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Caderno PIDH atualizado ACR

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Aula 1
1- História e evolução organizacional do regime internacional de proteção dos DH
(item 8b do edital)
1.1- Conceito de direitos humanos
Conjunto de direitos considerado essencial para a vida do ser humano pautada na igualdade, liberdade e dignidade. 
Conclusões do conceito:
1ª - Essencialidade: sem esses direitos, o ser humano não tem uma vida digna
2ª - Superioridade: da essencialidade decorre a superioridade
3ª - Abertura (ou força expansiva): ex – art. 5º, $2º, da CF (“esses direitos não excluem outros” – Princípio da não exaustividade dos direitos humanos).
4a – Universalidade: trata-se de direitos pertinentes a todos.
1.2- Terminologia - Direitos humanos x direitos fundamentais
- Direitos humanos – de matriz internacional, de clara inspiração jusnaturalista, inerentes a todos. Essa fundamentação jusfilosófica é questionada porque os direitos humanos são conquistados, são históricos.
- Direitos fundamentais – direitos de origem constitucional
Diferenciação que decorre da doutrina européia. Os direitos humanos, por terem origem internacional, teriam uma força protetiva menor, pois o direito internacional, de início, estavam engatinhando, ao passo que os direitos fundamentais são abarcados pela força normativa da CF. 
Hoje, os direitos humanos ganharam força, aproximando-se dos direitos fundamentais, pelo que os termos vão se aproximando. No Brasil, essa união de termos (ou uso equivalente das expressões) tem apoio na EC 45, art. 5º, $3º, que diz: os tratados e convenções de direitos humanos que forem aprovados pelo quórum de EC serão equivalentes a direitos fundamentais.
Cuidado – apesar disso, o século XXI aponta uma tendência de manutenção da diferença, em que pese o desejo de parte da doutrina, a exemplo de Fábio Konder Comparato. O termo direitos humanos denota interpretação internacionalista, que é a única interpretação universalista em concreto. Já os direitos fundamentais, por terem matriz nacional, são interpretados localmente, sofrendo incidência do relativismo.
1.3- Evolução histórica
Comparato: é possível encontrar fragmentos de preocupação com os direitos humanos em qualquer momento da história. Anacrocismo (falar do passado com valores do presente) – gera dificuldade de estudo histórico. 
a) Antiguidade – Idade média: marco – Sófocles, Antígona - Antígona se opõe a Creonte, o tirano de Tebas. A primeira quer enterrar o irmão, ainda que tenha atentado contra a vida do tirano. Antígona: “nem a vontade do rei pode ir contra a vontade dos Deuses”. Em outros termos, para a linguagem de hj, nem em nome do bem comum se podem sacrificar direitos de um grupo vulnerável. Nem por vontade do Estado se pode sacrificar o direito do indivíduo.
b) Revoluções liberais – século XVII em diante
 Iluminismo, com forte discurso jusnaturalista, reconhece que há direitos inerentes à condição humana, os quais podem se opor às regras do Estado Absolutista. 
- Revolução inglesa (Bill of Rights de 1689)
- Revolução americana (1776)
- Declaração de Virgínia de 1776
- Revolução francesa (1789): Dessas revoluções, a francesa é a que mais impacta os direitos humanos. Foi universalista, ao contrário das duas primeiras revoluções acima. 
“Todos nascem livres e iguais“– consta das duas últimas (declaração de Virgínia e revolução francesa). 
Obs.: Direito natural - conjunto de regras extraída da razão humana. Jusnaturalismo de Hugo Grocio (base na razão humana, não na vontade divina).
c) Positivação nacional – Século XIX
Depois das revoluções liberais, os direitos humanos foram sendo absorvidos pelas Constituições (positivação nacional). Mesmo as constituições brasileiras outorgadas tinham um rol de direitos. 
A positivação naturalista deu aos direitos humanos maior efetividade, pois passaram a contar com o braço do Estado. Mas e se o Estado não reconhecesse um direito ou violasse direito de minoria? Era o lado obscuro da positivação.
d) Ruptura – 2ª guerra mundial 
A barbárie nazista gerou essa ruptura (o Estado nacional violando direitos). Como se escapa da armadilha do positivismo nacionalista? Reconstrução dos direitos humanos – feita pela internacionalização.
e) Internacionalização
Se dá a partir da criação da carta da ONU (1945) e pela Declaração Universal de Direitos Humanos (1948).
1.4- Desenvolvimento histórico do direito internacional dos DH
a) Antecedentes no DI Geral (antes da carta da ONU)
I – Proteção diplomática 
Também denominada responsabilidade internacional por dano causado ao estrangeiro ou responsabilidade indireta do Estado. O Estado que recebe o estrangeiro é processado pela violação desses direitos pelo estado patrial. 
=> Diferenças com relação à PIDH:
1. Não são direitos de todos, no entanto (o apátrida não pode pedir proteção).
2. O direito é do Estado, não do indivíduo. Trata-se de contencioso diplomático entre Estados mais que um antecedente da PIDH.
II- Luta por direitos específicos, especialmente o combate ao tráfico de escravos
Associada mais à busca de mercados capitalistas, que ficam melhores com o trabalho assalariado.
III- Direito das minorias
Expressão polissêmica. São direitos de um agrupamento numericamente inferior, com traços culturais distintivos do agrupamento majoritário. São problema internacional após a 2ª guerra mundial, com o desmembramento dos impérios centrais (império alemão; império austro-hungaro; império turco). Esses Estados perdem parcelas substanciais de seus territórios. Sobretudo a minoria germânica passa a viver em vários países. 
Isso gera, por exemplo, o receio que existe entre Ucrânia e Rússia: ferir ali os direitos dos alemães ia levar a guerra com a Alemanha. Ferir os dos russos pode gerar guerra com a Rússia.
Nesse contexto, a Liga das Nações estimulou os estados a celebrarem tratados – mecanismos internacionais de supervisão e controle – embrião dos processos internacionais de direitos humanos.
Ex: Tratado germano-polonês de 1922 – estabelecia direitos aos indivíduos e criava a missão de supervisão da liga das nações, com alto comissariado das minorias. Esse órgão podia exigir pareceres consultivos da corte permanente de justiça internacional. Indivíduos podiam peticionar diretamente ao alto comissariado. 
IV- Direitos trabalhistas – criação da OIT
O pacto das sociedade das nações criou a OIT. Na verdade, tratou-se de reação ao comunismo (criação, pelos capitalistas, de parâmetros internacionais de proteção dos direitos dos trabalhadores, evitando a expansão da revolução bolchevique).
=> Esses acontecimentos não são voltados efetivamente para a proteção internacional dos direitos humanos, consagrada na Carta da ONU. 
=> Carta da ONU
A ONU é organização internacional com finalidades amplas, dentre as quais a proteção dos direitos humanos. Essa função foi decorrência de deliberação entre os 4 grandes países que estavam ganhando a guerra. 
Contexto: de um lado, a inclusão do tema foi apoiado pelos EUA, porque entendiam que já cumpriam tais direitos, pensando ser interessante internalizá-los para obrigar os demais estados a cumpri-los. Assim, os EUA estariam em vantagem comparativa em relação aos outros Estados. Esses concordaram, pensando ser previsão meramente programática. 
O Brasil é representado à época pela ditadura de Vargas, defendendo-se direitos humanos, sem a pretensão de defesa efetiva no país (contexto de ditadura e intenção de firmar a imagem internacional do país). 
- Art. 55, c, da Carta da ONU – os Estados da ONU devem promover direitos e liberdades fundamentais.
A Carta da ONU tem linguagem pouco incisiva (não indica obrigações). Alberga valores contrastantes, ademais. 
- Art. 2º, $7º, da Carta da ONU: nada, na Carta da ONU, pode ser invocado para justificar interferência no domínio reservado do Estado.
Domínio reservado do Estado – França – alegação no sentido de que nacionalidade é tema de domínio reservado. A Corte decidiu o seguinte: os direitos humanos não são matéria de domínio reservado do Estado!O próprio Estado anuiu à sua internacionalização.
b) Motivos da internacionalização
Por que os estados aceitaram a internacionalização dos direitos humanos?
- 1ª explicação: porque os Estados querem mostrar repúdio às barbáries, sobretudo as nazistas. Gera a ruptura e a reconstrução dos direitos humanos.
O direito internacional retoma o universalismo filosófico do tempo das revoluções liberais. Bobbio: “o universalismo era filosófico, foi aprisionado pelo positivismo nacionalismo e, por fim, retomado”. 
O Brasil ratifica tratados de direitos humanos sem se fundar no repúdio à barbárie (até porque estava em ditadura).
- 2ª explicação: busca de legitimidade interna. Provar para sua população que o país não 
- 3ª explicação: busca de legitimidade internacional. Elemento mínimo de díalogo entre os estados é a preservação de direitos humanos. 
- 4ª explicação: Também há a explicação da mobilização da vergonha (pressão da população – opinião pública interna).
c) Características do direito internacional dos direitos humanos
c.1- Natureza objetiva dos tratados 
Natureza objetiva x natureza sinalagmática => os Estados somente assumem deveres. Os indivíduos é que possuem direitos! Isso explica, por exemplo, porque a Argentina celebram tratados de DH e assumem obrigações. A lógica da reciprocidade não se aplica.
c.2- Direitos de todos (universalidade)
c.3- Existência de mecanismos internacionais de proteção de direitos humanos
O direito internacional é parcialmente baseado em tratados. De resto, baseia-se em deliberações internacionais (interpretação internacionalista dos direitos humanos). Tem-se órgãos judiciais ou quase judiciais (comissão interamericana, corte interamericana, etc).
1.5- Nascimento dos direitos humanos na esfera internacional
a) Negociação de tratados 
b) Interpretação internacionalista: extrai novos conteúdos e novos direitos dos tratados celebrados
1.6- Direitos humanos e os Estados
A internacionalização dos direitos humanos faz com que eles passem por uma expansão. Consequencias:
a) Subsidiariedade da jurisdição internacional dos direitos humanos. 
A responsabilidade primária por proteger direitos humanos é do Estado. Deve-se demonstrar o esgotamento prévio dos recursos internos para acionar a jurisdição internacional.
b) Natureza contramajoritária da disciplina
Quando o Estado democrático delibera sobre direitos humanos, espelha a vontade da maioria. Mesmo no Judiciário há, nos tribunais superiores, escolha dos membros pelo chefe do Executivo, com aprovação da maioria do Senado. 
No direito internacional, pode-se contrariar a vontade da maioria, no entanto.
1.7- Relação entre o regime de proteção de direitos humanos e outros direitos
O DIDH é o conjunto de normas que estabelece direitos aos indivíduos e mecanismos internacionais de supervisão e controle do Estado. Portanto, tem 2 partes: direitos dos indivíduos e parte processual (mecanismos). 
I- Direito internacional humanitário (direito internacional dos conflitos armados)
Séc XIX – inspiração na guerra da França com o império austro-húngaro. Muitos horrores dali decorreram. Ensejam tratados que visam a regular a conduta dos beligerantes (direito da Haia e direito de Genebra). Norma especial anterior ao direito internacional dos direitos humanos. Relação de especialidade e complementaridade com relação ao DIDH. Há uma tendência de absorção: cada vez mais o direito humanitário vem sendo discutido nos PIDH. 
II- Direito de minorias (grupo de vulneráveis, ainda que sejam maioria numérica no país)
Após a 2ª guerra, em que houve limpeza étnica e outras condutas de remoção de pessoas, emerge. Ainda atual – questão do direito das minorias russas na Ucrânia. Direitos mais relevantes: preservação da identidade cultural. 
III- Direito internacional dos refugiados
Refugiado é aquele que precisa de acolhida. 
Anterior, mas tem grande impulso após a DUDH. A liga das nações se preocupa, inicialmente, com o desmantelamento dos impérios centrais e dos próprios russos, diante da revolução bolchevique. 
Asilo x refúgio: artigo do André de Carvalho Ramos. Colar aqui os quadros resumos que fiz.
Asilo: em sentido amplo, é a proteção dada ao estrangeiro perseguido que não pode retornar ao seu estado. Em vários países do mundo, é equivalente a refúgio, como ocorre na Europa. No Brasil, a CF usa o termo asilo, mas há diferenças:
- Asilo político (pode ser territorial; diplomático ou militar): proteção dada a estrangeiro perseguido por motivo político, o que é óbice a retornar ao país de origem ou nacionalidade. Pode ser concedido de 3 modos:
a) O candidato ao asilo entra no território brasileiro
O asilo territorial é costumeiro e consta de tratados específicos, como a Convenção de Carácas sobre asilo político territorial e a convenção de Carácas sobre asilo político diplomático. 
b) entra na missão diplomática ou 
O asilo diplomático é a proteção dada ao perseguido político na missão diplomática do Estado asilante. Esse asilo (diplomático) não é costume internacional geral, como é o asilo territorial. Logo, para que advenha resultado útil desse asilo, é importante que o estado acreditado (que recebe a missão) tenha feito tratado com o outro país ou reconheça o costume respectivo. Do contrário, não tem o dever de conceder salvo conduto ao asilado. A proteção da pessoa asilada desse modo, se não conseguir salvo conduto, se limita à inviolabilidade do território da missão diplomática. 
c) em navio ou aeronave militar brasileira no exterior.
Senador Molina: pediu asilo diplomático na missão brasileira, o que foi concedido. A Bolívia se recusou ilicitamente a conceder o salvo conduto, embora não seja parte na convenção de Carácas, pois nunca se manifestou contra o costume regional de concessão desse asilo. Em termos de costume internacional regional, o silêncio pode ser utilizado contra o Estado! O Senador é suspeito de envolvimento com corrupção, crime, o que não configura perseguição política. Ademais, é o estado asilante (que concede o asilo) é que da a palavra final sobre a perseguição política, não o Estado de origem! Em seguida, o filho do embaixador Gilberto Saboia atravessa mil km até chegar ao Brasil com o Senador ao lado. O Brasil não pode transportar o sujeito como mala diplomática. Logo, pediu desculpas, etc.
- Refúgio: baseia-se na declaração universal de dh (art. 14) e depois, na convenção de genebra sobre refugiados (1951). Esta última conceitua refugiado: aquele que, com temor de perseguição odiosa, não pode retornar ao estado de nacionalidade ou residência. Odiosa – perseguição por raça, religião, origem, opção política e pertença a grupo social. Essa convenção tinha duas restrições:
a) temporal
b) Geográfica (somente nos países da Europa)
Em 1967, é emendada a convenção e são eliminadas as restrições acima. Há refugiados em todos os lugares do mundo, que somente crescem em número, ao contrário do que se imaginou em princípio.
ONU cria o ACNUR – alto comissariado dos refugiados – visa `a melhoria das condições de vida dos refugiados. Brasil – Lei 9474/97. Aceitou visão ampliada dos refugiados. Também abrange, além da perseguição odiosa, a existência de quadro sistemático de grave violação de direitos humanos no local onde vive. Ex: colombiano em meio aos perigos da região em que atuam as FARC’s.
Obs.: Declaração de Cartagena – soft Law – não é costume internacional. Ver as observações do artigo do ACR.
O Brasil não reconhece como violação grave de direitos humanos a miséria! Abrange guerra civil e ditadura, por exemplo, mas não miséria. O sujeito que dela foge é migrante econômico, fazendo jus, no máximo, a visto de permanência por razões humanitárias.
O solicitante de refúgio tem direito de ingresso no território nacional. Basta dizer “I am a refugee” para iniciar o procedimento correspondente. Não cabe ao agente da PF decidir se houve ou não fraude. Quem analisa o pedido é o CONARE (lei 4744 – criação de órgão adm colegiadointergovernamental – reúne vários órgãos do governo e participação da sociedade civil). 
Embora seja amplo o conceito da lei brasileira sobre refúgio, tampouco abrange o refugiado ambiental. Tampouco está prevista internacionalmente a proteção, pelo que não atua o ACNUR. André de Carvalho Ramos - ACNUR 60 anos – coletânea (salva em PDF no PC):
A primeira definição do termo “refugiado ambiental” foi cunhada por Lester Brown do World Watch Institute, na década de 1970 . Contudo, tornou-se popular a partir da publicação, em 1985, do trabalho científico do professor Essam ElHinnawi, do Egyptian National Research Center. Poucos anos depois, em 1988, Jodi Jacobson, em sua obra Environmental Refugees: a Yardstick of Habitability, igualmente se debruçou sobre o tema. Ambos conceituaram o termo “refugiado ambiental” de forma muito parecida, como sendo a pessoa ou grupo de pessoas que, em virtude de mudanças e catástrofes ambientais – naturais ou provocadas pelo homem, permanentes ou temporárias – tiveram que, forçadamente, abandonar seu local de origem ou residência habitual para encontrar refúgio e abrigo em outra região do globo.
Neste sentido, e visando, portanto, não deixar em situação de desamparo aqueles que fogem ou que virão a fugir de desastres e degradações ambientais que os impossibilitem de viver em seus respectivos países ou locais de residência habitual, duas possíveis soluções podem ser consideradas. A primeira e ideal delas, porém de mais difícil verificação fática (em virtude da necessidade de novo consenso entre os Estados em produzirem um tratado específico sobre a matéria ou um instrumento de natureza adicional à Convenção de 1951), seria a criação e adoção de um documento internacional, no seio da ONU (através de seus órgãos ou do próprio ACNUR, por exemplo), que definisse o conceito de “refugiado ambiental”, suas características, princípios, limites e âmbito jurídico de aplicação. 
Em segundo lugar, falhando o consenso necessário a respeito da redação e vigência de um tratado específico, que a sociedade internacional, amparada nos princípios da cooperação internacional, solidariedade e ajuda humanitária, fosse capaz de salvaguardar o direito de proteção dos “refugiados ambientais” em uma resolução ou em documento universal redigido pelas Nações Unidas, nos moldes do “Guia sobre Deslocamento Interno”, criado, em 1998, para delimitar o conceito de deslocados internos e os princípios básicos que a eles se aplicam. Entende-se,inclusive, que este instrumento poderia discorrer sobre a proteção destinada a todas as formas de deslocamento humano forçado em decorrência de fatores ou catástrofes ambientais. Neste sentido, incluir-se-iam não somente os “refugiados ambientais”, mas, igualmente, os migrantes econômicos cuja emigração diretamente se relaciona como questões de ordem ambiental e os deslocados internos “ambientais” que, também, por razões de ordem natural, deslocam-se entre regiões inseridas dentro das fronteiras de um mesmo Estado.
Diferenciação:
	ASILO POLÍTICO
	REFÚGIO
	Lei 6815
	Lei 9474
	Voltado à perseguição política iminente (não basta sequer fundado temor)
	Perseguição odiosa (discriminação racial, religiosa, por nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas ou grave e generalizada violação de direitos humanos)
	Territorial, diplomático e militar
	Somente territorial
	Sujeito não tem direito de ingresso
	Direito de ingresso ao sujeito
	Não há direito de ingresso ao asilado
	Direito do solicitante 
	Ato constitutivo do direito
	Ato declaratório do direito (CONARE)
	Cabe supervisão internacional por negativa arbitrária
	Cabe supervisão internacional por negativa arbitrária.
Ex: família Pacheco – primeiro caso de indeferimento de refugiado submetido à corte IDH. 
IV- Direito internacional penal: origens no Tratado de Versalhes
Tem relação com o DIDH porque mesmo o TPI deve obedecer ao devido processo legal, contraditório, ampla defesa, etc. Ademais, os direitos humanos usam o direito penal para persecussão. Há mandados de criminalização no plano internacional, obrigando o Estado a tipificar condutas. Atos odiosos foram transformados, também, em crimes de jus cogens. 
Todos esses ramos se vinculam, em complementariedade, com o direito internacional.
Aula 2
2- Item 4c – Direitos humanos e obrigações erga partes e erga omnes. Direito de Estados intervirem em situações de grave violação dos direitos humanos
a) Obrigação erga partes: prevista em tratado específico de direitos humanos. 
b) Obrigação erga omnes: vai além dos tratados. Obrigação que tem como eixo menos os vínculos da obrigação erga partes e mais o conteúdo dessas obrigações, que é um conteúdo voltado à preservação de valores essenciais da comunidade como um todo. Aproxima-se da norma imperativa em sentido amplo, que manipula conceitos como o de jus cogens e de crime internacional do Estado (ou fato ilícito qualificado). Todos esses institutos (obrigação erga omnes, jus cogens e crime internacional do Estado) se relacionam com valores essenciais da comunidade internacional como um todo. 
Obrigação erga omnes: tem faceta processual. Permitem que os Estados defendam essas obrigações mesmo sem ter interesse material envolvido. Todos os Estados têm o interesse jurídico em preservar a integridade da obrigação erga omnes.
- Qual a diferença entre costume internacional geral e obrigação erga omnes? A segunda, para a Corte Internacional de Justiça (Barcelona Traction), não se confunde com a primeira, pois legitima qualquer Estado a preservar tal obrigação. Já o costume geral somente pode ser invocado pelo Estado ofendido concretamente. Ex: costume geral de passagem inocente (vincula até mesmo os Estados que não tenham ratificado a Convenção de Montego Bay, que prevê a passagem inocente). A Corte Internacional de Justiça disse que existe o direito de passagem inocente, em prol do Reino Unido, antes mesmo da Convenção de Montego Bay.
Ex: combate ao genocídio; autodeterminação dos povos => obrigações erga omnes. Qualquer membro da comunidade internacional tem interesse processual.
- Obrigação erga partes: somente as partes no tratado têm interesse processual de provocação.
- Direito de os Estados interferirem em situações de graves violações de direitos humanos: as obrigações erga omnes permitem que um Estado seja o “xerife” para combater violações de direitos humanos onde quer que se encontrem? André entende que não. As obrigações de direitos humanos devem ser entendidas no sentido de permitirem uma actio popularis, pela qual um Estado terceiro pode processar o violador. Isso evita a seletividade, os parâmetros dúbios e a manipulação da gramática dos direitos humanos. 
_________________________________________________________
- Observação importante - Curso CEI: impossibilidade de ser “xerife” e a jurisprudência da CIJ
Caso República Democrática do Congo VS Bélgica (“Caso Yerodia”)
Um magistrado de primeiro grau na Bélgica expediu uma ordem internacional de captura in absentia contra Abdulaye Yerodia Ndombasi, então Ministro das Relações Exteriores da República Democrática do Congo, com base em uma lei local que permitia a punição por graves violações das Convenções Internacionais de Genebra e seus Protocolos Adicionais. Em seguida, a República Democrática do Congo levou o caso para a Corte Internacional de Justiça visando a anular a ordem de prisão internacional. De outro lado, a Bélgica alegou que a CIJ não tinha competência para julgar o caso. 
A CIJ se declarou competente, pelo princípio da kompetenz-kompetenz, pois a reclamação do Congo foi feita em data na qual as partes estavam vinculadas por declaração obrigatória de submissão à Corte. Entendeu que a Bélgica violou norma de Direito Internacional Costumeiro, sendo incompetente o magistrado belga pra processar e julgar o Sr. Yerodia com base em lei interna, sendo que sequer estava em território belga. E afirmou a CIJ que não existe norma costumeira que reconheça jurisdição universalin absentia.
Também registrou a CIJ entendimento segundo o qual a imunidade de Ministro das Relações Exteriores é absoluta e equivale à imunidade diplomática, que impede a perseguição penal por determinado país (embora não fosse óbice a julgamentos do TPI e similares, em que não prevalece a imunidade – 4ª velocidade do Direito Penal).
Assim, distinguem-se, segundo ACR:
1- Jurisdição penal comum ou grociana: o Direito internacional admite que um Estado regule e sancione conduta realizada fora do seu território (extraterritorialidade da lei penal, evitando-se a impunidade (aut dedere aut juidicare). Evitar os paraísos penais (safe heavens).
2- Jurisdição universal especial ou qualificada: visa a impedir que os indivíduos, com fulcro na sua legislação local, violem valores essenciais para a comunidade internacional (ex: crimes de jus cogens). Se subdivide em:
2.1- Justiça universal qualificada condicional ou imperfeita
Exige que o acusado esteja em custódia do Estado para o início da persecução penal (judex deprehensionis). A presença física do acusado no território do Estado é vínculo indispensável para o exercício da jurisdição qualificada, revelando a intenção da lei nacional de impedir que juízes e promotores sejam “xerifes mundiais”, iniciando procedimentos contra qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, que tenha cometido crimes contra os valores essenciais da comunidade. O Estado Brasileiro adota a jurisdição universal qualificada condicional ou imperfeita. 
2.2- Justiça universal qualificada absoluta, perfeita ou in absentia
Permite a aplicação extraterritorial da lei penal local de maneira incondicional. O sujeito autor da conduta violadora de normas essenciais não precisa estar no território do país que pretende prendê-lo. Pode jamais ter tido contato com o Estado do processo. Esse foi o fundamento que a Bélgica tentou utilizar para a ordem internacional de prisão contra o Sr. Yerodia, mas o argumento não foi acolhido pela CIJ.
Obs. 2: a difusão vermelha (ou red notice) não se confunde com a justiça universal qualificada absoluta. Trata-se de alerta expedido pelas autoridades judiciais de um Estado-membro da INTERPOL visando à extradição da pessoa procurada. Esta pode estar sendo objeto de mandado de prisão em aberto que seja expedido por autoridades nacionais ou tribunais penais internacionais. O STF entende que a “red notice” não recebe validação automática pelo Estado brasileiro, pois a prisão cautelar do foragido internacional deve ser requerida e decretada pelo STF.
_______________________________________________________________
Responsabilidade de proteger (R2P) e responsabilidade ao proteger (RwP – resposability while protecting): Durante a crise do Kosovo, o Conselho de Segurança estava bloqueado, pois a Sérvia tinha um aliado: a Rússia (que usava o veto em seu favor). A OTAN tomou para si a tarefa de bombardear a Sérvia, que portanto retirou as tropas do Kosovo, possibilitando a sua declaração de independência. O uso da força foi legítimo nesse caso? Há direito de ingerência?
O uso da força só é possível em 3 casos: legitima defesa; autorização do Conselho de Segurança e autodeterminação dos povos (que exige dominação estrangeira ou julgo colonial, não sendo claro para o Direito Internacional que violações dramáticas de direitos humanos autorizem a cesseção, pelo que o caso do Kosovo não se enquadrou em nenhuma das 3 hipóteses acima). 
Logo, como não há justificativa para o uso da força, a OTAN cometeu ilícito internacional, pelo que poderia ser processada. Não o foi em virtude da influência dos EUA.
Brasil – RWP – depois da guerra civil da Líbia, a ONU, pelo CS, determinou uma zona de exclusão impedindo o bombardeio dos rebeldes pelas tropas leais ao Kadafi. Com base nessa autorização de exclusão aérea, as tropas da França, Itália e Inglaterra ajudaram a derrubada do regime. Brasil – RWP: não pode, no uso camuflado do discurso de defesa de indivíduos, buscar a alteração de regime. O direito de ingerência é questionado pelo Brasil. Existe responsabilidade de proteger por medidas não coercitivas. As coercitivas dependem de autorização do CS. E mesmo com autorização do CS, não é possível buscar alterar regimes.
André: incompreensível a postura brasileira. A busca da democracia é obrigação erga omnes. O próprio Brasil já usou a busca da democracia, quando ele e outros países da OEA sancionaram Honduras, quando houve o golpe militar contra o presidente em 2009.
_____________________________________________________________________________________
MPF 2013 A responsability to protect (R2P), como conjunto de princípios orientadores de ação da comunidade internacional,
a) diz respeito, apenas, à proteção da população civil em conflitos internacionais
b) diz respeito apenas à proteção da população civil em conflitos não internacionais
c) exclui a possibilidade de intervenção militar para proteção da população civil
d) inclui a possibilidade de intervenção militar para proteção da população civil como ultima ratio
=> Letra D
Obs.: a R2P relaciona-se com o dever dos Estados de proteger as populações de crimes internacionais graves, seja nacional ou internacional o conflito. Pilares: 
I- Os Estados têm responsabilidade primária de proteger as respectivas populações contra genocídio, crimes contra a humanidade, limpeza étnica e crimes de guerra;
II- A comunidade internacional tem a responsabilidade de prestar assistência aos Estados para que estes cumpram essa responsabilidade
III- A comunidade internacional deve empregar meios diplomáticos, humanitários e de outra natureza, desde que pacíficos, para proteger as populações humanas contra tais crimes. Se um Estado for falho em proteger a respectiva população ou for perpetrador, a comunidade internacional deve estar preparada para medidas mais duras, inclusive o uso da força autorizado pelo CS. Pontos 138 e 139 do documento da Cúpula Mundial de 2005
3- Item 2.a – Princípio da universalidade dos direitos humanos e o relativismo cultural. Gramáticas diferenciadas de direitos. Ius cogens internacional em matéria de direitos humanos
Universalismo: reconhecimento de que os direitos humanos são de todos, pelo que devem ser assegurados a todos, sem qualquer diferenciação. Consequencia – interpretação internacional dos direitos humanos.
Espécies de universalismo
a- Universalismo em abstrato: previsto na declaração universal, nos tratados internacionais
b- Universalismo em concreto: interpretação internacional dos Tratados. Ex: direito à integridade física – 193 Estados para interpretar diferentemente o que seria direito à integridade física e definir, por exemplo, o que é tortura. Consequência natural da aceitação da internacionalização dos direitos humanos é essa interpretação também universal. Vencer o positivismo nacionalista.
Relativismo: há 3 proposições relativistas:
a) Os direitos humanos representam valores;
b) As sociedades humanas são distintas, logo seus valores tbm são;
c) Não é possível considerar que um valor é melhor que o outro, pelo que todas as opções das sociedades humanas devem ser aceitas. Ex: em uma sociedade humana, pode-se entender que o homem é melhor que a mulher, o que deve ser aceito, não se impondo a igualdade. 
O auge dos debates foi nos anos 70. A partir dos anos 80, lentamente houve uma sofisticação dos processos internacionais de direitos humanos. O relativismo cultural passa a ser interpretado como a luta por direitos culturais. Ponderação entre o direito, como a igualdade, e um direito cultural qualquer. Ponderação entre o direito ao meio ambiente e a tourada, como direito cultural, por exemplo.
Gramática diferenciada de direitos humanos
a) Gramática básica de direitos humanos
Salienta os elementos característicos mínimos da matéria (universalidade, interdependência, indivisibilidade)
Interdependência e indivisibilidade
Consiste em reconhecer que os direitos humanos têm o mesmo regime jurídico de proteção e são relacionados entre si(direitos civis e políticos – direitos sociais, por exemplo). Debate sobre as assimetrias nos direitos humanos: os direitos de 1ª geração são protegidos com aplicabilidade e eficácia imediata, ao passo que os direitos sociais se submetem à reserva do possível. Essa discrepância viola a indivisibilidade e a interdependência, já que tais direitos devem ser igualmente tratados como relevantes.
Logo, não mais deve haver separação entre essas espécies de direitos. A Corte IDH evoluiu há tempos sua jurisprudência, reconhecendo conteúdo social aos direitos civis e políticos, com incidência e aplicação plenas. Direito a vida digna – direito de aplicabilidade imediata também, não só o sendo o direito à vida, simplesmente, enquanto direito de 1ª geração. Outros órgãos internacionais entendem no mesmo sentido.
Universalismo, interdependência e indivisibilidade constam da Conferência de Teerã e da Declaração do Programa de Ação de Viena, fruto da participação de vários Estados, que reconheceram a universalidade. Como soft Law, então, consolidam-se essas 3 características.
b) Gramática avançada dos direitos humanos
Ponderação, solução de conflitos, nascimento de novos direitos, força expansiva (inclui a eficácia horizontal – relação entre particulares).
b.1- Abertura – os direitos humanos não são exaustivos. 
b.2- Proibição de retrocesso (entrincheiramento ou efeito cliquet): é a proibição de redução da proteção já conferida a determinado direito. 
b.3- Dimensão subjetiva: faculdades outorgadas aos indivíduos
b.4- Dimensão objetiva: é o reconhecimento de que os direitos humanos não apenas estabelecem faculdades aos indivíduos, mas também geram deveres, implícitos ou explícitos, de proteção ao Estado. Combate à proteção deficiente (ex: Estado se omite na preservação do direito à vida alegando que o particular é que está atuando em detrimento da vida). Possibilita a condenação do país por atuação de particulares, em virtude da conduta omissiva do Estado.
b.5- Eficácia horizontal: os direitos humanos iniciam seu percursos histórico sendo invocados na relação vertical (Estado e particular). Sendo fundantes do ordenamento jurídico, passa-se a reconhecer a eficácia horizontal, que consiste no reconhecimento de que os direitos humanos incidem na relação entre particulares. Problema – a incidência direta da constituição e dos tratados de direitos humanos na relação entre particulares pode fulminar a liberdade. Logo, há doutrina que entende que a eficácia horizontal deve ser feita por intermédio de lei. O princípio da liberdade é regrado: ninguém é obrigado a deixar de fazer ou fazer algo senão em virtude de lei.
b.6 Limitabilidade dos direitos: os direitos humanos são passíveis de limites. Muitos se dão na colisão com outros direitos ou pela própria redação do direito. Ex: liberdade de expressão, vedado o anonimato – este é limite da redação do direito.
b.7 Conflito de direitos: 
a) teoria interna – há quem defenda que os limites dos direitos humanos são redigidos implícita ou explicitamente no texto da norma. Limite imanente (e não expresso, como o anonimato) – ingressar no cinema e gritar fogo, gerando risco às pessoas quanto à sua integridade, não integra o direito de liberdade de expressão. 
b) teoria externa – os direitos humanos são limitáveis em duas etapas. Verifica-se o direito prima facie, verificando-se se o direito se enquadra naquele direito. Nessa teoria, gritar fogo no cinema entra na liberdade de expressão em um primeiro momento. Mas, num segundo momento, verifica-se se há violação de outro direito, o que ocorre, sendo vedado o fazer. 
=> A resposta da teoria interna e externa é a mesma para gritar fogo no cinema. O problema são os hard cases. Nesses, não é fácil dizer, pela teoria interna, que o limite foi alcançado. A externa, por exigir ponderação e elaboração de argumentos sobre a necessidade e proporcionalidade, deve-se argumentar pq um direito deve ser afastado e outro não. Maiores previsibilidade e segurança são dadas pela teoria externa, segundo André.
b.8- Indisponibilidade dos direitos humanos: preservação do direito mesmo contra a vontade de seu titular. Cada vez mais se busca a autonomia do indivíduo. Paternalismo jurídico: proibição de renúncia de direito ou do exercício do direito.
Obs.: Há momentos em que a renúncia ao exercício do direito aniquila o direito como um todo (como a eutanásia). 
A visão mais contemporânea reconhece como indispensável a autonomia. Somente quando não existir renúncia válida se pode alegar indisponibilidade. Ex: por idade, constrangimento sócio-economico, o sujeito não pode exercer seu arbítrio. É ponto polêmico. André defende a evolução no tocante à transfusão de sangue de testemunha de Geová adulta (possibilidade de optar)
Superioridade normativa dos DH no plano internacional
Jus cogens: consiste no reconhecimento de uma qualidade de superioridade de determinada norma de direito internacional vigente. Não confundir – todas as normas internacionais são obrigatórias, pelo que não se confundem obrigatoriedade e jus cogens. 
- Conceito: A norma de jus cogens consiste no conjunto de normas que expressa valores essenciais da comunidade internacional como um todo, pelo que é superior à demais normas. 
- Diploma normativo: Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, art. 53: é nulo tratado que venha a violar norma de jus cogens. O dispositivo conceitua com base na consequencia. 
- Como é produzida: a norma de jus cogens dispensa consenso dos Estados da comunidade internacional. Não se confunde com costume internacional geral! É consenso qualificado pelos elementos representativos da comunidade internacional (ex: maior parte dos países representativos da América Latina reconhecem, ainda que o Chile não reconheça, está valendo a norma de jus cogens).
- Conjuntos de normas de jus cogens
a) Autodeterminação dos povos;
b) Alguns direitos humanos;
c) Proibição do uso da força.
Em tese, nenhum Estado pode ajudar diante da violação de norma de jus cogens. Ex: “A” invade país 
“B”. O terceiro Estado não pode ajudar o estado infrator “A” a colonizar “B”, seja com recursos financeiros ou de outro modo.
Deve-se verificar os precedentes internacionais que reconhecem os direitos humanos como norma de jus cogens para determinar quais são os direitos humanos por ela abrangidos. 
- Exemplos de normas de jus cogens que prevêem direitos humanos:
1- Defesa da igualdade
Um país que venha a adotar apartheid será duramente sancionado, como ocorreu à África do Sul no passado
2- Direito à integridade física
Reconhecimento pelo Tribunal Penal Internacional da ex Iugoslávia no sentido de que tortura viola norma de jus cogens.
3- Devido processo legal
CIDH reconhece como norma de jus cogens
4- Liberdade
Obs.: As normas de direitos sociais não são de jus cogens. 
4- Item 2b – Princípio da Indivisibilidade dos direitos humanos. A teoria das gerações de direitos. Diferenças entre obrigações decorrentes da garantia de direitos civis e políticos. Obrigações decorrentes da garantia de direitos econômicos, sociais e culturais
4.1- Teoria das gerações de direitos
Maneira de classificar os direitos humanos – concebida por Vasak (jurista francês). Teve idéia de associar os direitos humanos aos 3 dísticos da revolução francesa (1ª geração)
1ª geração - Direitos de liberdade, igualdade e fraternidade: primeiros direitos, oponíveis contra o Estado. Não mate, não viole o devido processo legal, etc. Direitos a prestações negativas.
2ª geração: Papel prestacional do Estado – direitos sociais – saúde, educação, moradia, etc
3ª geração – direitos de solidariedade. Os direitos de 1ª e 2ª geração seriam ontologicamente idênticos (teriam a mesma natureza – mesmo titular). Já nos direitos de 3ª geração, isso muda. A absorção dessa visão pelo Brasil é evidente no art. 225 da CF – direito ao meio ambiente equilibrado é das atuais gerações e das gerações futuras, devendo ser prestado por toda a comunidade, não só pelo Estado.Críticas à teoria das gerações:
1- Há autores que falam na 4ª geração, a bioética (manipulação do genoma humana leva a novos direitos).
2- A teoria das gerações é ultrapassada porque sugere superação de uma geração a outra, quando as geraçÕes se complementam
3- A teoria sugere que os regimes jurídicos são diferentes de uma geração a outra.
Com base nisso, há autores que preferem o termo dimensão, evitando a crítica relativa `a superação entre as gerações.
4- Crítica de André de Carvalho: na ordem cronológica, ademais, direitos trabalhistas vieram antes. Ademais, não se consegue inserir o direito à vida em uma geração apenas (já que se deve compreende-lo como direito à vida digna, à vida em paz, etc)
Os direitos civis e políticos estão sob incidência e aplicabilidade imediata, embora também possam exigir prestação positiva do Estado. Ex: direito de voto – as eleições custam caro. Urna eletrônica e dinheiro para pagar servidores, juízes, promotores, etc. Logo, somente na teoria, esses direitos têm incidência imediata necessária.
Reserva do possível: interpretação do alcance e dos limites dos direitos sociais que surge na Alemanha. Litígio envolvendo o direito à educação. Quando não há vagas para todos, o prejudicado busca o seu direito judicialmente. Resposta clássica do tribunal constitucional federal da Alemanha – os direitos que exigem investimento do Estado têm cláusula implícita sobre a reserva do possível. 
Superação da teoria da reserva do possível – protocolo que cria a possibilidade de uma vítima peticionar por violação de direitos sociais no âmbito do direito internacional dos DH. A superação a essa teoria tbm se dá pela via da interpretação. 
4.2- Terminologia
Os DH têm matriz internacional e estão previstos no ordenamento brasileiro. É importante reconhecer que a CF fala também em direitos fundamentais.
- O Brasil acaba buscando uma absorção, união de termos, mas ainda é possível uma diferenciação entre os direitos humanos (interpretação internacionalista ) e direitos fundamentais (interpretação local). 
- Tratamento diferenciado entre direitos fundamentais e direitos sociais na CF: é possível considerar que direitos e garantias fundamentais têm aplicabilidade imediata e os direitos sociais dependem do desenvolvimento progressivo? 
A jurisprudência tem avançado na implementação dos direitos sociais, como o direito à saúde, mostrando que a separação de poderes e a reserva do possível não impedem o judiciário de assegurar direitos (ex: direito a medicamento). É possível equiparação em tratamento: os direitos sociais são direitos como quaisquer outros e merecem proteção.
A implementação de direitos sociais deve ser feita judicialmente em ações coletivas, para não se ferir o direito à igualdade. Do contrário, só quem entrou com ação individual usa do orçamento para aquele fim, em detrimento de outros.
5- Item 1.a - violação de direitos humanos e responsabilidade internacional do Estado:
5.1- Conceito
A responsabilidade internacional consiste no dever de reparação de danos causados pela violação prévia de norma internacional.
a) Normas primárias
São os direitos humanos. À responsabilidade basta uma norma primária violada.
b) Normas secundárias
Elementos da responsabilidade (reparação e sanção).
5.2- Elementos
I- Fato internacionalmente ilícito: conduta omissiva ou comissiva que seja violação de direitos humanos. É necessário que essa conduta seja imputável ao Estado: 
a) Ato do Poder Executivo 
Ex: o delegado de polícia torturou, o Brasil responde. Defesa do Estado: não deu ordens para essa ação, violadora da própria norma interna. O Brasil não terá sucesso na defesa. O ato do seu agente público consiste em violação dos deveres de vigilância ou escolha pelo Estado. 
b) Ato do Poder Legislativo 
Lei ou norma do Poder Constituinte pode ensejar responsabilidade internacional.
c) Ato do Poder Judiciário
c.1- Denegação de justiça: consiste na existência de delonga injustificada ou de barreiras de acesso à Justiça. Ex: trâmite processual lento; falta de defensores. 
c.2- Justiça equivocada: decisão violadora de direitos humanos. 
Obs.: os mensaleiros peticionaram perante a Corte IDH porque a AP 470 teria tido somente um grau de jurisdição. Pediram outro julgamento, sem discutir, inicialmente, se a decisão foi justa ou injusta.
d) Ato de ente federado
Não se aceita a cláusula federal (dispositivo de alguns tratados de desonera o Estado Federal de cumprir o tratado se a atribuição for do ente federado). O Estado, com personalidade jurídica de direito público internacional, responde internacionalmente também pelo ato de ente da federação. O Brasil responde por ato do Maranhão, por exemplo.
e) Ato de particular
O Brasil responde desde que tenha conduta própria no contexto da realização do ato de particular.
II- Dano
Inclui o dano moral.
III- Nexo causal
Ao fato ilícito que gerou o dano.
Obs.: estado anímico do agente não se discute!
5.3-Modos de apuração da responsabilidade internacional
a) Unilateral 
Autotutela. Modo pelo qual o Estado lesado detecta a violação, pede reparação e, se o Estado infrator não faz a reparação, ele mesmo sanciona aquele Estado. Problema: gera guerra de sanções. O Estado infrator, no fundo, é pretensamente infrator. Quem o rotula de infrator é o próprio interessado, pelo que é comum que o infrator recuse responsabilidade, alegando não ter violado a norma. Ex: EUA alegam que Cuba é ditadura e mantém a ilha sobre embargo econômico duro.
Há uma tendência de banimento da autotutela. Mas ainda existe. 
b) Coletivo ou institucional
Averigua a violação de direitos humanos a partir da existência de um procedimento no qual há uma avaliação feita, com influência de terceiro. São os processos internacionais de direitos humanos.
Aula 3
5.4- Atos que são imputados ao Estado
5.5- Esgotamento prévio dos recursos internos
O Direito Internacional dos DH não quer eliminar os Estados, que têm obrigação primária de proteção dos DH. Só se usa o direito internacional na falha do Estado. Trata-se do princípio da subsidiariedade, encontrada nos tratados de DH e no costume internacional da proteção diplomática. Tais tratados de direitos humanos prevêem que, para acionar os mecanismos de supervisão e controle, é necessário esgotar os recursos internos. 
A subsidiariedade da jurisdição internacional reforça o seu caráter contramajoritário. Numa democracia, domina o Princípio da Maioria. Se não for protegida a minoria, aciona-se a jurisdição internacional, contrariando maiorias.
Qual a natureza do esgotamento prévio?
A - Compõe a própria violação
B- Requisito processual – melhor posição –André e Cançado Trindade
Há casos de dispensa previstos, muitas vezes, no próprio tratado internacional. Algumas vezes podem decorrer da interpretação de órgãos incumbidos de interpretar o respectivo tratado (ex: Corte IDH).
MPF 2013 – No tocante à aplicabilidade, a proteção internacional de direitos humanos, dos draft articles on responsibility of states for internationally wrongful acts (esboço de artigos sobre a responsabilidade de estados por atos ilícitos internacionais) de 2001, da comissão de direito internacional da ONU, é correto dizer que:
a) o documento é completamente inaplicável, pois trata de responsabilidade decorrente de ilícitos praticados na relação entre Estados e não na relação entre um Estado e seus jurisdicionados
b) o documento é parcialmente aplicável, pois pelo menos parte das obrigações decorrentes do direito internacional dos direitos humanos são erga partes ou erga omnes e, por isso, são oponíveis por Estados vis à vis a outros
c) o documento é aplicável em todos os seus termos, pois não existem obrigações de Estados vis à vis seus jurisdicionados no direito internacional
d) o documento é completamente inaplicável, pois o regime de proteção internacional dos direitos humanos não tem qualquer relação com a responsabilidade internacional dos Estados
=> Letra BObs.: o Draft Articles é soft Law. Os arts. 40 e 41 desse esboço definem regras de responsabilidade pela violação grave de obrigações decorrentes de normas de direito internacional geral. Estando os direitos humanos abrangidos dentre elas, pode o esboço ser aplicado a violações respectivas. E é incorreto dizer que não há obrigações de Estados no tocante a seus jurisdicionados no direito internacional
_____________________________
1-b- Relação entre direitos humanos e crimes internacionais conexos
Há uma proximidade entre direitos humanos e direito penal. De um lado, os primeiros restringem os jus puniendi do Estado, inclusive pondo limites à tipificação (busca da proibição do excesso). Por outro lado, o Estado não pode se desvencilhar do direito penal para proteger os direitos humanos.
Ex: apartheid – luta histórica dos direitos humanos por igualdade. Consta da DUDH. Tortura, genocídio, trabalho/comércio de escravos, crimes de guerra, crimes contra a humanidade.
Função do direito penal: prevenção específica e prevenção geral. Direito penal dos direitos humanos: busca a não repetição das condutas pela prevenção geral, mostrando que a impunidade é fator criminógeno (estimula novas violações). É noção que remete a Beccaria: não é a sanção abstrata que desestimula, mas a certeza da punição.
3.b- Eficácia vertical e horizontal (drittwirkung dos direitos humanos)
Obrigação de respeito e garantia dos direitos humanos são complementares:
A- Respeito: dever de cada Estado de zelar pela atuação dos seus próprios órgãos nos sentido de que eles não violem os direitos protegidos. 
B- Garantia: dever dos Estados de agir para que terceiros não violem os direitos protegidos.
Eficácia vertical: relação Estado – indivíduos. 
Eficácia horizontal
Os direitos incidem nas relações entre os particulares mediadas por lei, cumprindo o princípio da legalidade. Ex: igualdade. “A” entra num bar e o dono afirma que não vai vender o produto para aquela pessoa. O dono do estabelecimento não tem essa liberdade. Violação do CDC e crime contra as relações de consumo. 
Logo, a incidência indireta dos direitos humanos nas elações entre particulares não é novidade. 
E a incidência direta dos DH? É possível incidência imediata ou direta também! Ex: caso closet shop: sindicato de trabalhadores celebrou acordo coletivo com o sindicato de empregadores para somente serem contratados trabalhadores sindicalizados. Isso chegou na Corte Européia, que reconheceu que, mesmo entre particulares deve ser respeitada a liberdade de associação em seu sentido negativo (não ser obrigado a se associar). O próprio STF já reconheceu a incidência imediata/direta em algumas situações. 
3.c – As Nações Unidas e a promoção universal dos direitos humanos
- Livro “Processo internacional de direitos humanos, 2013, ACR”.
1- Conceito
Processo internacional de direitos humanos é o conjunto de mecanismos internacionais que analisam a situação de direitos humanos de um país, eventualmente detectam violação e fixam a reparação devida. Essa análise gerará a interpretação internacionalista dos direitos humanos. 
Quando um órgão internacional se debruça sobre uma situação qualquer (ex: como o Brasil trata o direito à saúde), é imprescindível que interprete qual é o real alcance e sentido do direito respectivo (no caso, o direito à saúde). 
2- Classificação dos processos de direitos humanos
a) De acordo com o órgão que analisa/emite a deliberação
a.1- Unilateral: “judex in causa sua” – Estados isolados analisam, detectam a violação e fixam a reparação (como já foi abordado anteriormente). Ex: EUA diz unilateralmente que Cuba viola os direitos humanos e aplica sanções econômicas duras. 
a.2- Coletivo: órgãos coletivos , em mecanismos institucionalizados, fazem a análise e detecção acima.
b) De acordo com o modo pelo qual a decisão é produzida
b.1- Mecanismo político: processo internacional de direitos humanos que analisa a situação, detecta a situação e exige reparação fundamentando sua deliberação em fatores políticos, discricionários. É diferente da atuação do Judiciário, portanto. Ex: Conselho de Segurança. Ex 2: OEA – Honduras foi duramente sancionada pela OEA pela ruptura da democracia. Queda do Presidente Zelaia, em 2009. Ex 3: Impeachment do Presidente Lugo, com base no Protocolo de Ushuaia, ocasião e que foi suspenso o Paraguai (pela cláusula democrática do MERCOSUL).
b.2- Mecanismo judiciário: Corte Europeia, Corte Interamericana, etc – pretensão de imparcialidade e devido processo legal.
c) De acordo com a força vinculante das deliberações
c.1- Mecanismo de recomendação
c.2- Mecanismo de decisão 
Ex: o Conselho de segurança é político, coletivo e de decisão.
Cuidado: não necessariamente o judiciário é de decisão e o político é de recomendação. 
d) De acordo com a sujeição passiva
Há processos internacionais de DH que sujeitam somente o Estado. Há processos, no entanto, que podem sujeitar o indivíduo. Ex: Corte Interamericana: somente o Estado pode ser réu, não a pessoa física. 
Podem sujeitar o indivíduo os Tribunais Internacionais Penais. 
Obs.: a banca também entende que os Tribunais Internacionais Penais são órgãos de proteção de direitos humanos. É a tese majoritária, pensando no combate à impunidade dos violadores de direitos humanos. 
Genocídio, humanidade, guerra e agressão => os Tribunais internacionais de DH têm papel importante na proteção de DH. 
e) De acordo com o alcance regional
Divisão entre mecanismos internacionais de alcance global ou regional. 
Global: coordenados pela ONU. Regional: sistema europeu; sistema interamericano e sistema africano. 
É necessário manejar o sistema global e o sistema interamericano. O regional europeu entra no edital nos pontos mais genéricos. 
Sistema global / onusiano / universal
1- Conceito
Consiste no conjunto de mecanismos internacionais de supervisão e controle das obrigações de DH, baseado na carta da ONU ou em tratados celebrados sob os auspícios da ONU.
ONU- Criada em 1945 pela Carta de São Francisco, que coloca como um dos objetivos principais da ONU a promoção e a proteção de DH. Desde então, houve um grande desenvolvimento da matéria dentro da ONU. 
2- Evolução histórica
A ONU estimulou órgãos internos a agir na fiscalização da proteção de direitos humanos. Também estimulou os Estados a elaborarem tratados, que contém, eles mesmos, órgãos de fiscalização.
3- Tratados celebrados sob os auspícios da ONU
A ONU patrocina os estudos, faz projeto, chama os Estados para aprovar ou sua AG faz o tratado e chama os Estados para deliberarem. 
a) Convenção pela prevenção e repressão ao crime de genocídio – 1948
Era uma dívida do direito internacional. Nuremberg não julgou genocídio. Em 1948 surge o crime de jus cogens. Esse tratado prevê a criação de tribunal internacional para julgar crime de genocídio, o que não foi feito, mas o TPI julga tais crimes
Brasil- ver caso dos “Ianomamis”
b) Convenção pela eliminação de toda forma de discriminação racial - 1965
Mandela, por exemplo, ficou anos na lista de terroristas dos EUA!
Por isso, esse tratado é o primeiro dos mais relevantes tratados da ONU.
c) Pacto internacional de direitos civis e políticos- 1966
Bloco capitalista estimulou sua criação.
d) Pacto internacional de direitos sociais e econômicos - 1966 
Bloco socialista estimulou sua criação.
e) Convenção pela eliminação de discriminação contra a mulher - 79
f) Convenção contra a tortura - 84
g) Convenção dos direitos da criança – 90
h) Convenção da ONU dos direitos dos trabalhadores migrantes
Não foi, ao contrário das anteriores, ratificada pelo Brasil. Está no Congresso Nacional
i) Convenção da ONU sobre as pessoas com deficiência – 2002
Visa também a reduzir a desigualdade. Ratificada e incorporada com quorum de EC.
j) Convenção da ONU sobre o desaparecimento forçado
=>Formato: hall de direitos e órgão interno que fiscaliza as obrigações assumidas pelos Estados partes, com seusritos procedimentais. Somente a convenção sobre genocídio não tem esse órgão interno
4- Declaração Universal de Direitos Humanos (declaração de París)
a) Aprovada por resolução da AG da ONU em 10/12/1948. 
b) 30 artigos. Direitos civis e políticos; direitos sociais; possibilidade de ponderação. Declaração equinoclasta (moderna para seu tempo – fala no que depois foi denominado mínimo existencial). 
c) Natureza jurídica da DUDH
- Inicialmente, a DUDH foi aprovada por meio de uma Resolução da AG da ONU. As resoluções da AG da ONU não têm força vinculante, como regra geral (há exceções, como é o caso da escolha do Secretário Geral da ONU, por exemplo). Foi concebida como o que se denomina Soft Law. 
- Atualmente, não mais é adequado dizer que a DUDH é Soft Law. Décadas depois, os Tribunais Internacionais consideram que essa resolução pode ser tida como espelho do costume internacional de proteção dos direitos humanos. 
Problema – os Tribunais Internacionais somente mencionam alguns direitos. Apenas parte da declaração é vinculante hoje em dia, com base nisso. Ex: liberdade – caso dos reféns norte-americanos em Teerã. Filme “Argo” – invasão dos recintos diplomáticos dos EUA por estudantes iranianos no bojo da revolução. A Corte reconheceu a violação da Convenção de Viena Sob Relações diplomáticas pelo Irã, embora se tratasse de ato de particular (que devia ter sido reprimido pelo Governo). 
Os direitos que já foram abrangidos por decisões dos Tribunais Internacionais são mais fáceis de serem demonstrados quanto ao caráter vinculante. Doutrina não prova que haja nova costumeira em determinados casos. Por isso, André entende que é melhor se pautar na jurisprudência internacional, embora haja autores que defendam que toda a declaração vincula, pois é interpretação autêntica dos direitos humanos constantes da Carta da ONU. Trata-se de uma terceira posição, portanto (soft Law x costume demonstrado pela jurisprudência dos tribunais internacionais x interpretação autêntica dos DH previstos na obrigatória carta da ONU).
=> Questão MPF 2011: No tocante à Declaração Universal dos Direitos Humanos, é correto dizer que:
a) É composta integralmente de normas de direito imperativo internacional (jus cogens);
b) Não é formalmente vinculante, mas é indicativo de amplo consenso internacional, integrando o chamado soft law;
c) É formalmente vinculante como direito costumeiro internacional;
d) É expressão da universalidade cultural, sendo seus preceitos aceitos em todas as culturas.
=> Resposta: letra B (soft law)!!!
5- Quadro geral do Sistema Global
	Sistema convencional
	Sistema extraconvencional
	a) Convencional não contencioso
b) Convencional contencioso quase judicial
c) Convencional contencioso judicial
	a) Conselho de DH e procedimentos especiais
b) Conselho de DH e a RPU (revisão periódica universal)
c) Conselho de Segurança e os direitos humanos
=> Antes de responder a questão, situar o tema nesse quadro
Exemplo da utilidade: diferencie comissão de direitos humanos x conselho de direitos humanos x comitê de direitos humanos => Comitê se enquadra no sistema convencional, ao passo que comissão e conselho estarão no sistema extraconvencional.
A- Sistema Convencional de DH
- Conceito: conjunto de processos internacionais de direitos humanos inseridos em tratados celebrados sob os auspícios da ONU
A.1- Sistema convencional não contencioso (ou sistema dos relatórios)
a.1- Diplomas normativos: “BIG NINE”: possuem rol de direitos e a criação de um órgão de controle, que recebe o nome de “comitê”.
a.2- Nome dos comitês e função: o nome dos comitês acompanha o título do tratado, com exceção do comitê de direitos humanos, que é do pacto internacional de direitos civis e políticos.
- O pacto de direitos sociais, econômicos e culturais não tinha (não previu), inicialmente, um comitê. Foi criado, manu militari, pelo Conselho Economico Social por resolução. Pressão do bloco soviético, que queria os direitos econômicos, sociais e culturais, mas não fiscalização. Em 2008, foi aprovado protocolo facultativo a esse pacto, que estabeleceu formalmente o comitê. Entre a resolução e 2008, havia mera existência formal do comitê. O Brasil ainda não ratificou
Obs.: mudança no Estatuto do Estrangeiro – o Itamaraty se queixava que dispensava com o outro país a dispensa de visto, o que era aceito pelo outro país. O governo encaminhava o tratado de dispensa de visto ao CN e ele ficava lá 10 anos. Logo, a nova lei prevê que a dispensa de visto pode ser feita por comunicação diplomática. André entende se tratar de lei constitucional. Ver.
a.3- Função dos comitês
I – Emissão de comentários ou observações gerais contendo a interpretação internacionalista de cada tratado. Caráter de mera recomendação. Vale a pena estudar. Livro do André (processo internacional de DH).
II- Analisar os relatórios periódicos dos Estados. 
a.4- Composição do comitê
Especialistas que, apesar de indicados e escolhidos pelos estados partes, assumem o cargo com independência. Não obedecem ordem do país de origem.
a.5- Sistema dos relatórios
No Brasil, como é atribuição federal a gestão das relações diplomáticas, o órgão que irá elaborar o relatório (com apoio da sociedade civil, do CN, do MPF...) é a secretaria de DH, que é órgão da Presidência da República. Esse relatório será enviado ao comitê específico contendo detalhes sobre o cumprimento do tratado.
Relatório sombra (shadow report): relatório da sociedade civil. Evitar o oficialismo dos relatórios enviados pelos próprios estados.
No relatório oficial, devem constar as conquistas (avanços) e também os problemas. Como estes são, em geral, escondidos pelos Estados, a ONU convida ONG’s para fazerem relatórios sombra. O MPF participa da elaboração de relatórios sombra. Os comitês também aceitam que órgãos estatais independentes possam contribuir nos relatórios sombra.
Além disso, os comitês buscam informações em órgãos internacionais (Ex: FMI, Banco Mundial...).
Em outros termos, o comitê recebe um número grande de informações. Em seguida, faz discussão e inquirição pública, que tem lugar em Genebra, no Alto Comissariado das Nações Unidas para DH.
Esse comissariado tem, hoje, mais atividade administrativa. Falta protagonismo. Deveria ser um grande crítico da violação de direitos humanos nos Estados.
=> RECOMENDAÇÃO: é o resultado da vigilância internacional no sistema dos relatórios. Em que pese não haja força vinculante, muitas vezes é o único olhar internacional, contramajoritário, naquele país.
A.2- Sistema convencional contencioso quase judicial
a) Introdução 
E quase judicial porque não se trata de tribunal internacional, mas ao dele se assemelha o procedimento, com ampla defesa e contraditório.
É feito para casos em que haja um litígio, uma pretensa violação de direitos humanos. Petição informa violação de direitos humanos, que será analisada pelo Comitê. Pode ter origem:
I – Em outro Estado parte (petição interestatal);
II- na vítima ou seu representante (petição individual).
Não basta ser parte no tratado prevendo esse sistema. Para que se submeta, deve também ser feita ou uma declaração facultativa, ou ratificar um protocolo facultativo, para que haja esse sistema de controle.
b) O Brasil e o sistema convencional contencioso quase judicial
I – Pacto de direitos civis e políticos: protocolo facultativo ratificado pelo Brasil
II- Pacto de direitos civis e políticos: protocolo facultativo NÃO ratificado pelo Brasil
III- Convenção pela eliminação de toda forma de discriminação racial: declaração facultativa já feita pelo Brasil
IV- Convenção pela eliminação de toda forma de discriminação contra a mulher: protocolo ratificado pelo Brasil
V- Convenção contra a tortura: declaração facultativa – Brasil já fez
VI- Convenção de direitos da criança: protocolo facultativo – Brasil NÃO fez
VII- Convenção de desaparecimento forçado: Brasil ratificou
VIII- Convenção de deficiência – protocolo – Brasil fezc) Procedimento do sistema convencional contencioso quase judicial – bifásico
c.1- Admissibilidade
I- Petição individual
Esgotamento prévio dos recursos internos. 
c.2- Mérito
Procedente ou improcedente
c.3- Deliberação
Em geral, entender-se-ia que, como se trata de protocolo facultativo, deve ser respeitada a decisão pelo Estado.
Caso julgado em detrimento do Brasil (Caso Alyne Pimentel) – morte de mulher grávida e seu feto no RJ, pela crise do sistema de saúde brasileiro. O Comitê para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher considerou que o Brasil violou o direito dela por não ter programa sério de pré-natal. Violação do direito à saúde. Mas o comitê, na parte dispositiva, reconheceu que sua decisão era mera recomendação. Recomendou a indenização da vítima e a melhoria do sistema pré-natal. Posição confortável ao Brasil (mera recomendação). Interpretação que mutila o próprio comitê.
=> Mais detalhes sobre o Caso Alyne Pimentel:
Segundo o Comitê, a morte de Alyne Pimentel caracteriza-se como relacionada a complicações obstétricas vinculadas à gestação, observado que o profissional de saúde que realizou seu primeiro atendimento falhou ao não se certificar imediatamente da morte do feto, registrando-se que os testes de urina e sangue foram realizados dois dias depois do primeiro atendimento, e a curetagem, 14 horas após o parto. Em suma, conforme o Comitê, tal morte pode ser classificada como materna. Quanto ao fato da Casa de Saúde Nossa Senhora da Glória ser privada, para o Comitê o Estado é diretamente responsável pelos serviços prestados por instituições privadas de saúde, existindo o dever estatal permanente de regular e monitorar as instituições privadas de saúde. Ainda, de acordo com o Comitê, a ausência de serviços apropriados de saúde materna, dirigidos ao atendimento de objetivos específicos e particulares, demandas em saúde no interesse da mulher, constitui, além de violação ao direito à saúde, discriminação contra a mulher. Para o Comitê, além de Alyne Pimentel ter sofrido discriminação por ser mulher, também o foi por ser afrodescendente e pertencer à camada da população de baixa renda. Por fim, o Comitê reconhece que o Estado brasileiro não assegurou proteção judicial efetiva e remédios jurídicos apropriados, acentuando que nenhum procedimento foi iniciado contra aqueles que causaram diretamente a morte de Alyne Pimentel, bem como a ação indenizatória, interposta em 2003, ainda não havia sido julgada. Em referência a tal ponto, o Comitê entendeu que o Estado brasileiro não cumpriu sua obrigação de assegurar proteção e ação judicial efetiva.
As recomendações feitas pelo Comitê ao Estado brasileiro foram sete, sendo uma de natureza compensatória, na qual prevê que o Estado brasileiro deve indenizar a mãe e a filha de Alyne Pimentel; três concernentes a políticas públicas de saúde: i. assegurar o direito da mulher à maternidade saudável e o acesso de todas as mulheres a serviços adequados de emergência obstétrica; ii. realizar treinamento adequado de profissionais de saúde, especialmente sobre direito à saúde reprodutiva das mulheres; iii. reduzir as mortes maternas evitáveis, por meio da implementação do Pacto Nacional para a Redução da Mortalidade Materna e da instituição de comitês de mortalidade materna; três recomendações que dizem respeito à accountability: i. assegurar o acesso a remédios efetivos nos casos de violação dos direitos reprodutivos das mulheres e prover treinamento adequado para os profissionais do Poder Judiciário e operadores do direito; ii. assegurar que os serviços privados de saúde sigam padrões nacionais e internacionais sobre saúde reprodutiva; iii. assegurar que sanções sejam impostas para profissionais de saúde que violem os direitos reprodutivos das mulheres.
Curso CEI: Embora as decisões do Comitê para eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher sejam despidas de caráter vinculante, o Brasil deve acatar e implementar a decisão com base no Princípio da Boa Fé, que rege as relações internacionais.
O Comitê para eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher, a partir do protocolo facultativo, adotado pelo Brasil, passou a ter mandato para receber comunicações de indivíduos ou grupos relativos a violações dos direitos previstos na Convenção e a iniciar investigações sobre situações de violações graves e sistemáticas dos direitos da mulher em relação aos Estados Partes que ratificaram o documento.
Esse foi o PRIMEIRO caso em que o Brasil foi condenado no Sistema Universal de DH (sistema convencional contencioso quase judicial da ONU). Também foi o PRIMEIRO caso em que o Comitê CEDAW aceitou denúncia sobre mortalidade materna.
Aula 4
A.3- Sistema convencional contencioso judicial
Convencional => tratado
Contencioso => violação de DH
Judicial => Tribunal
Não existe tribunal global de direitos humanos. Problema da atuação da Corte Internacional de Justiça, órgão judicial da ONU, na matéria de direitos humanos.
A CIJ tem jurisdição contenciosa (casos que envolvem estado autor x estado réu – não admite a presença de organização internacional nem da vítima) e consultiva (AG da ONU, CS da ONU, agência especializada ou demais órgãos da ONU autorizados pela AG podem solicitar parecer). Tem sede na Haia.
Atuação da CIJ em DH:
a) Jurisdição consultiva: a corte já se pronunciou sobre temas importantes, como a autodeterminação dos povos. Parecer do caso do Kosovo e construção do muro na Palestina. Parecer sobre o uso de armas nucleares (ver). Parecer sobre a ocupação sul-africana na Namíbia (igualdade e autodeterminação dos povos – único parecer solicitado pelo Conselho de Segurança).
Obs.: o Parecer do caso do Kosovo foi resumidamente abordado no outro caderno (Internacional). O parecer da construção do muro na Palestina, de 2004, condena Israel, considerando ilícita a construção dentro dos territórios ocupados pelos palestinos (arquivo salvo no PC). Também estão salvos no PC os pareceres sobre a ocupação sul africana na Namíbia e sobre o uso de armas nucleares. 
Obs. 2: Em suma, o caso da Namíbia envolvia mandato da África do Sul no local. Com o descumprimento dos deveres de mandatário na Namíbia perante a ONU, a continuidade da África do Sul no local é ilícita e passível de responsabilização internacional. Até mesmo o Apartheid foi implementado na Namíbia, em violação dos preceitos da Carta da ONU.
Obs. 3: quanto às armas nucleares, não se concluiu pela proibição absoluta do uso ou ameaça de uso, pois deve ser verificado o caso concreto, o qual pode mostrar a necessidade do uso ou ameaça em legítima defesa. No entanto, destacou-se que é preciso observar as normas internacionais de direito humanitário para que não haja ilicitude. 
=> Questão MPF sobre autodeterminação dos povos- 2011:
“O direito à autodeterminação dos povos:
a) é mera retórica política, uma vez que o direito internacional só reconhece a autodeterminação dos povos como princípio (art. 1º, parág. 2º, da Carta da ONU), e não como direito
b) se aplica indistintamente a povos sob jugo colonial e aos povos indígenas
c) consolidou-se como direito a partir da Resolução 2625 da AG da ONU
d) integra os direitos civis e políticos e os direitos econômicos, sociais e culturais, por força dos Pactos Internacionais respectivos, de 1966”
=> Resposta: letra D
b) Jurisdição contenciosa: os tratados de DH prevêem que, se esgotados seu mecanismos de solução de conflito, a CIJ solucionará as controvérsias em sede de tratados de DH Onusianos.
Nesses termos, o Brasil responde no sistema judicial contencioso da ONU. Hipóteses de reconhecimento da jurisdição contenciosa:
b.1- Cláusula Raul Fernandes
Reconhecimento facultativo da jurisdição obrigatória da Corte. O Brasil nunca fez isso ainda. O jurista que bolou a cláusula para a antiga Corte Permanente de Justiça Internacional era brasileiro.
b.2- Tratados específicos que tenham a CIJ como órgão de solução de controvérsia. O Brasil é parteem vários com a cláusula.
b.3- Reconhecimento ad hoc: as partes, após a existência do litígio, reconhecem a jurisdição da corte. Caso dos empréstimos – Brasil perdeu 
b.4- Reconhecimento implícito: prorrogação da competência que ocorre quando um Estado processo outro. Este protesta, mas deixa de alegar a falta de jurisdição da Corte. Caso do Estrito de Corfu.
Esses tratados geraram casos muito importantes:
I- Genocídio: Bósnia VS Sérvia
II- Discriminação racial: Geórgia VS Rússia – ao invadir a Geórgia para proteger os russos, pode ter havido discriminação. Pode existir a manipulação dos direitos dos DH para esconder outros interesses geopolíticos? Ver.
 B- Sistema extraconvencional de DH
Mecanismos que usam disposições genéricas da Carta da ONU como fundamento. Essa carta da ONU é tratado também. Logo, a denominação diz respeito mais à generalidade do que a não ter base em tratado.
B.1- Espécies
a) Conselho de DH e procedimentos especiais: 
Têm como origem a atuação de órgão que não existe mais, que é a Comissão de Direitos Humanos. Tratava-se de órgão subsidiário do Conselho Econômico e Social, ainda existente, que tem como função precípua a cooperação na área dos DH. 
A comissão foi criada em 46, começou seus trabalhos em 47. Capitaneou os trabalhos da DUDH. Logo depois, iniciou seus trabalhos para elaborar tratados.
Ao fim dos anos 70, esse esforço era considerado ainda ineficiente. Era necessário investimento na fiscalização. Com apoio do Conselho Econômico e social, foram editadas duas resoluções: Resolução 1235/67 e Resolução 1503/1970. Cada uma previa um procedimento.
Assim, surgem os procedimentos especiais. Contexto: estados africanos tinham apartheid (regime racista de superioridade branca), mesmo já tendo sido derrotado o nazismo e a superioridade ariana na guerra. Com base no fundamento da busca de igualdade, a Comissão de DH começa a aceitar petições de vítimas nesses regimes de discriminação racial. 
Procedimentos:
- Recomendação 1503/1970: procedimento – violações graves e sistemática de DH. Confidencial. Recomendação ao Estado ao final. Caso não acatasse a Resolução, era iniciado o procedimento da resolução 1235 (procedimento público), também ligado a violações graves e sistemáticas em quadro generalizado.
- Nos anos 70, ampliam o procedimento 1235. Começa-se a aceitar casos de violações de DH de outras naturezas, não somente em virtude do apartheid. Verificam-se, por exemplo, as violações maciças de DH das ditaduras latino-americanas.
- Dois tipos de procedimento público passam a existir na Resolução 1235, nos anos 80 (caindo em desuso o procedimento confidencial justamente pela confidencialidade):
I- Procedimentos Temáticos: nascem relatorias especiais para todo e qq tipo de tema (ex: relatoria contra a tortura; pelo direito à moradia, etc).
II- Procedimentos Geográficos: anualmente a Comissão escolhia países para sofrerem fiscalização.
Há discussões sobre se o s procedimentos especiais não eram discriminatórios, representando interesses geopolíticos (pq alguns países eram sempre escolhidos e outros não?). Isso embora os critérios geográficos sejam típicos da ONU. Os membros da Comissão eram escolhidos por negociação diplomática entre os Estados. 
=> Começo do séc XXI - Indicação da Líbia para ser presidente da Comissão de DH, excluindo da Comissão de DH os EUA. A ditadura de Kadafi era presidente da comissão e os EUA nem mesmo participariam dela. Mal estar é gerado e enseja a extinção dessa Comissão.
=> Nasce o Conselho de DH. Diferenças:
- É vinculado à AG da ONU. Busca-se dar protagonismo a esse órgão, pois havia disputa com o Conselho Econômico e social nesse aspecto.
- Os membros do Conselho devem ser escolhidos pela AG entre estados que se comprometam a respeitar os DH. Todas as discussões preparatórias para criar requisitos objetivos não deram em nada (ex: ratificar tratados de direitos humanos, requisito não cumprido pelos EUA). 
- Caso um estado membro do Conselho seja envolvido em graves violações de DH, pode ser suspenso pela AG por 2/3. A própria Líbia estava no Conselho e, quando houve a guerra civil, foi suspensa à unanimidade pela AG
- O Conselho de DH foi criado, especialmente com apoio do Brasil e da China, com o fim de eliminar os procedimentos especiais. Antes disso, esses dois países propuseram um substituto: a revisão periódica universal (RPU). Os procedimentos especiais ainda existem. Principal crítica aos procedimentos especiais, como dito, é que eles eram seletivos, sobretudo os procedimentos especiais geográficos (não se investigavam regimes apoiados pelos EUA, como os países petroleiros, por exemplo). 
- Todos os Estados passarão pela RPU.
=> No que consistem os procedimentos especiais, tão criticados? Existem ainda hoje, agora sendo do Conselho (já que a comissão não mais existe).
- Análise de direitos humanos por um órgão (ou unipessoal – relatorias especiais) ou colegiado (relatorias de trabalho.
- Poderes: coletar informações e visita em loco (desde que haja autorização do Estado). O Brasil é objeto de visita de diversos relatores especiais temáticos (nunca foi alvo de relatoria especial geográfica). O Brasil fez convite permanente a todos os relatores especiais, pelo que não precisa autorizar especificamente que um relator venha. 
- Coletadas as informações, faz-se relatório submetido ao Conselho de DH que, caso entenda cabível, pode acionar a AG. A conclusão final é mera recomendação! Um relator pode, por exemplo, sugerir “A”, enquanto outro relator sugira “-A”. Por isso, é bom que seja somente recomendação a conclusão final. 
- Muitas vezes o Brasil pinça as contradições nos relatórios. 
- Embora haja esse porém, é importante o sistema porque os relatórios mostram algo sobre o país. 
- Foi com base em um relatório desses que a AG pediu interferência do CS na ex-Iugoslávia, culminando na própria criação do TPII (Tribunal Penal Internacional para a ex Iugoslávia).
- O MPF sempre busca se reunir com relatores especiais para mostrar as dificuldades de implementar os DH no Brasil.
=> Em suma, sobre os procedimentos especiais, tem-se:
Procedimentos especiais
1 – Origem
Comissão de direitos humanos (órgão que foi extinto).
2- Fundamentos
Resolução 1235 e Resolução 1503 do Conselho Econômico e Social (o procedimento da última agora é chamado de procedimento de queixa).
3- Espécies:
I- Temáticos
II- Geográficos
4- Convite permanente aos relatores, feito pelo Brasil.	
b) Conselho de DH e a RPU (revisão periódica universal)
b.1- Introdução
O Conselho substitui a comissão e se vincula à AG da ONU. Os procedimentos especiais continuam, sob sua supervisão. 
Houve modificação da Resolução 1503, sendo parecido o procedimento com o inicial. Continua havendo procedimentos especiais geográficos, apesar da resistência.
Tem por idéia uma análise da situação geral de DH de todos os membros da ONU. Como o Brasil sugeriu, foi quem passou pelo primeiro ciclo de revisão. Ficou estabelecido um ciclo, de 4 em 4 anos e meio, por que todos os 193 estados devem passar ao menos uma vez. O Brasil o fez em 2008 (1º ciclo) e em 2012 (2º ciclo). 
b.2- Trâmite - RPU
I- Escolha dos países que passarão pelo ciclo
II- Escolha dos estados relatores (3 – troika) => gestão da busca de informações (III a V abaixo)
III- Estado objeto da RPU encaminha um relatório (Brasil – Secretaria de DH da PR)
IV- Relatório sombra: a sociedade civil, querendo, poderá enviar relatório
V- Outras informações recolhidas
VI- Análise das informações (III a V) – pelo Conselho de DH e por qualquer Estado da AG: “diálogo construtivo” => cuidado – as ONG’s não tem direito de inquirir o Brasil. Esses diálogos podem resultar em “compromissos voluntários” assumidos pelo Estado alvo (nem mesmo recomendação existirá)! Se um Estado da AG faz uma observação pertinente e o Brasil recusa, não há problema prático. Ex: a Dinamarca sugeriu a unificação entre polícias militar e civil no Brasil, de preferência com a desmilitarização da

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