pagar um preço ajustado previamente, se não preferir restituir as coisas consignadas dentro do prazo ajustado. O consignatário recebe o bem com a finalidade de vendê-lo a terceiro, segundo estimação feita pelo consignante. Nada impede, porém, que fique com o objeto para si, pagando o preço fixado. Se preferir vendê-lo, auferirá lucro no sobrepreço que obtiver”.[18: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 274.]
Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho trazem as seguintes palavras sobre o contrato: “Um negócio jurídico por meio do qual uma das partes (consignante) transfere a outro (consignatário) bens móveis, a fim de que os venda, segundo um preço previamente estipulado, ou simplesmente os restitua ao próprio consignante”.[19: Novo Curso de Direito Civil, vol. IV: tomo 2. Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 83.]
	Trata-se de um negócio real, pois se aperfeiçoa com a entrega do bem, bilateral, oneroso e facultativo, pois o consignatário pode devolver a coisa ao consignante, ficar ou vendê-la a terceiro, entretanto, pagando o preço ajustado no contrato. 
	Por fim, vejamos um julgado sobre o contrato estimatório:
DIREITO COMERCIAL. FALÊNCIA. PEDIDO DE RESTITUIÇÃO DE DINHEIRO. ALIENAÇÃO DE MERCADORIAS RECEBIDAS EM CONSIGNAÇÃO ANTES DA QUEBRA. CONTABILIZAÇÃO INDEVIDA PELA FALIDA DO VALOR EQUIVALENTE ÀS MERCADORIAS. DEVER DA MASSA RESTITUIR OU AS MERCADORIAS OU O EQUIVALENTE EM DINHEIRO. SÚMULA 417 DO STF. - O que caracteriza o contrato de venda em consignação, também denominado pela doutrina e pelo atual Código Civil (arts. 534 a 537) de contrato estimatório, é que (i) a propriedade da coisa entregue para venda não é transferida ao consignatário e que, após recebida a coisa, o consignatário assume uma obrigação alternativa de restituir a coisa ou pagar o preço dela ao consignante. - Os riscos são do consignatário, que suporta a perda ou deterioração da coisa, não se exonerando da obrigação de pagar o preço, ainda que a restituição se impossibilite sem culpa sua. - Se o consignatário vendeu as mercadorias entregues antes da decretação da sua falência e recebeu o dinheiro da venda, inclusive contabilizando-o indevidamente, deve devolver o valor devidamente corrigido ao consignante. Incidência da Súmula n.° 417 do STF. - A arrecadação da coisa não é fator de obstaculização do pedido de restituição em dinheiro quando a alienação da mercadoria é feita pelo comerciante anteriormente à decretação da sua quebra. Recurso especial ao qual se nega provimento. (STJ, REsp 710.658/RJ, DJ 26/09/2005, p. 373, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06-09-2005, 3ª Turma).
4. Da doação
	O contrato de doação é aquele onde uma pessoa transfere a outra pessoa, sem qualquer contraprestação, bem ou vantagem de seu patrimônio. A doutrina pontua que:
“Define o Código Civil no art. 538, é o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra. (...) Do conceito legal ressaltam os seu traços característicos: a) a natureza contratual; b) o animus donandi, ou seja, a intenção de fazer uma liberalidade; c) a transferência de bens para o patrimônio do donatário; e d) a aceitação deste. O primeiro nem precisaria, a rigor, ser mencionado, pois o fato de a doação estar regulada no capitulo dos contratos em espécie já evidencia a sua natureza contratual e, ipso facto, a necessidade da aceitação cuja menção foi dispensada. (...) A liberalidade ou ânimos donandi é elemento essencial para a configuração da doação, tendo o significado de ação desinteressada de dar a outrem, sem estar obrigado, parte do próprio patrimônio”.[20: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 274.]
	Na mesma linha de raciocínio, Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho: “Assim sendo, já podemos conceituar doação como um negócio jurídico firmado entre dois sujeitos (doador e donatário), por força do qual o primeiro transfere bens, móveis ou imóveis para o patrimônio do segundo, animado pelo simples propósito de beneficência ou liberalidade. Duas são as partes, portanto, da doação, a saber, o doador, que é aquele que transfere o bem, e o donatário, que é aquele que recebe o benefício”.[21: Novo Curso de Direito Civil, vol. IV: tomo 2. Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 95.]
	O contrato de doação é em regra um negócio jurídico unilateral, gratuito, consensual e dependente do valor do bem terá a forma solene, nos termos da lei, ou a forma livre. Explicando: “Gratuito, porque constitui uma liberalidade, não sendo imposto qualquer ônus ou encargo ao beneficiário. Será, no entanto, oneroso, se houver tal imposição. Unilateral, porque cria obrigação para somente uma das partes. Contudo, será bilateral, quando modal ou com encargo. Formal, porque se aperfeiçoa com o acordo de vontades entre doador e donatário e a observância da forma escrita, independentemente da entrega da coisa. Mas a doação manual (de bens de pequeno valor) é de natureza real, por que o seu aperfeiçoamento depende incontinenti da tradição destes (CC, art. 541)”.[22: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 281.]
	Vejamos o seguinte julgado:
Direito Civil e Processual Civil. Doação à namorada. Empréstimo. Matéria de prova. I - O pequeno valor a que se refere o art. 1.168 do Código Civil há de ser considerado em relação à fortuna do doador; se se trata de pessoa abastada, mesmo as coisas de valor elevado podem ser doadas mediante simples doação manual (Washington de Barros Monteiro). II - No caso, o acórdão recorrido decidiu a lide à luz da matéria probatória, cujo reexame é incabível no âmbito do recurso especial. III - Recurso especial não conhecido. (STJ, REsp 155.240, 3ª T., Rel. Min. Antonio de Pádua Ribeiro, DJU, 05/02/2001).
	A doação possui vasta classificação na doutrina. Contudo, principalmente, podemos apresentar a seguinte classificação: pura ou simples, onerosa, remuneratória e condicional.
	A doação pura ou simples ocorre quando o doador não impõe qualquer restrição ao beneficiário. Trata-se de uma liberalidade plena.
	A doação onerosa, modal, gravada ou com encargo é aquela que impõe ao donatário determinada obrigação para que se possa usufruir do benefício.
	A doação condicional é aquela que condiciona os benefícios para o donatário a um evento futuro e incerto.
	Outro tema importante diz respeito a cláusula de reversão, que ocorre quando os bens doados voltem ao patrimônio do doador se ele sobreviver ao donatário. Contudo, essa cláusula não prevalece contra terceiros de boa-fé que tenham adquirido determinado bem.
	A lei apresenta algumas situações de proibição de doação com a finalidade de proteger os credores, o interesse social, o interesse das partes e de terceiros. As principais situações são as seguintes: doação pelo devedor já insolvente; doação de todos os bens, doação da parte inoficiosa; doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice.
	A doação pode ser revogada por ingratidão do donatário ou por inexecução do encargo. A primeira ocorre quando donatário pratica algum fato que demonstre desapego pelo doador. A segunda ocorre quando o donatário não cumpre determinada condição estabelecida no contrato.
	Carlos Roberto Gonçalves explica que:
“O encargo pode ser imposto a beneficio do doador, de terceiro, ou do interesse geral (art. 553). Tem legitimo interesse para exigir o seu cumprimento o doador e o terceiro (em geral, alguma entidade), bem como o Ministério Público. (...) Ao aceitar o benefício, o donatário assume, tacitamente, obrigação moral de ser grato ao benfeitor e de se abster da prática de atosque demonstrem ingratidão e desapreço. A revogação tem, pois, caráter de pena para insensibilidade moral demonstrada e somente cabe nos expressos termos da previsão legal”.[23: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 302.]
	Por fim, vejamos um julgado sobre o presente contrato:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REVOCATÓRIA DE DOAÇÃO DE IMÓVEL COM ENCARGO. INEXECUÇÃO DO ENCARGO. PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 1.181 DO CÓDIGO CIVIL DE 1916. CONSTITUIÇÃO EM MORA. Considerando que o encargo em questão reflete obrigação continuada prover a subsistência do doador até a sua morte e jamais foi executado pelos donatários, nem mesmo parcialmente, afasta-se a necessidade de interpelação com vistas à constituição em mora. NEGARAM PROVIMENTO E DECLARARAM A SENTENÇA. (Apelação Cível Nº 70008682973, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Alzir Felippe Schmitz, Julgado em 08/06/2004)
5. Do contrato de locação de coisas
	O contrato de locação é aquele em que uma parte entrega a outra determinada coisa, para o uso e gozo, por determinado período estabelecido, mediante o pagamento de uma remuneração.
	A doutrina aponta que:
“Locação de coisas é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a conceder à outra o uso e gozo de uma coisa não fungível, temporariamente e mediante remuneração. Segundo o art. 565 do Código Civil, é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa retribuição. Trata-se de contrato que sempre desfrutou de enorme prestígio no direito privado, figurando hoje logo em seguida à compra e venda, no grau de utilização e importância no mundo negocial. As partes denominam-se locador, senhorio ou arrendador; e locatário, inquilino ou arrendatário”.[24: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 308.]
Para Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho: “Locação de coisas é o negócio jurídico por meio do qual uma das partes (locador) se obriga a ceder à outra (locatário), por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa infungível, mediante certa remuneração”.[25: Novo Curso de Direito Civil, vol. IV: tomo 2. Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 154.]
	Trata-se de contrato bilateral, oneroso, consensual, comutativo e não solene. Ainda, como ocorre no contrato de compra e venda, deve apresentar um objeto, o preço da locação, as partes e o consentimento através da manifestação de vontade dos contratantes.
	A lei estabelece as obrigações do locador no art. 566 do Código Civil. Logo, podemos destacar que: o locador deve entregar para o locatário a coisa objeto do contrato; manter a coisa no mesmo estado pelo tempo de duração do contrato; garantir que o locatário possa usar a coisa de maneira pacífica, sem qualquer incômodo.
	Já as obrigações do locatário estão descrita no art. 569 do Código Civil. Destacamos que: o locatário deve utilizar a coisa para os fins do contrato e cuidar como se fosse sua; pagar pontualmente os valores dos aluguéis pactuados no contrato; levar ao conhecimento do proprietário toda e qualquer informação relacionadas ao bom zelo da coisa; restituir a coisa no final do contrato com as mesmas características que recebeu.
	Cumpre destacar, que o Código Civil de 2002 disciplina a locação de bens móveis, pois a locação de bens imóveis esta disciplinada em leis específicas. Tratando-se de locação de imóveis urbanos, a Lei 8.245/91 é o diploma legal a ser utilizado.
	Por fim, vejamos o seguinte julgado sobre locação de coisa:
Locação. Indenização pela cessão do veículo locado a terceiro, que com ele desapareceu, sendo encontrado meses depois, completamente destruído. Ré que não se serviu da coisa locada com o mesmo cuidado como se sua fosse. Permissão de uso por estranho. Procedência da ação. (TJSP, Ap. 11.483-4/3-S. Caetano do Sul, Rel. Des. Sousa Lima, J. 04/12/1996).
6. Do empréstimo
	O contrato de empréstimo é aquele onde uma parte empresta a um determinado bem, que posteriormente deverá devolvê-lo, no prazo pactuado, podendo ser realizado a título gratuito ou oneroso.
	Carlos Roberto Gonçalves explica que:
“Empréstimo é o contrato pelo qual uma das partes entrega à outra coisa fungível ou infungível, com a obrigação de restituí-la. Como as necessidades da vida se multiplicam e nem todas as pessoas tem posse que lhes permitam satisfazê-las, é comum se empestar de amigos, de parentes ou, modernamente, de instituições financeiras, os bens e valores que estes possuem em excesso, com a promessa de restituição”.[26: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 335.]
	Existem duas espécies de empréstimo: o mútuo e o comodato.
	O mútuo é um contrato real, unilateral e gratuito ou oneroso, onde uma parte transfere à outra parte a propriedade de uma determinada quantidade de dinheiro ou outro bem fungível, com a obrigação de a outra parte, chamada de mutuária, restituir ao mutuante, no prazo determinado, uma quantidade igual de bens do mesmo gênero e qualidade.
	A doutrina explica que:
“O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis, pelo qual o mutuário obriga-se a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade (CC, art. 586). Por ele, o mutuante transfere o domínio da coisa emprestada ao mutuário. Por conta deste, que se torna proprietário, correm todos os riscos dela desde a tradição (art. 587). A característica fundamental do mútuo é, com efeito, a transferência da propriedade da coisa emprestada, como decorrência natural da impossibilidade de ser restituída na sua individualidade. É, por isso modalidade de contrato translativo”.[27: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 350.]
	No contrato de mútuo há transferência de propriedade, logo, aquele que empresta deve ter capacidade para dispor da coisa. O mútuo versa sobre empréstimo de consumo e tem por objeto bem fungível. Contudo, normalmente sua realização ocorre tendo como objeto o dinheiro.
	Sobre os direitos e obrigações das partes, cumpre observar as explicações de Carlos Roberto Gonçalves:
“As obrigações do mutuário, pode-se dizer, resumem-se numa só: restituir, no prazo convencionado, a mesma quantidade e qualidade de coisas recebidas e, na falta, pagar o seu valor, tendo em vista o tempo e o lugar em que, segundo a estipulação, se devia fazer a restituição, quando o contrato não tiver dinheiro por objeto. Se a coisa, ao tempo do pagamento, estiver desvalorizada, deve ser restituído o valor que tinha na data do empréstimo, pelo qual ingressou no patrimônio do mutuário.
O mutuante tem o direito de exigir garantia de restituição, se antes do vencimento o mutuário sofrer notória mudança em sua situação econômica (CC, art. 590). A regra constitui aplicação, ao contrato de empréstimo, do princípio destinado aos contratos bilaterais, pelo qual pode uma das partes exigir que a outra dê garantia bastante se satisfazer a prestação que lhe compete, se ocorrer diminuição em seu patrimônio capaz de tornar duvidoso o cumprimento da obrigação (CC, art. 477). Abstendo-se o mutuário de prestar a garantia exigida, pode o mutuante considerar antecipadamente vencida a obrigação, descontando da importância os juros legalmente cabíveis (CC, arts. 333, III)”.[28: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 358.]
	O comodato é um contrato real, unilateral, gratuito, onde uma pessoa entrega um bem corpóreo infungível à outra parte que deverá restituir ao contratante no final do prazo determinado.
	A doutrina define que:
“Segundo dispõe o art. 579 do Código Civil, comodato é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis. Perfaz-se com a tradição do objeto. É portanto, contrato benéfico, pelo qual uma pessoa entrega a outrem algumacoisa infungível, para que a use graciosamente e, posteriormente, a restitua. (...) Como se infere do conceito supramencionado, são três as características essenciais do contrato de comodato: gratuidade, infungibilidade do objeto e aperfeiçoamento com a tradição deste”.[29: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 337.]
	O contrato de comodato tem como característica principal ser gratuito, onde a parte deve restituir a coisa infungível no final do acordo. É denominado um contrato real, pois precisa da realização da tradição da coisa.
	O art. 582 do Código Civil estabelece as obrigações do comodatário, dentre as quais podemos destacar que: deve conservar a coisa emprestada como se fosse sua; usar a coisa de modo adequado, nos termos estipulados no contrato; restituir a coisa emprestada no prazo definido no acordo.
	A doutrina aponte que o comodante possui os seguintes direitos:
“Os direitos do comodante correspondem às obrigações do comodatário. Os principais são: a) exigir do comodatário que conserve a coisa como se fora sua, usando-a apenas de acordo com sua destinação, finalidade e natureza; b) exigir que o comodatário efetue os gastos ordinários para conservação, uso e gozo da coisa emprestada, restituindo-a findo o prazo convencionado ou presumido; c) arbitrar e cobrar aluguel, como penalidade e para satisfação de perdas e danos, em caso de atraso na restituição”.[30: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 348.]
	Por fim, vejamos um julgado sobre o contrato de comodato:
CIVIL E PROCESSUAL. AÇÕES DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE E USUCAPIÃO. DOMÍNIO RECONHECIDO. COMODATO POR PRAZO INDETERMINADO EM PARTE DA ÁREA OBJETO DA REINTEGRATÓRIA. FALTA DE NOTIFICAÇÃO PRÉVIA. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO DE DESOCUPAÇÃO SOBRE O TERRENO OBJETO DO COMODATO. MATÉRIA CONHECÍVEL DE OFÍCIO. VIABILIDADE DE SUA PROVOCAÇÃO EM APELAÇÃO APRESENTADA À CORTE ESTADUAL. JULGAMENTO EXTRA PETITA E REFORMATIO IN PEJUS INOCORRENTES. CC, ARTS. 960, 1.250 E 1.252, CPC, ART. 267, IV, VI E § 3º. PREQUESTIONAMENTO INSUFICIENTE. MATÉRIA DE FATO. SÚMULAS NS. 282 E 356-STF, E 211-STJ. I. Firmado pelas instâncias ordinárias que a área de 5.000m2 onde reside o réu decorreu de ocupação autorizada pelos autores, é de se reconhecer a existência de comodato verbal, por prazo indeterminado, de sorte que para a reintegração na posse do bem exigível a prévia constituição em mora do comodatário, aqui inexistente, como condição imprescindível ao pedido reintegratório. II. Tratando-se de condição para a reintegração, possível ao réu suscitá-la em apelação perante o Tribunal de 2o grau, que deveria, inclusive, conhecê-la de ofício, não podendo a tanto escusar-se ao argumento de que não fora aduzida na contestação a falta da notificação e estaria, assim, preclusa. III. Pedido reintegratório procedente, todavia, em relação à área restante também alvo da mesma ação, de 15 hectares, fixado esse direito dos autores com base na prova dos autos, que não tem como ser revista em sede especial, ao teor da Súmula n. 7 do STJ.
IV. Reconhecimento, por igual, da titularidade dos autores sobre a área de 5.000m2 alvo do comodato, apenas que, para obter a posse, terão de promover a prévia notificação e intentar novo procedimento. V. Não configura julgamento extra petita, nem reformatio in pejus, a explicitação do acórdão da apelação, em sede de embargos declaratórios, no tocante à definição das áreas compreendidas na decisão da Corte. VI. Ausência de prequestionamento impeditiva do conhecimento do recurso especial em toda a extensão pretendida pela parte, em face dos óbices das Súmulas ns. 282 e 356 do C. STF e 211 do STJ. VII. Recurso especial conhecido em parte e parcialmente provido. (STJ, REsp 97859/MG. Rel. Min. Aldir Passarinho Júnior, J. 20/03/2003, 4ª Turma).
7. Da prestação de serviço
	O contrato de prestação de serviço é aquele onde um parte deve prestar para outra um serviço lícito em decorrência de uma contraprestação, ou seja, do respectivo pagamento.
	Carlos Roberto Gonçalves explica que:
“Constitui prestação de serviço toda espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial, contratada mediante retribuição (CC, art. 594). Hoje, porém, as regras do Código Civil têm caráter residual, aplicando-se somente às relações não regidas pela Consolidação das Leis do Trabalho e pelo Código do Consumidor, sem distinguir a espécie de atividade prestada pelo locador ou prestador de serviços, que pode ser profissional liberal ou trabalhador braçal (CC, art. 593)”.[31: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 361.]
Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho dizem o seguinte sobre o contrato de prestação de serviço: “O contrato de prestação de serviço é o negócio jurídico por meio do qual uma das partes, chamada prestador, se obriga a realizar uma atividade em benefício de outra, denominada tomador, mediante remuneração. Trata-se de uma modalidade contratual aplicável a qualquer tipo de atividade lícita, seja manual, seja intelectual, conforme explica o art. 594 do CC/02”.[32: Novo Curso de Direito Civil, vol. IV: tomo 2. Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 238.]
	O contrato de prestação de serviço é bilateral ou sinalagmático, oneroso e consensual. O art. 598 do Código Civil estabelece que o prazo máximo do contrato de prestação de serviço é de quatro anos, sendo possível a renovação contratual, se as partes acordarem nesse sentido.
	Finalizando, cumpre registrar que a prestação de serviço disciplinada no Código Civil de 2002, é aquela que não se enquadra na relação trabalhista e na relação consumerista.
8. Da empreitada
	O contrato de empreitada é aquele onde uma parte, denominada empreiteiro, se obriga a executar determinada obra em razão de uma remuneração fixada, que será paga pelo outro contratante, nos termos do acordo.
	Carlos Roberto Gonçalves explica que:
“Empreitada (locatio operis) é contrato em que uma das partes (o empreiteiro), mediante remuneração a ser paga pelo outro contraente (o dono da obra), obriga-se a realizar determinada obra, pessoalmente ou por meio de terceiros, de acordo com as instruções deste e sem relação de subordinação. Constitui, também, uma prestação de serviço (locatio operarum), mas de natureza especial. (...) Verifica-se que a empreitada, por gerar uma obrigação de resultado, tem por escopo apenas o resultado final, que pode ser a construção de uma obra material ou criação intelectual ou artística, não levando em consideração a atividade do empreiteiro em si, como objeto da relação contratual”.[33: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 369.]
	No mesmo sentido são os ensinamentos de Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho: “Conceituando este contrato, entendemos a empreitada como um negócio jurídico por meio do qual uma das partes (denominada de empreiteiro, empresário ou locador) se obriga, sem subordinação ou dependência, a realizar, pessoalmente ou por meio de terceiros, obra certa para o outro contratante (denominado dono da obra, comitente ou locatário), com material próprio ou por este fornecido, mediante remuneração determinada ou proporcional ao trabalho executado”.[34: Novo Curso de Direito Civil, vol. IV: tomo 2. Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 261.]
	Trata-se de um contrato de um contrato bilateral, oneroso, consensual, de forma livre, comutativo e de trato sucessivo.
	A empreitada pode ser classificada em: a) de lavor ou mão de obra, sendo aquela onde o empreiteiro fornece tão somente a mão de obra; b) mista, sendo aquela onde o empreiteiro fornece a mão de obra e o material a ser utilizado.
	Com relação ao preço, a empreitada pode ser a preço fixo, preço por medida e preço por etapas. Será permitido a subempreitada se o contratonão dispor cláusula em sentido contrário.
	Em relação a responsabilidade do empreiteiro, pode-se analisar da seguinte maneira: a) quanto aos riscos da obra; b) quanto à solidez e segurança dos edifícios e outras construções consideráveis; c) quanto à perfeição da obra; d) quanto à responsabilidade pelo custo dos materiais; e) quanto aos danos causados a terceiros.[35: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 376.]
	O dono da obra tem obrigação de efetuar o pagamento estabelecido contrato de empreitada, podendo, exigir que o empreiteiro cumpra com todas as regras determinadas no contrato.
	O contrato de empreitada extingue-se pelos seguintes motivos: a) cumprimento; b) morte do empreiteiro, se o contrato for intuitu personae; c) pela resilição bilateral; d) pela resolução; e) pela resilição unilateral; f) pela onerosidade excessiva; g) pelo perecimento da coisa, caso fortuito ou força maior; h) pela falência do empreiteiro ou insolvência do proprietário.[36: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 384.]
	Por fim, vejamos alguns julgados sobre o presente contrato:
CIVIL. CONTRATO DE EMPREITADA. ATRASO NO PAGAMENTO DE FATURAS. SE A CONJUNTURA E FRANCAMENTE INFLACIONARIA, O ATRASO NO PAGAMENTO DE FATURAS RELATIVAS A CONTRATO DE EMPREITADA IMPLICA A OBRIGAÇÃO DE PAGAR A CORREÇÃO MONETARIA CORRESPONDENTE; RESTABELECIMENTO DA EQUAÇÃO ECONOMICO-FINANCEIRA DO NEGOCIO. RECURSO ESPECIAL NÃO CONHECIDO; RECURSO ADESIVO PREJUDICADO. (STJ, REsp 99481/SP. Rel. Min. Ari Pargendler, J. 03.04.1997, 2ª Turma)
DIREITOS CIVIL E ECONÔMICO. CONTRATO DE EMPREITADA. SUBEMPREITADA. ALTERAÇÃO DO VALOR DO PREÇO. EXTRAORDINÁRIO. EXECUÇÃO À VISTA DO SUBEMPREITEIRO QUE INCLUSIVE FISCALIZOU E ACOMPANHOU A OBRA. AUTORIZAÇÃO TÁCITA. VALIDADE. INTERPRETAÇÃO AO ART. 1.246 DO CÓDIGO CIVIL. DOUTRINA. RECURSO DESACOLHIDO. - Interpretando o art. 1.246 do Código Civil, a doutrina acolhe a tese de que, se o serviço extraordinário foi executado às claras, inclusive sob a supervisão de prepostos da subempreiteira, tem-se como pertinente a cobrança dos seus valores, independentemente de autorização por escrito. (STJ, REsp 103715/MG, Min. Rel. Sálvio de Figueiredo Teixeira, J. 05/10/1999, 4ª Turma).
CONTRATO DE EMPREITADA. Inadimplemento. Resolução. Compensação judicial. - O cumprimento imperfeito do contrato de construção, atrasando a proprietária da obra o pagamento de algumas prestações, pode não caracterizar causa suficiente para a extinção do contrato, considerada a grandiosidade do empreendimento e o valor das prestações, cabendo apenas indenização pelo dano daí decorrente. - Atraso na execução do cronograma e paralisação indevida da obra, razões consideradas suficientes para extinção do contrato a pedido da proprietária. - Ação proposta pela contratada julgada parcialmente procedente, para ser indenizada pelos atrasos, e procedência parcial da reconvenção oferecida pela contratante, com resolução do contrato por culpa da construtora. - Compensação judicial. Possibilidade. - Inexistência de ofensa à lei (arts. 1.092, 1.009 e 115 do CCivil) e de dissídio. Recurso não conhecido. (STJ, REsp 191802/SP. Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j. 02/02/1999, 4ª Turma).
9. Do depósito
	O contrato de depósito e aquele onde uma parte recebe da outra determinada coisa móvel para guardá-la e restituí-la posteriormente no prazo ajustado.
	A doutrina ensina o seguinte sobre o contrato de depósito:
“Depósito é o contrato em que uma das partes, nomeada depositário, recebe da outra, denominada depositante, uma coisa móvel, para guardá-la, com a obrigação de restituí-la na ocasião ajustada ou quando lhe for reclamada. Dispõe o art. 627 do Código Civil que pelo contrato de depósito recebe o depositário um objeto móvel, para guardar, até que o depositante o reclame. A sua principal finalidade é, portanto, a guarda de coisa alheia”.[37: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 386.]
	Em outras palavras: “Podemos definir o contrato de depósito como sendo um negócio jurídico por meio do qual uma das partes (depositante) transfere à outra (depositário) a propriedade de um objeto móvel, para que seja guardado, conservado e, posteriormente, devolvido”.[38: Novo Curso de Direito Civil, vol. IV: tomo 2. Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 298.]
	O depósito pode ser classificado em: a) voluntário, é aquele que decorre da vontade das partes; b) necessário, ocorre nos casos de disposição legal ou calamidade; c) próprio, é aquele feito com coisas infungíveis; d) impróprio, é aquele feito com coisas fungíveis; e) gratuito; f) oneroso.
	Quando o depósito é oneroso será considerado bilateral é o depositante terá a obrigação de pagar o respectivo valor. Quando for gratuito, deverá reembolsar as despesas feitas pelo depositário e indenizar os possíveis prejuízos que surgirem com o contrato. O depositário tem a obrigação de guardar a coisa e restituí-la nas mesmas condições que recebeu.
10. Do Mandato
	É o contrato pelo qual uma parte denominada mandatário, recebe da outra parte denominada de mandante, poderes para praticar atos ou administrar interesses em seu respectivo nome.
	Vejamos as explicações da doutrina:
“Opera-se o mandato, diz o art. 653 do Código Civil, quando alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses. Como explica com clareza Roberto de Ruggiero, encarregar outrem de praticar um ou mais atos por nossa conta e no nosso nome, de modo que todos os efeitos dos atos praticados se liguem diretamente à nossa pessoa como se nós próprios os tivéssemos praticado, é o que tecnicamente se chama conferir ou dar mandato. (...) A pessoa que confere os poderes chama-se mandante e é o representado; a que os aceita diz-se mandatário e é representante daquela. Mandato não se confunde com mandado, que é uma ordem judicial”.[39: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 412.]
	No mesmo rumo afirmam Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho: “O mandato é um contrato de grande utilidade prática, extremante presente no nosso dia-a-dia, desde situações corriqueiras (ex.: quando pedimos a algum colega que faça, em nosso lugar, a matrícula na escola, a entrega de um trabalho ou a apuração de um resultado) até hipóteses de grande repercussão individual e/ou social (como o ajuizamento de demandas judiciais ou a celebração de vultosos negócios). (...) Mandato é o negócio jurídico pelo qual uma pessoa, chamada mandatário, recebe poderes de outra, chamada mandante, para, em nome desta última, praticar atos ou administrar interesses”.[40: Novo Curso de Direito Civil, vol. IV: tomo 2. Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 323.]
	Trata-se de um contrato personalíssimo ou intuitu personae, consensual, não solene, contudo tem a procuração como seu instrumento, em regra é gratuito, mas poderá ser oneroso, e em regra é unilateral.
	O art. 654 do Código Civil dispõe que: todas as pessoas capazes são aptas para dar procuração mediante instrumento particular, que valerá desde que tenha a assinatura do outorgante. Assim, os absolutamente e os relativamente incapazes não podem realizá-lo.
	A doutrina afirma que o mandato pode ser: “expresso ou tácito, verbal ou escrito (CC, art. 656). Pode ser, ainda, gratuito ou remuneratório (art. 658), judicial ou extrajudicial (art. 692), simples ou empresário (arts. 966 e 1.018), geral ou especial (art. 660) e em termos gerais e com poderes especiais (art. 661). Quando outorgado a mais de uma pessoa, pode ser conjunto, solidário, sucessivo ou fracionário (672)”.[41: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 424.]
	Sobre a extinção do mandato, o art. 682 do Código Civil de 2002 estabelece queas seguintes situações: “I – pela revogação ou pela renúncia; II – pela morte ou interdição de uma das partes; III – pela mudança de estado que inabilite o mandante a conferir os poderes, ou o mandatário para os exercer; IV – pelo término do prazo ou pela conclusão do negócio”.
11. Da comissão
	O contrato de comissão é aquele onde uma parte, denominada de comissário, se compromete em realizar negócios perante terceiros seguindo as instruções da para outra parte, denominada de comitente.
	A doutrina explica que:
“Pelo contrato de comissão um dos contraentes, denominado comissário, obriga-se a realizar negócios em favor do outro, intitulado, comitente, segundo instruções deste, porém em nome daquele. O comissário obriga-se, portanto, perante terceiros em seu próprio nome, figurando no contrato como parte. Neste, em geral, não consta o nome do comitente, porque o comissário age em nome próprio. Nada impede, contudo, que venha a constar, por conveniência de melhor divulgação do produto e incrementação dos negócios”.[42: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 450.]
	Trata-se de um contrato bilateral, consensual, oneroso, comutativo, não solene e intuitu personae ou personalíssimo. As partes costumam pactuar o valor da remuneração do contrato através de comissão em porcentagem sobre os valores das vendas realizadas.
	O comissário não responde pelo inadimplemento da pessoas com quem realiza os negócios, salvo se constar a chamada cláusula del credere.
12. Da agência e distribuição
	Agência é o contrato onde uma pessoa assume a obrigação de promover negócios por conta de outra pessoa, e a distribuição ocorre quando a coisa negociada estiver com o agente.
	A doutrina explica que:
“Configura-se o contato de agência quando uma pessoa assume, com autonomia, a obrigação de promover habitualmente, por conta de outra pessoa, mediante remuneração, a realização de certos negócios, em zona determinada; e o de distribuição, quando a coisa a ser negociada estiver à disposição do agente”.[43: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 463.]
	O art. 710 do Código Civil dispõe que: “Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, em caráter não eventual e sem vínculos de dependência, a obrigação de promover, à conta de outra, mediante retribuição, a realização de certos negócios, em zona determinada, caracterizando-se a distribuição quando o agente tiver à sua disposição a coisa a ser negociada”. O parágrafo único diz que: “o proponente pode conferir poderes ao agente para que este o represente na conclusão dos contratos”.
	Geralmente a remuneração do agente é realizada com base em porcentagem sobre os negócios realizados, contudo, poderá também ser estabelecida de maneira fixa.
13. Da corretagem
	O contrato de corretagem é aquele onde uma parte tem a função de aproximar da outra parte negócios jurídicos de seu interesse, mediante o pagamento de uma remuneração acordada.
	Carlos Roberto Gonçalves explica que:
“Contrato de corretagem é aquele pelo qual uma pessoa, não vinculada a outra em virtude de mandato, de prestação de serviço ou por qualquer relação de dependência, obriga-se, mediante remuneração, a intermediar negócios para a segunda, conforme as instruções recebidas, fornecendo a esta todas as informações necessárias para que possam ser celebrados exitosamente. (...) O corretor aproxima pessoas interessadas na realização de um determinado negócio, fazendo jus a uma retribuição se este se concretizar”.[44: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 471.]
	Trata-se de um contrato bilateral, consensual, oneroso, aleatório e não solene. A remuneração do contrato de corretagem é denominado comissão ou corretagem, sendo acordada normalmente por porcentagem do valor do negócio.
14. Do transporte
	O contrato de transporte é aquele onde uma parte obriga-se a transportar de um local a outro, pessoas ou coisas, mediante o pagamento estabelecido no acordo.
	Vejamos as explicações da doutrina:
“Preceitua o art. 730 do Código Civil: pelo contrato de transporte alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um lugar para outro pessoas ou coisas. A redação espelha-se na definição de Pontes de Miranda, verbis: Contrato de transporte é o contrato pelo qual alguém se vincula, mediante retribuição, a transferir de um lugar para outro pessoa ou bens. Observa-se que o contrato de transporte se compõe de três elementos: o transportador, o passageiro e a transladação. (...) O contrato de transporte gera, para o transportador, obrigação de resultado, qual seja, a de transportar o passageiro são e salvo, e a mercadoria, sem avarias, ao seu destino”.[45: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 480.]
	Trata-se de um contrato bilateral, de adesão, consensual, oneroso, comutativo e não solene. O transporte pode ser realizado para fins de transportar pessoas ou coisas.
	O transportador tem o direito de exigir o pagamento do preço ajustado, reter a bagagem na hipótese de inadimplemento, estabelecer regras para disciplinar o transporte e recusar passageiros ou coisas que cumpram os requisitos estabelecidos nos regulamentos de transporte.
	O transportado tem o direito de exigir o cumprimento do contrato de transporte, ser conduzido são e salvo no destino convencionado e solicitar reparação de danos que suportar.
	Assunto que merece uma atenção especial e a responsabilidade civil decorrente do transporte gratuito ou benévolo.
Com efeito, em se tratando de transporte benévolo, gratuito, desinteressado ou de mera cortesia, ou seja, aquele pelo qual o condutor do veículo nada recebe como contraprestação do serviço prestado, sem resultar benefícios diretos ou indiretos ao transportador, por simples cortesia, fato que obsta seja o motorista responsabilizado pelos danos decorrentes do acidente em que não tenha laborado com dolo ou culpa grave. Assim, fica o mesmo isento do dever de ressarcir os danos sofridos por outrem na hipótese de se evidenciar somente a culpa leve ou levíssima.
	A propósito, Wilson Melo da Silva ensina que:
"O transporte gratuito, benéfico, não traz vantagem ao transportador. É a ele que o contrato não favorece. Portanto, só deve ser responsabilizado, em caso de acidente, por dolo ou culpa gravíssima, ficando exonerado de qualquer responsabilidade em caso de culpa leve ou levíssima" (Da Responsabilidade, p. 214.)”.
Nessa mesma orientação Ruy Rosado assevera “No transporte benévolo, há, de qualquer modo, uma relação entre o transportador e o transportado, apenas não há contrato, e a ele não se aplicam às regras da responsabilidade contratual. Incidem as disposições da responsabilidade extracontratual, com uma importante limitação: somente se reconhece a responsabilidade do transportador quando agir com culpa grave ou dolo” (in, AGUIAR, Ruy Rosado de. Contrato de Transporte de Pessoas e o Novo Código Civil. BDJur- Biblioteca Digital do Superior Tribunal de Justiça.).
A propósito, a matéria encontra-se pacificada, consoante Súmula 145 do Superior Tribunal de Justiça, in verbis:
 
"No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave".
	Nesse aspecto, o agente somente responde quando agir com culpa grave ou dolo, não respondendo nos casos de simples culpa.
	Colhe-se da jurisprudência pátria as seguintes decisões:
"APELAÇÃO CÍVEL - ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO - TRANSPORTE GRATUITO - CULPA GRAVE OU DOLO NÃO COMPROVADOS - SÚMULA 145 DO STJ - OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR - AUSÊNCIA - SENTENÇA MANTIDA. No transporte desinteressado, ou de simples cortesia, o transportador responderá pelos prejuízos resultantes de acidente de trânsito tão somente quando comprovada a culpa grave ou dolo, cumprindo ao autor a prova dofato constitutivo, sem a qual inexiste responsabilidade apta a acarretar o dever de indenizar, consoante a súmula 145 do STJ." (TJ-MG; 1.0525.05.077945-9/001(1); Numeração Única: 0779459-77.2005.8.13.0525; Relator: Des.(a) AFRÂNIO VILELA; Data do Julgamento: 19/11/2008; Data da Publicação: 03/12/2008).”
.............................
"INDENIZAÇÃO. TRANSPORTE GRACIOSO. AUSÊNCIA DE PROVA DO DOLO OU CULPA GRAVE. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO INICIAL. Configurado o transporte gracioso, ou gratuito, no qual o motorista do automóvel não cobra do passageiro qualquer remuneração para conduzi-lo, o transportador gratuito somente responde perante o gratuitamente transportado, se tiver agido com dolo ou culpa grave. O artigo 333 do CPC estabelece que cada litigante tem o dever de demonstrar os pressupostos fáticos do direito que pretenda ver aplicado pelo julgador, na solução do litígio. Deixando a parte ativa de observar os ditames da norma acima mencionada, resta improcedente o pedido, visto que não demonstrado o seu direito." (TJ-MG; 2.0000.00.495922-6/000(1); Numeração Única: 4959226-06.2000.8.13.0000; Relator: Des.(a) PEDRO BERNARDES; Data do Julgamento: 18/07/2006; Data da Publicação: 02/09/2006).”
...........................
"AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - RESPONSABILIDADE CIVIL - ACIDENTE DE TRÂNSITO - TRANSPORTE GRATUITO - CULPA GRAVE OU DOLO NÃO DEMONSTRADOS - DEVER DE INDENIZAR AFASTADOS. Para o reconhecimento da responsabilidade do transportador é necessária a comprovação de que o condutor do veículo tenha agido com dolo ou da culpa grave, a teor do que dispõe o art. 392, do Código Civil e Súmula 145, do STJ." (TJ-MG; 1.0145.01.010042-1/001(1); Numeração Única: 0100421-80.2001.8.13.0145; Relator: Des.(a) HELOISA COMBAT; Data do Julgamento: 03/08/2006; Data da Publicação: 25/08/2006). 
.............................
"AÇÃO DE INDENIZAÇÃO -ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO - TRANSPORTE GRATUITO - CULPA NÃO COMPROVADA - SÚMULA 145 DO STJ - OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR - AUSÊNCIA - SENTENÇA MANTIDA. Em caso de transporte gratuito ou de simples cortesia, o transportador será responsabilizado pelos danos causados ao transportado, se restar comprovada a ocorrência de dolo ou culpa gravíssima, consoante a súmula 145/STJ. Pertence ao autor o ônus da prova dos fatos constitutivos de seu direito, de conformidade com o disposto pelo Art. 333, I, do CPC." (TJ-MG; 2.0000.00.498034-3/000(1); Numeração Única: 4980343-53.2000.8.13.0000; Relator: Des.(a) WALTER PINTO DA ROCHA; Data do Julgamento: 17/11/2005; Data da Publicação: 19/01/2006). 
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"APELAÇÃO CÍVEL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. MORTE DE CARONA.AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE DOLO OU CULPA GRAVE DO CONDUTOR.PEDIDO IMPROCEDENTE. APLICAÇÃO DA SÚMULA 145 DO STJ. RECURSO DESPROVIDO".(TJPR - 8ª C.Cível - AC 642561-0 - Mangueirinha - Rel.: Jorge de Oliveira Vargas - Unânime - J. 29.04.2010)”.
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"APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR ACIDENTE DE TRÂNSITO - VÍTIMA QUE VIAJAVA COMO CARONA NO VEÍCULO CONDUZIDO PELO REQUERIDO - OCORRÊNCIA DE ACIDENTE QUE CAUSOU GRAVES DANOS AO REQUERENTE - INTELIGÊNCIA DA SÚMULA 145 DO STJ - TRANSPORTE DESINTERESSADO, DE SIMPLES CORTESIA - AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE DOLO OU CULPA GRAVE DO MOTORISTA - SENTENÇA MANTIDA - RECURSOS DESPROVIDOS". (TJPR - 8ª C.Cível - AC 577981-9 - Toledo - Rel.: Denise Kruger Pereira - Unânime - J. 01.09.2009).
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"APELAÇÃO CÍVEL AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS ACIDENTE DE TRÂNSITO INEXISTÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE QUE A CARONA OFERECIDA À VÍTIMA TINHA INTERESSE COMERCIAL - TRANSPORTE GRATUITO CARACTERIZADO - AUSÊNCIA DE CULPA GRAVE OU DOLO DO CONDUTOR DO VEÍCULO - SÚMULA 145 DO STJ - SENTENÇA MANTIDA RECURSO DESPROVIDO". (TJPR - 9ª C.Cível - AC 722906-5 - Paranavaí - Rel.: José Augusto Gomes Aniceto - Unânime - J. 18.11.2010)
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"RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. MORTE DE PASSAGEIRO. TRANSPORTE GRATUITO. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA. CULPA. AUSÊNCIA DE PROVAS. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1. "No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave" (Súmula 145 STJ). 2. Não tendo a autora se desincumbido do ônus que lhe competia, demonstrando a existência de culpa da parte contrária, a improcedência do pedido foi de rigor." (TJPR - Apelação Cível 0402594-3 - 10ª Câmara Cível - Des. Rel. Astrid Maranhão de Carvalho Ruthes - Julg. 26/04/2007 - DJ 18/05/2007).
	Como visto, somente poderá o agente responder, caso tenha agido com culpa grave ou dolo. 
Necessário ainda trazer o conceito de culpa grave. Sérgio Cavalieri Filho, com muita propriedade, define culpa grave da seguinte forma: 
“Examinado pelo ângulo da gravidade, a culpa será grave se o agente atuar com grosseira falta de cautela, com descuido injustificável ao homem normal, impróprio ao comum dos homens. É a culpa com previsão do resultado, também chamada culpa consciente, que se avizinha do dolo eventual do Direito Penal. Em ambos há previsão ou representação do resultado, só que no dolo eventual o agente assume o risco de produzi-lo, enquanto na culpa consciente ele acredita sinceramente que o evento não ocorrerá. (in, FILHO, Sérgio Cavalieri, Programa de Responsabilidade Civil, 3ª ed. Ed. Malheiros, São Paulo, 2002, p. 49).”
	De modo que, age com culpa aquele que pratica a conduta com grosseira falta de cautela, com descuido injustificável ao homem normal, p. ex., dirigir embriagado, sem habilitação, em altíssima velocidade, etc..
15. Do seguro 
	O contrato de seguro é aquele onde o segurador assume o risco e se obriga, mediante o pagamento do prêmio acordado, a indenizar o segurado, na hipótese de ocorrer o sinistro determinado no contrato. 
	A doutrina explica que:
“Considera-se contrato de seguro aquele pelo qual uma das partes, denominada segurador, se obriga, mediante o recebimento de um prêmio, a garantir interesse legítimo da outra, intitulada segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados. (...) O seu principal elemento é o risco, que se transfere para outra pessoa”.[46: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 503.]
	Trata-se de um contrato bilateral, consensual, oneroso, aleatório e de adesão. A apólice é o instrumento do contrato de seguro, pois define as regras inerentes ao acordo firmado entre as partes, bem como os sinistros cobertos e os valores das indenizações.
	A doutrina explica que a legislação disciplina o contrato de seguro em seguro de dano e seguro de pessoa, ocorrendo uma subdivisão em: a) seguro de coisas, que cuida da cobertura de danos a bens móveis, imóveis e semoventes; b) seguro de responsabilidade civil, relacionado a cobertura por danos a terceiros; e o seguro de pessoa, que subdivide-se em: a) seguro de vida e b) seguro de acidentes pessoais.[47: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 511.]
	O segurado tem a obrigação de pagar o preço e o segurador de garantir o pagamento da indenização pactuada no contrato de seguro.
16. Da constituição de renda
	O contrato de constituição de renda é aquele onde uma parte entrega a outra um determinado capital, que deverá pagar no período estabelecido, determinada remuneração a título de renda.
	Vejamos as palavras de Carlos Roberto Gonçalves:
“Pelo contrato de constituição de renda a título oneroso, pois, uma pessoa (o instituidor) entrega a outra (rendeiro ou censuário) um capital, que pode consistir em bens móveis ou imóveis, obrigando-se esta a pagar àquela ou a terceiro por ela indicado, periodicamente, uma determinada prestação. Quando se convenciona o pagamento de uma renda vitalícia a terceiro, esta passa a denominar-se beneficiário. (...) Trata-se de modalidade contratual raramente encontrada na atualidade, especialmente em países de moeda instável como o Brasil”.[48:Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 542.]
	Trata-se de negócio jurídico, real, bilateral, oneroso, comutativo, aleatório e formal, pois exige escritura pública para a sua realização.
	Ocorre a extinção do contrato de constituição de renda em virtude do vencimento do prazo, condição resolutiva, morte do rendeiro ou do credor, por anulação, pela caducidade e pelo resgate.
17. Do jogo e da aposta
	O contrato de jogo é aquele entre duas ou mais pessoas, que prometem pagar certo valor para aquele que conseguir um determinado resultado favorável, em virtude de um acontecimento incerto. A aposta é o contrato entre duas ou mais pessoas de opiniões diferentes sobre determinado assunto, que prometem, entre si, a pagar certo valor para aquele cuja a o opinião vier a prevalecer, em virtude de evento incerto.
	A doutrina aponta que:
“Jogo e aposta são, pois, contratos aleatórios. No primeiro, o resultado decorre da participação dos contratantes. O êxito ou o insucesso dependem da atuação de cada jogador. O vencedor fará jus a uma certa soma, previamente estipulada. Jogo é, pois, a convenção em que duas ou mais pessoas se obrigam a pagar certa importância àquela que se sair vencedora na prática de determinado ato de que todas participem. Na aposta, o resultado não depende das partes, mas de um ato ou fato alheio e incerto. Considera-se vencedora aquela cujo ponto de vista a respeito de fato praticado por outrem se verifique ser o verdadeiro. Aposta é, assim, o contrato entre duas ou mais pessoas, cujos pontos de vista a respeito de determinado acontecimento incerto sejam divergentes, obrigam-se a pagar certa soma àquela cuja opinião prevalecer”.[49: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 549.]
	As dívidas de jogo e aposta são consideradas obrigações naturais e não obrigam o pagamento, mas se forem realizado voluntariamente, não podem ser recobrados. Os jogos classificam-se em ilícitos, lícitos que podem ser tolerados ou autorizados por lei específica.
18. Da fiança
	O contrato de fiança é um negócio jurídico acessório onde o fiador assume responsabilidade pelo pagamento de determinada dívida na hipótese do devedor principal não realizar o pagamento.
	O mestre Carlos Roberto Gonçalves pontua que:
“Dispõe o art. 818 do Código Civil que, pelo contrato de fiança, uma pessoa garante satisfazer ao credor uma obrigação assumida pelo devedor, caso este não a cumpra. A fiança é, portanto, o contrato pelo qual uma pessoa se obriga a pagar ao credor o que a este deve um terceiro. Alguém estranho à relação obrigacional originária, denominado fiador, obriga-se perante o credor, garantindo com o seu patrimônio a satisfação do crédito deste, caso não o solva o devedor”.[50: Direito Civil Brasileiro, Vol. 3. Carlos Roberto Gonçalves. São Paulo: Ed. Saraiva, 8ª Ed. 2011 p. 558.]
	Trata-se de contrato unilateral, acessório e subsidiário, gratuito e formal, pois exige a forma por escrito para ter validade. A fiança pode ser convencional, legal e judicial. O fiador possui o beneficio de ordem, ou seja, primeiro excuta-se os bens do devedor principal para posteriormente responsabilizar os bens do fiador.
Um assunto bastante controvertido sobre o contrato de fiança, é sobre a prorrogação automática do contrato de locação de imóvel urbano e a continuidade da responsabilidade dos fiadores. 
O STJ, por inúmeras vezes, já decidiu que a renúncia a exoneração de fiança é absolutamente válida, “in verbis“:
Não podem exonerar-se das obrigações os fiadores que manifestaram expressa renúncia ao direito estipulado no CC, art. 1.500. Mesmo que o contrato tenha se tornado por tempo indeterminado, subsiste a fiança que foi pactuada até a entrega das chaves do imóvel. [51: REsp. 50.568, DJ 29/9/97, 5ª Turma - Rel. Min. Edson Vidigal - JSTJ/Lex-102/135.]
(...) Embora caracterizada a divergência, a jurisprudência dominante nesta Corte é no sentido de que a cláusula de renúncia ao direito de exoneração permanece válida ainda que o contrato tenha se tornado por tempo indeterminado. A propósito: STJ, 6ª Turma, REsp. nº 67.601/SP, Rel. Min. Adhemar Maciel, DJ 12/2/96 : “( ... ) III - Ocorrendo a prorrogação do contrato de locação por tempo indeterminado (parágrafo primeiro, art. 46 da Lei nº 8.245/91), a fiança subsiste porque os fiadores se obrigaram até a entrega real e efetiva do prédio locado”. STJ, 4ª Turma, REsp. nº 3.821/RS, Rel. Min. Barros Monteiro, DJ 29/3/91: “ I - Respondendo o fiador pelas obrigações pactuadas até a desocupação do imóvel locado, é válida a cláusula mediante a qual renuncia ele ao direito de exonerar-se da fiança, ainda que a locação se tenha prorrogada por tempo indeterminado. O fiador pode exonerar-se da fiança que tiver assinado sem limitação de tempo. É o que reza o art. 1.500 do Código Civil. Diversa, porém, é a situação em que o fiador renuncia às expressas o direito à exoneração da fiança, como acontece na hipótese ora sob julgamento. Aqui, os autores por ato voluntário, desistiram do direito previsto no citado art. 1.500. Este direito afigura-se perfeitamente renunciável, uma vez que se trata de abdicar-se de um interesse puramente privado. No caso em exame, os recorrentes, fiadores e principais pagadores das obrigações assumidas pelo locatário em contrato de locação por tempo determinado (12 meses), manifestaram expressa renúncia ao direito de exoneração da fiança, disposto no CC, art. 1.500. Vencido o prazo estipulado no contrato, a locação prorrogou-se por tempo indeterminado subsistindo a garantia prestada pelos recorrentes até a entrega das chaves.
Assim, a questão fica mais atraente quando se indaga se num determinado contrato de locação prorrogado por tempo indeterminado por força de lei (parágrafo único do art. 56 e art. 39, ambos da Lei de Locação), bem como por vontade das partes, os fiadores estariam exonerados da fiança independentemente de se utilizar da faculdade prevista no art. art. 835, CC/2002?
Por certo que a resposta é negativa. Não com outro entendimento, ou seja, exigindo a propositura da ação de exoneração de fiança para que o fiador fique desobrigado da garantia prestada, é a posição dessa Excelsa Corte:
(...) Por outro lado, a cláusula de validade da fiança ‘até a entrega das chaves’, não pode ser interpretada como um beco sem saída para o fiador, único a não poder dar por finda a locação e único a dela não extrair qualquer proveito. Por isso essa cláusula não implica em renúncia absoluta à faculdade de exoneração da fiança, prevista no art. 1.500 do Código Civil...[52: REsp. nº 45.214/SP, DJ 30.05.1994, Min. Assis Toledo.]
...........................
O fiador poderá eximir-se da fiança que tiver assinado sem limitação de tempo sempre que lhe convier, ficando, porém, obrigado por todos os efeitos das fianças anteriores ao ato amigável ou à sentença que o exonerar. [53: REsp. nº 40.653/RS, DJ 18.04.1994, Min. Vicente Cernicchiaro.]
De modo que a exoneração da fiança só ocorre quando da utilização da via legal estampada no art. 835, CC/2002. Vale dizer, que não havendo a exoneração da fiança persiste a obrigação dos fiadores até a data da imissão do locador na posse do imóvel.
A Súmula 214 do STJ vem sendo interpretada de forma equivocada por alguns juristas, por isso, necessário algumas considerações sobre a mesma. Pois bem, analisando a questão simplesmente como obrigação de garantia (fiança), ainda assim, o simples fato de ter ocorrido a prorrogação da locação não significa dizer que houve a extinção de pleno direito da fiança locatícia.
Vale registrar, que a súmula 214 invoca justificativas em nove precedentes da Quinta e Sexta Turmas do STJ, como adiante se demonstrará, todos relacionados com situações onde existiu alguma espécie de inovação entre locador e locatário, sem a participação do fiador, e, nenhum deles, trata de simples prorrogação legal ou autorizada pelo próprio contrato.
Em outras palavras,

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