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Introdução aos Processos de Usinagem e Ferramentas de Corte Prof. Dr. Eng. Rolf Bertrand Schroeter Prof. Dr.-Ing. Walter Lindolfo Weingaertner Universidade Federal de Santa Catarina Departamento de Engenharia Mecânica Caixa Postal 476 - EMC Florianópolis/SC - 88.010-970 Tel.: -- 55 (48) 331 9395 Fax : -- 55(48) 234 1519 E-mail: lmp@lmp.ufsc.br http://www.lmp.ufsc.br/ Laboratório de Mecânica de Precisão 2 Florianópolis, outubro de 2000 3 Índice Simbologia. ................................................................................................. 4 1 Introdução................................................................................................. 6 2 Noções fundamentais de usinagem.............................................................. 9 2.1 Definições básicas ........................................................................ 9 2.1.1 Movimentos..................................................................... 9 2.1.2 Direções dos movimentos................................................. 10 2.1.3 Velocidades.................................................................... 12 2.1.4 Grandezas de corte.......................................................... 12 2.1.5 Forças e solicitações térmicas........................................... 15 2.2 Ferramentas de corte..................................................................... 16 2.2.1 Evolução dos materiais de ferramentas.............................. 16 2.2.2 Metal duro...................................................................... 19 2.3 Geometria de ferramentas de corte................................................ 27 2.3.1 Definição da geometria da ferramenta.............................. 27 2.3.2 Influências da geometria da ferramenta............................. 31 4 3 Influências das variáveis de trabalho sobre os processos de usinagem............ 36 3.1 Qualidade superficial.................................................................... 36 3.2 Vida das ferramentas..................................................................... 39 3.3 Forças de usinagem...................................................................... 40 4 Desgaste de ferramentas de corte e otimização do uso de ferramentas........... 42 4.1 Formas de desgaste e grandezas a serem medidas no desgaste........ 42 4.2 Causas e mecanismos de desgaste................................................. 43 4.3 Cuidados no uso de ferramentas de corte....................................... 54 4.3.1 Manuseio e manutenção de ferramentas de corte............. 54 4.3.2 Manutenção e gerenciamento de ferramentas de corte....... 55 4.3.3 Aplicação de tecnologia e manutenção de ferramentas de corte .............................................................................. 56 5 Bibliografia................................................................................................ 60 5 Simbologia ae [mm] penetração de trabalho ap [mm] profundidade de corte apmin [mm] profundidade mínima de corte b [mm] largura de corte D [mm] diâmetro f [mm] avanço fz [mm/dente] avanço por dente F [N] força de usinagem Fc [N] força de corte Ff [N] força de avanço Fp [N] força passiva h [mm] espessura de corte K relação de desgaste KL [mm] largura do lábio da cratera KM [mm] afastamento médio da região mais profunda da cratera KT [mm] profundidade da cratera le [mm] comprimento unitário de medição lm [mm] comprimento total de medição n [rpm] número de rotações da peça ou da ferramenta r [mm] raio de quina Ra [ m] desvio médio aritmético de rugosidade Rt [ m] profundidade máxima de rugosidade Rz [ m] média aritmética das rugosidades singulares Rmax [ m] profundidade máxima individual de rugosidade SV [mm] deslocamento do gume no sentido do flanco SV [mm] deslocamento do gume no sentido da face 6 vc [m/min] velocidade de corte ve [m/min] velocidade de corte efetiva vf [m/min] velocidade de avanço VB [mm] desgaste de flanco z número de dentes da ferramenta zi [ m] rugosidade unitária [graus] ângulo de incidência carbonetos de tungstênio [graus] ângulo de cunha fase de cobalto no metal duro [graus] ângulo de direção do gume [graus] ângulo de saída carbonetos de titânio, tântalo e nióbio [graus] ângulo de quina [graus] ângulo de inclinação [graus] ângulo de ponta [graus] ângulo do gume transversal 7 1 Introdução Os processos de fabricação surgiram em épocas remotas, quando o homem percebeu que a transformação da matéria-prima da natureza lhe poderia trazer benefícios para suprimento das necessidades básicas. Utilizando dispositivos como os mostrados na figura 1, já na idade da pedra o homem fabricava utensílios para a sua sobrevivência. Figura 1 – Serra para pedras do período neolítico [10] Com o desenvolvimento social, intelectual e econômico da humanidade, as exigências de conforto e o consumo de bens foram aumentando progressivamente e as máquinas, aparelhos e equipamentos, assim como os bens e o conforto produzidos por eles passaram a fazer parte do cotidiano. Cada vez mais a produção em massa tornou-se uma necessidade e o domínio de tecnologias para tal, mais valioso. As descobertas científicas, o desenvolvimento de tecnologias e processos de fabricação foram fundamentais neste contexto, tendo sido grandes alavancas para o progresso. A maioria dos livros especializados define fabricação como o ato de transformar matérias-primas em produtos acabados através de diversos Serra para Pedras do Período Neolítico a – Movimento de Avanço b – Movimento de Corte 8 processos, seguindo planos bem organizados em todos os aspectos. A importância da fabricação pode ser melhor entendida observando-se que a maioria dos objetos ao nosso redor têm formas e dimensões diferentes e também a maioria deles é composta por diferentes materiais, transformados a partir de diferentes matérias-primas por uma grande variedade de processos. Portanto não é nenhuma surpresa que nos países industrializados a fabricação compreenda um terço do produto interno bruto (valor de todos os produtos e serviços produzidos). Qualquer que seja o processo, a fabricação envolve projeto, seleção de material e de um método adequado, realizados com base em requisitos técnicos e econômicos, para que sejam minimizados custos e que o produto possa ser competitivo no mercado. A figura 2 mostra a classificação dos processos de fabricação dentro da área metal-mecânica, que sem dúvida tem grande importância econômica e tecnológica na cadeia de produção, destacando os processos de usinagem, importantes tanto na fabricação de componentes para equipamentos e máquinas como em produtos acabados. Usinar com Ferramenta de Geometria Definida T o rn e a r S e rr a r Bro ch a r A p la in a r F re sa r F u ra r B ru n ir R e tif ic a r L im a r R e m o çã o Q u ím ic a R e m o çã o T é rm ic a R e m o çã o E lé tr o q u ím ic a T a m b o re a r Ja te a r L a p id a r Desmontar Processo de Fabricação Dividir Fundir JuntarSepararConformar Limpar Alterar Propr.Recobrir Evacuar RemoverUsinar com Ferramenta de Geometria Não-Definida 9 Figura 2 – Classificação dos processos de fabricação – adaptado de [10] Os processos de usinagem tiveram um progresso significativo ao longo dos anos, pela otimização de técnicas, desenvolvimento de máquinas-ferramentas mais precisas, com maior potência e versatilidade, pelo desenvolvimento de tecnologias paralelas como a eletrônica aplicada nos comandos utilizados nas máquinas e pelo descobrimento de novos materiais de ferramentas [3]. Nesse curso serão abordados conceitos básicos sobre usinagem com ferramentas de geometria definida, materiais para ferramentas e alguns dos aspectos mais relevantes nos processos de usinagem, como a influência da variação dos parâmetros de usinagem sobre os resultados de trabalho, as causas e mecanismos de desgaste de ferramentas e os cuidados necessários para conservação e utilização das mesmas. 10 2 Noções fundamentais de usinagem 2.1 Definições básicas As definições apresentadas abaixo são baseadas na norma ABNT NBR 6162/1989. Os conceitos referem-se a um ponto genérico do gume (aresta de corte) chamado ponto de referência. Nas ferramentas de barra este ponto é fixado no gume principal (aresta principal de corte) próximo à ponta da ferramenta [3]. - Usinagem: operação que ao conferir à peça forma ou as dimensões, ou acabamento ou ainda uma combinação qualquer desse três itens produz cavaco. - Cavaco: porção de material da peça retirada pela ferramenta que se caracteriza por apresentar forma geométrica irregular. 2.1.1 Movimentos Os movimentos no processo de usinagem são movimentos relativos entre a peça e o gume. Referem-se à peça considerada parada e podem ser divididos em dois grupos: os que causam diretamente a saída do cavaco (corte, avanço e efetivo) e os que não causam (aproximação, ajuste, correção e recuo). - Movimento de corte: movimento entre a peça e a ferramenta que, sem o movimento de avanço, origina somente uma única retirada de cavaco durante uma volta ou curso. 11 - Movimento de avanço: movimento entre a peça e a ferramenta que, juntamente com o movimento de corte, origina um levantamento repetido do cavaco, durante várias revoluções ou cursos. - Movimento efetivo de corte: movimento resultante dos movimentos de corte e de avanço, realizados ao mesmo tempo. - Movimento de aproximação: é o movimento entre a peça e a ferramenta, com o qual a ferramenta é aproximada da peça, antes da usinagem. - Movimento de ajuste: é o movimento entre a peça e a ferramenta no qual a espessura da camada a ser retirada é determinada de antemão. - Movimento de correção: é o movimento de correção entre a peça e a ferramenta para compensar o desgaste da ferramenta ou qualquer outra variação. - Movimento de recuo: é o movimento entre o gume e a peça com o qual a ferramenta é afastada da peça após a usinagem. 2.1.2 Direções dos movimentos 12 As direções dos movimentos descritos acima são as direções instantâneas dos mesmos durante o processo de usinagem (figuras 3, 4 e 5). Figura 3 – Direções dos movimentos de corte, de avanço e efetivo no torneamento [3] Mov. efetivo Ve Vc Mov. de corte Peça Vf Mov. de avanço Ferramenta Peça Broca helicoidal Vf Mov. efetivo Mov. de avanço Ve Vc Mov. de corte 13 Figura 4 – Direções dos movimentos de corte, de avanço e efetivo na furação [3] Figura 5 – Direções dos movimentos de corte, de avanço e efetivo no fresamento [3] 2.1.3 Velocidades - Velocidade de corte (vc): é a velocidade instantânea do ponto de referência do gume da ferramenta segundo a direção e o sentido de corte. Para processos com movimentos de rotação a velocidade de corte é calculada pela equação 2.1. vc = .D.n/1000 [m/min] (2.1) Onde: D = diâmetro da peça ou ferramenta [mm] Mov. de avanço Vf Ve Mov. efetivo Vc Mov. de corte Fresa Peça 14 n = número de rotações da peça ou da ferramenta [rpm] - Velocidade de avanço (vf): velocidade instantânea do ponto de referência do gume, segundo a direção e sentido de avanço. É calculada pela equação 2.2. vf = f.n [mm/min] (2.2) Onde: f = avanço [mm] n = número de rotações da peça ou da ferramenta [rpm] - Velocidade efetiva de corte (ve): é a velocidade instantânea do ponto de referência do gume da ferramenta segundo a direção efetiva de corte. 2.1.4 Grandezas de corte - Avanço (f): é o percurso de avanço em cada volta (mm) ou em cada curso da ferramenta (mm/golpe). No caso de ferramentas que possuem mais de um dente distingue-se o avanço por dente (fz), que é o avanço de cada dente medido na direção de avanço da ferramenta e correspondente à geração de duas superfícies de usinagem consecutivas. Para o cálculo do avanço vale a relação 2.3. f = ff.z (2.3) 15 Onde: fz = avanço por dente [mm/dente] z = número de dentes da ferramenta - Profundidade de corte (ap): é a profundidade de penetração do gume principal. - Penetração de trabalho (ae): é de importância predominante no fresamento e na retificação. É a penetração da ferramenta em relação à peça numa direção perpendicular à direção de avanço (figura 6). Figura 6 – Profundidade de corte (ap) e penetração de trabalho (ae) no fresamento periférico [3] - Largura de corte (b): é a largura da seção transversal de usinagem. Nas condições de observação simplificada (figura 7) é idêntica ao comprimento do gume principal ativo. Nesse caso vale a relação 2.4 [2] b = ap/sen (2.4) Peça Fresa a ap e 16 Onde: b = largura de corte [mm] ap = profundidade de corte [mm] = ângulo de direção do gume [graus] - Espessura de corte (h): é a espessura da seção transversal de usinagem (figura 7). Em ferramentas com gumes retilíneos vale a relação 2.5 [2] h = f.sen (2.5) Figura 7 – Espessura e largura de corte para gumes retilíneos 2.1.5 Forças e solicitações térmicas O arrancamento de cavaco gera esforços e solicitações térmicas sobre a ferramenta. A força de usinagem F, aqui representada para o p h = f . sen b = a /sen h b a f p p f - avanço a - profundidade de corte b - largura de corte h - espessura de corte - ângulo de direção do gume 17 processo de torneamento, pode ser desmembrada em suascomponentes: a força de corte Fc, a força de avanço Ff e a força passiva Fp (figura 8) [1]. Figura 8 – Solicitações na cunha de corte [1] O calor gerado na usinagem (proporcional à velocidade de corte) é devido ao atrito do material arrancado com a ferramenta na região de corte e à deformação do mesmo, e se distribui entre cavaco (aproximadamente 75%), ambiente, peça e ferramenta. 2.2 Ferramentas de corte 2.2.1 Evolução dos materiais de ferramentas Movimento de avanço da ferramenta F Sentido de rotação da peçaF F - Força de Usinagem F - Força de Corte F - Força de Avanço F - Força Passiva f p c f Fp cF 18 Já há aproximadamente de 50 mil anos o homem produzia ferramentas de pedras com gumes afiados por lascamento, adaptando a geometria de corte à tarefa a ser realizada (figura 9). Um fato marcante para o desenvolvimento tecnológico foi a descoberta de metais como cobre, zinco e ferro. No ano de 700 AC, praticamente todas as ferramentas eram fabricadas em ferro, e a partir do século XVII foram implementadas constantes melhorias no processo de fabricação do ferro e na siderurgia do aço, colocando-o em posição vantajosa em relação aos metais até então conhecidos. Figura 9 – Ferramentas de pedra lascada [1] No entanto, estudos técnicos sistemáticos sobre os processos de usinagem só iniciaram no começo do século XIX e levaram, entre outros, à descoberta de novos materiais de corte. No início de 1900, o americano F.W. Taylor determinou um passo marcante no desenvolvimento tecnológico da usinagem com o desenvolvimento do aço rápido. Os metais duros sinterizados e os materiais de ferramentas baseados em materiais oxicerâmicos são também resultados de pesquisas intensivas na área de materiais de corte e que vêm trazendo constantes melhorias em materiais já existentes e na elaboração e ensaios de novos materiais como o diamante e o nitreto de boro cúbico cristalino. 19 Cronologicamente, os principais desenvolvimentos em materiais de ferramentas foram: - Aço ferramenta (1868) - Aço rápido (1900) - Stellite (1910) - Metal duro (1926) - Cerâmicas (1938) - Nitreto de boro cúbico (década de 50) - Diamante mono e policristalino (últimas décadas) Na figura 10 é mostrada a classificação de materiais para ferramentas com geometria definida. Figura 10 – Classificação das ferramentas de corte de geometria definida [1] Aço-ferramenta Aço-rápido Metal-duro (WC) Cermets (TiC/TiN) Cerâmica óxida Cerâmica não-óxida Diamante CBN Mista Reforçada c/ Wiskers Óxida C/ Si3N4 Al2O3 Al2O3 + ZrO2 Al2O3 Al2O3 + ZrO2 + TiC Al2O3 + SiC-wisker Si3N4 + demais Diamante monocristalino Diamante policristalino CBN CBN + TiC CBN + BN hexagonal Materiais para Usinagem com Ferramenta de Geometria Definida Materiais CerâmicosMateriais de LigaçãoMateriais Metálicos Materiais de Altíssima DurezaCerâmicas de Corte 20 As propriedades esperadas de ferramentas de corte são estão relacionadas abaixo. Deve-se salientar que nenhuma ferramenta tem todas essas características, sendo a seleção do tipo e material de ferramenta uma solução de compromisso. - Resistência à compressão; - Dureza; - Resistência à flexão e tenacidade; - Resistência do gume; - Resistência interna de ligação; - Resistência a quente; - Resistência à oxidação; - Pequena tendência à fusão e caldeamento; - Resistência à abrasão; - Condutibilidade térmica, calor específico e expansão térmica adequados. Na figura 11 são mostradas as tendências dos materiais de ferramentas mais importantes quanto à dureza, resistência à flexão, vida da ferramenta e tenacidade. Tenacidade, resistência à flexão Diamante CBN Cerâmicas CERMETS Metal-duro revestido Metal-duro Aço-rápido revestido Aço-rápido Vc 60 dureza resist. flexão V e lo c id a d e d e c o rt e , re s is tê n c ia a o d e g a s te , d u re z a à q u e n te 21 Figura 11 – Propriedades das ferramentas de corte – adaptado de [1] Para satisfazer as exigências crescentes feitas à qualidade das peças e à viabilidade econômica do processo de fabricação, além da otimização dos materiais de corte, as ferramentas devem ser usadas de forma econômica para que todas as grandezas que participam no processo de usinagem como geometria da ferramenta, condições de corte, material da peça e materiais auxiliares tenham a sua influência e seu efeito sobre o resultado do trabalho considerados. Somente o conhecimento da interdependência funcional dos diversos fatores permite o aproveitamento das reservas tecnológicas disponíveis. Entre todos os materiais apresentados, o mais largamente utilizado na indústria atualmente é o metal duro, sendo que somente a indústria automobilística consome cerca de 50% das ferramentas de metal duro produzidas no mundo. Este material apresenta melhores relações custo/benefício na maioria das aplicações em usinagem devido à grande variedade de tipos obtidos pela adição de diversos elementos de liga e também de diferentes revestimentos, o que possibilita a obtenção de propriedades adequadas às solicitações em diferentes condições de usinagem. A possibilidade da utilização de insertos intercambiáveis é também um fator positivo tornando as ferramentas versáteis. No entanto todos os materiais de ferramentas são aplicáveis, em maior ou menor escala, em processos convencionais e em processos especiais de usinagem, em casos onde o metal duro não é viável economicamente ou não apresenta as propriedades requeridas. 2.2.2 Metal duro 22 Metais duros são materiais compostos, constituídos de um ligante metálico dúctil (cobalto ou níquel) e de carbonetos dos metais de transição (4a até 6a colunas da tabela periódica; W, Ti, Ta, Nb, ...) embutidos no ligante. Os carbonetos estão situados na divisa entre metais e cerâmicas. Eles têm propriedades semelhantes às dos metais (por exemplo condutividade elétrica), mas são classificados como materiais duros metálicos, e não cerâmica não-óxida. Os Cermets são denominados metais duros com base de TiC e TiN, sendo a fase ligante de Níquel, Cobalto e Molibdênio. Os materiais duros são a base da dureza e da resistência ao desgaste, enquanto a função do ligante é constituir a ligação dos carbonetos frágeis, formando um corpo relativamente resistente. As vantagens dos metais duros são: uma boa distribuição da estrutura em decorrência do próprio processo metalúrgico de fabricação, dureza elevada, resistência à compressão e resistência ao desgaste a quente. Metal duro a 1000 C tem a mesma dureza que o aço rápido a temperatura ambiente. Além disso, existe a possibilidade de obter propriedades distintas nos metais duros pela mudança específica dos carbonetos e das proporções do ligante. Na figura 12 podem ser vistas as fases distintas do metal duro, esquematicamente e em metalografia. 23 Figura 12 – Estrutura do metal duro [9] Onde: = carbonetos de tungstênio = cobalto = carbonetos de titânio, tântalo e nióbio a) Desenvolvimento histórico Na primavera de 1927 foram apresentados em Leipzig, sob o nome WIDIA, metais duros como novos materiais de alta produtividade. Estes novos materiais representavampara a época um desenvolvimento revolucionário, que abria uma nova dimensão para a técnica de usinagem. Em contraste às ferramentas de aço rápido usadas até aquele momento, os metais duros proporcionavam um aumento pronunciado nas velocidades de corte. A capacidade de produção das máquinas-ferramentas não era suficiente para suprir os potenciais de produtividade das novas ferramentas. Materiais como fundidos em coquilha, que até aquele momento eram de difícil usinagem com ferramentas de aço rápido (HSS – High Speed Steel), puderam ser trabalhados com o novo material. No começo, a aplicação do metal duro à base de WC-Co se limitava exclusivamente à usinagem de materiais fundidos. Por causa do grande desgaste de cratera, os metais duros não eram aconselháveis para trabalho com materiais de aço com cavacos longos. Isso foi alterado com a adição de carboneto de titânio como ligante. Grandes aumentos na velocidade 24 de corte, semelhantes aos anteriormente obtidos em ferros fundidos com os metais duros WC-Co, foram possíveis na usinagem com metais duros à base de TiC. Na mesma época surgiu também o desenvolvimento dos primeiros Cermets. A continuidade do desenvolvimento dos metais duros foi marcada nos anos seguintes por uma contínua melhora na sua composição, fabricação e conseqüentemente na sua produtividade. Há muito sabe-se da influência do tamanho dos grãos dos carbonetos nas propriedades dos metais duros. Embora normalmente nos metais duros com o aumento da dureza ocorra uma redução da tenacidade, esta regra pode ser quebrada com o desenvolvimento de metais duros de grãos finos. Através da redução do tamanho do cristal WC abaixo de 1 m com o mesmo teor de ligante é possível elevar a dureza ao mesmo tempo que aumenta-se a resistência à flexão. Um outro grande passo inovador foi a implementação de metais duros revestidos no início dos anos 70. A combinação de substratos de metais duros com camadas duras altamente resistentes levaram a um grande aumento das velocidades de corte utilizadas e do tempo de vida das ferramentas. Ao mesmo tempo pôde ser aumentada a vida útil das ferramentas de 200 a 400%. Os revestimentos CVD e PVD são atualmente os processos de revestimento mais conhecidos. Com o desenvolvimento dos metais duros conhecidos por “spinoidais”, os primeiros Cermets que continham nitreto de titânio como componente duro em 1973, foi elaborada a forma básica dos Cermets atuais de alta produtividade. O desenvolvimento desses materiais deu-se principalmente no Japão. Atualmente os Cermets pertencem aos materiais de corte de grande produtividade que, com a utilização de grandes velocidades de corte e avanços moderados e através da obtenção de maiores tempos de vida em altas confiabilidades, correspondem às 25 exigências da tecnologia de usinagem moderna. Embora os Cermets atualmente não tenham se estabelecido com a utilização esperada, crê-se que nos próximos anos ocorra um aumento contínuo da sua utilização na área dos metais duros. Razões para isso são sua alta estabilidade química e sua alta resistência ao calor, que tornam estes materiais interessantes especialmente para operações de usinagem com altas solicitações térmicas. Essas propriedades contribuem para que, principalmente no trabalho a seco, haja uma maior aplicação de materiais do tipo Cermet. b) Fabricação de metal duro Em razão da grande variedade de estruturas, são empregados diferentes processos de fabricação (figura 13). A principais diferenças são essencialmente fabricação direta e indireta, combinações de processos e processos especiais (moldagem por injeção). A escolha do processo a ser utilizado depende principalmente da geometria e do número de peças a ser obtido do produto. Aproximadamente dois terços de todos os produtos de metal duro são obtidos pela fabricação direta - predominantemente insertos. Peças com formas complicadas em pequenos números como êmbolos, hélices, anéis laminadores ou matrizes são obtidas pela fabricação indireta, isto é, são necessários processos de fabricação adicionais como corte, furação, torneamento ou fresamento. Nesse caso, o metal duro é a matéria-prima no estado pré-sinterizado ou prensado isostaticamente a frio, e que possui consistência estável. Carboneto de Tungstênio WC Componentes de Liga TiC, (Ta,Nb)C, Mo C, VC, Cr , C Metal de Ligação Co, Ni 2 3 2 Mistura, Moagem Úmida, Peneiramento Úmido Sacagem a Vácuo Peneiramento Pó de Metal Duro Prensagem Isostática Fria Usinagem Meio de Prensagem Secagem do Pulverizado Granulado de Metal Duro Granulação Prensagem Isostática Fria Prensa com Matriz Plastificação Secagem a Vácuo Amassamento Secagem a Vácuo Amassamento Massa de Metal Duro Moldagem por InjeçãoPrensagem por Extrusão Massa de Metal Duro Enceramento Sinterização Enceramento Sinterização/HIP Enceramento Sinterização HIP coisa Hastes, Perfis Retificação, Corte Revestimento Peça Pronta Peça moldada Afiada para Proteção ao Desgaste Hastes Especiais Perfis Broca, Fresas Hastes, Perfis d < 22 mm Brocas com Canais de Refrigeração Pastilhas Ferramentas p/ Mineração Pequenas Peças de Mancais Hastes Curtas Pequenas Massas com Geometria Complexa 26 Figura 13 – Processos de moldagem para a fabricação de peças de metal duro [1] Os componentes do metal duro (componentes individuais ou ligas) são submetidos a uma carga elétrica enquanto estão no estado de pó e homogeneizados em misturadores. Na moagem úmida o líquido utilizado (álcoois, acetona, hexano ou outros) protege o produto durante a moagem contra a oxidação e garante uma dispersão otimizada de todos os componentes em suspensão. Após o término do processo de moagem a mistura de pó formada é preparada para as seguintes etapas de fabricação. Para a fabricação de insertos o pó é transformado em uma forma granular para garantir boas propriedades de escoamento assim como tamanho de grãos apropriado para prensagem em matrizes. A obtenção de grãos ocorre com ajuda de processos de pulverização ou granulação. A fabricação de insertos ocorre através da compressão dos grãos em prensas matriciais. O processo de prensagem em matriz permite pequenos tempos de ciclo e é apropriado para um grande número de peças. Na seqüência das etapas de cada processo a sinterização representa a principal operação, já que nessa fase as propriedades mecânicas e tecnológicas essenciais para as funções de produção são obtidas. A princípio, entende-se por sinterização um transporte de material termicamente ativo, onde o produto do pó separado (peça prensada, peça crua) é compactado em razão dos processos de transposição por difusão (difusão superficial, difusão do contorno de grão, difusão do volume). Para a obtenção de metais duros é necessário que nem todos os componentes da liga sejam transformados para o estado fundido, ou seja, sinterizados na fase líquida. 27 c) Componenetes do metal duro e suas propriedades - Carboneto de tungstênio (WC): o WC é a mais importante fase sólida dos metais duros sinterizados. O WC é solúvel em Co, e em decorrência disso tem-se uma alta resistência de ligação interna com boa resistência de gume nos metais duros à base de WC e Co. O WC, além disso, apresenta uma melhor resistência ao desgaste abrasivo que o TiC e o TaC. Por outro lado, tem limitações de velocidade de corte, devido à sua alta tendência a difusão em temperaturas maiselevadas. - Carboneto de titânio (TiC): o TiC tem pequena tendência à difusão. Disso resulta uma alta resistência a quente dos carbonetos baseados em TiC, no entanto com menor resistência de ligação interna e menor resistência de gume. Os metais duros com alto teor de TiC são frágeis e de fácil fissura. O TiC é usado para a usinagem de materiais ferrosos com alta velocidade de corte. O TiC forma um carboneto complexo com o WC. - Carboneto de tântalo (TaC): em pequenas quantidades, o TaC atua no sentido de refino do grão e com isso aumenta a tenacidade e resistência dos gumes dos metais duros. A resistência de ligação interna não cai tanto quanto na utilização de TiC. - Carboneto de nióbio (NbC): NbC tem propriedade semelhante à do TaC. Ambos carbonetos ocorrem na forma de cristais mistos Ta-(Nb)-C no metal duro. - Nitreto de titânio (TiN): TiN é o componente de maior influência nas propriedades de todos os modernos Cermets. O TiN tem uma menor 28 solubilidade no aço e com isso uma maior resistência à difusão que o TiC. O nitrogênio atua elevando a resistência ao desgaste. Além disso o crescimento do grão é inibido. Cermets com nitrogênio possuem normalmente uma estrutura de grãos finos. No estado sólido, TiC e TiN podem ser misturados completamente. As propriedades físicas derivam das propriedades do (Ti(C,N)). - Cobalto (Co): cobalto é o melhor metal de ligação para metais duros com base no WC até o momento. Isto ocorre pela boa solubilidade do WC no cobalto e o bom ancoramento dos cristais de WC devido à fase de ligação WC-Co. - Níquel (Ni): Devido às suas boa propriedades, o níquel é empregado como ligante nos Cermets. Em razão do níquel ser mais fácil de ser deformado que o cobalto, atualmente utiliza-se além do níquel também o cobalto como ligante nos Cermets, para melhora das suas propriedades em altas temperaturas. Observando-se o comportamento de desgaste e da produtividade de metais duros revestidos e não-revestidos, atribui-se um papel importante ao substrato do metal duro. O metal duro deve possuir, para a obtenção de uma alta resistência do gume contra deformações plásticas, uma alta resistência a quente e à compressão, ao mesmo tempo que uma alta resistência à flexão e tenacidade. Em geral, metais duros tenazes possuem baixas dureza e resistência à compressão. Essas duas propriedades opostas do material de corte ocorrem principalmente devido à estrutura do material de base. Como regra geral vale que com o aumento do teor do cobalto aumenta a resistência à ruptura, enquanto a dureza e a resistência à compressão diminuem (figura 14). Com o aumento do teor de carbonetos complexos a resistência à ruptura diminui, mas aumenta a dureza. O 29 carboneto de tântalo favorece a resistência aos choques térmicos. Em muitos casos isso é aproveitado e nos substratos TiC/TaC para o fresamento o substrato é modificado em favor do carboneto de tântalo. Devido aos grandes custos de material o uso de TaC é limitado. Figura 14 – Grandezas de influência sobre a resistência ao desgaste e tenacidade de metais duros [1] 2.3 Geometria de ferramentas de corte (Ti,Ta)C D u re z a R e s is tê n - c ia à C o rr o s ã o TiC TaC R e s is tê n - c ia a F le x ã o TaC TiC R e s is tê n - c ia a o D e s g a s te Conteúdo de Co Tamanho do Grão do WC Conteúdo de Car- bonetos Mistos Qualidade do Material da Ferramenta Alta Resistência ao Desgaste Alta Tenacidade Conteúdo de Co: Tamanho do Grão do WC: Conteúdo de Carbonetos Mistos: Conteúdo de Carbonetos Mistos: Tamanho do Grão do WC: Conteúdo de Co: 30 2.3.1 Definição da geometria da ferramenta Em todos os processos de remoção de cavaco, características de processo como a formação de cavacos, saída dos cavacos, forças de corte, desgaste e o resultado do trabalho são consideravelmente influenciadas pela geometria da ferramenta (figura 15). Devido a isto esta geometria deve ser adaptada ao material da peça, ao material da ferramenta e às condições específicas da máquina-ferramenta. Figura 15 – Influência da geometria da ferramenta sobre algumas características do processo Os termos, a denominação e a designação da geometria da cunha estão normalizados pela DIN 6581 e pela ISO 3002/1. As figuras mostradas a seguir são baseadas nestas normas. A figura 16 mostra uma ferramenta de torneamento ou plainamento e define superfícies, gumes, chanfros e quinas, sendo denominado como cunha de corte o corpo limitado pelas superfícies indicadas na figura. A cunha de corte é a parte efetiva da ferramenta, na qual encontram-se a quina e os gumes. Função da Geometria da Ferramenta Adaptar às condições de trabalho Formação de cavacos Saída de cavacos Forças de corte Desgaste da ferramenta Resultado de trabalho 31 Em ferramentas de torneamento e plainamento como a mostrada na figura 16, têm-se dois gumes, denominando-se um gume principal e outro gume secundário. Como gume principal é designado o gume que se encontra na direção de avanço. A interseção dos dois gumes, chamada de quina da ferramenta, é freqüentemente de forma arredondada. A face da ferramenta é a superfície sobre a qual deslizam os cavacos. Os flancos são as superfícies que se justapõem às novas superfícies formadas durante a usinagem. Figura 16 – Ferramenta de tornear – principais denominações [1] Os flancos principal e secundário são definidos de acordo com sua posição em relação à direção de avanço. Se existirem chanfros nos gumes, estes são denominados chanfro do gume principal ou chanfro do gume secundário. Nas figuras 17 e 18 são mostradas ferramentas de furar e fresar respectivamente, com as principais denominações da geometria. Direção de corte Direção de avanço Chanfro da face no gume principal Chanfro no flanco do gume principal Gume secundário Flanco principal Face Gume principal Haste Flanco secundário no gume secundário Quina com raio de arredondamento Quina com raio de arredondamento 32 Figura 17 – Ferramenta de furar – principais denominações [2] Figura 18 – Ferramenta de fresar – principais denominações [3] Nas figuras 19 e 20 são mostradas ferramentas de tornear e furar, respectivamente, com os principais ângulos. Flanco Guia Gume transversal Face Gume principal Ângulo de ponta Canal Quina Gume principal Flanco secundário Flanco principal Gume secundário Quina Gume principal Face Direção de avanço 33 Onde: = ângulo de incidência = ângulo de cunha = ângulo de saída = ângulo de direção do gume = ângulo de quina = ângulo de inclinação = ângulo de ponta = ângulo do gume transversal r = raio de quina Figura 19 – Ferramenta de tornear – principais ângulos [7] 34 Figura 20 – Ferramenta de furar – principais ângulos [2] 2.3.2 Influências da geometria da ferramenta Dependendo do tipo de usinagem, diferentes geometrias de ferramenta de corte podem ser escolhidas. A escolha da geometria depende de fatores como: - Material da ferramenta; - Material da peça; - Condições de corte; - Geometria da peça. Geometrias usuais em ferramentas de corte representadaspelos seus ângulos de cunha na usinagem de aço são apresentadas na tabela 1. r 35 A determinação dos um ângulos da geometria da ferramenta implica em soluções de compromisso que podem satisfazer apenas aproximadamente às diversas exigências na usinagem. Tabela1 – Geometrias usuais de ferramentas de corte A figura 21 mostra de que forma as variações de geometria da cunha influenciam as características de usinagem e em seguida estão descritas essas influências. Metal Duro Aço Rápido (HSS) Material da Ferramenta Geometria da Ferramenta -6° até + 15° -6° até + 20° 6° até 12° 6° até 8° Ângulo de saída Ângulo de Incidência Ângulo de Quina -6° até +6° 10° até 100° Ângulo de Inclinação Ângulo de Posição 60° até 120° 0,4 até 2mm Raio da Quina r Aumento da estabilidade do gume Desgaste menor Maiores forças passivas Aumento da estabilidade do gume Redução da vibração Redução da Força de corte = 6° até 12° Elevada estabilidade do gume = 10° até 100° Redução da vibração Redução da força de corte Fase da face Desgaste menor Aumento da estabilidade do gume Baixa espessura de usinagem Melhor formação do cavaco Melhor superfície Redução da força de corte Desgaste menor Aumento da qualidade superficial = +6° até -6° Guia do fluxo do cavaco = -10° até + 20° r = 0,4 até 2 mm 36 Figura 21 - Influência da geometria da cunha sobre as características da usinagem [1] - Ângulo de incidência O desgaste do flanco, caracterizado pela marca de desgaste VB, é influenciado consideravelmente pelo ângulo de incidência. Se este for grande, a cunha é enfraquecida duplamente: na ferramenta pode-se ter acúmulo de calor, que pode levar à perda da dureza a quente. Uma cunha muito pequena também aumenta o perigo do lascamento e quebra da ferramenta. Se o ângulo de incidência tende a 0o, o desgaste de flanco aumenta devido aos caldeamentos na região de contato com o parceiro de atrito. - Ângulo de saída , ângulo de cunha O ângulo de saída , ao contrário do ângulo , pode ser tanto positivo quanto negativo. O ângulo de saída é responsável pelo corte do material em questão. A ordem de grandeza do ângulo influencia a estabilidade da cunha consideravelmente; assim, ferramentas positivas podem quebrar como decorrência do enfraquecimento demasiado da cunha. Como vantagens de um ângulo de saída positivo deve-se citar em primeiro lugar a diminuição da força de corte e força de avanço, com a melhora na qualidade da superfície da peça. No entanto, a saída do cavaco é favorecida pelo ângulo de saída positivo, o que leva muitas vezes a uma quebra de cavaco insuficiente, havendo tendência a um cavaco contínuo. Ângulos de saída negativos aumentam a estabilidade da ferramenta, o que tem aplicação, por exemplo, no plainamento e na usinagem de peças com interrupções de corte, carepas de laminação ou de fundição. A deformação plástica na usinagem com ferramentas de ângulo de saída negativo é maior, por isso tem-se forças de corte maiores e uma forte solicitação térmica da cunha. Há um desgaste de cratera 37 maior na face, que por sua vez pode levar a vidas mais curtas das ferramentas. O ângulo de saída , o ângulo de incidência e o ângulo de cunha somados, por definição, totalizam 90o. - Ângulo de quina Para garantir uma boa estabilidade da ferramenta, principalmente quando se trata de uma solicitação pesada, o ângulo de quina deve ser escolhido tão grande quanto possível. Ângulos de quina pequenos são empregados sobretudo em tornos copiadores e na usinagem comandada numericamente. A faixa útil, assim, é apertada, de forma que o ângulo entre o gume secundário e a direção de avanço deve ser no mínimo 2o para evitar que a ferramenta exerça um raspamento com o gume secundário sobre a superfície da peça. - Ângulo de direção do gume Para avanço e profundidade de corte constantes e diminuindo, a largura de usinagem “b” aumenta. Com isso, diminui a força específica por unidade de comprimento de gume, de forma que a variação do ângulo de posição para valores pequenos é especialmente favorável na usinagem de materiais de alta resistência, garantindo uma diminuição do desgaste da ferramenta. Por outro lado, a força passiva aumenta com a diminuição de incorrendo-se o perigo de que, devido à instabilidade crescente do processo de usinagem, ocorram vibrações regenerativas sobre a superfície da peça. - Ângulo de inclinação 38 Através de um ângulo de inclinação negativo, o processo de usinagem pode ser estabilizado, pois o início do corte da ferramenta não se dá na quina e sim na posição mais avançada em direção à parte central do gume. Dessa forma tem-se uma solicitação adequada, evitando-se o perigo da quebra do gume por causa de uma solicitação excessiva. A problemática da diminuição de solicitação no início de corte tem importância maior no corte interrompido (por exemplo no fresamento e no plainamento) e na usinagem de materiais fundidos e forjados (peças com furos transversais e vazios). Ângulos de inclinação lateral negativos também provocam forças passivas grandes, que devem ser absorvidas pela máquina-ferramenta (grande rigidez normal à árvore principal). O ângulo de inclinação lateral, além disso, influi no sentido e direcionamento da saída do cavaco. Um ângulo de inclinação lateral negativo direciona o cavaco para a superfície já usinada da peça e eventualmente pode-se ter uma piora de qualidade da superfície usinada. - Raio da quina r A escolha do raio da quina de uma ferramenta depende do avanço f e da profundidade de corte ap. Dependendo do avanço escolhido, o raio de arredondamento da quina influencia a qualidade da superfície usinada, para a qual vale a equação seguinte: Rt = f2/8.r (2.6) Raios de quina grandes levam a uma melhora da qualidade superficial e da estabilidade dos gumes, enquanto raios de quina pequenos têm a vantagem de tenderem menos a vibrações regenerativas por causa da força passiva menor [1]. 39 3 Influência das variáveis de trabalho sobre os processos de usinagem 3.1 Qualidade superficial As superfícies produzidas por usinagem, mesmo em processos de extrema precisão, apresentam desvios em relação às ideais. O parâmetro usual para determinar a qualidade superficial é a rugosidade, que pode ser medida através de princípios físicos ou óticos. No esquema da figura 22 são mostrados o perfil ideal, os perfis de referência e o perfil real da superfície, assim como os principais parâmetros de rugosidade. Figura 22 – Termos básicos para medição de uma superfície [1] l a R R t y x 5 Z R m a x Z 4 3 Z Z 2 1 Z lmelx5 le Linha média = Perfil real Perfil de referência Perfil médio Perfil de base Perfil geométrico ideal X m l m l m 40 Onde: - Rt = profundidade máxima de rugosidade – distância vertical entre o ponto mais alto e o mais baixo do perfil de rugosidade. - Ra = desvio médio aritmético de rugosidade – média aritmética dos valores absolutos dos afastamentos “hi” do perfil real ao perfil médio. - Rz = média aritmética das rugosidades singulares de cinco trechos de medição sucessivos. - zi = rugosidades unitárias. - Rmax = profundidade máximaindividual de rugosidade – maior rugosidade unitária zi - lm = comprimento total de medição. - le = comprimento unitário de medição. Em alguns materiais a qualidade superficial melhora com o aumento da velocidade de corte. A melhoria é rápida até uma determinada velocidade crítica, devido a uma contínua redução das dimensões do gume postiço. Depois que este ficou reduzido a um tamanho insignificante pouca melhora adicional do acabamento superficial se obtém com aumentos maiores da velocidade de corte. A velocidade crítica se situa normalmente na faixa de 90 a 150 m/min. Este dado varia bastante em função dos fatores como: material da ferramenta, ângulo de saída, dimensões do cavaco, material da peça, etc. [2]. A influência da velocidade de corte sobre a rugosidade está mostrada na figura 23. A rugosidade cinemática é decorrente da forma da quina da ferramenta e do movimento relativo entre peça e ferramenta. No torneamento, ela é influenciada principalmente pela forma do gume e pelo avanço. 41 A figura 24 mostra como exemplo a comparação entre os valores medidos e a rugosidade calculada para uma velocidade de corte constante sem perturbações por gume postiço no processo. O desvio entre a rugosidade real e a rugosidade teórica é relacionado com a espessura mínima de usinagem, que aumenta com o aumento do raio do gume [1]. Figura 23 - Influência da velocidade de corte sobre a rugosidade da peça 42 [1] Figura 24 - Rugosidade teórica e medida para diversos avanços e raios de quina de ferramentas [1] A profundidade de corte praticamente não tem influência sobre a qualidade superficial, quando ap for maior que ap.min (ap > ap.min). Esse valor mínimo da profundidade de corte está situado na faixa de 4 a 10 m para ferramentas convencionais [1]. A aplicação de fluidos de corte oferece vantagem quanto ao acabamento superficial na faixa de baixas a médias velocidades de corte, pois reduz o gume postiço. Em altas velocidades normalmente não traz vantagens [2]. 3.2 Vida das ferramentas Os fatores que influenciam a progressão do desgaste são principalmente a velocidade de corte, o avanço e a profundidade de usinagem, nessa ordem. Um aumento da velocidade de corte aumenta a energia (calor) gerado no processo sem um aumento da área da ferramenta que recebe este calor. O aumento do avanço também aumenta a quantidade de calor, porém aumenta a área de troca de calor. A influência da profundidade de corte é menor, já que ao ser aumentada, não altera a energia destinada ao corte por unidade de área, nem a velocidade de retirada do cavaco. Somente faz com que um maior volume seja retirado através da utilização de uma maior porção do gume [6]. A aplicação de fluidos de corte pode contribuir para um aumento na vida das ferramentas. Uma das funções dos fluidos de corte é a 43 refrigeração das ferramentas, sendo especialmente importante em altas velocidades de corte. Quando a ferramenta está sob um regime de trabalho pesado, e a temperatura do gume se aproxima do ponto de amolecimento, um pequeno resfriamento pode provocar um grande aumento na vida da ferramenta. Outra maneira de aumentar a vida das ferramentas é através da atenuação da geração de calor. Isso pode ser obtido através do uso de fluidos de corte com propriedades lubrificantes [2]. 3.3 Forças de usinagem Grandeza e direção da força de usinagem são influenciadas fortemente pelas condições e geometria de corte utilizadas. Na figura 25 é apresentada qualitativamente a dependência das componentes da força de usinagem Fc, Ff e Fp em função do avanço f, da velocidade de corte vc, da profundidade de corte ap e do ângulo de direção do gume no sistema de coordenadas lineares. A redução da força com o aumento da velocidade de corte deve-se à redução da resistência do material a altas temperaturas. 44 As componentes da força de usinagem aumentam proporcionalmente com a profundidade de corte ap. Entretanto, isto vale somente se a profundidade de corte for maior que o raio de quina da ferramenta [1]. Figura 25 – Dependência das componentes das forças de usinagem em relação ao avanço, a velocidade de corte, ao ângulo de direção do gume e a profundidade de corte [1] O fluido de corte tem efeito desprezível sobre a força e potência de corte em altas velocidades de usinagem. Em velocidades pequenas e médias, um fluido adequado pode provocar uma redução da força e da potência de corte, em virtude da redução do atrito entre o cavaco e a ferramenta [2]. Força de Corte F F o rç a F Força de Avanço F Força Passiva F Avanço f c f p Velocidade de Corte vc F o rç a F f p c F F F F o rç a F Profundidade de Corte ap F o rç a F f p cF F F f p cF F F Ângulo de direção do gume 45 4 Desgaste de ferramentas de corte e otimização do uso de ferramentas 4.1 Formas de desgaste e grandezas a serem medidas no desgaste Durante a usinagem a cunha é submetida a desgastes que dependem da forma de solicitação e da duração de utilização da ferramenta. A figura 26 mostra as formas de desgaste mais freqüentes na ferramenta de torneamento. A cunha da ferramenta desgasta na face (desgaste de cratera) assim como na superfície de saída e no flanco (desgaste de flanco). Figura 26 – Formas de desgaste e grandezas a serem medidas na cunha [1] Dependendo das solicitações de corte e do conjunto “material a ser usinado / material da ferramenta de corte” o desgaste de flanco pode ter c a A V B b A KM S V KL SV S V A S V A K T m ax V B V B Ângulo de Saída Ângulo de Incidência SV Deslocamento do Gume no Sentido da Face SV Deslocamento do Gume no Sentido do Flanco VB Desgaste de Flanco KL Largura do Lábio da Cratera KT Profundidade da Cratera KM Afastamento Médio da Região mais Profunda da Cratera a Desgaste de Cratera b Desgaste de Flanco no Gume Principal c Desgaste de Flanco no Gume Secundário Desgaste de Cratera Desgaste de Flanco Face Flanco Corte A-A 46 seu máximo na periferia da zona de contato da ferramenta que se desloca na direção do cavaco. Esse desgaste surge na zona de contato da ferramenta-cavaco através de solicitações térmicas e mecânicas, do caráter abrasivo e quina afiada do lado inferior do cavaco, assim como o contato direto com a atmosfera. Entre as grandezas de desgaste a serem medidas, representadas esquematicamente na figura 26, distinguem-se a marca de desgaste de flanco VB, o deslocamento do gume em relação ao flanco da ferramenta SV e o deslocamento do gume em relação à face SV . Na face da ferramenta é medida a profundidade de cratera KT e o afastamento médio da cratera KM, por onde pode ser determinada a relação de desgaste K = KT/KM. 4.2 Causas e mecanismos de desgaste As condições de atrito na região de contato da ferramenta podem ser comparadas com o atrito seco no vácuo. O desgaste da ferramenta, via de regra, é relativamente rápido devido às solicitações térmicas e mecânicas elevadas. De acordo com o estado da arte atual, distinguem-se várias causas influentes sobre o desgaste da ferramenta (figura27), abaixo relacionadas [1]: 47 Figura 27 – Causas de desgaste na usinagem [1] - Danificação do gume devido às solicitações mecânicas e térmicas excessivas; - Abrasão mecânica; - Adesão (cisalhamento de microsoldagem ou microcaldeamentos); - Difusão; - Oxidação. Os diversos mecanismos de desgaste agem simultaneamente, de forma que tanto sua causa como seu efeito dificilmente podem ser distinguidos entre si. - Solicitações mecânicas e térmicas excessivas Danificações do gume como microquebras, fissuras transversais e fissuras longitudinais, bem como deformação plástica, advém de solicitações térmicas e mecânicas excessivas. Difusão Abrasão Oxidação Adesão D es ga st e To ta l Temperatura de Corte (Velocidade de Corte; Avanço e outros fatores) 48 - Lascamento Forças de corte excessivas muitas vezes levam a micro e macrolascamentos do gume ou da quina, principalmente quando o ângulo de cunha ou o ângulo de quina da ferramenta são muito pequenos ou o material da ferramenta é demasiadamente frágil. Nesses lascamentos, a linha de fissura é definida pela direção da força de corte. Interrupções de corte também podem provocar lascamentos, sobretudo na usinagem de materiais tenazes que apresentam cavacos que caldeiam ou soldam facilmente na face da ferramenta. Microlascamentos ocorrem quando o material a ser usinado é duro e contém inclusões não-metálicas resultantes, por exemplo, da oxidação do aço na siderurgia. As ferramentas mais susceptíveis a estes tipos de solicitações localizadas são as de materiais cerâmicos e de metais duros resistentes ao desgaste, principalmente nos processos de fabricação com seções de usinagem muito pequenas (por exemplo alargamento e rasqueteamento). - Fissuras transversais Em cortes interrompidos (por exemplo no fresamento), o gume é submetido a um grande esforço alternante. Esta solicitação alternante compressiva pode levar à fadiga da cunha de corte. As rápidas variações das forças de usinagem, no caso do fresamento de ferramentas de metal duro, podem levar a fissuramentos transversais (figura 28). A solicitação alternante, provocada pela formação de cavacos anelares, também pode levar a fadiga da ferramenta, possibilitando a formação de fissuras transversais, por exemplo, na usinagem de titânio. - Fissuras longitudinais 49 Fissuras longitudinais (figura 28) são danificações do gume, em decorrência de solicitações térmicas alternadas. Essas solicitações ocorrem principalmente no trabalho com corte interrompido. Figura 28 – Formação de fissuras longitudinais e transversais no fresamento [1] Durante a entrada da ferramenta o gume aquece-se rapidamente a elevadas temperaturas. Após a saída da peça ocorre o resfriamento. A diferença entre a mais alta e a mais baixa temperatura depende do material, das solicitações de corte e da relação entre o material e o ar. A aplicação de fluidos de corte em cortes interrompidos é de grande importância devido à grande diferença de temperaturas. O resfriamento favorece a formação de fissuras longitudinais em metais duros e materiais de corte cerâmicos. O processo de fissuramento longitudinal ocorre juntamente com o processo isotérmico da área de temperatura no gume. VB KM Di re çã o de c or te -y Tração + 0 - Compressão Temperatura Tensão Resfriamento Aquecimento durante o corte Tensão Tração + 0 - Compressão Temperatura Fissuras em forma de pente Fissu ras t rans versa is Flanco Face KM Afastamento médio da cratera VB Desgaste de flanco 50 - Deformações plásticas Deformações plásticas no gume ocorrem quando o material da ferramenta amolece devido às altas temperaturas e escoa sujeitado pelas forças de usinagem. A cunha da ferramenta de aço ou aço rápido sofre maior deformação quanto menor for a diferença entre a temperatura da cunha durante a usinagem e a temperatura de têmpera ou fusão do material da ferramenta, figura 29. Figura 29 – Deformação plástica no gume de uma ferramenta de torneamento de aço rápido[1] Deformações plásticas também ocorrem em metais duros e Cermets, entretanto sob maiores temperaturas (velocidades de corte maiores) e esforços do que nas ferramentas de aço rápido e aço ferramenta. Metais duros tendem a maiores deformações quanto maior for o teor de ligante, especialmente cobalto. 51 - Remoção Mecânica A remoção mecânica é a remoção de partículas da ferramenta que se soltam devido à influência de forças externas. A remoção é causada principalmente por partículas duras no material da peça, como carbonetos e óxidos. - Adesão O desgaste decorrente de caldeamentos ocorre devido à ruptura dos microcaldeamentos na face da ferramenta. Esses caldeamentos formam-se devido à ação de forças elevadas ou devido à interação das superfícies inferiores do cavaco e face da ferramenta que, por estarem relativamente livres de óxidos, soldam-se por adesão. A resistência das soldagens por adesão é tanto maior quanto maior for a deformação. Durante a formação do cavaco as camadas de material, que após a usinagem formam uma camada limite entre a face da ferramenta e o lado inferior do cavaco, são fortemente deformadas plasticamente. O material, e sobretudo as superfícies recém- formadas, encontram-se num estado de aquecimento e deformação elevado, e estão extremamente ativos devido à recente separação. Sob estas condições deve-se sempre esperar que na usinagem ocorram caldeamentos. Desgaste acentuado por caldeamento é observado em superfícies ásperas da face, em contatos intermitentes entre a peça e a ferramenta, bem como em distúrbios do fluxo de material sobre a superfície da ferramenta. O desgaste por microlascamentos em conseqüência de caldeamentos é influenciado por perturbações no fluxo de material sobre a face. Esta parcela de desgaste é maior para velocidades de corte pequenas, nas quais tem-se formação de gumes postiços intensiva. 52 Gumes postiços são camadas altamente encruadas do material sendo usinado, que caldeiam na face da ferramenta e assumem as funções de corte da ferramenta. A formação do gume postiço torna-se possível para certas propriedades do material da peça, como por exemplo o encruamento. O material que caldeia na superfície da ferramenta é deformado pela pressão de corte, vindo a adquirir uma dureza elevada que lhe dá a capacidade de assumir a função de corte da ferramenta. Dependendo das condições de corte, partículas do gume postiço deslizam periodicamente entre o flanco e a superfície de corte. Em casos de usinagem de materiais duros, a freqüência de deslizamento de partículas do gume postiço pode atingir valores de 1,5 kHz, levando a um desgaste abrasivo acentuado do flanco e piora considerável da qualidade da superfície da peça (figura 30). Considerando que a maior parte do gume postiço não é eliminado via face da ferramenta, o desgaste de cratera nessas faixas de velocidade normalmente é extremamente pequeno. 1 2 3 4 53 Figura 30 – Esquema da formação periódica do gume postiço [1] Na figura 31 tem-se a representação da curva de desgaste em relação à velocidade de corte (curva VB - vc). Como se pode ver, o desgaste de flanco aumenta com o aumento da velocidade de corte, no entanto não como uma função contínua e sim com dois valores extremos característicos. O desgaste atinge inicialmente um máximona velocidade onde a formação do gume postiço tem sua maior intensidade. Um desgaste mínimo ocorre na velocidade onde não se tem mais formação do gume postiço. Figura 31 – Desgaste abrasivo em decorrência da formação do gume postiço [1] Após ultrapassar um valor máximo, apesar do aumento da velocidade de corte, tem-se uma diminuição da marca de desgaste de flanco, decorrente de processos de recristalização e mudança de fase, que levam a um enfraquecimento sucessivo do gume postiço. O gume se Material de peça CK53N Material de ferramenta P30 Seção de usinagem a .f = 2.0,315 mm 0 Velocidade de Corte v 1 2 3 5 10 20 30 m/min 100 c 0,04 0,08 0,12 0,16 0,24 mm p 2 D es ga st e de F la nc o VB 54 torna instável e não desliza mais entre a superfície de corte e o flanco; pelo contrário, é deslocado totalmente sobre a face da ferramenta. A posição dos valores máximos e mínimos da curva VB - vc depende da temperatura. Quando se provoca um aumento da temperatura de corte (por exemplo, com o aumento do avanço, diminuição do ângulo de saída ou aumento da resistência do material), deslocam-se os valores máximo e mínimo para velocidades de corte menores, figura 32. Medidas que diminuam a temperatura de corte, como por exemplo a refrigeração, deslocam os valores extremos para velocidades de corte mais elevadas. Figura 32 – Desgaste de flanco em ferramentas de torneamento [1] - Difusão Em ferramentas de metal duro resistentes ao desgaste a quente deve-se contar com a solubilidade mútua de materiais que podem 0,24 mm 0,20 0,16 0,12 0,08 0,04 0 D e s g a s te d e F la n c o V B Geometria da ferramenta c 10° 1mm8° -4° 90° 60° r Tempo de usinagem: t = 30 min f = 0,4 mm f = 0,25 mm f = 0,1 mm Velocidade de Corte Vc Material da peça Ck53 N Matrial da ferramenta HS12-1-4-5 Profundidade de corte a = 2mmp 4 7 10 20 40 m/min 100 55 acarretar desgaste por difusão sob altas velocidades de corte. No aço rápido e no aço ferramenta, o material da ferramenta amolece em temperaturas inferiores, nas quais pode ocorrer a difusão (por exemplo, 600 C para o aço rápido). Na difusão ocorrem as seguintes reações, figura 33: - Difusão do ferro no ligante cobalto; - Difusão do cobalto no aço, onde ferro e cobalto podem mutuamente e integralmente se dissolverem formando cristais mistos; - Dissolução do carboneto de tungstênio, formando cristais mistos e duplos na forma de Fe3W3C, (FeW)6 e (FeW)23 C6. Figura 33 – Representação esquemática do desgaste por difusão em ferramentas de metal duro [1] O carbono que é liberado durante a dissolução do carboneto de tungstênio difunde em direção às menores concentrações de carbono, isto é, em direção ao aço. A difusão do carbono ocorre via ligante de cobalto. A máxima solubilidade do carbono no cobalto é da ordem de 0,7% para a temperatura de 1200 oC. Com a presença do ferro no cobalto Dissolução do WC no: Fe W C; (FeW) C; (FeW) C C Aço Fe 3 3 Co Ferramenta TiC - WC (TaC/NbC) Co - WC - MK 6 23 6 56 a solubilidade aumenta até valores da ordem de 1,5 a 2%. O ferro que se difunde para dentro do cobalto induz a duas reações que aceleram o mecanismo de dissolução de carbonetos: o ferro se oferece para a formação de carbonetos mistos ferro-tunsgtênio e aumenta a solubilidade do carbono no cobalto, o que favorece a solubilização do monocarboneto de tunsgtênio. A influência da composição do metal duro na penetração para um certo tempo de recozimento constante é mostrada na figura 34. A diminuição da velocidade de difusão deve ser fundamentada pelo fato de que a quantidade total de cobalto que participa na difusão com teor crescente de Ti e Ta nos carbonetos, diminui de forma que a difusão do ferro, que ocorre via ligante cobalto, é reduzida consideravelmente. - Oxidação Observando-se uma ferramenta após o corte, muitas vezes na proximidade da região de contato tem-se o aparecimento de cores de revenimento que são provocadas pela oxidação da ferramenta. O metal duro já inicia sua oxidação na faixa de temperatura de 700 a 800 oC, sendo que os metais duros compostos exclusivamente de carboneto de tunsgtênio e cobalto oxidam mais facilmente do que aquelas ferramentas com adição de óxido de titânio e outros carbonetos. 57 Figura 34 – Difusão entre metal duro e aço para as diversas composições dos parceiros de difusão [1] Teror de Titânio no Carboneto 0 10 20 30 40 % 50 10 20 Co Fe P r o fu n d id a d e d e D if u s ã o Fe Co30 40 50 m 60 Tempo de aquecimento t = 40 h Temper. de aquecimento 1000°C Par: Metal Duro - Aço K30 - Ck53 P30 - Ck53 P20 - Ck53 P10 - Ck53 P01 - Ck53 58 Já sob condições de corte normal, nas proximidades do gume das ferramentas de metal duro à base de carboneto de tungstênio forma-se um filme de óxido devido à temperatura elevada e à ação do oxigênio do ar. Este filme recobre todas as regiões nas quais o oxigênio da atmosfera tem acesso, isto é, nas regiões vizinhas de contato das superfícies de saída, incidência e incidência secundária, figura 35. Figura 35 – Zonas de oxidação em ferramentas de metal duro [1] A ação destrutiva da oxidação sobre a estrutura do metal duro pode ser observada de modo dominante no gume secundário. Lá forma- se um óxido complexo de tungstênio, cobalto e ferro, que por causa do seu volume maior em relação ao volume do carboneto de tungstênio, cria verdadeiras “verrugas” na superfície da ferramenta, levando facilmente ao lascamento e quebra da quina da mesma. 59 Para ferramentas de aço e aço rápido a oxidação tem pouca importância, pois a resistência ao calor da ferramenta é ultrapassada antes que a superfície se oxide [1]. 4.3 Cuidados no uso de ferramentas de corte É necessário tomar alguns cuidados com as ferramentas de corte para que estas não tenham um desempenho inferior ao esperado. Assim como outros equipamentos de produção, os sistemas de transporte e a manutenção automatizada de ferramentas de corte são tecnologias de gerenciamento importantes que influenciam significativamente a produção. Se ocorrer uma fratura em uma ferramenta de corte devido à falta de cuidados, não importando quão perfeito os outros equipamentos estejam, será impossível obter uma boa qualidade no corte. 4.3.1Manuseio e manutenção de ferramentas de corte Quando for necessário transportar ou manusear as ferramentas, algumas precauções devem ser tomadas: - Deve ser evitado segurar vários insertos ao mesmo tempo, e também deve-se evitar guardá-los em uma sacola ou pastas que permitam o contato. Cada inserto deve ser guardado separadamente em um compartimento. - Contato entre os insertos poderá causar lascamento e/ou até fratura na cunha de corte da ferramenta. - Atenção ao manusear as ferramentas. 60 - Derrubar ferramentas no chão pode danificar a cunha de corte da ferramenta. Este problema pode ocorrer facilmente, especialmente com ferramentas como cerâmicas, que são muito frágeis. - Quando as ferramentas são transportadas em caixas metálicas, deve-se tomar o cuidado de não deixar a cunha de corte da ferramenta entrar em contato com a caixa. É necessária uma proteção para as ferramentas (de preferência plástico ou borracha). - Em algunscasos, assim como o inserto, a haste da ferramenta é feita de metal duro e podem ocorrer fraturas facilmente. A falta de cuidado no manuseio da haste da ferramenta pode danificar a base onde vai ser colocado o inserto. - Recomenda-se o uso de luvas para o manuseio de insertos. Quando os insertos estão sendo colocados em uma ferramenta há o risco de ocorrerem ferimentos, e estes riscos aumentam quando os insertos estão cobertos com óleo. Também devem ser usadas luvas durante a manutenção das ferramentas porque o suor e a oleosidade da mão podem provocar oxidação na ferramenta. 4.3.2 Manutenção e gerenciamento das ferramentas de corte a) Princípios básicos - Gerenciamento das ferramentas não significa guardar ferramentas usadas mas preparar ferramentas para uso futuro, ou seja, manter as ferramentas em condições que permitam o uso assim que necessário. - Se a cunha de corte da ferramenta está em condições de ser usada novamente deve-se deixar a ferramenta em seu estado atual. Se o inserto ou a cunha de corte precisam ser trocados ou reafiados, deve-se fazer a sua manutenção antes de guardar. 61 - Como uma regra geral de ferramentas de insertos intercambiáveis, deve- se retirar os insertos da ferramenta se o próximo trabalho não for conhecido. - Limpar as ferramentas antes de guardar. Se as ferramentas forem ficar guardadas por um longo período, deve-se protegê-las da oxidação (ferrugem). - Guardar as ferramentas de acordo com com a aplicação, tamanho e freqüência de uso. Também deve-se diferenciar as novas das mais antigas. - Guardar as ferramentas de maneira que elas sejam facilmente acessíveis. - Conferir se as ferramentas danificadas foram consertadas antes de serem guardadas. - Não guardar ferramentas que sofreram danos permanentes com ferramentas que ainda podem ser usadas. b) Prevenção do contato entre as ferramentas O contato entre as ferramentas causa danos em volta da área de contato e pode resultar na falta de precisão do corte. Os seguintes passos podem ser tomados para se evitar esse problema: - Armazenar as ferramentas de maneira que se evite o contato entre elas. - Manter as ferramentas em um local seguro de modo que elas não possam rolar e nem cair. - Quando retirar ferramentas de uma gaveta, ter certeza de que as ferramentas já não estejam desarrumadas antes de abrir. - Se houverem partes substituíveis que podem ser facilmente danificadas, ter sempre partes reservas em estoque, essencialmente para ferramentas de insertos intercambiáveis. c) Prevenção contra oxidação 62 - A oxidação prejudica substancialmente a rigidez de instalação da ferramenta, portanto deve-se manter as janelas fechadas na sala de estoque quando a umidade do ar estiver alta. As ferramentas de corte freqüentemente possuem revestimento que as protege contra a corrosão, mas se o ar estiver úmido ainda assim pode ocorrer oxidação. - Ter atenção à diferença de temperaturas por causa da precipitação. No inverno, ferramentas de corte são normalmente usadas em locais frios e posteriormente levadas a locais mais quentes. Essa mudança de temperatura pode causar oxidação. - Normalmente armários metálicos não possuem proteção contra oxidação e colocando ferramentas nesses armários pode-se induzir a formação de oxidação nas mesmas. É aconselhável cobrir os armários com materiais não-metálicos e mantê-los limpos. - Se as ferramentas não forem usadas por um longo tempo, checar as condições destas periodicamente para evitar a oxidação. 4.3.3 Aplicação de tecnologia e manutenção de ferramentas de corte Um dos mais importantes pontos na manutenção de equipamentos de produção é a aplicação de tecnologia. Não importa quão bem preservado está o equipamento, se o operador cometer um erro como estabelecer condições de corte inadequadas, poderão ocorrer falhas e quebras do equipamento. O mesmo pode ser dito para ferramentas de corte. a) Ferramentas de corte adequadas ao processo de corte - Todos os equipamentos de produção tem a sua função específica, e para que ele possa ser totalmente explorado deve-se aplicar o método 63 mais apropriado de operação da máquina. A escolha da ferramenta de corte deve ser feita de acordo com o corte a ser realizado. - Selecionar a ferramenta de acordo com o material a ser usinado. A seleção da classe e forma da ferramenta deve ser feita especialmente para materiais de difícil usinabilidade. - Usar somente a ferramenta para a aplicação prescrita. - Usar a ferramenta na faixa de operação apropriada. A faixa de operação inclui condições de corte, modo de corte, vida de ferramenta e fluidos de corte. - Quando selecionar fresas, escolhê-las de acordo com o formato e largura da peça. - Se ferramentas de corte têm aplicações específicas como acabamento, usá-las apenas nessas aplicações. Nunca usar ferramentas de acabamento para desbaste. Aplicar ferramentas de corte para altas velocidades em baixas velocidades de corte pode causar a fratura da ferramenta. - Se a máquina tiver pouca potência ou pouca rigidez deve-se selecionar uma ferramenta bastante afiada e com alta resistência de corte. - Se o torno tiver pouca precisão deve-se escolher ferramentas de corte com pequeno raio de quina, excelente afiação e alta resistência de corte. b) Cuidados no preparo de ferramentas de corte - Usar as ferramentas de corte de acordo com o lote e o fabricante. Quando forem usados insertos de fabricantes diferentes há a possibilidade de haver variações no desempenho de corte da ferramenta. - No uso de ferramentas de insertos intercambiáveis, prestar atenção em quebras e deformações do assento do inserto. - Quando colocar os insertos na máquina ter cuidado para não o apertar demais. Esse aperto pode causar a quebra da ferramenta. 64 c) Instalação da ferramenta na máquina Cada ferramenta de corte e máquina tem uma estrutura diferente. A instalação adequada ou não de uma ferramenta de corte na máquina afeta a usinagem. Deve-se, portanto, atentar aos seguintes fatos: - Quando instalar a ferramenta de corte na máquina assegurar-se de que não há sujeira ou cavacos no bloco da ferramenta, no porta-ferramentas, mandril e eixo. - Quando for necessário usar um calço para fixar a ferramenta, assegurar- se de que o calço não tenha sido deformado ou torcido. - Quando se for instalar ferramentas com vários insertos como fresas na máquina, ter certeza que a direção de corte está do lado correto. d) Considerações na escolha das condições de corte - Selecionar as condições de corte de acordo com as características da ferramenta de corte. Fresas – material da ferramenta, geometria da ferramenta, número de dentes, geometria do quebra-cavaco, condições de instalação da máquina-ferramenta. Barra de mandrilar – material da ferramenta, geometria da ferramenta, existência e geometria do quebra-cavaco, condições de instalação da máquina-ferramenta. Furadeira e Alargador – material da ferramenta, geometria da ferramenta, presença de furo guia, condições de instalação da máquina-ferramenta, modo de aplicação do fluido de corte. - Selecionar de acordo com o material da ferramenta, que pode variar de aço rápido a diamante, e prestar atenção nas classes de metal duro (P, M, K). 65 - Selecionar de acordo com as características da peça a ser usinada, como por exemplo a sua composição química, dureza, resistências, tratamento térmico, afinidade com o material da ferramenta. Também deve-se prestar tenção no formato da peça e produtofinal, relação entre diâmetro e comprimento da peça. - Verificar a presença de fluido de corte na operação e suas propriedades. 66 5 Bibliografia [1] König, W., Klocke, F. 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