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Murray Rothbard – Direita e Esquerda – Perspectivas Para a Liberdade Tradutores: Rafael Hotz e Luiz Eduardo do Ó Observação: Eu (Rafael) resolvi traduzir o texto, e resolvi ver se alguém antes já havia se habilitado... Encontrei a tradução semi-pronta (9/20 páginas do original) no blog (abandonado eu acho) do Luiz, a completei, revisei e organizei. O original pode ser encontrado em www.mises.org. Sobre o Texto: Nesse texto Rothbard dá a aula de história que os professores de colégio e universidades brasileiras não lhe conferirão o privilégio de assistir! Rothbard explica claramente como o pensamento libertário (o termo em conotação norte-americana, utilizado por Rothbard, significaria no Brasil algo como um liberal radical ou anarco-liberal) sempre foi parte da “esquerda”, ou seja, contrário ao status quo vigente, e anti-estatal. Procede mostrando como períodos onde houve um crescimento da intromissão governamental em nossas vidas, mesmo esta mascarada como “em defesa da opinião popular” e “defensora da igualdade”, foram na verdade períodos de consolidação do poder de uma minoria, se utilizando do aparato e ideologia estatista. Noutro momento importante, identifica as razões pela qual a tradição libertária se tornou conservadora: a defesa do utilitarismo e a aliança com os conservadores contra o Socialismo de Estado, abandonando a fórmula de pessimismo à curto prazo e otimismo à longo prazo pelo oposto, otimismo à curto prazo, focando mais ações políticas, quase sempre ineficazes, e pessimismo à longo, fazendo com que o pensamento perdesse seu radicalismo. Rothbard escreveu numa época (1965) onde via possibilidade na junção de “esquerda” e “direita” para a defesa da liberdade. Para Roderick Long (2005), em seu ensaio sobre esse mesmo texto (http://mises.org/story/2099), o momento é análogo. A ascensão da “direita neo-conservadora” nos EUA e da social-democracia populista na América Latina é um sinal claro de que a união em prol da liberdade é necessária. ***** O Conservador tem sido marcado há muito tempo, conscientemente ou não, por um pessimismo em relação ao futuro distante: pela crença de que a tendência em longo prazo, e portanto o próprio Tempo, está contra ele. Esta tendência é a inevitável caminhada em direção ao estatismo esquerdista no país e ao Comunismo no exterior. É o desespero em longo prazo que pesa no bizarro otimismo em curto prazo do Conservador; uma vez que o futuro é dado como desesperador, ele sente que a única chance de sucesso reside no momento atual. Nos assuntos externos, este ponto de vista leva o Conservador a clamar por desesperadas demonstrações de força contra o comunismo, já que para ele quanto maior o tempo de espera, pior se tornará a situação. Nos assuntos domésticos, este pessimismo o leva a uma total concentração na próxima eleição, onde ele sempre está confiante da vitória sem que ela nunca chegue. A quintessência do homem prático, e cercado pelo desespero em longo prazo, o Conservador se recusa a pensar ou planejar em algo além da próxima eleição. Pessimismo, entretanto, é o diagnóstico preciso que merece o conservadorismo, tanto em curto como longo prazo. Uma vez que o conservadorismo é um remanescente do ancien régime da era pré-industrial e, como tal, não tem nenhum futuro. Na atual forma americana, o recente revival conservador engloba os espasmos finais dos Estados Unidos Anglo-Saxão, branco, provinciano, rural, fundamentalista e inevitavelmente moribundo. E o que dizer das perspectivas para liberdade? Muitos libertários ligam erroneamente o prognóstico da liberdade com o movimento conservador, que aparenta ser mais forte e é um suposto aliado; esta conexão torna possível entender o pessimismo em longo prazo do Libertarianismo moderno. Mas este capítulo se ocupa de mostrar que, enquanto as perspectivas de liberdade num futuro próximo parecem vagas tanto dentro quanto fora do país, a atitude apropriada do Libertário deve ser de um otimismo em longo prazo insaciável. A justificativa para esta afirmação se baseia numa visão histórica a qual sustenta que antes do século XVIII na Europa Ocidental existia (como ainda existe fora do Ocidente) uma Velha Ordem identificável. A Velha Ordem, seja na forma de feudalismo ou de despotismo Oriental, era marcada pela tirania, exploração, estagnação, sistema de castas, desesperança e fome para as massas. Em suma, a vida era "repugnante, cruel e curta" [*1]; era a "sociedade de status" de Maine e a "sociedade militar" de Spencer. As classes dominantes, ou castas, governavam por conquista e por convencerem as massas com a alegação de imprimátur divino do seu poder. A Velha Ordem era, e continua sendo, o grande e poderoso inimigo da liberdade; no passado, era particularmente poderosa porque não havia a crença na inevitabilidade de vitória sobre ela. Quando consideramos que a Velha Ordem existiu basicamente desde o apogeu da história, em todas as civilizações, nós podemos apreciar ainda mais a glória e magnitude do triunfo da revolução liberal do século XVIII. Parte da grandiosidade dessa batalha tem sido obscurecida pelo mito implantado por historiadores antiliberais Alemães do fim do século XIX. O mito sustentava que o crescimento das monarquias absolutas e do mercantilismo no início da era moderna foi necessário para o desenvolvimento do capitalismo, desde que estes serviram pra livrar os mercadores e o povo das restrições locais do feudalismo. Isto não é de forma alguma a verdade, o rei e seu Estado-Nação serviram sim como um Senhor super-feudal, re-impondo e re- enforçando o feudalismo, o qual estava sendo desfeito através do pacífico crescimento da economia de mercado. O rei superimpunha suas próprias restrições e privilégios monopolísticos sobre aqueles do regime feudal. Os monarcas absolutos personificavam a Velha Ordem de forma mais evidente e despótica do que antes. O capitalismo, na verdade, floresceu mais cedo e mais ativamente justo naquelas áreas onde o Estado central era fraco ou inexistente: as cidades Italianas, as Ligas Hanseáticas, a confederação da Holanda do século XVII. Finalmente, a Velha Ordem foi subjugada ou seriamente balançada nas suas estruturas em duas formas. Uma pela indústria e mercado em expansão através das brechas da ordem feudal (por exemplo, o desenvolvimento da indústria no interior da Inglaterra além das garras das restrições feudais, estatais e das guildas). Ainda mais importante foi a série de revoluções cataclísmicas que chacoalharam a Velha Ordem e as velhas classes dominantes: as Revoluções Inglesas do século XVII, a Revolução Americana, a Revolução Francesa, todas elas necessárias como guias para Revolução Industrial e vitórias parciais da liberdade individual, laissez-faire, separação da igreja e estado, e paz internacional. A sociedade de status deu lugar, pelo menos parcialmente, à "sociedade de contrato"; a sociedade militar cedeu seu lugar parcialmente à "sociedade industrial". O povo alcançou a mobilidade de trabalho e lugar, e a expansão acelerada de seus padrões de vida, as quais eles tinham sequer ousado sonhar. O Liberalismo trouxe ao mundo Ocidental não somente liberdade, a perspectiva de paz e aumento do padrão de vida de uma sociedade industrial, mas talvez acima de tudo, trouxe esperança; uma esperança ainda maior no progresso que ergueu as massas da humanidade do antigo buraco de estagnação e desespero. Logo se desenvolveu na Europa Ocidental duas grandes ideologias políticas, centradas em torno do novo fenômeno revolucionário: uma era o liberalismo, o partido da esperança, do radicalismo, da liberdade,da Revolução Industrial, do progresso, da humanidade; outro era o conservadorismo, o partido da reação, o partido que almejava a restauração da hierarquia, estatismo, teocracia, servidão, e exploração de classe da Velha Ordem. Uma vez que o liberalismo claramente tinha a razão como aliada, os Conservadores trouxeram escuridão à atmosfera ideológica com clamores obscurantistas por romantismo, tradição, teocracia e irracionalismo. Houve uma polarização das ideologias políticas, com o liberalismo na extrema “esquerda” e o conservadorismo na extrema “direita” do espectro ideológico. O liberalismo verdadeiro era essencialmente radical e revolucionário, como foi percebido de forma brilhante, na luz do seu impacto, pelo grande Lord Acton (umas das raras figuras na história do pensamento que, de maneira fascinante, foi se tornando mais radical na medida em que ficava mais velho). Acton escreveu que “O Liberalismo deseja aquilo de deve ser, independente daquilo que é”. Lapidando esta visão, incidentalmente, foi Acton, e não Trotsky, o primeiro a chegar no conceito de “revolução permanente”. Como Gertrude Himmelfarb escreveu em seu excelente estudo sobre Acton: ... sua filosofia se desenvolveu ao ponto onde o futuro era visto como o inimigo declarado do passado, onde não era permitida nenhuma autoridade ao passado, exceto quando acontecia para ir de acordo com a moralidade. Levar esta teoria liberal da história a sério, dar precedência ao que “deveria ser” sobre “o que é”, era instalar visivelmente a “revolução permanente”, como ele admitiu. A “revolução permanente”, como Acton sugeriu na conferência inaugural e admitiu francamente nas suas notas, era o ponto alto da sua filosofia da história e teoria política... Esta idéia de consciência, de que os homens são armados com o conhecimento do bem e do mal, é a essência da revolução, já que ela destrói a santidade do passado... “Liberalismo é essencialmente revolucionário”, Acton observou. “Fatos devem se render a idéias. Pacificamente e pacientemente se possível. Violentamente se não”. [1] O Liberal, escreveu Acton, superava em muito a plataforma do Whig [*2]: Os whigs governaram por compromisso. O Liberal fundou o reino das idéias... Um é prático, gradual, pronto para se compromissar. O outro desenvolve um princípio filosoficamente. Um é uma política almejando uma filosofia. O outro é uma filosofia procurando por uma política. O que aconteceu ao liberalismo? Quais as causas do seu declínio durante o século XIX? Esta pergunta tem sido ponderada continuamente, mas talvez a razão principal por trás disto tenha sido uma degradação interna na essência do próprio liberalismo. Já que, graças ao sucesso parcial da Revolução Liberal no Ocidente, os Liberais abandonaram de maneira cada vez maior seu fervor radical e, por conseguinte, suas metas liberais, contentando-se com a mera defesa do não inspirador e imperfeito status quo. Duas raízes filosóficas deste declínio podem ser notadas. A primeira é o abandono dos direitos naturais e de uma teoria de direito superior [*3] pelo utilitarismo, já que apenas esse primeiro tipo de teorias é capaz de oferecer uma base radical fora do sistema existente, com a qual se pode desafiar o status quo; e apenas tais teorias suprem um senso de necessidade imediata à causa libertária por focar na indispensabilidade de trazer os governantes criminosos existentes ao foro da justiça. Utilitaristas, por outro lado, ao abandonar justiça por conveniência, também abandonaram o imediatismo por tranqüila estagnação e inevitavelmente acabaram como apologistas da ordem existente. A segunda grande influência filosófica no declínio do liberalismo foi o evolucionismo, ou Darwinismo Social, o qual deu o último golpe na derrubada do liberalismo como uma força radical na sociedade. O Darwinista Social enxergava erroneamente a história e sociedade como um pacífico mar de rosas de evolução social infinitamente lento e gradual. Ignorando o fato primordial de que nenhuma casta dominante na história nunca entregou seu poder voluntariamente e que, dessa forma, o liberalismo teve que fazer seu caminho por meio de uma série de revoluções, os Darwinistas Sociais esperavam animadamente e pacificamente os milhares de anos de evolução infinitamente gradual que levariam ao suposto estágio inevitável de individualismo. Um exemplo interessante de pensador que personifica o declínio do liberalismo no século XIX é Herbert Spencer. Ele começou como um liberal magnificamente radical; na verdade, quase um libertário puro. Mas, quanto mais o vírus da sociologia e o do Darwinismo Social tomava conta da sua alma, mais Spencer abandonava o libertarianismo como um movimento histórico dinâmico, embora não o abandonando na teoria pura. Resumidamente, enquanto almejava por um ideal de pura liberdade, Spencer começou a ver a realização deste ideal como inevitável, mas somente após milênios de evolução gradual, e dessa forma, a realidade é que Spencer abandonou o liberalismo como um credo radical pelo qual se devia lutar e, na prática, limitou seu liberalismo a uma reação exausta contra o crescimento do coletivismo no século XIX. Interessantemente, essa virada estratégica dele em direção à direita logo se tornou também numa virada teórica à direita, de maneira que Spencer abandonou a liberdade pura até mesmo na teoria, por exemplo, ao repudiar seu famoso capítulo “O direito de Ignorar o Estado” presente em “Social Statics”. Na Inglaterra, os liberais clássicos começaram sua transformação do radicalismo para um quase conservadorismo no início do século XIX; um marco desta virada ideológica foi a atitude geral dos liberais britânicos em relação à luta pela liberação nacional na Irlanda. Esta era uma batalha dupla: contra o imperialismo político Britânico e contra o senhorismo feudal que tinha sido imposto por este imperialismo. Por sua cegueira conservadora [*4] em relação aos anseios da Irlanda por uma independência nacional, e especialmente um anseio por propriedade dos pequenos camponeses [*5] contra opressão feudal, os Liberais Britânicos (incluindo Spencer) simbolizaram seu efetivo abandono do liberalismo genuíno, que nasceu praticamente da luta contra o sistema feudal de propriedade sobre a terra. Somente nos Estados Unidos, o lar do liberalismo radical (onde o feudalismo nunca foi capaz de se enraizar, com exceção do Sul), os direitos naturais e uma teoria de direito superior, e conseqüentemente os movimentos radicais, continuaram em projeção até meados do século XIX. Na suas próprias maneiras, os movimentos Jacksoniano e Abolicionista foram os últimos poderosos movimentos libertários radicais a vida americana. [3] De maneira que, com o abandono do liberalismo desde então, não havia mais um partido de esperança no mundo Ocidental, não havia mais um movimento de “Esquerda” para guiar a luta contra o estado e contra os restos inquebráveis da Velha Ordem. Neste vazio, no vácuo criado pelo esgotamento do liberalismo radical, surgiu um novo movimento: o socialismo. Libertários do presente estão acostumados a pensar no socialismo como o extremo oposto do credo libertário. Mas isto é um erro grave, responsável por uma séria desorientação ideológica dos libertários contemporâneos. Como nós vimos, o conservadorismo é o extremo oposto da liberdade; e o socialismo, enquanto à “esquerda” do conservadorismo, era essencialmente um movimento confuso e híbrido. Ele era, e ainda é, um movimento híbrido porque tenta alcançar fins Liberais pelo uso de meios Conservadores. Em resumo, tanto Russell Kirk, quando afirma que o socialismoé o herdeiro do liberalismo clássico, quanto Ronald Hamowy, quando vê o socialismo como herdeiro do conservadorismo, estão certos; o que importa é sobre que aspecto deste movimento confuso e centrista reside nosso foco. Em concordância com o Liberalismo e contra o Conservadorismo, o Socialismo aceitava o sistema industrial e as metas liberais de liberdade, mobilidade, progresso, padrões de vida mais altos para as massas, e um fim à teocracia e guerra; entretanto, ele tentava alcançar esses fins através do uso de meios conservadores incompatíveis: estatismo, planejamento central, comunitarismo, etc. De outra forma, para ser mais preciso, houve desde o início duas correntes dentro do socialismo: uma era a corrente autoritária, a direitista, de Saint-Simon em diante, aquela que glorificava o estatismo, hierarquia, e o coletivismo e a qual representava uma projeção do conservadorismo tentando aceitar e dominar a nova civilização industrial. A outra corrente era a esquerdista, a corrente relativamente libertária, exemplificada de maneiras diferentes por Marx e Bakunin, revolucionária e muito mais interessada em alcançar as metas libertárias do liberalismo e socialismo; interessada especificamente em esmagar o aparato estatal para conseguir a “devastação do Estado” [*6] e o “fim da exploração do homem pelo homem”. Surpreendentemente, a máxima Marxista, a “substituição do governo de homens pela administração de coisas”, pode ser traçada diretamente desde os grandes liberais Franceses do século XIX, que eram radicalistas do laissez-faire, Charles Comte (nenhuma relação com Auguste Comte) e Charles Dunoyer. Como também pode ser traçado até esses liberais, da mesma maneira, o conceito de “luta de classes”; exceto que para Dunoyer e Comte as classes inerentemente antitéticas não eram capitalistas versus trabalhadores, mas os produtores na sociedade (incluindo capitalistas livres [*7], trabalhadores, pequenos camponeses, etc.) versus as classes exploradoras que constituem o Estado ou são privilegiadas por ele. [4] Saint-Simon em algum ponto da sua conturbada e confusa vida chegou a ser próximo a Comte e Dunoyer e foi deles de onde ele tirou sua análise de classe, confundindo tudo no processo e convertendo capitalistas dentro do mercado, assim como senhores feudais e outros privilegiados pelo Estado, em “exploradores”. Marx e Bakunin pegaram a idéia dos Saint-Simonianos, e o resultado desorientou gravemente todo o movimento Socialista de Esquerda; porque então, além de esmagar o Estado repressivo, tornou-se supostamente necessário esmagar a propriedade capitalista privada dos meios de produção. Rejeitando a propriedade privada, especialmente de capital, os socialistas de esquerda caíram numa contradição interna: se o Estado irá desaparecer após a revolução (imediatamente para Bakunin, gradualmente “se desfazendo” para Marx), então como o “coletivo” irá administrar a propriedade sem se tornar um Estado enorme na prática, mesmo que não seja chamado assim? Esta era uma contradição que nem Marxistas ou Bakuninistas foram capazes de resolver. Tendo substituído o liberalismo radical como o partido da “esquerda”, o socialismo caiu na armadilha desta contradição na virada do século XX. A maior parte dos socialistas (Fabianos, Lassaleanos, até Marxistas) virou bruscamente em direção à direita, completamente abandonando as velhas metas libertárias, ideais de revolução e o desmantelamento do Estado, para se tornarem Conservadores satisfeitos e permanentemente reconciliados com o Estado, o status quo, e todo o aparato do neo-mercantilismo, capitalismo de monopólio estatal, imperialismo e guerra, a qual estava sendo rapidamente estabelecida e pressionada na sociedade européia da virada do século XX. Também o Conservadorismo tinha se reformado e reagrupado na tentativa de se conciliar com o sistema industrial moderno, tornando-se um renovado mercantilismo, um regime de estatismo, marcado direta ou indiretamente pelo privilégio monopolístico estatal, que favorecia capitalistas e proprietários de terra quase feudais. A afinidade entre o Socialismo de Direita e o novo Conservadorismo se tornou muito próxima, com a diferença de o primeiro advogar políticas semelhantes, mas com teor demagógico populista. De maneira que o outro lado da moeda do imperialismo era o “imperialismo social”, o qual Joseph Schumpeter definiu vigorosamente como “um imperialismo no qual os empreendedores e outros elementos cortejam os trabalhadores por meios de concessões ao bem-estar social que parecem depender do sucesso do monopolismo de exportação”. [5] Historiadores têm reconhecido há muito tempo a afinidade, e o amálgama, do Socialismo de Direita com o Conservadorismo na Itália e Alemanha, onde a fusão foi absorvida primeiro pelo Bismarckismo e então o Fascismo e o Nacional Socialismo – o último satisfazendo o programa Conservador de nacionalismo, imperialismo, militarismo, teocracia, e um coletivismo direitista que preservou e ate cimentou o poder das velhas classes privilegiadas. Mas apenas recentemente os historiadores começaram a notar que um padrão similar ocorreu na Inglaterra e nos Estados Unidos. Bernard Semmel, no seu brilhante trabalho sobre a história do movimento social-imperialista na Inglaterra na virada do século XX, mostra como a Sociedade Fabiana recebeu bem a escalada dos imperialistas na Inglaterra. [6] Quando, nos meados dos anos 1890, o Partido Liberal da Inglaterra se dividiu nos radicais à esquerda e nos imperialistas liberais à direita, Beatrice Webb, co-líder dos Fabianos, denunciou os radicais como “laissez-faire e antiimperialistas”, enquanto saudava os últimos como “coletivistas e imperialistas”. Um manifesto oficial Fabiano, Fabianism and the Empire (1900), rascunhado por George Bernard Shaw (que mais tarde foi muito coerente ao apoiar as políticas domésticas de Stalin e Mussolini e Sir Oswald Mosley), glorificavam o imperialismo e atacavam os radicais, os quais “ainda estavam presos aos ideais fixos de republicanismo individualista (e) não-interferência”. Em contraste, “um Grande poder... deve governar (um império mundial) de acordo com os interesses da sociedade como um todo”. Após isso, os Fabianos colaboraram de perto com Tories e Liberal-Imperialistas. De fato, no fim de 1902, Sidney e Beatrice Webb estabeleceram um grupo pequeno e secreto de conselheiros, chamados The Coefficients [*8]; como um dos membros de alto escalão deste clube, o imperialista “Tory” Leopold S. Amery revelou: Sidney e Beatrice estavam muito mais preocupados em colocar em prática suas idéias de estado de bem-estar-social por qualquer um que estivesse pronto para ajudar, mesmo na escala mais modesta, do que com o triunfo de um francamente declarado Partido Socialista... Não havia, afinal de contas, nada muito estranho, como a carreira do próprio (Joseph) Chamberlain mostrou, numa combinação de Imperialismo nos assuntos externos com socialismo municipal ou semi-socialismo em casa. [7] Outros membros dos Coefficients, que, como escreveu Amery, iriam funcionar como “Conselheiros ou Supervisores de guerra” [*9] para o movimento, eram eles: o liberal-imperialista Richard B. Haldane; o geopolítico Halford J. Mackinder; o Imperialista e Germanófobo Leopold Maxse, editor do National Review [*10]; o socialista Tory e imperialista Viscount Milner; o imperialista naval Carlyon Bellairs; o famoso jornalista J. L. Garvin; Bernard Shaw; Sir Clinton Dawkins, parceiro do Morgan Bank; e Sir Edward Grey, que num encontro do clube foi o primeiro a sugerir a política de aliança com a França e a Rússia que desencadeou na Primeira Guerra Mundial.[8] A famosa traição durante a Primeira Guerra Mundial dos velhos ideais de pacifismo revolucionário pelos Socialistas Europeus, e até pelos Marxistas, não deve ter surpreendido de forma alguma; foi a personificação do colapso do Socialismo de Esquerda clássico o fato que cada Partido Socialista apoiou seu “próprio” governo nacional na guerra (com a honorável exceção do Partido Socialista de Eugene Victor Deb nos Estados Unidos). Desde então, os Socialistas e quase socialistas se uniram aos Conservadores num amálgama básico, aceitando o Estado e a Economia Mista (= neo-mercantilismo = estado de bem-estar-social = intervencionismo = capitalismo de monopólio estatal, meros sinônimos da mesma realidade essencial). Foi em reação a este colapso que Lênin rompeu com a Segunda Internacional para restabelecer o Marxismo revolucionário como um “revival” do socialismo de esquerda. De fato, Lênin, quase sem saber, conquistou mais que isso. É de conhecimento geral que movimentos de “purificação”, ansiosos em retornar à pureza clássica do movimento livre das recentes corrupções, geralmente purificam muito além daquilo que defendiam as fontes clássicas originais. Havia, na verdade, um notável caráter “conservador” nos escritos de Marx e Engels que freqüentemente justificava o Estado, o imperialismo Ocidental e o nacionalismo agressivo, e foram esses temas, na visão ambivalente dos Mestres deste assunto, que fomentaram a virada futura da maioria dos Marxistas para o campo dos “imperialistas sociais”. [9] O ambiente de Lênin se tornou mais “esquerdista” que o dos próprios Marx e Engels. A postura de Lênin em relação ao Estado era decididamente mais revolucionária, ele defendeu e apoiou coerentemente movimentos de liberação nacional contra o imperialismo. A virada Leninista era mais “esquerdista” em outros pontos importantes também. Enquanto Marx centrou seu ataque no capitalismo de mercado per se, o foco principal das preocupações de Lênin estava no que ele considerava os estágios mais altos de capitalismo: imperialismo e monopólio. Conseqüentemente, o foco de Lênin era de certa forma muito mais natural para o Libertário que o de Karl Marx, uma vez que era concentrado, na prática, no monopólio estatal e imperialismo em vez de se preocupar com o capitalismo laissez-faire. No passado recente, os rachas no mundo Leninista trouxeram à tona uma tendência ainda mais esquerdista: a dos Chineses. Em sua ênfase quase exclusiva na revolução em países subdesenvolvidos, os Chineses, além de ridicularizarem os compromissos direitistas Marxistas com o Estado, focaram sem erros sua hostilidade nas posses de terra feudais e quase feudais, e no imperialismo Ocidental. Nesse abandono virtual da ênfase Marxista clássica na classe trabalhadora, os Maoístas concentraram os esforços Leninistas ainda mais na derrubada das maiores fortalezas da Velha Ordem no mundo moderno. [10] Fascismo e Nazismo eram a culminação nos assuntos domésticos da guinada moderna em relação ao coletivismo de direita. Tornou-se comum entre libertários, como também ao Establishment do Ocidente, considerar o Fascismo e Comunismo como fundamentalmente idênticos. Mas enquanto ambos os sistemas eram indubitavelmente coletivistas, eles eram bastante diferentes em se tratando de assuntos socioeconômicos. Comunismo era um movimento genuinamente revolucionário que cruelmente deslocava e sobrepujava as velhas classes dominantes, enquanto fascismo, ao contrário, cimentava as velhas classes dominantes no poder. Dessa forma, o fascismo era um movimento contra-revolucionário que congelava um arranjo de privilégios monopolísticos na sociedade; em resumo, o Fascismo foi a apoteose do moderno capitalismo de monopólio estatal. [11] Por esta razão o fascismo provou ser muito atrativo aos interesses das grandes corporações no Ocidente (o que o comunismo, claro, nunca conseguiu) – abertamente e de forma desconcertante nos anos de 1920 e início da década de 1930. [12] Estamos agora em condições de aplicar nossa análise ao cenário americano. Aqui nós encontramos o contrastante mito sobre a recente história Americana o qual tem sido propagado por conservadores contemporâneos e adotado pela maior parte dos libertários Americanos. O mito segue aproximadamente da seguinte maneira: os Estado Unidos eram, mais ou menos, um refúgio de laissez-faire até o New Deal; então Roosevelt, influenciado por Felix Frankfurter, a Intercollegiate Socialist Society [*11], e outros conspiradores “Fabianos” e comunistas engendraram uma revolução que colocou os Estados Unidos no caminho do socialismo, e num futuro mais distante, do comunismo. O libertário atual que adota esta ou uma visão similar da experiência americana tende a enxergar a si mesmo como um “direitista extremo”; estando um pouco à esquerda dele o Conservador, à esquerda o meio-termo, e então no campo da esquerda o socialismo e comunismo. Explica-se então a enorme tentação de alguns libertários em “caçar vermelhos” [*12]. Já que eles enxergam o país caminhado inexoravelmente à esquerda, para o socialismo e, assim, comunismo, a grande tentação é ignorar os estágios intermediários e condicionar toda sua oposição aos odiados Vermelhos. Alguém pensaria que o “libertário de extrema direita” rapidamente seria capaz de ver algumas falhas drásticas nessa concepção. Primeiro, a emenda do imposto de renda, a qual ele lamenta como o começo do socialismo nos Estados Unidos, foi ratificado pelo Congresso em 1909 pela maioria esmagadora dos dois partidos. Olhar para esse evento como um movimento brusco de esquerda em direção ao socialismo requereria tratar o presidente William Howard Taft, o qual ratificou a décima sexta Emenda, como um Esquerdista, e com certeza poucos teriam a temeridade de fazê-lo. De fato, o New Deal não foi em sentido algum uma revolução; todo seu programa coletivista foi antecipado: proximamente por Herbert Hoover durante a depressão, e, além daí, pelo coletivismo de guerra e planejamento central que governou o país durante a Primeira Guerra Mundial. Todo elemento no programa do New Deal: planejamento central, criação de uma rede de cartéis compulsórios para a indústria e agricultura, inflação e expansão do crédito, elevação artificial de salários e promoção de sindicatos no interior da estrutura monopolística geral, regulação e propriedade governamental, tudo isso tinha sido antecipado e esboçado durante as duas décadas anteriores [13]. E esse programa, com suas garantias de privilégios à vários interesses dos grandes negócios no topo da pilha coletivista, não era de forma alguma remanescente do socialismo ou esquerdismo; não havia nada cheirando [*13] à igualitarismo ou proletariado aqui. Não, o berço desse coletivismo explosivo não era de forma alguma o Socialismo-Comunismo, mas sim o Fascismo, ou Socialismo- da-direita, um berço o qual muitos grandes empresários dos anos vinte expressaram abertamente em seu desejo de abandono de um sistema quase laissez-faire para um coletivismo o qual pudessem controlar. E, com certeza, William Howard Taft, Woodrow Wilson, e Herbert Clark Hoover se fazem figuras muito mais reconhecíveis como proto-Fascistas do que como cripto- Comunistas. A essência do New Deal foi compreendida, de maneira muito mais clara do que na mitologia conservadora, pelo movimento Leninista do começo dos anos 30 – isto é, até a metade da década, quando as exigências das relações externas Soviéticas causaram uma mudança brusca da linha mundial Comunista para a aprovação estilo “Frente Popular” do New Deal. Dessa forma, em 1934, o teórico Leninista britânico R.Palme Dutt publicou uma curtaporém severa análise do New Deal como “fascismo social” – já que a realidade do Fascismo era encoberta com verniz de demagogia populista. Nenhum oponente conservador trouxe antes uma denúncia mais vigorosa ou incisiva do New Deal. As políticas de Roosevelt, escreveu Dutt, iriam “se mover em direção à uma forma de ditadura de guerra”; as políticas essenciais visavam impor um capitalismo de monopólio estatal através da NRA [*14], subsidiar negócios, bancos e agricultura através de inflação de expropriação parcial da massa do povo através de salários reais mais baixos [*15], e regular e explorar o trabalho se utilizando de salários governamentais fixos e arbitração compulsória. Quando o New Deal, escreveu Dutt, é retirado de sua “camuflagem social reformista progressiva”, “a realidade do novo tipo de sistema Fascista de capitalismo de estado concentrado e servidão industrial permanece”, incluindo um implícito “avanço á guerra”. Dutt efetivamente concluiu com uma citação de um editor da muito respeitada “Current History Magazine”: ”A nova América (o editor escreveu no meio de 1933) não será capitalista no sentido antigo, nem será Socialista. Se no momento a moda é em direção ao Fascismo, será então um Fascismo Americano, incorporando a experiência, as tradições e as esperanças de uma grande nação da classe média”. [14] Assim, o New Deal não foi um rompimento qualitativo com o passado Americano; pelo contrário, foi meramente uma extensão da rede de privilégios estatais que tinha sido proposta e trabalhada anteriormente: na administração Hoover, no coletivismo de guerra da Primeira Guerra Mundial, e na Era Progressiva. A exposição mais profunda das origens do capitalismo de monopólio estatal nos Estados Unidos, ou o que é chamado pelo autor de “capitalismo político” se encontra no brilhante trabalho do Dr. Gabriel Kolko. Em seu Triumph of Conservatism [*16], Kolko traça as origens do capitalismo político nas “reformas” da Era Progressiva. Historiadores ortodoxos sempre trataram o período Progressivo (basicamente 1900-1916) como uma época onde o capitalismo de livre-mercado estava se tornando crescentemente “monopolístico”; em reação à esse reino do monopólio e dos grandes negócios, assim diz a história convencional, intelectuais altruístas e políticos visionários se utilizaram de intervenção governamental para reformar e regular esses males. O grande trabalho de Kolko demonstra que a realidade era quase precisamente o oposto desse mito. Apesar da onda de fusões e trustes formados lá pelo início do século, Kolko revela que as forças da competição e do livre-mercado rapidamente enfraqueceram e dissolveram essas tentativas de estabilizar e perpetuar o poder econômico dos interesses dos grandes negócios. Foi precisamente em reação a essa iminente derrota nas mãos das chuvas competitivas do mercado que tais negócios se voltaram, cada vez mais após 1900, para o governo federal para buscar ajuda e proteção. Em resumo, a intervenção do governo federal foi planejada não para restringir o monopólio em benefício do bem estar público, mas sim para criar monopólios que os grandes negócios (assim como trade associations e negócios menores) não teriam sido capazes de estabelecer em meio às tempestades do livre-mercado. Ambas Direita e Esquerda tem sido persistentemente enganadas pela noção de que intervenção governamental é ipso facto esquerdista e anti-negócios. Consequentemente a mitologia do New-Fair-Deal como “vermelho” é endêmica na Direita. Ambos os grandes negócios, liderados pelos interesses de Morgan [*17], e professor Kolko, de forma quase única no mundo acadêmico, perceberam que privilégios monopolísticos podem ser criados apenas pelo Estado e não como um resultado de operações de livre-mercado. Dessa forma, Kolko mostra que, começando com o “New Nationalism (Novo Nacionalismo)” Theodore Roosevelt e culminando na “New Freedom (Nova Liberdade)” de Wilson, em ramo após ramo, por exemplo, seguros, bancos, carne, exportações e negócios em geral, regulações que Direitistas contemporâneos consideram “socialistas” não foram aclamadas uniformemente, mas concebidas e animadas por grandes empresários. Esse foi um esforço para jogar sobre a economia um cimento de subsídios, estabilização, e privilégios monopolísticos. Uma visão típica era de Andrew Carnegie; profundamente preocupado com a competição na indústria de aço, a qual nem a formação da US.Steel nem os famosos “Jantares de Gary” patrocinados por essa companhia de Morgan puderam deter, Carnegie declarou em 1908 que “sempre me volta a cabeça que o controle Governamental, e apenas ele, irá resolver o problema apropriadamente.” Não há nada mais alarmante com relação a intervenção governamental per se, anunciou Carnegie, “o capital está perfeitamente seguro na companhia de combustíveis, apesar de estar sob controle dos tribunais. Assim todo o capital estará, apesar de sob o controle Governamental...” [15] O Partido Progressista, como mostra Kolko, era basicamente um partido criado por Morgan para reeleger Roosevelt e punir o presidente Taft, o qual havia sido super-zeloso ao perseguir as empresas de Morgan; os trabalhadores sociais de esquerda costumaram mesmo sem saber prover uma cobertura demagógica para um movimento estatista conservador. A “New Freedom” de Wilson, culminando na criação da Federal Trade Comission (FTC) [*18], longe de ser considerada perigosamente socialista pelos grandes negócios, foi recebida entusiasticamente ao implementar seu há muito elogiado programa de suporte, privilégio, e regulação da competição (e o coletivismo de guerra de Wilson foi recebido de maneira ainda mais exuberante). Edward N. Hurley, presidente da FTC e antigo presidente da Associação de Manufatureiros de Illinois, alegremente anunciou, no fim de 1915, que a FTC foi criada para “fazer para os negócios em geral” o que a ICC [*19] vinha avidamente fazendo para as estradas de ferro e marinheiros, o que o Federal Reserve [*20] vinha fazendo pelos banqueiros, e o que o Departamento de Agricultura vinha realizando para os fazendeiros [16]. Como aconteceria de maneira mais dramática no Fascismo Europeu, cada grupo de interesse econômico estava sendo cartelizado e monopolizado e encaixado em seu nicho de privilégio numa estrutura sócio-econômica hierarquicamente organizada. Particularmente influentes eram as opiniões de Arthur Jerome Eddy, um eminente advogado de corporações que se especializou em formar associações comerciais e que ajudou a criar a FTC. Em sua obra magna, denunciando inflamadamente a competição nos negócios e clamando por proteção industrial e “cooperações” controladas pelo governo, Eddy proclamou que “Competição era Guerra e Guerra era inferno”. [17] E quanto aos intelectuais do período Progressivo, condenados pela direita presente como “socialistas”? Socialistas em certo sentido eles eram, mas que tipo de “socialismo”? O Socialismo Estatal conservador da Alemanha de Bismarck, o protótipo de muitas das formas políticas Européias e Americanas, e sob o qual a massa de intelectuais Americanos do final do século dezenove recebiam seu ensino superior. Como diz Kolko: “O conservadorismo dos intelectuais contemporâneos, (...) a idealização do estado por Lester Ward, Richard T. Ely, ou Simon N. Patten... foi também o resultado de um treinamento peculiar de muitos dos acadêmicos Americanos desse período. Ao final do século dezenove a influência primária na teoria acadêmica social e econômica Americana foi exercida pelas universidades. A idealização Bismarckiana do estado, com suas funções de bem-estar centralizadas... foi apropriadamenterevisada pelos milhares de acadêmicos chave que estudaram nas universidades alemãs nas décadas de 1880 e 1890...” [18] O ideal dos principais professores alemães ultra-conservadores, que, aliás, também eram chamados de “socialistas de cadeira” [*21], era se tornar em “guarda-costas intelectuais da casa de Hohenzollern” – e eles realmente eram. Como um exemplo do intelectual Progressivo, Kolko cita aptamente Hervert Croly, editor da financiada por Morgan “New Republic”. Ao sistematizar o “Novo Nacionalismo” de Theodore Roosevelt, Crolly saudou esse novo Hammiltonianismo como um sistema para controle federal coletivista e integração da sociedade numa estrutura hierárquica. Antecipando direto da Era Progressiva, Gabriel Kolko conclui que: “uma síntese de negócios e política a nível federal foi criada durante a guerra, em várias agências administrativas e emergenciais, que continuaram ao longo da década seguinte. De fato, o período de guerra representa o triunfo dos negócios da maneira mais enfática possível... os grandes negócios ganharam total suporte das várias agências regulatórias e do Executivo. Foi durante a guerra que um oligopólio efetivo, funcional e acordos de preços e mercados se tornaram operacionais nos setores dominantes da economia Americana. A rápida difusão de poder na economia e a entrada relativamente fácil virtualmente acabaram. Apesar da cessação da aprovação de novas leis importantes, a união dos negócios com o governo federal continuou durante a década de 20 e depois, utilizando as fundações montadas na Era Progressiva para estabilizar e consolidar condições entre os vários ramos de negócio... O princípio de utilizar o governo federal para estabilizar a economia, princípio estabelecido no contexto do industrialismo moderno durante a Era Progressiva, se tornou a base do capitalismo político em suas diversas ramificações posteriores. Nesse sentido o progressivismo não morreu nos anos 20, mas se tornou uma parte básica do tecido da sociedade Americana.” [19] Dessa forma chegamos ao New Deal. Após um pouco de agitação esquerdista na metade e final dos anos 30, a administração Roosevelt re-cimentou sua aliança com os grandes negócios na economia de defesa nacional e contratos de guerra que começaram em 1940. Essa era uma economia e um regime que vem comandando a América desde então, personificada na economia de guerra permanente, num completamente desenvolvido capitalismo monopolista e neo-mercantilismo, no complexo militar-industrial da era presente. As características essenciais da sociedade Americana não mudaram desde que a última foi profundamente militarizada e politizada na Segunda Guerra Mundial – com exceção do fato das tendências terem se intensificado, e até mesmo na vida cotidiana os homens foram cada vez mais moldados para se conformar com o “Homem Organizacional” [*22] servindo o Estado e seu complexo militar-industrial. William H. Whyte Jr, em seu merecidamente famoso livro “The Organization Man”, deixou claro que esse molde se fez em meio a adoção de visões coletivistas de sociólogos “iluminados” e outros engenheiros sociais por parte do mundo dos negócios. Também é claro que essa harmonia de visões não é simplesmente o resultado de inocência por parte dos grandes empresários – nem quando tal “inocência” coincide com a necessidade de comprimir o trabalhador e gerente no molde do servidor disposto na grande burocracia da máquina militar-industrial. E, sob o disfarce de “democracia”, a educação se tornou um mero treinamento em massa nas técnicas de ajuste à tarefa de se tornar uma parte na engrenagem da vasta máquina burocrática. Enquanto isso, os Republicanos e Democratas continuam bipartidários ao formar e apoiar esse Establishment da mesma forma em que faziam nas duas primeiras décadas do século vinte. “Me tooism” – apoio bipartidário ao status quo que fundamenta as diferenças superficiais entre os partidos – não começou em 1940. Como foi que a guarda militar dos libertários remanescentes reagiu a essas mudanças do espectro ideológico na América? Uma resposta instrutiva pode ser encontrada ao se olhar a carreira de um dos grandes libertários da América do século vinte: Albert Jay Nock. Na década de 20, quando Nock formulou sua filosofia libertária radical, ele foi universalmente considerado um membro da extrema esquerda, e assim ele também o fez. É sempre essa a tendência, na vida política e ideológica, em concentrar suas atenções ao maior inimigo da época, e o maior inimigo da época foi o estatismo conservador da administração de Coolige-Hoover: era natural, então, para Nock, seu amigo e companheiro libertário Mencken, e outros radicais em se unir com quase- socialistas em uma batalha contra o inimigo comum. quando o New Deal sucedeu Hoover, por outro lado, os socialistas vacilantes e vagos esquerdistas intervencionistas pularam em seu vagão; na Esquerda, apenas libertários como Nock e Mencken, e os Leninistas (antes do período da Frente Popular) perceberam que Roosevelt era apenas uma continuação de Hoover em outra retórica. Era perfeitamente natural para radicais formarem uma frente unida contra FDR [*23] com velhos conservadores como Hoover e Al Smith que acreditavam que Roosevelt tinham ido longe demais ou não gostavam de sua retórica populista exibicionista. Mas o problema foi que Nock e seus companheiros radicais, de início propriamente ridicularizando seus novos aliados, logo começaram a aceitá-los e até vestiram alegremente o antigamente desprezado rótulo de “conservador”. Com os radicais comuns, essa mudança aconteceu, já que existem muitas transformações de ideologia na história, sem saber e por culpa de liderança ideológica apropriada; para Nock, e até certo ponto para Mencken, por outro lado, o problema foi ainda mais profundo. Isso porque sempre houve uma grave falha na brilhante e bem-afiada doutrina libertária martelada em suas diferentes visões por Nock e Mencken; ambos adotaram o grande erro do pessimismo. Ambos não viam esperança na raça humana adotar algum dia o sistema da liberdade; sem esperanças de que a radical doutrina da liberdade fosse algum dia aplicada na prática, cada um à sua maneira pessoal se eximiu da responsabilidade de liderança ideológica, Mencken de maneira feliz e hedonista, Nock de maneira arrogante e secreta. Apesar da contribuição maciça de ambos à causa da liberdade, dessa forma, nenhum poderia nuca se tornar o líder consciente de um movimento libertário: como ambos não podiam ver o partido da liberdade como o partido da esperança, o partido da revolução, ou a fortiori, o partido do messianismo secular. O erro do pessimismo é o primeiro passo abaixo na ladeira escorregadia que leva ao Conservadorismo; e consequentemente era muito fácil para o radical pessimista Nock, mesmo ainda basicamente um libertário, aceitar o rótulo conservador e até resmungar a superficialidade que existe numa presunção a priori contra qualquer mudança social. É fascinate que Albert Jay Nock seguiu então o caminho ideológico de seu prezado ancestral espiritual Herbert Spencer; ambos começaram como puros radicais libertários, ambos rapidamente abandonaram táticas radicais ou revolucionárias que estavam presentes em seu desejo de colocar suas teorias em prática através de ação em massa, e ambos eventualmente escorregando de táticas “Tory” para um conteúdo “Tory” pelo menos parcial. E então os libertários, especialmente em seu sentido de onde se localizavam no espectro ideológico, se fundiram com os antigos conservadores que foram forçados a adotar o vocabulário libertário (mas com nenhum conteúdo libertário real)ao se opor à administração Roosevelt que havia se tornado coletivista demais, tanto em retórica quanto em conteúdo. A Segunda Guerra Mundial reforçou e cimentou essa aliança; em contraste com todas as guerras Americanas anteriores do século, as forças pró-paz e “isolacionistas” foram todas identificadas, por seus inimigos e subsequentemente por elas mesmas, como homens da “Direita”. Ao final da Segunda Guerra Mundial, era hábito para os libertários se considerarem no pólo de “extrema direita” junto com os conservadores imediatamente ao seu lado; e consequentemente o grande erro do espectro persiste até hoje. Em particular, os libertários modernos esqueceram ou nunca perceberam que a oposição à guerra sempre foi uma tradição de “esquerda” que incluía os libertários; e dessa maneira quando a aberração histórica do período do New Deal se corrigiu e a “Direita” era novamente a grande defensora da guerra total, os libertários estavam despreparados para compreender o que estava acontecendo e seguiram na cola de seus supostos “aliados” conservadores. Os liberais tinham perdido completamente suas diretrizes e marcas ideológicas. Dada uma própria reorientação do espectro ideológico, quais então seriam os prospectos para a liberdade? Não é mistério que o libertário contemporâneo, vendo o mundo se tornar socialista e Comunista, e crendo ser virtualmente isolado e barrado de qualquer prospecto para a ação unida em massa, tende a ser empapado por um pessimismo à longo prazo. Mas a cena brilha imediatamente quando percebemos que esse requisito indispensável da ordem moderna, a derrubada da Velha Ordem, foi realizada através de ação libertária em massa desembocando em grandes revoluções do Ocidente como as Revoluções Francesa e Americana, e trazendo as glórias da Revolução Industrial e os avanços da liberdade, mobilidade, e maiores padrões de vida que possuímos atualmente. Apesar das oscilações reacionárias de volta ao estatismo, o mundo moderno se mantém acima do mundo do passado. Quando consideramos também que, de uma maneira ou de outra, a Velha Ordem do despotismo, feudalismo, teocracia e militarismo dominou toda civilização humana até o Ocidente do século dezoito, o otimismo sobre o que o homem conseguiu e pode ainda atingir fica ainda maior. Poderia ser replicado, entretanto, que esse inóspito arquivo histórico de despotismo e estagnação apenas aumenta o pessimismo, já que ele mostra a persistência e a durabilidade da Velha Ordem e a aparente fragilidade e desaparecimento da Nova – especialmente com o regresso do século passado. Mas uma análise superficial negligencia a grande mudança que ocorreu com a Revolução da Nova Ordem, uma mudança que é claramente irreversível. A Velha Ordem foi capaz de persistir com seu sistema de escravidão por séculos precisamente porque ela não faz nascer nenhuma expectativa ou esperanças nas mentes das massas submersas; seu destino era sobreviver com seu consumo de subsistência na escravidão enquanto obedeciam sem questionar os comandos de seus mestres apontados divinamente. Mas a Revolução liberal implantou permanentemente nas mentes das massas – não apenas no Ocidente, mas no mundo subdesenvolvido de domínio ainda feudal – o ardente desejo por liberdade, por terras para os camponeses, por paz entre as nações, e, talvez acima de tudo, por mobilidade e melhores padrões de vida que podem ser trazidos a ele apenas pela civilização industrial. As massas nunca irão aceitar novamente a servidão sem sentido da Velha Ordem; e dadas essas demandas que foram acordadas pelo liberalismo e pela Revolução Industrial, a vitória em longo prazo da liberdade é inevitável. Apenas a liberdade, apenas um livre mercado, pode organizar e manter um sistema industrial, e quanto mais a população se expande e explode, mais é necessário o trabalho desimpedido de tal economia industrial. Laissez-faire e o livre mercado se tornaram cada vez mais necessários conforme o sistema industrial se desenvolve; desvios radicais causam panes e crises econômicas. Essas crises de estatismo se tornam particularmente dramáticas e agudas numa sociedade socialista; e consequentemente a inevitável derrocada do estatismo primeiro se tornou aparentemente visível nos países do campo socialista (isto é, Comunista). O socialismo confronta sua suas contradições internas de maneira severa. Desesperadamente, ele tenta cumprir suas metas proclamadas de crescimento industrial, padrões de vida mais altos para as massas, e eventual desaparecimento do Estado, e é cada vez menos capaz de fazê-lo através de meios coletivistas. Assim temos a inevitável derrocada do socialismo. Essa derrocada progressiva do planejamento socialista foi primeiramente obscurecida de forma parcial. Isso porque em todos os casos os Leninistas tomaram o poder não num país capitalista como Marx erroneamente previu, mas num país sofrendo a opressão do feudalismo. Depois, os Comunistas não tentaram impor o socialismo sobre a economia depois de muitos anos após terem tomado o poder: na Rússia Soviética até a coletivização forçada de Stalin no começo da década de 30 ter revertido a perspicácia da Nova Política Econômica [*24] de Lênin, cujo teórico favorito Bukharin teria estendido em direção a um livre mercado. Mesmo os supostos fanáticos líderes Comunistas da China não impuseram uma economia socialista naquele país até o final dos anos 50. Em todos os casos, a crescente industrialização impôs uma série de problemas econômicos tão severos que os países Comunistas, contra seus princípios ideológicos, tiveram que recuar passo a passo do planejamento central e retornar a vários degraus e formas de um livre mercado. O Plano Liberman para a União soviética ganhou um bocado de publicidade; mas o processo inevitável de dessocialização seguiu mais longe ainda na Polônia, Hungria e Checoslováquia. A mais avançada de todas foi na Iugoslávia, a qual liberta da rigidez Stalinista antes que suas parceiras, em uma dúzia de anos se dessocializou tão rápido e tão avançadamente que sua economia agora é pouco mais socialista do que a da França. O fato de que pessoas se rotulando de “Comunistas” ainda governam o país é irrelevante para os fatos sociais e econômicos básicos. O planejamento central na Iugoslávia virtualmente desapareceu; o setor privado predomina não só na agricultura mais é forte até na indústria, e o setor público em si foi tão radicalmente descentralizado e colocado sob livre precificação, testes de lucros e perdas, e posse cooperativa dos trabalhadores de cada planta que o socialismo em si quase não existe mais. Apenas o passo final de converter o controle sindical dos trabalhadores em cotas individuais de propriedade fica no caminho em direção ao capitalismo. A China Comunista e os hábeis teóricos Marxistas da Monthly Review discerniram claramente a situação e soaram o alarme de que a Iugoslávia não é mais um país socialista. Alguém poderia pensar que os economistas de livre-mercado saudariam a confirmação e contínua relevância do notável insight do Professor Ludwig von Mises há meio século: que os Estados socialistas, sendo necessariamente desprovidos de um sistema de preços genuíno não poderiam calcular economicamente e assim não poderiam planejar sua economia com sucesso algum. De fato, um seguidor de Mises efetivamente previu esse processo de dessocialização num romance há alguns anos. Mesmo assim nem esse autor nem outro economista de livre-mercado mostraram a menor indicação de ao menos reconhecer, para não falar em cumprimentar esse processo nos países Comunistas – talvez porque sua visão quase histérica da suposta ameaça do Comunismoos previne de compreender qualquer dissolução no suposto monólito da ameaça [20]. Países comunistas, então, estão cada vez mais e de forma não erradicável forçados a se dessocializarem, e acabarão inevitavelmente atingindo o livre- mercado. A condição dos países subdesenvolvidos também é motivo para otimismo libertário sustentado. Em todo o mundo, os habitantes de nações subdesenvolvidas estão engajados na revolução de se livrarem de sua Velha Ordem feudal. É verdade que os EUA estão fazendo seu melhor para suprimir esse mesmo processo revolucionário que um dia livrou ele e a Europa Ocidental das algemas da Velha Ordem; mas é cada vez mais claro que mesmo um devastador poder armado não pode suprimir o desejo das massas de irromper no mundo moderno. Sobram assim os EUA e os países da Europa Ocidental. Aqui, o motivo para otimismo é menos claro, uma vez que o seu sistema quase coletivista não apresenta uma crise de auto-contradição tão clara como o socialismo. E ainda por cima, muitas crises econômicas se aproximam no futuro e nos consumirão com a complacência dos gerentes econômicos Keynesianos: inflação assustadora, refletida no agravante colapso do balanço de pagamentos do um dia todo poderoso dólar; assustador desemprego persistente trazido através da fixação de salários mínimos; e a acumulação profunda e de longo prazo das distorções não econômicas da economia de guerra permanente. Além disso, crises potenciais nos EUA não são meramente econômicas; há um florescente e inspirador fermento moral em meio a juventude da América contra as correntes da burocracia centralizada, da educação de massas uniformes, e da brutalidade e opressão exercidas pelos asseclas do Estado. Somando-se a isso tudo, a manutenção de um grau substancial de liberdade de expressão e formas democráticas facilita, pelo menos no curto prazo, o possível crescimento de um movimento libertário. Os EUA têm sorte em possuírem, mesmo se meio esquecida em meio ao ofuscamento estatista e tirânico da última metade de século, uma grande tradição de pensamento e ação libertários. O próprio fato de que muita dessa herança ainda é refletida na retórica popular, mesmo estando desprovida de significância na prática, garante uma base ideológica substancial para um futuro partido da liberdade. O que os Marxistas chamaram de “condições objetivas” para o triunfo da liberdade existem, então, em todo o mundo, e mais do que em qualquer época passada; em todos os lugares as massas optaram por melhores padrões de vida e promessa de liberdade e sempre os vários regimes de estatismo e coletivismo não conseguiram cumprir essas metas. O que é necessário então são simplesmente “condições subjetivas” para a vitória, isto é, um grupo crescente de libertários informados que espalharão a mensagem para os povos do mundo de que a liberdade e um mercado puramente livre proporcionam a saída para seus problemas e crises. A liberdade não pode ser completamente alcançada a menos que libertários existam em número suficiente para guiar as pessoas para a trilha apropriada. Mas talvez o maior impedimento para a criação de tal movimento seja a desesperança e pessimismo típicos do libertário no mundo atual. Muito desse pessimismo é devido a sua má leitura da história e sua crença de serem ele e seu punhado de colegas irremediavelmente isolados das massas e por tabela dos ventos da história. Consequentemente ele se torna um crítico isolado dos eventos históricos ao invés de uma pessoa que se considera parte de um movimento potencial e que pode e irá fazer história. O libertário moderno esqueceu que o liberal dos séculos XVII e XVIII enfrentou dificuldades incrivelmente maiores do que enfrenta o liberal de hoje; já que naquela era anterior a Revolução Industrial a vitória do liberalismo estava longe de ser inevitável. E mesmo assim o liberalismo daquele dia não estava contente em continuar uma pequena seita obscura; ao invés disso, unificou teoria e ação. O liberalismo cresceu e se desenvolveu como uma ideologia e, liderando e guiando as massas, fez a Revolução que mudou o destino do mundo; através de sua monumental penetração, a Revolução do século XVIII transformou a história de uma crônica de estagnação e despotismo em um movimento contínuo avançando em direção a uma verdadeira Utopia secular de liberdade e racionalidade e abundância. A Velha Ordem está morta ou moribunda; e as tentativas reacionárias de conduzir a moderna sociedade e economia através de regressos a Velha Ordem estão fadadas ao fracasso total. Os liberais do passado deixaram aos libertários modernos uma herança gloriosa, não apenas de ideologia, mas de vitórias contra perspectivas mais devastadoras. Os liberais do passado também deixaram uma herança de estratégias e táticas apropriadas a serem seguidas pelos libertários: não apenas liderando ao invés de ficar distante das massas; mas também de não ser vítima do otimismo de curto prazo. O otimismo de curto prazo, sendo irrealista, leva direto à desilusão e então ao pessimismo de longo prazo; assim como, por outro lado, pessimismo de longo prazo leva à exclusiva e auto-destrutiva concentração em assuntos imediatos e de curto prazo. Otimismo de curto prazo deriva de uma coisa, de uma visão de estratégia ingênua e simplista: que a liberdade irá ganhar meramente ao se educar mais intelectuais, os quis então educarão formadores de opinião, os quais por sua vez irão convencer as massas, e após tudo o Estado irá de alguma forma enrolar suas barracas e desaparecer silenciosamente. As coisas não são assim tão fáceis; os libertários não enfrentam um problema apenas de educação mas também um de poder; e é uma lei da história que a casta dominante nunca entregou seu poder voluntariamente. Mas certamente o problema do poder está, nos EUA, bem no futuro. Para o libertário, a tarefa principal da época presente está em se livrar de seus desnecessário e debilitante pessimismo, alçar suas visões na vitória à longo prazo e estabelecer o caminho para atingi-la. Para fazer isso ele deve, talvez antes de tudo, drasticamente realinhar sua visão errada do espectro ideológico; ele deve descobrir quem são seus aliados naturais, e talvez acima de tudo, quem são seus inimigos. Armado com esse conhecimento, deixe-o proceder no espírito do otimismo radical de longo prazo que uma de nossas grandes figuras da história do pensamento libertário, Randolph Bourne, corretamente identificou como o espírito da juventude. Deixe as palavras emocionantes de Bourne servirem também como uma sinalização para o espírito da liberdade: “a juventude é a encarnação da razão contrastada com a rigidez da tradição. A juventude coloca sem remorsos questões à tudo que é velho e estabelecido – Por que? Porque isso é bom? E quando ela enfrenta as respostas evasivas, resmungadas dos defensores ela aplica seu próprio espírito limpo, fresco de razão às instituições, costumes, e idéias, e achando- as estúpidas, vazias ou venenosas, trabalha instintivamente para derruba-las e construir em seu lugar as coisas com as quais suas visões transbordam... A juventude é a levedura que mantém todos esses questionamentos, testando atitudes fermentando no mundo. Se não fosse por essa atividade problemática da juventude, com seu ódio de sofismas e disfarces, sua insistência nas coisas como elas são, a sociedade morreria por pura decadência. É a política da geração mais velha assim que ela se ajusta ao mundo esconder as coisas desagradáveis aonde pode, ou preservar uma conspiração de silêncio e uma elaborada pretensão de que elas não existem. Mas enquanto isso as feridas vão inflamando, domesmo jeito. A juventude é o anti-séptico drástico... Ela traz à discussão assuntos indesejados [*25] e insiste que sejam explicados. Não surpreende que a geração mais velha tema e não confie na mais nova. A juventude é a Nêmesis vingativa no seu rastro. Nossos anciões estão sempre otimistas em suas visões do presente, pessimistas em suas visões do futuro; a juventude é pessimista com relação ao presente e gloriosamente otimista com relação ao futuro. E é essa esperança que é a levedura do progresso – a única levedura do progresso poderia ser dito... O segredo da vida é então que esse belo espírito de juventude nunca se perca. Da turbulência da juventude deveria surgir esse magnífico precipitado – um espírito são, forte, agressivo de ousadia e ação. Deve ser um espírito crescente, flexível, com hospitalidade á novas idéias, e uma percepção acurada à experiência. Manter as reações quentes e verdadeiras é ter achado o segredo da juventude perpétua, e a juventude perpétua é a salvação. [21]” Notas do Texto: [1] Gertrude Himmelfarb, Lord Acton (Chicago: University of Chicago Press, 1962), pp. 204-205. [2] Ibid., p. 209. [3] Cf. Carl Becker, The Declaration of Independence (New York: Vintage Books ed., 1958), Chapter VI. [4] A informação sobre Comte e Dunoyer, assim como a análise completa do espectro ideológico eu devo ao Sr. Leonard P. Liggio. Para uma ênfase no aspecto dinâmico e positivo da guinada Utópica, muito caluniada em nossa época, ver Alan Milchman, "The Social and Political Philosophy of Jean- Jacques Rousseau: Utopia and Ideology," The November Review (November, 1964), pp. 3-10. Também cf., Jurgen Ruhle, "The Philosopher of Hope: Ernst Bloch," em Leopold Labedz, ed., Revisionism (New York: Praeger, 1962), pp. 166-178. [5] Joseph A. Schumpeter, Imperialism and Social Classes (New York: Meridian Books, 1955), p. 175. Schumpeter, acidentalmente, percebeu que, longe de ser um estágio inerente do capitalismo, o imperialismo moderno era um regresso ao imperialismo pré-capitalista de eras anteriores, mas com uma minoria de capitalistas privilegiados agora unidos às castas militares e feudais ao promover agressão imperialista. [6] Bernard Semmel, Imperialism and Social Reform: English Social-Imperial Thought, 1895-1914 (Cambridge: Harvard University press, 1960). [7] Leopold S. Amery, My Political Life (London, 1953), citado em Semmel, op. cit., pp. 74-75. [8] O argumento, é claro, não é que esses homens foram produtos de alguma “conspiração Fabiana”; mas, pelo contrário, que o Fabianismo, na virada do século, era um Socialismo tão conservadorizado ao ponto de estar proximamente aliado com outras tendências neo-Conservadoras na vida política Britânica. [9] Assim, ver Horace B. Davis. "Nations, Colonies, and Social Classes: The Position of Marx and Engels," Science and Society (Winter, 1965), pp. 26-43. [10] A cismática ala do movimento Trotskista incorporado no Comitê Internacional para a Quarta Internacional é agora o único grupo dentro do Marxismo-Leninismo que continua a enfatizar exclusivamente a classe trabalhadora industrial. [11] Ver o artigo penetrante de Alexander J. Groth, "The 'Isms' in Totalitarianism," American Political Science Review (December, 1964), pp. 888-901. Groth escreve: “Os Comunistas... tomaram geralmente medidas direta e indiretamente arrancando pela raiz as elites socioeconômicas existentes: a nobreza proprietária de terras, empresários, grandes seções da classe média e camponeses, assim como as elites burocráticas, os militares, o serviço civil, o judiciário e os corpos diplomáticos... Em segundo lugar, em todos os exemplos de tomada Comunista do poder houve um significante comprometimento propagandístico com um estado proletário ou dos trabalhadores... (o qual) foi acompanhado de oportunidades de ascensão social para as classes economicamente mais baixas, em termos de educação e emprego, as quais invariavelmente excederam consideravelmente as oportunidades disponíveis sob regimes passados. Finalmente, em todos os casos os Comunistas tentaram mudar basicamente o caráter dos sistemas econômicos que caíram sob seu jugo, tipicamente de uma economia agrária para uma industrial... O Fascismo (tanto na versão Alemã quanto na Italiana)... foi sócio-economicamente um movimento contra-revolucionário... Ele certamente não despossuiu nem aniquilou as elites socioeconômicas existentes... Pelo contrário, o Fascismo não deteve a tendência à concentração monopolística nos negócios mas ao invés disso aumentou tal tendência... Sem dúvida, o sistema econômico Fascista não foi uma economia de livre- mercado, e consequentemente não foi “capitalista” se se deseja restringir o uso desse termo para um sistema laissez-faire. Mas ele não operava... para preservar a existência, e manter as recompensas materiais das existentes elites socioeconômicas? Ibid., pp. 890-891. [12] Para exemplos da atração das idéias e planos coletivistas de direita e Fascistas e grandes empresários nessa eram ver Murray N. Rothbard, America's Great Depression (Princeton: Van Nostrand, 1963). Também cf. Gaetano Salvemini and George LaPiana, What To Do With Italy (New York: Duell, Sloan, and Pearce, 1943), pp. 65ff. Sobre a economia Fascista, Salvemini perceptivamente escreveu: “Na verdade é o Estado, isto é, o contribuinte que paga pelos erros das empresas privadas... Lucro é privado e individual. Perdas são públicas e sociais.” Gaetano Salvemini, Under the Axe of Fascism (London: Victor Gollancz, 1936), p. 416. [13] Ver Rothbard, ao longo do ensaio. [14] R. Palme Dutt, Fascism and Social Revolution (New York: International publishers, 1934), pp. 247-251. [15] Ver Gabriel Kolko, The Triumph of Conservatism: A Re-interpretation of American History, 1900-1916 (Glencoe, Ill.: The Free Press, 1963), pp. 173 e ensaio. Para um exemplo da forma pela qual Kolko já começou a influenciar a historiografia Americana, ver David T. Gilchrist and W. David Lewis, eds., Economic Change in the Civil War Era (Greenville, Del.: Eleutherian Mills- Hagley Foundation, 1965), p. 115. O trabalho complementar e confirmador sobre as estradas de ferro, Railroads and Regulation, 1877-1916 (Princeton. Princeton University Press, 1965) veio muito tarde para ser considerado aqui. Um breve tratamento do papel monopolizador da ICC para a o setor ferroviário pode ser encontrado em Christopher D. Stone, "ICC: Some Reminiscences on the Future of American Transportation," New Individualist Review (Spring, 1963), pp. 3-15. [16] Kolko, Triumph of Conservatism, p. 274. [17] Arthur Jerome Eddy, The New Competition: An Examination of the Conditions Underlying the Radical Change That Is Taking Place In the Commercial and Industrial World--The Change from A COMPETITIVE TO A COOPERATIVE BASIS (7th Ed., Chicago: A. C. McClurg and Co., 1920). [18] Kolko, Triumph of Conservatism, p. 214. [19] Ibid., pp. 286-287. [20] Uma feliz exceção é William D. Grampp, "New Directions in the Communist Economies," Business Horizons (Fall, 1963), pp. 29-36. Grampp escreve; “Hayek disse que o planejamento central levará a servidão. Disso segue que um decréscimo na autoridade econômica do Estado deveria nos afastar dessa servidão. Os países Comunistas podem prová-lo. Seria um desaparecimento do estado que os Marxistas não contavam com e que não tinha sido antecipado por aqueles que concordam com Hayek.” Ibid., p. 35. O romance em questão é de Henry Hazlitt, The Great Idea (New York: Appleton- Century-Crofts, 1951.) [21] Randolph Bourne, "Youth," The Atlantic Monthly (April, 1912); reimpressoem Lillian Schlissel, ed., The World of Randolph Bourne (New York: E. P. Dutton and Co., 1965), pp. 9-11, 15. Notas dos Tradutores: [*1] “Nasty, brutish, and short”, o autor está citando Hobbes. [*2] Membro do partido liberal inglês – o termo significa algo como “bandido”, “escória” que era como os Tories (os membros do partido conservador) os denominavam. [*3] “Higher law theory”: Uma teoria segundo a qual existe um direito superior à legislação, sendo possível verificar a validez desta em comparação com aquele. [*4] No original “Tory blindness”. Como já foi dito, o partido dos “tories” representavam os conservadores. [*5] “Peasant property”. [*6] No original: “withering away of the State”. O autor está citando Lênin e o “fim da exploração do homem pelo homem”, ou no original, “end of the exploitation of man by man”. [*7] O autor se refere aos capitalistas que não se beneficiam dos privilégios do Estado. Para muitos autores libertários, o próprio termo capitalista se refere aos homens de negócio que usam o aparato estatal para obter privilégios monopolísticos, etc. No original Rothbard usou o termo “free businessmen”, para incluir tanto empreendedores quanto capital holders que não se beneficiam do estado, eu escolhi traduzir dessa forma para caracterizar de maneira apropriada a luta de classes marxista “capitalistas versus trabalhadores”. [*8] “Os Coeficientes”. [*9] No original: “General Staff”. Ou um grupo de oficiais militares encarregados do planejamento e supervisão de operações. [*10] O National Review fazia jornalismo com viés conservador. [*11] Uma organização não-partidária que se dedicava à divulgação do ideal socialista nos campus das universidades americanas. [*12] No original: “red-bait”, expressão comum nos anos paranóicos de caça ao comunismo nos Estado Unidos. [*13] “Smacking of”. [*14] A NRA a qual se trata era a National Recovery Administration, órgão governamental criado para implementar os programas do New Deal [*15] Um salário real menor significa o salário perdeu poder real de compra, mesmo tendo se modificado em outra direção em termos numéricos. [*16] Link para o livro: [*17] Referência à JP. Morgan, grande banqueiro da história dos EUA. [*18] Órgão regulador do comércio nos EUA. [*19] ICC ou “Intestate Commerce Comission” [*20] FED é o banco central americano. [*21] “Socialists of the chair”. [*22] No original “Organizational Man”, uma referência ao livro citado logo em seguida. [*23] “Franklin Delano Roosevelt”. [*24] A NEP foi basicamente uma volta à economia de mercado na URSS após a revolução. [*25] “Drags skeletons from closets” no orginal. Mais Em: http://www.enxurrada.blogspot.com
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