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reflexiçao sobre religião cristã suas mudanças historicas e implicaçoes para o cristianismo

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Prévia do material em texto

Carlos Roberto de Oliveira Chagas 
 
 
 
 
 
 
 
 
O TERMO “RELIGIÃO CRISTÔ, SUAS MUDANÇAS 
HISTÓRICAS E IMPLICAÇÕES PARA A COMPREENSÃO 
SOTERIOLÓGICA NO CRISTIANISMO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Instituto Metodista Izabela Hendrix – FATE-BH 
Belo Horizonte 
2008 
2 
 
Carlos Roberto de Oliveira Chagas 
 
 
 
 
 
 
 
 
O TERMO “RELIGIÃO CRISTÔ, SUAS MUDANÇAS 
HISTÓRICAS E IMPLICAÇÕES PARA A COMPREENSÃO 
SOTERIOLÓGICA NO CRISTIANISMO 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como 
Exigência parcial para a obtenção do grau de 
Bacharel em Teologia no Instituto Metodista Izabela 
Hendrix – FATE-BH 
 
Orientador: Prof. Ms. Gilmar Ferreira da Silva 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2008 
3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A todos que, por amor e em humildade, buscam a Verdade. 
4 
 
AGRADECIMENTOS 
 
Àquele que me criou, que me assiste e que me espera no fim da minha caminhada. 
 
Aos meus pais que sempre acreditaram em mim: Não tenho palavras para expressar... 
 
À minha Lady: Talvez juntando a gramática de todas as línguas que existiram, existem e que 
ainda existirá, quem sabe conseguirei dizer o quanto és minha vida!!! Te amo. 
 
Aos meus irmãos Samuel e Paulinho por cada vibração. 
 
À minha sogra Enilda pelas orações e carinho de mãe. 
 
Às minhas cunhadas Rosane, Eliane, Cristiane e cunhado Carlos Ramalho e à Alessandra: Já 
não mais os considero parentes emprestados, mas irmãos de sangue. 
 
À minha igreja pelo sonho compartilhado. 
 
Aos meus colegas de sala pelas dicas e “empurrãozinhos” e também pelo companheirismo. 
 
Ao Pablo, Valéria e Amiel: Se Deus me deu a luz neste curso, vocês me deram cor. 
 
Ao meu orientador Gilmar pela sapiência emprestada, dedicação e paciência. Valeu brother!!! 
 
A todos os professores deste curso que me formaram um teólogo. Um abraço em lágrimas de 
felicidade. A honra é toda de vocês! 
 
Ao Ludgero por um dia ter cruzado meu caminho: Cara, você é de grande valia para mim. 
Obrigado por existir. 
 
Ao Ricardo Tavares e família pelo companheirismo: Parte da minha vida foi marcada pela 
nossa amizade e com certeza o resto dela também. Agradeço a você por ainda andar ao meu 
lado. 
 
Ao Gustavo Lima: Realmente adquiri um ótimo estabelecimento... mas é porque você e seus 
pais estão lá. 
 
Ao Flávio Gomes (in memoriam): Nunca te esquecerei. 
 
Ao Ailton: Esta monografia existe porque você me ajudou... tanto pelo empréstimo de seu 
Notebook quanto por suas dúvidas. Obrigado. 
 
Ao Fernando e Carla: Vocês são especiais em minha vida. 
 
A todos os meus amigos que, por falta de espaço nesta folha ou por falha na minha memória 
RAM não foram citados. Contudo, todos estão em meu coração. Obrigado! 
 
A todos que se preocupam com a paz e com a justiça; que buscam com humildade e 
sinceridade a Verdade; aos que cheiram vida: Obrigado. Esta pesquisa é de vocês. 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Não sois vós para mim, ó filhos de Israel, como os filhos dos etíopes? Diz o SENHOR. Não 
fiz eu subir a Israel da terra do Egito, e de Caftor, os filisteus, e de Quir, os siros?” 
(Amós 9:7) 
6 
 
RESUMO 
 
O tema maior em que esta pesquisa se encaixa é o da relação entre o termo “religião” e 
cristianismo. Especificamente, o objetivo é refletir sobre o termo “religião”, com seus 
conceitos adquiridos através dos tempos juntamente com suas adaptações feitas pelas demais 
religiões e mais especificamente pelo cristianismo. Nesta pesquisa busca-se traçar brevemente 
a história do termo “religião” juntamente com cristianismo, sua história e seu 
desenvolvimento e resultados obtidos nessa interação. Percebeu-se que nessa interação o 
conceito de religião passou de qualitativo para algo substantivado, fazendo com que a idéia de 
religião se tornasse algo diferente de tempos atrás. Refletiu-se sobre o cristianismo e sua 
soteriologia mostrando possíveis problemas na teorização da mesma que se deu, em partes, 
pela leitura reducionista de se ver como uma religião superior. Ao final da pesquisa conclui-se 
que a religião cristã participa veemente da salvação, contudo sua dogmatização do tema é algo 
ainda reduzido, pois não chega a uma conclusão plausível. Logo o cristianismo é uma religião 
de experiência e resultante das experimentações da fé em Cristo Jesus, que é seu marco 
principal e crivo para análise de todas as coisas. 
 
 
Palavras-chave: Religião, cristianismo, religião cristã, salvação, ser humano, soteriologia, 
desenvolvimento histórico, história. 
7 
 
SUMÁRIO 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO................................................................................................ 
 
2 RELIGIO E SUA TRANSFORMAÇÃO HISTÓRICA................................... 
 
 2.1 O termo “religio” e suas adaptações históricas.................................................. 
 2.2 O cristianismo como religião ............................................................................ 
 2.3 Dimensão salvadora do termo “religião”........................................................... 
 2.4 Síntese................................................................................................................ 
 
3 A RELIGIÃO CRISTÃ E SUA DIMENSÃO SOTERIOLÓGICA 
ATRAVÉS DA HISTÓRIA......................................................................................... 
 
 3.1 O cristianismo em surgimento .......................................................................... 
 3.2 O cristianismo Antigo........................................................................................ 
 3.2.1 Percepções soteriológicas no cristianismo antigo.................................. 
 3.3 O cristianismo da Idade Média.......................................................................... 
 3.3.1 O Escolasticismo: Sua importância para a eclesiologia da época.......... 
 3.3.2 Os pré-reformadores............................................................................... 
 3.3.3 Percepções soteriológicas no cristianismo medieval.............................. 
 3.4 O cristianismo moderno..................................................................................... 
 3.4.1 A Reforma.............................................................................................. 
 3.4.2 Sobre a Igreja Católica Romana............................................................. 
 3.4.3 Da Reforma para as igrejas protestantes: Características e doutrina..... 
 3.4.4 Percepções soteriológicas no cristianismo moderno.............................. 
 3.5 Síntese................................................................................................................ 
 
4 SALVAÇÃO E RELIGIÃO: CONTRIBUIÇÕES PARA O DIÁLOGO 
INTER-RELIGIOSO.................................................................................................... 
 
 4.1 A religião como progresso histórico.................................................................. 
 4.2 A salvação como dimensão divina e humana.................................................... 
 4.3 O elemento principal para a salvação no cristianismo....................................... 
 4.4 A religião cristã: codificação sobre o sagrado................................................... 
 4.5 Síntese................................................................................................................5 CONCLUSÃO.................................................................................................. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................
08 
 
10 
 
10 
12 
16 
18 
 
 
20 
 
20 
23 
25 
26 
27 
30 
31 
32 
33 
34 
37 
40 
41 
 
 
42 
 
42 
44 
46 
47 
49 
 
50 
 
51
 
8 
 
1- INTRODUÇÃO 
 
 O objetivo desta pesquisa é mostrar como que o termo “religião” se transformou 
através da história e como que nessa transformação o cristianismo, após usar o mesmo, 
participou destas transformações, especialmente na sua compreensão soteriológica. 
 Por ser um tema amplo, o específico desta pesquisa é de identificar quais mudanças 
significativas ocorreram no cristianismo ao se ver como religião e, diante disso, perceber as 
implicações benéficas e maléficas que pode ocasionar ao mesmo e como a compreensão sobre 
o que seja salvação fica condicionada. Portanto a pesquisa apropriou-se de alguns objetivos 
específicos: 1) Apresentar o termo “religião” e suas modificações na história e no ato de sua 
apropriação pelo cristianismo; 2) identificar, no decorrer da história do cristianismo, como sua 
compreensão enquanto religião sobre salvação se transformou juntamente com o termo 
“religião”; 3) apresentar o cristianismo como possibilidade política1 no que tange à sua 
compreensão soteriológica. 
 A metodologia empregada é de pesquisas bibliográficas. Apesar de se pesquisar 
especificamente a religião cristã o trabalho optou por não desprezar as demais religiões muito 
menos inferiorizar o cristianismo diante das mesmas. Neste trabalho o termo cristianismo diz 
respeito a toda comunidade que se identifica com Cristo, já que este é o marco inicial da 
religião cristã. 
 O presente trabalho está estruturado em três capítulos, além da introdução e da 
conclusão. No primeiro capítulo o objetivo foi de apresentar como o termo “religião” aparece 
no surgimento do cristianismo e, após ser abordado por este, tal capítulo busca apresentar as 
mudanças sutis, contudo significativas que ocorreram após esta apropriação. Julga-se como 
importante tal averiguação já que o termo “religião” sofreu modificações por influências 
externas. Tais modificações fizeram com que o cristianismo se portasse diferentemente 
durante sua história. 
 Portanto no segundo capítulo julgou-se relevante apresentar como que se deu a história 
do desenvolvimento cristão durante sua caminhada de fé, dando ênfase à sua soteriologia 
desenvolvida no decorrer da história. Isso é de grande valia para perceber que em cada 
momento histórico o cristianismo afirmava ter a revelação final sobre o que seja salvação e 
como ela se dá. Entretanto sempre novas elaborações surgiam. Lendo o cristianismo com os 
“óculos” do termo “religião” que foram apresentados no primeiro capítulo fica mais fácil 
 
1
 Entende-se por política como sendo uma habilidade no trato das relações humanas, com vista à obtenção dos 
resultados desejados. Para maiores esclarecimentos ver dicionário Aurélio, verbete “política”. 
9 
 
perceber que o cristianismo mais participa da salvação do que consegue elaborar teoricamente 
sobre ela. 
 Logo, o quarto capítulo trabalha a possibilidade de o cristianismo ser uma leitura 
válida da salvação pelo fato de este experimentar, durante sua trajetória, a própria salvação. 
Contudo o mesmo se detém em mostrar que o cristianismo não deve se pautar exclusivamente 
em seus dogmas, que são resultados desta experiência, mas se pautar naquele do qual vem o 
resultado, a saber, Jesus Cristo de Nazaré. O cristianismo é apresentado como resultado da 
dimensão divina e humana da salvação, onde o mesmo é apresentado como progressivo e não 
estático. 
 Interessa a esta pesquisa destacar que não se deve negar a importância das demais 
religiões já que as mesmas fazem, com o mesmo intuito, a síntese entre revelação e realidade, 
apesar de pressupostos diferentes entre si. Sendo assim o cristianismo é posto em pé de 
igualdade podendo ser considerado superior apenas por questão de fé e não existencialmente 
falando. Isso é crucial para contribuir para o diálogo inter-religioso. Nenhuma religião é 
desprezada, contudo nenhuma religião é afirmada como sendo melhor que outra. 
 A pesquisa apenas se detém em analisar o cristianismo e sua relação com o termo 
“religião”. Deste tempos remotos a humanidade buscou alguma forma de salvação através da 
religião. O cristianismo participa desta história com o mesmo objetivo, contudo singular como 
as demais religiões. O cristianismo possui diversas faces. Em cada face uma nova leitura 
religiosa que não se iguala às demais e nem às anteriores, mas se identificam por certos 
elementos que são inatos na sua composição. 
10 
 
2- RELIGIO E SUA TRANSFORMAÇÃO HISTÓRICA 
 
 O termo “religio” ou “religião” nem sempre possuiu o significado que hoje possui. 
Será mostrado neste capítulo, como que se deu o surgimento e a posterior apropriação do 
termo pelo cristianismo juntamente com suas elaborações mais sofisticadas para o mesmo. 
Desde já é possível considerar que o termo, através da história, obteve grandes modificações e 
estas interferiram grandemente na compreensão do mesmo, nunca mais proporcionando a 
volta à conceituação que se tinha de início. Tais mudanças foram um processo histórico que 
será mostrado a seguir. 
 
2.1- O termo “religio” e suas adaptações históricas 
 
 Segundo Smith é equivocado aceitar o termo “religião” como sendo algo que 
simplesmente explica a existência de certa instituição religiosa, ou que distingue uma 
instituição das demais.2 O termo “religião” é de origem latina e passou por modificações após 
sofrer uma transformação da palavra grega avle,gw, podendo ser datado até mesmo antes de 
Cristo.3 
 Lucrécio, filósofo do século I a.C., buscava promover sua própria visão de mundo, e, 
ao longo de seu poema de mais de seis mil versos, a palavra “religio”4 nasce denotando a 
idéia de um ser celestial; um Ente Supremo. Contudo Cícero, nascido em 188 a.C., 
contemporâneo de Lucrécio, relaciona religião com os deuses gregos, dando à palavra 
“religio” novo sentido, todavia se preocupando com uma posição de atitude.5 
 McGrath salienta que a definição do termo ainda está sendo discutida, entretanto “a 
palavra ‘religião’ [...] se refere a ‘crenças e prática que possuem uma referência 
sobrenatural’6”. Mas, Antony Giddens não aceita tal definição alegando que a idéia de 
“religiões” é algo criado pela mente humana, bem como pode ser um fenômeno social.7 Smith 
diz que “Religião [...] significa sujeição voluntária do ser humano a Deus”.8 A dificuldade na 
definição se dá pela mutabilidade do termo através da história.9 
 
2
 Cf. SMITH, 2006, p.7-13. 
3
 Dando sentido de: “prestar atenção”; “cuidar de”. Cf. SMITH, 2006, p.187. 
4
 Apesar de escrita em latim em seus textos, não deixa de apresentar suas características helênicas. É empregada 
oito vezes no singular e seis no plural. Cf. SMITH, 2006, p. 32-33. 
5
 Cf. SMITH, op.cit., p.32-34. 
6
 Cf. McGRATH, 2005, p.603. 
7
 Ibidem, p.603. 
8
 Cf. SMITH, op.cit., p.108. 
9
 Cf. McGRATH, op.cit., p.304-606. 
11 
 
 No séc. I d.C. o termo “religio” sofre novas modificações. Nas palavras de Smith: “o 
termo ‘religio’, após ter sido adotado pelos cristãos, tornou-se mais multifacetado do que 
nunca e adquiriu profundidades bem novas. Mas ele não ganhou nada em clareza”.10 O termo 
passou a ser usado em ritos e observâncias. Logo “um desenvolvimento inovador a partir 
disso talvez seja o emprego de ‘religio’ para designar também a organização estrutural da 
igreja, com seus diferentes níveis eclesiásticos”. O termo,que antes era usado para tratar 
questões acerca de envolvimento com o outro ou com algo, que também se inclinava a 
explicações sobre a realidade, agora já tem um significado mais amplo. Seu intuito agora é 
trazer definição (conceito) e distinção (contraste) deixando para segunda instância a 
preocupação com o envolvimento com “o outro”. O ápice da ampliação do sentido do termo 
se dá no séc. IV. O termo “religio” passa a designar a organização estrutural da igreja com 
seus diferentes níveis eclesiásticos.11 
 Ainda segundo Smith “pela primeira vez nessa área, aparece a noção extremamente 
significativa de que, se é certo adorar a Deus de uma forma, então é errado fazê-lo segundo o 
modelo alternativo do vizinho”.12 O termo “religio”, que antes era algo singular que se referia 
à externalização dos sentimentos de coração de alguém, agora precisa ser usado no plural para 
distingui-lo de outras instituições. Religião passa a ser instituição.13 Nas palavras de Smith: 
 
Disso surgem dois desdobramentos. Um é o plural 'religiões', que é inviável 
enquanto pensarmos em algo que acontece no coração das pessoas, como 
piedade, obediência, reverência, adoração (nenhuma dessas palavras tem plural). 
O plural aparece - ele se torna padrão a partir de meados do século XVII e 
comum a partir do século XVIII - quando observamos de fora, abstraímos, 
despersonalizamos e reificamos os diferentes sistemas de outras pessoas nos 
quais não vemos sentido ou valor e cuja a validade nem sequer cogitamos em 
aceitar. Em segundo lugar, há um outro conceito, o de uma ‘religião’ genérica, 
para designar como uma entidade externa o sistema total, a soma de todos os 
sistemas de crenças ou, simplesmente, a generalização de que existem. Esse é um 
conceito formulado e usado primordialmente por pessoas que estão cansadas dos 
confrontos ou estão receosos com todo o empreendimento.14 
 
 
 “Religio”, que antes buscava tratar assuntos universais (comum), passa então a tratar 
de assuntos específicos e até mesmo diferenciados de grupos (individualidade). O termo é 
utilizado para comparação de religiões. Se a partir do séc. IV já se tem modificações do termo 
com relação aos grupos diferenciados pela sua cosmovisão, também dentro das religiões se 
 
10
 Cf. SMITH, 2006, p.35. 
11
 Ibidem, p.35. 
12
 Ibidem, p.36. 
13
 No sentido de organização de pensamentos. 
14
 Cf. SMITH, op.cit., p.50. 
12 
 
tem o termo “religio” “como um título, atribuído em especial a bispos ou outros clérigos”,15 
como no cristianismo. O termo obteve tantas transformações que se chega a afirmar que “não 
há evidências no Novo Testamento de que os cristãos primitivos estivessem conscientes de 
estar envolvidos em uma nova religião”.16 
 O termo é trabalhado pelos Pais da Igreja em perspectiva platônica. Nesse contexto o 
envolvimento ser humano-Deus, é apresentado nos termos de uma relação mística. Tal época 
é considerada a mais “religiosa” da história do cristianismo, contudo, sobre o termo “religião” 
não se deu tanta ênfase etimológica.17 
 
2.2- O cristianismo como religião 
 
 Para se entender o efeito das transformações na confluência dos termos “religio” e 
“cristianismo”, que é posterior àquele, deve-se antes ter em mente a origem do cristianismo. 
Sua origem tem base na fé de um povo em Jesus de Nazaré, do qual veio uma nova 
interpretação das Leis de Moisés. Mestre da Lei, Jesus passa a ser visto como Profeta, Senhor, 
Messias, Filho do Homem e Filho de Deus. Tais títulos são conferidos a ele após serem 
presenciados pelo povo milagres vindos de suas ações18 e de sua morte seguida da 
ressurreição.19 Posteriormente, elaborações sobre Jesus como “Deus” surgem juntamente com 
diversas outras interpretações teológicas sobre sua pessoa. Portanto, é em Jesus, também 
chamado “Cristo”, que as bases do Cristianismo são encontradas.20 
 Antes de ser considerado como “religião”, o cristianismo era apenas uma reunião de 
pessoas que confessavam, de diversas formas, sua fé no Cristo chamado Jesus.21 De acordo 
com Hans Küng: 
 
Será que alguém ainda se recorda da origem suspeita da palavra ‘cristão’? 
Originou-se em Antioquia consoante o testemunho dos Atos dos Apóstolos. Ao 
começar a circular na história universal, ‘cristão’ era o termo ofensivo mais do 
que honroso epíteto.22 
 
 
15
 Cf. SOUTER apud SMITH, 2006, p.36. 
16
 Cf. SMITH, 2006, p.64. 
17
 Ibidem, p.34-41. 
18
 Cf. VERMES, 1995, p.9-17. 
19
 Cf. Mt 27.1 – 28.20; Mc 15.1 – 16.20; Lc 23.1 – 24.53; Jo 18.1 – 21.25. 
20
 Cf. KÜNG, 1976, p.104-105. 
21
 Ibidem, p. 99-102. 
22
 Ibidem, p.99. Ver também SMITH, 2006, p.75. 
13 
 
 Küng destaca que ser cristão não está no fato de pertencer ao cristianismo, mas de 
professar a sua fé no Cristo Jesus, e este de Nazaré.23 Nos primeiros séculos o que definia um 
cristão era a sua fé no Cristo. O termo “cristão” é que significou o cristianismo e não o vice-
versa.24 Posteriormente e de forma sutil, o que definia quem era cristão ou não era o fato de 
pertencer ou não ao cristianismo. O que antes era “religião cristã” passa a ser “cristianismo” 
não se referindo mais à qualidade, todavia à instituição; denominação.25 
 Smith, após averiguar mais de seiscentos títulos de livros impressos em que aparecem 
os termos “fé cristã”, “religião cristã” e “cristianismo” constatou que o mesmo acontece com 
os termos “religião cristã”, que possui sentido mais pessoal, e “a religião cristã”, com o artigo 
definido, que passa a ter conceito impessoal e institucionalizado. Com isso, “conceitos, 
terminologia e atenção passam de uma orientação pessoal para um ideal, então para uma 
abstração e, finalmente, para uma instituição”.26 A mudança é sutil, porém de grande efeito. 
 Segundo McGrath a adaptação do termo “religião” no cristianismo, ao seu modo de 
ver o mundo, tornou-se viável até mesmo para as elaborações de fé. Ficou mais fácil a 
sistematização das idéias quando o cristianismo deixou de ser apenas um movimento.27 
Porém, o cristianismo, no decorrer de sua história passou a não observar mais o que antes era 
seu ponto de valor: a liberdade do ser humano em Cristo. 
 A lei Judaica poderia ser utilizada como mecanismo de desumanização. E o 
cristianismo era a testemunha de tal fato, até que este mesmo tornou-se escravizador do ser 
humano, impondo leis e dogmas que já não mais tratavam do ser humano em relação a Deus e 
sim do ser humano em relação ao cristianismo, agora portador exclusivo da salvação vinda de 
Deus. Smith esboça algo sobre isto: 
 
Em todo este estudo, pressupomos que é possível entender palavras empregadas 
em determinadas situações históricas como expressivas de idéias nas mentes das 
pessoas e que essas idéias eventualmente não são caracterizações finais do 
universo em que vivemos. Dito em termos teológicos, levamos a sério a 
possibilidade de que palavras utilizadas por pessoas não expressem 
necessariamente conceitos na mente de Deus. O apelo por uma reavaliação 
crítica de conceitos pressupõe que podemos ser as vítimas e podemos nos tornar 
os senhores do raciocínio humano. [...] Esses termos representam conceitos na 
mente de Deus, possuindo validade e permanência últimas. [...] Os conceitos 
humanos mudam, e os dessas pessoas estavam mudando, em parte sob o impacto 
de idéias novas, em parte sob o impacto de experiências novas, de coisas novas 
que elas viam.28 
 
23
 Cf. KÜNG, 1979, p.20-21. 
24
 Cf. SMITH, 2006, p.75. 
25
 Ibidem, p.77. 
26
 Ibidem, p.78. 
27
 Cf. McGRATH, 2005, p.41-44. 
28
 Cf. SMITH, op.cit., p.100-101. 
14 
 
 
 
 No Iluminismo a reorganização dos pensamentos de cunho mais racional se tornoucrucial. Dentre esses estudos o estudo filológico tornou um vasto campo para pesquisa. 
Durante e depois do Iluminismo a crítica filológica buscou mostrar como os termos mudaram 
de seu sentido chamado “original” e como essa mudança poderia modificar também aquele 
quem iniciou a mudança. Destaca-se, neste aspecto o trabalho de Nietzsche. Dotado de 
espírito crítico contra o cristianismo, ele escreveu a obra O Anticristo, onde através da 
filologia e filosofia, ele busca mostrar as mudanças nos termos usado pelo cristianismo, dentre 
estes, o próprio termo “cristianismo”.29 
 O estudo filológico serviu para mostrar que muitas mudanças ocorreram dentro do 
cristianismo e na sua forma de pensar “religião”. O que antes era de valor no pensamento 
cristão agora já não mais necessita ser. Infere-se que cristianismo, em seu início de história, 
valorizava a história de Jesus,30 passando então para o conceito sobre Jesus,31 indo então para 
a melhor categorização sobre o que falaram de Jesus Cristo,32 não esquecendo sobre quem faz 
ou não parte da Igreja de Cristo,33 chegando à época atual valorizando ou um conjunto de 
regras ou preceitos sobre Jesus Cristo e a Igreja,34 ou um conjunto de textos e valores 
tradicionais adquiridos através da história.35 
 Sobre isso Smith diz que com o passar dos tempos a fé dos cristãos em Deus 
especificamente não tinha a mesma importância como a fé que os cristãos tinham no 
cristianismo. Portanto, quando estes cristãos já não mais encontravam plausibilidade nas suas 
relações pessoais com Cristo, eles passaram a se dedicar à religião, e esta no sentido 
institucional. Em tempos hodiernos cristãos dizem crer no cristianismo ao invés de dizer que 
crêem em Deus e em Cristo; preferem proclamar as doutrinas cristãs em vez de salvação, boa-
nova e redenção encontradas no Evangelho cristão; por fim, praticar o cristianismo em vez do 
amor. Além do mais, cristãos contemporâneos já têm em suas mentes que é no cristianismo 
que se encontra salvação, no lugar que antes era ocupado pela agonia e amor de Deus. 36 
Smith conclui: “Um cristão que leva Deus a sério deve reconhecer certamente que Deus não 
 
29
 Cf. NIETZSCHE. In: Os Pensadores. 1999, p.393-396. 
30
 Cf. At 4.8-12. 
31
 Diz-se sobre os credos Apostólico, Niceno e Calcedônio. Cf. GRUDEM, 1999, p.996. 
32
 Fala-se do período escolástico onde grandes teólogos católicos buscavam, filosoficamente, raciocinar sobre a 
pessoa de Jesus bem como seus feitos. Cf. McGRATH, 2005, p.79-84. 
33
 Sobre a definição de “Igreja”. Cf. GRUDEM, 1999, p.1021. 
34
 Arremetendo o pensamento aos conceitos católicos. Cf. CNBB, 2007, p.38-69. 
35
 Referindo-se à confissão de fé protestante e sua alegação de que somente as Escrituras possuem total 
autoridade. 
36
 Cf. SMITH, 2006, p.119. 
15 
 
se importa em absoluto com o cristianismo. Deus se preocupa com pessoas, não com as 
coisas”.37 
 O cristianismo possui uma noção especifica de salvação. Inicialmente a igreja não se 
preocupava com as demais “religiões” porque ainda não tinha nascido a idéia de “religião 
enquanto instituição”. Ela se voltava à imitação de Jesus e à preocupação com a busca pelo 
outro. Ao se mudar a compreensão do termo religião ficou claro que já não é mais o ser 
humano, em sua iniciativa, que se liga em Deus, todavia a instituição religiosa que faz este 
trabalho na forma que se compreende hoje. 
 Outro fator que deve ser analisado é que quando se muda o significado de um termo 
como foi o de “religio”, demais termos ligados a este também têm seus significados mudados, 
como é o caso do termo “fé”. Nos primórdios da fé cristã, este termo não dependia de uma 
ligação com uma instituição, o que conseqüentemente não obrigava esta “fé” a se ligar a um 
conjunto de regras para defini-la. Com a valorização da instituição pelo seu adepto é que este 
termo não mais se viu livre de regras que agora passam a defini-lo como certo ou errado.38 
 Portanto, esta “fé” cristã passou a ser, com o passar dos tempos, uma forma de 
expressar uma religião ou até mesmo ser uma religião. Sendo assim, dever-se-ia considerar 
toda a fé presente no mundo hoje como religiões. 
 Segundo Smith apenas Mani estava consciente de estar fundando uma religião. Outras 
religiões, como no caso dos muçulmanos, acreditam que o próprio Deus a fundou. E não só 
esta, mas muitas outras também acreditam estar por uma fundação divina.39 Essa crença de 
que Deus fundou pessoalmente uma religião exclui qualquer tentativa de mudança da mesma 
pelas mãos humanas. O fato de religiões se comportarem dessa maneira não permite o ser 
humano realizar melhorias na mesma que, segundo Smith, pode estar causando males aos seus 
adeptos pelo fato de esta não observar as mudanças necessárias na religião, ou por não 
observar as mudanças obtidas em sua caminhada que impedem ou deturpam novas 
interpretações de fé.40 
 A mudança deve partir da própria religião quando esta percebe que o mesmo que a 
moveu na busca de uma esperança moveu também os demais.41 Küng destaca que: 
 
Cada religião em concreto é uma mistura de fé, superstição e descrença. Mas 
poderá um cristão deixar de ver com que empenho e concentração os homens das 
 
37
 Cf. SMITH, 2006, p.120. 
38
 Ibidem, p.164-165. 
39
 Ibidem, p.102. 
40
 Ibidem, p.100. 
41
 Cf. KÜNG, 1976, p.75. 
16 
 
religiões universais se puseram incansáveis em busca da verdade e também a 
encontraram?42 
 
 
 Segundo Smith a mudança na compreensão de que apenas a fé de alguém ou de algo é 
certa deve começar a ser mudado dentro de seu próprio meio de convívio. Se alguém coloca a 
sua palavra como sendo a de Deus e esta se corrompe através da história ficará evidente que 
não só aquele que criou tal dogma ou regra virou vítima de si mesmo como também trouxe 
consigo diversas outras vítimas.43 Portanto, se alguém preza pela vida do próximo, e aqui 
entra o cristianismo, esse deve compreender que “o fim da ‘religião’, no sentido clássico de 
seu propósito e objetivo, aquilo para o qual aponta e para o qual pode conduzir, é Deus”.44 O 
cristianismo não deve deter a palavra de Deus, porém levar seus adeptos à mesma. 
 
2.3- Dimensão salvadora do termo “religião” 
 
 Segundo Drewermann religião está muito ligada à salvação. Isso se dá pelo fato de 
esta não se perguntar sobre o mundo, mas de tentar localizar para o ser humano lugares de 
abrigo, amor, esperança ante a realidade da morte.45 Ele acrescenta que religião nasce após o 
ser vivo “sentir a morte como um problema individual”46 e quando este se vê em relação com 
a natureza.47 Durante anos, em todo o período moderno e início do contemporâneo, percebeu-
se o quanto a filosofia questionou a religião sobre uma definição sobre Deus, o ser humano, 
suas relações, que implicaram várias vezes em conclusões negativas sobre religião e 
divindade.48 Contudo a religião não foi abolida, tendo adeptos nas mais diversas instituições. 
 A religião, desde seus primórdios, teve na sua intenção, livrar o ser humano do medo e 
da insegurança que a própria vida lhe oferece.49 É diante dessa ameaça que o ser humano, na 
sua vontade de alcançar algo melhor para sua vida, devotando sua confiança em algo ou 
alguém que o livre de tal mal. Mas ainda que o ser humano tenha essa vontade e ainda que 
faça parte de uma religião, esta não tem o poder de ser sempre boa para si. A religião, quando 
elaborada a partir de pensamentos errôneos sobre a realidade e o mundo que cerca esse 
indivíduo juntamente com ações inapropriadas para com a natureza, passa a ser ineficiente e 
 
42
 Cf. KÜNG, 1976, p.74. 
43
 Cf. SMITH, 2006, p.100. 
44
 Ibidem, p.183. 
45
 Cf. DREWERMANN, 2004, p.28.46
 Ibidem, p.28. 
47
 Ibidem, p.73. 
48
 Cf. SAYÃO, 2001, p.36-39. 
49
 Cf. DREWERMANN, op.cit., p.77-78. 
17 
 
até mesmo maléfica em seus propósitos.50 Portanto a religião não só liga o ser humano a Deus 
como também ao seu meio de convívio, fortalecendo a passagem bíblica que diz: “ame o 
Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e 
de todas as suas forças. [...] Ame o seu próximo como a si mesmo”.51 A religião deve passar 
por uma releitura de si mesma. Essa é a crítica de Drewermann que diz: 
 
Tanto mais, porém volta-se para nós a questão se nós seres humanos queremos 
permanecer do jeito que vemos por toda a parte, se podemos existir concordando 
com a perspectiva de que também para nós seres humanos não deve haver um 
mundo diferente. [...] Precisamos de uma alternativa para a biologia pura e 
simples, para nos definir como seres humanos. Aí é que começa a religião, e aí 
estaria o sentido da fé criacional dos cristãos.52 
 
 
 Porém Drewermann prefere dar ênfase a apenas uma característica da religião, que é 
da interioridade da mesma no indivíduo, que o leva a perceber a realidade e então agir na 
mesma de forma coerente. Não é de interesse aqui criticar tal visão, apenas de perceber sua 
colocação como algo que mostra a responsabilidade do ser humano na religião. Para ele, Deus 
coloca no ser humano essa responsabilidade para que o mesmo seja livre em suas ações, 
todavia não fugindo de suas responsabilidades que coadunam com as de Deus. Logo, percebe-
se que não só o ser humano tem sua ação na religião, mas Deus também contribui com sua 
parcela na dimensão religiosa.53 
 É da natureza da religião elaborar teses para o melhor entendimento possível da 
realidade que cerca o ser humano. Com isso a religião passa a ter seu papel importante 
enquanto instituição para o ser humano e para sua relação com o próximo, com seu meio, 
consigo mesmo e com Deus. A instituição religiosa é relevante, não importando aqui sua 
confissão de fé. Isto é perceptível tanto na leitura de Smith quanto na de Drewermann, que 
tentaram deixar claro em suas pesquisas sobre diversas religiões e com mais afinco o 
cristianismo. A religião, por ser uma elaboração histórica, tem por característica a opção de 
escolhas durante sua caminhada de fé. Isso vale tanto para as escolhas do indivíduo quanto 
para as escolhas da instituição. 
 A tradição cumulativa que Smith trabalha mostra a importância das elaborações 
teológicas nas religiões. O ser humano, quando inserido na realidade de sua religião, promove 
 
50
 Cf. DREWERMANN, 2004, p.10-12, 41. 
51
 Cf. Mc 12.30-31a. 
52
 Cf. DREWERMANN, op.cit., p.92. 
53
 Ibidem, p.79. 
18 
 
em si uma re-elaboração de sua identidade. O adepto da religião, seja qual for, passa a se ver 
como uma nova pessoa, sendo definida e, ao mesmo tempo, definindo a religião.54 
 No cristianismo não é diferente. Sua forma de ação em determinado período histórico 
provoca e sofre mudanças nas características, tanto do participante, quanto da instituição, a 
qual é constituída de participantes.55 Küng mostra claramente como foi a mudança de 
paradigmas na teologia cristã no auge da 2ª guerra mundial, que era anti-semita e, após 
realizada as barbaridades com o povo judeu, a teologia anti-semita é deixada de lado para ser 
adotada uma teologia mais inclusiva.56 Este período foi crucial para as mudanças nas 
teologias em prática hoje. Isso ajudou na evolução da interpretação bíblica, onde passa a ser 
aceito a Bíblia como um compêndio de textos que contam uma história sobre um povo e que 
possui uma “revelação progressiva” sobre Deus e sobre suas ações.57 
 Para se pensar então em uma correta compreensão do desenvolvimento histórico do 
cristianismo, e não só deste como das demais religiões, seria de grande relevância uma 
observação no desenvolvimento histórico no qual o cristianismo foi submetido. Essa 
observação ajudará nas abordagens sobre como entender a religião e seu processo 
soteriológico. 
 
2.4- Síntese 
 
 Foi abordada neste capítulo a transformação histórica que o termo “religião” sofreu 
através da história. O termo, que antes era usado para falar de envolvimento qualitativo com o 
“outro” passa a ser usado para designar certa organização estrutural religiosa. O termo passa 
então a ter caráter mais substantivado e menos subjetivo. “Religião” passa a designar cargos 
eclesiásticos denotando certo grau de importância na organização religiosa. 
 Nessa nova abordagem do termo “religião” o cristianismo passa a se desenvolver 
adotando-o como termo discriminador das demais religiões. Com isso a religião cristã toma 
novo enfoque para seu desenvolvimento deixando de lado o termo “Cristo” adotando a 
expressão “religião cristão” chegando, por fim, no termo “cristianismo”. 
 No Iluminismo nasce a crítica ao cristianismo alegando que o mesmo se distanciou de 
seu propósito anunciando mais o cristianismo que Cristo. O termo “religião”, no que tange à 
salvação, passa a ensinar uma salvação institucionalizada no cristianismo e que o mesmo, por 
 
54
 Cf. SMITH, 2006, p.145-149. 
55
 Cf. KÜNG, 1976, p.142-143. 
56
 Ibidem, p.143-145. 
57
 Cf. COOK apud PIERATT, 1994, p.115-124. 
19 
 
sofrer transformações na abordagem durante a história, mostra-se aberto às ações do ser 
humano e a transformações pelo mesmo. A abordagem do termo ”religião” mostra-se flexível 
às ações humanas, tendo então caráter humano e divino. 
 
20 
 
3- A RELIGIÃO CRISTÃ E SUA DIMENSÃO SOTERIOLÓGICA ATRAVÉS DA 
HISTÓRIA 
 
 O presente capítulo busca apresentar o desenvolvimento do cristianismo enquanto 
religião institucionalizada bem como suas percepções soteriológicas em progresso juntamente 
com sua história. Apresentar-se-á aqui como o termo religião foi transformado sutilmente 
dentro do cristianismo e como que tal mudança mudou consideravelmente a compreensão 
soteriológica do cristianismo. 
 Para isso contar-se-á com a abordagem da história do cristianismo feita por Tillich 
uma vez que o mesmo busca expor o desenvolvimento do pensamento cristão acerca de Jesus 
Cristo e sua obra. Sendo assim, com essa abordagem de Tillich fica mais fácil trabalhar a 
relação entre pensamento cristão com desenvolvimento soteriológico da religião cristã sem se 
esquecer do desenvolvimento à parte do termo “religião”. 
 Apesar de este capítulo buscar toda atenção no desenvolvimento cristão foi optado em 
usar os estudos de Gaarder mesmo sabendo que sua obra não abarca somente o cristianismo. 
Tal opção se deu porque ele consegue distinguir de forma relevante as diferenças entre as 
religiões e entre o próprio cristianismo nas suas subdivisões. 
 Caminhar-se-á apresentando, por etapas históricas, o desenvolvimento cristão 
juntamente com sua percepção soteriológica, mostrando assim sua complexidade crescente a 
cada instante histórico. 
 
3.1- O cristianismo em surgimento 
 
 O cristianismo surgiu como uma religião a parte do judaísmo. Seguindo a releitura da 
Lei que Jesus fez juntamente com uma nova ética pregada no sermão do monte,58 seus 
seguidores fizeram com que o cristianismo tomasse um rumo totalmente particular, adotando 
seus ritos, dogmas e metodologias nas elaborações das teologias. Logo, para que o 
cristianismo surgisse como uma nova realidade este precisou de ferramentas para seu labor 
teológico. 
 Em seu surgimento o cristianismo se utilizou de palavras como “kairos” para trazer 
uma nova compreensão sobre o que seja o tempo dos homens (chronos) e o tempo de Deus. 
Tais palavras são elaborações helênicas que foram apropriadas por Paulo e seus seguidores 
 
58
 Cf.KÜNG, 1976, p.140-146. 
21 
 
para dialogar com o espírito da época. Tal termo ajudou a igreja a se expressar juntamente 
com sua revelação em Jesus Cristo, que segundo o pensamento cristão que já estava em vigor 
na época, o advento “Cristo” era o kairós de Deus.59 
 Nos anos iniciais da era cristã o Império Romano era o império dominante. Este não se 
interessava em religiões especificamente, apenas com a humanidade num todo. O Império 
Romano detinha o conhecimento filosófico grego, o qual estava no auge nesta época, fazendo 
com que, futuramente a igreja, após ser aceita como religião do Estado, adotasse esse método 
de leitura da realidade. A filosofia helênica contava com estóicos, dos quais vinham a 
preocupação com a moral e a ataraxia como o ideal do sábio, epicureus, que acreditavam que 
o prazer era o bem soberano, neo-pitagóricos, mais voltados à matemática e à geometria 
juntamente com as demais ciências de correspondentes numéricos, céticos, dos quais vinha a 
crença de que o homem não pode chegar a qualquer conhecimento indubitável, e neo-
platônicos, influenciados por Platão e pela sua teoria das idéias, dos quais visava toda a 
meditação filosófica ao conhecimento do Bem, Bem este que era considerado suficiente para 
a implantação da justiça e do Estado.60 A fonte do pensamento cristão se encontra aqui. Como 
diz Tillich: “O cristianismo primitivo não foi influenciado tanto pela filosofia clássica, mas 
pelo pensamento helênico”.61 
 O ceticismo também contribuiu bastante para o desenvolvimento cristão. Isso se dá 
pelo fato do ceticismo não ser, nesta época, escolas totalmente voltadas à filosofia. Possuíam 
rituais cúlticos por acreditarem que a sapiência vinha dos deuses. O ceticismo considerava 
seus líderes como “grandes mestres” ou até mesmo como salvadores. Tal compreensão fez 
com que os seguidores de Jesus creditassem a este as mesmas idéias creditadas aos líderes 
céticos da época, mesmo sabendo que Jesus não era um cético.62 
 Ainda segundo Tillich as tradições platônicas juntamente com o estoicismo também 
tiveram papéis importantes. Idéias como da transcendência, do mundo material e do essencial 
e da providência influenciaram muito o cristianismo primitivo em suas elaborações de fé. 
Ainda na idéia de mundo material e essencial grande influência exerceu Aristóteles no 
cristianismo com sua idéia de que o divino é forma sem matéria, perfeito em si mesmo, 
atraindo tudo a si em amor. Tais sumas ajudaram o cristianismo em seu desenvolvimento.63 Já 
 
59
 Cf. TILLICH, 1967, p.17. 
60
 Ibidem, p.18-19. Ver também FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio século XXI: o dicionário 
da língua portuguesa. 3.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. 
61
 Ibidem, p.18. 
62
 Cf. TILLICH, op.cit., 19-21. 
63
 Ibidem, p.21-22. 
22 
 
o estoicismo contribuiu com sua idéia de que todos participam do Logos universal64, portanto 
todos são participantes em potência na razão. No quesito salvação, cristianismo e estoicismo 
se chocam até hoje porque o cristianismo adotou a idéia da salvação por meio da intervenção 
da graça divina enquanto os estóicos adotaram a salvação por meio da sabedoria.65 
 Devido o judaísmo ter feito a adoção da idéia sobre Deus como sendo um ser mais 
transcendental, mais influenciada pelo helenismo e pelo fato da figura do Messias passar a ser 
vista como um rei de um paraíso juntamente com o aumento dos nomes dados a Deus bem 
como a aceitação do “Espírito de Deus” como figura de elaboração teológica de interação 
entre o ser humano e o Deus transcendente a repercussão se dá fortemente no cristianismo em 
seu início. Tendo Deus como totalmente transcendente faz com que santos eleitos pelos fiéis 
da igreja passem a ser mediadores do povo bem como venerados, mas não adorados. A 
teologia inicial do meio cristão passa a ter seus pilares nessas modificações últimas do meio 
judaico.66 
 Apropriações de discurso feitas pelo judaísmo com relação às religiões vizinhas 
também serviram para moldar no cristianismo certas características como: participações 
místicas divididas em estágios para os iniciantes na religião; rigoroso processo de separação e 
preparo para a participação de celebrações de cerimônias evitando assim qualquer tipo de 
profanação do culto pré-estabelecido.67 
 Portanto em seu início o cristianismo passou por duas características metodológicas de 
elaboração de fé cristã: a recepção das teologias advindas de meios externos do judaísmo e a 
transformação das associações teológicas que culminaram nos textos do NT68. No que tange 
às transformações teológicas, na cristologia percebe-se a associação de termos como 
“Messias”, que em grego se traduz como Christos69, a Jesus pelos primeiros discípulos 
extrapolando em partes a interpretação comum do termo na época70. O termo “Filho do 
Homem” que pode ter sido usado pessoalmente por Jesus, diferente do termo Messias que foi 
evitado por ele buscando não ser visto como libertador de seu país71, contudo o conceito não 
era adequado para Jesus já que o “Filho do Homem” deveria vir em poder e grande glória. 
“Filho de Davi” também foi usado, porém extrapolado de seu sentido original por Jesus 
 
64
 Considerado por eles como o poder divino. Ver TILLICH, 1967, p.22. 
65
 Cf. TILLICH, 1967, p.22-23. 
66
 Ibidem, p.24-26. 
67
 Ibidem, p.27-28. 
68
 Lê-se “Novo Testamento”. 
69
 Cf. GAARDER, 2000, p.155. 
70
 Cf. TILLICH, op.cit., p.28. 
71
 Cf. GAARDER, op.cit., p.155. 
23 
 
quando ele “disse que o próprio Davi considerava o Messias seu Senhor”.72 Outros títulos 
como “Filho de Deus”, “Kyrios”, “mestre” e “Logos” também tiveram suas elaborações 
seguidas de aplicações, todavia com limitações e adaptações.73 Tillich está com a razão em 
dizer que a “grandeza do Novo Testamento consiste em ter sido capaz de usar palavras, 
conceitos e símbolos surgidos na história das religiões, preservando ao mesmo tempo a pessoa 
de Jesus interpretada por essas categorias”.74 
 
3.2- O cristianismo Antigo 
 
 O desenvolvimento teológico sempre foi não-estático no cristianismo. Isso pode ser 
visto no cristianismo antigo onde teologias elaboradas pelos primeiros discípulos passam a ser 
relidos pelos pais da igreja trazendo novos conceitos para o mesmo. 
 Devido à preocupação com o meio pagão, o cristianismo passa a elaborar sistemas de 
combate às chamadas heresias de povos não-cristãos, mais conhecidos nesta época como 
povos pagãos. Visando a vida das congregações os pais da igreja buscavam elaborar sistemas 
de fé que politizassem as mesmas idéias religiosas nas diversas comunidades cristãs que, nem 
sempre se encontravam próximas uma das outras. Essas elaborações se desenvolveram e 
resistiram até que recebessem o título de católico75 já que englobavam o pensamento de todos. 
Aqui começa a se perceber a troca dos antigos legados dos profetas por normas e observações 
escritas que são perceptíveis nas cartas chamadas pastorais do NT.76 
 O desenvolvimento inicial do cristianismo não contava com a definição de quais livros 
seriam aceitos no cânon do NT, o que foi decidido ao longo de duzentos anos. A cristologia 
também foi uma marca do cristianismo já que isso diferenciava o cristianismo do judaísmo. O 
cristianismo enquanto igreja, que vem do termo ekklesia, buscou se configurar ao termo já 
que para o judaísmo isso não foi possível porque o termo se referia aos chamados de todos os 
povos e não de um apenas. A organização da igreja era entregue ao bispo, que era eleito pela 
congregação por critérios definidos que, sendo representante do Espírito de Deus, passava a 
determinar o que era ser um cristão em detrimento às demais etnias. Apesar de não ter sido72
 Cf. TILLICH, 1967, p.28. 
73
 Cf. GAARDER, 2000, p.156-157. 
74
 Cf. TILLICH, op.cit., p.29. 
75
 Que significa universal. 
76
 Cf. TILLICH, op.cit., p.31-32. 
24 
 
uma aceitação simples e fácil a sucessão apostólica passou a ser aceita no final da idade antiga 
e início da idade média.77 
 Nesta época o desenvolvimento teológico cristão buscou uma melhor elaboração. 
Idéias criacionistas como a de Clemente e sua idéia do Demiurgo78 como sendo aquele que 
criou o mundo material, considerado mal, juntamente com todos os elementos que o compõe, 
que veio a influenciar não somente a confecção do credo apostólico e posterior o niceno, 
como também a idéia de um suposto plano de salvação de Deus, elaborado por Inácio. Ainda 
sobre os credos estes vieram para distinguir o cristianismo das demais religiões visando o 
não-sincretismo e prevenindo cisões internas entre as comunidades cristãs. Posteriormente os 
credos viriam acompanhados de dogmas (doutrinas) visando um ensino mais correto.79 
 No campo da soteriologia, Inácio busca desenvolvimento falando sobre a “economia 
para o novo homem” que professa um pensamento trinitário (Pai, Filho e Espírito Santo) 
colocando o judaísmo como uma “direção” ao cristianismo que, tendo Cristo como o novo 
homem, dissipa a corrupção do velho homem vencendo este, a morte e caminhando então 
para uma cristologia mais avançada. 
 Já a cristologia trabalha termos como “gnosis”, “sarx”, “soma”, “homoousios”, “zoe”, 
dentre outros mostrando que Cristo é athanatos gnósis (imortal) combatendo então o 
gnosticismo e o docetismo.80 Estas elaborações não tinham somente o interesse de se abstrair 
para conhecer, mas se achegar para vivê-las. Nas palavras de Tillich: 
 
Sem essa participação, a verdade não era possível e o conhecimento seria apenas 
abstrato e sem sentido. Era o que queriam dizer quando combinavam 
conhecimento e ser. A participação no novo ser era participação na verdade, no 
verdadeiro conhecimento.81 
 
 
 Nesta época surgem os apologistas que buscavam defender o cristianismo contra 
acusações feitas por uma autoridade ou por um mero acusador. Basicamente duas acusações 
contra o cristianismo foram as que mais se destacaram no meio apologético: (1) as crenças 
advindas de certos grupos que achavam que o cristianismo se demonstrava como uma ameaça 
contra o Império Romano e (2) as acusações de filósofos que diziam que o cristianismo não 
passava de superstição misturada a fragmentos filosóficos. Nesse meio apologético se 
 
77
 Cf. TILLICH, 1967, p.33. 
78
 Ibidem, p.34. 
79
 Cf. GAARDER, 2000, p.164. 
80
 Cf. TILLICH, op.cit., p.36. Ver também McGRATH, 2005, p.56-57. 
81
 Ibidem, p.36. 
25 
 
destacou grandes nomes e sumas cristãs, contudo tais ataques apenas serviram para o 
cristianismo como ajuda ao seu crescimento. Diz-se isso devido a três fatores: (1) O 
denominador comum: o cristianismo conseguiu explicar os ataques buscando sentido nos 
argumentos tanto para os pagãos, de onde vinha tais ataques, quanto para os cristãos. (2) Os 
apologistas aproveitaram a oportunidade para mostrar ao paganismo sua vulnerabilidade. Os 
apologistas mostravam os defeitos de suas idéias. E (3) o cristianismo conseguiu o 
cumprimento das expectativas pagãs.82 
 
3.2.1- Percepções soteriológicas no cristianismo antigo 
 
 No cristianismo antigo se encontra a base de todo o desenvolvimento soteriológico do 
cristianismo atual. Sua base é Cristo e sua morte e redenção.83 É nesse período que começam 
o desenvolvimento das idéias de monergismo e sinergismo, onde Deus atua sozinho para 
salvar o ser humano e onde tanto Deus quanto o ser humano atuam mutuamente para a 
salvação respectivamente. Os maiores representantes destas idéias são Agostinho e Pelágio.84 
 A salvação nesta época se dava pelo arrependimento para com Deus e a fé em Cristo85 
Segundo Berkhof: 
 
A fé era usualmente tida como o notável instrumento para o recebimento dos 
méritos de Cristo, e com freqüência era reputada de único meio da salvação. 
Compreendia-se que a fé consistia de verdadeiro conhecimento de Deus, 
confiança nEle e entrega pessoal a Ele, tendo como objeto especial a Jesus Cristo 
e o Seu sangue expiatório. Essa fé, e não as obras da lei, era prezada como o 
meio de justificação.86 
 
 Sobre Pelágio não se tinha a idéia de que a fé anulasse as obras, contanto que as obras 
não anulassem a fé. Todavia este afastou muito do ensino bíblico em relação aos demais pais 
da igreja.87 Havia o conflito entre a salvação pela fé e a necessidade de justificação pela fé 
entre alguns pais da igreja. Não se encontram pensamentos nesta época como elaborações fora 
dos textos bíblicos, aliás, repetiam somente o que achavam na Bíblia.88 
 O arrependimento também era um pré-requisito para a salvação do ser humano. Tal 
termo é de difícil conceituação, mas sabe-se que sua manifestação era na forma de atos 
 
82
 Cf. TILLICH, 1967, p.37-39. 
83
 Cf. McGRATH, 2005, p.466. 
84
 Ibidem, p.59-61. 
85
 Cf. BERKHOF, 1992, p.183. 
86
 Ibidem, p.183. 
87
 Ibidem, p.185. 
88
 Ibidem, p.184. 
26 
 
penitenciais. Esses atos enfatizavam as boas-obras, contudo estas eram obras de abnegação 
enfatizando a doação de esmolas, abstinência do matrimônio, entre outros que eram 
considerados méritos especiais e coordenados com a fé como meios de garantir o favor 
divino.89 
 É também nos Pais da Igreja que se encontra o leve deslize para o ritualismo. Segundo 
Berkhof: 
 
Prevalecia [...] a idéia que o batismo tem o dom de perdoar os pecados passados, 
e que o perdão para os pecados cometidos após o batismo pode ser obtido pela 
penitência. Além disso, ia ganhando terreno, gradativamente, o pensamento que 
as boas obras de alguns, sobretudo os sofrimentos dos mártires, podem servir 
para expiar pelos pecados dos outros.90 
 
 
3.3- O cristianismo da Idade Média 
 
 O marco de início da Idade Média se dá com a ascensão do bispo Gregório Magno ao 
papado91, onde a igreja passa a ter um desenvolvimento dos chamados “sacramentos”, da 
escolástica e de sua hierarquia.92 Para uma melhor compreensão do desenvolvimento do 
cristianismo na Idade Média poderia ser dividida a história deste período em 4 momentos: O 
período de transição, que data do ano 600 a 1000; a primeira Idade Média, do ano 1000 a 
1200; a Alta Idade Média, de 1200 a 1300; e a Idade Média posterior, que vai de 1300 a 
1450.93 
 No período de transição à Idade Média, o cristianismo procurou preservar algumas de 
suas características dando margem à assimilação de outros pensamentos.94 Nesse período a 
Igreja se encontrava unida com o Estado, tendo a responsabilidade de governar as cidades que 
estavam em seu poder através dos bispos.95 Isso contribuiu para a mudança no pensamento 
eclesiológico. 
 
 
 
 
89
 Cf. BERKHOF, 1992, p.184. 
90
 Ibidem, p.185. 
91
 Cf. TILLICH, 1967, p.133. 
92
 Ibidem, p.134-136. 
93
 Ibidem, p.133. 
94
 Ibidem, p.133. 
95
 Cf. CAIRNS, 2005, p.99-101. 
27 
 
3.3.1- O Escolasticismo: Sua importância para a eclesiologia da época 
 
 Três movimentos nasceram neste período, os quais ajudaram a igreja em seu 
desenvolvimento. No primeiro, o escolasticismo, que tratava da explicação metodológica da 
doutrina cristã, ajudou a igreja a se justificar mediante pensamentos que nasciam no 
movimento inicial da arte romanesca, que vai ter seu apogeu mais tarde, no segundo período 
da Idade Média. O misticismo, que é o segundo movimento, nasceu dentro do escolasticismo, 
mas que não abrangia este totalmente já que, segundo Tillich, os místicos “experimentavam 
em suas vidas pessoais as coisasde que falavam”.96 E o terceiro, o biblicismo, buscava na 
Bíblia fundamentos para o cristianismo prático. Este influenciou na Reforma do século XVI.97 
 Para o método escolástico a autoridade residia na tradição da igreja vinda dos pais, nos 
credos e nos concílios e na Bíblia. Logo percebe-se o deslocamento da autoridade da igreja 
para sua história e seu desenvolvimento, o que não era pregado pela igreja primitiva. No 
escolasticismo buscava-se a harmonia entre tradição e conduta, já que na tradição se percebia 
muitas contradições. Na busca da harmonia nas decisões práticas a escolástica adota a razão, 
que no caso é filosófica, como principal parâmetro para isto, deixando a fé, que se apresenta 
como mais subjetiva, em segundo plano, criando então o método dialético do “sim e do não”. 
Isso mais tarde recebe o título de dogmas.98 
 Porém a primazia da razão é questionada por um grupo mais platônico, que não 
reduzia tanto a fé como o grupo mais aristotélico que teve como seu maior representante da 
época Tomás de Aquino.99 Este influenciou (e influencia) até hoje o pensamento católico. 
Essas influências platônicas e aristotélicas eram mais percebidas nos meios agostinianos e 
dominicanos respectivamente. Este conflito de idéias demonstrou que as idéias platônicas da 
época eram mais místicas enquanto que as aristotélicas eram mais racionais e empíricas.100 
 No decorrer do raciocínio escolástico juntamente com o desenvolvimento hierárquico 
da igreja, a razão e a autoridade são separadas. A autoridade não precisava passar pelo crivo 
da razão. Nessa concepção a autoridade passa a ser mandatória já que não é mais necessário 
compreender para ter que obedecer. Portanto, a compreensão que se tem sobre Deus é que 
“sua vontade é irracional e dada”.101 Dessa forma a igreja passa a se abrir para abusos de 
 
96
 Cf. TILLICH, 1967, 135. 
97
 Ibidem, p.134-135. 
98
 Ibidem, p.136-138. 
99
 Ibidem, p.136. 
100
 Ibidem, p.138. 
101
 Ibidem, p.137. 
28 
 
poder em nome da fé. Contudo, “a razão voltou a ser completamente elaborada e se tornou 
criativa, na Renascença”.102 
 Contra os abusos autoritários da igreja um grupo de inconformados surge como 
sectários. São os chamados monges; adeptos ao movimento do monasticismo. O 
monasticismo foi muito importante para sua época já que foram os monges que produziram 
grande parte da teologia da época. Esse sectarismo surgiu por causa da distância entre o que a 
igreja fazia e dizia, o que às vezes era contraditório. Estes foram considerados como que 
cortados do corpo da igreja.103 
 Mas essa separação teve características marcantes. Os separatistas englobaram grande 
parte de leigos que também não aceitavam a posição da igreja. Uma vez inseridos, os leigos 
passaram a ter voz dentro do movimento. Enquanto os leigos buscavam uma leitura da 
realidade a igreja buscava sua legitimação o que, às vezes, negava a realidade dos leigos. Foi 
assim que adentraram no pensamento teológico da época as superstições populares. Tais 
superstições tentavam associar a realidade finita com o divino.104 Portanto objetos, conceitos e 
acontecimentos extraordinários como os milagres passam a ser “não apenas como indicadores 
do divino, mas como poderes que continham em si o próprio divino”.105 Nas palavras de 
Tillich: 
 
A vida diária inteira acha-se dentro das paredes da catedral em forma 
consagrada. Quando o povo entrava na catedral, sua vida diária se achava 
representada na esfera do sagrado; quando saía da catedral, o povo levava 
consigo a consagração aí recebida de volta para a vida diária. Esse é o lado 
positivo da superstição. O lado negativo transparece nas formas como essas 
coisas eram utilizadas: imagens, esculturas, relíquias e toda a sorte de objetos 
sagrados como elementos de religiosidade supersticiosa.106 
 
 
 É no meio dessas superstições populares que nasce o maior envolvimento de demônios 
com a realidade da criação. Estes passam a influenciar em toda vida dos cristãos que vivem 
nesta época. Havia uma forte crença de que estes demônios possuíam grande poder. Essa 
crença não deixou de influenciar os grandes pensadores da época como: Anselmo da 
 
102
 Cf. TILLICH, 1967, p.137. 
103
 Ibidem, p.142. 
104
 Ibidem, p.144. 
105
 Ibidem, p.144. 
106
 Ibidem, p.144. 
29 
 
Cantuária em sua forma de conceber a ação demoníaca na criação107, Bernardo de Claraval 
que teve uma visão bem mística da criação, da queda e da redenção de Cristo, entre outros.108 
 Esse envolvimento místico trabalhou muito a visão soteriológica do povo desta época. 
Na concepção mística nem sempre a Bíblia ou as teologias propostas no desenvolvimento 
escolástico tinham relevância já que muita das vezes o empirismo influenciava mais 
fortemente. Segundo Berkhof: 
 
Demoravam-se sobre o que alguém precisa experimentar antes de poder ser 
considerado crente verdadeiro, e nisso foram guiados primariamente, não pelo 
ensino das Escrituras, e sim pelas experiências daqueles que eram reputados 
“carvalhos de retidão”. [...] E antes que os homens realmente possam crer que 
são filhos de Deus, precisam ser trazidos para debaixo dos terrores da lei, têm de 
atravessar conflitos agonizantes, têm de sentir os reclamos acusadores da 
consciência, e têm de contorcer-se nos espasmos de temível antecipação da 
condenação eterna.109 
 
 
 Percebe-se que na parte citada de Berkhof fala sobre a consciência. Isso se deve ao 
fato de que as teologias da escolástica, apesar de que no movimento místico elas não foram 
adotadas efetivamente, influenciaram o pensamento místico. A teologia que trabalha a 
consciência é de autoria de Abelardo de Paris.110 As influências externas são o que compõem 
algo novo. 
 Os sacramentos também ajudavam aos fiéis a terem consciência dos atos salvíficos de 
Deus. Segundo Gaarder “os sacramentos são os sinais visíveis de que Deus concede sua graça 
aos humanos”.111 Os sacramentos eram, talvez, o elemento mais importante da igreja 
Medieval. 
 
Os sacramentos representavam a objetividade da graça de Cristo, presente no 
poder objetivo da hierarquia. [...] Os sacramentos eram a continuação da 
realidade sacramental básica da manifestação de Deus em Cristo. Em cada 
sacramento, presentifica-se uma substância de caráter transcendente. [...] É um 
sinal visível, sensível, instituído por Deus para ser um remédio no qual sob 
formas materiais o poder de Deus age de maneira oculta.112 
 
 
 Os sacramentos reclamavam para si a apropriação de algo material para curar algo 
espiritual ocasionado pelo pecado original e pelos pecados de cada um. Eles são necessários à 
 
107
 Essa concepção fica clara na obra Cur Deus Homo (Por que Deus se fez Homem?) de sua autoria. 
108
 Cf. TILLICH, 1967, p.152-170. 
109
 Cf. BERKHOF, 1992, p.200. 
110
 Cf. TILLICH, op.cit., p.159-164. 
111
 Cf. GAARDER, 2000, p.185. 
112
 Cf. TILLICH, op.cit., p.150-151. 
30 
 
salvação para os católicos. É algo bem parecido com a apropriação de objetos pela superstição 
popular. O que os diferenciava era o caráter sacro dos sacramentos. Estes eram inúmeros. 
Após críticas feitas pelos pré-reformadores e reformadores os sacramentos reduzidos como 
sendo os mais importantes foram o batismo e a ceia do Senhor.113 Atualmente a igreja católica 
reconhecer apenas sete em sua crença.114 
 
3.3.2- Os pré-reformadores 
 
 O período anterior à Reforma, conhecido como período dos pré-reformadores, foi 
caracterizado como o período de ascensão dos princípios leigos e a valorização do biblicismo 
em detrimento da tradição da igreja. John Wyclif, pré-reformador inglês, foi talvez o grande 
ícone desse movimento chegandoa influenciar posteriormente os reformadores com suas 
idéias. A Reforma detinha todos os princípios da pré-reforma estando à frente somente pela 
detenção do princípio de Lutero, nascido da concepção paulina mais conhecida como 
“justificação pela graça mediante a fé”. A separação entre os termos Reforma e pré-reforma 
está na falta deste princípio fundamental.115 
 Questões como: o enriquecimento do clero, ligação entre igreja e Estado, o 
autoritarismo, as indulgências, o poder de salvação nas mãos da igreja, o papado, entre outros 
foram fatores muito questionados pelos pré-reformadores. O nominalismo, que tinha 
características realistas como a valorização da essência das coisas, passou a mostrar que a 
salvação do ser não se dá na sua obra, mas naquilo que o moveu a fazer tal obra. Logo a 
desvalorização dos sacramentos se dá porque mais vale a palavra de Deus que orienta o crente 
do que a obra que este faz tentando alcançar efeito.116 Destarte o papa não pode ser o vigário 
de Cristo, pois é de Cristo que derivam todos os poderes espirituais. Conclui-se então que o 
papa é um homem que erra e, “pela primeira vez, antes das noventa e cinco teses de Lutero, 
critica-se o sistema de indulgências”117. O papa erra, segundo os pré-reformadores, em dizer 
que é representante de Cristo, ao mesmo tempo que governa este mundo que se opõe a Cristo. 
Assim o papa mais parece um anticristo segundo os pré-reformadores.118 Contudo: 
 
 
113
 Cf. TILLICH, 1967, p.150. 
114
 Cf. GAARDER, 2000, p.173, 185-188. 
115
 Cf. TILLICH, op.cit., p.189. 
116
 Ibidem, p.189-190. 
117
 Ibidem, p.191. 
118
 Ibidem, p.191-192. 
31 
 
A Igreja Romana não podia ser reformada por um mero movimento sectário, 
embora radical, como o de Wyclif. Somente um novo princípio, ao lado de uma 
nova relação com Deus, teria suficiente poder. Foi o que aconteceu com a 
Reforma do século dezesseis.119 
 
 
3.3.3- Percepções soteriológicas no cristianismo medieval 
 
 Foi na Escolástica que o desenvolvimento soteriológico se deu efetivamente. Melhores 
definições sobre os termos “graça”, “fé”, “justificação” e “mérito” aconteceram. Neste 
período há uma grande variedade de opiniões sobre esses elementos do processo salvatício. 
Apesar da igreja se inclinar brandamente ao agostinianismo os escolásticos se inclinavam para 
o semi-pelagianismo.120 
 Sobre o termo “graça” os escolásticos, por serem pelagianos e semi-pelagianos, 
buscavam uma relação entre “graça suficiente” e “graça eficiente”, termos agostinianos que 
mostram a limitação do ser humano na busca de sua própria salvação. Tal relação levou os 
escolásticos a definirem “graça” como “qualidade ou poder sobrenatural insuflado no 
homem”121 tendo como objetivo levar o ser humano a voltar-se com fé a Deus. Tal discussão 
foi importante para se definir a relação entre graça e livre-arbítrio.122 
 Sobre a fé os escolásticos fizeram distinção entre fé, que é um afeto espiritual que 
produz boas-obras, e fé como forma de conhecimento, que é conformidade com a verdade. 
Mas para a época, a fé era algo que concordava com os credos e dogmas. Isso se dava porque 
o clero ainda influenciava o estudo dos escolásticos dizendo que é vantajoso “salientar a idéia 
que a cega submissão à autoridade da Igreja era a principal característica da fé, e alguns 
teólogos chegaram mesmo a encorajar tal noção”.123 
 Quanto à justificação e mérito os escolásticos salientavam que a justificação se dava 
pela infusão da graça santificadora por Deus cabendo ao ser humano se voltar a Deus em 
vontade livre mediante a fé e contrição. No caso dos infantes a justificação é obra exclusiva 
de Deus, onde este retira o pecado original através da infusão da graça.124 
 Quanto ao desenvolvimento da justificação do ser humano, este poderia se dar com a 
infusão da graça fazendo com que o ser humano troque o livre-arbítrio por Deus e saindo da 
influência do pecado, ou no momento em que a graça é infundida a contrição se torna 
 
119
 Cf. TILLICH, 1967, p.193. 
120
 Cf. BERKHOF, 1992, p.190. 
121
 Ibidem, p.190. 
122
 Ibidem, p.190-191. 
123
 Ibidem, p.192. 
124
 Ibidem, p.192. 
32 
 
arrependimento fazendo com que o pecado seja expulso pela graça. Logo, a diferença entre as 
duas concepções é que uma a graça de Deus é que inicia o processo de transformação 
enquanto na outra o processo de contrição desencadeia a salvação levando o ser humano à 
graça divina.125 Mas a justificação plena não era privilégio dos cristãos em geral. Ao se ter 
certeza de sua justificação o cristão era obrigado a aumentar essa justificação através de 
sofrimentos por causa da religião.126 Aqui as penitências ajudavam. 
 A doutrina dos méritos caminhava juntamente com a doutrina da justificação. Essa era 
pouco combatida pelos escolásticos. Consistia em dar ao cristão certas vantagens ao passo que 
este se demonstre um bom realizador de boas-obras. Duas vertentes são encontradas aqui: A 
de Tomás de Aquino que alega que o cristão, quando pratica muitas boas-obras, chega a 
pertencer exclusivamente (mérito de condignidade) a Cristo diferindo-o dos demais cristãos, e 
chegando, quem sabe, a ter direitos sobre o próprio Deus (mérito de congruência). E a de 
Duns Scoto que afirmava que boas-obras feitas antes da justificação poderiam conceder uma 
graça aumentada.127 
 A doutrina católica finalmente se posiciona com relação às crianças afirmando que o 
pecado original das mesmas é removido com a infusão da graça por ocasião do batismo. Logo 
essa penitência passa a ser realidade no meio católico.128 
 
3.4- O cristianismo moderno 
 
 Juntamente com a reforma nasce no período moderno o renascimento. Embora o 
trabalho não dê ênfase ao mesmo é muito importante dizer que é no renascimento que nascem 
as idéias antropocêntricas de fato. E é no renascimento que a reforma encontra suas forças já 
que o mesmo pedia a volta à antigüidade, ao que era primevo. O cristianismo moderno, ao 
contrário do medieval, já não tem efetivamente Deus como centro de todas as coisas, mas o 
ser humano.129 Isso se deu no renascimento e proporcionou uma mudança significativa na 
visão sobre o que seja religião e seu poder de intermediação na salvação, como era pregado na 
era medieval. 
 
 
 
125
 Cf. BERKHOF, 1992, p.192. 
126
 Ibidem, p.192. 
127
 Ibidem, p.193. 
128
 Ibidem, p.193. 
129
 Cf. McGRATH, 2005, p.75-79. 
33 
 
3.4.1- A Reforma 
 
 A reforma aconteceu no séc.XVI devido às diversas mudanças que a Europa havia 
sofrido dentre essas: mudanças geográficas, com as descobertas marítimas dividindo o mundo 
em “velho mundo” e “novo mundo”; mudanças políticas, com a formação das nações-estados 
que se revoltaram com o domínio de um governo religioso universal e com a organização das 
forças militar e civil; mudanças econômicas, devido a descentralização da economia 
sustentada pela agricultura passando a ser sustentada pelo dinheiro e pelas redes de comércio; 
mudanças sociais, onde já não era mais necessário ser servo da igreja para adquirir ascensão 
social quando uma pessoa era pobre, pois a rede de negócios da classe mercantil garantia 
status para qualquer um que quisesse e se empenhasse a se destacar nesta área. 
 As mudanças intelectuais, provocadas pelo Renascimento e, que por sua vez fez com 
que humanistas cristãos da época se voltassem às fontes do passado e às línguas originais da 
Bíblia. A ênfase renascentista no indivíduo também influenciou a soteriologia protestante. Por 
fim, as mudanças religiosas, onde a uniformidade religiosa passa a dar lugar à diversidade 
religiosa onde passa a encontrar então uma nova interpretação sobre o que seja autoridade ejustificação, anulando assim, segundo os reformados, a intermediação de um mentor ou 
sacerdote.130 
 A Reforma foi um movimento que buscou mudanças para a igreja católica sem 
qualquer rompimento com a mesma para adaptá-la às mudanças ocorridas no mundo. Contudo 
forças internas colocaram para fora todos aqueles que não se submetiam às idéias da Igreja. A 
Reforma buscava “voltar à pureza original do cristianismo do Novo Testamento”.131 Tal grupo 
de excomungados continuou a expressarem suas idéias culminando assim na criação do 
protestantismo.132 Gaarder explica que “foi um monge alemão, Martinho Lutero, o maior 
responsável por esse conflito teológico. Ele deu forte destaque à fé e à palavra (à Bíblia), como 
elementos mais significativos”.133 Mais sobre Martinho Lutero será falado posteriormente. 
 A igreja católica também se pronunciou diante da Reforma com a sua Contra-
Reforma, onde buscou, após análises do movimento reformado, adequações e esclarecimentos 
às suas doutrinas e métodos.134 A divisão causada no cristianismo por esses movimentos, 
 
130
 Cf. CAIRNS, 2005, p.221-223. 
131
 Ibidem, p.224. 
132
 Ibidem, p.224. 
133
 Cf. GAARDER, 2000, p.195. 
134
 Cf. CAIRNS, op.cit., p.224-225. Ver também: TILLICH, 1967, p.195-196. 
34 
 
segundo Tillich, foi algo infeliz já que “a Reforma, em vez de se transformar na reforma da 
igreja inteira, tornou-se o dogma dos protestantes que eram o grupo protestador”.135 
 O desenvolvimento histórico “infeliz”, como diz Tillich, da Reforma se deu também 
contra a própria Reforma já que esta, quando iniciada, era bem aberta a questionamentos, 
contudo, com o passar dos anos ela se tornou, através de seus desdobramentos, bem fechada a 
críticas, como é o caso do fundamentalismo norte-americano. Nas palavras de Tillich: 
 
A Reforma, em si, foi muito aberta, mas quando começou a sofrer todos os tipos 
de ataques, fechou-se numa estreitíssima ortodoxia protestante, chamada neste 
país de “fundamentalismo”, que representa o fechamento da Reforma para 
resistir os ataques sofridos.136 
 
 
 Se por um lado a reforma serviu para trabalhar questões não muito bem explicadas 
como a apropriação indevida de terras por parte da igreja católica na extensão territorial 
européia, a corrupção moral na qual a igreja vivia em seu processo hierárquico e prático e a 
não-satisfação do povo com as posições teológicas e filosóficas da igreja,137 por outro a 
reforma serviu como uma nova divisão da igreja cristã138, porém com um maior 
desenvolvimento da ortodoxia de cada subdivisão.139 
 
3.4.2- Sobre a Igreja Católica Romana140 
 
 A Igreja Católica Romana é a maior igreja cristã de todo o mundo. Sua doutrina está 
fundada na fidelidade à hierarquia, a qual é composta de papa, bispos e padres exercendo 
grande influência na camada inferior conhecida como leigos.141 O papa é o pontífice da igreja, 
sucessor de São Pedro e infalível apesar de pecador. Sua função é buscar conformidade entre 
a Bíblia e a tradição eclesiástica bem como liderar. Já os bispos e padres, num estilo parecido 
ao do papa, são seguidores das pegadas dos apóstolos. Os bispos têm como função ordenar 
padres. E os padres, por sua vez, dirigir sua paróquia ou comunidade.142 
 
135
 Cf. TILLICH, 1967, p.195. 
136
 Ibidem, p.196. 
137
 Cf. CAIRNS, 2005, p.224-229. 
138
 A igreja cristã já havia sofrido uma divisão mais conhecida como “cisma de 1054”. Ver CAIRNS, op.cit., 
p.167-168. 
139
 Cf. TILLICH, op.cit., p.196-204, 222-250. 
140
 Para maiores informações sobre as doutrinas da Igreja Católica Ortodoxa ver GAARDER, 2000, p.191-194. 
141
 Cf. GAARDER, 2000, p.181-182. 
142
 Ibidem, p.182-183. 
35 
 
 Os católicos ensinam que a Igreja tem quatro características que os diferem da igreja 
primitiva: Ela é “una”, se referindo como a única e verdadeira igreja, adequadas à mesma fé; 
“santa, pois oferece a todos os meios para a santidade através dos sacramentos; “católica” 
porque possuem regras universais válidas para todos; e “apostólica” já que é comandada por 
pessoas que são sucessoras dos apóstolos.143 
 O fundamento católico se encontra na Bíblia e na Tradição. A Bíblia é vista à luz da 
tradição, todavia a tradição deve ser entendida como desenvolvimento constante do potencial 
que existe no Evangelho.144 
 A salvação professa pelo meio Católico Romano é mais bem entendida quando se 
parte do seu raciocínio sobre a humanidade. Segundo a visão Católica o ser humano foi criado 
à imagem e semelhança de Deus, tendo uma alma eterna e o livre-arbítrio. Porém, ao pecar 
abusando de seu livre-arbítrio, o ser humano não mais conseguiu ser o mesmo, obtendo então 
o pecado original.145 Mas a liberdade que o ser humano tinha não lhe foi retirada muito menos 
perdida, tão somente enfraquecida.146 O ser humano não perdeu sua capacidade de fazer boas 
ações, todavia este não consegue redimir a si mesmo. Por isso Cristo, que é homem, mas que 
ao mesmo tempo é Deus, morre na cruz e ressuscita dando a chance ao ser humano de ser 
salvo mediante a obediência a Cristo.147 
 Para a Igreja Católica Romana a salvação vem de uma ação conjunta entre Deus e o 
ser humano. De acordo com Gaarder: 
 
Tanto a fé como a salvação pressupõem a graça de Deus. Os sacramentos 
transmitem essa graça. Deles os católicos recebem a força para viver de acordo 
com a vontade de Deus. Mas a redenção final vem apenas após a morte. Esta 
vida terrena é só uma preparação para ela.148 
 
 
 O fato de uma pessoa já estar morta não quer dizer que ela esteja no céu ou no inferno. 
Segundo a crença católica o purgatório é o lugar por onde as almas que ainda não estavam 
totalmente puras quando deixaram a terra devem passar para serem purificadas antes de irem 
para o céu. A origem do purgatório pode ser encontrada na igreja antiga.149 
 A confissão de Augsburg afirma que o pecado é falta de fé não aceitando a 
concupiscência como pecado, ainda que seja esta que leve o ser humano ao pecado. Portanto o 
 
143
 Cf. GAARDER, 2000, p.183-184. 
144
 Ibidem, p.184. 
145
 Ibidem, p.184. 
146
 Cf. TILLICH, 1967, p.197. 
147
 Cf. GAARDER, op.cit., p. 184-185. 
148
 Ibidem, p.185. 
149
 Ibidem, p.188. 
36 
 
ser humano não pode ser entendido como totalmente corrompido. É aí que entra a maior 
liberdade dada ao ser humano pela Igreja Católica em relação aos protestantes já que estes 
consideram a concupiscência pecado. O pecado para o católico é a ação contra a lei de Deus. 
E pelo fato da igreja católica considerar os pecados como algo de fácil perdão, aqueles que os 
confessam ao sacerdote são absolvidos e libertados. Para os protestantes o pecado é separação 
de Deus. Não cabe apenas a confissão, mas a conversão completa com uma transformação do 
ser e reunião com Deus.150 
 A Igreja Católica acredita que a justificação parte de ambos os lados: De Deus e do ser 
humano, numa ação conjunta onde nenhum dos dois anula as ações do outro. A distinção é 
uma característica. Deus entra com sua Graça e benevolência enquanto que o ser humano 
entra com o cumprimento dos sacramentos. 
 Já no meio protestante a justificação se dá por meio da Graça de Deus, e esta só pode 
ser mediada pela fé. Contudo muitas interpretações errôneas têm nascido deste ponto. Talvez 
por uma influência católica muitos têm entendido que, para ser justificado por Deus basta ter 
fé que este, por sua benevolência e compreensão, após convencido desta fé, se move em graça 
e perdoa o pecador.151 Contudo o pensamento reformado nega essa concepção. Para os 
reformados: 
 
O ato de se voltar para Deus, e de receber sua graça, é sem qualquer 
ambigüidade, um ato receptivo, em que Deus nos

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