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Direito Ambiental - resumão

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D I R E I T O A M B I E N T A L
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – 9º PERÍODO
ZENILDO BODNAR
ANO: 2007
1. Meio ambiente.
Conceito legal: o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. (Art. 3º, inciso I, da Lei 6.938/81). Este conceito deve ser compreendido em sintonia com os princípios, diretrizes e estratégias de implementação previstas no artigo 225 da Constituição.
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
MACROBEM AMBIENTAL: UNITÁRIO, INCORPÓREO E IMATERIAL, DE USO COMUM DO POVO (DIFUSO). É UM BEM COLETIVO E NÃO PÚBLICO OU PRIVADO.
Exemplos de microbens: a atmosfera, o ar, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora. Os microbens podem estar sujeitos ao regime de propriedade privada quanto à sua exploração. 
CLASSIFICAÇÃO: a) natural; b) artificial; c) cultural; d) do trabalho. Na atualidade a doutrina está dividida quanto à inclusão do meio ambiente artificial, cultural e do trabalho, no conceito de meio ambiente. Porém a leitura mais adequada da Constituição conduz à conclusão de que tanto o regime jurídico ambiental como a base principiológica é aplicável a todas as classificações, observando-se as suas peculiaridades.
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A lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81) conferiu tratamento sistematizado e holístico ao meio ambiente. A partir desta lei é que foi possível conferir proteção adequada ao macrobem ambiental enquanto conjunto de microbens em suas diversas relações, superando-se assim a antiga visão fragmentária e utilitarista outorgada pelas leis anteriores.
Foi a Declaração do Rio (Eco-92) que ao reafirmar os princípios da Declaração de Estocolmo de 1992, realçou a necessidade de uma justa parceria global, com novos níveis de cooperação, que reconheça a terra como nosso lar e a natureza de forma interdependente e integral.
2. Princípios do Direito Ambiental
2.1 Princípio do Direito Humano Fundamental: Princípio 1 (Eco-92): Os seres humanos estão no centro das preocupações com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza.
2.2 Princípio da dignidade da pessoa humana. Art. 3º da Constituição.De acordo com Marcos Destefenni “uma das mais evidentes e preocupantes ofensas à dignidade da pessoa humana decorre da agressão ao meio em que o ser humano vive e em que se relaciona�”. 
2.3 Princípio da solidariedade. Art. 3º da Constituição. Com a constituição de 1988 a solidariedade passou a ganhar especial valoração jurídica, completando-se assim o terceiro ideal da revolução francesa consubstanciado na fraternidade�.
A solidariedade é o princípio constitucional que dá base de sustentação a todos os deveres fundamentais estabelecidos no texto constitucional e nas normas infraconstitucional, especialmente em matéria de proteção e defesa do meio ambiente.
Ao analisar este princípio no contexto da constituição italiana Giorgio M. Lombardi destaca que a solidariedade enquanto princípio fundamental é um dever inderrogável que fundamenta os deveres constitucionais nos planos: político econômico e social�.
No discurso pronunciado durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente no Rio de Janeiro em 1992 o Ministro do Meio Ambiente da Alemanha destacava a importância da solidariedade e a responsabilidade global pelo meio ambiente, enfatizando que “somos um mundo só” conclamou a todos para uma mudança de atitude alertando que “o que não solucionarmos hoje deixará uma pesada carga aos nossos filhos e às gerações futuras. Enfatizou que “este contrato com as futuras gerações nos obriga” Cf.TÖPFER, Klaus, Solidariedade e responsabilidade global pelo meio ambiente e pelo desenvolvimento (In . A política ambiental da Alemanha a caminho da Agenda 21. tradução e revisão: SPERBER S. C. Ltda. Centro de Estudos. São Paulo: Fundação Konrad –Adenauer-Stiftung, 1992, p. 01).
Meio Ambiente. Declaração de Estocolmo de 1972: “O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade, ao gozo de condições de vida adequadas num meio ambiente de tal qualidade que permita levar uma vida digna e gozar do bem-estar, e tem solene obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações presentes e futuras...
2.4 Princípio Democrático: informação + participação. Materialização: procedimental e material. 
Para Paulo de Bessa Antunes “o princípio democrático é aquele que assegura aos cidadãos o direito pleno de participar na elaboração das políticas públicas ambientais. No sistema constitucional brasileiro, tal participação faz-se de várias maneiras diferentes. A primeira delas consubstancia-se no dever jurídico de proteger e preservar o meio ambiente; a segunda, no direito de opinar sobre as políticas públicas, através da participação em audiências públicas�”. Este ainda lembra ainda outras formas de participação com a utilização dos mecanismos judiciais (Ação Popular e Ação Civil Pública), administrativos e iniciativas legislativas.
2.5 Princípio do desenvolvimento sustentável: Princípio 4 (Eco-92): Para alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção ambiental deve constituir parte integrante do processo de desenvolvimento, e não pode ser considerada isoladamente deste. A Declaração de Joanesburgo foi celebrada exatamente tendo como pauta a questão relacionada ao desenvolvimento sustentável.
2.6 Princípio da participação: Princípio 10 (Eco 92): A melhor maneira de tratar questões ambientais é assegurar a participação, no nível apropriado, de todos os cidadãos interessados. No nível nacional, cada indivíduo deve ter acesso adequado a informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações sobre materiais e atividades perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar em processos de tomada de decisões. Os Estados devem facilitar e estimular a conscientização e a participação pública, colocando a informação à disposição de todos. Deve ser propiciado acesso efetivo a mecanismos judiciais e administrativos, inclusive no que diz respeito a compensação e reparação de danos. Ver decisão, no processo sobre a criação do Parque Nacional Campo dos Padres, Autos n. 2007.72.00.001075-4. 
2.7 Princípio da Prevenção: = prevenir impactos ambientais já conhecidos, informando tanto o estudo de impacto como também os licenciamentos ambientais. Difere do princípio da precaução porque este diz respeito a reflexos ao ambiente ainda não conhecidos cientificamente.
2.8 Princípio da Precaução: Princípio 15 (Eco-92): De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental.
Para alguns autores este princípio também é conhecido como princípio da prudência ou da cautela. Corresponde à segunda dimensão do direito fundamental difuso ao meio ambiente sadio e equilibrado. E preconiza que na interpretação deve ter prevalência o princípio in dúbio pró natureza. Para prevenir ameaças em relação às quais não se tem certeza científica, cujas conseqüências podem ser drásticas e por estas razões exigem medidas preventivas.
Além do princípio 15 da Declaração do Rio 92 o preâmbulo da Convenção sobre Diversidade Biológica também dispõe que: “quando exista ameaça de sensível redução ou perda de diversidade, a falta de plenacerteza científica não deve ser usada como razão para postergar medidas para evitar ou minimizar essa ameaça”. A Convenção – Quadro das Nações Unidas sobre mudanças do clima também estabelece que “quando surgirem ameaças de danos sérios ou irreversíveis, a falta de plena certeza científica não deve ser usada como razão para postergar essas medidas, levando em conta que as políticas e medidas adotadas para enfrentar a mudança do clima devem ser eficazes em função dos custos”.
2.9 Princípio do Poluidor Pagador: Princípio 16 (Eco-92): Tendo em vista que o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo decorrente da poluição, as autoridades nacionais devem procurar promover a internalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, levando na devida conta o interesse público, sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais.
Encontra fundamento também nos artigos 225 e 170 da Constituição. Significa que todas as externalidades negativas decorrentes dos processos produtivos ou de outros comportamentos humanos devem ser devidamente internalizados nos custos e devidamente reparados/compensados.
2.10 Princípio da Obrigatoriedade da Intervenção Estatal: Nos termos do artigo 225 da Constituição é dever fundamental do poder público intervir para, no exercício do poder de polícia ambiental, prevenir e danos ao meio ambiente, bem como exigir a devida restauração do equilíbrio ecológico.
2.11 Princípio da cooperação: Todos os estados e os indivíduos devem cooperar na redução das desigualdades sociais, na erradicação da pobreza e num espírito de parceria global contribuição para a conservação, proteção e restauração da saúde e da integridade do ecossistema terrestre.
2.12 Princípio da Informação e Notificação: O Princípio 10 da Eco-92 , é enfático no sentido de que, “no nível nacional, cada indivíduo deve ter acesso adequado a informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações sobre materiais e atividades perigosas em suas comunidades”. O princípio da informação também está garantido no artigo 9º, incisos VII e XI, da Lei 6938/81 e na Lei 10.650/2003.
2.13 Princípio da Educação Ambiental 
No inicio da Declaração de Estocolmo (ONU-1972) consta que: “É essencial que seja ministrada educação sobre questões ambientais às gerações jovens como aos adultos, levando-se em conta os menos favorecidos, com a finalidade de desenvolver as bases necessárias para esclarecer a opinião pública e dar aos indivíduos, empresas e coletividades o sentido de suas responsabilidades no que concerne à proteção e melhoria do meio ambiente em toda a sua dimensão humana. Objetivando concretizar este princípio foi estabelecida no Brasil a Política Nacional da Educação Ambiental pela Lei 9.785/99.
2.14 OUTROS PRINCÍPIOS:
a) Princípio do Equilíbrio: “conseqüências fiquem equiparadas e o dano fique amortecido”. (Bessa Antunes).
b) Princípio do Limite: limites de tolerabilidade. Ex: padrões de emissão de poluentes;
c) Princípio da Responsabilidade: o ideal é que nenhum dano ao meio ambiente fique sem a devida reparação. A Constituição estabelece no Artigo 225 § 3º a tríplice responsabilidade: civil, penal e administrativa. 
d) Princípio da Adequação: As políticas públicas e estratégias adotadas para a gestão dos bens ambientais devem ser adequadas para compatibilizar o desenvolvimento sustentável com a proteção adequada do meio ambiente.
e) Ubiqüidade: significa que o bem ambiental está presente e deve ser protegido em todos os lugares, pois não pode encontrar qualquer limitação geográfica ou espacial.
3. Competências Ambientais = observar texto da Heline (Livro coordenado pelo Prof. Canotilho).
4. Tutela Administrativa do Meio Ambiente
A Constituição da República Federativa do Brasil estabelece no Artigo 225, § 3º, que os danos causados ao meio ambiente ensejam responsabilidade nas esferas civil, penal e administrativa.
O poder administrativo conferido a todos os entes federativos decorre do princípio da obrigatoriedade da intervenção estatal na tutela efetiva do meio ambiente. Para o alcance deste objetivo é fundamental que a administração exerça o seu poder de polícia ambiental para impor comportamentos aos administrados sob pena da aplicação das sanções correspondentes.
O fundamento legal para a imposição de sanções pela prática de infrações administrativas está na Lei 9.605/98 e no Decreto 3.179//99�. De acordo com a doutrina majoritária e com a jurisprudência a responsabilidade administrativa é sempre objetiva, ou seja, independe de culpa, baseada na teoria do risco integral. Alguns autores, entretanto, defendem que a regra da imputação objetiva comporta exceções quando a própria lei prevê o elemento subjetivo.
 
4.1 Infração administrativa
O conceito de infração administrativa está previsto no Artigo 70 da Lei 9.605/98:
Art. 70 Considera-se infração administrativa ambiental toda ação ou omissão que viole as regras jurídicas de uso, gozo, promoção, proteção e recuperação do meio ambiente.
Trata-se de conceito aberto que estabelece um tipo infracional em branco objetivando abarcar qualquer conduta contrária a norma legal ou regulamentar protetiva do meio ambiente. Esta circunstância vai exigir uma tenção especial do interprete. A descrição de algumas infrações está no Decreto 3.179/99 e em outras estão previstas em leis específicas. É importante destacar que a infração administrativa prescinde de caracterização efetiva de dano ao meio ambiente, sendo suficiente a simples contrariedade a um preceito normativo.
Nos termos do § 1º do Artigo 70 da Lei 9.605/98, são autoridades competentes para lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo os funcionários de órgãos ambientais integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, designados para as atividades de fiscalização, bem como os agentes das Capitanias dos Portos, do Ministério da Marinha.
A aplicação de sanções administrativas deve observar as garantias constitucionais do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório. Quanto ao processo administrativo devem ser observados os preceitos normativos previstos na Lei 9.605/98 com os prazos previstos no artigo 71 da Lei 9.605/98. Como a aplicação de penalidades na esfera administrativa é materializada por ato administrativo dotado do atributo da presunção de veracidade, caberá ao administrado o ônus da prova no processo administrativo. Os Estados e Municípios poderão adotar procedimentos específicos para a aplicação de sanções e para o seu processamento de acordo com a sua ordem jurídica própria.
4.2 Tipos de sanções administrativas (Art. 72 da Lei 9.605/98):
Advertência (finalidade pedagógica e preventiva);
Multa simples (R$ 50,00 a 50.000.000,00);
Multa diária (para infrações continuadas);
Apreensão dos animais, produtos e subprodutos da fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipamentos ou veículos de qualquer natureza utilizados na infração (Conforme leciona Vladimir Passos de Freitas a apreensão é na verdade uma pena de perdimento);
Destruição ou inutilização do produto;
Suspensão de venda e fabricação do produto;
Embargo de obra ou atividade;
Demolição de obra;
Suspensão parcial ou total de atividades;
Restritiva de direitos�.
4.3 Licenciamento ambiental
O licenciamento ambiental surgiu inicialmente no Brasil como condicionante imposta para a concessão de financiamentos internacionais de atividades danosas ou potencialmente lesivas ao meio ambiente. Atualmente é uma das principais estratégias preventivas e precautórias exigida para que sejam evitados danos intoleráveis ao meio ambiente.
Nos termos do artigo 1º da Resolução 01/1986 do CONOMA, dependerá de estudo prévio de impacto ambiental (EIA) e respectivo relatório de impacto ambiental (RIMA), o licenciamento de atividades “modificadoras” do meio ambiente, tais como: I - Estradas de rodagem com duas oumais faixas de rolamento; II - Ferrovias; III - Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos; IV - Aeroportos, conforme definidos pelo inciso 1, artigo 48, do Decreto-Lei nº 32, de 18.11.66; V - Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgotos sanitários; VI - Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV; VII - Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos, tais como: barragem para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de saneamento ou de irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem e irrigação, retificação de cursos d'água, abertura de barras e embocaduras, transposição de bacias, diques; VIII - Extração de combustível fóssil (petróleo, xisto, carvão); IX - Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no Código de Mineração; X - Aterros sanitários, processamento e destino final de resíduos tóxicos ou perigosos; Xl - Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a fonte de energia primária, acima de 10MW; XII - Complexo e unidades industriais e agro-industriais (petroquímicos, siderúrgicos, cloroquímicos, destilarias de álcool, hulha, extração e cultivo de recursos hídricos); XIII - Distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI; XIV - Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas acima de 100 hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em termos percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental; XV - Projetos urbanísticos, acima de 100ha. ou em áreas consideradas de relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos órgãos municipais e estaduais competentes; XVI - Qualquer atividade que utilize carvão vegetal, em quantidade superior a dez toneladas por dia. 
Uma das formas de concretizar o princípio da participação no licenciamento ambiental é a realização de audiências públicas. A Audiência Pública prevista na RESOLUÇÃO N.º 001/86 do CONOMA, tem por finalidade expor aos interessados o conteúdo do produto em análise e do seu referido RIMA, dirimindo dúvidas e recolhendo dos presentes as críticas e sugestões a respeito. Será realizada sempre que a autoridade ambiental entender necessária, por requerimento de entidade civil, Ministério Público ou requerimento de 50 ou mais cidadãos. Deverá ocorrer em horários e locais acessíveis aos interessados. Uma vez regularmente requerida não pode deixar de ser realizada sob pena de nulidade do procedimento de licenciamento ambiental. O procedimento da audiência pública foi regulamentado pela Resolução n. 09/1987.
4.3.1 Definições (Resolução 237/97 CONAMA)
Art. 1º - Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes definições:
I - Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais , consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso.
II - Licença Ambiental: ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente, estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental.
III - Estudos Ambientais: são todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentado como subsídio para a análise da licença requerida, tais como: relatório ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área degradada e análise preliminar de risco.
III – Impacto Ambiental Regional: é todo e qualquer impacto ambiental que afete diretamente (área de influência direta do projeto), no todo ou em parte, o território de dois ou mais Estados. 
4.3.2 Competência para o licenciamento ambiental (Resolução 237/97 CONAMA)
Art. 4º - Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, órgão executor do SISNAMA, o licenciamento ambiental, a que se refere o artigo 10 da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, de empreendimentos e atividades com significativo impacto ambiental de âmbito nacional ou regional, a saber:
I - localizadas ou desenvolvidas conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; no mar territorial; na plataforma continental; na zona econômica exclusiva; em terras indígenas ou em unidades de conservação do domínio da União.
II - localizadas ou desenvolvidas em dois ou mais Estados;
III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais do País ou de um ou mais Estados;
IV - destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN;
V- bases ou empreendimentos militares, quando couber, observada a legislação específica.
§ 1º - O IBAMA fará o licenciamento de que trata este artigo após considerar o exame técnico procedido pelos órgãos ambientais dos Estados e Municípios em que se localizar a atividade ou empreendimento, bem como, quando couber, o parecer dos demais órgãos competentes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, envolvidos no procedimento de licenciamento.
§ 2º - O IBAMA, ressalvada sua competência supletiva, poderá delegar aos Estados o licenciamento de atividade com significativo impacto ambiental de âmbito regional, uniformizando, quando possível, as exigências.
Art. 5º - Compete ao órgão ambiental estadual ou do Distrito Federal o licenciamento ambiental dos empreendimentos e atividades: 
I - localizados ou desenvolvidos em mais de um Município ou em unidades de conservação de domínio estadual ou do Distrito Federal; 
II - localizados ou desenvolvidos nas florestas e demais formas de vegetação natural de preservação permanente relacionadas no artigo 2º da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, e em todas as que assim forem consideradas por normas federais, estaduais ou municipais;
III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais de um ou mais Municípios;
IV – delegados pela União aos Estados ou ao Distrito Federal, por instrumento legal ou convênio.
Parágrafo único. O órgão ambiental estadual ou do Distrito Federal fará o licenciamento de que trata este artigo após considerar o exame técnico procedido pelos órgãos ambientais dos Municípios em que se localizar a atividade ou empreendimento, bem como, quando couber, o parecer dos demais órgãos competentes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, envolvidos no procedimento de licenciamento.
Art. 6º - Compete ao órgão ambiental municipal, ouvidos os órgãos competentes da União, dos Estados e do Distrito Federal, quando couber, o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades de impacto ambiental local e daquelas que lhe forem delegadas pelo Estado por instrumento legal ou convênio. 
4.3.4 Tipos de licença (Resolução 237/97 CONAMA)
Art. 8º - O Poder Público, no exercício de sua competência de controle, expedirá as seguintes licenças:
I - Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação;
II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de acordocom as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante;
III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operação.
4.3.5 Procedimento (Resolução 237/97 CONAMA)
Art. 10 - O procedimento de licenciamento ambiental obedecerá às seguintes etapas:
I - Definição pelo órgão ambiental competente, com a participação do empreendedor, dos documentos, projetos e estudos ambientais, necessários ao início do processo de licenciamento correspondente à licença a ser requerida; 
II - Requerimento da licença ambiental pelo empreendedor, acompanhado dos documentos, projetos e estudos ambientais pertinentes, dando-se a devida publicidade;
III - Análise pelo órgão ambiental competente, integrante do SISNAMA , dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados e a realização de vistorias técnicas, quando necessárias;
IV - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental competente, integrante do SISNAMA, uma única vez, em decorrência da análise dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados, quando couber, podendo haver a reiteração da mesma solicitação caso os esclarecimentos e complementações não tenham sido satisfatórios;
V - Audiência pública, quando couber, de acordo com a regulamentação pertinente;
VI - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental competente, decorrentes de audiências públicas, quando couber, podendo haver reiteração da solicitação quando os esclarecimentos e complementações não tenham sido satisfatórios;
VII - Emissão de parecer técnico conclusivo e, quando couber, parecer jurídico;
VIII - Deferimento ou indeferimento do pedido de licença, dando-se a devida publicidade.
4.3.6 Responsabilidade civil, penal e administrativa dos profissionais encarregados pelos estudos ambientais. (Resolução 237/97 CONAMA)
 Art. 11 - Os estudos necessários ao processo de licenciamento deverão ser realizados por profissionais legalmente habilitados, às expensas do empreendedor.
Parágrafo único - O empreendedor e os profissionais que subscrevem os estudos previstos no caput deste artigo serão responsáveis pelas informações apresentadas, sujeitando-se às sanções administrativas, civis e penais.
5. Responsabilidade Civil Ambiental
A imputação de responsabilidade civil ao poluidor ocorre com base na teria da responsabilidade integral e independe de culpa. Seu fundamento constitucional está no artigo 225, § 3º e o regime de responsabilização objetiva está previsto no § 1º do Artigo 14 da Lei 6.938/8.
Assim preceitua o § 1º do referido artigo: sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.
O tema da responsabilidade é um dos mais importantes e complexos da ciência jurídica independente do ramo do direito, sistema jurídico ou país em que está sendo analisado. Trata-se indubitavelmente de uma das matérias mais difíceis, vastas e confusas de sistematizar. 
A responsabilidade é assunto comum no plano da ética, da moral, da filosofia e do Direito. Segundo o dicionário de Ferreira�, a responsabilidade significa: “obrigação de reparar o mal que se causou a outros” e responsável (do Francês responsable) é aquele que responde pelos próprios atos ou pelos de outrem. 
Interessante observação acerca da amplitude da responsabilidade civil é feita por Cavalieri Filho� para o qual “A responsabilidade civil é uma espécie de estuário onde deságuam todos os rios do Direito: Público e privado, material e processual; é uma abóbada que enfeixa todas as áreas jurídicas, uma vez que tudo acaba em responsabilidade”.
No Direito Ambiental haverá responsabilidade civil quando o agente descumprir o dever fundamental de proteção da higidez ambiental e também quando não adotar as precauções necessárias para prevenir danos ao meio ambiente, causando lesão ou ameaça de lesão à integridade do bem jurídico ambiental ou produzindo riscos intoleráveis a este bem.
Os conceitos de responsabilidade civil ambiental, apresentados pela maior parte da doutrina, são fundamentados no dever de reparação, ou seja, ainda na clássica idéia de que responsabilidade surge como uma reação ao desequilíbrio econômico jurídico. Todavia esta concepção civilista não mais atende suficientemente a função promocional do Direito Ambiental, pautado muito mais na prevenção do que na funcionalidade reativa e mitigatória aos danos de impossível reparação. 
O dever de reparação que obriga o responsável a restabelecer o equilíbrio afetado em razão do dano é conseqüência de uma conduta humana omissiva ou comissiva caracterizando-se esta como o marco inicial da responsabilidade civil. A indenização tem o objetivo de reparar na integralidade todos os prejuízos suportados pela coletividade, tentando restaurar statu quo ante, ou seja, o estado que se encontrava o ambiente antes da ocorrência do dano.
Afirma-se na doutrina que não basta a ocorrência de um dano para que surja o dever de indenizar, sendo sempre indispensável a relação entre a conduta contrária ao direito e o dano experimentado pela vítima. Entretanto a tendência moderna da responsabilidade civil que caminha para a regra da responsabilização pelo risco da atividade independentemente de culpa infirma parcialmente a assertiva anterior na medida em que a conduta injurídica não será elemento primordial da responsabilidade, pois o responsável por atividades de risco assume de certa maneira o risco pelos danos independente de qualquer culpa ou conduta contrária ao direito, tão somente como um garantidor legal dos interesses de terceiros.
Historicamente o sistema de imputação de responsabilidade baseado na culpa gerou inúmeros inconvenientes e injustiças, pois muitos danos ficavam sem a devida reparação. Esta limitação decorrente da dificuldade da obtenção da justa reparação, especialmente em razão do demasiado ônus para a vítima comprovar a culpa, levou os julgadores a reconhecer o direito à reparação mesmo nos casos em que restava demonstrada a mínima culpa. 
Preocupado com as situações de injustiça, o legislador passou a prever situações de culpa presumida até evoluir para a imputação de responsabilidade objetiva, ou seja, independente de culpa. A tendência moderna é de ampliação dos casos de imputação de responsabilidade objetiva, como já ocorre na matéria ambiental, como também na legislação consumeirista e é a clara inclinação do novo Código Civil o qual está fundamentado muito mais nos princípios da: dignidade da pessoa humana, solidariedade, eticidade, função social, do que nas concepções individualistas e egoístas do início do século.
A responsabilidade objetiva encontra-se sustentada pela teoria do risco, na qual não há que se fazer prova da culpa, mas apenas a demonstração do dano e do nexo de causalidade. A tendência é que se conceda a mais ampla indenização possível, levando-se ao ápice a aplicação do princípio de que nenhum direito lesado deve ficar sem a correspondente indenização.
Pela teoria da responsabilidade objetiva, toda pessoa que exerce alguma atividade cria um risco de dano para terceiros, devendo conseqüentemente ser obrigada a repará-lo, ainda que sua conduta seja isenta de culpa, tendo em vista que essa atividade de risco lhe proporciona um benefício. 
Os fatores de risco evidenciados na atualidade em razão da complexidade e da multiplicidade crescente dos fatores de risco, a estonteanterevolução tecnológica, a explosão demográfica e os perigos difusos ou anônimos da modernidade acabaram por deixar vários acidentes ou danos sem reparação. A evolução da responsabilidade civil destacada anteriormente sinaliza para a adoção de um princípio geral, segundo o qual nenhum dano poderá ficar sem reparação quando alguém se beneficia ainda que hipoteticamente da atividade que o gerou. Os riscos da atividade em sentido amplo devem ser suportados por quem dela se beneficia. A regra máxima da eqüidade é que aquele que retira os proveitos deve arcar com os riscos.
Conforme destaca Miguel� na doutrina estrangeira já se sustenta à presunção de responsabilidade ou de nexo de causalidade e alguns tribunais europeus têm reconhecido a responsabilidade do produtor pelo risco do desenvolvimento numa tendência clara da “força expansiva da eqüidade” em detrimento dos argumentos econômicos.
Todas as teorias acerca da responsabilidade objetiva gravitam em torno da idéia central do risco, segundo o qual aquela que se beneficia da atividade deve responder pelos riscos que o seu empreendimento gera.
Neste contexto, é de fundamental importância que a imputação de responsabilidade em matéria ambiental tenha base de imputação objetivista (valorização do risco), adote a teoria do risco integral e também contemple algumas hipóteses de presunção de nexo de causalidade. Tudo para que o resultado efetivo da responsabilização produza os resultados social e ambientalmente mais conseqüentes para a restauração do equilíbrio ecológico e para a realização da verdadeira justiça ambiental.
A mensagem pedagógica que deve estar embutida em toda e qualquer imputação de responsabilidade por danos causados ao ambiente, deve ser especialmente realçada para que se alcance a melhora contínua nas relações entre o homem e a natureza e a consolidação de uma ética de preservação dos bens ambientais. Em síntese, o resultado final da imputação de responsabilidade civil jamais pode significar um estímulo à perpetração de novos danos. Isso tudo porque a singela imposição de reparação econômica dos danos causados nem sempre é suficiente para dissuadir os novos comportamentos danosos.
Neste contexto, devem ser realçadas as funções punitivas e pedagógicas da responsabilização civil em matéria ambiental, as quais somente serão alcançadas pela adoção de medidas concretas que além de assegurar a plena restauração do equilíbrio ecológico sirvam para desestimular comportamentos danosos e irresponsáveis, gerando assim um clima geral de desestímulo.
6. Direito Penal e Processual Penal Ambiental
6.1 Importância da tutela penal do meio ambiente.
Necessidade de tutela dos novos direitos (bens difusos e coletivos).
Complexidade dos novos bens jurídicos e desafios na implementação;
Ultima ratio do Direito Penal (Direio penal mínimo ou necessário).
Quanto à proteção do bem penal ambiental este difere sensivelmente da dogmática tradicional, pois este bem é de difícil determinação, não apresenta apenas um caráter microssocial (relações de pessoa(s) a pessoa(s) e sim “todas e cada uma das pessoas do sistema social”. ALTA DANOSIDADE SOCIAL.
Fundamentos da tutela penal do ambiente : Eladio Lecey: a) como resposta social; b) como instrumento de pressão à solução do conflito; c) como instrumento de efetividade das normas gerais; d) como instrumento de prevenção
 A proteção do Direito Penal ao meio ambiente está principalmente na Lei nº 9605/98, conhecida como a Lei dos Crimes contra o Meio Ambiente a qual prevê inclusive a responsabilização da pessoa jurídica;
Previsão de: I) delitos culposos: o artigo 41, parágrafo único, incêndio culposo; II) delitos omissivos: desrespeito ao dever de agir para evitar dano ou perigo ao meio ambiente. (ex: artigo 68, deixar de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental, desatendendo dever legal ou contratual). Até omissivo culposo que não existe no Código Penal do Brasil (artigo 68, parágrafo único).
6.2 Princípios aplicáveis: simbiose entre os princípios penais e ambientais
a) Prevenção geral: “está numa melhor posição para enfrentar os riscos ambientais, atuando na fase do perigo, antes que a degradação ocorra”� . Exemplo de tipificação do perigo: artigo 56 da Lei 9605/98 que criminaliza “produzir, processar, embalar, importar, exportar, comercializar, fornecer, transportar, armazenar, guardar, ter em depósito ou usar produto ou substância tóxica, perigosa ou nociva à saúde humana ou ao meio ambiente, em desacordo com as exigências estabelecidas em leis ou nos seus regulamentos” e que no seu parágrafo 1º tipifica também o abandono de tais produtos ou substâncias.
b) Caráter educativo. Presença de normas penais em branco: Exemplo: artigo 38 da Lei 9605/98 que tipifica a conduta de “destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente. O conceito de floresta de preservação permanente advém dos artigos 2º e 3º do Código Florestal (Lei 4771/65).
c) Prevenção especial: tutela do próprio bem jurídico meio ambiente;
d) Reparação do dano ao ambiente;
como condição ao sursis especial), 19 (a perícia de constatação do dano ambiental, sempre que possível, fixará o montante do prejuízo causado) e 20 (a sentença fixará o valor mínimo para reparação dos danos sofridos pelo ofendido e pelo meio ambiente;
preocupação com a reparação do dano ao meio ambiente vem expressada ainda e principalmente pelos artigos 27 e 28 da Lei 9605/98 :
 Artigo 27 – condiciona a transação penal (aplicação imediata de multa ou restritiva de direito) à prévia composição do dano.
 Artigo 28 – condiciona a declaração da extinção da punibilidade na transação processual (suspensão do processo) à comprovação da reparação do dano, através de laudo de constatação de reparação do dano ambiental. 
6.3 Aspectos destacados da Lei 9.605/98
- responsabilização penal da pessoa jurídica em concurso com o dirigente;
- concretização de princípios do Direito Ambiental na tipologia dos crimes. O que era mera contravenção contra a flora passou a ser tipificado como crime;
- valorização das medidas alternativas à prisão;
a) Responsabilização da pessoa jurídica
Justificativa: dificuldades na identificação dos responsáveis pela atuação danosa da pessoa jurídica “diluição de muitas condutas, com freqüência no interior dos grandes conglomerados industriais e comerciais traz dificuldade na persecução penal". Só cai na rede peixe pequeno.
Responsabilidade dos dirigentes: Regra geral: artigo 29, caput, do Código Penal do Brasil. Especial: primeira parte do artigo 2º da Lei nº 9605. Pode ser responsabilizado por autoria, co-autoria ou participação. O artigo 2º também criou uma criou mais uma hipótese de relevância da omissão, além daquelas já previstas no Código Penal, artigo 13, parágrafo 2º. Esta nova hipótese legal de garantidor exige conduta positiva daquele “que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la”.
O artigo 225, § 3º estabelece que: “As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados”. Esta política criminal foi concretizada com o advento da Lei nº 9605, de 12/2/98, em seu artigo 3º. 
A imputação de responsabilidade penal à pessoa jurídica acompanha uma tendência mundial como já ocorre nos ordenamentos jurídicos, da França, Dinamarca e Portugal. A responsabilização penal também é admitida, como regra, Estados Unidos da América, Reino Unido, Canadá, Austrália, Holanda e Noruega. Porém países como Itália, Alemanha e as antigas repúblicas socialistas ainda não admitem a responsabilização penal de entes coletivos. 
Dentre os tipos penais da Lei nº 9605/98, apenas um não se enquadrava, em razão das penas cominadas, dentre os que admitem transação oususpensão do processo, qual seja, o de incêndio doloso contra mata ou floresta (artigo 41, “caput”). Agora com o advento da Lei 11.284/2006, três crimes não mais admitem sequer suspensão do processo�. 
 Primeiros casos registrados na jurisprudência:
a) Recurso Criminal 00.020968-6, julgado pela Primeira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Relator Desembargador Solon d’Eça Neves, que, dando provimento ao recurso interposto pelo Ministério Público, determinou o recebimento de denúncia contra a empresa Agropastoril Bandeirante Ltda. pelos crimes de poluição previstos nos artigos 54, § 2º,V e 60 da Lei nº 9605/98. Neste caso haviam sido denunciados tanto a empresa quanto as pessoas físicas seus sócios, tendo o juiz de primeiro grau rejeitado a denúncia relativamente à pessoa jurídica, a recebendo tão somente quanto às pessoas físicas. Por unanimidade, a Turma acatou o recurso, admitindo expressamente a responsabilidade penal da pessoa jurídica, com a seguinte ementa: “Completamente cabível a pessoa jurídica figurar no pólo passivo da ação penal que tenta apurar a responsabilidade criminal por ela praticada contra o meio ambiente”.
b) A primeira sentença condenando uma pessoa jurídica no Brasil foi proferida pelo Juiz Federal Luiz Antonio Bonat, Juiz Federal, da 1a. Vara em Criciúma, Santa Catarina, no processo 2001.72.04.002225-0, datada de 18 de abril de 2002, que condenou a empresa A.J.Bez Batti Engenharia Ltda. e seu diretor pelos crimes previstos nos artigos 48 (impedimento de regeneração de vegetação) e 55 (extração indevida de recursos minerais) da Lei nº 9605/98, em concurso formal. Esta sentença está publicada, na íntegra, numa das Revistas da Direito Ambiental e foi confirmada pelo Egrégio Tribunal Regional Federal.
c) Em maio de 2005, o STJ pela primeira vez admitiu a responsabilização penal da pessoa jurídica, Ministro Gilson Dipp. Nesta decisão o Ministro entendeu que a imputação de responsabilidade ao ente coletivo é possível desde que em concurso necessário de agentes com uma pessoa física.
DIPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS RELATIVAS À TUTELA DO MEIO AMBIENTE
TÍTULO II
Dos Direitos e Garantias Fundamentais
CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXII - é garantido o direito de propriedade; 
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social�;
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.
 CAPÍTULO II
DA UNIÃO
Art. 20. São bens da União: 
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei; 
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;
IV - as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as áreas referidas no art. 26, II; 
V - os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica exclusiva;
VI - o mar territorial; 
VII - os terrenos de marinha e seus acrescidos;
VIII - os potenciais de energia hidráulica;
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;
X - as cavidades naturais subterrâneas e os sítios arqueológicos e pré-históricos;
XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios.
§ 1º - É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a órgãos da administração direta da União, participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração. 
§ 2º - A faixa de até cento e cinqüenta quilômetros de largura, ao longo das fronteiras terrestres, designada como faixa de fronteira, é considerada fundamental para defesa do território nacional, e sua ocupação e utilização serão reguladas em lei.
COMPETÊNCIAS CONSTITUCIONAIS
Art. 21. Compete à União:
IX - elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social;
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso;
XX - instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos;
XXIII - explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições:
a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional;
b) sob regime de concessão ou permissão, é autorizada a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos medicinais, agrícolas, industriais e atividades análogas;
c) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; 
XXIV - organizar, manter e executar a inspeção do trabalho;
XXV - estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa.
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
XIV - populações indígenas; 
XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; 
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios;
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
Art. 26. Incluem-se entre os bens dos Estados:
I - as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, ressalvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União;
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob domínio da União, Municípios ou terceiros;
III - as ilhas fluviais e lacustres não pertencentes à União;
IV - as terras devolutas não compreendidas entre as da União.
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
VIII - promover, no que couber, adequadoordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano;
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.
TÍTULO VII
Da Ordem Econômica e Financeira
CAPÍTULO I
DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
III - função social da propriedade;
VI - defesa do meio ambiente;
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
CAPÍTULO VI
DO MEIO AMBIENTE
Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; 
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; 
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; 
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; 
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade. 
§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei. 
§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. 
§ 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. 
§ 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
§ 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.
� DESTEFENNI, Marcos. A Responsabilidade Civil Ambiental e as Formas de Reparação do Dano Ambiental: aspectos teóricos e práticos. Campinas: Bookseller, 2005. 
� Luiz Edson Fachin salienta que “A solidariedade adquire valor jurídico. A preocupação do jurista não se dirige apenas ao indivíduo, mas à pessoa tomada em relação, inserida no contexto social” [FACHIN, 2001, p. 50].
� LOMBARDI, Giorgio M. Contributo Allo Studio Di Doveri Constitucionali. Milano: Dott. A. Diuffrè Editore, 1967, p. 45 e 46
� ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental, 7. ed. rev. atual. e ampl. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004. p.33.
� A Lei de Recursos Hídricos 9.433/97, também prevê infrações administrativas e respectivas sanções, dentre outras normas.
� § 8º As sanções restritivas de direito são: I - suspensão de registro, licença ou autorização; II - cancelamento de registro, licença ou autorização; III - perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais; IV - perda ou suspensão da participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; V - proibição de contratar com a administração Pública, pelo período de até três anos.
� FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Escolar da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 567.
� CAVALIERI FILHO, Sergio. Responsabilidade civil no novo Código Civil. Revista do Direito do Consumidor, ano 12, n. 48, p. 69-84, São Paulo, out./dez. 2003, p. 71-72.
� MIGUEL, Alexandre. A Responsabilidade Civil no novo Código Civil: algumas considerações. Revista dos Tribunais, ano 92, v. 809, p. 11-27, São Paulo, março 2003, p. 12-13.
� Benjamin, Antonio Herman, Crimes contra o meio ambiente: uma visão geral, em Ministério Público e Democracia, Livro de Teses, Tomo II, p.393).
� Art. 50-A. Desmatar, explorar economicamente ou degradar floresta, plantada ou nativa, em terras de domínio público ou devolutas, sem autorização do órgão competente: � HYPERLINK "http://www.planalto.gov.br/ccivil/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11284.htm" \l "art82" �(Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006)� . Pena: 2 a 4 anos de reclusão. 
Art. 69-A. Elaborar ou apresentar, no licenciamento, concessão florestal ou qualquer outro procedimento administrativo, estudo, laudo ou relatório ambiental total ou parcialmente falso ou enganoso, inclusive por omissão: � HYPERLINK "http://www.planalto.gov.br/ccivil/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11284.htm" \l "art82" �(Incluído pela Lei nº 11.284, de 2006)�. Pena: 3 a 6 anos de reclusão.
� Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada os recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as Relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.

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