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PESQUISA DE MERCADO Aula 01 Prof. Lucas Magalhães de Andrade 2 CONVERSA INICIAL Você já ouviu falar em pesquisa top of mind? Pesquisa de intenção de voto? Teste cego de produtos? Estes são alguns exemplos do que chamamos de “pesquisa de marketing”. A administração de marketing é o processo responsável pela captação, manutenção e fidelização de um determinado público (Kotler & Keller, 2007). Para isso o(a) gestor(a) precisa conhecer este seu público. A pesquisa de mercado é a ferramenta mais confiável quando se trata de conseguir as informações necessárias para tomar decisões de marketing conscientes. Muitas destas decisões envolvem altíssimos investimentos e, por isso, não podemos tomá-las com base apenas no que achamos ou ouvimos dizer. Precisamos de informações consistentes. Conhecer a pesquisa de mercado é importante não somente para o(a) pesquisador(a), mas para todas as pessoas envolvidas no processo de decisão. CONTEXTUALIZANDO A administração não é uma questão de bom senso. Não são raros, por exemplo, os casos de campanhas publicitárias que pareciam grandes ideias aos olhos de seus criadores, mas que se revelaram grandes desastres aos olhos do público. A pesquisa de marketing nada mais é do que uma ferramenta gerencial para conhecer os diversos públicos da organização e diminuir as chances de decisões desastrosas. Imagine que uma grande loja de departamentos está negociando a inclusão de uma marca de roupas premium em seu portfólio. Que efeito isso teria sobre o tráfego da loja, ou sobre sua imagem, ou sobre o volume de vendas? Além disso, quais seriam os impactos dessa mudança sobre a marca de roupas premium? Será que a distribuição na loja de departamentos pode afetar sua imagem ou percepção de qualidade? Reflita sobre essa situação gerencial. Como os responsáveis pelas duas marcas poderiam solucionar suas incertezas com relação a essa parceria? Pesquise Você já se perguntou qual é realmente a relevância da pesquisa de mercado para a decisão gerencial? A pesquisa de marketing é vista como um processo essencial para a tomada de decisão de marketing, mas, para ficar mais 3 clara a forma como as informações obtidas nas pesquisas podem direcionar as ações de marketing, leia a reportagem no link a seguir: http://corporate.canaltech.com.br/noticia/mercado/pesquisa-cisco-mostra- quais-novas-experiencias-que-consumidores-querem-no-varejo-69809/ Reserve algum tempo para refletir sobre as implicações gerenciais dos resultados da pesquisa mencionada na reportagem. TEMA 1 - INTRODUÇÃO À PESQUISA DE MERCADO O papel do marketing em uma organização e os limites da sua atuação são temas muito discutidos entre acadêmicos e profissionais desta área. No entanto, há um relativo consenso de que o marketing tem a função de identificar e satisfazer as necessidades dos consumidores (Malhotra, 2011). Nesse caso, conforme sugerido por Malhotra (2011), podemos dizer que o marketing deve: Determinar as necessidades do consumidor; Implementar estratégias de marketing; e Implementar planos para satisfazer as necessidades identificadas. Considerando essas funções do marketing, a pesquisa de mercado tem como objetivo providenciar informações para direcionar essas decisões. Imagine a seguinte situação: uma fabricante de biscoitos observa um crescente número de notícias e de artigos de formadores de opinião a respeito de hábitos de alimentação saudável. A diretoria da empresa acredita que esse cenário pode influenciar a percepção dos consumidores a respeito dos seus produtos, levando os clientes a evitarem o consumo de biscoitos. Para lidar com essa potencial ameaça, o departamento de marketing da organização sugere o lançamento de uma linha de produtos coerentes com uma dieta mais saudável, utilizando ingredientes naturais e dispensando o uso de conservantes. No entanto, essa estratégia exigiria um alto investimento, e o departamento está receoso com relação à mudança, pois não há evidências consistentes de que o cenário descrito vá afetar os negócios da empresa ou de que a nova linha de produtos vá ser bem aceita pelo público. Observe que, no cenário descrito, podemos identificar os três fatores que justificam a atuação do marketing no caso. Temos uma necessidade do consumidor identificada pela empresa, que seria a busca por uma alimentação 4 mais saudável. Temos, também, a sugestão de uma estratégia a ser adotada pela empresa, que seria a diversificação de seus produtos para atender a um segmento específico do mercado. Podemos, de igual modo, identificar um plano de ação, o lançamento de uma linha de produtos. Mas, como mencionado, há dúvidas com relação aos resultados que esse curso de ação poderia trazer. Essas dúvidas vêm da falta de informação sobre as reais preferências do mercado ou sobre como ele reagiria à ação da empresa. É nesse ponto que a pesquisa de mercado entra em ação. Afinal, o que é pesquisa de mercado? A Sociedade Europeia de Pesquisa de Opinião e de Marketing (ESOMAR, na sigla em inglês) define pesquisa de mercado como a aplicação de técnicas das ciências sociais para coletar e analisar informações que sirvam de suporte à decisão de marketing. Para colocarmos isso de uma forma mais simples, a afirmação anterior consiste em que a pesquisa de mercado observa um grupo (de pessoas ou organizações) e usa o método científico para entender esse grupo e prever seu comportamento. No entanto, a pesquisa de mercado tem uma característica muito específica que a diferencia da pesquisa científica: seu propósito. Como indicado na definição acima, ela serve para dar suporte à decisão, por isso, sempre que se faz um projeto de pesquisa de mercado, é necessário que os tomadores e tomadoras de decisão tenham clareza sobre qual é a situação gerencial que pretendem solucionar. Essa definição deixa clara a função da pesquisa de mercado de auxiliar a tomada de decisão. É importante percebermos que uma pesquisa de mercado sempre deve estar em um contexto maior. Ela é apenas uma ferramenta para extrair do mercado as informações necessárias para decidir sobre a estratégia de marketing. Antes de discutirmos a respeito de como esta pesquisa é feita, é importante entender que ela tem um processo bem definido. Para realizar uma pesquisa de mercado, existe uma sequência lógica de etapas que devem ser encadeadas. Segundo Mattar, podemos dividir o processo de pesquisa de mercado nos seguintes passos, conforme ilustrado na figura 1: Figura 1: Processo de pesquisa de mercado 5 Fonte: adaptado de Mattar (2012). Formulação do problema: nesta etapa, pesquisadores e tomadores de decisão devem entrar em um consenso sobre qual é a pergunta que deve ser respondida para fornecer informações suficientes para uma decisão consciente. O problema de pesquisa é o norte da pesquisa, e todo o restante, desde a amostragem até a coleta e interpretação dos dados, será direcionado a encontrar a resposta para essa pergunta. Mais adiante, vamos estudar como é elaborado o problema de pesquisa. Planejamento da pesquisa: nesta etapa, pesquisadores definem os detalhes de como a pesquisa será conduzida. São administradas hipóteses, definidos os dados que devem ser levantados, o tamanho de amostra e como ela será obtida. Também nessa etapa são determinadas as técnicas que serão utilizadas para analisar os dados. Execução da pesquisa: a amostra é selecionada, os pesquisadores vão a campo coletar os dados e desempenham as análises.Comunicação dos resultados: nesta fase, é elaborado um relatório das descobertas da pesquisa, que é apresentado aos tomadores de decisão. Essa apresentação normalmente é escrita e também oral; frequentemente envolve sugestões de decisão relacionadas ao problema que deu origem à pesquisa. 6 Você deve ter percebido que as etapas mencionadas nesse modelo são diferentes daquele que você viu no livro básico da disciplina (Mady, 2014). Isso é perfeitamente normal. Alguns autores preferem agrupar ou dividir algumas etapas, mas, em geral, há consenso com relação às atividades que devem ser desempenhadas. Consulte o livro da disciplina, páginas 20 a 39. TEMA 2 – DEFINIR O PROBLEMA DE PESQUISA DE MARKETING Depois de discutido o processo de pesquisa de marketing, vamos nos aprofundar um pouco mais no primeiro passo: a definição do problema de pesquisa. Usemos uma metáfora para entender a importância do problema de pesquisa em um projeto de pesquisa de mercado. Imagine que você precisa fazer um viagem. Você define o que precisa levar, o meio de transporte que vai utilizar e quanto tempo vai demorar para chegar. Bem, é evidente que a primeira coisa a ser feita é definir o destino, pois, sem isso, não faz sentido pensar nos outros fatores mencionados. É mais ou menos esse o papel do problema de pesquisa dentro de um projeto de pesquisa de mercado. Antes de começar uma pesquisa de mercado, é muito importante que haja clareza sobre onde se pretende chegar. Que resposta estamos buscando por meio dessa pesquisa? A partir daí, cria-se uma pergunta que, se respondida, pode dar ao(à) tomador(a) de decisão uma base confiável para definir suas ações. É por esse motivo que muitos autores, como Malhotra (2011), tratam a definição do problema de pesquisa como a etapa mais importante do projeto. Lembra do exemplo da fábrica de biscoitos que discutimos no tema anterior? A empresa precisava decidir sobre o lançamento de uma linha de produtos com atributos mais saudáveis. Imagine que você é um consultor responsável por realizar uma pesquisa que deverá ajudar a empresa a decidir sobre essa nova situação. Nesse caso, a primeira coisa a se fazer é entender o que exatamente a gerência precisa para tomar sua decisão. A palavra-chave nessa fase é comunicação. É muito importante que gestores(as) comuniquem corretamente suas necessidades e que pesquisadores(as) comuniquem corretamente seu diagnóstico e proposição de pesquisa. 7 Suponha, então, que você está em contato direto com a diretora de marketing da fábrica de biscoitos. A diretora diz que a principal decisão a ser tomada pela empresa consiste em lançar ou não a linha de biscoitos saudáveis. Note que essa decisão não é tão simples assim, e dificilmente uma única pesquisa de mercado seria suficiente para solucionar todas as dúvidas que podem surgir. Por exemplo, algumas informações importantes para essa decisão seriam: tamanho do mercado de biscoitos saudáveis, atuação dos concorrentes nesse setor, grau de preferência dos consumidores com relação a esses produtos, intenção de compra dos consumidores, disposição destes a pagar mais pelo produto. Note que cada uma dessas informações poderia demandar um projeto de pesquisa, no entanto, nem sempre isso é viável economicamente para a empresa. Mas como é definido o problema de pesquisa? Malhotra (2011) aborda dois conceitos que estão estreitamente ligados: o problema de decisão de marketing e o problema de pesquisa de marketing. Segundo o autor, o problema de decisão de marketing é o que o(a) tomador(a) de decisão precisa fazer, enquanto o problema de pesquisa de marketing estabelece a informação necessária para que isso seja feito. Nesse caso, para entender o problema de decisão de marketing, deve-se compreender o contexto em que a ação será tomada. Daí vem a importância da comunicação. Vamos supor que você passou por longas discussões com a diretora de marketing, realizou algumas entrevistas com especialistas do setor de alimentação e consultou alguns dados já existentes sobre os hábitos alimentares da população. Depois de realizar essas tarefas, você já deve ter uma boa ideia sobre o contexto em que a decisão será tomada. A partir daí, você pode começar a elaborar perguntas que, se respondidas, podem apontar a melhor rota de decisão. Para estabelecermos algumas dessas questões, imagine que a empresa deseja decidir sobre o lançamento da linha de biscoitos saudáveis inicialmente na cidade de São Paulo. Nesse caso, veja algumas perguntas de pesquisa que poderiam auxiliar a decisão: Qual o tamanho do mercado potencial de biscoitos saudáveis na cidade de São Paulo? Quanto o consumidor estaria disposto a pagar por um produto mais saudável na cidade de São Paulo? 8 Qual seria a intenção de compra dos consumidores da cidade de São Paulo diante de uma linha de produtos com maior valor nutricional e menos conservantes? Como os consumidores da Cidade de São Paulo percebem as ofertas de biscoitos com ênfase nos benefícios à saúde? Note que cada uma dessas perguntas, se respondida, trará uma base sólida para a tomada de decisão demandada pela empresa. Além disso, o foco da investigação determinado no problema de pesquisa direciona o método que será usado para desenvolvê-la. Essa relação vai ficar mais clara conforme abordarmos os métodos de pesquisa de mercado, mas, por enquanto, já podemos perceber o quão importante é que o problema de pesquisa seja definido de forma clara e precisa, pois dele deriva toda a execução da mesma. Embora a pesquisa de mercado seja essencialmente aplicada, ou seja, desenvolvida com o objetivo de solucionar uma situação prática enfrentada pela organização, não podemos esquecer de que o(a) pesquisador(a) deve conhecer profundamente as teorias que podem explicar o problema. Malhotra (2011) chama à atenção o fato de que as variáveis a investigar durante o processo de pesquisa são definidas com base na teoria. Além disso, a teoria é essencial para explicar os resultados encontrados. TEMA 3 – TIPOS DE PESQUISA Depois de definido o problema de pesquisa, que deverá apontar a direção que esta deve seguir, é hora de determinar o tipo de pesquisa apropriado para conseguir a resposta para essa pergunta. Uma pesquisa pode ser classificada de várias formas: de acordo com sua finalidade (identificação de problemas ou solução de problemas), com a abordagem metodológica adotada (qualitativa ou quantitativa) ou com a natureza da investigação (exploratória ou conclusiva). Na verdade, existe uma grande sobreposição entre essas classificações, e isso vai ficar claro à medida que formos desvendando o conteúdo da disciplina. Por enquanto, vamos manter o foco na classificação entre pesquisa exploratória e conclusiva (dividida em descritiva e causal), adotada por Malhotra (2011). 9 Você já ouviu falar na pesquisa Top of Mind? O artigo do link a seguir explica rapidamente do que se trata essa pesquisa: http://www.ipeso.com.br/multiclientes-topofmind.php# Reflita sobre a natureza dessa pesquisa: você acha que ela é do tipo exploratória, descritiva ou causal? Após discutirmos esses três conceitos, você deve ser capaz de classificá-la. Antes de entrar em detalhes sobre as características de cada uma delas, vamos pensar sobre as principais diferenças entre as duas grandes classificações. Em linhas gerais, podemos dizer que a pesquisa exploratória busca identificar a natureza de um tema, enquanto a pesquisa conclusiva busca mensurar os componentes desse tema e/ou entender como eles se relacionam.Por exemplo, imagine que uma marca de roupas pretende compreender melhor o perfil de consumo de seus clientes. Nesse caso, pode-se aplicar tanto a pesquisa exploratória quanto a conclusiva. Primeiramente, seria desenvolvida uma etapa exploratória para identificar os tipos de cliente com base em hábitos de consumo comuns. Em seguida, a empresa pode conduzir uma pesquisa que deverá descrever como cada um desses tipos de cliente se apresenta na população, ou seja, mensurar o tamanho de cada grupo de clientes com características parecidas. Essa segunda pesquisa seria do tipo descritivo, parte da categoria de pesquisa conclusiva. Na verdade, em muitos casos, uma pesquisa conclusiva só é possível se, antes, for feita uma pesquisa exploratória. O exemplo que vimos da marca de roupas é um caso desses. Perceba que não seria possível mensurar o tamanho de cada tipo de cliente sem a etapa exploratória para determinar quais são estes tipos e suas características. Em alguns casos, os gestores podem achar que conhecem quais são os tipos de clientes, no entanto, sua percepção normalmente apresenta um viés, ou seja, não consistindo em uma representação confiável da realidade. Deste modo, uma pesquisa de mercado pode diminuir as chances de que os resultados sejam influenciados por esse viés. Tendo isso em mente, fica mais fácil entender as características de cada tipo de pesquisa. Vamos observá-los: Pesquisa exploratória: a essa altura, você já deve ter percebido que a pesquisa exploratória aborda o problema de pesquisa de forma ampla. Wilson 10 (2008), por exemplo, diz que esse tipo de pesquisa é visto como uma investigação preliminar, e compara o trabalho do(a) pesquisador(a) ao de um(a) detetive, procurando pistas que ajudem a entender o cenário. É uma ferramenta usada para compreender detalhadamente a natureza de um tema. Vamos aplicar esse conceito em um contexto de mercado: imagine que você quer estudar o processo de decisão de compra do consumidor no ponto de venda. Nesse caso, a pesquisa exploratória iria buscar quais os critérios de decisão do consumidor nesse contexto, mas sem se preocupar com quanto cada critério realmente influencia sua decisão. Uma pesquisa exploratória pode ter o foco em um momento específico do tempo ou acompanhar a evolução do fenômeno durante um intervalo de tempo maior. Guarde isso em mente, pois vamos abordar a pesquisa exploratória com mais detalhes no próximo tema desta rota. Pesquisa conclusiva: segundo Wilson (2008), uma pesquisa conclusiva é qualquer uma que tenha a finalidade de avaliar um curso de ação ou de mensurar algum fator relevante para a organização. Esse tipo de pesquisa é subdividido em dois tipos: descritivo e causal. Para entendê-los, guarde estas duas palavras-chave: “o que” e “por que”. A pesquisa descritiva se preocupa em identificar o que está acontecendo no fenômeno estudado. Ela mensura os aspectos observados e oferece uma descrição do ambiente relevante para a tomada de decisão. Uma pesquisa de participação de mercado, por exemplo, é uma pesquisa descritiva, pois simplesmente descreve quanto do total de mercado é atendido por cada marca. Imagine que o gestor de marketing de uma loja on-line pretende implementar uma campanha de malas-diretas, mas, antes de realizar o investimento, gostaria de uma evidência confiável de que a campanha seria capaz de gerar aumento nas vendas. Note que, nesse caso, estamos falando de uma variável (a ação gerencial proposta) provocando uma alteração em outra variável (o volume de vendas). A pesquisa causal busca identificar o porquê de uma alteração em uma variável, portanto, seria o tipo indicado para a situação gerencial apresentada. As pesquisas descritiva e casual serão discutidas com mais detalhes na próxima rota de aprendizagem. Você entendeu os três grandes tipos de pesquisa (exploratória, descritiva e causal)? Vamos, então, retomar o exemplo da pesquisa Top of Mind. Você já deve ter percebido que ela não é uma pesquisa do tipo exploratória, pois tem variáveis bem definidas a serem investigadas. Também não é uma pesquisa 11 causal, pois não se preocupa com o motivo de as marcas top of mind ocuparem essa posição. Logo, é uma pesquisa descritiva, pois simplesmente descreve como as marcas se posicionam na mente do consumidor. TEMA 4 – CONCEPÇÃO DE PESQUISA EXPLORATÓRIA: DADOS SECUNDÁRIOS Falemos sobre o primeiro tipo de pesquisa: a exploratória. Ela pode ser realizada com dados primários ou secundários. E o que são dados primários e secundários? De forma bastante simples, podemos dizer que dados secundários são aqueles coletados e analisados fora do contexto da pesquisa, enquanto dados primários são os coletados e analisados especificamente para atender ao projeto de pesquisa. Em outras palavras, a pesquisa com dados primários é aquela em que o(a) pesquisador(a) precisa ir a campo coletá-los; quando são utilizados dados secundários, isso não é necessário, pois os mesmos já estão disponíveis. Essa diferenciação está bastante detalhada no texto de leitura obrigatória, portanto, foquemos, aqui, na utilização de cada um desses tipos de dados. A pesquisa com dados secundários pode nos auxiliar a delimitar o problema de pesquisa. Veja este exemplo: uma empresa deseja realizar uma pesquisa de satisfação com seus clientes. Mas o que é satisfação? Existem diversos trabalhos científicos que abordam a questão da satisfação do consumidor e como ela pode ser mensurada. Nesse caso, um estudo sistemático da literatura sobre o tema pode fornecer insights para que o(a) pesquisador(a) elabore seu próprio instrumento ou adapte escalas já usadas em outros estudos. Isso pode gerar uma economia considerável de recursos, tanto de tempo quanto de dinheiro. Em termos mais práticos, quando falamos de pesquisa com dados secundários, temos a seguinte reflexão: será que alguém já pesquisou o que pretendemos pesquisar? Se a resposta for sim, podemos usar essas informações? Quais suas limitações para o contexto específico que estamos estudando? Às vezes, os dados secundários podem estar presentes nos registros da própria organização, ou seja, podem ser obtidos internamente. Registros de 12 vendas, por exemplo, podem dar insighs importantes sobre os hábitos e frequência de compra dos clientes. Em outras situações, esses dados devem ser buscados em fontes externas à organização. Imagine, por exemplo, que a equipe de marketing de um shopping center localizado em Belo Horizonte (MG) pretende desenvolver uma campanha publicitária; para isso, gostaria de identificar as principais motivações que levam seus atuais clientes a frequentarem este local. Observando esse objetivo, podemos imediatamente deduzir que será necessária uma pesquisa descritiva, pois a equipe precisa saber quais tipos de motivação estão presente nos frequentadores do shopping, assim como a proporção, ou seja, a quantidade de clientes que possui cada tipo de motivação. Ora, antes de poder realizar essa pesquisa descritiva, seria necessária uma etapa exploratória que vise compreender os tipos de motivação dos frequentadores de shopping center, a fim de que sejam elaboradas as perguntas destinadas ao público-alvo da pesquisa. Nesse caso, a equipe responsável deve se questionar sobre o que já comentamos: será que essa pesquisa já foi feita? Um estudo publicado em 1999, realizado por pesquisadores brasileiros, encontrou quatro principais tipos de frequentadores de shopping center, nomeados como práticos, comodistas, hedonistas e afixionados (Hastreiter, Marchetti & Prado, 1999). Esse estudo é uma fonte secundáriapara a pesquisa em questão. No entanto, é preciso tomar alguns cuidados. Primeiramente, o estudo de Hastreiter et al. (1999) foi realizado utilizando como amostra frequentadores de shopping center da cidade de Curitiba (PR). Nese caso, será que os resultados do público estudado refletem de maneira confiável os frequentadores de shopping centers em Belo Horizonte? Além disso, será que as motivações encontradas pelos pesquisadores no final dos anos 90 ainda persistem da mesma forma nos consumidores em 2016? Também deve- se avaliar com cuidado a metodologia aplicada no estudo. Ela foi apropriada? De igual modo, é importante que a equipe avalie a confiabilidade da fonte. No caso de estudos científicos, pode-se verificar os critérios que os editores usam para seleção dos trabalhos que serão publicados. Se a pesquisa foi feita por uma empresa de pesquisa, recomenda-se investigar a reputação da mesma. De acordo com Proctor (2005), a pesquisa exploratória com dados secundários envolve três passos: 13 Definição das necessidades de informação: é necessário ter clareza sobre o tipo de informações necessárias para a decisão de marketing que precisa ser tomada. Dessa forma, podemos manter o foco da pesquisa com dados secundários. Existem inúmeras fontes com volumes imensos de dados, portanto, esse passo é importante para tornar eficaz a busca de dados relevantes; Procurar uma rota promissora: entre as diversas fontes de dados secundários, devemos escolher como as informações serão obtidas. Esse passo envolve conhecer bibliotecas especializadas, bases de dados confiáveis, índices e pesquisas publicados, agentes e notícias confiáveis; Obter material promissor: esse passo envolve conseguir material confiável no qual possam ser encontradas as informações de que precisamos para responder ao problema de pesquisa. Índices, relatórios governamentais, relatórios de pesquisas acadêmicas e notícias são alguns exemplos. No link a seguir, você pode encontrar algumas pesquisas publicadas pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) sobre a economia. Esse é apenas um exemplo de informações disponíveis gratuitamente e que podem auxiliar o processo de pesquisa de mercado. Reserve algum tempo para explorar os tipos de informações que podem ser encontradas nessa base. http://www.fiesp.com.br/indices-pesquisas-e- publicacoes/?tema=economia Leia as páginas 77 a 81 do livro da nossa disciplina. TEMA 5 – CONCEPÇÃO DE PESQUISA EXPLORATÓRIA: PESQUISA QUALITATIVA Podemos levantar muitas informações relevantes por meio de dados secundários, mas nem sempre o pesquisador consegue responder o problema de pesquisa apenas com estas fontes. Nesse caso, recorremos à pesquisa com dados primários, ou seja, buscando-os diretamente no ambiente. Os dados primários podem ser classificados como quantitativos ou qualitativos. A diferença entre esses dois tipos deverá ficar mais clara conforme discutirmos suas diversas aplicações. Por enquanto, nesta rota de 14 aprendizagem, vamos observar mais a fundo as características dos dados qualitativos usados na pesquisa exploratória. Antes de prosseguirmos, veja o vídeo a seguir, no qual explica-se de forma bastante simples e resumida a diferença entre dados quantitativos e qualitativos: https://www.youtube.com/watch?v=JsvWuBT9VcE. Se você analisar com cuidado a definição de pesquisa exploratória, vai perceber que ela está estreitamente ligada ao uso de dados qualitativos. Vimos que a pesquisa exploratória é utilizada para nos ajudar a compreender o tema envolvido na situação gerencial enfrentada pela empresa. Na pesquisa exploratória, estamos preocupados em desvendar as características por trás do tema, e não damos atenção para mensurações dessas características. Quando falamos em pesquisa com dados qualitativos, tratamos de uma metodologia flexível para coleta. O(a) pesquisador(a) está procurando pistas que o ajudem a compreender a situação estudada. É justamente por essa característica de permitir que o(a) pesquisador(a) explore mais profundamente o tema estudado que os métodos qualitativos são os mais utilizados na condução de pesquisas de natureza exploratória. No entanto, há uma exceção. Malhotra (2011) alerta para um caso em que dados quantitativos podem ser usados de forma exploratória. Imagine, por exemplo, o sistema de registro de vendas de um grande supermercado. Esse sistema armazena dados quantitativos, como a quantidade de itens vendidos para cada cliente, ticket médio, entre outros. Uma análise de correlação pode identificar que algumas variáveis nesse banco de dados são influenciadas pela variação de outras variáveis. Por exemplo, pode ser que essa análise revele que, na maioria das vezes que o cliente compra sopa, compra também pão. Uma vez que a pesquisa não pretendia testar essa relação, aliás, ela sequer estava prevista, a análise foi feita de forma exploratória. Mas, em geral, pesquisas exploratórias utilizam métodos qualitativos. Você já se perguntou por que isso acontece? Imagine que uma marca de bebidas pretende realizar uma pesquisa para identificar as razões que levam os clientes a escolher seus produtos em lugar dos produtos concorrentes. Nesse caso, não seria mais fácil o(a) pesquisador(a) pensar em algumas categorias de 15 motivações e partir para uma pesquisa descritiva, a fim de avaliar quantos consumidores se enquadram em cada uma das razões? Veja a figura abaixo. Figura 02: exemplo de distribuição dos motivos de escolha da marca de bebidas Fonte: elaborado pelo autor. A figura apresenta um gráfico o qual demonstra que 60% dos consumidores afirmaram escolher a marca devido à conveniência, 30% devido ao sabor, 8% devido ao preço e 2% devido à variedade. A princípio, esse seria um caminho mais rápido, que traria contribuições gerenciais importantes, mas, nesse caso, haveria uma grave limitação: as razões para a escolha do produto não foram expressas pelos próprios clientes, pois eles precisaram escolher entre as alternativas que foram apresentadas. Caso haja outro motivo que leve os consumidores a escolher a marca, o(a) pesquisador(a) continuará sem o conhecer. Pode ser que alguns clientes escolham comprar bebidas de certa marca simplesmente porque é a mais frequente nas festas de que participam. Isso poderia ser detectado com uma abordagem qualitativa, que permite que o respondente expresse o que pensa, em lugar de optar por alternativas pré- definidas. Existem várias técnicas para extrair dados qualitativos, que são abordadas de forma detalhada no texto que você leu, por isso, vamos nos concentrar agora em suas características e aplicações. A esta altura, você deve ter percebido que, na pesquisa qualitativa, os respondentes são investigados muito mais detalhada e profundamente do que 16 na quantitativa. Obviamente, como consequência, o processo para investigar cada indivíduo é muito mais demorado do que simplesmente o tempo da aplicação de um questionário, por exemplo. Isso explica porque é inviável utilizar, na pesquisa qualitativa, amostras tão grandes quanto as utilizadas em pesquisas quantitativas. Como definimos, portanto, quantas pessoas serão entrevistadas? E como essas pessoas são selecionadas? Em primeiro lugar, a pesquisa qualitativa não precisa de grandes amostras, pois não busca representar como a população estudada age. A pesquisa qualitativa busca, sim, as variações que podem ser encontradas na manifestação do fenômeno de marketing estudado (Malhotra, 2011). Em termos mais práticos, isso significaque, para selecionar os participantes da pesquisa, devemos avaliar quanto o respondente representa aquilo que queremos estudar. Com relação à quantidade dos respondentes, lembre-se que o objetivo é alcançar a maior riqueza possível de variações do fenômeno; deste modo, o ideal é que os dados continuem a ser coletados enquanto ainda aparecerem novidades nas respostas, ou seja, até o(a) pesquisador(a) varrer todas as formas de manifestação do fenômeno. Obviamente, esse critério está sujeito à sua viabilidade de custo. Imagine, por exemplo, que uma pesquisa realizou três grupos de foco e ainda não esgotou a variedade de aspectos encontrados. Considerando o custo da pesquisa, deve- se avaliar se o benefício da informação compensa o custo de o fenômeno ser investigado mais a fundo. Leia as páginas 83 a 103 do livro da nossa disciplina. TROCANDO IDEIAS Normalmente, as situações enfrentadas por gestores(as) na realidade das organizações são tão complexas que dificilmente um problema pode ser esclarecido com apenas uma pesquisa. Discuta com seus colegas como as pesquisas exploratória, descritiva e causal podem se complementar para ampliar o domínio sobre o fenômeno investigado. 17 NA PRÁTICA Imagine que uma fabricante de produtos de limpeza pretende lançar uma esponja de lavar louças ecologicamente amigável. A equipe responsável pelo lançamento gostaria de contratar uma pesquisa para ajudar a definir as ações de marketing que deverão ser tomadas. As principais dúvidas da equipe se dão com relação à aceitação do novo produto no mercado. Antes de realizar grandes investimentos, seria ideal saber o que os clientes pensam sobre produtos ecologicamente amigáveis, se comprariam o produto caso estivesse disponível e quanto pagariam por ele. Com base na decisão gerencial descrita: Escolha uma das necessidades de informação levantadas pela equipe e descreva como uma pesquisa de mercado poderia auxiliar a decisão; Defina o problema de pesquisa para a pesquisa que você sugeriu no item anterior. Para isso, lembre-se que o problema de pesquisa é uma pergunta que, se respondida, atende à necessidade de informação gerencial. Solução proposta: O primeiro passo para solucionar a questão apresentada, assim como para iniciar uma pesquisa de mercado, é definir claramente qual a necessidade gerencial. Como você pode perceber pela descrição do caso, a principal questão a ser abordada é se o lançamento do produto ecologicamente amigável será vantajoso para a empresa. No entanto, existem vários aspectos que podem ser analisados para dar suporte à decisão. Cada um deles pode ser abordado com uma pesquisa diferente. Veja os que foram mencionados na descrição: Percepção dos consumidores sobre produtos ecologicamente amigáveis: nesta rota de aprendizagem, estudamos a pesquisa exploratória, que procura entender um tema com profundidade. Nesse caso, esse tipo de pesquisa poderia ser usado para buscar insights sobre o que os consumidores pensam sobre esse tema, e como percebem esses produtos. Podemos, portanto, estabelecer o seguinte problema de pesquisa: “o que os consumidores pensam sobre a oferta de uma esponja de lavar louças ecologicamente amigável?” 18 Intenção de compra do produto se disponível: a fonte mais confiável para saber se o consumidor estaria disposto a comprar um determinado produto é o próprio consumidor. Nesse caso, uma pesquisa de mercado seria uma ferramenta para obter essa resposta diretamente do público. Assim, poderíamos estabelecer o seguinte problema de pesquisa: “qual seria a intenção de compra do consumidor para adquirir uma esponja de lavar louças mais ecologicamente amigável em relação às opções atuais?” Flexibilidade de preço: um projeto de pesquisa de mercado poderia investigar a percepção do consumidor com relação ao valor do novo produto, ou seja, quanto os benefícios gerados por ele justificam o preço cobrado. Poderíamos estabelecer o seguinte problema de pesquisa: “quanto o consumidor estaria disposto a pagar por uma esponja ecologicamente amigável? SÍNTESE Nesta rota de aprendizagem, estudamos o papel da pesquisa de mercado na gestão das empresas. Vimos que a pesquisa de mercado é uma ferramenta que usamos para obter, no ambiente de marketing, informações confiáveis que sirvam de suporte à tomada de decisão. Essa ferramenta segue uma sequência lógica de procedimentos, que podemos resumir como: definição de um problema de pesquisa, escolha do tipo de pesquisa apropriado, coleta e análise de dados e, finalmente, apresentação dos resultados. Vimos, também, que a definição do problema de pesquisa é tratada por muitos autores como a etapa mais importante do processo, afinal, é a partir do problema de pesquisa que escolhemos como será desenvolvido todo o restante da mesma. Desta forma, é importante que este problema seja estabelecido com o máximo cuidado, e que o(a) pesquisador(a) esteja em contato com os(as) tomadores(as) de decisão para entender a necessidade de informação. Estudamos o propósito de cada um dos três principais tipos de pesquisa. A pesquisa exploratória nos ajuda a compreender um tema em profundidade. A pesquisa descritiva nos mostra como as variáveis relevantes para a decisão se manifestam no ambiente. Finalmente, a pesquisa causal nos permite desvendar as relações de causa e efeito. Vimos que a pesquisa com dados secundários é uma alternativa relativamente rápida e barata para que se inicie um processo de pesquisa, pois ajuda o(a) pesquisador(a) a compreender o fenômeno estudado. 19 REFERÊNCIAS HASTREITER, S., MARCHETTI, R., & PRADO, P. Tipologia de consumidores baseada nas razões e motivações de frequência em shopping centers. Encontro Anual dos Programas De Pós-Graduação em Administração, 1999. KOTLER, P., & KELLER, K. L. Administração de Marketing. 12. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. MADY, E. B. Pesquisa de mercado. Curitiba: Editora InterSaberes, 2014. MALHOTRA, N. K. Pesquisa de marketing: uma orientação aplicada, 6. ed. Porto Alegre: Bookman, 2011 PROCTOR, T. Essentials of marketing research. Pearson Education, 2005 WILSON, A. Marketing research. In. Baker, M. J., & Hart, S. J. (Eds.) The marketing book. Oxford: Elsevier. 2008, p. 140-155.
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