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COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO (COMPLETO)


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COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO 2
RECORDANDO NOSSA LÍNGUA (8) - ORTOGRAFIA, VERBOS ETC...
Divergência
“A opinião dos advogados de defesa do réu deferiu sobre o encaminhamento do processo criminal.”
O verbo “deferir” não é o adequado.
OBSERVE: deferir – atender a algo que é requerido ou pedido, enquanto, diferir – divergir
Frase correta: A opinião dos advogados de defesa do réu diferiu sobre o encaminhamento do processo criminal.
Imprevisibilidade
As obras de prevenção a acidentes foram suspensas sine die.
A expressão latina sine die é comum, isto é, já faz parte do nosso linguajar e quer dizer: sem dia marcado para recomeçar.
 Você precisa saber
Quando os prefixos pre e pos são átonos( não são acentuados) não admitem o uso do hífen.
Já os prefixos PRÉ e PÓS acentuados exigem o uso do hífen.
Exemplo: O professor do curso de pós-graduação recomendou que os alunos lessem o posfácio de um livro.
Rapaz esforçado
“João fez o curso de Medicina a custa de muito sacrifício.”
A expressão “a custa de”, sem o acento grave indicativo de crase está errada.
Frase correta: João fez o curso de Medicina à custa de muito sacrifício.
Caso perdido
“O diretor foi obrigado, a pagar a custa do processo.”
A palavra “a custa” só pode ser usada no plural: as custas e significa os gastos feitos em processo judicial.
Período correto: O diretor foi obrigado, a pagar as custas do processo.
Mau retorno
“A jovem voltou à casa mais cedo porque estava indisposta.”
Observe: neste caso não houve a fusão de a (preposição) +a (artigo definido). O a antes de casa é apenas preposição. Voltou para casa. Veio de casa.  Porém, em se tratando da própria casa ou de outrem, mas trazendo qualquer elemento, há fusão da preposição com o artigo e a crase será necessária. Voltou à casa de praia, herança de seus pais.
Período correto: A jovem voltou a casa mais cedo porque estava indisposta.
 Selvageria
Atualmente são muito poucos os aborígines que vivem no nosso país.
Aborígines ou aborígenes? Tanto faz! Os dois termos estão corretos e significam indígenas, habitantes primitivos de um país. 
Problema dermatológico
“A eczema do rosto da criança não melhorou.”
A palavra “eczema”. é masculina: o eczema.
Período correto: O eczema do rosto da criança não melhorou.
Profissional relapso
“O gerente tergiverça nos assuntos sérios.”
Este verbo não deve ser escrito com “ç” e sim com s: tergiversar, que significa, em sentido figurado, ser evasivo, torcer a realidade dos fatos.
Frase correta: O gerente tergiversa nos assuntos sérios.
Faltosos
 Uma e outra aluna erraram o trabalho passado pelo professor.
A expressão uma e outra admite o verbo no plural, o que é mais usual, mas no singular também está certo.  Observe no singular - Uma e outra aluna errou o trabalho passado pelo professor.
Sem presença
“Um ou outro jovem participarão do Encontro de Jovens.”
A expressão um ou outro exige o verbo no singular e fica fácil de se entender o porquê, pois o ou mostra que apenas uma pessoa participará.
Período correto: Um ou outro jovem participará do Encontro de Jovens.
Elogio infeliz
O colega querendo agradar o estilo de se vestir de sua companheira de trabalho, disse que ela tem um jeito hodierno de ser. A moça pareceu ofendida, pensando que hodierno era algum nome feio, até mesmo um palavrão. Coitado! Ele quis falar difícil, hodierno é sinônimo de moderno, atual, relativo aos dias de hoje. 
Torcida organizada
“Um grupo de rapazes torceu para o BOTAFOGO.”
O verbo torcer no sentido de torcedor não aceita a preposição “para” e sim a preposição por e todas as suas variações (pelo, pela, pelos e pelas).
Frase correta: Um grupo de rapazes torceu pelo BOTAFOGO.
Abandono
“Um bebê não deve ficar a só.” 
Observe: a locução adverbial é a sós, não admitindo outra forma, pois é invariável. 
Frase correta: Um bebê não deve ficar a sós.
Diretor exigente
“O diretor da faculdade vive elocubrando meios de incentivar seus alunos.”
O verbo “elocubrar” não consta do Vocabulário Ortográfico de Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras. Prefira o verbo elucubrar, que é sinônimo de lucubrar que significam meditar, trabalhar durante a noite.
Período correto: O diretor da faculdade vive elucubrando meios de incentivar seus alunos.
RECORDANDO NOSSA LÍNGUA (9) - TAUTOLOGIA
Tautologia é o termo usado para definir um dos erros, mais comuns de linguagem. Consiste na repetição de uma ideia, de maneira viciada, com palavras diferentes, mas com o mesmo sentido.  O exemplo clássico é o famoso 'subir para cima' ou o 'descer para baixo'. São redundâncias.
Entretanto, há outros, como  poderá ver na lista a seguir:
	  - elo de ligação
- acabamento final 
- certeza absoluta 
- nos dias 8, 9 e 10, inclusive 
- juntamente com... 
- em duas metades iguais 
- sintomas indicativos 
- demasiadamente excessivo 
- a seu critério pessoal 
	- vereador da cidade 
- outra alternativa 
- detalhes minuciosos 
- anexo junto à carta 
- de sua livre escolha 
- superávit positivo 
- todos foram unânimes 
- encarar de frente 
- há anos atrás  - usa-se: há anos  ou  anos atrás
	- conviver junto  - fato real 
- multidão de pessoas 
- amanhecer o dia
- anoitecer a noite 
- criação nova 
- retornar de novo 
- empréstimo temporário 
- surpresa inesperada 
- exceder em muito
- pequena minoria 
	- escolha opcional 
- planejar antecipadamente 
- abertura inaugural 
- continua a permanecer 
- a última versão definitiva 
- gritar bem alto 
- propriedade característica  
- grande maioria
RECORDANDO NOSSA LÍNGUA (10) - MODO IMPERATIVO
Usado no sentido de dar ordem. O modo imperativo é composto pelos Tempos: afirmativo e negativo,
Imperativo afirmativo
Forma-se o imperativo afirmativo do presente do indicativo e do presente do subjuntivo. Tu e vós do presente do indicativo, sem o S. As demais pessoas, do presente do subjuntivo, que são: nós, você  e vocês. Exemplos de verbos conjugados no  imperativo afirmativo:
	Tem tu (tens sem o S, PI)
Tenha você (PS)
Tenhamos nós ( PS)
Tende vós (tendes sem o S, PI)
Tenham vocês (PS)
	Corre tu
Corra você
Corramos nós
Correi vós
Corram vocês
	Põe tu
Ponha você
Ponhamos nós
Ponde vós
Ponham vocês
	Fala tu
Fale você
Falemos nós
Falai vós
Falem vocês
	Parte tu
Parta você
Partamos nós
Parti vós
Partam vocês
Imperativo negativo
Forma-se o imperativo negativo SÓ do presente do subjuntivo mais a partícula NÃO 
Exemplos de verbos conjugados no imperativo negativo
	Não tenhas tu
Não tenha você
Não tenhamos nós
Não tenhais vós
Não tenham vocês
	Não corras tu
Não corra você
Não corramos nós
Não corrais vós
Não corram vocês
	Não ponhas tu
Não ponha você
Não ponhamos nós
Não ponhais vós
Não ponham vocês
	Não fales tu
Não fale você
Não falemos nós
Não faleis vós
Não falem vocês
	Não partas tu
Não parta você
Não partamos nós
Não partais vós
Não partam vocês
Exceção na formação do modo imperativo afirmativo  - verbo ser: sê tu - seja você - sejamos nós - sede vós - sejam vocês
PALAVRAS HOMÔNIMAS OU HOMÔNIMOS / PALAVRAS PARÔNIMAS OU PARÔNIMOS
Palavras HOMÔNIMAS OU HOMÔNIMOS
Quando duas ou mais palavras têm o mesmo som ou a mesma grafia, mas significados diferentes.
HOMÔNIMOS HOMÓFANOS - palavras com o mesmo som e significados diferentes 
             EXEMPLOS: concerto(de música) /conserto(arrumar alguma coisa)
                               calda(xarope) / cauda(rabo)
                               censo(recenseamento) / senso( juízo claro, raciocínio)
                               bucho(estômago) / buxo(arbusto)
                               estrato(tipo de nuvem) / extrato(resumo, essência)   
HOMÔNIMOS HOMÓGRAFOS - palavras com a mesma grafia e significados diferentes 
              EXEMPLOS:  manga(fruta)/ manga( de camisa) / manga(do lampião)
PALAVRAS PARÔNIMAS OU PARÔNIMOS
Quando duas ou mais palavras têm grafia e pronúncia parecidas, mas significados diferentes
              EXEMPLOS: amoral( sem moral,indiferente à moral) / imoral( contra a moral, devasso)
                                pleito(disputa) / preito(homenagem)
                                vultoso(volumoso, enorme) / vultuoso( vermelho, inchado)
                                sustar(suspender) / suster(sustentar)
VERBOS A SEREM ESTUDADOS
VERBOS  REGULARES: 1ª, 2ª e 3ª conjugações.
VERBOS AUXILIARES: ser, estar, ter e haver, que são verbos irregulares.
VERBOS IRREGULARES: vir, ver, querer, poder, haver, trazer, dizer, caber, ser, estar, ter, enxergar, ir, chegar, fazer e dar.
RECORDANDO NOSSA LÍNGUA (13) - VERBOS ABUNDANTES
São aqueles que têm duas ou mais formas, geralmente de PARTICÍPIO.
Observem: a primeira forma é a regular e a segunda é a irregular.
Alguns exemplos, dentre inúmeros:
	aceitar - aceitado e aceito
acender - acendido e aceso
benzer - benzido e bento
corrigir - corrigido e correto
desenvolver - desenvolvido e desenvolto
dispersar - dispersado e disperso
eleger - elegido e eleito
	emergir - emergido e imerso
encher - enchido e entregue
entregar - entregado e entregue
envolver - envolvido e envolto
exprimir - exprimido e expresso
extinguir - extinguido e extinto
fixar -  fixado e fixo
	fritar - fritado e frito
ganhar - ganhado(em desuso) e ganho
gastar - gastado(em desuso) e gasto
imergir - imergido e imerso
imprimir - imprimido e impresso
juntar - juntado e junto
limpar - limpado e limpo
	malquerer - malquerido e malquisto
matar - matado e morto
morrer - morrido e morto
omitir - omitido e omisso
pagar - pagado(em desuso) e pago
pegar - pegado e pego
prender - prendido e preso
	romper - rompido e roto
salvar - salvado e salvo
secar - secado e seco
submergir - submergido e submerso
suspender - suspendido e suspenso
tingir - tingido e tinto
vagar - vagado e vago     
RECORDANDO NOSSA LÍNGUA (14) - USO DE: atrás, traz, E trás
O vocábulo ATRÁS remete a outros dois, esses sim, homônimos: TRÁS e TRAZ.
Enquanto ATRÁS não necessita de auxílio para sua significação, pois é um advérbio de lugar e indica o que não está à frente, os dois vocábulos causam certo desconforto a alguns usuários da língua já que são confundidos na escrita constantemente.
O termo TRÁS é um monossílabo terminado em A, seguido de S e por isso pede acento agudo para marcar sua tonicidade. Morfologicamente é classificado como preposição e advérbio e não é mais empregado isoladamente na língua. 
O que está por TRÁS de suas palavras? | Não deixe nada para TRÁS.
Já o vocábulo TRAZ é oriundo do verbo trazer que, conjugado no presente do modo indicativo, na terceira pessoa do singular, resulta nesta formação: Ele TRAZ a roupa todos os dias para lavar aqui.
ATRÁS de um bom exemplo há sempre uma boa explicação que TRAZ a ideia de que tudo o que há por TRÁS da língua não é mera suposição.
RECORDANDO NOSSA LÍNGUA (15) - CACÓFATO
Quando a última sílaba de uma palavra (ca)ou a própria palavra com a palavra seguinte(dela) formam uma palavra chula ou feia tem-se o que se chama um CACÓFATO.
Outros exemplos. 
Eu vi ela no cinema.
Ele ficou zangado por cada coisa que a namorada lhe disse.
Evite escrever ou falar, formando CACÓFATOS.
A língua portuguesa agradece.
RECORDANDO NOSSA LÍNGUA (16) - CRASE
Crase não é acento. O ACENTO GRAVE é o indicativo de Crase
Crase é a fusão da PREPOSIÇÃO a com o ARTIGO DEFINIDO SINGULAR a ou PLURAL as = à / às
Não se admite o uso da Crase:
Diante de palavras masculinas
Ex.: Entrega a domicílio. (entrega em domicílio ou entrega domiciliar) / Graças a DEUS!
Antes de Verbo
Ex.: Estou disposto a fugir. /Estou disposto a fazer o exercício. / A partir de hoje.
Antes de pronomes de tratamento
Ex.: Enviarei tudo a Vossa Senhoria. / Darei a V.Excia todas as informações.
Antes de pronomes: indefinidos, pessoais do caso reto e oblíquo e demonstrativos( à exceção de àquele e àquela)
Observação: antes de pronomes possessivos o uso da crase é facultativo
Ex.: Disse isto a todas as pessoas.	/ A ninguém contou a verdade. / A ela ninguém respeitava.
Vive a me perguntar sobre tudo.
Antes de numerais ( à exceção de horário)
Ex.: Obras a 100 m ./ O cantor se apresentou a 2.500 pessoas.
Antes de locuções adverbiais repetidas, tais como: cara a cara, gota a gota, de ponta a ponta etc .
RELAÇÃO DAS PREPOSIÇÕES ESSENCIAIS
a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, per, perante, por, sem, sob, sobre, trás. 
RECORDANDO NOSSA LÍNGUA (17) - PRONOMES PESSOAIS 
Os pronomes pessoais são:
do caso reto: eu, tu, ele ou ela, nós, vós, eles  ou elas
 do caso oblíquo: me, mim, comigo; te, ti, contigo; o, a, lhe, se, si, consigo; nos, conosco; vos, convosco; os, as, lhes, se, si, consigo
 de tratamento: são todos da 3ª pessoa – você, senhor, Ilustríssimo Senhor - Ilmo.Sr. etc  
 Lembrete: não admitem o sinal indicativo de crase antes deles.
RECORDANDO NOSSA LÍNGUA (18) - HIPERÔNIMOS E HIPÔNIMOS 
Semântica – é a área da linguística que se ocupa com o estudo do significado das palavras.
HIPERÔNIMOS - são palavras no sentido genérico.
                          fruta é hiperônimo de mamão, banana, laranja etc;
                          comida é hiperônimo de bife, feijão, batata frita etc;
                         doença é hiperônimo de gripe, catapora, sarampo etc .
 
HIPÔNIMOS - são palavras com sentido específico.
                       azul e branco são hipônimos de cor;
                       braços e pernas são hipônimos de corpo;
                       uva, pera e maçã são hipônimos de fruta.
COERÊNCIA / TEXTO PARA LER E ESTUDAR
Assim como as palavras se organizam na oração, as orações também se organizam no período, por processos de subordinação e coordenação.
Conforme afirma o Mestre Othon Garcia (1992), “nossa liberdade de construir frases está, assim, condicionada a um mínimo de gramaticalidade — que não significa apenas nem necessariamente correção (há frases que, apesar de, até certo ponto, incorretas, são plenamente inteligíveis)”. E acrescenta que, desprovidas da articulação sintática necessária, não há frase, há somente um agrupamento de palavras sem sentido. Observe. “O estamos notável disse escritor grunhido de ao que volta português.” 
É claro que não há sentido em tal agrupamento. Faz-se necessária a organização de tal agrupamento de palavras. Assim: “O notável escritor português disse que estamos de volta ao grunhido”.
Entretanto, esse autor adverte que: “não basta que a frase seja gramatical para ser inteligível: importa, ainda, que ela preencha outras condições (...); importa, enfim, que ela, além da condição de gramaticalidade” exclua a ambiguidade, exclua as tautologias nulificadoras de significado, ou seja, as repetições desnecessárias, exclua as incoerências semânticas, revele conformidade com a experiência geral de uma dada comunidade cultural e que não seja caótica na sua estrutura.
Vamos dialogar com o mestre, a fim de tornar claras as afirmações?  Em primeiro lugar, qual o significado de “exclua a ambiguidade”?.
Observe a frase abaixo. O professor magoado saiu da sala. O “professor magoado” ou “o professor saiu magoado”? E quanto à segunda afirmação: “exclua as tautologias nulificadoras”. 
Tautologia é a repetição de ideias com palavras distintas, às vezes, expressões distintas; nulificadoras, que tornam nulas.  Assim, temos: sair para fora, entrar para dentro, antecipar para antes, conviver juntos, criar novos, sentidos pêsames, emulsão de óleo, adiar para depois, entre outros. Observe: se vai sair, só pode ser para fora de algum lugar; se vai entrar, vai entrar em algum lugar; se vai antecipar, é porque já é antes; se vai conviver, só pode ser junto de alguém; se vai criar, é porque é novo; se você deseja expressar os seus sentimentos, é com pesar, então, use as expressões “meus sentimentos” ou “meus pêsames”; emulsão: só pode ser de óleo, não há emulsão com água; se vai adiar, só pode ser para depois, nunca adiar para “ontem”;  e assim por diante. A compreensão somente ocorre quando hácoerência, que é o resultado da articulação das ideias no texto, veiculando sentidos para o receptor. Primeiramente, vejamos as definições da palavra “coerência”, encontradas em dois dicionários.
  • Coerência s.f. 1. Qualidade, estado ou atitude de coerente. 2. Harmonia, entre ideias ou acontecimentos. (Aurélio)
• Coerência s.f. Do latim cohaerente 1. Qualidade ou estado do que é coerente; conformidade, harmonia entre dois fatos ou ideias; nexo; conexão; (fís.) aderência recíproca entre as moléculas de um corpo. (Dicionário Brasileiro Globo)
Em diálogo com as definições e ligando-as ao nosso assunto, podemos perceber que o conceito está ligado à existência de conexão, de sentido entre ideias. Para corroborar tal afirmação, apresentamos as palavras de Tiski-Franckowiak (2008, p. 87):  (...) a compreensão do todo envolve processos mentais, elos que relacionam os fatos, ou seja, elementos que relacionam e interligam os fatos. Segundo essa autora, o processo de compreensão das relações entre os elementos de uma gestalt se inicia com um insight, que significa aquele “heureca!” ou “achei!”. O insight é aquele estalo que, de repente, acontece, e o sujeito pode até dizer, numa linguagem informal, que “caiu a ficha”. Para que ocorra o insight, é necessária a presença de elementos suficientes no campo externo (Op. Cit., 2000, p. 87). De acordo com essa pesquisadora, “o ser humano tende naturalmente para a complementação e a organização das coisas incompletas, busca o equilíbrio das formas perfeitas (Op. Cit., p. 87)".  Nesse momento, à procura de organização e de compreensão, o receptor da mensagem busca a coerência, busca explicação, busca sentidos. Em se tratando de textos escritos, que será o nosso objeto de estudo, cabe lembrar que o produtor da mensagem pode não conseguir realizar as articulações entre os elementos da mensagem de maneira coerente. Nesse sentido, a seguir, discutimos os problemas de coerência textual. Van Dijk e Kintsch, citados por Koch e Travaglia (2002, p. 42), apontam diversos tipos de coerência. Para explicar o que foi dito, apresentamos os tipos de coerência com exemplos, fornecidos por Koch e Travaglia (2002, p. 43) — dois pesquisadores que mais entendem desse assunto no país. 
a) Coerência semântica — é a que se refere à relação existente entre os significados dos elementos das frases em sequência em um texto ou entre os elementos do texto em sua totalidade. Exemplo: “A frente da casa de vovó é voltada para o leste e tem uma enorme varanda. Todas as tardes ela fica na varanda em sua cadeira de balanço apreciando o pôr do sol.” Observe que a posição da frente da casa — a varanda — está voltada para o local onde o sol nasce (leste). A seguir, o autor da mensagem informa que, à tarde, a vovó gosta de ficar na varanda apreciando o poente (oeste). Ora, se a varanda é voltada para o leste... Portanto, não há coerência se não existir relação entre os elementos do texto em sua totalidade.
b) Coerência sintática — é a que se refere aos meios sintáticos para expressar a coerência semântica. Os meios sintáticos para expressar a coerência semântica são, por exemplo, os conectivos, o uso de pronomes, entre outros.   Exemplo: “A felicidade, onde não existem técnicas científicas para sua obtenção, faz-se de pequenos fragmentos captados de sensíveis expressões vivenciais (...)” (Koch e Travaglia) Observe que a utilização de “onde” causa a incoerência sintática. Para tornar o trecho coerente, é preciso reconstruí-lo.
 “A felicidade, para cuja obtenção não existem técnicas científicas, faz-se de fragmentos captados de sensíveis expressões vivenciais.” Outros exemplos fornecidos por Kock e Travaglia (202, p. 42):
a) “João foi à festa, todavia porque não fora convidado.” 
b) ”João foi à festa, todavia ele não fora convidado.” No primeiro exemplo (a), observe que não há continuidade da ideia. Com a utilização de “todavia”, espera-se a continuação da ideia, que não é apresentada. No segundo exemplo (b), o texto é coerente, pois toda a ideia é apresentada pelo produtor do trecho.  Kock e Travaglia (2002, p. 44) salientam que “a coerência sintática nada mais é do que um aspecto da coesão que pode auxiliar no estabelecimento da coerência”.
c) Coerência estilística  —  o produtor da mensagem deve usar em seu texto elementos linguísticos, isto é, léxico, tipos de estruturas, frases etc,  que pertençam ao mesmo estilo ou registro linguístico. No entanto, o uso de estilos diversos parece não criar problemas para a compreensão. Esses autores (Op. Cit., 2002, p. 45) afirmam que, na verdade, “esta é uma noção que tem utilidade na explicação de quebra estilística”. E exemplificam o caso com o uso de gírias em textos acadêmicos, sobretudo orais, e com o uso de expressões de ressalvas antes de anunciar o que se deseja, com expressões como “se me permitem o termo”, para usar expressão popular que bem expressa isso, “com o perdão da palavra”, entre outros. Observe o exemplo fornecido por esses autores em que há uma incoerência estilística inaceitável pelas normas sociais; entretanto, não é problemática do ponto de vista do estabelecimento de sentido, caso a intenção do produtor da mensagem fosse a de irreverência ou de não respeito ao sentimento do receptor. Exemplo Prezado Fulano, neste momento, quero expressar meus profundos sentimentos por sua mãe ter batido as botas.
d) Coerência pragmática — relaciona-se com o texto visto como uma sequência de atos da fala. Tais atos devem satisfazer as mesmas condições “presentes em uma dada situação comunicativa”. Caso contrário, temos incoerência (Op. Cit., 2002, p. 46). Observe o exemplo fornecido por esses autores. Se um amigo faz um pedido a outro, pode-se esperar a seguinte sequência de atos:
• pedido/atendimento;
• pedido/promessa;
• pedido/jura;
• pedido/solicitação de esclarecimento;
• atendimento ou promessa;
• pedido/recusa/justificativa;
• pedido/recusa.
E não sequências, como:  • pedido/ameaça; • pedido/declaração de algo que não se relaciona com o pedido. Caso sejam apresentadas essas últimas sequências, vistas como incoerentes, o autor do pedido, provavelmente, pode pedir esclarecimentos e considerar a fala do outro como recusa ou descaso, entre outras possibilidades — acrescentam esses autores. Exemplo: a) Você não vai ao Rock in Rio?
              b) Eu entrei na página e deixei o comentário sobre o texto.  Como nos alertam Koch e Travaglia (2002, p. 46), vale lembrar que:  a coerência é um fenômeno que resulta da ação conjunta de todos esses níveis e de sua influência no estabelecimento do sentido do texto, uma vez que a coerência é, basicamente, um princípio de interpretabilidade do texto, caracterizado por tudo de que o processo aí implicado possa depender, inclusive a própria produção do texto, na medida em que o produtor do texto quer que seja entendido e o constitui para isso, excetuadas situações muito especiais.
COESÃO TEXTUAL / TEXTO PARA LER E ESTUDAR
Os urubus e os sabiás “(1) Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... (2) Os urubus, aves por natureza ‘becadas’, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza, eles haveriam de se tornar grandes cantores. (3) E para isto fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir diplomas, e fizeram competições entre si, para ver quais deles seriam os mais importantes e teriam a permissão de mandar nos outros. (4) Foi assim que eles organizaram concursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamavam por Vossa Excelência. (5) Tudo ia muito bem até que a doce tranquilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. (6) A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas com os sabiás... (7) Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa, e eles convocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito. (8) “-Onde estão os documentos dos seus concursos?” (9) E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvesse. (10) Não haviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. (11) E nunca apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam simplesmente... (12) – Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem. (13) E os urubus, uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás... (14) MORAL: Em terra de urubus diplomados não se ouve canto de sabiá.” (Rubem Alves. Estórias de Quem Gosta de Ensinar. ) “Um texto não é uma soma de sequência de frases isoladas.” Analisando o texto de “Os urubus e os sabiás”.
1. “Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam...” Que tudo é esse? O que foi que aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam?
2. “E para isto fundaram escolas...” Isto o quê? De que se está falando? Qual o sujeito dos verbos fundaram, importaram, gargarejaram, mandaram, fizeram? É o mesmo de teriam?
3. Fala-se em quais deles. Deles quem? E quem são os outros?
4. Qual o referente de eles em (4)?
5. Tem-se novamente a palavra tudo: (5) “Tudo ia muito bem...”Esta segunda ocorrência do termo tem o mesmo sentido da primeira?
6. A quem se refere o pronome eles (7)?
7. E o pronome possessivo seus (8)?
8. Quais são as pobres aves de que se fala em (9)? E as tais coisas?
9. E elas, em (10), refere-se a pobres aves ou a tais coisas?
10. De que passarinho se fala em (13)?
“Se tais perguntas são facilmente respondidas, é porque os termos em questão são elementos da língua que têm por função estabelecer relações textuais: são recursos de coesão textual.” Outro grupo de palavras que tem como função assinalar determinadas relações de sentido entre os enunciados ou partes de enunciados: mas – oposição ou contraste mesmo – oposição ou contraste para – finalidade, meta foi assim que e E (7) – consequência até que – tempo E (11) – adição de argumentos ou ideias porque – explicação, justificativa           Coesão Textual - Teoria I. Coesão por retomada ou por antecipação 1. Retomada ou antecipação por uma palavra gramatical (pronomes, verbos, numerais, advérbios) “Eu darei sempre o primeiro lugar à modéstia entre todas as belas qualidades. Ainda sobre a inocência? Ainda, sim. A inocência basta uma falta para a perder; da modéstia só culpas graves, só crimes verdadeiros podem privar.
Um acidente, um acaso podem destruir aquela, a esta só uma ação determinada e voluntária.” (Almeida Garrett. Viagens na minha terra.) A palavra aquela retoma o substantivo inocência; o vocábulo esta recupera a palavra modéstia. Todos os termos a que servem para retomar outros são chamados de anafóricos. “Qualquer que tivesse sido seu trabalho anterior, ele o abandonara, mudara de profissão e passara pesadamente a ensinar no curso primário: era tudo o que sabíamos dele. O professor era grande, gordo e silencioso, de ombros contraídos.” (Clarice Lispector. A legião estrangeira.) O possessivo seu e o pronome pessoal reto de 3ª pessoa ele antecipam a expressão o professor. São ,pois  catafóricos. O pronome pessoal oblíquo o retoma a expressão seu trabalho anterior. É, então, um termo anafórico.
2. Retomada por palavra lexical (substantivos, verbos, adjetivos) Lia muito, toda espécie de livro. Policiais, então, nem se fala, devorava.
Elipse Na elipse, temos a retomada de um termo que seria repetido, mas que é apagado, por ser facilmente depreendido do contexto. “Itamar Franco era um homem feliz ao passar a faixa presidencial para Fernando Henrique Cardoso, mas estava tristonho ao acordar no dia seguinte. Já não era presidente da República desde 1º de janeiro e precisava deixar o Palácio do Jaburu (...) Calado, foi ao banheiro e embalou alguns objetos.” (Veja: 24, jan. 1995.) O sujeito do primeiro era é explicitamente mencionado, Itamar Franco. Os outros verbos do texto têm o mesmo sujeito. No entanto, ele vem elíptico, isto é, oculto.
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