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Lógos e práxis

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Licenciatura em
Filosofia
Lógos e práxis: 
leituras de filosofia 
antiga, ética 
e política
1o semestre de 2011 – 3ª edição
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Universidade Metodista de São Paulo
Conselho Diretor: Wilson Roberto Zuccherato (presidente), Paulo Roberto Lima Bruhn (vice-
presidente), Nelson Custódio Fer (secretário). Titulares: Augusto Campos de Rezende, Carlos Alberto 
Ribeiro Simões, Eric de Oliveira Santos, Gerson da Costa, Henrique de Mesquita Barbosa, Maria 
Flávia Kovalski, Osvaldo Elias de Almeida. Suplentes: Jairo Werner Junior, Ronald da Silva Lima. 
Reitor: Marcio de Moraes
Pró-Reitoria de Graduação: Vera Lúcia Gouvêa Stivaletti
Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa: Fábio Botelho Josgrilberg
Diretor da Faculdade de Humanidades e Direito: Claudio de Oliveira Ribeiro
Coordenação do NEAD: Adriana Barroso de Azevedo
Coordenador do Curso 
de Filosofia 
Prof. Ms. Wesley Adriano M. Dourado
 
Organizador 
Prof. Ms. Daniel Pansarelli 
 
Professores Autores 
Prof. Ms. Daniel Pansarelli 
Prof. Dr. Frederico Pieper Pires
Prof. Dr. Marcelo Silva de Carvalho
Profa. Dra. Regina Rossetti 
Prof. Dr. Rodnei Nascimento
Profa. Ms. Suze Piza 
 
Assessoria Pedagógica 
Adriana Barroso de Azevedo
Caroline de Oliveira Vasconcellos
Patricia Brecht Innarelli
Rosangela Spagnol Fedoce
Coordenação Editorial 
Prof. Ms. Wesley Adriano M. Dourado
Editoração Eletrônica 
Editora Metodista 
Projeto Gráfico 
Cristiano Leão 
Revisão 
Eliane Viza Bastos Barreto
Impressão 
Assahi Gráfica e Editora
 
Data desta edição 
1o semestre de 2011
Rua do Sacramento, 230 - Rudge Ramos 
09640-000 São Bernardo do Campo - SP 
Tel.: 0800 889 2222 - www.metodista.br/ead
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) 
(Biblioteca Central da Universidade Metodista de São Paulo)
Universidade Metodista de São Paulo 
 Lógos e Práxis: Leituras de Filosofia Antiga, Ética e Política/ Universidade
Metodista de São Paulo. Organização de Daniel Pansarelli. 3. ed. São Bernardo do 
 Campo : Ed. do Autor, 2011.
 112 p. (Cadernos didáticos Metodista - Campus EAD)
 Bibliografia
 ISBN: 978-85-7814-164-6
 1.Sabedoria 2. Filosofia 3. Origem (Filosofia) 
 CDD100
É permitido copiar, distribuir, exibir e executar a obra para uso não-comercial, desde que 
dado crédito ao autor original e à Universidade Metodista de São Paulo. É vedada a criação 
de obras derivadas. Para cada novo uso ou distribuição, você deve deixar claro para outros 
os termos da licença desta obra. 
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Organizador
Prof. Ms. Daniel Pansarelli
Licenciatura em
Filosofia
Lógos e práxis: 
leituras de filosofia 
antiga, ética 
e política
UMESP
1o semestre de 2011 – 3a edição
Aprendizagem 
e autonomia
Caro(a) aluno(a) do Campus EAD Metodista,
É com muita alegria que o(a) recebemos na Universidade Metodista de São Paulo! 
Esperamos que sua trajetória acadêmica seja marcada por desafios, novas experiências de 
ensino-aprendizagem e muitas conquistas. Agora, você está conectado à Educação a Dis-
tância, modalidade que apresenta crescimento significativo no país. Para ter uma ideia, em 
2000, o número de alunos que estudavam a distância não somava dois mil. Em 2009, dados 
estatísticos indicam que mais de dois milhões de brasileiros já aderiram à modalidade. 
Além do crescimento e dos resultados positivos nas avaliações do Exame Nacional de 
Desempenho Estudantil (ENADE), quando comparados à modalidade presencial, a Educação 
a Distância destaca-se enquanto promotora da democratização do acesso ao curso superior 
e à qualificação profissional. Com o auxílio das Tecnologias da Educação e Comunicação (TIC), 
rompemos fronteiras a nível nacional de distância, tempo e acesso. Mais do que a inclusão 
digital, nosso objetivo é promover a inclusão social, através de uma formação humana, da 
vivência acadêmica associada a valores ético-cristãos, enquanto instituição ligada à Igreja 
Metodista, e às demandas do mercado de trabalho.
A fim de auxiliá-lo neste processo de formação, cujo foco principal é a qualidade, este 
Guia de Estudos apresenta textos desenvolvidos pelos docentes da instituição, nos quais 
são apresentados os conceitos principais trabalhados no curso. Este material atua como um 
norteador das atividades de estudos, guiando-o(a) a outras fontes de pesquisa, como artigos 
científicos, livros, revistas e demais referências importantes à sua trajetória escolar. 
Bons estudos e sucesso!
Prof. Dr. Marcio de Moraes
Reitor
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Módulo: Investigação Filosófica
Origem da Filosofia
O que é filosofia
Filosofia e método
Pesquisa em filosofia 
Módulo: Lógica e filosofia antiga
Os pré-socráticos
Heráclito e Parmênides
Sócrates e a busca pelos universais
Platão e a teoria das formas
Discurso, conceitos e a formação da lógica
Ontologia, conhecimento e a concepção platônica 
de Logos (A relação entre linguagem e mundo no Crátilo 
de Platão)
Inferência e proposição em Platão e Aristóteles
Módulo: Fundamentos da ética e da filosofia política
Introdução à filosofia política: A unidade entre ética 
e política na antiguidade clássica.
A política no mundo moderno: Autonomia da política em 
O príncipe de Maquiavel
Indivíduo eestado nas filosofias de Thomas Hobbes 
e John Locke 
Liberdade natural e liberdade civil na filosofia política de 
Jean-Jacques Rousseau
Ética filosófica: conceito e origem
Ética moderna: moral e extra-moral
Filosofia
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Módulo
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Origem 
da Filosofia
Objetivos:
Explicitar a origem da 
filosofia e delimitar seu 
conceito, a partir da distinção 
entre filosofia e sabedoria. 
Palavras-chave:
Sabedoria; filosofia; origem.
Profa. Dra. Regina Rossetti
Investigação filosófica
Universidade Metodista de São Paulo
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Para compreendermos o que é filosofia, temos de ir à busca de sua origem; são necessárias, então, 
algumas considerações gerais acerca da fase arcaica do pensamento ocidental anterior a Sócrates, 
contexto em que surge a filosofia. Ao explicitarmos algumas de suas características importantes, visando 
compreender o plano de fundo a partir do qual se construirá a filosofia, adotaremos uma divisão entre 
sabedoria e filosofia e, conseqüentemente, entre sábios e filósofos. 
Os filósofos não são sábios, somente amigos da sabedoria. Seguimos, assim, a linha de interpretação 
de G. Colli acerca do nascimento da Filosofia, que por sua vez tem como base geral a perspectiva de 
interpretação proposta por Nietzsche ao expor a origem da tragédia grega, referenciando-se na imagem 
de dois deuses gregos: Dionísio e Apolo. Nesta linha de interpretação, quando tratamos do pensamento 
anterior a Sócrates, estamos no domínio da chamada sabedoria, fonte da qual surge posteriormente a 
filosofia. Buscar as origens da filosofia grega e, portanto, do pensamento ocidental, é ir ao encontro da 
sabedoria, em cuja direção os amigos da sabedoria, isto é, os filósofos, olham com reverência
Platão olha reverente o passado, um mundo em que existiram os verdadeiros “sábios”. 
Por outro lado, a filosofia é apenas a continuação, um desenvolvimento da forma literária 
introduzida por Platão; contudo esta surge como fenômeno de decadência, na medida em 
que “amor à sabedoria” está mais abaixo da “sabedoria” (COLLI, 1996, p. 09).
A passagem da sabedoria à filosofia éa passagem do pensamento envolto no enigma e no mistério 
para um pensamento mais abstrato, racional e discursivo.
Os ensinamentos da sabedoria, como as revelações dos mistérios, pretendem transformar 
o homem no íntimo, elevá-lo a uma condição superior, fazer dele um ser único, quase um 
deus, [...] (a sabedoria) exprime certamente o segredo, formula-o em palavras, mas o povo 
não pode apreender seu sentido (VERNANT, 1973, p. 40-1).
O pensamento enigmático é aquele que acena para a verdade através do enigma que precisa ser 
decifrado, numa intuição primordial e imediata daquele que sabe. O pensamento filosófico busca fundar-
se no lógos, na palavra que é pensamento, no discurso. Mas isto não significa que sabedoria e filosofia 
sejam antitéticas, são na verdade duas fases sucessivas do mesmo fenômeno fundamental da busca do 
conhecimento: “Se a origem da sabedoria grega está na mania, na exaltação pítica, numa experiência 
mística e dos mistérios, então como se explica a passagem desse fundo religioso para a elaboração de 
um pensamento abstrato, racional, discursivo?” (COLLI, 1996, p. 61).
Segundo Colli, a passagem da sabedoria à filosofia deu-se exatamente no surgimento da dialética 
entendida como discussão racional, cuja primeira expressão encontramos nos diálogos de Platão. Neste 
sentido, a filosofia começa com Platão; o que reforça ainda mais a importância dada por Bergson ao 
pensamento platônico quando tratou de mostrar as origens da metafísica da inteligência.
Os sábios1 que iniciaram no ocidente o movimento de pensamento que, posteriormente, 
deu origem à Filosofia tornaram-se conhecidos como pertencentes ao grupo dos pensadores 
pré-socráticos. Todavia, não devemos enxergar, nos assim chamados pré-socráticos, um grupo 
homogêneo e destacado dentro da história da filosofia; ao contrário, questiona-se aqui a divisão 
histórica que unifica num grupo vários pensadores diferentes em seus modos particulares de pensar, 
simplesmente porque foram anteriores a Sócrates. São pensadores que refletiram dentro de seu 
movimento próprio, com pensamentos distintos e intuições originais de cada um, e que serviram 
de fonte para ao pensamento filosófico que lhes é posterior. 
 
1 Entende-se sábios, aqui, simplesmente aqueles pensadores pertencentes ao período do 
pensamento grego denominado Sabedoria. Não se faz aqui qualquer referência aos tradicionalmente 
conhecidos “Sete Sábios” da antiguidade grega. Segundo Vernant, tais narrativas não passam “de uma mistura 
de dados puramente lendários, de alusões históricas, de sentenças políticas e de chavões morais, a tradição 
mais ou menos mítica dos Sete Sábios” (1973, p. 49).
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Os “pré-socráticos” constituíram, desde Aristóteles, o 
problema histórico e o fundamento sistemático da filosofia 
ática clássica, isto é, o platonismo. Nos últimos tempos, esta 
conexão histórica teve uma tendência a passar a segundo 
plano devido ao desejo de compreender cada um daqueles 
pensadores em si mesmo, na sua própria individualidade, 
como filósofo original, assim destacando melhor relevo à 
sua verdadeira importância (JAEGER, 1995, p. 191).
Da mesma forma que não há um grupo coeso chamado pré-
socrático, também não há, a rigor, uma problemática filosófica única, 
ou seja, não há a questão filosófica pré-socrática. Isto porque uma 
questão, enquanto uma proposição filosófica, é algo posto pelo 
pensamento filosófico que é historicamente posterior e funda-se 
primordialmente no logos: “Quanto ao método, a filosofia quer ser 
explicação puramente racional da totalidade que é seu objeto. O que vale 
na filosofia é o argumento da razão, a motivação lógica: é, numa palavra, 
o lógos” (REALE, 1995, vol. 1, p. 29).
Pensadores, como Tales, Anaximandro e Pitágoras, constituem-se, 
na verdade, na raiz, na fonte da problemática filosófica que somente 
é posta pelos filósofos posteriores, como Aristóteles, por exemplo. 
Assim, não se tratará os anteriores a Sócrates como um grupo 
homogêneo de filósofos que possuem uma problemática única, mas, 
sim, como pensadores originais considerados em suas diferenças.
Por não possuírem uma temática precisa e pré-determinada, algo 
que é característico da forma de pensamento próprio da filosofia, 
se impõe o cuidado no uso de uma terminologia mais autêntica 
e original, característica dessa fase arcaica do pensamento, para 
darmos conta de compreender a forma de pensamento própria 
desse período original do pensamento: “A tradição, em grande parte 
oral, da sabedoria, já obscura e escassa pela distância dos tempos, 
já evanescente e tênue para o próprio Platão, mostra-se, a nossos 
olhos, francamente falsificada pela inserção da literatura filosófica” 
(COLLI, 1996, p. 10)
Tarefa nada fácil porque são inúmeros os problemas de acesso ao 
pensamento dos primeiros sábios. Primeiro, estamos numa fase da 
história onde há uma tradição que privilegia a transmissão oral dos 
pensamentos, onde se escreve com dificuldade, isto quando se escreve, 
o que dificulta em muito a expressão unívoca dos pensamentos. 
Segundo, o que restou do registro de seus pensamentos, dadas as 
péssimas condições de conservação, ficou na forma de fragmentos, 
cujas lacunas podem permitir inúmeras interpretações diversas. 
Terceiro, a tradução feita para línguas modernas de um grego arcaico 
pode gerar por sua vez muitos desentendimentos. Portanto, somente 
resta atermo-nos ao pensamento dos primeiros sábios, tal como ele 
nos é dado. Impostas todas estas dificuldades, somos restringidos, por vezes, a não podermos afirmar 
seguramente a fidedignidade do pensamento original desses sábios, restando-nos a alternativa de 
levantarmos questionamentos e suposições mais do que assegurar a verdade da interpretação. Trata-
se muito mais de propormos questões acerca do pensamento desses sábios do que responder a estas 
questões, inspirados na sábia atitude de interrogação daquele que talvez tenha sido o último dos sábios, 
Sócrates, e também em Bergson, para quem é mais importante saber bem propor os problemas do 
que resolvê-los.
Pitágoras
Im
agem
 1
Anaximandro
Im
agem
 2
Tales de Mileto
Im
agem
 3
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Pensadores distintos uns dos outros, cuja ligação entre eles é a de um tênue prosseguimento entre 
uma pergunta levantada anteriormente e que se torna motivo de reflexão para os posteriores, dando 
origem às chamadas escolas filosóficas. Em termos de pensamento, há um movimento ininterrupto que 
não finda com o próprio pensador, mas prolonga-se por via de outro pensador. É como se esses sábios 
simplesmente perguntassem o que é, depois respondessem; e não satisfeitos com a primeira resposta, 
perguntassem por que é o que é; e respondessem ao porquê. Isto é pensar, é mover o pensamento através 
do indagar. Olhavam, questionavam, penetravam seus próprios espíritos e começavam a pensar.
Destacamos do contexto geral onde ocorre o surgimento do movimento de pensamento, que dá 
origem ao pensar filosófico, o ser que busca saber e que parte espontaneamente do primado de sua 
própria existência sem ao menos questionar a razão da procura, a razão do que procura, sem ao menos 
questionar sua própria razão. Estamos num momento, pré-filosófico, estamos no âmbito da sabedoria, 
do saber originário, no qual questões acerca do conhecer ainda não foram propostas. O ser humano 
parte em busca do conhecimento sem questionar o que é conhecimento, parte por um movimento 
espontâneo e natural de seu ser. A questão sobre o que é o Universo se põe naturalmente desde que 
o homem começa a refletir. Por meio da chamada observação e da especulação sobre o que está em 
seu entorno, põe-se em busca daquilo que há em todos os planos da natureza, isto é, põe-se a buscar 
no todo seu ser, sua essência. 
E na busca do saber, os primeiros que buscaram, moveram seus pensamentos nosentido do 
ser, indagando sobre o que é. E dentre todas as indagações esta é espontaneamente a primeira, 
a mais original: 
Assim, num primeiro momento, a totalidade do real, phýsis, foi vista como cosmo e, portanto, 
o problema filosófico por excelência foi o problema cosmológico: como surge o cosmo, qual 
o seu princípio? Quais as fases e os momentos da sua geração? etc. É esta a problemática 
que, essencial ou, pelo menos, prioritariamente, absorve toda a primeira fase da filosofia 
grega (REALE, 1995, vol. 1, p. 32).
Perguntar o que é; e quando perguntamos pelo que é, perguntamos pelo ser, pela essência, isto é, 
perguntamos pela origem. Assim, perguntaram os primeiros sábios pela origem do todo, do cosmos, 
e inauguraram a filosofia. Fiel a sua origem, a filosofia é indagação, investigação, é perguntar pelo ser, 
pela vida, pelo mundo.
Referências
COLLI, Giorgio. O nascimento da filosofia. Tradução de Federico Carotti. Campinas: Edit. da 
Unicamp, 1996.
JAEGER, Werner. Paidéia: a formação do homem grego. Tradução de Arthur M. Parreira. São Paulo: 
Martins Fontes, 1995.
REALE, Giovanni. História da filosofia antiga. Tradução de Marcelo Perine e Henrique C. de Lima 
Vaz. São Paulo: Loyola, 1995. 5 vols.
VERNANT, Jean-Pierre. Mito e pensamento entre os gregos. Tradução de H. Sarian. São Paulo: 
Difel, Edusp, 1973.
Imagem 1: http://pt.wikipedia.org/wiki/imagem: Kapitolinischer_Pythagoras.jpg. 
Disponível em 14’Jan’2008.
Imagem 2: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem: Anaximander.jpg. Disponível em 14’Jan’2008.
Imagem 3: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Thales.jpg. Disponível em 14’Jan’2008.
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O que é 
Filosofia
Objetivos:
Definir o que é filosofia e 
apresentar os principais 
períodos da História da 
Filosofia. 
Palavras-chave:
Filosofia; conceito; história.
Profa. Dra. Regina Rossetti
Investigação filosófica
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A palavra filosofia é composta por outras duas palavras gregas: philo e sophia. Philo significa amizade, 
amor entre os iguais. Sophia quer dizer sabedoria, e dela vem a palavra sophos, sábio. Filosofia significa, 
portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Filósofo significa aquele que ama a 
sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber. Nesse sentido, o filósofo é aquele que deseja e busca 
a sabedoria, mas não a tem, porque deixamos de desejar aquilo que possuímos. E filosofia é a busca 
pelo saber, mas não sua posse. Atribui-se ao filósofo grego Pitágoras de Samos (que viveu no século V 
a.C.) a invenção da palavra filosofia. Pitágoras teria afirmado que a sabedoria plena e completa pertence 
aos deuses, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos.
A filosofia surge na Grécia Antiga por volta do século VI a.C. Trata-se de um fenômeno tipicamente 
grego quando entendido como aspiração ao conhecimento racional, lógico e sistemático da realidade 
natural e humana, da origem e causas do mundo, das ações humanas e do próprio pensamento e 
de suas transformações. 
Em termos conceituais, a Filosofia não é um conjunto de saberes ou um conjunto de 
conhecimentos, a filosofia é uma atitude frente ao mundo. É tomar distância do cotidiano e 
interrogar a si mesmo, desejando conhecer o porquê de nossas 
crenças, sentimentos, ações e pensamentos. É a busca pelos 
motivos e razões da realidade e da existência das coisas e das 
idéias. Nesse sentido, segundo Marilena Chauí, uma primeira 
resposta à pergunta “O que é Filosofia?” poderia ser: “A decisão 
de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, 
as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência 
cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e 
compreendido” (CHAUÍ, 2004, p.17).
Segundo a mesma autora, a atitude filosófica é uma atitude 
crítica e reflexiva, além de ser sistemática. 
A crítica possui uma fase positiva e outra negativa. 
A primeira característica da atitude filosófica é 
negativa, isto é, um dizer não ao senso comum, aos 
pré-conceitos, aos pré-juízos, aos fatos e às idéias 
da experiência cotidiana. A segunda característica 
da atitude filosófica é positiva, isto é, uma interrogação sobre o que são 
as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os comportamentos, os valores, 
nós mesmos. É também uma interrogação sobre o porquê disso tudo e 
de nós, e uma interrogação sobre como tudo isso é assim, e não de outra 
maneira. O que é? Por que é? Como é? Essas são as indagações fundamentais da atitude 
filosófica (CHAUI, 2004, p. 12): 
perguntar o que é a coisa, ou o valor, ou a idéia. A Filosofia pergunta qual é a realidade •
ou natureza e qual é a significação de alguma coisa, não importa qual;
perguntar como é a coisa, a idéia ou o valor. A Filosofia indaga qual é a estrutura e quais •
são as relações que constituem uma coisa, uma idéia ou um valor;
perguntar por que é a coisa, a idéia ou o valor, existe e é como é. A Filosofia pergunta pela •
origem ou pela causa de uma coisa, de uma idéia, de um valor.
Além de crítica, a atitude filosófica também é reflexiva. Inicia-se dirigindo indagações ao mundo 
e, pouco a pouco, descobre que essas questões se referem à nossa capacidade de conhecer, à nossa 
capacidade de pensar. Então perguntamos o que é pensar, como é pensar, por que há o pensar? 
A Filosofia torna-se, então, o pensamento interrogando-se a si mesmo. Por ser uma volta que o 
pensamento realiza sobre si mesmo, a Filosofia se realiza como reflexão. 
A reflexão filosófica 
é radical porque é 
um movimento de 
volta do pensamento 
sobre si mesmo para 
conhecer-se a si 
mesmo, para indagar 
como é possível o 
próprio pensamento.
(CHAUÍ, 2004, p.20)
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Reflexão significa movimento de volta sobre si mesmo ou movimento de retorno a si 
mesmo. A reflexão é o movimento pelo qual o pensamento volta-se para si mesmo, 
interrogando a si mesmo. A reflexão filosófica é radical porque é um movimento de 
volta do pensamento sobre si mesmo para conhecer-se a si mesmo, para indagar como 
é possível o próprio pensamento (CHAUÍ, 2004, p.20).
A Filosofia também se constitui em um pensamento sistemático. Para a autora, isso significa que 
a Filosofia trabalha com enunciados precisos e rigorosos, busca encadeamentos lógicos entre os 
enunciados, opera com conceitos ou idéias obtidos por procedimentos de demonstração e prova, 
exige a fundamentação racional do que é enunciado e pensado. 
Somente assim a reflexão filosófica pode fazer com que nossa experiência cotidiana, 
nossas crenças e opiniões alcancem uma visão crítica de si mesmas. O conhecimento 
filosófico é um trabalho intelectual. É sistemático, porque não se contenta em obter 
respostas para as questões colocadas, mas exige que as próprias questões sejam válidas 
e, em segundo lugar, que as respostas sejam verdadeiras, estejam relacionadas entre si, 
esclareçam umas às outras, formem conjuntos coerentes de idéias e significações, sejam 
provadas e demonstradas racionalmente (CHAUI, 2004, p. 15). 
A Filosofia não possui uma única definição, mas várias. Marilena Chauí nos mostra pelo menos 
quatro definições gerais do que seria a Filosofia:
Visão de mundo de um povo, de uma civilização ou de uma cultura. Filosofia 
corresponderia ao conjunto de idéias, valores e práticas pelos quais uma sociedade 
apreende e compreende o mundo e a si mesma.
Sabedoria de vida, em que a Filosofia seria identificada com a definição e a ação de 
algumas pessoas que pensam sobre a vida moral, dedicando-se à contemplação do 
mundo para aprender com ele a controlar e dirigir suas vidas de modo ético e sábio.
Esforço racional para conceber o Universo como uma totalidade ordenada e dotada 
de sentido. Nesse caso, distingui-se, e até opõe-se, entre Filosofia e religião, pois 
ambas possuem o mesmo objeto, ou seja, o Universo,mas por métodos diferentes, a 
primeira por meio do esforço racional, enquanto a segunda, por confiança ou fé em 
uma revelação divina.
Fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas. A Filosofia se 
ocuparia com as condições e os princípios do conhecimento que pretenda ser racional 
e verdadeiro; com a origem, a forma e o conteúdo dos valores éticos, políticos, artísticos 
e culturais; com a compreensão das causas e das formas da ilusão e do preconceito 
no plano individual e coletivo; com as transformações históricas dos conceitos, das 
idéias e dos valores.
Essas são apenas algumas definições possíveis, e a filosofia, por sua complexidade, extensão e natureza, 
pode apresentar tantas definições quantos forem os pensamentos e os filosofares sobre ela. 
Os períodos da história da filosofia
Filosofia antiga 
Vai do século VI a.C. até o século VI d.C. e compreende quatro grandes períodos da Filosofia 
greco-romana:
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Período pré-socrático, a filosofia se ocupa com a origem do mundo e as causas das • 
transformações na Natureza.
Período socrático, a filosofia investiga as questões humanas: a ética, a política e as técnicas, • 
ou seja, é um período antropológico.
Período sistemático, a filosofia busca reunir e sistematizar tudo quanto foi pensado anteriormente, • 
interessando-se sobretudo em mostrar que tudo pode ser objeto do conhecimento filosófico, desde 
que as leis do pensamento e de suas demonstrações estejam firmemente estabelecidas para 
oferecer os critérios da verdade e da ciência. É o período de Platão e Aristóteles.
Período helenístico, a filosofia se ocupa sobretudo com as questões da ética, do • 
conhecimento humano e das relações 
entre o homem e a Natureza e de 
ambos com Deus quando adentra o 
cristianismo. Nesse período temos 
as escolas epicurista, estóica, cínica 
e neoplatônica.
Filosofia patrística 
Inicia-se no século I e vai até o século VII, 
recebe influência das Epístolas de São Paulo e do 
Evangelho de São João. A principal preocupação 
da filosofia patrística é conciliar a fé cristã com 
a razão herdada dos gregos. Divide-se em 
patrística grega (ligada à Igreja de Bizâncio) e 
patrística latina (ligada à Igreja de Roma).
Os nomes mais importantes foram: Justino, 
Tertuliano, Atenágoras, Orígenes, Clemente, 
Eusébio, Santo Ambrósio, São Gregório Nazianzo, 
São João Crisóstomo, Isidoro de Sevilha, Santo 
Agostinho, Beda e Boécio.
Filosofia medieval 
Do século VIII ao século XIV, abrange 
pensadores europeus, árabes e judeus. É o 
período em que a Igreja Romana dominava 
politicamente a Europa e criava, à volta das 
catedrais, as primeiras universidades ou escolas. 
E, a partir do século XII, por ter sido ensinada 
nas escolas, a filosofia medieval também é 
conhecida com o nome de Escolástica. Uma de 
suas questões principais diz respeito às provas da 
existência de Deus e da alma.
Os teólogos medievais mais importantes 
foram: Abelardo, Duns Scoto, Escoto Erígena, 
Santo Anselmo, Santo Tomás de Aquino, Santo 
Alberto Magno, Guilherme de Ockham, Roger 
Bacon, São Boaventura. Do lado árabe: Avicena, 
Averróis, Alfarabi e Algazáli. Do lado judaico: 
Maimônides, Nahmanides, Yeudah bem Levi.
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Filosofia da Renascença 
Inicia-se no século XIV e vai até o século XVI, e é marcada pela descoberta de obras filosóficas 
gregas de Platão e Aristóteles desconhecidas na Idade Média, bem como pela recuperação das obras 
dos grandes autores e artistas gregos e romanos. Os temas principais desse período são: o homem 
como microcosmo, a política e o antropocentrismo.
Os nomes mais importantes desse período são: Dante, Marcílio Ficino, Giordano Bruno, Campannella, 
Maquiavel, Montaigne, Erasmo, Tomás Morus, Jean Bodin, Kepler e Nicolau de Cusa. 
Filosofia moderna 
Compreende o século XVII e vai até meados do século XVIII. Esse período, conhecido como o 
Grande Racionalismo Clássico, é marcado por três grandes mudanças intelectuais: surgimento do 
sujeito do conhecimento; o objeto pode ser conhecido desde que sejam consideradas representações, 
ou seja, idéias ou conceitos formulados pelo sujeito do conhecimento; e a realidade é concebida 
como um sistema racional de mecanismos físicos, cuja estrutura profunda e invisível é matemática. 
Há uma grande confiança nas capacidades e nos poderes da razão humana.
Os principais pensadores desse período foram: Francis Bacon, Descartes, Galileu, Pascal, Hobbes, 
Espinosa, Leibniz, Malebranche, Locke, Berkeley, Newton, Gassendi.
Iluminismo 
A filosofia da ilustração vai de meados do século XVIII ao começo do século XIX. Esse período 
também crê nos poderes da razão, chamada de As Luzes. O Iluminismo afirma que, pela razão, o 
homem pode conquistar a liberdade e a felicidade social e política, além da evolução e do progresso 
das civilizações.
Os principais pensadores do período foram: Hume, Voltaire, D’Alembert, Diderot, Rousseau, Kant, 
Fichte e Schelling (embora este último costume ser colocado como filósofo do Romantismo).
Filosofia contemporânea
Compreende o final do século XIX e os séculos XX e XXI. A filosofia contemporânea abrange 
o pensamento filosófico atual e é marcada por rupturas com o pensamento anterior. São temas 
recorrentes na Filosofia Contemporânea: a história, as ciências, a política e as utopias, a cultura, a 
pós-modernidade, a linguagem e a ética.
São considerados filósofos contemporâneos: Hegel, Nietzsche, Husserl, Heidegger, Sartre, Merleau-
Ponty, Bachelard, Bergson, Wittgenstein, Foucault.
Referências 
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2004.
CUNHA. José Auri. Filosofia: iniciação à investigação filosófica. São Paulo: Atual, 1992.
DELEUZE, Gilles; GATTARI, Félix. O que é a filosofia? São Paulo: Editora 34, 1992.
HEIDEGGER, Martin. Que é isso - a filosofia. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br. 
MERLEAU-PONTY, Maurice. Elogio da filosofia. Lisboa: Guimarães Editores, 1993.
ORTEGA y GASSET, José. Que é filosofia? Rio de Janeiro: Ibero-Americano, 1971.
PLATÃO. Defesa de Sócrates. São Paulo: Abril, 1984.
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Módulo
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Filosofia 
e método
Objetivos:
Pensar a filosofia e o filosofar 
a partir do método intuitivo e 
do pensamento de Bergson. 
Palavras-chave:
Filosofia; intuição; método.
Profa. Dra. Regina Rossetti
Investigação filosófica
Universidade Metodista de São Paulo
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Uma questão inicial se põe a todos que desejam conhecer um pensamento ainda não conhecido: 
como compreender o novo pensamento que surge por vezes envolto em mistérios, em que 
desejaríamos adentrar, desarmados de prévias recusas e, ao mesmo tempo, curiosos para ver em 
profundidade o que ele verdadeiramente é em sua novidade essencial?
 Segundo o filósofo francês Henri Bergson, os tradicionais estudiosos da filosofia, quando se 
deparam com um novo pensamento, empenham-se na tentativa de reduzi-lo ao antigo: retomam 
suas pretensas fontes, pesam suas influências, extraem algumas semelhanças exteriores, pensam-no 
por meio de conceitos preexistentes; por fim, acabam por recompor o novo pensamento com o que 
ele por si mesmo não é, mas pelo que ele poderia ser relativamente às formas de pensar já existentes. 
O problema é que desse método resulta somente uma visão exterior do pensamento como tal, 
porque não se alcançou o que nele há de novo e, portanto, de original, algo que somente um contato 
direto com a interioridade desse pensamento pode nos revelar 
em sua íntima essência. Para Bergson, esse método tradicional 
nos estudos filosóficos procede sistematicamente no sentido de 
relacionar o novo pensar de um filósofo com o que há em torno 
dele em termos de doutrinas anteriores e contemporâneas, e 
conseqüentemente reduzi-lo a “uma síntese mais ou menos original 
das idéias em meio às quais o filósofo viveu” (BERGSON, 1984, p. 
55). Procedendo desta maneira, aquele que procura conhecer não 
se instala no interior do próprio movimento do novo pensamento 
e, assim, não pode perceber o que ele contém de essencialmente 
original e espontâneo, isto é, o ponto inicial que impulsionou 
o movimento deste novo pensamento. Nesse ponto primordial 
que deu origem a toda uma filosofia, está a intuição original do 
filósofo, e cuja filosofia, enquanto esforço de expressão dessa intuição, não foi mais 
que a tentativa, cada vez mais empenhada e até desesperada, de dizê-la. Assim afirma 
Bergson em belas palavras:
Neste ponto está algo de simples, de infinitamente simples, de tão extraordinariamente 
simples que o filósofo não conseguiu jamais exprimi-lo. Esta é a razão por que falou 
durante toda a sua vida. Não podia formular o que levava no espírito sem se sentir 
obrigado a corrigir sua fórmula, depois a corrigir sua correção: assim, de teoria em teoria, 
retificando-se quando acreditava completar-se, ele só fez, através de uma complicação 
que atraía a complicação e desenvolvimentos justapostos a desenvolvimentos, fornecer com 
aproximação crescente a simplicidade de sua intuição original. Toda a complexidade de sua 
doutrina, que se estenderia ao infinito, é apenas a incomensurabilidade entre sua intuição 
simples e os meios de que dispunha para exprimi-la (BERGSON, 1984, p. 56).
Para compreender um novo pensamento, portanto, devemos ir em busca de sua intuição original, 
daquele ponto único que impulsionou seu movimento, fazendo uso de nossa própria capacidade de 
intuir, afastando-nos do hábito de querer rever no novo o velho, mas buscando ver o jorrar incessante 
da novidade que move o pensar. 
Posto que a intuição é o método que pode dar conta daquilo que desejamos saber, principalmente 
quando se trata de saber sobre o essencial da realidade, estaremos sempre em busca da intuição 
original do filósofo, estaremos em busca deste ponto único, da origem de seu pensamento subjacente 
à sua expressão discursiva. Mas há algo que intriga, por que o filósofo não consegue, por mais hábil 
que seja com os conceitos e as palavras, exprimir sua intuição primordial? Porque a intuição original 
é tão simples e única que expressá-la implicaria desenvolvê-la em termos que ela mesma não é; dito 
de outro modo, quando se tenta dizer qual é essa intuição através de símbolos, conceitos ou palavras, 
não se consegue expressar sua absoluta essência individual, pois se tem de recorrer a algo que ela não 
é, o símbolo, fazendo com que se perca a pureza original que a identifica. 
Filosofar é entrar em 
contato com a duração 
real, que é a essência 
da realidade, contato 
esse que somente a 
intuição pode nos dar.
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www.metodista.br/ead
Segundo Bergson, é assim que a filosofia, enquanto discurso, surge da tentativa desesperada 
de exprimir a intuição original em fórmulas e expressões que tornam cada vez mais complicado e 
imperfeito exprimir a intuição simples do que há no espírito. Isto significaria que toda e qualquer 
filosofia ou que toda forma de expressão de uma intuição estaria fadada ao fracasso? Não, somente 
aquelas que trocam a realidade pelo símbolo e que, em vez de pensar aquilo que é, pensam sua 
representação conceitual, ou seja, aquelas filosofias que se utilizam em demasia de conceitos e 
representações simbólicas, distantes da realidade tal qual é nela mesma. Ver a própria realidade é intuir 
a imanência do ser, sem se iludir com a transcendência do símbolo em relação à realidade mesma. 
Assim, um método intuitivo seguiria o caminho inverso dos tradicionais métodos hermenêuticos 
da história da filosofia, indo da letra das obras filosóficas à simplicidade do espírito que a anima e, 
assim, se aproximaria cada vez mais da intuição original do autor. E, no caminho de volta, 
na tentativa de expressar o que se compartilhou dessa intuição do autor, se utilizaria 
muito mais de imagens e metáforas do que de conceitos rígidos em seus significados. 
Neste sentido, filosofar é um ato simples, porque 
busca primordialmente a pura e simples intuição 
interior de um pensamento, afastando-se das 
complicações da letra e do discurso. “Penetrar no 
que se faz, seguir o movimento, adotar o devir 
que é a vida das coisas. Esta tarefa pertence à 
filosofia” (BERGSON, 1984, p. 66). Uma filosofiado movimento e da interioridade que tem 
por método a intuição, esta é a proposta de 
Bergson.
Outra característica do filosofar bergsoniano 
diz respeito ao problema filosófico. Encontrar o 
verdadeiro problema e colocá-lo, de forma clara 
e explícita, é tão ou mais importante quanto 
resolvê-lo. Segundo Bergson, “a verdade é que se 
trata, em filosofia e mesmo alhures, de encontrar 
o problema e conseqüentemente de colocá-lo, 
mais do que de resolvê-lo. Pois um problema 
especulativo está resolvido no momento em que 
for bem enunciado” (BERGSON, 1984, p. 127).
Coerente com sua visão de realidade, filosofar 
para Bergson é aprofundar-se no devir universal, 
que é a própria realidade, por meio de nosso 
próprio movimento interior, quando o espírito 
regressa a si mesmo em busca do princípio 
movente: “A filosofia não é apenas o regresso do 
espírito a si mesmo, a coincidência da consciência 
humana com o princípio vivo de onde emana, 
uma tomada de contato com o esforço criador. 
É aprofundamento do devir geral” (BERGSON, 
1971, p.353). 
Filosofar é entrar em contato com a duração 
real, que é a essência da realidade, contato esse 
que somente a intuição pode nos dar. Assim, da 
existência desse movimento essencial, podemos 
ter certeza quando com ele tomamos contato 
por meio da intuição, quando coincidimos com o 
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movimento da realidade e podemos acompanhar seus contornos. Além disso, a intuição é conhecimento 
interior e capta o movimento em sua totalidade; logo, ela sempre nos dará uma visão do Todo. Se 
queremos saber o que é a realidade, temos primeiro de determinar qual é o método para alcançar essa 
sabedoria, e é por isto que partimos de um estudo sobre a intuição. Portanto, o objetivo da filosofia 
de Bergson é a intuição da duração, que é a essência da realidade movente.
Desta forma, pode-se afirmar uma filosofia que sustenta como fundamento da realidade o 
movimento, a duração e a mudança, e afirma que sempre haverá mais no movimento do que nas 
posições atravessadas pelo móvel, mais no devir do que na forma estável. Portanto, a instabilidade 
radical e a imutabilidade absoluta são somente visões abstratas, tomadas de fora, sobre a continuidade 
da mudança real. Abstrações que o espírito de um lado fragmenta em estados múltiplos, e de 
outro lado, em coisa ou substância. As dificuldades levantadas pelos antigos em torno da questão 
do movimento e pelos modernos em torno da questão da substância se desfazem. Estas porque a 
substância é movimento e mudança, aquelas porque o movimento e a mudança são substanciais. 
Visão que somente uma metafísica da duração que intui a essência do movimento imanente ao 
próprio movimento pode ter.
No início do capítulo IV da Evolução Criadora, Bérgson se propõe a definir com maior clareza sua 
própria filosofia contrapondo-a a essa metafísica da inteligência, que perdurou por séculos de história 
da filosofia. Para tanto, examina as origens desta forma de entender o mundo, e aí encontra duas 
fundamentais ilusões teóricas da inteligência: a imutabilidade e o nada – ilusões antigas que deram 
origem a inúmeros equívocos de entendimento acerca do movimento essencial do ser. A primeira 
e mais nítida destas ilusões “consiste em acreditar que é possível pensar o instável por intermédio 
do estável, o movente por intermédio do imóvel” (BERGSON, 1971, p.270), ou seja, idealizar uma 
origem imóvel para o movimento. A segunda refere-se à idéia do nada: “tal como passamos pelo 
imóvel para chegar ao movente, do mesmo modo que nos servimos do vazio para pensar o pleno” 
(BERGSON, 1971, p.271), ou seja, entender o ser a partir do nada.
A partir desses problemas, a filosofia de Bergson pretende inverter a marcha habitual do 
pensamento, preponderantemente intelectual, que busca conhecer o mundo a partir da exterioridade 
e da imobilidade, fundada numa percepção que realiza, artificialmente, recortes imóveis no Todo. 
Nessa inversão, o pensamento se dá conta da imanência e do movimento essencial da realidade, 
não somente da consciência, mas também do Todo. Em suma, para afirmar sua filosofia intuitiva da 
duração e do movimento, Bergson necessita refutar toda a filosofia tradicional que, em seu conjunto, 
negou o movimento essencial do ser.
Referências 
BERGSON, Henri. A evolução criadora. Tradução de Adolfo Casais Monteiro. Rio de Janeiro: 
Opera Mundi, 1971.
_________. Cartas, conferências e outros escritos. Tradução de Franklin Leopoldo e Silva. São 
Paulo: Abril Cultural, 1984 (Os Pensadores).
ROSSETTI, Regina. Movimento e totalidade em Bergson. São Paulo: Edusp, 2004.
Módulo
www.metodista.br/ead
Pesquisa 
em filosofia 
Objetivos:
A intenção principal deste texto é levar o 
aluno de Filosofia a refletir sobre alguns 
procedimentos necessários ao filosofar, 
a saber a leitura dos textos filosóficos, 
a pesquisa em filosofia e a postura 
diante de ambos. Por meio da discussão 
acerca do fazer filosófico, abordaremos a 
particularidade da leitura filosófica e as 
principais regras para se realizar uma boa 
pesquisa nessa forma de conhecimento, 
ambas contextualizadas no âmbito da 
produção de filosofia.
Palavras-chave:
Filosofia; filosofar; leitura; pesquisa.
Profa. Ms. Suze Piza
Investigação filosófica
Universidade Metodista de São Paulo
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O fazer filosófico
O filósofo brasileiro se vê diante de um dilema constante: reproduzir ou produzir conhecimento 
filosófico? A formação do filósofo nas universidades passa necessariamente pela manipulação dos 
textos da tradição filosófica, isto é, pelo contato aprofundado com os pensamentos produzidos pelos 
principais filósofos ocidentais, seus problemas, suas teorias. Como parte necessária dessa formação, 
o aluno se vê diante da tarefa de produzir monografias acerca dos mais diversos temas, dissertações, 
teses acerca dos problemas apresentados ao longo de seu percurso. Nesse processo de aprender 
a lidar com esses conteúdos filosóficos, ele aprende a delimitar o espaço da filosofia como uma 
das formas possíveis de conhecer a realidade, seus problemas, suas formas de ver o mundo e as 
particularidades da maneira como tudo isso é apresentado através dos textos, que é, sem dúvida, o 
lócus onde o pensamento filosófico se expressa com mais propriedade. 
A questão que se coloca para nossa reflexão é que todo esse processo, sem dúvida necessário, 
afinal, é lendo e lidando com os textos de filosofia que se aprende a filosofar, leva de fato à produção 
filosófica ou apenas à reprodução ou repetição das idéias de filósofos? A resposta a essa questão 
pode ser dada se compreendermos o texto e os conteúdos filosóficos como um meio, e não como 
um fim. É preciso encarar o texto de filosofia e as idéias filosóficas como uma mola propulsora que 
está atrás do estudante ou do filósofo empurrando-o para frente e fazendo-o pensar nos mesmos 
problemas ou criar seus próprios problemas.Dizemos isso, porque muitas vezes o estudante é levado 
a ver o texto e as idéias dos filósofos como fim; é como se o objeto da investigação não fosse um 
problema filosófico que nos toca, que nos acerca, e sim o próprio filósofo. Quando isso ocorre, o 
que deveria ser mola passa a ser um muro que fica diante do estudante ou do filósofo fazendo-o 
ver muito bem aquela teoria, mas tapando seus olhos para qualquer coisa além dela.
Nossa proposta de trabalho aqui o guiará para dominar a arte de ler e pesquisar filosofia como 
um caminho necessário ao filosofar, como um instrumento para 
o filosofar; olharemos os textos de fora e de cima e veremos 
em que medida eles podem nos dar o que precisamos para nos 
tornar filósofos. Nosso objetivo é o filosofar e aprenderemos isso 
através da filosofia já produzida. A dimensão da criação deve ser 
resguardada no meio do processo, é importante não perdê-la de 
vista, pois, como afirmam Deleuze e Guattrari, a criação de conceitos 
e o nascimento do novo é a condição para a atividade do filósofo 
e para a filosofia: “a filosofia, mais rigorosamente, é a disciplina que 
consiste em criar conceitos” (DELEUZE e GUATTARI, 1992, p. 13).
 
Lendo os textos – assumindo uma posição
Conhecer é uma atividade, e a leitura como uma das maneiras 
de se adquirir conhecimento não pode ser passiva. O que isso quer 
dizer? Precisamos ser os sujeitos da leitura, precisamos dominar o 
texto, dar as diretrizes da leitura é fundamental para a compreensão 
de tudo que é possível extrair de um material bibliográfico. Mas 
como dar as diretrizes ou “mandar” no texto antes de conhecer seu conteúdo, dominar 
o assunto ou tema de que trata? É simples. É importante que se cumpra algumas etapas 
antes, durante e depois da leitura.
Antes de começar a ler um livro ou texto:
Leia todos os pré-textuais do livro ou texto (contracapa, orelha do livro, prefácios, • 
apresentações, sumários, resumos, se houver, palavras-chave, se houver).
Faça uma reflexão sobre o título e subtítulos do livro ou texto.• 
O indivíduo é um 
átomo fictício de 
uma representação 
ideológica da 
sociedade, mas é 
também uma realidade 
fabricada por uma 
tecnologia de poder 
chamada disciplina
(FOUCAULT, 1994, p.161).
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Folheie o livro ou texto, olhando as páginas, as notas, leia algumas frases e parágrafos • 
aleatoriamente.
Elabore hipóteses acerca do que vai ler a partir dessa primeira investida no texto.• 
Durante a leitura:
Leia com atenção e em local adequado que permita concentração.• 
Anote termos-chave na margem da folha ao lado dos parágrafos.• 
Grife o que julgar central na argumentação do autor; caso o texto seja de difícil compreensão, • 
grife as frases/parágrafos que compreender bem.
Pare em alguns momentos da leitura para refletir e sistematizar mentalmente • 
o que já foi dito.
Procure o significado dos termos mais • 
usados no texto em dicionários de 
filosofia, e também o significado de 
termos desconhecidos em dicionários 
de língua portuguesa e dicionários de 
filosofia.
Após uma pausa, releia seus • 
apontamentos e grifos antes de 
continuar a leitura.
Após a leitura:
Reflita constantemente sobre o que leu.• 
Após um tempo de estudos de outros • 
temas e autores, leia o texto novamente 
repetindo todo o processo.
Esses procedimentos são essenciais em 
qualquer leitura, mas especialmente para a leitura 
de textos de filosofia e ciências humanas. Porém, 
a leitura de textos filosóficos não se esgota aí. 
Existem particularidades do texto que precisam 
ser consideradas durante o processo de leitura.
 
A análise dos termos, 
a explicitação das metáforas...
A leitura de textos filosóficos necessita 
uma postura analítica e crítica. A análise é um 
procedimento que implica em decompor algo em 
tantas partes quanto for possível. Numa análise de 
texto, damos atenção a todos os elementos de um 
parágrafo, vejamos um exemplo: Michel Foucault, 
em Vigiar e Punir, afirma que: “O indivíduo é um 
átomo fictício de uma representação ideológica 
da sociedade, mas é também uma realidade 
fabricada por uma tecnologia de poder chamada 
disciplina” (FOUCAULT, 1994, p.161).
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Se pretendermos analisar esse trecho, precisaremos destacar os termos e nos interrogar sobre cada 
um deles a fim de explicitá-los; além disso é importante destacar as metáforas (recurso muito usado 
pela filosofia, pois nos permite dar uma imagem a um conceito, é o famoso mecanismo filosófico do 
como se. Nesse caso específico, podemos destacar no texto: indivíduo, átomo, fictício, representação, 
ideológica para analisar. Temos aqui conceitos e metáforas. É importante nos interrogar acerca deles, 
pesquisar sobre eles, defini-los e explicitá-los. 
De que indivíduo Foucault está tratando?• 
O que é um indivíduo? Que conceitos lhe são semelhantes?• 
O que é uma representação?• 
O que é ideologia?• 
O que é uma representação ideológica?• 
A resposta a essas questões só é construída com leituras em dicionários de Filosofia.
E as metáforas do texto? Átomo fictício? Qual o significado preciso do termo átomo e ficção? E 
o que significa dizer que o indivíduo é como se fosse um átomo fictício? Por meio desse exercício o 
texto de filosofia é compreendido. 
Além da análise é importante que se faça uma crítica do texto, crítica no sentido de exame e 
também de assumir uma postura diante do que leu. Examine com cuidado o resultado de sua análise 
e reflita sobre ele; é fundamental, no final do processo, que você assuma uma posição sobre o que 
leu e, principalmente, que englobe o conhecimento conquistado a outros conhecimentos que já 
adquiriu e produziu. Como apregoava Nietzsche, desconfie dos conceitos que não foram criados 
por você. A filosofia é de certa forma o não; o negar.
Além do procedimento de análise e crítica, é preciso interpretar. Dentre tantos procedimentos 
necessários à leitura filosófica, é preciso dizer que a leitura de textos de filosofia é antes de tudo um 
exercício de interpretação. O livro não é um objeto dado do qual extraímos informações, é vivo; e 
o leitor age sobre ele atribuindo significados e o constitui numa relação intencional. A verdade do 
texto está na relação entre leitor e texto, ela não se dá, se interpreta.
 
Criando problemas, identificando problemas, 
criando questões, identificando questões... 
O texto e a pesquisa em filosofia exigem do leitor uma postura ativa e interrogativa. O 
conhecimento filosófico é produzido quando nos afetamos por algo, refletimos sobre o que 
nos afetou e transformamos o afeto e o pensamento/reflexão em discurso. São três 
momentos – afeto/pensamento e discurso –, que possibilitam constantemente a 
produção de conhecimento acerca das coisas à 
nossa volta. O filósofo deve estar aberto para ser 
afetado pelo mundo e usar o mundo dos textos 
para pensar o mundo. A pesquisa de filosofianão pode prescindir do acontecimento, de onde 
emergem os devires que orientam a elaboração 
de problemas. Os problemas filosóficos não se 
encontram nos textos dos filósofos e sequer 
podem ser comunicados pelos professores de 
filosofia; eles estão submetidos aos devires, às 
orientações e às direções que não pertencem 
à história da filosofia, mas do acontecimento. 
Mesmo que os problemas estejam orientados 
para o passado ou para o futuro, eles estão 
 
Ao contrário de uma fria 
historiografia, a história da 
filosofia deve servir para 
descobrir pensamentos vivos em 
ação, para encontrar filosofias 
em ato, através das quais 
possamos dar a nosso próprio 
pensamento um suporte, um 
quadro para orientá-lo.
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submetidos às multiplicidades, aos devires que emergem como forças que operam em silêncio. 
Os problemas emergem dos acontecimentos, é preciso estar aberto aos acontecimentos. É só 
nessa abertura que ele poderá dar atenção aos problemas existentes no mundo e usar o mundo 
do texto para pensar o acontecimento, e o mais importante: poderá criar suas questões e seus 
problemas a partir de que o tocou. Como afirma Deleuze e Parnet, é preciso inventar/construir os 
problemas filosóficos:
A maior parte do tempo, quando me colocam uma questão, mesmo que ela me interesse, 
percebo que não tenho estritamente nada a dizer. As questões são fabricadas, como outra 
coisa qualquer. Se não deixam que você fabrique suas questões, com elementos vindos 
de toda parte, de qualquer lugar, se as colocam a você, não tem muito o que dizer. A arte 
de construir um problema é muito importante: inventa-se um problema, uma posição de 
problema, antes de se encontrar a solução (DELEUZE e PARNET, 1998, p. 9).
O rigor da pesquisa em filosofia
Inventar? Construir? Então podemos inventar 
qualquer problema, questão e criar sua solução, 
inventar teorias? Sim. No entanto, não nos 
esqueçamos de que estamos tratando de produção 
filosófica e, portanto, nem tudo o que é criado 
ou inventado é filosofia. A pesquisa em filosofia, 
a leitura de textos filosóficos e criação de teorias 
é um processo rigoroso e lento e demanda uma 
série de condições que só adquirimos com trabalho 
árduo. Existem regras e técnicas para a produção 
filosófica no Brasil. Isso implica em usar métodos, 
padrões, formatações e principalmente rigor 
conceitual e fundamentação teórica. Observe que 
ao longo do texto usamos o mesmo tamanho de 
fonte, o mesmo espaçamento entre as linhas, há 
referências aos autores no corpo do texto, notas, 
e no fim do texto você encontrará as referências 
bibliográficas que utilizamos para a produção deste 
texto, que é também fruto de uma pesquisa. Tudo 
isso não é feito ao acaso, existem regras e técnicas 
de pesquisa, e, além disso, há também um formato 
bastante regrado para a apresentação dos textos 
e de dados referentes à pesquisa que, no Brasil, é 
normatizado pela Associação Brasileira de Normas 
Técnicas – ABNT. 
Antes de escrever qualquer texto é preciso que 
as regras sejam conhecidas para se fazer uma 
citação ou colocar uma biografia corretamente. 
Todos que estão na academia conhecem essas 
regras e isso facilita a compreensão de uma série 
de aspectos das pesquisas que são desenvolvidas. 
Neste guia, todos os textos seguem as normas 
técnicas; elas podem ser encontradas no site da 
biblioteca da Umesp: http://www.metodista.br/
biblioteca/abnt. Consultem e utilizem-no com 
freqüência.
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Todavia, esse é o passo mais simples para a produção de um texto filosófico. É apenas a casca, 
a forma. A produção de conteúdo filosófico consistente passa pelo encontro, enfrentamento e 
confronto de teorias da tradição filosófica. É importante que ao longo da formação em filosofia se 
compreenda (no sentido de abarcar) problemas, teorias, autores, correntes, contextos teóricos da 
História da Filosofia e que se fundamente a produção filosófica nesse aparato teórico. A filosofia se 
constrói a partir dos pilares da tradição filosófica. Os grandes clássicos da filosofia se basearam em 
outras teorias filosóficas para continuar a produção de pensamento, são criadas novas concepções e 
se promovem mudanças de paradigmas. Como afirma Descartes: “Conhecendo a força e as ações do 
fogo, da água, do ar, dos astros, dos céus e de todos os outros corpos que nos cercam (...) poderíamos 
empregá-los da mesma maneira em todos os usos para os quais são próprios, e assim tornar-nos como 
que senhores e possuidores da natureza” (DESCARTES, 1987, p. 63).
Todo procedimento filosófico encontra diante de si uma história, um passado. Tal passado serve 
para meditarmos. Não poderíamos fazer como se começássemos a filosofar pela primeira vez. Uma 
das maneiras de se filosofar é colocar-se em presença de uma filosofia anterior. No entanto, isso não 
significa inclinar-se diante de uma tradição, a postura é de diálogo, interação, caminhar ao lado; as 
grandes filosofias são algo bem diferente de obras-primas insuperáveis que suscitaram a veneração e 
que deveríamos visitar como um museu. Ao contrário de uma fria historiografia, a história da filosofia 
deve servir para descobrir pensamentos vivos em ação, para encontrar filosofias em ato, através das quais 
possamos dar a nosso próprio pensamento um suporte, um quadro para orientá-lo. Por isso a prática 
da filosofia passa pela visita a textos que devemos aprender a ler, interpretar, explicar e a comentar. 
A pesquisa em filosofia: o afeto, a paixão, o método, 
o tema, o problema, o objetivo da pesquisa
Como afirmamos anteriormente, tudo começa pela nossa abertura para sermos afetados. Mas 
nem tudo que nos afeta pode se transformar numa pesquisa filosófica; é necessário que haja uma 
paixão por aquilo que nos afetou. Não há pesquisa bem desenvolvida sem que o pesquisador 
tenha se apaixonado pela problemática; a paixão faz com que o pesquisador deseje profundamente 
conhecer. É importante, quando isso acontece, sabermos exatamente o que se quer saber, aonde 
queremos chegar, o que queremos conhecer. Quando formulamos essa pergunta: o que queremos 
aqui saber? temos o nosso problema de pesquisa. Quando sabemos o que pretendemos alcançar, 
aonde queremos chegar, temos o objetivo da pesquisa. O objetivo normalmente torna explícito o 
problema de pesquisa. 
Estando apaixonados por esse problema, é necessário escolher um caminho para que o 
conhecimento se efetive. A produção filosófica se faz principalmente por meio de pesquisas teórico-
bibliográficas, ou seja, é através das leituras da tradição filosófica que vamos pesquisando. Para tanto 
é importante um bom levantamento bibliográfico e empreender um trabalho de investigação nos 
textos. A investigação de um texto o interroga:
Qual é o problema/pergunta central do autor?• 
Como o autor formula sua pergunta?• 
Que caminho ele tomou para respondê-la? Era possível ter seguido outrocaminho?• 
Qual sua forma de exposição? • 
Em que se fundamentou?• 
Que respostas encontrou? Que argumentos apresenta?• 
Responder a estas questões, além de nos ajudar compreender o texto, nos ajuda na elaboração 
daquilo que estamos estudando, investigando, pesquisando. No decorrer de nossas leituras, é importante 
definir um método de pesquisa, uma espécie de pauta ancorada em uma teoria, um caminho que 
se trilhe para chegar a algum lugar, que nos oriente. É comum ouvirmos que há tantos métodos em 
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filosofia quanto filósofos; é preciso, ao ler os textos filosóficos, fazer uma metaleitura buscando o 
método usado pelo filósofo, só assim poderemos escolher um caminho para a pesquisa, isso se dá no 
ato das leituras que fazemos ao longo de nossa vida. 
Quando estudamos um texto filosófico, é importante também que nos detenhamos no que não foi 
tratado pelo autor, o que ele não considerou, e se sua resposta é satisfatória, afinal muito se produz 
pelas lacunas deixadas por outros. A teoria filosófica surge no fim do processo, é uma espécie de 
resultado de pesquisa, e todos os resultados de uma pesquisa filosófica devem ser antidogmáticos, 
afinal a atitude filosófica é uma abertura privilegiada para a percepção do mundo. Elas, no geral, 
são construídas quando, por meio do problema pesquisado, esclarecemos e explicitamos conceitos, 
estabelecemos relações, revisamos e questionamos outras teorias, levantamos argumentos acerca 
de algo, elaboramos e fundamentamos teses, chegando a uma conclusão sobre aquilo que de início 
era uma pergunta.
Referências 
DELEUZE, G; GUATTARI, F. O que é a filosofia? Tradução de Bento Prado Jr. e Alberto Alonso 
Muñoz. Rio de Janeiro: Editora 34, 1992.
DELEUZE, G.; PARNET, C. Diálogos. Tradução de Eloisa Araújo Ribeiro. São Paulo: Escuta, 1998.
DESCARTES, René. Discurso do método. 4. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1987 (Os 
Pensadores).
GENTIL, H. S. Convite à pesquisa em filosofia. Disponível em: ftp://ftp.usjt.br/pub/revint/169_41.
pdf. Acesso em: 18/12/2007.
Universidade Metodista de São Paulo
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Módulo
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Os pré-
socráticos
Objetivos:
Discutir as abordagens da filosofia pré-socrática 
em filósofos modernos;
Apresentar as principais tendências do 
pensamento filosófico anterior a Sócrates.
Palavras-chave:
Pré-socráticos; princípio (arché); 
Escola Jônica; Pitágoras.
Prof. Dr. Frederico Pieper Pires
Lógica e filosofia antiga
Universidade Metodista de São Paulo
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O termo pré-socrático tem sido utilizado pela tradição filosófica a partir do século XIX para se referir 
ao conjunto dos primeiros pensadores da filosofia grega. O termo se tornou popular com os estudos 
e a edição crítica de Herman Diels, especialmente com seu livro Die Fragmente der Vorsokratiker de 
1903.1 Ainda que seja de uso corrente e seu sentido pareça evidente, é importante atentarmos para 
o significado dos pré-socráticos.
Em primeiro lugar, o termo pré-socrático se refere a uma miríade de filósofos que, não necessariamente, 
seguiam a mesma metodologia ou abordavam temas comuns. É possível notar nuances importantes 
entre eles, de maneira que é fundamental atentar ao caráter peculiar de cada pensador. 
Em segundo lugar, é importante lembrar que, ao abordar a história da filosofia, sempre trazemos 
alguns pressupostos que interferem na leitura do texto. Assim, história da filosofia não se constitui na 
reconstituição do que um autor disse/pensou, mas em travar um diálogo com a tradição. A abordagem 
desses textos é sempre intermediada por questões, compreensões prévias e objetivos que trazemos e 
estabelecemos. Esses aspectos não são rigidamente constituídos, podendo sofrer alterações substanciais 
no decorrer do diálogo. Podem-se encontrar exemplos do que estamos dizendo em algumas importantes 
interpretações modernas dos pré-socráticos. O personagem central nessas interpretações é Sócrates. 
Ao designar esses primeiros pensadores como pré-socráticos, poderíamos imaginar que a filosofia 
propriamente dita se inicia com Sócrates. No momento anterior, a filosofia apenas dava os primeiros 
passos e balbuciava aquilo que tomaria forma mais acabada com Sócrates, Platão e Aristóteles2. O 
problema dessa abordagem é compreender a história da filosofia dentro um processo cumulativo, de 
maneira que aquilo que é posterior se torna superior e mais bem elaborado. F.W.Hegel (1770-1831) foi 
o primeiro a dar a devida atenção aos filósofos pré-socráticos no seu texto Lições sobre a história da 
filosofia. Em sua abordagem, Hegel reconhece em Heráclito de Éfeso o precursor de um aspecto central 
de sua própria filosofia, a dialética, recebendo por isso lugar de destaque3. No entanto, para Hegel, Platão 
e Aristóteles representam o ápice da filosofia grega. Ainda no final do século XIX, Friedrich Nietzsche 
(1844-1900) se fascinava com esplendor da filosofia no seu início. Mesmo sem acesso a edições críticas 
dos textos, Nietzsche se aventura a interpretar os lacônicos fragmentos desses primeiros filósofos. Para 
Nietzsche, a filosofia inicia um retrocesso com o método dialético de Sócrates. Nesse contexto, pode-
se dizer que a dialética se constitui numa forma de argumentação com definições precisas, pautadas 
em alguns princípios lógicos. Para Nietzsche, a partir desse momento todo, o fulgor do pensamento 
anterior a Sócrates é perdido e teminício o período de decadência da filosofia. 
Por fim, já no século XX, Martin Heidegger (1889-1976)4 nutre a mais alta estima pelos filósofos 
pré-socráticos. Em muitos sentidos, Heidegger se alinha à interpretação de Nietzsche, admitindo que 
a partir de Platão se inicia o pensamento metafísico. Para se referir aos pré-socráticos, Heidegger 
emprega o termo “pensadores originários” (2002, p.21). Com essa designação, Heidegger procurava 
pontuar que as grandes questões da filosofia foram postas nesse momento, ocorrendo certo 
“desvio” a partir da constituição da metafísica com Platão e Aristóteles. Para Heidegger, “O pensar 
de Heráclito e Parmênides ainda é poético, o que significa aqui: ainda é filosófico e não-científico” 
(1999, p.168). Por científico, Heidegger compreende uma maneira de pensar determinada por uma 
compreensão de racionalidade que marcou o Ocidente a partir de Platão. O que chama 
a atenção de Heidegger com relação a esses primeiros pensadores é o caráter poético 
de sua escrita. 
 
1 Cf. DIELS, H.; KRANZ, W. Die Fragmente der Vorsokratiker. Berlin: Weidmannshce 
Verlagsbuchhandlung, 1956. 3 v. As citações dos fragmentos dos filósofos pré-socráticos tomam a classificação 
feita por esses autores como referência.
2 Exemplo dessa abordagem encontramos em ZELLER, E. Outlines of the history of greek philosophy. London/
New York: Routledge, 1931.
3 HEGEL, F. Lecciones sobre la historia de la filosofía. Tradução de W. Roces. México: Fondo de Cultura 
Económica, 1977. Pp.258-276.
4 Estudos de Heidegger sobre os pré-socráticos. Heráclito. Rio de Janeiro: Relume Dará, 2002. “O dito de 
Anaximandro”. In: Caminhos de floresta. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2002. p.369-444. “Moira 
(Parmênides, fragmento VIII, 34-41)”. In: Ensaios e conferências. Petrópolis: Vozes, 2002. p.205-226.
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Em suma, por meio dessas interpretações dos pré-socráticos fica evidente que a compreensão 
prévia do que é filosofia determina o teor do diálogo com a tradição, de forma que estudar a história 
da filosofia já é um exercício filosófico.
Por fim, também não há aqui ruptura radical entre os pensadores anteriores a Sócrates e os filósofos 
posteriores. É curioso notar que ambas as leituras, a que privilegia o pensamento posterior a Sócrates 
e a que ressalta os méritos dos pré-socráticos, têm em Sócrates uma figura central. É importante 
atentarmos para as rupturas, mas também para as continuidades. Nota-se a formulação de novas 
questões, assim como possibilidades de novas respostas. No entanto, a base para a constituição 
desses problemas já pode ser encontrada nos pré-socráticos, notadamente em Parmênides e em 
Heráclito. Nos textos a seguir, esses aspectos gerais sobre a filosofia pré-socrática se tornarão mais 
evidentes.
A escola jônica 
A filosofia nasce do questionamento do dizer mítico dos escritos mais antigos, como Homero e 
Hesíodo. Para Deleuze e Guattarri, o que diferencia o filósofo do sábio é o trabalho com o conceito 
(DELEUZE, GUATTARRI, 1997, p.10). Em poucas palavras, a filosofia é filha do movimento gradativo 
do mithós para o logos. Essa transição traz como marca a instauração do pensamento crítico. Nas 
palavras de Karl Popper, “Há o fato histórico de que a Escola jônica foi a primeira na qual os discípulos 
criticaram os mestres, uma geração após a outra. Pouca dúvida pode haver de que tradição grega da 
crítica filosófica tem sua principal fonte na Jônia” (POPPER, 1989, p.151). A visão mítica do mundo é 
substituída por uma compreensão racional e especulativa da natureza.
Na Metafísica, Aristóteles atribui a Tales de Mileto (morto por volta de 558 a.C) o título de primeiro 
filósofo (ARISTÓTELES, 2002, 983b20-21). Anaximandro (611-546 a.C) e Anaxímens (? -525 a.C.) 
são outros importantes nomes que compõem a escola jônica. O que nos permite denominar essa 
escola com a iniciadora da filosofia está na sua busca por um substrato, capaz de dar unidade à 
multiplicidade das coisas. A palavra-chave aqui é arché, que pode ser traduzida como fundamento, 
origem ou princípio, indicando três aspectos: a) fonte de todas as coisas; b) o fim último de tudo; 
c) aquilo que dá subsistência a todas as coisas. O espanto diante da diversidade das coisas levou 
esses filósofos a se perguntarem pelo fundamento último e imutável, se valendo de argumentos 
racionais e não tanto da mitologia. A preocupação principal desses filósofos se inseria em problemas 
cosmológicos, interpretando o cosmos como todo ordenado em oposição ao caos, tido como a 
primeira divindade. 
Para Tales de Mileto, o primeiro a responder essa questão, a água é a arché5. Cabe notar que, 
assim como grande parte dos pré-socráticos, a arché é algo material. Tales, valendo-se de argumentos 
racionais e observação empírica, tentou legitimar sua solução. Como não temos nenhuma parte do 
texto de autoria do próprio Tales, resta-nos recorrer à doxografia. Nietzsche, por exemplo, afirma: 
“Quando Tales diz: ‘Tudo é água’, o homem estremece e ergue-se do tatear e rastejar das ciências 
isoladas e pressente a solução última das coisas e, com esse pressentimento, supera o acabamento 
comum dos graus inferiores de conhecimento” (NIETZSCHE, 1974, p.41). Mas por que atribuir à água 
o status de arché? Novamente, Aristóteles vem a nosso socorro. Segundo ele (ARISTÓTELES, 2002, 
983b21ss), Tales baseou sua afirmação na observação de que os germes e as sementes são úmidas. 
A secagem implicaria no esvair da vida. Dessa maneira, a água é aquilo de onde tudo 
vem, onde todas as coisas se mantêm e para onde tudo caminha. Além dessa tese, Tales 
 
5 Wedberg sugere que o arché, segundo proclamado por Tales, não seria a água (hydor) 
propriamente dita, mas “aquilo que flui” (to hygron). WEDBERG, A. A History of Philosophy. p.11.
6 Para abordagem de alguns aspectos do pensamento de Tales, especialmente relacionados à astrologia, cf. WHITE, 
Stephen. Thales and Stars. In: CASTON, Victor; GRAHAM, Daniel (Org). Presocractic Philosophy. Aldershot: Ashgate, 
2002. p.03-18.
Universidade Metodista de São Paulo
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também é reconhecido pela tradição como exímio matemático. Valendo-se de deduções, previu um 
eclipse e foi o primeiro a demonstrar que um círculo é bisseccionado por seu diâmetro6.
Anaximandro, como discípulo de Tales, também se ocupou da mesma questão. No entanto, 
discordando de seu mestre, sustentou que a água já era derivada, sendo to apeíron (infinito, indefinido 
ou ilimitado) a arché. Exatamente por não ser limitado, esse princípio pode tudo envolver e sustentar. 
Anaximandro também sustentava que esse princípio é eterno (não está limitado pelo tempo) e abarca 
todos os mundos. O emprego do plural para mundos não é acidental: Anaximandro sustentava que 
há também infinitos mundos, semelhantes aos anteriores e aos que lhe seguirão. Por uma referência 
posterior, podemos crer que Anaximandro sustentava o fundamento do cosmos a partir de um 
movimento que gerou dois contrários: frio e calor. O frio, associado à umidade, foi transformado em 
ar. Já o calor, associado ao fogo, dividiu-se em três círculos, dando origem ao Sol, à Lua 
e aos astros (BARNES, 2003, p.85). O princípio, compreendido dessa maneira, também 
se relaciona com a divindade: “Imortal... e imperecível (o ilimitado enquanto o divino)” 
(PRÉ-SOCRÁTICOS, 1973, p.16).
Anaxímenes, por sua vez, aceita o argumento 
de Anaximandro da infinitude da arché, mas 
o relaciona com o ar. Esse ar infinito está bem 
próximo ao incorpóreo, mas com uma vantagem: 
por estar em constante movimento, o ar possui 
as condições para ser o princípio de todas as 
coisas em sua multiplicidade. O ar condensado 
e esfriado é o princípio da água e da terra. O ar 
distendido se aquece e dá origem ao fogo. Por ser 
mais lógico, Anaxímenes é tido como paradigma 
da escola jônica. Heráclito de Éfeso também 
pertence a essa escola. No entanto, retomaremos

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