Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Centro Universitário Estácio Juiz de Fora Curso de Psicologia Disciplina: Análise Experimental do Comportamento Título: Relátorio 2 Nome do autor 1: Douglas Danelon ( 201502183838 ) Nome do autor 2: Gustavo Aparecido Silva Souza ( 201501383299 ) Juiz de Fora Abril de 2016 Resumo A Análise Experimental do Comportamento consiste em fazer uma análise funcional, ou seja, entender um comportamento. Para este experimento do condicionamento operante o objetivo foi observar alguns fenômenos importantes para a psicologia, e para aprendizagem dos alunos. O método do comportamento operante trabalha por meio da modelagem, onde o comportamento é função das contingências a que o organismo está exposto, sendo assim, será possível ver o ambiente agindo no sujeito, ou seja, os eventos por meio de reforço e punição influenciando no comportamento do rato virtual através do programa do Sniffy Pro. O evento Reforçador segundo Skinner é tudo aquilo que aumenta a probabilidade de um comportamento ocorrer, sendo assim, foi possível modificar o comportamento do rato virtual, observar que no processo de modelagem ocorre a extinção operante, que se caracterizam pela diminuição da probabilidade da ocorrência de resposta devido a retirada de um reforçador, observar que um comportamento aumenta a freqüência de resposta quando é reforçado. Então com base no Condicionamento Operante behaviorista a prática do experimento foi realizada com êxito, observando-se os comportamentos apresentados pelo rato virtual. Sumário Resumo...........................................................................................02 Sumário...........................................................................................03 Introdução........................................................................................04 Método.............................................................................................05 Resultados......................................................................................6/7 Discussão....................................................................................7/8 Referencias bibliográficas..............................................................9 Anexos.............................................................................................9 Introdução O programa Sniffy Pro proporciona aos alunos um acesso prático aos principais fenômenos de condicionamento operante e clássico que os cursos de psicologia da Aprendizagem normalmente discutem, pois é uma maneira acessível de aprendizagem para os alunos e alguns comportamentos observados no rato virtual se assemelham em alguns contextos com o comportamento humano, porem o comportamento humano é de alta complexidade, essas comparações são feitas dadas as devidas proporções. Teremos alguns conceitos que serão discutidos no decorrer do relatório, conceiros como, pareamente de um estimulo condicionado com um estimulo incondicionado, reforço, modelagem, extinção e recuperação espontanea. Todos esses conceitos acima são observaveis nos seres humanos, lembrando que o relatorio é baseado em uma linha de psicologia comportamental, ou seja, os conceitos aqui discutidos aqui tem as suas bases no Behaviorismo, dando enfoque nos comportamentos operantes. É importante ressaltar que esses conceitos aqui discutidos são amplamente ultilizados em atendimentos clinicos, seja com pacientes fóbicos, seja com pessoas que fazem o uso abusivo de alcool ou outras drogas, e também na modelagem de algum comportamento em especifico que o paciente queira alcançar, sendo assim, podemos perceber que esses conceitos são de alta importância para a psicologia, visto que, implica diretamenta na melhoria de vida é também na saúde mental das pessoas que desfrutam deles. Ao falarmos dos resultados no relatòrio foi possivel relacionar algumas situações contextuais, onde o psicologo poderia atuar usando as tecnicas ou conceitos discutidos acima, tendo assim uma visão voltada para o trabalho do psicologo na clinica. Método Participantes Participaram do experimento os alunos do curso de psicologia e um professor da disciplina Análise Experimental do Comportamento do curso de psicologia. As idades dos participantes variaram entre 17 e 46 anos, e todos os alunos sem contato prévio com a situação experimental, sendo assim todos instruido pelo professor durante o experimento. Sujeito Foram utilizados ratos virtuais através de um programo do Sniffy no computador. Os animais foram mantidos dentro da caixa de Skinner individuais para cada dupla de alunos, podendo cada dupla manipular as variaveis dependente e independentes do rato por meio das opçoes que o programa oferecia. Ambiente, materiais e instrumentos O experimento foi feito em uma sala de aula, onde os materiais como caderno e caneta estavam a disposição para anotações durante o procedimento. O computador foi o instrumento utilizado para observação do comportamento do rato virtual no programa do Sniffy Pro. Procedimento Utlilizou-se um procedimento de análise experimental do comportamento. No experimento 1 houve o pareamento da barra com a comida, observamos uma tentativa de associação, quando o rato virtual pressionava a barra, era liberado um reforço, ou seja, a comida. No experimento 2 o reforço era liberado quando o rato se levantava na frente do comedouro ,nesse experimento o rato era reforçado apenas quando se erguia perto do comedouro, tentativas de 8 a 10 vezes rato levantar e pressionar a barra, e imediatamente liberar a comida. No experimento 3 pressionar a barra, nesse experimento o rato virtual era reforçado apenas quando pressionava a barra, fazendo assim um processo de extinção. Sendo assim a modelagem estava instaurada no rato virtual. No Experimento 4 extinção, nesse experimento foi tirado o reforço quando o rato virtual pressionava a barra, diminuindo assim a probabilidade da resposta ocorrer. E no Experimento 5 recuperação espontânea ou recaída, o rato virtual foi retirado da caixa por 24 horas, e depois retornamos o rato para a caixa de Skinner, esperando assim que a recuperação espontânea de pressionar a barra viesse a ocorrer. Resultados Foram realizados alguns experimentos no programa Sniffy, ou seja, o rato virtual onde o comportamento do rato é aleatório com grande semelhança do rato real, nos experimento realizados foi possível observar alguns fenômenos importantes para a psicologia, e para aprendizagem dos alunos. Experimento 1 pareamento ou associação da barra com a comida: nesse experimento observamos uma tentativa de associação, quando o rato virtual pressionava a barra, era liberado um reforço, ou seja, a comida, quanto mais imediato for esse reforço, percebemos uma maior facilidade na aquisição da resposta desejada pelo pesquisador, que nesse caso seria pressionar a barra, basicamente esse processo é um pareamento entre um estimulo condicionado (barra) é um estimulo incondicionado (comida), porem observando mais amplamente visamos um processo de modelagem do comportamento. Experimento 2 o reforço era liberado quando o rato se levantava na frente do comedouro (continuação do processo de modelagem): nesse experimento o rato era reforçado apenas quando se erguia perto do comedouro, fazendo assim uma extinção de outros comportamento com a não liberação do reforço, sendo assim o rato caminha de maneira sucessiva perto do comedouro, sendo reforçado apenas o comportamento de erguer próximo ao comedouro, com a finalidade de pressionar a barra, continuando assim o processo de modelagem, que tem como conceito a aproximação sucessiva de um comportamento desejado, por meio de reforços, punições e extinção. Experimento 3 pressionar a barra: nesse experimentoo rato virtual era reforçado apenas quando pressionava a barra, fazendo assim um processo de extinção novamente de outros comportamentos, lembrando que o conceito de extinção seria, a diminuição da probabilidade de ocorrência de uma determinada resposta devido a retirada da ocorrência de um reforçador, sendo assim no processo de modelagem e necessário usar a extinção. Com isso, foi possível observar que rato virtual reforçado somente quando pressionava a barra, passou a caminhar sucessivamente mais perto da barra, sendo reforçada com comida toda vez que a pressionava, percebemos também uma diminuição no comportamento de se limpar. Sendo assim a modelagem estava instaurada no rato virtual, visto que, o rato pressionava a barra com grande freqüência, o comportamento que era o objetivo no inicio da modelagem foi alcançado. Experimento 4 extinção: nesse experimento foi tirado o reforço quando o rato virtual pressionava a barra, diminuindo assim a probabilidade da resposta ocorrer, como o conceito de extinção já foi dado anteriormente, podemos perceber que, tanto no processo de modelagem, quanto na diminuição da probabilidade do comportamento ocorrer a extinção pode ser usada, tendo resultados observáveis. Depois de certo tempo pressionando a barra sem obter o reforço, observamos que o rato virtual diminuiu em grande quantidade o comportamento de pressionar a barra, sendo assim, alcançamos a proposta da extinção do comportamento, lembrando que pro Behaviorismo um comportamento não e desaprendido totalmente, ele apenas diminui a sua freqüência, um exemplo disso e quando ocorre a recuperação espontânea, que é o tema do último experimento. Experimento 5 recuperação espontânea ou recaída: esse fenômeno tem como conceito o reaparecimento de uma determinada resposta que já foi condicionada anteriormente, depois de um período que o individuo ou animal ficou sem emitir essa resposta ou diminuiu a emissão dessa resposta. Nesse experimento o rato virtual foi retirado da caixa por 24 horas, e depois retornamos o rato para a caixa de Skinner, esperando assim que a recuperação espontânea de pressionar a barra viesse a ocorrer, esse fenômeno foi observado rapidamente quando o rato virtual foi inserido na caixa novamente, percebemos uma recuperação espontânea de pressionar a barra continuamente, porem, como o reforço (alimento) não era liberado, a freqüência da resposta teve uma diminuição novamente, lembrando que a recaída ou recuperação espontânea faz parte do processo de extinção, tendo uma importância clinica para o terapeuta entender o contexto e o momento no qual o indivíduo está vivendo. Discussão Com a leitura de alguns artigos e os estudos feitos em sala de aula e possível comprara alguns aspectos importantes dos experimentos, trazendo essa comparação para um contexto humanizado e clinico. No experimento 1 onde tivemos uma associação de um estimulo condicionado com um estimulo incondicionado, começando assim um processo de modelagem, podemos citar dois pontos importantes, primeiro a associação, que é feita pelos seres humanos continuamente, um exemplo disso seria as propagandas de cerveja, onde pareamos a cerveja com todos os estímulos de interesse que estão em volta, por exemplo alegria, mulher, sexualidade, lembrando que cada ser humano e único e interpreta de a propagando de uma forma individual, mas provavelmente a maioria das pessoas fazem esse tipo de pareamento. Um segundo ponto importante nesse contexto é a modelagem, os seres humanos também fazem com freqüência esse fenômeno, por exemplo, a relação de pais e filhos, geralmente os pais estão tentando modelar o comportamento da criança em vários momentos, usando punições e reforços para se chegar no comportamento de desejo. O experimento 2 faz parte do processo de modelagem no qual já conceituamos, outro fenômeno interessante que acontece no experimento 2, seria a extinção de alguns comportamento específicos para que se tenha novas aprendizagens, os seres humanos também fazer isso, muitas vezes sem ter essa percepção técnica, por exemplo em um relacionamento, quando um namorado(a) não quer que determinado comportamento ocorra, automaticamente ele(a) para de reforçar aquele comportamento, fazendo com que tenha uma diminuição na probabilidade daquele comportamento ocorrer. Falando sobre o experimento 3 podemos observar o êxito na modelagem, quando observamos que o rato virtual pressiona a barra continuamente, em um contexto de seres humanos, observamos isso na relação novamente de pais e filhos, quando um bebê começa a andar, provavelmente ele vai ser reforçado continuamente, ate que ele aprenda, tendo assim um êxito no processo de modelagem. Observando o experimento 4 podemos ver o fenômeno chamado extinção, esse conceito já foi falado anteriormente, para fazer um reforço do conceito podemos colocar um novo exemplo, que seria, em uma relação de dois irmãos, um deles tem um comportamento de gritar por exemplo, é o outro não reforça esse comportamento, sendo assim a probabilidade desse comportamento ocorrer vai diminuir, com o tempo provavelmente ele chegará a extinção. No experimento 5 foi observamos o processo de recuperação espontânea ou recaída, como o conceito desse fenômeno já foi falado anteriormente é possível discutir sobre ele, esse processo de recaída clinicamente e muito observado em pessoas que são usuários contínuos de álcool ou outras drogas como maconha, cocaína, crack entre outras. Geralmente as pessoas que fazem uso contínuo dessas substancias conseguem parar de usar por um tempo, um problema importante para lidar na clinica é justamente essa recaída, que muitas vezes decepcionam os usuários diminuindo a auto-estima e confiança em si, porem para o terapeuta a recaída é importante e faz parte do processo, visto que, o organismo não desaprende totalmente um comportamento, o organismo é adaptativo, nesse processo de recaída o terapeuta vai tentar entender junto com o paciente, em qual contexto esse fenômeno surgiu, como o paciente se sentiu, quais foram os antecedentes, qual foi o comportamento é também as conseqüências, sendo assim, o terapeuta consegue ter um melhor entendimento do caso, buscando intervenções para aquele paciente em especifico. Referencias bibliográficas: GONTIJO, Tavares Daniela. MEDEIROS, Marcelo. PEDROSA, Mara Sheila. REIS, Lopes Mary. TELES, Araújo Sheila. A trajetória da dependência do crack: percepções de pessoas em tratamento. Brasília, 2016. DONOSO, Vieccelli Terezinha Miguir. RICAS, Janete. Perspectiva dos pais sobre educação e castigo físico. São Paulo, 2009. Anexo Rev Saúde Pública 2009;43(1):78-84 Miguir Terezinha Vieccelli Donoso Janete Ricas Departamento de Enfermagem Básica. Escola de Enfermagem. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, MG, Brasil Correspondência | Correspondence: Miguir Terezinha Vieccelli Donoso Escola de Enfermagem da UFMG R. Alfredo Balena, 190 – Campus da Saúde Santa Efi gênia 30130-100, Belo Horizonte, MG, Brasil E-mail: miguir@enf.ufmg.br Recebido: 5/5/2008 Aprovado: 28/8/2008 Perspectiva dos pais sobre educação e castigo físico Parent’s perspective on child rearing and corporal punishment RESUMO OBJETIVO: Descrever a percepção dos pais acerca do castigo físico, considerando-se o signifi cado da educação e punição física, e formas de educar. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: Foram abordados 31 familiares, estando 12 sob tutela por denúncia de maus-tratos e 19 não tutelados em unidade básica de saúde e na secretaria de Assistência Social de Belo Horizonte (MG) em 2006. Procedeu-se à análise de discurso dos relatos obtidos por meio de entrevistas semi-estruturadas. Os dados foram organizados em temas e categorias. ANÁLISE DO DISCURSO: Os resultados apontaram a restrição dos discursosdos entrevistados em função das suas condições de produção. Houve diversidade de concepções sobre educação e formas de educar, tendo como pontos comuns o relato da prática da punição física por todos os pais, mesmo entre aqueles que a condenam. Os discursos foram marcados pela heterogeneidade e polifonia, sobressaindo-se o discurso da tradição, o discurso religioso e o discurso científi co popularizado. Não foi observada expressão do conceito de interdição legal da prática ou dos seus excessos pelos participantes. CONCLUSÕES: A cultura do castigo físico encontra-se em transição, em que a tradição de permissão se enfraquece e a interdição se inicia lentamente. Reforço ações de repressão legal à prática poderia contribuir para acelerar o processo de interdição do castigo físico. DESCRITORES: Educação Infantil. Punição. Relações Pais-Filho. Violência Doméstica. Pesquisa Qualitativa. 79Rev Saúde Pública 2009;43(1):78-84 Do ponto de vista da ciência e cada vez mais dos profi ssionais que se ocupam da atenção à criança, os castigos físicos são tidos como violência. Pode, entre- tanto, não ser percebido como violência por quem o pratica, devido à difusão e aceitação social da prática. Mesmo nos meios intelectuais, o uso do castigo físico é por vezes explicitado como procedimento rotineiro e normal. Nos meios populares pode chegar a ser motivo de vanglória e é freqüentemente cobrado dos pais e fa- miliares pela sociedade em situações de transgressões pelas crianças das normas de convivência adotadas no grupo social a que pertence. Mesmo as crianças que sofrem o castigo, incorporando os valores culturais, podem, também, não encarar o castigo como violên- cia,14 pois aprendem precocemente, que é “normal” ou até desejável apanhar dos pais. A tendência a condenar a punição física deslocando-a, qualquer que seja a sua forma e intensidade, para a categoria de violência tem suas bases em estudos e observações que mostram os riscos e seqüelas desta prática para a criança. Os limites tolerados de intensidade, freqüência e formas do castigo físico educativo culturalmente aceitos são ABSTRACT OBJECTIVE: To describe parents’ current perception of corporal punishment associated to child rearing and its practices. METHODOLOGICAL PROCEDURES: There were studied 31 family members whose children were warded due to child abuse complaints (12) and not warded (19) at a health care unit and a local social service unit in the city of Belo Horizonte (Southeastern Brazil) in 2006. Data was collected through semi-structured interviews and speech analysis was performed grouped by subjects and categories. ANALYSIS OF DISCOURSE: There was limitation of the respondents’ speeches based on their production means. There was a diversity of conceptions on child rearing and its practices and corporal punishment was reported by all parents, even among those who expressed strong disapproval of this practice. Speeches were characterized by heterogeneity and polyphony with emphasis on the tradition speech, the religious speech and the popular scientifi c speech. Respondents did not express concepts of legal interdiction of corporal punishment or its excesses. CONCLUSIONS: The culture of corporal punishment of children is changing; tradition approving it has weakened and prohibition has been slowly adopted. Reinforcing legal actions against this practice can contribute to speed up the process to end corporal punishment of children. DESCRIPTORS: Child Rearing. Punishment. Parent-Child Relations. Domestic Violence. Qualitative Research. INTRODUÇÃO a Cardoso ACA. Maus tratos infantis: estudo clinico, social e psicológico de um grupo de crianças internadas no Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da FMUSP [Tese de Doutorado]. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 2002. muito variáveis entre grupos sociais e famílias. As sim- ples palmadas coexistem com os espancamentos, sendo justifi cadas da mesma forma: a necessidade educativa.a Mesmo tendo a intenção educativa, o ato de bater fa- cilmente resvala para além dos limites colocados pelo próprio educador, pelas próprias características do ato. Segundo Bessa et al,2 a punição física muitas vezes é utilizada de maneira descontrolada, mais como alívio para quem bate do que como meio disciplinar. A justifi cativa educativa encobre com muita freqüên- cia, outras intenções, conscientes ou não, motivadas por sentimentos de rejeição, ódio, raiva, frustração, dentre outros, do adulto contra a criança ou canalizado para ela.15 Quando o castigo físico não traz os resultados desejados pelo educador, a tendência é o aumento da intensidade e freqüência levando a um círculo vicioso que pode desembocar em situações trágicas. Zagury16 postula que em algumas situações, mesmo apanhando e com medo, a criança identifi ca esse ato como humilhante, encontrando forças para enfrentar os pais, quando dizem “Nem doeu”. Essa é uma forma de defesa que 80 Educação e castigo físico Donoso MTV & Ricas J pode redundar em mais agressão, em razão do possí- vel descontrole dos pais. Portanto, o que muitos pais convencionam chamar de “palmadas” pode resultar em espancamento. Os estudos têm mostrado os efeitos deletérios, às vezes catastrófi cos, sobre o desenvolvimento afetivo, social e cognitivo da criança, com graves repercussões na vida adulta.15 A qualidade de vida da criança é prejudicada. O direito ao respeito, à dignidade, integridade física e moral não deve esperar a vida adulta. A literatura tem mostrado a complexidade da determina- ção da violência contra a criança apontando uma grande quantidade de variáveis que se inter-relacionam nas cau- sas do fenômeno.16 Podem ser tomadas como exemplos: 1) questões históricas relacionadas ao lugar, auferido pela cultura à criança na sociedade e na família;5 2) questões econômicas e sociais como proveniência de segmentos sociais desfavorecidos e situações associadas como analfabetismo, marginalidade e desemprego;a 3) questões relacionadas à desigualdade, dominação de gênero e relação de poder entre gerações;13 4) prove- niência de ambientes normalmente confl ituosos com presença de problemas psíquicos tais como depressão, alcoolismo e outras drogadições;1,10,12 5) falta de sensibi- lidade social, isolamento e suporte social inadequado;17 6) Tipo de estruturação e tradição familiar.1 Ações para diminuir a violência devem considerar todos os determinantes, dentre eles as questões culturais. Es- pecifi camente, a questão da aceitação social do castigo deve ser aprofundada com o objetivo de intervenções visando a sua “desconstrução” para dar lugar às formas educacionais menos lesivas para as crianças. O presente estudo teve por objetivo descrever a percep- ção de pais acerca do castigo físico, considerando-se o signifi cado da educação, a associação entre educar e a punição física e formas de educar. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Realizaram-se entrevistas semi-estruturadas com dois grupos de pais: o primeiro grupo foi constituído por 19 mães de fi lhos em idade pré-escolar e escolar sem queixas institucionais de violência física contra eles. As mães foram contatadas e entrevistadas na sala de espera de uma unidade básica de saúde em Belo Hori- zonte (MG), de março a maio de 2006. As participantes foram solicitadas a falar sobre educação de crianças, formas que utilizavam para educar suas crianças, estabelecimento de limites, situações que motivavam ou justifi cavam castigos físicos, visão sobre o castigo físico e experiências na educação dos fi lhos. O segundo grupo foi constituído por nove mães, um pai e uma avó que já haviam sido formalmente denunciados por maus tratos e estavam sob tutela da Promotoria do Menor. Essa etapa realizou-se com o apoio do um ProgramaFamílias Acolhedoras (PFA), da Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social de Belo Horizonte, que atende famílias com crianças de zero a 12 anos, com medida de proteção expedida pelos órgãos compe- tentes (Conselhos Tutelares, Juizado da Infância e da Juventude e Ministério Público). As entrevistas foram individuais, realizadas em salas exclusivas. O número fi nal de participantes em cada grupo foi determinado pelo critério de saturação.7 Foi utilizada a análise de discurso3 como referencial teórico para a análise dos relatos. Os dados foram organizados em temas e categorias. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (COEP-UFMG) e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria de Saúde da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (CEP – SMSA/PBH). ANÁLISE DOS DISCURSOS Na análise das falas, de acordo com os princípios da aná- lise de discurso, foram consideradas quatro situações. Situações de análise Infl uência das condições materiais do setting da entrevista No primeiro grupo, as limitações e a informalidade da sala de espera limitaram a privacidade e a atenção, mas, ao mesmo tempo, o sentar lado a lado com o entrevistador e a companhia de outras pessoas que, presumidamente, compartilham as mesmas concepções, contribuiu para diminuir as restrições ao discurso: “Isso [...]. Mas não voltei atrás, porque acho que ela mereceu aquelas varada na hora certa que eu dei... ela mereceu e tem que ganhar o castigo na hora que merece.” (Renata, G1) No segundo grupo, inversamente, a utilização de sala com privacidade pode ter aumentado a atenção e faci- litado a expressão de conteúdos mais sigilosos, entre- tanto, a formalidade da situação, pode ter aumentado as restrições ao discurso: “Oh, eu não sei se a resposta é certa, mas é ... Eu não quero mais fazer com o Chiquinho o que fi zeram comigo...Hoje, eu acho que educar uma criança é conversar....” (Samira, G2) a Tourinho JOS. Tutela jurídico – penal da infância e da juventude: dos maus tratos [Dissertação de mestrado] Maringá: Universidade Estadual de Maringá; 2001 81Rev Saúde Pública 2009;43(1):78-84 Restrições impostas pelo gênero do discurso e contexto institucional A entrevista, mesmo semi-estruturada, produz o enquadramento das falas em perguntas e respostas segundo um objetivo pré-determinado. A ocorrência em um centro de saúde e na instituição tutelar e não na residência ou outro local mais neutro, foi relevante, sobretudo, para o segundo grupo devido à relação legal e de dependência dos participantes com a Instituição. Representações imaginárias dos sujeitos sobre sua própria identidade e do outro Nos dois grupos, estabeleceu-se, de início, uma relação hierárquica, na qual o pesquisador foi visto como de- tendo um saber mais legítimo que o do entrevistado, em relação ao qual, o seu próprio saber seria avaliado: “Assim, a gente não educa dando palmada, mas se a criança te estressa tanto, te faz tanta raiva que na hora que você vê, já bateu. Entendeu? Você explica, você conversa, não adianta. Aí, você acaba perdendo a estribeira!” (Raissa, G1). No grupo dois, a mediação da Instituição Tutelar levou à percepção do pesquisador como representante desta e com poderes para julgamentos, punição e retirada de benefícios. Intenções manifestadas pelos entrevistados Embora o solicitado pelo entrevistador tenha sido a intenção visada de informação, no primeiro grupo, junto à informação, predominou a intenção demonstrativa, onde as mães tentavam mostrar a justeza de suas con- cepções e atitudes: “Eu mesma já dei e, se precisar, dou mesmo (palmadas). Coloco de castigo e, assim, converso muito. Tem mãe que bate, mas não explica por que a criança levou palmada. Eu, sempre que dou palmada nele, depois eu falo: ‘Filho, você sabe por que a mamãe te deu palma- da? Foi por causa disso. Assim, eu... eu acho que dou a melhor educação que eu posso.” (Rosane, G1) No segundo grupo os entrevistados tentavam mostrar que seus atos tinham determinantes além de suas pró- prias intenções e vontades: “Olha, antes..bem antes, que a minha vida era assim, uma vida muito difícil, então eu não tinha, assim, outros meios de educar meus menino...” (Sílvia, G2); Também tentavam mostrar que suas concepções e atitu- des sofreram transformações, como na fala de uma mãe denunciada por lesão grave e incapacitante da fi lha: “Graças a Deus lido muito bem! Com todas as minhas fi lhas. De bater foi só essa vez. Graças a Deus, nunca mais houve nada...!” (Regina, G1) Além disso, foi considerada a situação social e econô- mica atual das famílias como determinante e restritora dos seus discursos: “Porque a minha família é corregedora. Só é pobre, mas não tem esse defeito (roubar) né?” (Sibele, G2) Predominou, no primeiro grupo, a situação de pobreza, enquanto, no segundo grupo, a maioria estava abaixo da linha de pobreza, com grande difi culdade de suprir as necessidades básicas, não tendo fi nalizado os quatro primeiros anos de escolaridade. Análise de relatos A análise dos relatos permitiu categorizá-los em: 1) significados atribuídos à educação dos filhos e 2) formas de educar os fi lhos. As categorias analíticas foram relacionadas aos seguintes temas: concepções científi cas sobre violência doméstica; formas de educar divulgadas pela mídia, programas de assistência social e pelo contato com profi ssionais de saúde e educação; legislação sobre os direitos da criança e história da infância no Brasil, particularmente no que se refere à naturalização do castigo físico. Signifi cados atribuídos à educação dos fi lhos e punição física Sob este tema foram agrupadas as categorias que conti- nham expressões dos signifi cados sobre educação: Preparar para a vida Nesta categoria a educação é vista como um instrumen- to a ser utilizado para a inserção social dos fi lhos no sentido de adequação às leis ou no sentido de preparo para a sobrevivência. “Bom, pra mim, eu penso assim, né? É minha maneira de pensar. Eu acho que educar uma criança é uma coisa importante que tem os pai, né? Então, assim, é prepará ele pro mundo, né, pra chegar lá na frente e ele saber o que ele não deve, né?” (Renata, G1) A fala ressalta, na preparação para o mundo, a interdi- ção. As possibilidades são enfatizadas na necessidade de escolarização: “Eu falo sempre de ele estudá, que eu não pude estudá, entendeu?” (Raquel, G1). As mães pertencentes ao grupo sob tutela apontaram o estudo como substituto da violência para a educação: “Ah, educar é dar estudo, cuidar direitinho, que hoje violência não ensina ninguém” (Sibele, G2). O segundo grupo foi especialmente marcado pela presença da violência em seu quotidiano, não sendo esperado que o castigo físico tivesse tal conotação. 82 Educação e castigo físico Donoso MTV & Ricas J Observou-se no relatório de encaminhamento da entre- vistada Sibele, pelo Conselho Tutelar ao PFA, que ela tinha atitudes violentas, tendo espancado a fi lha com um pedaço de madeira em brasas. A mãe expressou que o estudo e os cuidados maternos eram essenciais à criança em detrimento de agressões físicas. Observou-se nessas afi rmações a incorporação do discurso transmitido pelos profi ssionais do Conselho Tutelar, caracterizando uma situação de polifonia. Transmissão cultural Nesta categoria, a educação aparece como repetição e como negação do vivido na própria infância: “Eu não quero mais fazer com o Chiquinho o que fi zeram comigo, porque eu apanhei muito. Apanhei da minha mãe, apanhei dos meus irmãos. Hoje, eu acho que educar uma criança é conversar.... Eu acho que vale mais um castigo, porque a marca de uma varada, de um tapa, de uma correiada, uma chinelada... dói muito. Eu não quero queele passe o que eu passei, porque machuca muito.” (Samira, G2) A literatura aponta a experiência de maus tratos na in- fância como um dos determinantes do comportamento agressor em adulto. Segundo Lieder et al,8 a condenação do ato agressor foi atribuída por alguns pais a essa experiência. Em estudo realizado nos Estados Unidos, Renner & Slack11 concluíram pela existência de fraco suporte para sustentar a hipótese da transmissão de vio- lência, mostrando que essas crianças serão mais sujeitas a serem vitimizadas do que vitimizadoras em adulto. No presente estudo, todos os participantes, mesmo os que afi rmaram discordar do castigo físico, relataram espontaneamente já ter batido em seus fi lhos. Isso indica uma contradição entre antigos valores e a adoção de novos, que se mostra na polifonia das falas, nas quais se percebe, sobretudo, a incorporação implícita ou ex- plícita do discurso da pedagogia e da psicologia: “Mas aí, depois que eu comecei a tratar com o psicólo- go, o psicólogo falou que educar é ocê conversar, bater não resolve. Se bater resolvesse não tinha marginal na rua. Que era para eu levar ele na conversa, conversar mais.” (Simone, G2) Mesmo considerando todas as restrições ao discurso, houve pouca censura no relato da prática, o que revela a predominância ainda, do discurso tradicional, no qual bater era recomendado e direito dos pais.4 Especialmen- te no grupo 2 considerando a condição de tutelados, algumas falas mostram a força da tradição na convicção das concepções expressas: “Eu lido com eles...a hora que eles merece, eu bato! Agora, se eles não fi zer nada de errado, eu não bato. Agora, se fi zer, eu bato, e muito!” (Sonia, G2) A incoerência entre a condenação cognitiva da prática revelada no discurso e a própria prática pode ser um indício de mudança cultural e talvez de atenuação da violência. O estudo de Duhamel6 no Canadá, mostrou relação entre justifi car a violência e o uso da mesma contra a criança. As mães que expressaram maior tolerância à violência contra a criança tiveram maior chance de usá-la contra seus próprios fi lhos. Atenção às necessidades vitais: amor, carinho e atenção “Ah, é porque as criança, né, têm que dar tudo, né, que precisa, por exemplo, né? Carinho, né? Não deixar fi car pras rua afora, alimentação direito, a escola, pra estudá, né?” (Roseli, G1) Infere-se a infl uência da origem econômico social nesta concepção. De fato, em condições de privação ou não abundância, dar “tudo o que a criança preci- sa” pode implicar em sacrifícios signifi cativos para a família, signifi cando a valorização da criança. Nas classes abastadas “dar tudo” pode ser indício mesmo de negligência. “É tratar com amor, carinho, né? Compreensão, fi car sempre atento às coisas que elas fazem, né? É assim, pra mim. É fi car sempre observando.” (Rita, G1) A consciência da necessidade afetiva da criança é relativamente recente na história. Possivelmente, a divulgação de teorias científi cas pela mídia tem papel importante na formulação desse discurso. Mesmo que o afeto possa surgir naturalmente na relação com os fi lhos, a sua prescrição social pode ser, também, um indicador de mudanças no valor da criança para a família e sociedade. Formas de educar os fi lhos Conversar Algumas mães, ainda que admitindo utilizar castigos físicos, afi rmam preferir conversar. Essa expressão parece não ter, entretanto, a conotação de diálogo, mas, de imposição: “Igual eu falei, hoje eu sei conversar com ele sem agredir. Hoje, quando ele apronta, quando faz coisa errada, é... eu chamo ele de mocinho: é, mocinho... nós dois vamos conversar ou tem uma vara abenço- ada em cima da geladeira? Vai fazer coisa errada? Ou nós vamos conversar ou vai ter que usar a vara?” (Samira, G2) Mediante castigos não físicos Nessa situação, a mãe que se encontrava sob tutela relatou ter utilizado um castigo não físico. Anterior- mente havia relatado ter espancado a fi lha pelo mesmo motivo. Infere-se a infl uência no discurso do local e situação da entrevista e a incorporação do discurso dos profi ssionais da Instituição. 83Rev Saúde Pública 2009;43(1):78-84 “Então, assim, o meu sistema de criar meus fi lhos é assim. Criar eles ensinando que a gente não pode pegar uma coisa que não é da gente. Eu levei ela depois com o dinheiro pra devolver. Pediu desculpa. Ela pediu desculpa, entendeu? Ficou sem graça mesmo, fi cou chateada.” (Sheila, G2) Estabelecendo limites Nesta categoria foi citado o estabelecimento de regras, de rotina, de disciplina. A expressão “falar não”, tam- bém foi utilizada pelos pais. “É porque... se vai pra rua, ocê tem que ter um limite da hora de chegar. É mesma coisa a comida. Ocê tem que ter um limite pra comer... [...] tudo tem que ter limite com as coisa, sabe? Que eu falo lá em casa. Mas se deixar, né? Nunca que a criança tem aquele limite das coisa, e aí que é a educação das criança.” (Roseli, G1) O estabelecimento de disciplina, de regras claras baseadas nos valores familiares e sociais e a não ambigüidade na aplicação do estabelecido têm sido enfatizados pela literatura na literatura científi ca e de divulgação da ciência. A utilização do pronome “você” no primeiro exemplo e o verbo no infi nitivo no segundo pode signifi car a crença das mães na verdade universal de suas afi rmações, inferindo-se aí uma incorporação mais profunda do discurso acadêmico. Infl igir castigo físico Alguns entrevistados reconhecem como legítima a prática do castigo físico, freqüentemente acrescentan- do que o comportamento da criança, circunstâncias, motivação ou formas de aplicação podem justifi car o seu uso. Houve relatos de aceitação irrestrita do castigo físico em duas situações: por considerar um direito dos pais e por acreditar na efi cácia do ato educativo: “Ah, eu acho que esse direito... a gente tem esse direi- to, né? Que os menino, os fi lho da gente, é pra gente educar, né? Então, não é que eu seje sistemática, mas a gente tem esse direito.” (Soraia, G2) O castigo físico também foi relatado como aceitável com algumas restrições: quando o motivo é explicado, depende da forma e local do corpo castigado e da falta cometida. “Ah, eu bato mais é nas perna, né? Nas perna e na bunda. De borracha”. (Sônia, G2) “Sem deixar sinal. Não gosto de deixar sinal...” (Severina, G2) Martins9 aponta que no imaginário social, há uma diferença nítida entre bater para maltratar e bater para educar. O limite, segundo os pais, estaria na força em- pregada no ato de bater. As falas anteriores sugerem também que o limite entre educação e violência na concepção dos pais pode estar associado mais à inten- ção do que à forma ou à intensidade. A literatura tem mostrado que a Igreja ocupou um lugar expressivo na cultura ocidental européia e também no Brasil sobre a criança e sua educação, respaldando e mesmo estimulando o uso do castigo físico como benéfi co para a criança.11 Algumas falas revelaram a infl uência religiosa na educação da criança, que pode estar associada à crença de que se a intenção for edu- cativa o castigo físico é válido: “Aí, quando eu vejo que ele fez alguma coisa errada, eu falo pra ele: ‘É, mocinho...nós dois vamos conversar ou tem uma vara abençoada em cima da geladeira?” (Samira, G2) CONCLUSÕES O presente estudo confi rma que o castigo físico ainda permanece no imaginário social como um recurso permitido e apropriado para a educação dos fi lhos, o que consideramos um sério problema de saúde públi- ca. Confi rma também a variabilidade de aceitação das formas e intensidade de sua aplicação. No entanto, o estudo mostra também, na heterogeneidade e polifonia dos discursos dos pais, a presença importante de outros discursos sobre formas de educar. Particularmente os paissob tutela da Promotoria do Menor, embora tenham revelado mais explicitamente a assimilação cognitiva do discurso dos profi ssionais que os assistem, reafi rmaram sua convicção quanto ao senti- do de propriedade da criança e, em uma fala, a intenção de permanecer com a prática, sugerindo continuidade da violência na vida adulta, como perpetrador. Contudo, não foi explicitada em momento algum a percepção pelos pais sobre a interdição legal ao castigo físico ou, mesmo, aos seus excessos. A cultura do castigo físico encontra-se em transição, em que a tradição de permissão se enfraquece e a interdição se inicia lentamente. Reforço às ações de repressão legal à prática poderia contribuir para acelerar o processo de interdição do castigo físico. 84 Educação e castigo físico Donoso MTV & Ricas J 1. Berger LM. Income, family characteristics, and physical violence toward children. Child Abuse Negl. 2005;29(2):107-33. DOI: 10.1016/ j.chiabu.2004.02.006 2. Bessa MRV, Oliveira CA, Ricas J, Campos MGA, Castro MHMD. Abordagem psicológica da criança. In: Leão E, Mota JAC, Viana MB, Correa EJ, organizadores. Pediatria ambulatorial. 2. ed. Belo Horizonte: Cooperativa Editora e de Cultura Médica; 1989. p.115-24. 3. Brandão HHN. Introdução à análise do discurso. 2. ed. Campinas: Editora da UNICAMP; 2004. 4. Del Priore M. História das crianças no Brasil. 4. ed. São Paulo: Contexto; 2004. O cotidiano da criança livre no Brasil entre a colônia e o império. p.84-106. 5. Deslandes SF. Atenção a crianças e adolescentes vítimas de violência doméstica: análise de um serviço. Cad Saude Publica. 1994;10(1):177-87. DOI: 10.1590/ S0102 311X1994000500013 6. Duhamel MF. A Justifi cation de la violence envers l’enfant chez des mères victimes de violence conjugale. Can J Commun Ment Health. 2004;23(1):47-63. 7. Fontanella BJB, Ricas J, Turato ER. Amostragem por saturação em pesquisas qualitativas em saúde: contribuições teóricas. Cad Saude Publica. 2008;24(1):17-27. DOI: 10.1590/S0102- 311X2008000100003 8. Lieder HS, Irving SY, Mauricio R, Graf JM. Munchausen syndrome by proxy: a case report. AACN Clin Issues. 2005;16(2):178-84. 9. Martins CBG, Andrade SM. Epidemiologia dos acidentes e violências entre menores de 15 anos em município da região sul do Brasil. Rev Latino-Am Enfermagem. 2005;13(4):530-7. DOI: 10.1590/S0104- 11692005000400011 10. Moore CG, Probst JC, Tompkins M, Cuffe S, Martin AB. The prevalence of violent disagreements in US families: effects of residence, race/ethnicity, and parental stress. Pediatrics. 2007;119(Supl 1):S68-76. DOI: 10.1542/peds.2006-2089K 11. Renner LM, Slack KS. Intimate partner violence and child maltreatment: understanding intra- and intergenerational connections. Child Abuse Negl. 2006;30(6):599-617. DOI: 10.1016/ j.chiabu.2005.12.005 12. Rodriguez CM. Emotional functioning, attachment style, and attributions as predictors of child abuse potential in domestic violence victims. Violence Vict. 2006;21(2):199-212. DOI: 10.1891/vivi.21.2.199 13. Santoro Jr M. Maus tratos contra crianças e adolescentes. Um fenômeno antigo e sempre atual. PediatrMod. 2002;38(6):279-83. 14. Weber LND, Dobrianskyj N, Prado PM, Viezzer AP, Brandenburg OJ. Identifi cação de estilos parentais: o ponto de vista dos pais e dos fi lhos. Psicol Refl ex Crit. 2004;17(3):323-31. DOI: 10.1590/S0102- 79722004000300005 15. Weber LND, Viezzer AP, Brandenburg OJ. O uso de palmadas e surras como prática educativa. Estud Psicol (Natal). 2004;9(2):227-37. DOI: 10.1590/S1413- 294X2004000200004 16. Zagury T. Educar sem culpa. São Paulo: Círculo do Livro; 1993. Palmada – sim ou não?. p.111-20. 17. Zolotor AJ, Runyan DK. Social capital, family violence, and neglect. Pediatrics. 2006;117(6):e1124-31. DOI: 10.1542/peds.2005-1913 REFERÊNCIAS 956Rev Bras Enferm [Internet]. 2016 set-out;69(5):956-63. http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0045 PESQUISA Sheila Mara PedrosaI, Mary Lopes ReisII, Daniela Tavares GontijoIII, Sheila Araújo TelesIV, Marcelo MedeirosV I Centro Universitário de Anápolis – Unievangélica, Curso de Enfermagem. Anápolis-GO, Brasil. II Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, Curso Técnico Integrado em Vigilância em Saúde. Goiânia-GO, Brasil. III Universidade Federal de Pernambuco, Núcleo de Estudos e Pesquisas em Vulnerabilidade e Saúde na Infância e Adolescência. Recife-PE, Brasil. IV Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Enfermagem, Núcleo de Estudos em Epidemiologia e Cuidados em Doenças Infecciosas com ênfase em Hepatites Virais. Goiânia-GO, Brasil. V Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Enfermagem, Núcleo de Estudos Qualitativos em Saúde e Enfermagem. Goiânia-GO, Brasil. Como citar este artigo: Pedrosa SM, Reis ML, Gontijo DT, Teles SA, Medeiros M. The path to crack addiction: perceptions of people under treatment. Rev Bras Enferm [Internet]. 2016;69(5):899-906. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0045 Submissão: 04-02-2016 Aprovação: 10-07-2016 RESUMO Objetivo: o objetivo foi compreender os signifi cados do uso nocivo de crack por pessoas em tratamento da dependência. Método: utilizou-se abordagem qualitativa da pesquisa social na modalidade estratégica. Foram realizados observação do campo, confecção de diário de campo e grupos focais, e análise dos dados por meio do método de interpretação de sentidos. Resultados: os resultados constituíram a construção de três categorias temáticas: “Descoberta do crack e outras drogas” que diferencia a experimentação do crack da de outras drogas; “A dor do prazer”, categoria principal que descreve o momento que sucede a experimentação do crack em que, muitas vezes, se instala a dependência, o que leva a pessoa a um ciclo de períodos curtos de tentativa de abstinência, recaída e consumo incessante; e “Retomar a vida”. Conclusão: a abordagem de pessoas em tratamento da dependência do crack deve ser realizada no sentido de reduzir a distância entre essas pessoas e a família, a sociedade e os serviços de saúde. Descritores: Cocaína Crack; Transtornos Relacionados ao Uso de Substâncias; Vulnerabilidade em Saúde; Transtornos Relacionados ao Uso de Cocaína; Enfermagem. ABSTRACT Objective: the objective of this study was to understand the meaning of the harmful use of crack by people undergoing addiction treatment. Method: qualitative approach of social research on strategic modality was used. Field observation, preparation of fi eld diary and focus groups, and data analysis through the method of interpreting meaning were carried out. Results: the results contributed to the construction of three thematic categories: “The discovery of crack and other drugs” that describes the experimentation with crack and other drugs; “The pain of the pleasure”, key category that describes the moments after crack experimentation and that, many times, turns into addiction, which leads the person into a cycle of short periods of attempts at abstinence, relapse, and relentless consumption; and “Return to normal life”. Conclusion: treating people with crack addiction must be carried out in ways that narrow the distance between these people and their families, society and health care. Descriptors: Crack Cocaine; Substance-Related Disorders; Health Vulnerability; Cocaine-Related Disorders; Nursing. RESUMEN Objetivo: comprender los signifi cados del uso nocivo de crack en personas tratando su dependencia. Método: se utilizó abordaje cualitativo para la investigación social, en modalidad estratégica. Fueron realizadas observación de campo, confección de diario de campo y grupos focales. Datos analizados mediante interpretación de sentidos. Resultados: se constituyeron tres categorías temáticas: “Descubrimiento del crack y otras drogas”, que diferencia la experiencia del crack de la de otras drogas;“El dolor del placer”, categoría principal que describe el momento en el que se prueba el crack y en el que, frecuentemente, se instala la dependencia, que lleva a la persona a un ciclo de cortos períodos de intento de abstinencia, recaída y consumo A trajetória da dependência do crack: percepções de pessoas em tratamento The path to crack addiction: perceptions of people under treatment El camino de la dependencia del crack: percepciones de personas en tratamiento Rev Bras Enferm [Internet]. 2016 set-out;69(5):956-63. 957 A trajetória da dependência do crack: percepções de pessoas em tratamentoPedrosa SM, et al. INTRODUÇÃO O uso de drogas sempre permeou a existência humana, sendo vista, em determinados contextos e situações, como um comportamento natural, uma vez que alivia dores e sofrimentos de diversas naturezas e produz efeitos estimulantes(1). Porém, a partir do momento em que o homem passa a usar a droga nocivamente, vem a sofrer prejuízos sociais, econômicos e de saúde. Assim, o uso de drogas tornou-se objeto de discussão mundial, além disso medidas proibicionistas no sentido de evi- tar o uso e o tráfico entre países(1) tiveram de ser tomadas. Uma das drogas cujo consumo tem crescido mundialmen- te nos últimos anos, em especial no Brasil, é a cocaína. Uma de suas apresentações, conhecida como “cocaína fumada” ou “crack”, desencadeia mais rápida e intensamente a dependên- cia. Trata-se de uma droga psicotrópica, ilícita e estimulante do Sistema Nervoso Central (SNC). Tem esse nome devido ao ba- rulho que faz ao ser queimada. O crack é composto da mistura de pasta base de cocaína com água e bicarbonato de sódio que, aquecida, dá origem a cristais conhecidos como “pedras” de crack(2). Ao ser fumada, provoca efeitos estimulantes em aproxi- madamente quinze segundos, mantendo-os por cerca de cinco minutos. Esses dois fatores associados contribuem para a neces- sidade de o usuário buscar constantemente a droga(3). Pesquisa realizada nas capitais brasileiras e no Distrito Fe- deral(4) mostram que as estimativas de uso regular de crack e ou similares ficaram na proporção de aproximadamente 0,81%, o que representaria cerca de 370 mil usuários, sendo que a estimativa para o número de usuários de drogas ilícitas em geral (com exceção da maconha) é de 2,28%, ou seja, aproximadamente 1 milhão de usuários. Nas capitais, o uso de crack e ou similares, entre os consumidores de drogas ilíci- tas, foi estimado em 35%(4). Dentre as consequências da dependência do crack, há os danos físicos relacionados ao acometimento pulmonar, à ex- posição ao Vírus da Imunodeficiência Adquirida/Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (HIV/AIDS), às hepatites B e C, à violência física, à mortalidade, entre outros. No aspecto socioeconômico, destacam-se o isolamento social e familiar, a marginalização por atos ilícitos, como a violência, o rompi- mento de laços afetivos, a perda ou o afastamento do empre- go quando a pessoa está inserida no mercado de trabalho, o caos e o pânico coletivos que corroboram para comprometer a qualidade de vida, a perda de esperança na vida e as dificul- dades de acesso aos serviços de saúde(5). Diante da amplitude de tais consequências, o isolamento ao qual a pessoa dependente do crack está exposta configura uma situação de vulnerabilidade social. Este artigo baseia-se nos pressupostos de vulnerabilidade de Robert Castel, que lança luz sobre os processos de vulnerabilidade e desfiliação social(6). O indivíduo tem sua existência social demarcada pela interação de dois eixos: o do trabalho e o da inserção re- lacional em redes familiares e de sociabilidade. Para o autor, ambos interagem dinamicamente, e a fragilidade de um pode ser compensada pela estabilidade do outro(6). A densidade das relações sociais, junto com uma estabili- dade no trabalho, influencia diretamente o nível de integração dos indivíduos na sociedade. Dependendo da qualidade des- ses vínculos, tanto no social quanto no trabalho, o indivíduo flutua por diferentes zonas que apresentam fronteiras porosas e dinâmicas que Castel denomina Zonas de Integração, de Vulnerabilidade, de Assistência e de Desfiliação(6). A Zona de Integração caracteriza-se por relações sociais es- táveis e estabilidade no trabalho. A Zona de Vulnerabilidade, que tem cada vez mais se expandido nas sociedades, apresen- ta relações sociais frágeis e instabilidade laboral. A Zona de Desfiliação está associada à exclusão/ruptura do mercado de trabalho formal e à ausência/ruptura de vínculos que sejam fonte de suporte social (familiares ou de um de modo geral)(6). Nessa perspectiva, compreende-se que o uso do crack (en- tre outras drogas) pode influenciar e ser influenciado pelas re- lações estabelecidas pelo usuário tanto no trabalho quanto na sua rede social de suporte. Além do estigma associado ao uso da droga, influenciado sobremaneira pelos meios midiáticos, a ausência de profissionais capacitados para uma abordagem adequada dificulta a aproximação da sociedade, do poder pú- blico e do setor de saúde a essa população vulnerável(7). Assim, considerando a relevância do tema e com vistas a oferecer subsídios que contribuam para a discussão e planeja- mento de ações preventivas no âmbito da saúde, o estudo que originou o presente artigo teve como objetivo compreender os significados do uso nocivo de crack por pessoas em trata- mento da dependência. MÉTODO Aspectos éticos O trabalho foi norteado pelas diretrizes de pesquisas envol- vendo seres humanos, previstas na Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. A proposta deste trabalho foi submetida e aprovada pelo Comitê de Pesquisa do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC/UFG). Referencial teórico-metodológico Foi utilizada a abordagem qualitativa da Pesquisa Social, na modalidade estratégica(8). A Pesquisa Social Estratégica(8) tem a finalidade de “lançar luz sobre determinados aspectos da realidade”, sem priorizar soluções práticas para a questão Marcelo Medeiros E-mail: marcelo@ufg.brAUTOR CORRESPONDENTE incesante; y “Retomar la vida”. Conclusión: el abordaje de personas en tratamiento de su dependencia del crack debe realizarse con el fin de reducir la distancia entre ellos y su familia, la sociedad y los servicios de salud. Descriptores: Cocaína Crack; Trastornos Relacionados con Sustancias; Vulnerabilidad en Salud; Trastornos Relacionados con Cocaína; Enfermería. Rev Bras Enferm [Internet]. 2016 set-out;69(5):956-63. 958 A trajetória da dependência do crack: percepções de pessoas em tratamentoPedrosa SM, et al. para a qual busca resposta, o que não quer dizer que os acha- dos da Pesquisa Social Estratégica não possam amparar a re- flexão de tais alternativas. Tipo de estudo Estudo descritivo exploratório de abordagem qualitativa. Procedimentos Metodológicos Cenário de estudo Trata-se de um hospital psiquiátrico que compõe a rede de saúde mental de uma capital do Centro-Oeste brasileiro, o qual recebe pacientes encaminhados pelo pronto socorro psiquiátri- co do município, por outras unidades ou demanda privada. A rede de assistência de saúde mental na capital conta com um Ambulatório Municipal de Psiquiatria, equipes de Consultório na Rua, serviços residenciais terapêuticos, quatro Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), sendo um deles infantil, um pron- to-socorro psiquiátrico responsável pela demanda de casos de urgência da capital e dos municípios pactuados, e por regular o paciente no sistema de atendimento municipal. Fonte de dados Os dados do estudo originaram-se da observação de campo, diário de campo e de grupos focais. Participaram do estudo 39 pessoas que estavam em tratamento no hospital, campo do estudo, para dependência do uso de crack e que atendiam aos seguintes critérios de inclusão:ser maior de 18 anos, ter utiliza- do crack por, pelo menos, 25 dias nos seis meses anteriores ao início da coleta de dados(9), ser capaz de ler, discutir e assinar, antes da inclusão no estudo, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), não estar sob efeito de droga ilícita no mo- mento da coleta de dados e, finalmente, não apresentar, tam- bém nesta etapa do estudo, comportamento que inviabilizasse a sua participação e o fornecimento de informações. Coleta e organização dos dados A coleta de dados se deu por meio de três métodos: obser- vação do campo, realizada antes, durante e depois dos grupos focais; confecção do diário de campo e realização de grupos focais(10), que somaram um total de dez grupos, com cerca de 4 participantes em média. Os encontros dos grupos focais foram gravados e transcritos pela própria pesquisadora. Análise dos dados A análise deu-se por meio do método de interpretação de sentidos, que consiste em “caminhar tanto na compreensão (atitude hermenêutica) quanto na crítica (atitude dialética) dos dados gerados de uma pesquisa”(11). Dentre os dez grupos, um estava inaudível e outro foi realizado em caráter de teste para aprimoramento das questões disparadoras, estes foram exclu- ídos da análise de sentidos. O processo de análise de dados ocorreu inicialmente pela leitura exaustiva do material resultan- te da transcrição da fala dos grupos, em seguida, foi realizada a identificação das ideias centrais contidas nas falas dos partici- pantes da pesquisa. As ideias centrais foram então agrupadas em núcleos de sentido e esses reagrupados, formando as categorias temáticas. Os participantes foram representados pela letra P, se- guida por números arábicos de maneira crescente, seguindo a sequência em que a fala de cada um apareceu no áudio das gravações, dessa forma, P1, P2, P3 e assim sucessivamente. RESULTADOS Cada grupo focal contou com quatro participantes em mé- dia, sendo que, no total, participaram 39 pessoas (34 homens e cinco mulheres), com idade entre 18 e 52 anos e média de 32 anos. Mais da metade informou ser solteira 20 (54%), 17 (46%) referiram ter filhos e, entre estas, a média foi de três filhos por pessoa. A maioria relatou que, no momento da pesquisa, se encontrava em condições socioeconômicas extremamente des- favoráveis por não ter moradia, emprego, ter vendido os bens e se afastado da família ou de pessoas de referência, desde que desenvolvido o comportamento de dependência da droga. No processo de análise minuciosa das falas, emergiram elementos para a construção de três categorias temáticas: “Descoberta do crack e outras drogas”, “A dor do prazer”, e “Retomar a vida”. Na categoria “Descoberta do crack e outras drogas”, foi des- crita, pelos participantes, a motivação para o uso do crack e de outras drogas. Tais motivações giraram em torno da curiosidade, excesso de liberdade dos pais e alívio para alguma decepção da vida (morte de um dos pais ou conflitos familiares, por exem- plo). As primeiras drogas experimentadas foram o álcool, o ci- garro e a maconha. No caso do álcool, tabaco e maconha, na maioria das vezes, eles continuaram a ser consumidos, mesmo quando os participantes já estavam dependentes do crack: Curiosidade. Eu vi um amigo usando, e aquilo me chamou a atenção, a forma... foi o cara furando a lata, todo aquele ritual que se tem para consumir o crack, e eu fiquei pensando “pô, vou fumar esse treco aí. Vou fumar para ver como é”. (P 7) Nesse percurso de experimentação, acabaram por se deparar com o crack, tanto pela busca por um prazer maior que aquele já obtido com outras drogas, quanto pela curiosidade de expe- rimentar. Relataram que, após o primeiro contato com o crack, houve mudança no padrão do uso de drogas, que se tornou mais frequente, incompatível com o trabalho e com as relações fami- liares e sociais, promovendo descontrole em ambas as áreas o que, segundo eles, era motivo para uso cada vez mais constante. Na categoria “A dor do prazer”, percebemos que há um ciclo ao qual essa pessoa fica presa, compreendendo períodos curtos de tentativa de abstinência, por meio do tratamento, quando imersos no arrependimento, os quais são geralmente interrompidos por alguma desilusão que provoca a recaída e o consumo incessante por dias seguidos, após um descanso e tentativas de abstinência. A seguir uma fala que representa esse arrependimento: Olha meus braços! [mostrando as diversas cicatrizes de cor- tes] Isso aqui é abstinência, depois que fuma tudo, que faz tudo, vai pensar ‘que que eu fui fazer! ’ Mais aí não adianta fazer isso aqui não. (P 37) Assim, o crack foi considerado a droga que, paradoxalmen- te, proporciona prazer e alívio aos sofrimentos, mas também Rev Bras Enferm [Internet]. 2016 set-out;69(5):956-63. 959 A trajetória da dependência do crack: percepções de pessoas em tratamentoPedrosa SM, et al. leva ao consumo desenfreado, fissura incontrolável, prejuízos no trabalho, venda de bens e afastamento da família, conflito com traficantes e policiais, independentemente, nesse estu- do, do poder aquisitivo. Podemos considerar, inclusive, que o momento em que estavam no hospital era de descanso para alguns e, para outros, era uma oportunidade de manutenção, mesmo que temporária, de abstinência. Na categoria “Retomar a vida”, foi identificado que, quan- do estão numa fase de arrependimento, as pessoas ficam mais motivadas a buscar ajuda e que isso, muitas vezes, aconte- ce quando chegam ao “fundo do poço”, como eles mesmos dizem. Esse momento caracteriza-se pela somatória de falta de dinheiro, de apoio familiar, de local para dormir e pelo sentimento de desespero por não mais querer usar o crack e não ser capaz disso, em virtude da dependência já instalada. Acresce-se a consciência de que a dependência causa sofri- mento à família, principalmente mãe, esposa e filhos. Dessa forma, descreveram o desejo de abster-se do consumo de crack, buscar inserção no mercado de trabalho formal, estudar e retomar as relações familiares, ao mesmo tempo em que consi- deraram a abstinência um desafio a ser vencido com fé e vontade de reconstruir a família, recuperar a dignidade por meio do traba- lho honesto e, assim, obter suporte para superar a dependência. Uma coisa é que nós temos que viver como se fôssemos uma criança, começar a reviver de novo. Sabe, deixar tudo aquilo pra trás. Esquecer e começar a viver de novo. (P11) Consideram fatores dificultadores para a abstinência a des- confiança da família e da sociedade, o efeito prazeroso do crack, os relacionamentos amorosos com outros usuários e o uso de drogas nas dependências do hospital. DISCUSSÃO De um modo geral, por meio das falas dos participantes, per- cebemos que a questão da dependência de drogas e, por conse- quência, do crack (mesmo com suas particularidades), é permea- da por aspectos complexos que talvez não tenham sido objeto de séria discussão no âmbito macro na sociedade, ficando restrita a concepções morais, de segurança pública ou de saúde pública. Comecemos pelo contato precoce com drogas identificado na primeira categoria desse estudo, “A descoberta do crack e outras drogas” que, dentre outras características, demonstra a situação de vulnerabilidade em que os participantes estavam imersos, mesmo antes de conhecerem o crack. Crianças e ado- lescentes tendem a ser mais suscetíveis à experimentação de drogas por vivenciarem uma fase de estruturação de convívio social e afastamento gradativo do vínculo familiar nuclear. As- sim, a vivência familiar conflituosa ou permeada por situações de violência e uso de drogas pode ter influenciado de alguma forma o comportamento desenvolvido pelas pessoas deste es- tudo, o que é apontado em outros estudos(12). Igualmente, a condição socioeconômica desfavorável tem sido evidenciadaentre a maioria dos usuários de drogas psicoativas(13), no entanto ressaltamos que esse achado não deve ser generalizado, pois o “vício” está presente em todos os estratos sociais. Com relação à dinâmica familiar, um estudo realizado com estudantes do 9º ano do ensino fundamental no Brasil apon- tou déficit no acompanhamento que os pais exercem sobre seus filhos(14), situação que contribui para o aumento da vul- nerabilidade deste grupo. Entre os participantes do nosso estudo, alguns relatos trou- xeram o desejo de matar o pai ou o cônjuge, a agressão física por membros da família ou a vivência de agressões graves cometidas pelo pai contra a mãe. Maus tratos e violência exer- cem influência sobre o uso nocivo e a dependência de subs- tâncias psicoativas, inclusive o crack(2). A família faz parte da sociabilidade primária e é nela que o ser humano primeiro se sociabiliza e aprende condutas rela- cionais para melhor conviver, a princípio com os familiares e, posteriormente, com os vizinhos e amigos(6). O suporte rela- cional começa, portanto, com a família, que dispõe de laços independentes, não necessitando de intermediação para sua formação ou estabelecimento. No entanto, de acordo com os participantes, o suporte familiar experimentado por eles não foi satisfatório na maioria dos casos. Desse modo, quando a sociabilidade primária não consegue desempenhar seu papel de apoio e formação da criança ou adolescente no sentido de oferecer exemplos de enfrentamento dos problemas sem a necessidade de medicamentos, violência, bebidas ou outras drogas, os filhos podem também adotar postura semelhante à dos pais, recorrendo a tais artifícios futuramente. Nesse ponto, devemos salientar a compreensão de que, por trás de filhos vulneráveis, existem famílias que, muitas ve- zes, já vivenciam os cenários de vulnerabilização, e esse é um ciclo que precisa ser atingido a partir do fortalecimento dos laços familiares, sendo assim, não cabe nessa problemática a culpabilização da família(15). Pudemos observar, nos resultados, que houve falha tam- bém na sociabilidade secundária, ou seja, aquela desenvolvi- da pelo Estado por meio de políticas, ações e serviços ofereci- dos à sociedade, uma vez que, entre os participantes, não foi mencionado apoio no sentido de envolvimento da equipe de saúde e demais instituições estatais de apoio nessa trajetória de uso e dependência do crack. Assim, em virtude de más condi- ções socioeconômicas e ausência de oportunidades para for- mação escolar e exercício de atividade laboral ao longo de suas vidas, essas pessoas ficaram vulneráveis tanto ao uso, inclusive o nocivo, quanto à dependência do crack e de outras drogas. No que se refere à experimentação do crack, somente dois participantes relataram influência de familiares, sobretudo do pai, dependente de cocaína inalada, porém, em outro estu- do(16), 48,3% dos entrevistados referiram já ter consumido cra- ck com algum familiar, sendo esta possibilidade maior entre aqueles com quem mantinham parentesco de ordem horizon- tal, como irmãos e cônjuges, do que com pais. O consumo com cônjuge, no entanto, foi o mais relatado. Na segunda categoria, “A Dor do Prazer”, observamos que o uso do crack leva o indivíduo a uma rotina de busca pela droga em grande parte dos casos e gera um padrão diferente de uso, pois, em alguns casos, provoca dependência e pode apresentar alguns fatores predisponentes, como transtorno de personalidade antissocial, déficit de atenção/hiperatividade, Rev Bras Enferm [Internet]. 2016 set-out;69(5):956-63. 960 A trajetória da dependência do crack: percepções de pessoas em tratamentoPedrosa SM, et al. dependência de álcool, maconha, anfetaminas, sedativos hip- nóticos e opioides(17-18). No presente estudo, os participantes comentaram que a mu- dança no padrão do uso de drogas, após a experimentação do crack, gerou prejuízos para suas vidas, de tal modo que o uso, antes passível de controle e compatível com o trabalho e as relações familiares e sociais, assumiu outra proporção e passou a envolver descontrole financeiro e relacional o que, segundo eles, era motivo para um uso cada vez mais constante. Quando instalada a dependência do crack, os participantes deste estudo expressaram um ciclo de uso como o descrito em outro estudo(19), em que essas pessoas oscilavam de um estado de abstinência total, enquanto estavam em alguma ins- tituição de saúde, até uma entrega total à droga, não havendo o efetivo tratamento, o qual, segundo os autores, é permeado por recaídas e usos esporádicos. Os atos ilícitos tornaram-se costumeiros entre os depen- dentes de crack, que passaram a incorporar a denominação de “vagabundo”, usada, segundo Castel(6), como figura para se referir àqueles à margem da lei e da assistência. Assim, ao mesmo tempo em que não contam com suporte relacional nem laboral, também não agem sob as leis das instituições que dispõem desse suporte. No território da dependência do crack, as leis são outras e a linha da ilegalidade, por eles já ul- trapassada, tende a ter seus limites cada vez mais imprecisos. É importante apontar que o próprio consumo e as conse- quências atitudinais deles decorrentes limitam a possibilidade de o próprio usuário buscar o fortalecimento da sua partici- pação no mundo do trabalho e de se envolver em relações sociais significativas que lhes sejam fonte de suporte social, agravando a situação de vulnerabilidade social já vivenciada. No contexto de uso do crack, os participantes descreveram a relação com o tráfico e seu sentimento de revolta para com o traficante e também para com o policial. Com o primeiro não há amizade, por entenderem que ele visa exclusivamente ao lucro desprezando quem não possui poder de compra da droga e, com o segundo, também não há, já que a ação dos agentes de segurança pública foi descrita pelos participantes como sendo coercitiva e, algumas vezes, injusta uma vez que o dependente de crack, por temer retaliação do traficante, omite informações sobre a localização das “bocas” e, conse- quentemente, é tratado com truculência por policiais, situa- ção já apontada em outro estudo(20). No entanto, os participantes do nosso estudo considera- ram o uso do crack incompatível com o tráfico no que se refere ao traficante, uma vez que as características fortemente viciantes desta droga os colocam sempre em risco por dívidas “eternas”. Na vivência relatada por alguns que já traficaram, embora exista rápida elevação do poder aquisitivo, pelo fato de o tráfico ser uma atividade bastante rentável, os bens con- quistados também são rapidamente perdidos, tendo em vista os gastos para se obter a droga. O combate ao tráfico de drogas é uma das frentes de traba- lho da Política Nacional sobre Drogas(21), no sentido de pro- mover a redução da oferta. Mas, quem são esses traficantes? No presente estudo, ficou perceptível que os participantes que relataram ter se envolvido com o tráfico e ainda adquirido alguns bens acabaram perdendo o patrimônio para obter o crack e sustentar a dependência. Existem vários tipos de traficantes(22). O perfil daquele expos- to na mídia e que prevalece no imaginário social é de alguém destemido, que comanda as favelas e enriquece rapidamente; no entanto, o autor discute que o negro, pobre, economicamen- te desfavorecido e morador de locais com pouca assistência do Estado é o mais comum, na realidade. Esses traficantes são co- nhecidos como “mulas”, “boca” ou “aviõezinhos” e ficam com apenas uma pequena parcela do dinheiro do narcotráfico. As falas permitem apreender essa realidade, uma vez que os participantes que relataram passagens pelo tráfico não ti- nham acesso a grande parte do montante de dinheiro e não eram os chefes do tráfico. Prosseguindo a discussão dos resultados no contexto da dependênciado crack, alguns aspectos precisam ser desta- cados em razão de seu maior potencial de vulnerabilidade, por exemplo, o gênero, o uso desta droga por mulheres tem crescido e tem suas especificidades, conforme expressaram as participantes deste estudo e de outros(23-25). Há a tendência de o sexo feminino se importar mais com o contexto familiar e, em especial, com os filhos, as mulheres também expressaram maior descontentamento em relação a si- tuações nas quais expuseram seus filhos a riscos, em decorrên- cia da dependência de crack. Em suas falas, justificaram o uso inicial de drogas por sentirem-se sós, desamparadas, imersas em conflitos familiares ou por necessidade de perder peso, tudo isso demonstra grande influência da esfera afetiva e de aspectos relacionados à autoimagem da mulher na utilização da droga. Além disso, alguns fatores fazem com que a dependência do crack entre mulheres cause problemas mais sérios, uma vez que, não raro, são solteiras, mães em idade fértil e sem renda própria, suscetíveis a situações de violência e prostitui- ção como forma de acesso à droga. Aliado a isso, há de se considerar a questão de estarem suscetíveis a gestações de risco com efeitos nocivos ao bebê e grande possibilidade de posterior negligência de cuidados aos filhos(26). A chegada ao “fundo do poço”, como eles mesmos deno- minam essa situação, determinou a desfiliação que permea- va suas vidas a ponto de alguns, apesar de aptos a deixarem o hospital, precisarem nele permanecer, por não terem para onde ir e não quererem viver na rua. O contexto de desfiliação social em que se encontravam os participantes remete à situação daqueles denominados indigentes válidos ou “os aptos para o trabalho que não tra- balham” que “são postos em um duble bind: injunção de tra- balhar, impossibilidade de trabalhar”, ou seja, o sujeito viven- cia, externa e/ou internamente, uma pressão para o trabalho, porém não está capacitado, ou pelo menos não demonstra estar, para ser integrado ao mercado de trabalho(27). São pes- soas que não se encaixam no perfil da assistência a qual é dirigida àqueles inválidos nem no perfil dos impossibilitados de trabalhar por incapacidade física, das mães de famílias mo- noparentais, dos idosos ou mesmo órfãos. O autor ainda complementa que essa exigência e a simul- tânea impossibilidade de trabalhar fazem com que esse in- digente válido passe a ser considerado criminoso e que suas Rev Bras Enferm [Internet]. 2016 set-out;69(5):956-63. 961 A trajetória da dependência do crack: percepções de pessoas em tratamentoPedrosa SM, et al. atitudes justifiquem atos de repressão. Embora o autor se re- fira à situação de grupos integrantes da história europeia nos últimos séculos, consideramos que o perfil de boa parte dos participantes do presente estudo se identifique ao de indigen- te válido. São pessoas que conseguem trabalhar, mas não são “empregáveis” e apresentam laços relacionais muito prejudi- cados, por não os possuírem desde crianças ou tê-los perdido quando em processo de uso nocivo ou dependência da droga. Enfim, segundo os relatos constantes da terceira categoria, “Retomar a Vida”, os participantes desejam sair da situação em que se encontram, associam esse recomeço à necessidade de conseguirem se manter abstinentes da droga e ainda que esse desejo de parar com o uso do crack só acontece por iniciativa e vontade próprias. Desse modo, os participantes demonstraram compartilhar da concepção imperante na sociedade que defen- de a abstinência como a única via para uma vida considerada correta, aspecto também observado em outro estudo(19), além da necessidade de uma abordagem que respeite a autonomia e a vontade da pessoa que busca o tratamento. Nesse contexto, é importante a discussão sobre o estigma sofrido pelo usuário de drogas, em especial o de crack. Estig- ma pode ser definido como “uma marca física ou social de co- notação negativa ou o que leva o portador dessa ‘marca’ a ser marginalizado ou excluído de algumas situações sociais”(28). Concepções a respeito de como o dependente de drogas é “fraco” ou “mau caráter” e que esse problema “não tem solu- ção” são ideias arraigadas na sociedade e, por consequência, nos hábitos dos profissionais de saúde(28), o que pode compro- meter a aproximação desses profissionais. E necessário que visualizemos a pessoa em tratamento da dependência do crack (que não deve, a nosso ver, ser denomi- nada de usuário ou dependente de crack), como uma pessoa passível de ser sujeito em ações de empoderamento e que haja valorização dessa pessoa e fortalecimento da sua autoes- tima juntamente com sua família. Ações essas que profissio- nais da saúde, da educação, da assistência social, da seguran- ça pública, entre outros, podem desenvolver conjuntamente. Um dos aspectos fundamentais para a reabilitação do de- pendente do crack é a inserção laboral. Entre dependentes de substâncias psicoativas, o prejuízo da falta de vínculo laboral geralmente está presente, visto que, não raro, já apresentam déficit de formação educacional formal, ou a rotina de uso da droga inviabilizou a manutenção do vínculo empregatício, ou até mesmo o estigma que sofrem dos empregadores e colegas de trabalho(29). A inserção laboral é uma das bases para a efetiva integração das pessoas na sociedade(6). Para os participantes deste estudo, o trabalho representa a via para obtenção de dinheiro, recuperação da dignidade e do valor perante a sociedade e a família. Revelou- -se, portanto, fundamental o sustento próprio e o da família por meio lícito e estável, o que, no decorrer do uso nocivo de crack, se revelou um dos, senão o primeiro, aspectos comprometidos. No entanto, essa inserção no mercado de trabalho, vis- ta com esperança pela maioria dos participantes, demanda ações conjuntas que devem ser amparadas pela rede de as- sistência social e acompanhadas de perto pela família e pelos diversos parceiros da saúde. A Zona de Assistência consiste em uma tentativa de subs- tituir a sociabilidade primária e oferecer condição, ao me- nos mínima, de sobrevivência às pessoas que estejam na desfiliação(6). O hospital, no presente estudo, representou, segundo a fala dos participantes, uma das poucas ferramentas da Zona de Assistência para superar as consequências da de- pendência do crack. No entanto, uma vez que a dependência de drogas pode ser considerada uma condição crônica, é esperado que haja recaídas e dificuldades na manutenção do tratamento por par- te de quem vivencia a dependência(2). Outro ponto a ser considerado é que a religiosidade tem sido considerada importante recurso para o tratamento con- tra a dependência de drogas, uma vez que a fé proporciona maior qualidade de vida, por instilar esperança. Nesse senti- do, a pessoa em tratamento da dependência passa a “contar com a ajuda de Deus”(30). CONSIDERAÇÕES FINAIS A abordagem oferecida a pessoas em tratamento da depen- dência do crack é complexa e traz consigo um conjunto de sentimentos, estigmas e (pré)conceitos por parte de quem as aborda. No presente estudo, à medida que esse contato foi es- tabelecido e esses sentimentos foram elaborados, foi possível entender o que os participantes estavam expressando. Na trajetória do uso e da dependência do crack expressa pelos participantes desse estudo, pouco apoio foi relatado. O desafio de intervir em algum momento nesse processo pode ser facilitado se houver o necessário apoio da família, de amigos, dos empre- gadores, da religião e, também, da força de vontade dos próprios usuários para superar o vício e retomar a vida após o crack. A utilização do referencial de Robert Castel possibilitou uma visão mais dinâmica e próxima da complexidade vivenciada pe- los participantes do estudo. Porém este referencial trata de uma das facetas de um problema
Compartilhar