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TRABALHO EM GRUPO – TG Licenciatura em Artes Visuais Estudos Disciplinares V Prof. Bruno César ANÁLISE DO VIDEOCLIPE “PROJOTA – O HOMEM QUE NÃO TINHA NADA” SANDRA APARECIDA DOS SANTOS KECEK – 1607212 CAMPOS DO JORDÃO – SP 2017 SANDRA APARECIDA DOS SANTOS KECEK ANÁLISE DO VIDEOCLIPE “PROJOTA – O HOMEM QUE NÃO TINHA NADA” Trabalho apresentado à Universidade Paulista – UNIP INTERATIVA, referente ao curso de Licenciatura em Artes Visuais, como um dos requisitos para avaliação em Estudos Disciplinares V. Orientador: Prof. Bruno César CAMPOS DO JORDÃO – SP 2017 SUMÁRIO 1.INTRODUÇÃO.....................................................................................................................4 2. OBJETIVOS.........................................................................................................................5 3. ANÁLISE DO VIDEOCLIPE PROJOTA–O HOMEM QUE NÃO TINHA NADA…5 3.1. Ficha técnica.................................................................................................................5 3.2. O Artista.......................................................................................................................8 3.3. A Diretora.....................................................................................................................8 3.4. Descrição e Análise do Videoclipe..............................................................................9 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................18 REFERÊNCIAS................................................................................................................19 4 1. INTRODUÇÃO O videoclipe é um formato audiovisual que nas últimas décadas mudou o modo como nos relacionamos com a música. Tal formato surgiu e desenvolveu-se com o avanço tecnológico das mídias e se caracteriza por seu caráter hibrido, pois se apropria, mescla e reorganiza elementos de outras linguagens, como o cinema, a TV, a propaganda e o vídeo. Outros elementos que permitam experimentações audiovisuais, como das artes plásticas, da fotografia e da arte digital, também são usados. Segundo TREVISAN (2011), “os videoclipes foram se desenvolvendo e criando sua própria estética, diferente e única, fazendo um mix de outras, como música, televisão, cinema e publicidade”. É um produto cultural que se fundamenta e se firma dentro da cultura contemporânea, tornando-se uma nova forma de comunicação, e cria, com sua estética diferenciada, novos padrões na produção audiovisual. O videoclipe além de ser uma peça promocional, onde se divulga um produto (como a banda, o cantor, e a música), por meio de uma estética de imagens, tendências e comportamentos, é também um bem de consumo e serve de conteúdo e entretenimento, tanto na TV como na internet. O estudo da linguagem do videoclipe é importante para a compreensão da cultura contemporânea, pois ele sintetiza a aproximação da indústria cultural com a vanguarda do nosso tempo. Através de sua análise pode-se ver o comportamento social da juventude, assim como aspectos culturais da sociedade urbana e da publicidade. Muitos autores se debruçaram sobre o tema e formularam teorias que fornecem subsídios para uma análise mais detalhada. Analisar tecnicamente um videoclipe exige que o expectador o veja e reveja com atenção, situando-o num contexto, numa história. Trata-se de um ato de decompô-lo em seus elementos constitutivos (desconstruí-lo), para depois estabelecer os elos entre estas partes, buscando interpretá-lo, (VANOYE e GOLIOT-LÉTÉ, 2002). Assim, por meio de diferentes abordagens, e analisando seus elementos em diversos aspectos, buscou-se a interpretação do videoclipe “O Homem Que Não Tinha Nada”, do rapper Projota, dentro de uma linguagem audiovisual atual. 5 2. OBJETIVOS O presente trabalho tem como objetivo analisar o videoclipe “O Homem Que Não Tinha Nada”, do rapper Projota, em seus aspectos visuais, narrativos, históricos, musicais e estruturais, de acordo com as categorias de análise criadas por Andrew Goodwin (1992), E. Ann Kaplan (1987) e Vanoye e Goliot-Lété (2002). 3. ANÁLISE DO VIDEOCLIPE “PROJOTA – O HOMEM QUE NÃO TINHA NADA” 3.1. Ficha Técnica Título: "O Homem que Não Tinha Nada" Artista: Projota. Participação especial de Negra Li Ano de Produção: 2015 Gravadora: Universal Music Produtora: Abaporu Direção: Lua Voigt Produção Executiva: João Pedro Albuquerque Direção de Fotografia: Felipe Meneghel Direção de Arte: Rodrigo Saraiva Coordenação de Produção: Deborah Nikaido Assistente de Produção: Camila Cita Direção de Produção: Alessandro Costa Atendimento: Anna Sayão Assistente de Atendimento: Caroline Righi Montador: Jorge Lima Finalização de imagem: Lais Becker Color Grading: Osmar Junior Logger: Endy Albuquerque 6 Finalização de Som: In Sonoris Concepção Criativa: Lua Voigt, Rafael de Almeida Costa Aprovação Cliente: Haroldo Tzirulnik, Lilian Teixeira, Eduardo Felix Letra: O homem que não tinha nada acordou bem cedo Com a luz do sol, já que não tem despertador Ele não tinha nada então também não tinha medo E foi pra luta, como faz um bom trabalhador O homem que não tinha nada enfrentou trem lotado Ás 7 horas da manhã com um sorriso no rosto Se despediu de sua mulher com um beijo molhado Pra provar do seu amor e pra marcar seu posto O homem que não tinha nada, tinha de tudo Artrose, Artrite, Diabetes, e o que mais tiver Mas tinha dentro da sua alma muito conteúdo E mesmo sem ter quase nada, ele ainda tinha fé O homem que não tinha nada, tinha um trabalho Com um esfregão limpando aquele chão sem fim Mesmo que alguém sujasse de propósito o assoalho Ele sorria alegremente e dizia assim: Refrão O ser humano é falho Hoje mesmo eu falhei Ninguém nasce sabendo Então me deixe tentar! 7 O homem que não tinha nada Tinha Marisete, Maria Flor, Marina, Mário Que era o seu menor Um tinha 9, uma 12, outra 17 E a de 40 sempre foi o seu amor maior O homem que não tinha nada tinha um problema Um dia antes, mesmo, foi cortada a sua luz Subiu no poste, experiente, fez o seu esquema E mais à noite reforçou o pedido pra Jesus O homem que não tinha nada seguiu sua trilha Mesmo caminho, mesmo horário, mas foi diferente Ligou pra casa pra dizer que amava sua família Acho que ali já pressentia o que vinha na frente O homem que não tinha nada Encontrou outro homem que não tinha nada Mas esse tinha uma faca Queria o pouco que ele tinha, ou seja, nada Na paranoia, nóia, quem não ganha te ataca E o homem que não tinha nada, agora já não tinha vida Deixou pra trás três filhos e sua mulher O povo queimou pneu, fechou avenida E escreveu no asfalto: Saudade do Josué. Refrão O ser humano é falho Hoje mesmo eu falhei Ninguém nasce sabendo Então me deixe tentar! 8 Então me deixe tentar... então me deixe tentar Então me deixe tentar... então me deixe tentar 3.2. O Artista José Pereira Tiago Sabino, cantor, compositor e produtor musical, conhecido pelo nome artístico Projota, é um dos grandes nomesdo Rap nacional. Com um tom crítico e contestador, seu trabalho que fala de preconceito, desigualdade social e conflitos pessoais, se insere dentro do movimento Hip Hop, uma manifestação cultural e artística híbrida e contemporânea, uma forma de arte e atitude que busca a construção coletiva de valorização de identidades, e a conquista de espaço público, social e político. O movimento se expressa através da arte em segmentos da música, discursos/poesia, dança e grafite. Projota canta desde os doze anos, mas começou sua carreira nas batalhas de MCs, competições de rappers, onde ganhou notoriedade. Desde então lançou grandes hits como “Desci a ladeira” (2012) e “Cobertor” (2014). Seu primeiro álbum de estúdio, “Foco, Força e Fé” (2014), recebeu o Prêmio Retrospectiva OUL, como Melhor Álbum de Rap Nacional, em 2014, e a música “O Homem que não tinha nada” foi indicada ao Prêmio Capricho Awards, em 2015. 3.3. A Diretora Lua Voigt trabalhou muitos anos como assistente de direção, agora é diretora de cena na agência de publicidade Landia, e tem como objetivo se aprimorar na arte de emocionar. No seu trabalho busca se aproximar das pessoas, contar histórias, transmitir conhecimentos e transformar seus pensamentos e atitudes. Sua marca é emocionar as pessoas através de imagens e sensações que consegue captar nos sets de filmagem. 3.4. Descrição e Análise do Videoclipe 9 O clipe da música “O Homem que não tinha nada”, do rapper Projota, com direção de Lua Voigt e participação especial de Negra Li, é um clipe de narrativa literal, onde o roteiro, a fotografia, a direção de arte, a velocidade da edição e a organização dos planos buscaram transmitir a emoção, a sensação e o clima da música, com cenas que contam uma estória fácil de seguir. A estória se passa num subúrbio e tem como personagem principal Josué, um homem comum, pobre e trabalhador, que, apesar das dificuldades do seu dia a dia, vive feliz com sua família. Ele é um homem bom, tem muita fé que as coisas vão melhorar, mas um dia é assassinado por um outro homem, que também não tinha nada, além de uma faca. As cenas mostram o seu cotidiano: acordar cedo, se despedir da esposa, enfrentar a condução até o trabalho, trabalhar arduamente, se divertir com a família, até a cena final, quando é abordado e morto por um assaltante. A narrativa visual é intercalada com quadros performáticos, com imagens em preto e branco, dos interpretes num cenário limpo, com fundo escuro e iluminação focada nos seus corpos. Observa-se uma narrativa coerente, baseada na letra da música, onde os aspectos visuais são unificadores. As imagens, assim como a sequência de cortes, são vinculadas a batida da música, e interagem com a letra criando significados. Essa relação entre a música e a imagem permite a compreensão do conteúdo lírico da música. A narrativa visual mostra, com algumas exceções, o que a letra da música está contando, e quer que o ouvinte se sinta envolvido pelas imagens, se comova e se solidarize com a história. As imagens tentam ilustrar o “humor” da música, (GOODWIN, 2004). Dentro de uma estratégia de produção de sentidos pelos elementos visuais, percebe-se a busca por uma sinestesia através de fontes iconográficas bastante comuns na memória cultural popular, associações visuais que já existem no sistema de signos do expectador. As imagens do vídeo ilustram significados e sensações em vários sentidos inerentes à música, com a intenção de que o expectador não apenas compreenda a cena, mas que sinta e se identifique com a emoção, a dramaticidade e o sentimento que tais símbolos representam, como Josué rezando em frente a um altar com imagens de santos, o terço na mão da esposa, a família reunida no cemitério. 10 Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=7m0kmGKX8o8 11 Também se nota muitas cenas onde aparecem muros, pichações, ruas do subúrbio, becos e escadarias, e cenas na estação de trem e dentro do trem, bem como cenas onde o visual do artista é destacado, com capuz e corrente grossa no pescoço, elementos visuais presentes na cultura imagética do Rap, que buscam o reconhecimento, por parte do expectador, do gênero musical associado ao artista através dos símbolos do clipe. 12 Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=7m0kmGKX8o8 O videoclipe “O homem que não tinha nada” pode ser tipificado, dentro das categorias de KAPLAN (1987), pelas posturas cênicas, atitudes e conceitos, como socialmente consciente, uma vez que sua narrativa fala de problemas sociais comuns na sociedade, como tráfico de drogas, violência, transporte público, dificuldades da vida nas periferias e manifestações de revolta popular. Projota é um artista que tem em seus trabalhos características poéticas e uma postura política-ideológica ligada ao Hip Hop, que enxerga a arte como forma de desenvolvimento social, cultural e político, assim, sua postura reforça o discurso das imagens que mostram temas sociais atuais. 13 Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=7m0kmGKX8o8 Porém, também pode-se notar características da categoria dos videoclipes românticos, como a retratação das relações entre homem e mulher e pais e filhos, nas cenas que narram o relacionamento de Josué com sua esposa e filhos, numa narrativa onde o foco é a emoção/sensação. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=7m0kmGKX8o8 Muitas imagens que aparecem no videoclipe adicionam outros significados não aparentes na letra da música, sem necessariamente conflitarem com ela. O que segundo GOODWIN (1992), trata-se de uma amplificação. As imagens de Josué com sua família mostram alegria, 14 união, afeto e amor, o que contrasta com a ideia de um contexto de vida de um homem que não tem nada. Tal contraste traz a reflexão sobre o que é realmente esse “nada”. Seria esse “nada” simplesmente a ausência de bens materiais? Ou o “nada” é o que as pessoas que estão fora de seu contexto acham que ele tem? Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=7m0kmGKX8o8 O refrão, ponto de referência importante da música, é marcado com a presença de Negra Li. Ela canta com uma postura que, apesar de séria, traz leveza ao drama narrado. O gestual das mãos procura, ao mesmo tempo, confortar e encorajar o expectador. Pode-se chamar essa passagem de “refrão visual”, segundo JANOTTI (2007), “um momento que se demarca de maneira mais evidente a necessidade de pertencimento do clipe ao expectador”. É um 15 desdobramento do “cantar junto” da música, é uma marcação que aproxima a projeção imagética do expectador. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=7m0kmGKX8o8 A cena inicial do videoclipe, sem fundo musical, apenas com o som do ambiente externo de rua, onde aparecem dois homens negociando drogas, parece não combinar com o restante da narrativa visual, e só vai fazer sentido na cena final, quando Josué é morto por um dos homens da primeira cena. O assassino estava drogado. 16 Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=7m0kmGKX8o8 17 Nas cenas finais do videoclipe as imagens aparecem também sem fundo musical, apenas com o som do burburinho da rua, e parecem também não se ajustar ao restante da narrativa visual, o que seria uma disjunção, segundo GOODWIN (1992). As cenas aparecem num retrocesso: Josué voltapara beijar a esposa, o assassino se afasta dele andando para trás, as pessoas andam para trás, Josué permanece parado com uma expressão perdida. A cena cria uma outra camada de sentido, uma outra possibilidade de interpretação. É como se tudo não tivesse passado de um sonho. Como se a morte de Josué não tivesse acontecido. Ou como se o tempo voltasse e se pudesse mudar o passado. Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=7m0kmGKX8o8 18 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O clipe “O homem que não tinha nada” narra, através de imagens com grande carga emocional, a realidade de uma grande parte da nossa sociedade, marginalizada e rotulada por muitos que desconhecem seu cotidiano. Pode-se perceber a presença de elementos visuais que contextualizam a estória dentro de aspectos artísticos, históricos, culturais e sociais, e, através deles, o expectador consegue estabelecer conexões com as mensagens de fé e perseverança na vida, bem como refletir sobre os vários problemas sociais abordados. As ações dos personagens da estória nos fazem pensar sobre nossa condição de homens imperfeitos, que nas tentativas de acertar muitas vezes falham, mas que, apesar das dificuldades, devem continuar tentando. A população falha quando reage com violência para protestar contra um ato violento. Josué, apesar de ser um homem bom, também tinha atitudes falhas, como roubar energia elétrica, e apesar de consciente do seu erro, não perdia a fé e pedia para continuar tentando acertar. A presença da moça grávida na cena do cemitério traz a ideia de que, apesar da tragédia, a vida continua, e há sempre motivos para se ter esperança. 19 REFERÊNCIAS CLUBE DE CRIAÇÃO. Artigo: Abaporu em Clipe do Cantor Projota. Abril, 2015. Disponível em: <http://www.clubedecriacao.com.br/ultimas/o-homem-que-nao-tinha-nada/>. Acesso em 17 de abril de 2017. GOODWIN, Andrew (1992). Dancing in the distraction factory: music television and popular culture. Minneapolis: University of Minnesota Press. JANOTTI JUNIOR, Jeder Silveira; SOARES, Thiago. O videoclipe como extensão da canção: apontamentos para análise . Galáxia. Revista do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica. ISSN 1982-2553, [S.l.], n. 15, set. 2007. ISSN 1982-2553. Disponível em: <https://revistas.pucsp.br/index.php/galaxia/article/view/1497>. Acesso em: 31 de março de 2017. KAPLAN, E. Ann. Rocking around the clock: Music Television, postmodernism and Consumer Culture. London: Methuen, 1987. OBVIOUS. Artigo: Hip Hop é Cultura, Arte e Atitude. Abril, 2015. Disponível em: <http://obviousmag.org/my_cup_of_tea/2015/04/hip-hop-e-cultura-arte-e-atitude.html>. Acesso em: 20 de abril de 2017. PROJOTA – O HOMEM QUE NÃO TINHA NADA - Videoclipe oficial Participação especial - Negra Li. Produtora: Abaporu. Direção: Lua Voigt. 2015. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=7m0kmGKX8o8>. Acesso em 30 de março de 2017. REVISTA ÉPOCA NEGÓCIOS. Artigo: Lua Voigt: “Escute, absorva e realize”. Maio, 2016. Disponível em:< http://colunas.revistaepocanegocios.globo.com/mundocriativo/2016/05/29/lua-voigt-escute- absorva-e-realize/>. Acesso em: 20 de abril de 2017. TREVISAN, M. K. A Era da MTV: Análise da Estética do Videoclipe (1984-2009). Repositório Institucional – PUCRS. Porto Alegre, 2011. Disponível em:< http://hdl.handle.net/10923/2248>. Acesso em: 8 de abril de 2017. VANOYE, F.; GOLIOT-LÉTÉ, A. Ensaio sobre a análise fílmica. 2. Ed. Campinas: Papirus, 2002. WIKIPÉDIA. Artigo: Projota, Biografia, Carreira, Discografia. Abril, 2017. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Projota>. Acesso em 20 de abril de 2017.
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