Buscar

relatoria sniff av2 (trabalho pronto)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 9 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 9 páginas

Prévia do material em texto

Centro Universitário Estácio Juiz de Fora
Curso de Psicologia
Disciplina: Análise Experimental do Comportamento
	
Título: Relátorio 2
Nome do autor 1: Douglas Danelon ( 201502183838 )
Nome do autor 2: Gustavo Aparecido Silva Souza ( 201501383299 )
Juiz de Fora
Abril de 2016
 Resumo
A Análise Experimental do Comportamento consiste em fazer uma análise funcional, ou seja, entender um comportamento. Para este experimento do condicionamento operante o objetivo foi observar alguns fenômenos importantes para a psicologia, e para aprendizagem dos alunos. O método do comportamento operante trabalha por meio da modelagem, onde o comportamento é função das contingências a que o organismo está exposto, sendo assim, será possível ver o ambiente agindo no sujeito, ou seja, os eventos por meio de reforço e punição influenciando no comportamento do rato virtual através do programa do Sniffy Pro. O evento Reforçador segundo Skinner é tudo aquilo que aumenta a probabilidade de um comportamento ocorrer, sendo assim, foi possível modificar o comportamento do rato virtual, observar que no processo de modelagem ocorre a extinção operante, que se caracterizam pela diminuição da probabilidade da ocorrência de resposta devido a retirada de um reforçador, observar que um comportamento aumenta a freqüência de resposta quando é reforçado. Então com base no Condicionamento Operante behaviorista a prática do experimento foi realizada com êxito, observando-se os comportamentos apresentados pelo rato virtual.
 
 Sumário 
Resumo...........................................................................................02
Sumário...........................................................................................03
Introdução........................................................................................04
Método.............................................................................................05
Resultados......................................................................................6/7
Discussão....................................................................................7/8
Referencias bibliográficas..............................................................9
Anexos.............................................................................................9
 Introdução
O programa Sniffy Pro proporciona aos alunos um acesso prático aos principais fenômenos de condicionamento operante e clássico que os cursos de psicologia da Aprendizagem normalmente discutem, pois é uma maneira acessível de aprendizagem para os alunos e alguns comportamentos observados no rato virtual se assemelham em alguns contextos com o comportamento humano, porem o comportamento humano é de alta complexidade, essas comparações são feitas dadas as devidas proporções. 
Teremos alguns conceitos que serão discutidos no decorrer do relatório, conceiros como, pareamente de um estimulo condicionado com um estimulo incondicionado, reforço, modelagem, extinção e recuperação espontanea.
Todos esses conceitos acima são observaveis nos seres humanos, lembrando que o relatorio é baseado em uma linha de psicologia comportamental, ou seja, os conceitos aqui discutidos aqui tem as suas bases no Behaviorismo, dando enfoque nos comportamentos operantes.
É importante ressaltar que esses conceitos aqui discutidos são amplamente ultilizados em atendimentos clinicos, seja com pacientes fóbicos, seja com pessoas que fazem o uso abusivo de alcool ou outras drogas, e também na modelagem de algum comportamento em especifico que o paciente queira alcançar, sendo assim, podemos perceber que esses conceitos são de alta importância para a psicologia, visto que, implica diretamenta na melhoria de vida é também na saúde mental das pessoas que desfrutam deles.
Ao falarmos dos resultados no relatòrio foi possivel relacionar algumas situações contextuais, onde o psicologo poderia atuar usando as tecnicas ou conceitos discutidos acima, tendo assim uma visão voltada para o trabalho do psicologo na clinica.
 Método 
Participantes
Participaram do experimento os alunos do curso de psicologia e um professor da disciplina Análise Experimental do Comportamento do curso de psicologia. As idades dos participantes variaram entre 17 e 46 anos, e todos os alunos sem contato prévio com a situação experimental, sendo assim todos instruido pelo professor durante o experimento.
Sujeito
Foram utilizados ratos virtuais através de um programo do Sniffy no computador. Os animais foram mantidos dentro da caixa de Skinner individuais para cada dupla de alunos, podendo cada dupla manipular as variaveis dependente e independentes do rato por meio das opçoes que o programa oferecia.
Ambiente, materiais e instrumentos
O experimento foi feito em uma sala de aula, onde os materiais como caderno e caneta estavam a disposição para anotações durante o procedimento. O computador foi o instrumento utilizado para observação do comportamento do rato virtual no programa do Sniffy Pro.
Procedimento
Utlilizou-se um procedimento de análise experimental do comportamento. No experimento 1 houve o pareamento da barra com a comida, observamos uma tentativa de associação, quando o rato virtual pressionava a barra, era liberado um reforço, ou seja, a comida. No experimento 2 o reforço era liberado quando o rato se levantava na frente do comedouro ,nesse experimento o rato era reforçado apenas quando se erguia perto do comedouro, tentativas de 8 a 10 vezes rato levantar e pressionar a barra, e imediatamente liberar a comida. No experimento 3 pressionar a barra, nesse experimento o rato virtual era reforçado apenas quando pressionava a barra, fazendo assim um processo de extinção. Sendo assim a modelagem estava instaurada no rato virtual. No Experimento 4 extinção, nesse experimento foi tirado o reforço quando o rato virtual pressionava a barra, diminuindo assim a probabilidade da resposta ocorrer. E no Experimento 5 recuperação espontânea ou recaída, o rato virtual foi retirado da caixa por 24 horas, e depois retornamos o rato para a caixa de Skinner, esperando assim que a recuperação espontânea de pressionar a barra viesse a ocorrer.
 Resultados
Foram realizados alguns experimentos no programa Sniffy, ou seja, o rato virtual onde o comportamento do rato é aleatório com grande semelhança do rato real, nos experimento realizados foi possível observar alguns fenômenos importantes para a psicologia, e para aprendizagem dos alunos.
Experimento 1 pareamento ou associação da barra com a comida: nesse experimento observamos uma tentativa de associação, quando o rato virtual pressionava a barra, era liberado um reforço, ou seja, a comida, quanto mais imediato for esse reforço, percebemos uma maior facilidade na aquisição da resposta desejada pelo pesquisador, que nesse caso seria pressionar a barra, basicamente esse processo é um pareamento entre um estimulo condicionado (barra) é um estimulo incondicionado (comida), porem observando mais amplamente visamos um processo de modelagem do comportamento.
Experimento 2 o reforço era liberado quando o rato se levantava na frente do comedouro (continuação do processo de modelagem): nesse experimento o rato era reforçado apenas quando se erguia perto do comedouro, fazendo assim uma extinção de outros comportamento com a não liberação do reforço, sendo assim o rato caminha de maneira sucessiva perto do comedouro, sendo reforçado apenas o comportamento de erguer próximo ao comedouro, com a finalidade de pressionar a barra, continuando assim o processo de modelagem, que tem como conceito a aproximação sucessiva de um comportamento desejado, por meio de reforços, punições e extinção.
Experimento 3 pressionar a barra: nesse experimentoo rato virtual era reforçado apenas quando pressionava a barra, fazendo assim um processo de extinção novamente de outros comportamentos, lembrando que o conceito de extinção seria, a diminuição da probabilidade de ocorrência de uma determinada resposta devido a retirada da ocorrência de um reforçador, sendo assim no processo de modelagem e necessário usar a extinção. Com isso, foi possível observar que rato virtual reforçado somente quando pressionava a barra, passou a caminhar sucessivamente mais perto da barra, sendo reforçada com comida toda vez que a pressionava, percebemos também uma diminuição no comportamento de se limpar. Sendo assim a modelagem estava instaurada no rato virtual, visto que, o rato pressionava a barra com grande freqüência, o comportamento que era o objetivo no inicio da modelagem foi alcançado.
Experimento 4 extinção: nesse experimento foi tirado o reforço quando o rato virtual pressionava a barra, diminuindo assim a probabilidade da resposta ocorrer, como o conceito de extinção já foi dado anteriormente, podemos perceber que, tanto no processo de modelagem, quanto na diminuição da probabilidade do comportamento ocorrer a extinção pode ser usada, tendo resultados observáveis.
Depois de certo tempo pressionando a barra sem obter o reforço, observamos que o rato virtual diminuiu em grande quantidade o comportamento de pressionar a barra, sendo assim, alcançamos a proposta da extinção do comportamento, lembrando que pro Behaviorismo um comportamento não e desaprendido totalmente, ele apenas diminui a sua freqüência, um exemplo disso e quando ocorre a recuperação espontânea, que é o tema do último experimento.
Experimento 5 recuperação espontânea ou recaída: esse fenômeno tem como conceito o reaparecimento de uma determinada resposta que já foi condicionada anteriormente, depois de um período que o individuo ou animal ficou sem emitir essa resposta ou diminuiu a emissão dessa resposta. Nesse experimento o rato virtual foi retirado da caixa por 24 horas, e depois retornamos o rato para a caixa de Skinner, esperando assim que a recuperação espontânea de pressionar a barra viesse a ocorrer, esse fenômeno foi observado rapidamente quando o rato virtual foi inserido na caixa novamente, percebemos uma recuperação espontânea de pressionar a barra continuamente, porem, como o reforço (alimento) não era liberado, a freqüência da resposta teve uma diminuição novamente, lembrando que a recaída ou recuperação espontânea faz parte do processo de extinção, tendo uma importância clinica para o terapeuta entender o contexto e o momento no qual o indivíduo está vivendo. 
 
 Discussão
Com a leitura de alguns artigos e os estudos feitos em sala de aula e possível comprara alguns aspectos importantes dos experimentos, trazendo essa comparação para um contexto humanizado e clinico.
No experimento 1 onde tivemos uma associação de um estimulo condicionado com um estimulo incondicionado, começando assim um processo de modelagem, podemos citar dois pontos importantes, primeiro a associação, que é feita pelos seres humanos continuamente, um exemplo disso seria as propagandas de cerveja, onde pareamos a cerveja com todos os estímulos de interesse que estão em volta, por exemplo alegria, mulher, sexualidade, lembrando que cada ser humano e único e interpreta de a propagando de uma forma individual, mas provavelmente a maioria das pessoas fazem esse tipo de pareamento.
Um segundo ponto importante nesse contexto é a modelagem, os seres humanos também fazem com freqüência esse fenômeno, por exemplo, a relação de pais e filhos, geralmente os pais estão tentando modelar o comportamento da criança em vários momentos, usando punições e reforços para se chegar no comportamento de desejo.
O experimento 2 faz parte do processo de modelagem no qual já conceituamos, outro fenômeno interessante que acontece no experimento 2, seria a extinção de alguns comportamento específicos para que se tenha novas aprendizagens, os seres humanos também fazer isso, muitas vezes sem ter essa percepção técnica, por exemplo em um relacionamento, quando um namorado(a) não quer que determinado comportamento ocorra, automaticamente ele(a) para de reforçar aquele comportamento, fazendo com que tenha uma diminuição na probabilidade daquele comportamento ocorrer.
Falando sobre o experimento 3 podemos observar o êxito na modelagem, quando observamos que o rato virtual pressiona a barra continuamente, em um contexto de seres humanos, observamos isso na relação novamente de pais e filhos, quando um bebê começa a andar, provavelmente ele vai ser reforçado continuamente, ate que ele aprenda, tendo assim um êxito no processo de modelagem.
Observando o experimento 4 podemos ver o fenômeno chamado extinção, esse conceito já foi falado anteriormente, para fazer um reforço do conceito podemos colocar um novo exemplo, que seria, em uma relação de dois irmãos, um deles tem um comportamento de gritar por exemplo, é o outro não reforça esse comportamento, sendo assim a probabilidade desse comportamento ocorrer vai diminuir, com o tempo provavelmente ele chegará a extinção.
No experimento 5 foi observamos o processo de recuperação espontânea ou recaída, como o conceito desse fenômeno já foi falado anteriormente é possível discutir sobre ele, esse processo de recaída clinicamente e muito observado em pessoas que são usuários contínuos de álcool ou outras drogas como maconha, cocaína, crack entre outras. 
Geralmente as pessoas que fazem uso contínuo dessas substancias conseguem parar de usar por um tempo, um problema importante para lidar na clinica é justamente essa recaída, que muitas vezes decepcionam os usuários diminuindo a auto-estima e confiança em si, porem para o terapeuta a recaída é importante e faz parte do processo, visto que, o organismo não desaprende totalmente um comportamento, o organismo é adaptativo, nesse processo de recaída o terapeuta vai tentar entender junto com o paciente, em qual contexto esse fenômeno surgiu, como o paciente se sentiu, quais foram os antecedentes, qual foi o comportamento é também as conseqüências, sendo assim, o terapeuta consegue ter um melhor entendimento do caso, buscando intervenções para aquele paciente em especifico.
 Referencias bibliográficas: 
GONTIJO, Tavares Daniela. MEDEIROS, Marcelo. PEDROSA, Mara Sheila. REIS, Lopes Mary. TELES, Araújo Sheila. A trajetória da dependência do crack: percepções de pessoas em tratamento. Brasília, 2016.
DONOSO, Vieccelli Terezinha Miguir. RICAS, Janete. Perspectiva dos pais sobre educação e castigo físico. São Paulo, 2009.
Anexo
Rev Saúde Pública 2009;43(1):78-84
Miguir Terezinha Vieccelli 
Donoso
Janete Ricas
Departamento de Enfermagem Básica. Escola 
de Enfermagem. Universidade Federal de 
Minas Gerais. Belo Horizonte, MG, Brasil
Correspondência | Correspondence:
Miguir Terezinha Vieccelli Donoso
Escola de Enfermagem da UFMG
R. Alfredo Balena, 190 – Campus da Saúde 
Santa Efi gênia
30130-100, Belo Horizonte, MG, Brasil
E-mail: miguir@enf.ufmg.br
Recebido: 5/5/2008
Aprovado: 28/8/2008
Perspectiva dos pais sobre 
educação e castigo físico
Parent’s perspective on child rearing 
and corporal punishment
RESUMO
OBJETIVO: Descrever a percepção dos pais acerca do castigo físico, 
considerando-se o signifi cado da educação e punição física, e formas de 
educar.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: Foram abordados 31 familiares, 
estando 12 sob tutela por denúncia de maus-tratos e 19 não tutelados em 
unidade básica de saúde e na secretaria de Assistência Social de Belo Horizonte 
(MG) em 2006. Procedeu-se à análise de discurso dos relatos obtidos por 
meio de entrevistas semi-estruturadas. Os dados foram organizados em temas 
e categorias.
ANÁLISE DO DISCURSO: Os resultados apontaram a restrição dos discursosdos entrevistados em função das suas condições de produção. Houve diversidade 
de concepções sobre educação e formas de educar, tendo como pontos comuns 
o relato da prática da punição física por todos os pais, mesmo entre aqueles que 
a condenam. Os discursos foram marcados pela heterogeneidade e polifonia, 
sobressaindo-se o discurso da tradição, o discurso religioso e o discurso 
científi co popularizado. Não foi observada expressão do conceito de interdição 
legal da prática ou dos seus excessos pelos participantes.
CONCLUSÕES: A cultura do castigo físico encontra-se em transição, em 
que a tradição de permissão se enfraquece e a interdição se inicia lentamente. 
Reforço ações de repressão legal à prática poderia contribuir para acelerar o 
processo de interdição do castigo físico.
DESCRITORES: Educação Infantil. Punição. Relações Pais-Filho. 
Violência Doméstica. Pesquisa Qualitativa.
79Rev Saúde Pública 2009;43(1):78-84
Do ponto de vista da ciência e cada vez mais dos 
profi ssionais que se ocupam da atenção à criança, os 
castigos físicos são tidos como violência. Pode, entre-
tanto, não ser percebido como violência por quem o 
pratica, devido à difusão e aceitação social da prática. 
Mesmo nos meios intelectuais, o uso do castigo físico 
é por vezes explicitado como procedimento rotineiro e 
normal. Nos meios populares pode chegar a ser motivo 
de vanglória e é freqüentemente cobrado dos pais e fa-
miliares pela sociedade em situações de transgressões 
pelas crianças das normas de convivência adotadas no 
grupo social a que pertence. Mesmo as crianças que 
sofrem o castigo, incorporando os valores culturais, 
podem, também, não encarar o castigo como violên-
cia,14 pois aprendem precocemente, que é “normal” ou 
até desejável apanhar dos pais.
A tendência a condenar a punição física deslocando-a, 
qualquer que seja a sua forma e intensidade, para a 
categoria de violência tem suas bases em estudos e 
observações que mostram os riscos e seqüelas desta 
prática para a criança.
Os limites tolerados de intensidade, freqüência e formas 
do castigo físico educativo culturalmente aceitos são 
ABSTRACT
OBJECTIVE: To describe parents’ current perception of corporal punishment 
associated to child rearing and its practices.
METHODOLOGICAL PROCEDURES: There were studied 31 family 
members whose children were warded due to child abuse complaints (12) and 
not warded (19) at a health care unit and a local social service unit in the city 
of Belo Horizonte (Southeastern Brazil) in 2006. Data was collected through 
semi-structured interviews and speech analysis was performed grouped by 
subjects and categories.
ANALYSIS OF DISCOURSE: There was limitation of the respondents’ speeches 
based on their production means. There was a diversity of conceptions on 
child rearing and its practices and corporal punishment was reported by all 
parents, even among those who expressed strong disapproval of this practice. 
Speeches were characterized by heterogeneity and polyphony with emphasis 
on the tradition speech, the religious speech and the popular scientifi c speech. 
Respondents did not express concepts of legal interdiction of corporal 
punishment or its excesses.
CONCLUSIONS: The culture of corporal punishment of children is changing; 
tradition approving it has weakened and prohibition has been slowly adopted. 
Reinforcing legal actions against this practice can contribute to speed up the 
process to end corporal punishment of children.
DESCRIPTORS: Child Rearing. Punishment. Parent-Child Relations. 
Domestic Violence. Qualitative Research.
INTRODUÇÃO
a Cardoso ACA. Maus tratos infantis: estudo clinico, social e psicológico de um grupo de crianças internadas no Instituto da Criança do 
Hospital das Clínicas da FMUSP [Tese de Doutorado]. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 2002.
muito variáveis entre grupos sociais e famílias. As sim-
ples palmadas coexistem com os espancamentos, sendo 
justifi cadas da mesma forma: a necessidade educativa.a
Mesmo tendo a intenção educativa, o ato de bater fa-
cilmente resvala para além dos limites colocados pelo 
próprio educador, pelas próprias características do ato. 
Segundo Bessa et al,2 a punição física muitas vezes é 
utilizada de maneira descontrolada, mais como alívio 
para quem bate do que como meio disciplinar.
A justifi cativa educativa encobre com muita freqüên-
cia, outras intenções, conscientes ou não, motivadas 
por sentimentos de rejeição, ódio, raiva, frustração, 
dentre outros, do adulto contra a criança ou canalizado 
para ela.15
Quando o castigo físico não traz os resultados desejados 
pelo educador, a tendência é o aumento da intensidade 
e freqüência levando a um círculo vicioso que pode 
desembocar em situações trágicas. Zagury16 postula 
que em algumas situações, mesmo apanhando e com 
medo, a criança identifi ca esse ato como humilhante, 
encontrando forças para enfrentar os pais, quando 
dizem “Nem doeu”. Essa é uma forma de defesa que 
80 Educação e castigo físico Donoso MTV & Ricas J
pode redundar em mais agressão, em razão do possí-
vel descontrole dos pais. Portanto, o que muitos pais 
convencionam chamar de “palmadas” pode resultar 
em espancamento.
Os estudos têm mostrado os efeitos deletérios, às vezes 
catastrófi cos, sobre o desenvolvimento afetivo, social 
e cognitivo da criança, com graves repercussões na 
vida adulta.15
A qualidade de vida da criança é prejudicada. O direito 
ao respeito, à dignidade, integridade física e moral não 
deve esperar a vida adulta.
A literatura tem mostrado a complexidade da determina-
ção da violência contra a criança apontando uma grande 
quantidade de variáveis que se inter-relacionam nas cau-
sas do fenômeno.16 Podem ser tomadas como exemplos: 
1) questões históricas relacionadas ao lugar, auferido 
pela cultura à criança na sociedade e na família;5 2) 
questões econômicas e sociais como proveniência de 
segmentos sociais desfavorecidos e situações associadas 
como analfabetismo, marginalidade e desemprego;a 3) 
questões relacionadas à desigualdade, dominação de 
gênero e relação de poder entre gerações;13 4) prove-
niência de ambientes normalmente confl ituosos com 
presença de problemas psíquicos tais como depressão, 
alcoolismo e outras drogadições;1,10,12 5) falta de sensibi-
lidade social, isolamento e suporte social inadequado;17 
6) Tipo de estruturação e tradição familiar.1
Ações para diminuir a violência devem considerar todos 
os determinantes, dentre eles as questões culturais. Es-
pecifi camente, a questão da aceitação social do castigo 
deve ser aprofundada com o objetivo de intervenções 
visando a sua “desconstrução” para dar lugar às formas 
educacionais menos lesivas para as crianças.
O presente estudo teve por objetivo descrever a percep-
ção de pais acerca do castigo físico, considerando-se o 
signifi cado da educação, a associação entre educar e a 
punição física e formas de educar.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Realizaram-se entrevistas semi-estruturadas com dois 
grupos de pais: o primeiro grupo foi constituído por 
19 mães de fi lhos em idade pré-escolar e escolar sem 
queixas institucionais de violência física contra eles. 
As mães foram contatadas e entrevistadas na sala de 
espera de uma unidade básica de saúde em Belo Hori-
zonte (MG), de março a maio de 2006. As participantes 
foram solicitadas a falar sobre educação de crianças, 
formas que utilizavam para educar suas crianças, 
estabelecimento de limites, situações que motivavam 
ou justifi cavam castigos físicos, visão sobre o castigo 
físico e experiências na educação dos fi lhos. O segundo 
grupo foi constituído por nove mães, um pai e uma avó 
que já haviam sido formalmente denunciados por maus 
tratos e estavam sob tutela da Promotoria do Menor. 
Essa etapa realizou-se com o apoio do um ProgramaFamílias Acolhedoras (PFA), da Secretaria Municipal 
Adjunta de Assistência Social de Belo Horizonte, que 
atende famílias com crianças de zero a 12 anos, com 
medida de proteção expedida pelos órgãos compe-
tentes (Conselhos Tutelares, Juizado da Infância e da 
Juventude e Ministério Público). As entrevistas foram 
individuais, realizadas em salas exclusivas.
O número fi nal de participantes em cada grupo foi 
determinado pelo critério de saturação.7
Foi utilizada a análise de discurso3 como referencial 
teórico para a análise dos relatos. Os dados foram 
organizados em temas e categorias.
O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética 
em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais 
(COEP-UFMG) e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da 
Secretaria de Saúde da Prefeitura Municipal de Belo 
Horizonte (CEP – SMSA/PBH).
ANÁLISE DOS DISCURSOS
Na análise das falas, de acordo com os princípios da aná-
lise de discurso, foram consideradas quatro situações.
Situações de análise
Infl uência das condições materiais do setting da 
entrevista
No primeiro grupo, as limitações e a informalidade 
da sala de espera limitaram a privacidade e a atenção, 
mas, ao mesmo tempo, o sentar lado a lado com o 
entrevistador e a companhia de outras pessoas que, 
presumidamente, compartilham as mesmas concepções, 
contribuiu para diminuir as restrições ao discurso:
“Isso [...]. Mas não voltei atrás, porque acho que ela 
mereceu aquelas varada na hora certa que eu dei... 
ela mereceu e tem que ganhar o castigo na hora que 
merece.” (Renata, G1)
No segundo grupo, inversamente, a utilização de sala 
com privacidade pode ter aumentado a atenção e faci-
litado a expressão de conteúdos mais sigilosos, entre-
tanto, a formalidade da situação, pode ter aumentado 
as restrições ao discurso:
“Oh, eu não sei se a resposta é certa, mas é ... Eu 
não quero mais fazer com o Chiquinho o que fi zeram 
comigo...Hoje, eu acho que educar uma criança é 
conversar....” (Samira, G2)
a Tourinho JOS. Tutela jurídico – penal da infância e da juventude: dos maus tratos [Dissertação de mestrado] Maringá: Universidade Estadual 
de Maringá; 2001
81Rev Saúde Pública 2009;43(1):78-84
Restrições impostas pelo gênero do discurso e 
contexto institucional
A entrevista, mesmo semi-estruturada, produz o 
enquadramento das falas em perguntas e respostas 
segundo um objetivo pré-determinado. A ocorrência 
em um centro de saúde e na instituição tutelar e não 
na residência ou outro local mais neutro, foi relevante, 
sobretudo, para o segundo grupo devido à relação legal 
e de dependência dos participantes com a Instituição.
Representações imaginárias dos sujeitos sobre sua 
própria identidade e do outro
Nos dois grupos, estabeleceu-se, de início, uma relação 
hierárquica, na qual o pesquisador foi visto como de-
tendo um saber mais legítimo que o do entrevistado, em 
relação ao qual, o seu próprio saber seria avaliado:
“Assim, a gente não educa dando palmada, mas se 
a criança te estressa tanto, te faz tanta raiva que na 
hora que você vê, já bateu. Entendeu? Você explica, 
você conversa, não adianta. Aí, você acaba perdendo 
a estribeira!” (Raissa, G1).
No grupo dois, a mediação da Instituição Tutelar levou 
à percepção do pesquisador como representante desta 
e com poderes para julgamentos, punição e retirada 
de benefícios.
Intenções manifestadas pelos entrevistados
Embora o solicitado pelo entrevistador tenha sido a 
intenção visada de informação, no primeiro grupo, junto 
à informação, predominou a intenção demonstrativa, 
onde as mães tentavam mostrar a justeza de suas con-
cepções e atitudes:
“Eu mesma já dei e, se precisar, dou mesmo (palmadas). 
Coloco de castigo e, assim, converso muito. Tem mãe 
que bate, mas não explica por que a criança levou 
palmada. Eu, sempre que dou palmada nele, depois eu 
falo: ‘Filho, você sabe por que a mamãe te deu palma-
da? Foi por causa disso. Assim, eu... eu acho que dou a 
melhor educação que eu posso.” (Rosane, G1)
No segundo grupo os entrevistados tentavam mostrar 
que seus atos tinham determinantes além de suas pró-
prias intenções e vontades:
“Olha, antes..bem antes, que a minha vida era assim, 
uma vida muito difícil, então eu não tinha, assim, outros 
meios de educar meus menino...” (Sílvia, G2);
Também tentavam mostrar que suas concepções e atitu-
des sofreram transformações, como na fala de uma mãe 
denunciada por lesão grave e incapacitante da fi lha:
“Graças a Deus lido muito bem! Com todas as minhas 
fi lhas. De bater foi só essa vez. Graças a Deus, nunca 
mais houve nada...!” (Regina, G1)
Além disso, foi considerada a situação social e econô-
mica atual das famílias como determinante e restritora 
dos seus discursos:
“Porque a minha família é corregedora. Só é pobre, 
mas não tem esse defeito (roubar) né?” (Sibele, G2)
Predominou, no primeiro grupo, a situação de pobreza, 
enquanto, no segundo grupo, a maioria estava abaixo 
da linha de pobreza, com grande difi culdade de suprir 
as necessidades básicas, não tendo fi nalizado os quatro 
primeiros anos de escolaridade.
Análise de relatos
A análise dos relatos permitiu categorizá-los em: 1) 
significados atribuídos à educação dos filhos e 2) 
formas de educar os fi lhos. As categorias analíticas 
foram relacionadas aos seguintes temas: concepções 
científi cas sobre violência doméstica; formas de educar 
divulgadas pela mídia, programas de assistência social 
e pelo contato com profi ssionais de saúde e educação; 
legislação sobre os direitos da criança e história da 
infância no Brasil, particularmente no que se refere à 
naturalização do castigo físico.
Signifi cados atribuídos à educação dos fi lhos e 
punição física
Sob este tema foram agrupadas as categorias que conti-
nham expressões dos signifi cados sobre educação:
Preparar para a vida
Nesta categoria a educação é vista como um instrumen-
to a ser utilizado para a inserção social dos fi lhos no 
sentido de adequação às leis ou no sentido de preparo 
para a sobrevivência.
“Bom, pra mim, eu penso assim, né? É minha maneira 
de pensar. Eu acho que educar uma criança é uma coisa 
importante que tem os pai, né? Então, assim, é prepará 
ele pro mundo, né, pra chegar lá na frente e ele saber 
o que ele não deve, né?” (Renata, G1)
A fala ressalta, na preparação para o mundo, a interdi-
ção. As possibilidades são enfatizadas na necessidade 
de escolarização:
“Eu falo sempre de ele estudá, que eu não pude estudá, 
entendeu?” (Raquel, G1).
As mães pertencentes ao grupo sob tutela apontaram o 
estudo como substituto da violência para a educação:
“Ah, educar é dar estudo, cuidar direitinho, que hoje 
violência não ensina ninguém” (Sibele, G2).
O segundo grupo foi especialmente marcado pela 
presença da violência em seu quotidiano, não sendo 
esperado que o castigo físico tivesse tal conotação. 
82 Educação e castigo físico Donoso MTV & Ricas J
Observou-se no relatório de encaminhamento da entre-
vistada Sibele, pelo Conselho Tutelar ao PFA, que ela 
tinha atitudes violentas, tendo espancado a fi lha com um 
pedaço de madeira em brasas. A mãe expressou que o 
estudo e os cuidados maternos eram essenciais à criança 
em detrimento de agressões físicas. Observou-se nessas 
afi rmações a incorporação do discurso transmitido pelos 
profi ssionais do Conselho Tutelar, caracterizando uma 
situação de polifonia.
Transmissão cultural
Nesta categoria, a educação aparece como repetição e 
como negação do vivido na própria infância:
“Eu não quero mais fazer com o Chiquinho o que 
fi zeram comigo, porque eu apanhei muito. Apanhei da 
minha mãe, apanhei dos meus irmãos. Hoje, eu acho 
que educar uma criança é conversar.... Eu acho que 
vale mais um castigo, porque a marca de uma varada, 
de um tapa, de uma correiada, uma chinelada... dói 
muito. Eu não quero queele passe o que eu passei, 
porque machuca muito.” (Samira, G2)
A literatura aponta a experiência de maus tratos na in-
fância como um dos determinantes do comportamento 
agressor em adulto. Segundo Lieder et al,8 a condenação 
do ato agressor foi atribuída por alguns pais a essa 
experiência. Em estudo realizado nos Estados Unidos, 
Renner & Slack11 concluíram pela existência de fraco 
suporte para sustentar a hipótese da transmissão de vio-
lência, mostrando que essas crianças serão mais sujeitas 
a serem vitimizadas do que vitimizadoras em adulto.
No presente estudo, todos os participantes, mesmo os 
que afi rmaram discordar do castigo físico, relataram 
espontaneamente já ter batido em seus fi lhos. Isso indica 
uma contradição entre antigos valores e a adoção de 
novos, que se mostra na polifonia das falas, nas quais 
se percebe, sobretudo, a incorporação implícita ou ex-
plícita do discurso da pedagogia e da psicologia:
“Mas aí, depois que eu comecei a tratar com o psicólo-
go, o psicólogo falou que educar é ocê conversar, bater 
não resolve. Se bater resolvesse não tinha marginal na 
rua. Que era para eu levar ele na conversa, conversar 
mais.” (Simone, G2)
Mesmo considerando todas as restrições ao discurso, 
houve pouca censura no relato da prática, o que revela 
a predominância ainda, do discurso tradicional, no qual 
bater era recomendado e direito dos pais.4 Especialmen-
te no grupo 2 considerando a condição de tutelados, 
algumas falas mostram a força da tradição na convicção 
das concepções expressas:
“Eu lido com eles...a hora que eles merece, eu bato! 
Agora, se eles não fi zer nada de errado, eu não bato. 
Agora, se fi zer, eu bato, e muito!” (Sonia, G2)
A incoerência entre a condenação cognitiva da prática 
revelada no discurso e a própria prática pode ser um 
indício de mudança cultural e talvez de atenuação da 
violência. O estudo de Duhamel6 no Canadá, mostrou 
relação entre justifi car a violência e o uso da mesma 
contra a criança. As mães que expressaram maior 
tolerância à violência contra a criança tiveram maior 
chance de usá-la contra seus próprios fi lhos.
Atenção às necessidades vitais: amor, carinho e 
atenção
“Ah, é porque as criança, né, têm que dar tudo, né, que 
precisa, por exemplo, né? Carinho, né? Não deixar 
fi car pras rua afora, alimentação direito, a escola, pra 
estudá, né?” (Roseli, G1)
Infere-se a infl uência da origem econômico social 
nesta concepção. De fato, em condições de privação 
ou não abundância, dar “tudo o que a criança preci-
sa” pode implicar em sacrifícios signifi cativos para 
a família, signifi cando a valorização da criança. Nas 
classes abastadas “dar tudo” pode ser indício mesmo 
de negligência.
“É tratar com amor, carinho, né? Compreensão, fi car 
sempre atento às coisas que elas fazem, né? É assim, 
pra mim. É fi car sempre observando.” (Rita, G1)
A consciência da necessidade afetiva da criança é 
relativamente recente na história. Possivelmente, a 
divulgação de teorias científi cas pela mídia tem papel 
importante na formulação desse discurso. Mesmo que 
o afeto possa surgir naturalmente na relação com os 
fi lhos, a sua prescrição social pode ser, também, um 
indicador de mudanças no valor da criança para a 
família e sociedade.
Formas de educar os fi lhos
Conversar
Algumas mães, ainda que admitindo utilizar castigos 
físicos, afi rmam preferir conversar. Essa expressão 
parece não ter, entretanto, a conotação de diálogo, mas, 
de imposição:
“Igual eu falei, hoje eu sei conversar com ele sem 
agredir. Hoje, quando ele apronta, quando faz coisa 
errada, é... eu chamo ele de mocinho: é, mocinho...
nós dois vamos conversar ou tem uma vara abenço-
ada em cima da geladeira? Vai fazer coisa errada? 
Ou nós vamos conversar ou vai ter que usar a vara?” 
(Samira, G2)
Mediante castigos não físicos
Nessa situação, a mãe que se encontrava sob tutela 
relatou ter utilizado um castigo não físico. Anterior-
mente havia relatado ter espancado a fi lha pelo mesmo 
motivo. Infere-se a infl uência no discurso do local e 
situação da entrevista e a incorporação do discurso dos 
profi ssionais da Instituição.
83Rev Saúde Pública 2009;43(1):78-84
“Então, assim, o meu sistema de criar meus fi lhos é 
assim. Criar eles ensinando que a gente não pode pegar 
uma coisa que não é da gente. Eu levei ela depois com 
o dinheiro pra devolver. Pediu desculpa. Ela pediu 
desculpa, entendeu? Ficou sem graça mesmo, fi cou 
chateada.” (Sheila, G2)
Estabelecendo limites
Nesta categoria foi citado o estabelecimento de regras, 
de rotina, de disciplina. A expressão “falar não”, tam-
bém foi utilizada pelos pais.
“É porque... se vai pra rua, ocê tem que ter um limite da 
hora de chegar. É mesma coisa a comida. Ocê tem que 
ter um limite pra comer... [...] tudo tem que ter limite com 
as coisa, sabe? Que eu falo lá em casa. Mas se deixar, 
né? Nunca que a criança tem aquele limite das coisa, e 
aí que é a educação das criança.” (Roseli, G1)
O estabelecimento de disciplina, de regras claras 
baseadas nos valores familiares e sociais e a não 
ambigüidade na aplicação do estabelecido têm sido 
enfatizados pela literatura na literatura científi ca e de 
divulgação da ciência. A utilização do pronome “você” 
no primeiro exemplo e o verbo no infi nitivo no segundo 
pode signifi car a crença das mães na verdade universal 
de suas afi rmações, inferindo-se aí uma incorporação 
mais profunda do discurso acadêmico.
Infl igir castigo físico
Alguns entrevistados reconhecem como legítima a 
prática do castigo físico, freqüentemente acrescentan-
do que o comportamento da criança, circunstâncias, 
motivação ou formas de aplicação podem justifi car o 
seu uso.
Houve relatos de aceitação irrestrita do castigo físico 
em duas situações: por considerar um direito dos pais 
e por acreditar na efi cácia do ato educativo:
“Ah, eu acho que esse direito... a gente tem esse direi-
to, né? Que os menino, os fi lho da gente, é pra gente 
educar, né? Então, não é que eu seje sistemática, mas 
a gente tem esse direito.” (Soraia, G2)
O castigo físico também foi relatado como aceitável 
com algumas restrições: quando o motivo é explicado, 
depende da forma e local do corpo castigado e da 
falta cometida.
“Ah, eu bato mais é nas perna, né? Nas perna e na 
bunda. De borracha”. (Sônia, G2)
“Sem deixar sinal. Não gosto de deixar sinal...” 
(Severina, G2)
Martins9 aponta que no imaginário social, há uma 
diferença nítida entre bater para maltratar e bater para 
educar. O limite, segundo os pais, estaria na força em-
pregada no ato de bater. As falas anteriores sugerem 
também que o limite entre educação e violência na 
concepção dos pais pode estar associado mais à inten-
ção do que à forma ou à intensidade.
A literatura tem mostrado que a Igreja ocupou um lugar 
expressivo na cultura ocidental européia e também no 
Brasil sobre a criança e sua educação, respaldando 
e mesmo estimulando o uso do castigo físico como 
benéfi co para a criança.11 Algumas falas revelaram a 
infl uência religiosa na educação da criança, que pode 
estar associada à crença de que se a intenção for edu-
cativa o castigo físico é válido:
“Aí, quando eu vejo que ele fez alguma coisa errada, 
eu falo pra ele: ‘É, mocinho...nós dois vamos conversar 
ou tem uma vara abençoada em cima da geladeira?” 
(Samira, G2)
CONCLUSÕES
O presente estudo confi rma que o castigo físico ainda 
permanece no imaginário social como um recurso 
permitido e apropriado para a educação dos fi lhos, o 
que consideramos um sério problema de saúde públi-
ca. Confi rma também a variabilidade de aceitação das 
formas e intensidade de sua aplicação. No entanto, o 
estudo mostra também, na heterogeneidade e polifonia 
dos discursos dos pais, a presença importante de outros 
discursos sobre formas de educar.
Particularmente os paissob tutela da Promotoria do 
Menor, embora tenham revelado mais explicitamente a 
assimilação cognitiva do discurso dos profi ssionais que 
os assistem, reafi rmaram sua convicção quanto ao senti-
do de propriedade da criança e, em uma fala, a intenção 
de permanecer com a prática, sugerindo continuidade 
da violência na vida adulta, como perpetrador. Contudo, 
não foi explicitada em momento algum a percepção 
pelos pais sobre a interdição legal ao castigo físico ou, 
mesmo, aos seus excessos.
A cultura do castigo físico encontra-se em transição, em 
que a tradição de permissão se enfraquece e a interdição 
se inicia lentamente. Reforço às ações de repressão legal 
à prática poderia contribuir para acelerar o processo de 
interdição do castigo físico.
84 Educação e castigo físico Donoso MTV & Ricas J
1. Berger LM. Income, family characteristics, 
and physical violence toward children. Child 
Abuse Negl. 2005;29(2):107-33. DOI: 10.1016/
j.chiabu.2004.02.006
2. Bessa MRV, Oliveira CA, Ricas J, Campos MGA, Castro 
MHMD. Abordagem psicológica da criança. In: Leão E, 
Mota JAC, Viana MB, Correa EJ, organizadores. Pediatria 
ambulatorial. 2. ed. Belo Horizonte: Cooperativa 
Editora e de Cultura Médica; 1989. p.115-24.
3. Brandão HHN. Introdução à análise do discurso. 2. ed. 
Campinas: Editora da UNICAMP; 2004.
4. Del Priore M. História das crianças no Brasil. 4. ed. 
São Paulo: Contexto; 2004. O cotidiano da criança 
livre no Brasil entre a colônia e o império. p.84-106.
5. Deslandes SF. Atenção a crianças e adolescentes 
vítimas de violência doméstica: análise de um serviço. 
Cad Saude Publica. 1994;10(1):177-87. DOI: 10.1590/
S0102 311X1994000500013
6. Duhamel MF. A Justifi cation de la violence 
envers l’enfant chez des mères victimes de 
violence conjugale. Can J Commun Ment Health. 
2004;23(1):47-63.
7. Fontanella BJB, Ricas J, Turato ER. Amostragem 
por saturação em pesquisas qualitativas em 
saúde: contribuições teóricas. Cad Saude 
Publica. 2008;24(1):17-27. DOI: 10.1590/S0102-
311X2008000100003
8. Lieder HS, Irving SY, Mauricio R, Graf JM. Munchausen 
syndrome by proxy: a case report. AACN Clin Issues. 
2005;16(2):178-84.
9. Martins CBG, Andrade SM. Epidemiologia dos 
acidentes e violências entre menores de 15 anos em 
município da região sul do Brasil. Rev Latino-Am 
Enfermagem. 2005;13(4):530-7. DOI: 10.1590/S0104-
11692005000400011
10. Moore CG, Probst JC, Tompkins M, Cuffe S, Martin 
AB. The prevalence of violent disagreements in US 
families: effects of residence, race/ethnicity, and 
parental stress. Pediatrics. 2007;119(Supl 1):S68-76. 
DOI: 10.1542/peds.2006-2089K
11. Renner LM, Slack KS. Intimate partner violence 
and child maltreatment: understanding intra- 
and intergenerational connections. Child Abuse 
Negl. 2006;30(6):599-617. DOI: 10.1016/
j.chiabu.2005.12.005
12. Rodriguez CM. Emotional functioning, attachment 
style, and attributions as predictors of child abuse 
potential in domestic violence victims. Violence Vict. 
2006;21(2):199-212. DOI: 10.1891/vivi.21.2.199
13. Santoro Jr M. Maus tratos contra crianças e 
adolescentes. Um fenômeno antigo e sempre atual. 
PediatrMod. 2002;38(6):279-83.
14. Weber LND, Dobrianskyj N, Prado PM, Viezzer AP, 
Brandenburg OJ. Identifi cação de estilos parentais: 
o ponto de vista dos pais e dos fi lhos. Psicol Refl ex 
Crit. 2004;17(3):323-31. DOI: 10.1590/S0102-
79722004000300005
15. Weber LND, Viezzer AP, Brandenburg OJ. O uso de 
palmadas e surras como prática educativa. Estud Psicol 
(Natal). 2004;9(2):227-37. DOI: 10.1590/S1413-
294X2004000200004
16. Zagury T. Educar sem culpa. São Paulo: Círculo do 
Livro; 1993. Palmada – sim ou não?. p.111-20.
17. Zolotor AJ, Runyan DK. Social capital, family violence, 
and neglect. Pediatrics. 2006;117(6):e1124-31. DOI: 
10.1542/peds.2005-1913
REFERÊNCIAS
956Rev Bras Enferm [Internet]. 2016 set-out;69(5):956-63. http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0045
PESQUISA
Sheila Mara PedrosaI, Mary Lopes ReisII, Daniela Tavares GontijoIII, Sheila Araújo TelesIV, Marcelo MedeirosV
I Centro Universitário de Anápolis – Unievangélica, Curso de Enfermagem. Anápolis-GO, Brasil.
II Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, Curso Técnico Integrado em Vigilância em Saúde. Goiânia-GO, Brasil.
III Universidade Federal de Pernambuco, Núcleo de Estudos e Pesquisas em Vulnerabilidade 
e Saúde na Infância e Adolescência. Recife-PE, Brasil.
IV Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Enfermagem, Núcleo de Estudos em Epidemiologia 
e Cuidados em Doenças Infecciosas com ênfase em Hepatites Virais. Goiânia-GO, Brasil. 
V Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Enfermagem, 
Núcleo de Estudos Qualitativos em Saúde e Enfermagem. Goiânia-GO, Brasil.
Como citar este artigo:
Pedrosa SM, Reis ML, Gontijo DT, Teles SA, Medeiros M. The path to crack addiction: perceptions of people under treatment. 
Rev Bras Enferm [Internet]. 2016;69(5):899-906. DOI: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0045 
Submissão: 04-02-2016 Aprovação: 10-07-2016
RESUMO
Objetivo: o objetivo foi compreender os signifi cados do uso nocivo de crack por pessoas em tratamento da dependência. Método: 
utilizou-se abordagem qualitativa da pesquisa social na modalidade estratégica. Foram realizados observação do campo, confecção 
de diário de campo e grupos focais, e análise dos dados por meio do método de interpretação de sentidos. Resultados: os resultados 
constituíram a construção de três categorias temáticas: “Descoberta do crack e outras drogas” que diferencia a experimentação do 
crack da de outras drogas; “A dor do prazer”, categoria principal que descreve o momento que sucede a experimentação do crack 
em que, muitas vezes, se instala a dependência, o que leva a pessoa a um ciclo de períodos curtos de tentativa de abstinência, 
recaída e consumo incessante; e “Retomar a vida”. Conclusão: a abordagem de pessoas em tratamento da dependência do crack 
deve ser realizada no sentido de reduzir a distância entre essas pessoas e a família, a sociedade e os serviços de saúde.
Descritores: Cocaína Crack; Transtornos Relacionados ao Uso de Substâncias; Vulnerabilidade em Saúde; Transtornos 
Relacionados ao Uso de Cocaína; Enfermagem.
ABSTRACT
Objective: the objective of this study was to understand the meaning of the harmful use of crack by people undergoing addiction 
treatment. Method: qualitative approach of social research on strategic modality was used. Field observation, preparation of 
fi eld diary and focus groups, and data analysis through the method of interpreting meaning were carried out. Results: the 
results contributed to the construction of three thematic categories: “The discovery of crack and other drugs” that describes the 
experimentation with crack and other drugs; “The pain of the pleasure”, key category that describes the moments after crack 
experimentation and that, many times, turns into addiction, which leads the person into a cycle of short periods of attempts at 
abstinence, relapse, and relentless consumption; and “Return to normal life”. Conclusion: treating people with crack addiction 
must be carried out in ways that narrow the distance between these people and their families, society and health care. 
Descriptors: Crack Cocaine; Substance-Related Disorders; Health Vulnerability; Cocaine-Related Disorders; Nursing.
RESUMEN
Objetivo: comprender los signifi cados del uso nocivo de crack en personas tratando su dependencia. Método: se utilizó 
abordaje cualitativo para la investigación social, en modalidad estratégica. Fueron realizadas observación de campo, confección 
de diario de campo y grupos focales. Datos analizados mediante interpretación de sentidos. Resultados: se constituyeron tres 
categorías temáticas: “Descubrimiento del crack y otras drogas”, que diferencia la experiencia del crack de la de otras drogas;“El dolor del placer”, categoría principal que describe el momento en el que se prueba el crack y en el que, frecuentemente, 
se instala la dependencia, que lleva a la persona a un ciclo de cortos períodos de intento de abstinencia, recaída y consumo 
A trajetória da dependência do crack: percepções de pessoas em tratamento
The path to crack addiction: perceptions of people under treatment
El camino de la dependencia del crack: percepciones de personas en tratamiento
Rev Bras Enferm [Internet]. 2016 set-out;69(5):956-63. 957
A trajetória da dependência do crack: percepções de pessoas em tratamentoPedrosa SM, et al.
INTRODUÇÃO
O uso de drogas sempre permeou a existência humana, 
sendo vista, em determinados contextos e situações, como um 
comportamento natural, uma vez que alivia dores e sofrimentos 
de diversas naturezas e produz efeitos estimulantes(1). Porém, 
a partir do momento em que o homem passa a usar a droga 
nocivamente, vem a sofrer prejuízos sociais, econômicos e de 
saúde. Assim, o uso de drogas tornou-se objeto de discussão 
mundial, além disso medidas proibicionistas no sentido de evi-
tar o uso e o tráfico entre países(1) tiveram de ser tomadas.
Uma das drogas cujo consumo tem crescido mundialmen-
te nos últimos anos, em especial no Brasil, é a cocaína. Uma 
de suas apresentações, conhecida como “cocaína fumada” ou 
“crack”, desencadeia mais rápida e intensamente a dependên-
cia. Trata-se de uma droga psicotrópica, ilícita e estimulante do 
Sistema Nervoso Central (SNC). Tem esse nome devido ao ba-
rulho que faz ao ser queimada. O crack é composto da mistura 
de pasta base de cocaína com água e bicarbonato de sódio que, 
aquecida, dá origem a cristais conhecidos como “pedras” de 
crack(2). Ao ser fumada, provoca efeitos estimulantes em aproxi-
madamente quinze segundos, mantendo-os por cerca de cinco 
minutos. Esses dois fatores associados contribuem para a neces-
sidade de o usuário buscar constantemente a droga(3).
Pesquisa realizada nas capitais brasileiras e no Distrito Fe-
deral(4) mostram que as estimativas de uso regular de crack 
e ou similares ficaram na proporção de aproximadamente 
0,81%, o que representaria cerca de 370 mil usuários, sendo 
que a estimativa para o número de usuários de drogas ilícitas 
em geral (com exceção da maconha) é de 2,28%, ou seja, 
aproximadamente 1 milhão de usuários. Nas capitais, o uso 
de crack e ou similares, entre os consumidores de drogas ilíci-
tas, foi estimado em 35%(4).
Dentre as consequências da dependência do crack, há os 
danos físicos relacionados ao acometimento pulmonar, à ex-
posição ao Vírus da Imunodeficiência Adquirida/Síndrome 
da Imunodeficiência Adquirida (HIV/AIDS), às hepatites B e 
C, à violência física, à mortalidade, entre outros. No aspecto 
socioeconômico, destacam-se o isolamento social e familiar, 
a marginalização por atos ilícitos, como a violência, o rompi-
mento de laços afetivos, a perda ou o afastamento do empre-
go quando a pessoa está inserida no mercado de trabalho, o 
caos e o pânico coletivos que corroboram para comprometer 
a qualidade de vida, a perda de esperança na vida e as dificul-
dades de acesso aos serviços de saúde(5).
Diante da amplitude de tais consequências, o isolamento 
ao qual a pessoa dependente do crack está exposta configura 
uma situação de vulnerabilidade social. Este artigo baseia-se 
nos pressupostos de vulnerabilidade de Robert Castel, que 
lança luz sobre os processos de vulnerabilidade e desfiliação 
social(6). O indivíduo tem sua existência social demarcada 
pela interação de dois eixos: o do trabalho e o da inserção re-
lacional em redes familiares e de sociabilidade. Para o autor, 
ambos interagem dinamicamente, e a fragilidade de um pode 
ser compensada pela estabilidade do outro(6).
A densidade das relações sociais, junto com uma estabili-
dade no trabalho, influencia diretamente o nível de integração 
dos indivíduos na sociedade. Dependendo da qualidade des-
ses vínculos, tanto no social quanto no trabalho, o indivíduo 
flutua por diferentes zonas que apresentam fronteiras porosas 
e dinâmicas que Castel denomina Zonas de Integração, de 
Vulnerabilidade, de Assistência e de Desfiliação(6).
A Zona de Integração caracteriza-se por relações sociais es-
táveis e estabilidade no trabalho. A Zona de Vulnerabilidade, 
que tem cada vez mais se expandido nas sociedades, apresen-
ta relações sociais frágeis e instabilidade laboral. A Zona de 
Desfiliação está associada à exclusão/ruptura do mercado de 
trabalho formal e à ausência/ruptura de vínculos que sejam 
fonte de suporte social (familiares ou de um de modo geral)(6).
Nessa perspectiva, compreende-se que o uso do crack (en-
tre outras drogas) pode influenciar e ser influenciado pelas re-
lações estabelecidas pelo usuário tanto no trabalho quanto na 
sua rede social de suporte. Além do estigma associado ao uso 
da droga, influenciado sobremaneira pelos meios midiáticos, 
a ausência de profissionais capacitados para uma abordagem 
adequada dificulta a aproximação da sociedade, do poder pú-
blico e do setor de saúde a essa população vulnerável(7). 
Assim, considerando a relevância do tema e com vistas a 
oferecer subsídios que contribuam para a discussão e planeja-
mento de ações preventivas no âmbito da saúde, o estudo que 
originou o presente artigo teve como objetivo compreender 
os significados do uso nocivo de crack por pessoas em trata-
mento da dependência.
MÉTODO
Aspectos éticos
O trabalho foi norteado pelas diretrizes de pesquisas envol-
vendo seres humanos, previstas na Resolução 466/2012 do 
Conselho Nacional de Saúde. A proposta deste trabalho foi 
submetida e aprovada pelo Comitê de Pesquisa do Hospital 
das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC/UFG).
Referencial teórico-metodológico
Foi utilizada a abordagem qualitativa da Pesquisa Social, 
na modalidade estratégica(8). A Pesquisa Social Estratégica(8) 
tem a finalidade de “lançar luz sobre determinados aspectos 
da realidade”, sem priorizar soluções práticas para a questão 
Marcelo Medeiros E-mail: marcelo@ufg.brAUTOR CORRESPONDENTE
incesante; y “Retomar la vida”. Conclusión: el abordaje de personas en tratamiento de su dependencia del crack debe realizarse 
con el fin de reducir la distancia entre ellos y su familia, la sociedad y los servicios de salud. 
Descriptores: Cocaína Crack; Trastornos Relacionados con Sustancias; Vulnerabilidad en Salud; Trastornos Relacionados con 
Cocaína; Enfermería. 
Rev Bras Enferm [Internet]. 2016 set-out;69(5):956-63. 958
A trajetória da dependência do crack: percepções de pessoas em tratamentoPedrosa SM, et al.
para a qual busca resposta, o que não quer dizer que os acha-
dos da Pesquisa Social Estratégica não possam amparar a re-
flexão de tais alternativas.
Tipo de estudo
Estudo descritivo exploratório de abordagem qualitativa.
Procedimentos Metodológicos
Cenário de estudo
Trata-se de um hospital psiquiátrico que compõe a rede de 
saúde mental de uma capital do Centro-Oeste brasileiro, o qual 
recebe pacientes encaminhados pelo pronto socorro psiquiátri-
co do município, por outras unidades ou demanda privada. A 
rede de assistência de saúde mental na capital conta com um 
Ambulatório Municipal de Psiquiatria, equipes de Consultório 
na Rua, serviços residenciais terapêuticos, quatro Centros de 
Atenção Psicossocial (CAPS), sendo um deles infantil, um pron-
to-socorro psiquiátrico responsável pela demanda de casos de 
urgência da capital e dos municípios pactuados, e por regular o 
paciente no sistema de atendimento municipal.
Fonte de dados
Os dados do estudo originaram-se da observação de campo, 
diário de campo e de grupos focais. Participaram do estudo 
39 pessoas que estavam em tratamento no hospital, campo do 
estudo, para dependência do uso de crack e que atendiam aos 
seguintes critérios de inclusão:ser maior de 18 anos, ter utiliza-
do crack por, pelo menos, 25 dias nos seis meses anteriores ao 
início da coleta de dados(9), ser capaz de ler, discutir e assinar, 
antes da inclusão no estudo, o Termo de Consentimento Livre e 
Esclarecido (TCLE), não estar sob efeito de droga ilícita no mo-
mento da coleta de dados e, finalmente, não apresentar, tam-
bém nesta etapa do estudo, comportamento que inviabilizasse 
a sua participação e o fornecimento de informações.
Coleta e organização dos dados
A coleta de dados se deu por meio de três métodos: obser-
vação do campo, realizada antes, durante e depois dos grupos 
focais; confecção do diário de campo e realização de grupos 
focais(10), que somaram um total de dez grupos, com cerca 
de 4 participantes em média. Os encontros dos grupos focais 
foram gravados e transcritos pela própria pesquisadora.
Análise dos dados
A análise deu-se por meio do método de interpretação de 
sentidos, que consiste em “caminhar tanto na compreensão 
(atitude hermenêutica) quanto na crítica (atitude dialética) dos 
dados gerados de uma pesquisa”(11). Dentre os dez grupos, um 
estava inaudível e outro foi realizado em caráter de teste para 
aprimoramento das questões disparadoras, estes foram exclu-
ídos da análise de sentidos. O processo de análise de dados 
ocorreu inicialmente pela leitura exaustiva do material resultan-
te da transcrição da fala dos grupos, em seguida, foi realizada a 
identificação das ideias centrais contidas nas falas dos partici-
pantes da pesquisa. As ideias centrais foram então agrupadas em 
núcleos de sentido e esses reagrupados, formando as categorias 
temáticas. Os participantes foram representados pela letra P, se-
guida por números arábicos de maneira crescente, seguindo a 
sequência em que a fala de cada um apareceu no áudio das 
gravações, dessa forma, P1, P2, P3 e assim sucessivamente.
RESULTADOS
Cada grupo focal contou com quatro participantes em mé-
dia, sendo que, no total, participaram 39 pessoas (34 homens e 
cinco mulheres), com idade entre 18 e 52 anos e média de 32 
anos. Mais da metade informou ser solteira 20 (54%), 17 (46%) 
referiram ter filhos e, entre estas, a média foi de três filhos por 
pessoa. A maioria relatou que, no momento da pesquisa, se 
encontrava em condições socioeconômicas extremamente des-
favoráveis por não ter moradia, emprego, ter vendido os bens 
e se afastado da família ou de pessoas de referência, desde que 
desenvolvido o comportamento de dependência da droga. No 
processo de análise minuciosa das falas, emergiram elementos 
para a construção de três categorias temáticas: “Descoberta do 
crack e outras drogas”, “A dor do prazer”, e “Retomar a vida”.
Na categoria “Descoberta do crack e outras drogas”, foi des-
crita, pelos participantes, a motivação para o uso do crack e de 
outras drogas. Tais motivações giraram em torno da curiosidade, 
excesso de liberdade dos pais e alívio para alguma decepção da 
vida (morte de um dos pais ou conflitos familiares, por exem-
plo). As primeiras drogas experimentadas foram o álcool, o ci-
garro e a maconha. No caso do álcool, tabaco e maconha, na 
maioria das vezes, eles continuaram a ser consumidos, mesmo 
quando os participantes já estavam dependentes do crack:
Curiosidade. Eu vi um amigo usando, e aquilo me chamou a 
atenção, a forma... foi o cara furando a lata, todo aquele ritual 
que se tem para consumir o crack, e eu fiquei pensando “pô, 
vou fumar esse treco aí. Vou fumar para ver como é”. (P 7)
Nesse percurso de experimentação, acabaram por se deparar 
com o crack, tanto pela busca por um prazer maior que aquele 
já obtido com outras drogas, quanto pela curiosidade de expe-
rimentar. Relataram que, após o primeiro contato com o crack, 
houve mudança no padrão do uso de drogas, que se tornou mais 
frequente, incompatível com o trabalho e com as relações fami-
liares e sociais, promovendo descontrole em ambas as áreas o 
que, segundo eles, era motivo para uso cada vez mais constante.
Na categoria “A dor do prazer”, percebemos que há um ciclo 
ao qual essa pessoa fica presa, compreendendo períodos curtos de 
tentativa de abstinência, por meio do tratamento, quando imersos 
no arrependimento, os quais são geralmente interrompidos por 
alguma desilusão que provoca a recaída e o consumo incessante 
por dias seguidos, após um descanso e tentativas de abstinência. 
A seguir uma fala que representa esse arrependimento:
Olha meus braços! [mostrando as diversas cicatrizes de cor-
tes] Isso aqui é abstinência, depois que fuma tudo, que faz 
tudo, vai pensar ‘que que eu fui fazer! ’ Mais aí não adianta 
fazer isso aqui não. (P 37)
Assim, o crack foi considerado a droga que, paradoxalmen-
te, proporciona prazer e alívio aos sofrimentos, mas também 
Rev Bras Enferm [Internet]. 2016 set-out;69(5):956-63. 959
A trajetória da dependência do crack: percepções de pessoas em tratamentoPedrosa SM, et al.
leva ao consumo desenfreado, fissura incontrolável, prejuízos 
no trabalho, venda de bens e afastamento da família, conflito 
com traficantes e policiais, independentemente, nesse estu-
do, do poder aquisitivo. Podemos considerar, inclusive, que 
o momento em que estavam no hospital era de descanso para 
alguns e, para outros, era uma oportunidade de manutenção, 
mesmo que temporária, de abstinência.
Na categoria “Retomar a vida”, foi identificado que, quan-
do estão numa fase de arrependimento, as pessoas ficam mais 
motivadas a buscar ajuda e que isso, muitas vezes, aconte-
ce quando chegam ao “fundo do poço”, como eles mesmos 
dizem. Esse momento caracteriza-se pela somatória de falta 
de dinheiro, de apoio familiar, de local para dormir e pelo 
sentimento de desespero por não mais querer usar o crack e 
não ser capaz disso, em virtude da dependência já instalada. 
Acresce-se a consciência de que a dependência causa sofri-
mento à família, principalmente mãe, esposa e filhos.
Dessa forma, descreveram o desejo de abster-se do consumo 
de crack, buscar inserção no mercado de trabalho formal, estudar 
e retomar as relações familiares, ao mesmo tempo em que consi-
deraram a abstinência um desafio a ser vencido com fé e vontade 
de reconstruir a família, recuperar a dignidade por meio do traba-
lho honesto e, assim, obter suporte para superar a dependência. 
Uma coisa é que nós temos que viver como se fôssemos 
uma criança, começar a reviver de novo. Sabe, deixar tudo 
aquilo pra trás. Esquecer e começar a viver de novo. (P11)
Consideram fatores dificultadores para a abstinência a des-
confiança da família e da sociedade, o efeito prazeroso do 
crack, os relacionamentos amorosos com outros usuários e o 
uso de drogas nas dependências do hospital.
DISCUSSÃO
De um modo geral, por meio das falas dos participantes, per-
cebemos que a questão da dependência de drogas e, por conse-
quência, do crack (mesmo com suas particularidades), é permea-
da por aspectos complexos que talvez não tenham sido objeto de 
séria discussão no âmbito macro na sociedade, ficando restrita a 
concepções morais, de segurança pública ou de saúde pública.
Comecemos pelo contato precoce com drogas identificado 
na primeira categoria desse estudo, “A descoberta do crack e 
outras drogas” que, dentre outras características, demonstra a 
situação de vulnerabilidade em que os participantes estavam 
imersos, mesmo antes de conhecerem o crack. Crianças e ado-
lescentes tendem a ser mais suscetíveis à experimentação de 
drogas por vivenciarem uma fase de estruturação de convívio 
social e afastamento gradativo do vínculo familiar nuclear. As-
sim, a vivência familiar conflituosa ou permeada por situações 
de violência e uso de drogas pode ter influenciado de alguma 
forma o comportamento desenvolvido pelas pessoas deste es-
tudo, o que é apontado em outros estudos(12). Igualmente, a 
condição socioeconômica desfavorável tem sido evidenciadaentre a maioria dos usuários de drogas psicoativas(13), no entanto 
ressaltamos que esse achado não deve ser generalizado, pois o 
“vício” está presente em todos os estratos sociais.
Com relação à dinâmica familiar, um estudo realizado com 
estudantes do 9º ano do ensino fundamental no Brasil apon-
tou déficit no acompanhamento que os pais exercem sobre 
seus filhos(14), situação que contribui para o aumento da vul-
nerabilidade deste grupo.
Entre os participantes do nosso estudo, alguns relatos trou-
xeram o desejo de matar o pai ou o cônjuge, a agressão física 
por membros da família ou a vivência de agressões graves 
cometidas pelo pai contra a mãe. Maus tratos e violência exer-
cem influência sobre o uso nocivo e a dependência de subs-
tâncias psicoativas, inclusive o crack(2).
A família faz parte da sociabilidade primária e é nela que o 
ser humano primeiro se sociabiliza e aprende condutas rela-
cionais para melhor conviver, a princípio com os familiares e, 
posteriormente, com os vizinhos e amigos(6). O suporte rela-
cional começa, portanto, com a família, que dispõe de laços 
independentes, não necessitando de intermediação para sua 
formação ou estabelecimento. No entanto, de acordo com os 
participantes, o suporte familiar experimentado por eles não 
foi satisfatório na maioria dos casos. Desse modo, quando a 
sociabilidade primária não consegue desempenhar seu papel 
de apoio e formação da criança ou adolescente no sentido 
de oferecer exemplos de enfrentamento dos problemas sem a 
necessidade de medicamentos, violência, bebidas ou outras 
drogas, os filhos podem também adotar postura semelhante à 
dos pais, recorrendo a tais artifícios futuramente.
Nesse ponto, devemos salientar a compreensão de que, 
por trás de filhos vulneráveis, existem famílias que, muitas ve-
zes, já vivenciam os cenários de vulnerabilização, e esse é um 
ciclo que precisa ser atingido a partir do fortalecimento dos 
laços familiares, sendo assim, não cabe nessa problemática a 
culpabilização da família(15).
Pudemos observar, nos resultados, que houve falha tam-
bém na sociabilidade secundária, ou seja, aquela desenvolvi-
da pelo Estado por meio de políticas, ações e serviços ofereci-
dos à sociedade, uma vez que, entre os participantes, não foi 
mencionado apoio no sentido de envolvimento da equipe de 
saúde e demais instituições estatais de apoio nessa trajetória de 
uso e dependência do crack. Assim, em virtude de más condi-
ções socioeconômicas e ausência de oportunidades para for-
mação escolar e exercício de atividade laboral ao longo de suas 
vidas, essas pessoas ficaram vulneráveis tanto ao uso, inclusive 
o nocivo, quanto à dependência do crack e de outras drogas.
No que se refere à experimentação do crack, somente dois 
participantes relataram influência de familiares, sobretudo do 
pai, dependente de cocaína inalada, porém, em outro estu-
do(16), 48,3% dos entrevistados referiram já ter consumido cra-
ck com algum familiar, sendo esta possibilidade maior entre 
aqueles com quem mantinham parentesco de ordem horizon-
tal, como irmãos e cônjuges, do que com pais. O consumo 
com cônjuge, no entanto, foi o mais relatado.
Na segunda categoria, “A Dor do Prazer”, observamos que 
o uso do crack leva o indivíduo a uma rotina de busca pela 
droga em grande parte dos casos e gera um padrão diferente 
de uso, pois, em alguns casos, provoca dependência e pode 
apresentar alguns fatores predisponentes, como transtorno de 
personalidade antissocial, déficit de atenção/hiperatividade, 
Rev Bras Enferm [Internet]. 2016 set-out;69(5):956-63. 960
A trajetória da dependência do crack: percepções de pessoas em tratamentoPedrosa SM, et al.
dependência de álcool, maconha, anfetaminas, sedativos hip-
nóticos e opioides(17-18).
No presente estudo, os participantes comentaram que a mu-
dança no padrão do uso de drogas, após a experimentação do 
crack, gerou prejuízos para suas vidas, de tal modo que o uso, 
antes passível de controle e compatível com o trabalho e as 
relações familiares e sociais, assumiu outra proporção e passou 
a envolver descontrole financeiro e relacional o que, segundo 
eles, era motivo para um uso cada vez mais constante.
Quando instalada a dependência do crack, os participantes 
deste estudo expressaram um ciclo de uso como o descrito 
em outro estudo(19), em que essas pessoas oscilavam de um 
estado de abstinência total, enquanto estavam em alguma ins-
tituição de saúde, até uma entrega total à droga, não havendo 
o efetivo tratamento, o qual, segundo os autores, é permeado 
por recaídas e usos esporádicos.
Os atos ilícitos tornaram-se costumeiros entre os depen-
dentes de crack, que passaram a incorporar a denominação 
de “vagabundo”, usada, segundo Castel(6), como figura para 
se referir àqueles à margem da lei e da assistência. Assim, ao 
mesmo tempo em que não contam com suporte relacional 
nem laboral, também não agem sob as leis das instituições 
que dispõem desse suporte. No território da dependência do 
crack, as leis são outras e a linha da ilegalidade, por eles já ul-
trapassada, tende a ter seus limites cada vez mais imprecisos. 
É importante apontar que o próprio consumo e as conse-
quências atitudinais deles decorrentes limitam a possibilidade 
de o próprio usuário buscar o fortalecimento da sua partici-
pação no mundo do trabalho e de se envolver em relações 
sociais significativas que lhes sejam fonte de suporte social, 
agravando a situação de vulnerabilidade social já vivenciada.
No contexto de uso do crack, os participantes descreveram 
a relação com o tráfico e seu sentimento de revolta para com 
o traficante e também para com o policial. Com o primeiro 
não há amizade, por entenderem que ele visa exclusivamente 
ao lucro desprezando quem não possui poder de compra da 
droga e, com o segundo, também não há, já que a ação dos 
agentes de segurança pública foi descrita pelos participantes 
como sendo coercitiva e, algumas vezes, injusta uma vez que 
o dependente de crack, por temer retaliação do traficante, 
omite informações sobre a localização das “bocas” e, conse-
quentemente, é tratado com truculência por policiais, situa-
ção já apontada em outro estudo(20).
No entanto, os participantes do nosso estudo considera-
ram o uso do crack incompatível com o tráfico no que se 
refere ao traficante, uma vez que as características fortemente 
viciantes desta droga os colocam sempre em risco por dívidas 
“eternas”. Na vivência relatada por alguns que já traficaram, 
embora exista rápida elevação do poder aquisitivo, pelo fato 
de o tráfico ser uma atividade bastante rentável, os bens con-
quistados também são rapidamente perdidos, tendo em vista 
os gastos para se obter a droga.
O combate ao tráfico de drogas é uma das frentes de traba-
lho da Política Nacional sobre Drogas(21), no sentido de pro-
mover a redução da oferta. Mas, quem são esses traficantes? 
No presente estudo, ficou perceptível que os participantes 
que relataram ter se envolvido com o tráfico e ainda adquirido 
alguns bens acabaram perdendo o patrimônio para obter o 
crack e sustentar a dependência.
Existem vários tipos de traficantes(22). O perfil daquele expos-
to na mídia e que prevalece no imaginário social é de alguém 
destemido, que comanda as favelas e enriquece rapidamente; 
no entanto, o autor discute que o negro, pobre, economicamen-
te desfavorecido e morador de locais com pouca assistência do 
Estado é o mais comum, na realidade. Esses traficantes são co-
nhecidos como “mulas”, “boca” ou “aviõezinhos” e ficam com 
apenas uma pequena parcela do dinheiro do narcotráfico.
As falas permitem apreender essa realidade, uma vez que 
os participantes que relataram passagens pelo tráfico não ti-
nham acesso a grande parte do montante de dinheiro e não 
eram os chefes do tráfico. 
Prosseguindo a discussão dos resultados no contexto da 
dependênciado crack, alguns aspectos precisam ser desta-
cados em razão de seu maior potencial de vulnerabilidade, 
por exemplo, o gênero, o uso desta droga por mulheres tem 
crescido e tem suas especificidades, conforme expressaram as 
participantes deste estudo e de outros(23-25). 
Há a tendência de o sexo feminino se importar mais com 
o contexto familiar e, em especial, com os filhos, as mulheres 
também expressaram maior descontentamento em relação a si-
tuações nas quais expuseram seus filhos a riscos, em decorrên-
cia da dependência de crack. Em suas falas, justificaram o uso 
inicial de drogas por sentirem-se sós, desamparadas, imersas em 
conflitos familiares ou por necessidade de perder peso, tudo 
isso demonstra grande influência da esfera afetiva e de aspectos 
relacionados à autoimagem da mulher na utilização da droga.
 Além disso, alguns fatores fazem com que a dependência 
do crack entre mulheres cause problemas mais sérios, uma 
vez que, não raro, são solteiras, mães em idade fértil e sem 
renda própria, suscetíveis a situações de violência e prostitui-
ção como forma de acesso à droga. Aliado a isso, há de se 
considerar a questão de estarem suscetíveis a gestações de 
risco com efeitos nocivos ao bebê e grande possibilidade de 
posterior negligência de cuidados aos filhos(26).
A chegada ao “fundo do poço”, como eles mesmos deno-
minam essa situação, determinou a desfiliação que permea-
va suas vidas a ponto de alguns, apesar de aptos a deixarem 
o hospital, precisarem nele permanecer, por não terem para 
onde ir e não quererem viver na rua.
O contexto de desfiliação social em que se encontravam 
os participantes remete à situação daqueles denominados 
indigentes válidos ou “os aptos para o trabalho que não tra-
balham” que “são postos em um duble bind: injunção de tra-
balhar, impossibilidade de trabalhar”, ou seja, o sujeito viven-
cia, externa e/ou internamente, uma pressão para o trabalho, 
porém não está capacitado, ou pelo menos não demonstra 
estar, para ser integrado ao mercado de trabalho(27). São pes-
soas que não se encaixam no perfil da assistência a qual é 
dirigida àqueles inválidos nem no perfil dos impossibilitados 
de trabalhar por incapacidade física, das mães de famílias mo-
noparentais, dos idosos ou mesmo órfãos.
O autor ainda complementa que essa exigência e a simul-
tânea impossibilidade de trabalhar fazem com que esse in-
digente válido passe a ser considerado criminoso e que suas 
Rev Bras Enferm [Internet]. 2016 set-out;69(5):956-63. 961
A trajetória da dependência do crack: percepções de pessoas em tratamentoPedrosa SM, et al.
atitudes justifiquem atos de repressão. Embora o autor se re-
fira à situação de grupos integrantes da história europeia nos 
últimos séculos, consideramos que o perfil de boa parte dos 
participantes do presente estudo se identifique ao de indigen-
te válido. São pessoas que conseguem trabalhar, mas não são 
“empregáveis” e apresentam laços relacionais muito prejudi-
cados, por não os possuírem desde crianças ou tê-los perdido 
quando em processo de uso nocivo ou dependência da droga.
Enfim, segundo os relatos constantes da terceira categoria, 
“Retomar a Vida”, os participantes desejam sair da situação em 
que se encontram, associam esse recomeço à necessidade de 
conseguirem se manter abstinentes da droga e ainda que esse 
desejo de parar com o uso do crack só acontece por iniciativa e 
vontade próprias. Desse modo, os participantes demonstraram 
compartilhar da concepção imperante na sociedade que defen-
de a abstinência como a única via para uma vida considerada 
correta, aspecto também observado em outro estudo(19), além da 
necessidade de uma abordagem que respeite a autonomia e a 
vontade da pessoa que busca o tratamento.
Nesse contexto, é importante a discussão sobre o estigma 
sofrido pelo usuário de drogas, em especial o de crack. Estig-
ma pode ser definido como “uma marca física ou social de co-
notação negativa ou o que leva o portador dessa ‘marca’ a ser 
marginalizado ou excluído de algumas situações sociais”(28). 
Concepções a respeito de como o dependente de drogas é 
“fraco” ou “mau caráter” e que esse problema “não tem solu-
ção” são ideias arraigadas na sociedade e, por consequência, 
nos hábitos dos profissionais de saúde(28), o que pode compro-
meter a aproximação desses profissionais.
E necessário que visualizemos a pessoa em tratamento da 
dependência do crack (que não deve, a nosso ver, ser denomi-
nada de usuário ou dependente de crack), como uma pessoa 
passível de ser sujeito em ações de empoderamento e que 
haja valorização dessa pessoa e fortalecimento da sua autoes-
tima juntamente com sua família. Ações essas que profissio-
nais da saúde, da educação, da assistência social, da seguran-
ça pública, entre outros, podem desenvolver conjuntamente.
Um dos aspectos fundamentais para a reabilitação do de-
pendente do crack é a inserção laboral. Entre dependentes de 
substâncias psicoativas, o prejuízo da falta de vínculo laboral 
geralmente está presente, visto que, não raro, já apresentam 
déficit de formação educacional formal, ou a rotina de uso da 
droga inviabilizou a manutenção do vínculo empregatício, ou 
até mesmo o estigma que sofrem dos empregadores e colegas 
de trabalho(29).
A inserção laboral é uma das bases para a efetiva integração 
das pessoas na sociedade(6). Para os participantes deste estudo, o 
trabalho representa a via para obtenção de dinheiro, recuperação 
da dignidade e do valor perante a sociedade e a família. Revelou-
-se, portanto, fundamental o sustento próprio e o da família por 
meio lícito e estável, o que, no decorrer do uso nocivo de crack, 
se revelou um dos, senão o primeiro, aspectos comprometidos.
No entanto, essa inserção no mercado de trabalho, vis-
ta com esperança pela maioria dos participantes, demanda 
ações conjuntas que devem ser amparadas pela rede de as-
sistência social e acompanhadas de perto pela família e pelos 
diversos parceiros da saúde. 
A Zona de Assistência consiste em uma tentativa de subs-
tituir a sociabilidade primária e oferecer condição, ao me-
nos mínima, de sobrevivência às pessoas que estejam na 
desfiliação(6). O hospital, no presente estudo, representou, 
segundo a fala dos participantes, uma das poucas ferramentas 
da Zona de Assistência para superar as consequências da de-
pendência do crack.
No entanto, uma vez que a dependência de drogas pode 
ser considerada uma condição crônica, é esperado que haja 
recaídas e dificuldades na manutenção do tratamento por par-
te de quem vivencia a dependência(2). 
Outro ponto a ser considerado é que a religiosidade tem 
sido considerada importante recurso para o tratamento con-
tra a dependência de drogas, uma vez que a fé proporciona 
maior qualidade de vida, por instilar esperança. Nesse senti-
do, a pessoa em tratamento da dependência passa a “contar 
com a ajuda de Deus”(30).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A abordagem oferecida a pessoas em tratamento da depen-
dência do crack é complexa e traz consigo um conjunto de 
sentimentos, estigmas e (pré)conceitos por parte de quem as 
aborda. No presente estudo, à medida que esse contato foi es-
tabelecido e esses sentimentos foram elaborados, foi possível 
entender o que os participantes estavam expressando.
Na trajetória do uso e da dependência do crack expressa pelos 
participantes desse estudo, pouco apoio foi relatado. O desafio 
de intervir em algum momento nesse processo pode ser facilitado 
se houver o necessário apoio da família, de amigos, dos empre-
gadores, da religião e, também, da força de vontade dos próprios 
usuários para superar o vício e retomar a vida após o crack.
A utilização do referencial de Robert Castel possibilitou uma 
visão mais dinâmica e próxima da complexidade vivenciada pe-
los participantes do estudo. Porém este referencial trata de uma 
das facetas de um problema

Outros materiais