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PONTO DOS CONCURSOS MATEMÁTICA ATUARIAL DE PESSOAS SUSEP Aula 8 André Cunha 06/04/2010 Este documento contém o conteúdo programático do curso (plano de ensino) e aborda o seguinte tópico: Múltiplas vidas e Regimes de capitalização. Página 2 de 21 André Cunha http://www.pontodosconcursos.com.br SUSEP 2010 Conteúdo 1. Introdução .......................................................................... 3 2. Múltiplos decrementos .......................................................... 4 2.1. O modelo ................................................................... 4 3. Tábua de múltiplos decrementos ............................................ 6 4. Taxa absoluta de morte ........................................................ 8 4.1. Relações envolvendo probabilidades ............................... 7 4.2. Relações envolvendo anuidades e seguros ...................... 7 5. Abordagem do IBA em exercícios ........................................... 9 6. Regimes Financeiros .......................................................... 15 6.1. Capitalização ............................................................ 15 6.2. Repartição simples ................................................... 16 6.3. Repartição de capitais de cobertura .............................. 20 Página 3 de 21 André Cunha http://www.pontodosconcursos.com.br SUSEP 2010 1. Introdução Falta muito pouco agora. Essa aula praticamente conclui a parte teórica do curso. Falo isso porque resolvi antecipar a parte de regimes de capitalização, prevista no plano de ensino inicialmente para a Aula 9. Faltará para a última Aula apenas a parte de riscos, que é pequena. Vamos complementar a Aula com um simulado de 10 questões resolvidas nos moldes daquilo que eu espero que a ESAF cobre. Voltando para a Aula 8, de hoje, ela terá um formato diferente das anteriores. No lugar dos exercícios de fixação entram exercícios de exames anteriores ao longo da Aula explicando ou ilustrando a teoria. A ESAF nunca havia pedido múltiplos decrementos. Portanto, como se trata de um assunto inédito na SUSEP, e não temos muitos parâmetros para saber como a ESAF vai cobrar, vamos dar a matéria em conformidade com os bons textos do assunto e, além de treinar através de exemplos, vamos treinar construindo uma tábua de múltiplos decrementos. Inclusive, se você tiver familiaridade com fórmulas de Excel, seria um excelente treino a reprodução da Tábua 2. Além disso, vamos nos cercar e resolver algumas questões que caíram no exame do IBA de 2005 e 2006, com notação diferente da tradicional. Decidi que a abordagem do IBA merece um item exclusivo. A teoria e as definições, nesse item, serão apresentadas junto com os exercícios. Bons estudos e pique total até a prova. Página 4 de 21 André Cunha http://www.pontodosconcursos.com.br SUSEP 2010 2. Múltiplos decrementos Quando estudamos as funções de sobrevivência e a construção de tábuas de mortalidade na Aula 2, vimos que o ponto central para a determinação das probabilidades era a morte de (x). No modelo estudado, (x) só sairia do grupo inicial das l0 pessoas quando morresse. Em muitos casos, na prática, a saída de (x) do grupo pode ocorrer por vários motivos. Por exemplo, se tomarmos um grupo de trabalhadores com carteira assinada, um participante pode sair dele por morte, mas também devido a demissão, invalidez e aposentadoria, entre outros motivos. Cada motivo que pode causar essa saída é chamado de decremento. 2.1. O modelo No modelo que vamos estudar, consideramos a existência de m decrementos, e não apenas a morte de (x). A partir de agora, o conceito de sobrevivência será levemente modificado: não mais estará relacionado somente à morte, mas sim a todos os decrementos. Em outras palavras, a pessoa sobrevive se ela permanecer no grupo. A probabilidade de (x) sair do grupo (ou simplesmente sair) dentro de um ano devido à causa k, k = 1, ... ,m, será dada por )(k xq , e a probabilidade de saída da mesma pessoa por qualquer motivo é )(τ xq .1 Vamos supor ainda, para simplificar, que a cada ano uma pessoa pode sair devido a um único decremento, nunca 2 ou mais. Exemplificando, (x) pode sair do grupo por demissão ou aposentadoria, nunca os dois. Desta forma os decrementos são mutuamente exclusivos, e podemos escrever (1) ∑ = = m k k xx qq 1 )()(τ , e para um intervalo de n anos, (2) ∑ = = m k k xnxn qq 1 )()(τ 1 A letra grega τ se lê como (tau) Página 5 de 21 André Cunha http://www.pontodosconcursos.com.br SUSEP 2010 Definindo )(τ xp como a probabilidade de (x) sobreviver um ano, é trivial que (3) 1)()( =+ ττ xx qp , e para um intervalo de n anos, (4) 1)()( =+ ττ xnxn qp É intuitivo que o número total de pessoas que morrem em uma determinada idade é igual à soma das mortes na mesma idade por todas as causas. Matematicamente, (5) ∑ = = m k k xx dd 1 )()(τ , e novamente para um intervalo de n anos, (6) ∑ = = m k k xnxn dd 1 )()(τ Há várias outras relações. Aqui vamos dar as que têm maior probabilidade de serem cobradas. A probabilidade de (x) sair em n anos pela causa k é igual ao número de pessoas que saíram devido a essa causa dividido pelo número total de pessoas na idade x, e é expressa por (7) )( )( )( τ x k xnk xn l dq = As relações (8) e (9) abaixo já são nossas conhecidas, só mudaram de roupa. Interprete-as. (8) )( )( )( τ τ τ x xn xn l dq = (9) )( )( )( τ τ τ x nx xn l lp += Página 6 de 21 André Cunha http://www.pontodosconcursos.com.br SUSEP 2010 Antes que você me pergunte: Se existe )(τ xn p e )(τ xl existe também )(k xn p e )(k xl ? Desconheço a existência de )(k xn p e )(k xl , até porque (x) pode morrer da causa k, mas não faz sentido falar em sobrevivência devido a uma causa. Quem sobrevive, sobrevive a tudo. Mas mantive a notação com o )(τ por ser padrão e poder ser cobrada em prova. 3. Tábua de múltiplos decrementos Na Aula 2 estudamos todas as relações necessárias para se construir uma tábua de mortalidade a partir da função de sobrevivência S(x) ou, de forma equivalente, das probabilidades qx. O grupo de interesse pode começar com qualquer idade e ter qualquer número de decrementos m. Aqui vamos trabalhar com 50 anos para a idade inicial e m = 2 decrementos. Os decrementos podem ser variados. Digamos que nesse caso são falecimento (causa de saída 1) e demissão (causa de saída 2). Os decrementos variam conforme a idade e estão expostos na tábua 1 abaixo x )1( xq )2( xq 50 0,010 0,05 51 0,020 0,05 52 0,030 0,05 53 0,040 0,05 54 0,050 0,05 55 0,060 0,05 56 0,070 0,05 57 0,080 0,05 Tábua 1 Para construir a tábua de múltiplos decrementos, vamos utilizar algumas das relações (1) a (9) e a Tábua 1. O resultado é a Tábua 2. Página 7 de 21 André Cunha http://www.pontodosconcursos.com.br SUSEP 2010 x )1( xq )2( xn q )(τ xq )(τ xp )(τ xl )1( xd )2( xd )(τ xd 50 0,01 0,05 0,06 0,94 10000 100 500 600 51 0,02 0,05 0,07 0,93 9400 188 470 658 52 0,03 0,05 0,08 0,92 8742 262 437 699 53 0,04 0,05 0,09 0,91 8043 322 402 724 54 0,05 0,05 0,10 0,90 7319 366 366 732 55 0,06 0,05 0,11 0,89 6587 395 329 725 56 0,07 0,05 0,120,88 5862 410 293 703 57 0,08 0,05 0,13 0,87 5159 413 258 671 Tábua 2 A tábua 2 foi construída da seguinte forma:2 1 – Repetimos as 3 primeiras colunas da Tábua 1. 2 – A raiz (radix) da tábua de mortalidade foi definida como 10.000 pessoas de idade 50. Assim, por definição/imposição, .000.10)(50 =τl 3 – A coluna 4, dos )(τ xq , foi calculada usando-se a equação (1). 4 – A coluna 5, dos )(τ xp , foi calculada usando-se a equação (3). 5 – A coluna 6, dos )(τ xl , deriva de (9), para n = 1. 6 – As colunas 7 e 8, dos )(k xd , derivam de (7), para n = 1. 7 – Finalmente, calculamos a coluna 9, dos )(τ xd , usando (5) ou (8) com n = 1. Exemplo 1: Calcule, utilizando a Tábua 2 acima, o seguinte: a) )2( 514d b) )1( 502q c) )( 552 τp d) A probabilidade de (52) ser demitida nos próximos 3 anos. Solução 2 A partir da tábua 1, podemos chegar na tábua 2 de várias formas, posto que algumas das fórmulas apresentadas são redundantes. Foi apresentada aqui apenas uma dessas formas. Página 8 de 21 André Cunha http://www.pontodosconcursos.com.br SUSEP 2010 a) É pedido o número de pessoas com 51 anos que deixam o grupo nos próximos 4 anos por demissão. Não elencamos a fórmula anteriormente por ela ser bem intuitiva. Vamos fazer isso agora. (10) ∑− = += 1 0 )()( n j k jx k xn dd Para x= 51, n = 4 e k = 2, temos ∑ = + =+++=+++== 3 0 )2( 54 )2( 53 )2( 52 )2( 51 )2( 51 )2( 514 1675366402437470 j j dddddd b) Usando (7), 0288,010000 188100 )( 50 )1( 51 )1( 50 )( 50 )1( 502)1( 502 =+=+== ττ l dd l dq c) Da equação (9), fazendo n = 2 e x = 55, 7832,0 6587 5159 )( 55 )( 57)( 552 === τ τ τ l lp d) A probabilidade de uma pessoa de 52 anos ser demitida nos próximos 3 anos é representada por )2( 523q . De (7), 1379,0 8742 366402437 )( 52 )2( 54 )2( 53 )2( 52 )( 52 )2( 523)2( 523 =++=++== ττ l ddd l dq 4. Taxa absoluta de morte A taxa absoluta de morte em relação ao decremento k é definida como a probabilidade de (x) sair do grupo dentro de n anos caso não houvesse outros fatores de decremento além de k. Um nome mais apropriado seria “taxa absoluta de saída”, posto que a morte é apenas um dos decrementos possíveis. Notação: )(k xn q A única coisa que precisa saber para a prova é a relação abaixo: (11) )( )( k xn k xn qq ≥ Página 9 de 21 André Cunha http://www.pontodosconcursos.com.br SUSEP 2010 A equação (11) afirma que a probabilidade de uma pessoa sair devido ao decremento k é maior na ausência do que na presença de outros decrementos. Ilustrando, se há 10.000 vidas e dois decrementos, demissão (decremento 1) e aposentadoria (decremento 2), e tivermos ainda: 05,0)1( =xq e 03,0)2( =xq No primeiro ano então são esperadas 500 demissões e 300 aposentadorias. Caso não fossem permitidas demissões, essas 500 pessoas estariam “disponíveis” para se aposentar, o que elevaria o número de pessoas aposentadas e, consequentemente, a probabilidade de aposentadoria. No caso, de )2( xn q para )2( xn q . Vamos parar por aqui. Se a ESAF cobrar esse tópico, muito provavelmente será de forma conceitual envolvendo a relação (11). Nota 1: Essa teoria é conhecida como “Theory of Competing Risks”. Nota 2: Outros nomes para a taxa absoluta de morte: taxa absoluta de decremento ou taxa independente de decremento. Nota 3 (Importante): Quando nada for falado, as probabilidades serão sempre as tratadas nas equações (1) a (9). O problema terá de ser explícito quando se referir à taxa absoluta de morte. 5. Abordagem do IBA em exercícios 1. (INSTITUTO BRASILEIRO DE ATUÁRIA – 2005) A partir de 100 ativos com 30 anos, encontre o número provável de ativos que tornar-se-ão inválidos entre as idades de 35 e 36 anos. A) 36305100 ip ⋅⋅ B) 3635100 ip ⋅ C) 3630100 ip ⋅ D) 35305100 ip ⋅⋅ E) 3530100 ip ⋅ Página 10 de 21 André Cunha http://www.pontodosconcursos.com.br SUSEP 2010 Resolução A probabilidade de (x) se tornar inválido dentro de um ano é definida como taxa anual de invalidez, ou taxa de entrada em invalidez xi . Dos 100 ativos com 30 anos, espera-se que 305100 p⋅ atinjam a idade de 35 anos. Com 35 anos a probabilidade de se tornar inválido entre as idades de 35 e 36 é 35i . Logo, espera-se que 35305100 ip ⋅⋅ ativos com 30 anos se tornarão inválidos entre as idades de 35 e 36 anos. Gabarito: D 2. (INSTITUTO BRASILEIRO DE ATUÁRIA – 2005) A probabilidade de um ativo de idade “x” tornar-se inválido e morrer após “n+1” e antes de “n+2” anos é dada por: A) aaaa nxnx qp 11 ++++ ⋅ B) aaaa n nxx qp 11 ++⋅+ C) aaaa n nxx qp 11 +++ ⋅ D) aa n aa xnx qp /11 +⋅++ E) aa n aa n xx qp /11 +⋅+ Página 11 de 21 André Cunha http://www.pontodosconcursos.com.br SUSEP 2010 Resolução Definições: aa n x p : Probabilidade de um ativo de idade x permanecer ativo após n anos. aa n x q : Probabilidade de um ativo de idade x morrer ativo em até n anos. ai n x p : Probabilidade de um ativo de idade x estar inválido3 após n anos. ai n x q : Probabilidade de um ativo de idade x morrer inválido em até n anos. O enunciado do problema requer duas coisas: 1 – Que (x) permaneça ativa após n+1 anos. Isso ocorre com probabilidade aa n x p1+ . 2 – Que, após n+1 anos, (x+n+1) morra inválido dentro de 1 ano. A probabilidade de isso ocorrer é ai nx q 1++ . Assim, a probabilidade de (x) morrer entre n+1 e n+2 anos, tornando-se inválida nesse intervalo, é aiaa n nxx qp 11 ++⋅+ . A opção mais próxima disso, e a que eu marcaria na prova, é a B. Gabarito: B 3. (INSTITUTO BRASILEIRO DE ATUÁRIA – 2005) Tendo como base 70 ativos com 37 anos, determine o número provável de ativos que entrarão em invalidez na idade de 45 anos e que irão sobreviver. A) aiaa pp 3745 8 70 ⋅⋅ B) iaa qp 3737 /88 70 ⋅⋅ 3 Apesar de várias evidências do contrário, morto não é inválido! Página 12 de 21 André Cunha http://www.pontodosconcursos.com.br SUSEP 2010 C) aiaa pp 4545 70 ⋅⋅ D) aiaa pp 45378 70 ⋅⋅ E) iaa qp 45378 70 ⋅⋅ Resolução Mais duas definições: i mn x q/ : Probabilidade de um inválido de idade x morrer entre as idades de x+n e x+n+m anos. i n x q : Probabilidade de um inválido de idade x morrer em até n anos. É caso particular da anterior. A probabilidade de um ativo se tornar inválido na idade exata de 45 anos é zero, posto ser o tempo para a entrada em invalidez uma variável contínua. Dessa forma, vou reescrever o enunciado para ficar de acordo com a intenção da banca. Tendo como base 70 ativos com 37 anos, determine o número esperado de ativos que entrarão em invalidez depois de completarem 45 anos e que chegarão aos 46 anos inválidos. Probabilidade de um ativo de 37 anos completar 45 ativo: aap 378 Probabilidade de um ativo de 45 anos chegar aos 46 inválido: aip 45 Assim, a probabilidade requerida para um ativo é de aiaa pp 45378 ⋅ . Para 70 ativos, o valor esperado para o númerode ativos (número provável) é de aiaa pp 45378 70 ⋅⋅ Gabarito: D Página 13 de 21 André Cunha http://www.pontodosconcursos.com.br SUSEP 2010 4. (INSTITUTO BRASILEIRO DE ATUÁRIA – 2005) Indique qual das expressões abaixo é verdadeira: A) aix a x aa x pqq += B) aix a x aa x ppp += C) x aa x aa x iqp −−=1 D) aax aa x pq −=1 E) x aa x aa x iqp ++=1 Resolução As últimas definições: a n x p : Probabilidade de um ativo de idade x sobreviver n anos, podendo estar ativo ou inativo após esse período. a n x q : Probabilidade de um ativo de idade x morrer em qualquer condição em até n anos. Item A: De acordo com essa opção, a probabilidade de um ativo morrer ativo é igual à probabilidade de um ativo morrer em qualquer condição mais a probabilidade de um ativo estar inválido, tudo após 1 ano. Não faz o menor sentido. Falso. Item B: A probabilidade de um ativo sobreviver em qualquer condição é igual à probabilidade de um ativo sobreviver inválido mais a probabilidade de um ativo sobreviver ativo. Assim, aix aa x a x ppp += . Falso. Item C: Um ativo de idade x pode, no final do ano: Se manter ativo, com probabilidade aa xp . Morrer na ativa, com probabilidade aa xq . Ter se tornado inválido ao longo do ano (independente de estar vivo ou não), com probabilidade xi . Como os três eventos são mutuamente exclusivos, e compreendem a totalidade das possibilidades, sua soma é 1. Página 14 de 21 André Cunha http://www.pontodosconcursos.com.br SUSEP 2010 Logo, 1=++ xaaxaax iqp ou ainda xaaxaax iqp −−=1 . Verdadeiro. Itens D e E são falsos, caso contrário C seria falso também. Nota: não foi utilizado nos exercícios acima, mas também é verdade que ai x ai xx qpi += . Verifique! Gabarito: C 5. (INSTITUTO BRASILEIRO DE ATUÁRIA – 2006) Calcule a taxa de entrada em invalidez para a idade de 35 anos, sabendo que: 081,035 =aip 0109,035 =aaq 989,035 =ap A) 0,0811 B) 0,0908 C) 0,0919 D) 0,1008 E) 0,1120 Resolução O enunciado pede 35i Sabemos que ai x aa x a x ppp += . Assim, .908,0081,0989,0353535 =−=−= aiaaa ppp Vimos também que 1=++ xaaxaax iqp 0811,00109,0908,011 353535 =−−=−−= aaaa qpi Gabarito: A Página 15 de 21 André Cunha http://www.pontodosconcursos.com.br SUSEP 2010 6. Regimes Financeiros Os regimes de financiamento definem a forma como os benefícios serão custeados. Se benefícios têm de ser pagos, o dinheiro tem de vir de alguma forma e de algum lugar4. A atuária não se importa com quem paga, e sim como será pago. Os benefícios podem ser variados, como pensões, seguros, auxílio-doença e assistência a saúde. Há três regimes financeiros que precisamos saber: capitalização, repartição simples e repartição de capitais de cobertura. 6.1. Capitalização É o que vimos aqui na Aula 6, sobre prêmios e reservas. O financiamento dos benefícios é feito com o pagamento de prêmios periódicos (normalmente mensais ou anuais) mais os juros sobre as reservas, daí o nome do regime. O equilíbrio atuarial é alcançado quando o dinheiro guardado para pagamento dos benefícios (ativos) é igual à reserva matemática (as calculadas na Aula 6) necessária para pagá-los. Na prática, a reserva matemática dificilmente é igual aos ativos. Quando os ativos superam a reserva matemática, dizemos que há um superávit igual à diferença entre os dois. Caso contrário, essa diferença representa um déficit atuarial, ou passivo atuarial. O superávit ou o déficit podem ter várias origens, todas baseadas em discrepâncias entre o previsto e o observado. Sem pretensão de sermos exaustivos, podemos citar algumas diferenças e seus efeitos prováveis5 (superávit ou déficit): • Taxa de retorno nos investimentos maior que a prevista (superávit); • Mortalidade maior que a prevista em seguros de vida (déficit); • Mortalidade maior que a prevista em pensões (superávit); • Lei aumentando a idade de aposentadoria (superávit). O regime de capitalização é o melhor de todos, pois apesar de não evitar o famigerado passivo atuarial, o mantém sob relativo controle. Em um plano de pensão patrocinado por uma empresa, por 4 Parece óbvio, mas os deputados não sabem disso. 5 Os efeitos são prováveis, e não certos, pois há sempre múltiplos fatores influenciando o equilíbrio atuarial. Seriam certos se todas as outras hipóteses previstas fossem idênticas às observadas. Página 16 de 21 André Cunha http://www.pontodosconcursos.com.br SUSEP 2010 exemplo, se em determinado momento houver um passivo atuarial, ela pode aumentar sua contribuição para reduzir o passivo gradativamente ou fazer um aporte único e zerar o déficit. O fato é que nesse regime, na pior das hipóteses, sabemos o valor do passivo atuarial pelo menos uma vez ao ano, por ocasião das avaliações atuariais, quando, entre outras coisas, se calcula esse passivo. Características do regime de capitalização: • Prêmios constantes;6 • Constituição de reserva matemática de benefícios a concedidos e a conceder. 6.2. Repartição simples É a pirâmide legalizada. Mais que legalizada, é o regime adotado pelo próprio governo federal para pagamento das aposentadorias de seus servidores. Uma pirâmide no melhor estilo Madoff funciona da seguinte forma. Algumas pessoas começam colocando um dinheiro. Outras pessoas entram, pagando rendimento aos que entraram antes. E assim outras pessoas vão entrando e o bolo aumenta. E somente enquanto tiver otário para entrar (pois os espertos serão os primeiros a sair) a pirâmide funciona bem, já que o fenômeno da geração espontânea de riqueza é apenas um mito. Num determinado momento, a massa está tão grande, que o dinheiro dos que entram não é suficiente para pagar o rendimento dos que já estão. Aí desmorona a pirâmide e quase todos quebram (menos os que saíram antes). Pode parecer muito primário por parte dos entrantes, mas as pirâmides se renovam (boi, avestruz, ações de tecnologia americanas em 1999, subprime). Voltando para o regime de repartição simples. Como funciona? Os 11% que vão ser descontados do seu salário da SUSEP não vão para você, e sim para uma pessoa que já está aposentada7. Quando você se aposentar, o ciclo se renova, e será a sua vez de receber. Mas lembram que para a atuária só importa como é financiado, e não quem paga? No regime de repartição, independente de quem paga, não são constituídas reservas, pois o que é pago vai integralmente para o pagamento de benefícios, ou seja o pagamento do risco. Este regime 6 Apesar de os prêmios não terem de ser constantes do ponto de vista matemático, em grande parte dos casos são, e a ESAF assim considera. 7 Na verdade vão para o caixa geral do governo, de onde sai o pagamento dos benefícios. Página 17 de 21 André Cunha http://www.pontodosconcursos.com.br SUSEP 2010 é indicado para custear benefícios de curta duração e cujas despesas mostrem certa estabilidade, como auxílio-doença. No Brasil de muitos anos atrás, no âmbito do regime geral do INSS, havia muitos jovens e pouquíssimos aposentados. Dessa forma, muitos pagavam para poucos e a contribuição per capita era muito pequena. Essa realidade não é mais atual, e o problema do envelhecimento da população só agrava a situação. Na verdade, os sistemas de aposentadorias no mundo todo passam por sérios desafios em consequência desseenvelhecimento. Isso não aconteceria se, desde o começo, fosse adotado o regime de capitalização. Solução para o problema: os governos calcularem o passivo atuarial, ou seja, o VPA dos benefícios a pagar menos o VPA das contribuições a receber, e aportarem o valor desse passivo. Uma vez feito isso, cada trabalhador e aposentado teria sua própria conta individual com a sua reserva. No caso dos trabalhadores, suas contribuições acumulariam com as reservas até o momento da aposentadoria, quando os benefícios seriam pagos dessa reserva. Parece simples do ponto de vista matemático, mas para os governantes é mais fácil empurrar o problema para o governo seguinte. Características do regime de repartição simples: • Prêmios (pagamentos) variáveis; • Não há constituição de reserva matemática. 6. (Analista Técnico – SUSEP – 2001 – ESAF) Sob o prisma atuarial, um Seguro contra o risco de morte, elaborado segundo o Regime de Capitalização e com prêmio parcelado (fracionado), terá a seguinte evolução: A) Prêmio inicialmente previsto como constante ao longo do tempo; Com constituição de Reserva ou Provisão Matemática de Benefícios Concedidos; Prêmio mais baixo em relação aos Seguros elaborados em outros regimes financeiros – Repartição. B) Prêmio inicialmente previsto como progressivamente decrescente ao longo do tempo; Sem constituição de Reserva ou Provisão Matemática de Benefícios a Conceder; Prêmio mais baixo em relação aos Seguros elaborados em outros regimes financeiros – Repartição. C) Prêmio inicialmente previsto como constante ao longo do tempo; Com constituição de Reserva ou Provisão Matemática de Benefícios a Conceder; Prêmio mais elevado em relação aos Seguros elaborados em outros regimes financeiros – Repartição. Página 18 de 21 André Cunha http://www.pontodosconcursos.com.br SUSEP 2010 D) Prêmio inicialmente previsto como progressivamente crescente ao longo do tempo; Sem constituição de Reserva ou Provisão Matemática de Benefícios Concedidos ou a Conceder; Prêmio mais elevado em relação aos Seguros elaborados em outros regimes financeiros – Repartição. E) Prêmio inicialmente previsto como progressivamente crescente ao longo do tempo; Com constituição de Reserva ou Provisão Matemática de Benefícios a Conceder; Prêmio mais elevado em relação aos Seguros elaborados em outros regimes financeiros – Repartição. Resolução O problema compara o regime de capitalização com o de repartição simples. O enunciado fala em prêmio fracionado, mas entendemos como em oposição ao prêmio único. Sendo anual ou pago k vezes ao ano, a análise será idêntica. O seguro é contra o risco de morte. Seria da família do Ax. Vimos que os prêmios para esse seguro são constantes ao longo do tempo. Eliminamos as opções B, D e E. No regime de capitalização sempre são constituídas reservas. Como este caso se trata de seguro de vida, a reserva é de benefícios a conceder.8 Dessa forma sobrou só a letra C. Mas vamos analisar a última informação. Como no regime de capitalização são constituídas reservas, os prêmios pagos inicialmente servem para cobrir o risco de morte e para formar a reserva. Já no regime de repartição simples, como não há constituição de reservas, o prêmio sempre pagará somente o risco de morte. Dessa forma, os prêmios no regime de capitalização são, inicialmente, mais elevados que os do regime de repartição simples. Posteriormente essa situação se inverte: os prêmios pagos no regime de capitalização vão ser somados às reservas para o pagamento dos benefícios. Assim, numa fase posterior, os prêmios no regime de capitalização são mais baixos que os do regime de repartição simples. Podemos tentar entender o IBA como tendo associado a palavra “evolução” ao período inicial de pagamentos. Pode até ser. Objetivamente falando, a opção C já estava definida. Faltam 10 dias 8 Caso se tratasse de um benefício de pensão que está sendo pago, a reserva seria de benefícios concedidos. Página 19 de 21 André Cunha http://www.pontodosconcursos.com.br SUSEP 2010 para a prova. Não devemos perder nosso tempo com questões mal formuladas. O negócio é chegar na resposta. GABARITO: C 7. (Analista Técnico – SUSEP – 2002 – ESAF) Sob o enfoque atuarial, um seguro contra o risco de morte, para uma pessoa de idade x, elaborado à taxa de risco e com prêmios anuais, terá seu prêmio previsto evoluindo de forma: A) constante ao longo do tempo; com constituição de Reserva ou Provisão Matemática de Benefícios a Conceder; e Prêmio inicialmente mais baixo em relação aos Seguros elaborados em outros regimes financeiros – Capitalização. B) progressivamente decrescente ao longo do tempo; com constituição de Reserva ou Provisão de Riscos Não Expirados; Prêmio inicialmente mais alto em relação aos Seguros elaborados em outros regimes financeiros – Capitalização. C) constante ao longo do tempo; com constituição de Reserva ou Provisão de Riscos Não-Expirados; Prêmio aos mesmos níveis dos Seguros elaborados em outros regimes financeiros – Capitalização. D) progressivamente crescente ao longo do tempo; com constituição de Reserva ou Provisão Matemática de Benefícios a Conceder; Prêmio inicialmente mais baixo em relação aos Seguros elaborados em outros regimes financeiros – Capitalização. E) progressivamente crescente ao longo do tempo; sem constituição de Reserva ou Provisão Matemática de Benefícios Concedidos ou a Conceder; Prêmio inicialmente mais baixo em relação aos Seguros elaborados em outros regimes financeiros – Capitalização. Resolução A chave para resolver a questão é a expressão do enunciado “elaborado à taxa de risco”. Isso significa que os prêmios são pagos pelo regime de repartição simples, que ele compara com o regime de capitalização. Essa questão então é o espelho da anterior. Assim, os prêmios no regime de repartição simples serão: • Crescentes ao longo do tempo, pois paga exatamente o risco do ano e o risco de morte só aumenta com o tempo; • Sem constituição de reserva; Página 20 de 21 André Cunha http://www.pontodosconcursos.com.br SUSEP 2010 • Prêmios mais baixos, inicialmente, em relação aos pagos no regime de capitalização. GABARITO: E 6.3. Repartição de capitais de cobertura Este regime é muito parecido com o regime de repartição simples. A única diferença é que no regime de repartição de capitais de cobertura (RCC) é constituída reserva. Esta reserva, a cada período, deve ser suficiente para pagar os benefícios que são concedidos no próprio período. Exemplificando, quando uma pessoa se aposenta, é montada uma reserva para o pagamento de todos os seus benefícios. 8. (Analista Técnico – SUSEP – 2006 – ESAF) Uma pessoa de idade x deseja contratar um Plano Individual de Pensão Anual para seu cônjuge e filhos; a formulação para determinação do xP da idade de contratação, no regime de Repartição de Capitais de Cobertura, é dado por: A) )12(11/11/ )( Raaq znyx +−+ + &&&& B) Raaq zzyx )( 124/11/ +−+ + C) Raaq zzyzx )( 24//24 −− + D) xzyx ERaaq 11124/ )( ×+ +− &&&& E) )12(24/ )( Raaq zzyx &&&& −+ Resolução Na Aula passada resolvemos uma questão da ESAF (CGU-2008, exercício de fixação n. 3), e eu julgava que a banca não poderia fazer pior. Ledo engano. Mais uma vez, nada é definido. O enunciado deveria definir: • Se os pagamentos são antecipados ou postecipados; • Quem são (y) e (z); • Quantos filhos; Página 21 de 21 André Cunha http://www.pontodosconcursos.com.br SUSEP 2010 • Em que período serão pagos os benefícios (se até os 24 anos do filho, por exemplo).Entendemos que a questão pede o valor da reserva a ser constituída imediatamente. O importante é chegar na letrinha que a ESAF quer, OK? Como nada foi definido, vou usar uma dose de bom senso para chegar na resposta mais provável. Isso não é matemática, é sobrevivência. Primeiro ponto: No RCC, a reserva constituída deve ser suficiente para pagar os benefícios que são concedidos no próprio período. Mas não sabemos se no período de um ano esse benefício será concedido. Isso só ocorrerá se (x) morrer, com probabilidade qx. Somente se ele morrer é que será montada a reserva, e não antes, como disse o problema. Entretanto, isso não nos prejudica, pois todas as opções contêm qx na resposta. Num caso como esse, não tem jeito: tem de analisar opção por opção e procurar algum sentido em alguma delas. A) VPA de duas anuidades, uma paga durante um ano e outra durante n-1 anos. Não faz muito sentido para cônjuge e filho(s). B) VPA de duas anuidades, uma paga durante um ano e outra até uma pessoa de idade z+1 completar 25 anos. Continua Mandrake. C) VPA de duas anuidades, uma paga a (z) até ela completar 24 anos ( zz a−24/ ) e outra paga a (y) após (z) completar 24 anos )( /24 yz a− . Bom, isso faz sentido. Uma pensão paga ao filho (z) até seus 24 anos, quando o benefício reverte para a mãe (y). Tudo isso multiplicado por R, que no caso é a renda anual paga. D) VPA de renda imediata multiplicado por 1Ex? Isso não faz sentido. E) VPA de duas anuidades, uma paga a (z) até ela completar 24 anos ( zz a&&−24/ ) e outra paga a (y) vitaliciamente. Também faz sentido. O que não faz sentido é a multiplicação por um fator )12(R , normalmente usado pela ESAF para designar rendas mensais, quando o enunciado diz que a pensão é anual. Do exposto, eu marcaria o item C, que também é o que consta do gabarito oficial. Não discuta com a banca, é o princípio básico. A questão pode ser mal formulada, mas o que queremos é só ganhar os pontos. GABARITO: C
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