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CURSO DE DIREITO Direito Penal I Prof. Pedro Rui da Fontoura Porto Conceito de Direito Penal Noções Fundamentais a) Exclusividade do legislador federal; b) Ramo do Direito Público; Funções do Direito Penal: a) Proteção de bens jurídicos de interesse social; b) Proteção da validade da norma penal; c) Prevenção geral e especial; d) Garantismo individual; Relações do Direito Penal com outras disciplinas Ilícito penal, civil e administrativo; a) Independência das esferas; b) Vedação do bis in eaden na mesma esfera; Direito Penal material, processual e execucional; Escola Penal Clássica 1. Beccaria, “Dos Delitos e das Penas”: Mais importante que a crueldade das penas seria seu aspecto duradouro e a certeza da punição. Outros autores: Carrara e Von Liszt; 2. O Crime é um fenômeno que decorre da lei, que diz o que é crime. Não decorre de aspectos sócio- ambientais, psicológicos ou antropológicos que fariam o crime um acontecimento predeterminado. A base ética da pena é o livre-arbítrio. Escola Positivista 1) A escola positivista queria estudar o crime como fenômeno sociológico (Enrico Ferri); antropológico (Césare Lombroso) ou psicológico (Garófalo). 2) Na maioria dos casos, o homem já estava prédeterminado ao crime por fatores ambientais, sociais, psíquicos ou genéticos. 3) Seu mérito foi dar início ao estudo da criminologia, diferenciando-a do Direito Penal. CRIMINOLOGIA POLÍTICA CRIMINAL DOGMÁTICA PENAL ontológica, indutiva, empírica, procura a explicação científica do crime; a prevenção do delito; a intervenção no agente desviante, o estudo da vítima. Parte de estatísticas de casos concretos, para formular suas conclusões; parte dos dados coletados pela criminologia e estabelece programas e metas aplicáveis na legislação e na atuação administrativa. Minimalismo X Tolerância Zero. Expansão do Direito Penal X Garantismo. deontológica, dedutiva, lógica. Matar é crime; quem mata se sujeita a uma pena, salvo se agiu de forma justificada. É o próprio Direito Penal em sentido estrito, deve incorporar os estudos da criminologia e os programas de política criminal. Fontes do Direito Penal Fonte Material: União (art. 22, I, da CF) Fontes Formais: a) Fonte formal imediata: A Lei; b) Fontes formais mediatas: os princípios gerais de direito, a doutrina, a jurisprudência, os costumes (função contrafática da lei). Princípio da Legalidade Penal (desdobramentos) “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal.” (art. 1° do CP) Tipicidade: Nullum crimen nulla pena sine lege Irretroatividade: nullum crimen, nulla pena sine previa lege. Taxatividade (a interpretação de normas incriminadoras não admite ampliações dos conceitos, deve ser restritiva e não extensiva) : nullun crimen, nulla pena sine previa lege escripta e estricta Vedação da coação direta (acusação e julgamento pela autoridade competente, após o devido processo legal) Dimensões da Legalidade Penal Criminal: somente a lei penal pode tipificar crimes; Penal: somente a lei penal pode cominar penas; Processual: o processo penal deve estar totalmente regulamentado em lei; Execucional: toda a execução da pena está regulamentada em lei penal. Princípios do Direito Penal Fragmentariedade e subsidiariedade: Lesividade: não se deve incriminar: a) atitudes internas que não excedam o âmbito do próprio autor (homossexualismo, prostituição, uso privado de drogas) b) estados ou condições existenciais; c) Condutas que não afetem bens jurídicos; Princípio da insignificância ou da bagatela: Não se aplica em caso de reiteração de condutas e deve-se levar em conta as condições da vítima. Proporcionalidade: proibição da proteção deficiente X proibição de excesso de proteção – PRD para traficante. Pena necessária e suficiente. Adequação de meios, proporcionalidade estrita. Humanidade – dignidade da pessoa humana. Lei Penais Incriminadoras Situam-se apenas na parte especial do CP e em Leis Penais Complementares. Descrevem um fato típico e lhe cominam penas: Art. 138 - Caluniar alguém, imputando- lhe falsamente fato definido como crime: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. Leis Penais não incriminadoras JUSTIFICANTES Justificantes (tipos penais permissivos. Ex. arts. 22 a 25 do CP). Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Leis não incriminadoras Explicativas Não incriminam nem desincriminam mas explicam ou complementam outras normas penais. Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. Caracteres da Lei Penal Exclusividade – só ela pode estabelecer crimes e cominar penas (prisionais e alternativas à prisão) Imperatividade – elas advém da autoridade estatal. Generalidade – eficácia erga omnes. Não se aplicam integralmente aos menores de 18 anos. Abstrata e impessoal – dirige-se para o futuro e não pode visar pessoas pré- determinadas. Norma Penal em Branco Complementação Homogênea: a completa tipificação da lei penal depende da consulta a outra lei de igual hierarquia (penal ou extrapenal); Ex.: Arts. 312 a 326 do CP são crimes que só podem ser praticados por funcionários públicos, mas o conceito deste não está nos artigos e sim no art. 327. Norma penal em branco com complementação homogênea LEI Nº 9.613/1998. Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. Pena: reclusão de três a dez anos e multa. O conceito de infração penal só pode ser localizado em outras leis – princípio da legalidade em matéria penal. Normas penais em branco com complementação heterogênea Complementação Heterogênea: a tipificação é completada pela consulta a textos legais de inferior hierarquia do que a lei, em geral, provenientes do poder executivo: Ex.: portarias, regulamentos, decretos, etc. Norma penal em branco heterogênea Lei 11.343/06 – Norma incriminadora principal Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. Norma explicativa complementar: Art. 66. Para fins do disposto no parágrafo único do art. 1o desta Lei, até que seja atualizada a terminologia da lista mencionada no preceito, denominam-se drogas substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, da Portaria SVS/MS no 344, de 12 de maio de 1998. Analogia (Requisitos) Onde há a mesma razão, aplica-se a mesma disposição. que o fato considerado não tenha sido regulado pelo legislador; este, no entanto, regulou situação que oferece relação de semelhança com o caso não regulado; estarelação de semelhança é aferida pela identidade de razões legais (ratio legis); a regra relativa ao fato semelhante é aplicada ao fato não regulado. Analogia (esquema) Caso A Lei X Caso B → sem regulamentação legal (lacuna da lei) Caso A Caso B (onde significa igualdade de razões para aplicar a mesma lei) Então: Lei X Caso B Analogia em favor do réu (In bonam partem) É admitida em direito penal. Exemplos: 1. Perdão judicial previsto no art. 121, § 5º, do CP aos homicídios e lesões culposas do Código de Trânsito. 2. Possibilidade de desistência da representação da vítima em lesões leves ser aplicada analogicamente para a contravenção de vias de fato. Analogia desfavorável ao réu (In malam partem) Prejudica o réu. Não admitida em direito penal. Lei 10.826/95 Art. 14. Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa No conceito de arma de fogo não se pode compreender armas brancas, armas de pressão, etc. Interpretação Analógica Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. Homicídio qualificado § 2° Se o homicídio é cometido: I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido Pena - reclusão, de doze a trinta anos. Enumeração exemplificativa, findada por fórmula geral. Analogia ≠ Interpretação analógica ANALOGIA é método de integração da norma penal a um fato concreto; Estende-se a aplicação da norma penal a casos por ela não regulados; Só é permitida em favor do réu. INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA é método de interpretação da norma penal; Ocorre sempre que após descrever uma série de casos, o legislador encerra com uma fórmula genérica; Admite-se tanto em favor quanto em prejuízo do réu. Lei Penal no Tempo Vacatio legis (Férias da Lei) Revogação da lei penal (modos): a) Derrogação (parcial); b) Ab-rogação (total); c) Expressa; d) Tácita. Lei Penal no Tempo CP/Art. 2° - Ninguém pode ser punido por fato que a lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único – A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. Irretroatividade da lei mais gravosa Retroatividade da lei mais benéfica Sobreposição dos princípios acima ao da imutabilidade da sentença (coisa julgada): mesmo que o fato já tenha sido definitivamente julgado a lei nova deve retroagir para benefício do acusado, salvo se já cumprida a pena. Lei Penal no Tempo Hipóteses de conflitos de leis penais no tempo: Abolitio criminis (extinção da punibilidade, efeitos sobre IP, processo e execução da pena); Lei nova incriminadora; Novatio legis in mellius (Lei nova mais benéfica); Novatio legis in pejus (nova lei mais prejudicial). Abolitio criminis ou novatio legis in mellius (Lei descriminalizadora ou lei nova mais favorável ao réu) Lei Incriminadora Fato Criminoso Lei Desincriminadora (abolitio criminis) ou lei nova mais favorável (novatio legis in mellius) Retroatividade Lei nova incriminadora Fato penalmente Lei nova incriminadora Irrelevante (do fato até então irrelevante) Não retroage Novatio legis in pejus (lei nova mais prejudicial) Lei Fato Lei nova mais severa Incriminadora Criminoso para o fato criminoso Não retroatividade Leis penais excepcionais ou temporárias Leis Penais Excepcionais e Temporárias Art. 3° - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. Vigência da Lei temporária ou excepcional Fato criminoso X Revogação da Lei Temporária ou excepcional Julgamento do fato X com Aplicação da Lei temporária ou excepcional Exemplos de crimes permanentes Portes ilegais de armas e drogas, sequestros, cárcere privado. CRIMES PERMANENTES Permanentes são aqueles crimes cuja consumação se prolonga no tempo até que cessada a permanência. SÚMULA 711 DO STF – A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência. Crime permanente Lei incriminadora ou lei mais gravosa incidência imediata da lei mais Severa Cessação da permanência Tempo do Crime CP/Art. 4° - Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Teoria da atividade – caso do menor de 18 anos. Contagem de prazos Prazos materiais: “Art. 10 – O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os dias, meses e anos pelo calendário comum”. São improrrogáveis, podem começar e terminar em feriados ou finais de semana. Ex.: Dia 05/07/05, prazo de seis meses termina 04/01/06. Prazos processuais: Art. 798 do CPP. Inicia a contagem a partir do primeiro dia útil; Prorrogam-se até o primeiro dia útil caso terminem em domingo ou feriado. Ex.: Dia 05/07/05, prazo de 10 dias, termina em 15/07/05. Conflito aparente de normas Requisitos: 1. Unidade de fato 2. Pluralidade de normas aparentemente aplicáveis ao caso Princípios para solução: 1. Especialidade; 2. Subsidiariedade; 3. Consunção. Princípio da Especialidade A norma especial sempre revoga a geral: Art. 12 – As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso. Ex. Homicídio e lesões culposas comuns e as do CTB. Princípio da Subsidiariedade A lei primária sempre prevalece sobre a secundária; A lei primária é sempre mais grave que a secundária, revelando um maior grau de violação do mesmo bem jurídico; “Soldado de reserva” 1) Subsidiariedade expressa (art. 132 do CP); Ex.: Lei 8.069/90 Art. 243. Vender, fornecer ainda que gratuitamente, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente, sem justa causa, produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida: Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave. Exemplos de subsidiariedade tácita 2) Subsidiariedade Tácita: subentendida: Há um pressuposto implícito de que não incidindo a norma que mais gravemente atenta contra o bem jurídico, outra norma de proteção menor incidirá. Ex.: Lesão corporal e tentativa de homicídio; Furto e roubo. Homicídio culposoe doloso. Princípio da Consunção (absorção) O crime-fim absorve o crime-meio, quando é etapa necessária para a realização da conduta finalizada. Ex.: Invasão de domicílio para realizar furto ou roubo. Porte ilegal de arma para realizar um homicídio; falsificação de um cheque para realizar um estelionato. Princípio da alternatividade Nos crimes plurissubsistentes, que admitem dois ou mais verbos nucleares, a realização de mais de um deles, na mesma ocasião, não importa em pluralidade de crimes. Receptação qualificada: CP/Art. 180, § 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, coisa que deve saber ser produto de crime: Pena - reclusão, de três a oito anos, e multa Conceito analítico do crime (teoria finalista da ação) CRIME TIPICIDADE CONDUTA ANTIJURIDICIDADE RESULTADO NEXO CAUSAL ADEQUAÇÃO TÍPICA CULPABILIDADE Objeto Jurídico do Delito Bem ou valor tutelado pela norma penal. Todo crime tem um objeto jurídico que é o bem jurídico tutelado. Assim nos crimes contra a honra o objeto jurídico é a honradez humana; No crime aborto o objeto jurídico é a vida do feto, etc. Objeto Material do Delito Prova: depende de auto de apreensão, avaliação, exame de corpo de delito nas infrações que deixem vestígios. Necropsia, exame de conjunção carnal. Sujeitos do crime Sujeito ativo - designações legais; pessoa física e jurídica (esta apenas nos crimes ambientais); a) próprio: crimes praticados por Funcionários Públicos; b) comum: praticados por qualquer pessoa. Sujeito Passivo: indivíduo, sociedade, Estado. Classificação das Infrações Penais quanto ao resultado Crimes de dano: art. 302 e 303 do CTB; Perigo concreto: o perigo está explícito no tipo e deve ser provado – Ex. Arts. 308 e 309 do CTB Perigo abstrato – o perigo está implícito no tipo e por isso é presumido, não necessitando ser provado. Ex. art. 306 do CTB Infrações penais quanto ao moento consumativo Crimes materiais: a consumação do crime só se dá com a produção de um resultado naturalístico. Ex. art. 155 do CP; Crimes formais: a consumação dispensa o tipo descreve como finalidade um resultado naturalístico, mas a consumação independe dele ser alcançado; Ex. art. 158 do CP; Crimes de mera conduta: a consumação independe de qualquer resultado naturalístico, sequer previsto no tipo. Ex.: porte ilegal de arma, falso testemunho, invasão de domicílio. TIPICIDADE Elementos essenciais do tipo ELEMENTOS ESSENCIAIS OBJETIVOS: 1. Sujeitos ativo e passivo, comum e especial; 2. Verbo nuclear: único e múltiplo (Conduta – comissiva ou omissiva, dolosa ou culposa); 3. Objeto: jurídico (comum a todos os crimes é o bem jurídico tutelado) e material (só crimes materiais) ; ELEMENTOS ESSENCIAIS NORMATIVOS: 1. De Interpretação conceitual: Existem nos tipos conceitos jurídicos: funcionário público, documento público. Conceitos técnico-científicos : estado puerperal, doença mental. Conceitos culturais : dignidade ou decoro – art. 140 do CP. 2. Axiológicos: juízo de valoração. São expressões contidas em tipos penais como:“indevidamente”, “meio fraudulento”, “fato juridicamente relevante”. São fortemente subjetivos, mas o juiz deve buscar sua valoração na escala mediana da sociedade. TIPICIDADE ELEMENTOS SUBJETIVOS DO TIPO: DOLO DIRETO Menosprezo DOLO EVENTUAL: Previsão do resultado + ASSUME Indiferença O RISCO DO RESULTADO CULPA Descuido Consciência da ação e do resultado Consciência do nexo causal Vontade de praticar a ação e o resultado Consciente: Agente prevê o resultado Agente não quer nem assume o risco do resultado Inconsciente Agente não prevê o resultado, mas este lhe é previsível CULPA (stricto sensu) Elementos da Culpa • Falta ao dever de cuidado objetivo • Previsibilidade • Resultado danoso e involuntário • Nexo causal entre conduta e resultado • Tipificação legal do crime culposo Imprudência Imperícia Negligência PRETERDOLO Crime preterdoloso: ação dolosa + resultado culposo: “DOLO NO ANTECEDENTE E CULPA NO CONSEQUENTE” Lesão corporal seguida de morte CP/art. 129 – (...) § 3º - Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo: Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze) anos. Observação: Diferença entre tentativa de homicídio e lesões corporais: indícios externos da vontade criminosa; CRIME AÇÃO RESULTADO HOMICIDIO DOLOSO DOLOSA (animus necandi) DOLOSO HOMICIDIO CULPOSO CULPOSA CULPOSO LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE DOLOSA (PARA FERIR – animus laedendi) CULPOSO (maior que o pretendido) Crime: conduta, resultado, relação de causalidade Elementos do fato típico: conduta Caim desfere facada em Abel resultado Abel morre nexo causal (relação de causalidade) A facada que atingiu órgão vitais, provocou hemorragia, decadência da pressão sangüínea e morte adequação típica Conduta, resultado e nexo causal estão previstos no tipo penal do art. 121 do CP. CONDUTA E RESULTADO Conduta Voluntariedade Finalidade: dolo ou culpa Atuação da vontade no mundo exterior Resultado Naturalístico Normativo NEXO CAUSAL (Relação de causalidade) Teoria da equivalência dos antecedentes causais e procedimento de eliminação hipotética. Proibição do regressus ad infinitum: Causa A Causa B Causa C RESULTADO Procedimento de eliminação hipotética – teoria da conditio sine qua non Se eliminando mentalmente a causa A o resultado não ocorre (como ocorreu ao menos), então ela é causa do resultado. Causa A Causa B Causa C RESULTADO CONCAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTES Estas não excluem o nexo causal, pois somam forças com a conduta para a produção do resultado. Antecedentes: hemofilia, aids, etc; Supervenientes: após ser ferido, a pessoa contrai tétano ou septicemia. Concausa superveniente relativamente independente que produziu por si só o resultado É a hipótese excepcional do art. 13, § 1°, CP (exceção à regra anterior) Exclui o nexo causal; Só é possível quando superveniente; Ex.: acidente fatal com o veículo de socorro. OMISSÃO PRÓPRIA 1. São crimes próprios de omissão e só podem ser praticados por omissão. 2. O sujeito ativo não se enquadra nas hipóteses do art. 13, § 2º, do CP (garantidor). 3. Em geral, são crimes de mera conduta. Ex. arts. 135, 319 e 320 do CP. Omissão Imprópria ou penalmente relevante 1. O sujeito ativo tem especial obrigação de agir cfe. Art. 13, § 2º, a, b e c, do CP. 2. São sempre crimes materiais e o sujeito responde pelo resultado a título de dolo ou culpa, desde que haja nexo causal. Nexo causal na omissão imprópria Interposição hipotética da conduta ativa em lugar da omissão Substituição hipotética Omissão penalmente relevante (Omissão Imprópria art. 13, § 2°, CP) Requisitos. a) Abstenção em hipóteses que o agente tenha o dever de agir: Obrigação legalde proteção, cuidado e vigilância; Outra forma de obrigação: contratual; Criador da situação de perigo (incêndio, inundação, acidentes) b) Resultado lesivo; b) Nexo causal entre a omissão e o resultado: procedimento de interposição hipotética da conduta omitida; c) Poder de fato de agir: Caso ausente, trata-se de exclusão da culpabilidade por inexigibilidade de conduta diversa. CRIME TENTADO Iter Criminis: 1.Fase interna (cogitatio ou cogitação, idealização mental do crime) e 2. Fase externa: 2.1 Atos preparatórios 2.2 Atos executórios: estes são idôneos e inequívocos da finalidade; Requisitos do crime tentado: a) Início da execução típica (atos executórios); b) Não consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente; c) Elemento intencional (só dolo) igual ao do crime consumado. CRIME TENTADO Infrações que não admitem tentativa: crimes culposos, preterdolosos e unissubsistentes; Não se pune a tentativa de contravenção penal; Punibilidade da tentativa: quanto mais próximo da consumação, menor a redução. Consumação Redução de 2/3 Redução de 1/3 “Na tentativa o agente quer prosseguir mas não pode. Na desistência voluntária ele pode prosseguir mas já não quer.” Desistência voluntária e arrependimento eficaz (art. 15): Excludentes de tipicidade ou causas de impunibilidade. Tentativa Tentativa Imperfeita Perfeita Desistência Arrependimento Voluntária Eficaz CONSUMAÇÃO Situações em que a reparação do dano até o recebimento da denúncia são causas de impunibilidade: Quitação de cheque sem suficiente provisão de fundos e Pagamento de tributo sonegado para crimes de sonegação fiscal. Arrependimento posterior - Minorante genérica (art. 16), requisitos: 1. delito praticado sem violência ou grave ameaça; 2. reparação voluntária ou devolução do bem até o recebimento da denúncia; Fato Investigação Denúncia Recebimento da MP denúncia p/ Juiz CRIME IMPOSSÍVEL Ineficácia absoluta do meio ou impropriedade absoluta do objeto; Ineficácia relativa do meio ou impropriedade relativa do objeto não caracterizam crime impossível; É uma excludente da tipicidade: há apenas tipicidade subjetiva e não objetiva. ILICITUDE OU ANTIJURIDICIDADE Causas legais de exclusão da ilicitude (art. 23 do CP): a) Estado de necessidade; b) Legítima defesa; c) Estrito cumprimento do dever legal; d) Exercício regular de um direito; Consentimento do ofendido: É uma causa supralegal de exclusão da ilicitude; Requisitos: 1. Consentimento anterior ou concomitante à ação típica; 2. Capacidade e voluntariedade de quem consente; 3. Autorizado ciente de que age com consentimento; 4. Nexo entre a ação, o resultado e o consentimento; 5. Que o bem agredido seja disponível. Consentimento excludente da tipicidade: Crimes contra a dignidade sexual; violência presumida; Invasão de domicílio. ESTADO DE NECESSIDADE Colisão de bens jurídicos tutelados. Requisitos: a) Ameaça a direito próprio ou alheio: b) Perigo atual EMENTA: CRIME. VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL. COMERCIALIZAÇÃO DE DVDS E CDS FALSIFICADOS. ESTADO DE NECESSIDADE. NÃO CARACTERIZAÇÃO. APELO DO MP PROVIDO. Para reconhecimento do estado de necessidade não basta a mera alegação de dificuldades de ordem financeira havendo que se comprovar situação de perigo atual e inevitável de modo a não permitir alternativa que não a prática do ilícito. Apelo do MP provido para condenar a acusada por infração ao artigo 184, § 2º, do CP. (Apelação Crime Nº 70026727073, Quarta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José Eugênio Tedesco, Julgado em 12/03/2009) Requisitos do estado de necessidade Não causado voluntariamente pelo sujeito - refere-se à provocação dolosa da situação de perigo. Em caso de provocação culposa, persiste o estado de necessidade, mas pode configurar-se crime culposo. O comportamento lesivo é inevitável: O sujeito protege o bem de maior ou igual valor; Inexistência do dever legal de enfrentar o perigo. Estado de necessidade defensivo (terceiro participa do fato necessitado) e agressivo (terceiro totalmente inocente). Estado de Necessidade Comportamento lesivo inevitável EMENTA: APELAÇÃO CRIME. FURTO QUALIFICADO. ESTADO DE NECESSIDADE. INSIGNIFICÂNCIA. INOCORRÊNCIA. PENA. Estado de necessidade invocado sem a menor comprovação. Causa excludente que só tem lugar em situações extremas, muito bem caracterizadas, quando evidenciado que não há outra forma do agente de salvar um bem próprio senão lesando terceiro, ao que não afeiçoada a espécie. Não é juridicamente insignificante a conduta correspondente ao invadir automóvel, mediante utilização de chave micha, para subtração de bens afixados em seu interior, cujo valor ainda se mostrava bem superior ao do salário mínimo da época. Réu que atuou na companhia de outro indivíduo, que lhe teria alcançado a micha e indicado o veículo à subtração. Pena- base fixada além do que determinado pela expressão geral do acontecimento. Por maioria, apelo parcialmente provido, para redução da pena reclusiva. (Apelação Crime Nº 70025318262, Sétima Câmara Criminal, Julgado em 30/04/2009)73 Estado de Necessidade. Excesso. Descaracterização da excludente. ◦ Os réus e as testemunha afirmaram que o animal (tatu mulita) foi morto para servir de alimentação para os réus à noite. Indiscutível a miserabilidade dos mesmos, que inclusive pescava com linha de mão o que é mais um indício de sua pobreza. Não há dúvida também que eram pessoas incultas. EXCESSO DOLOSO NO ESTADO DE NECESSIDADE. A quantidade e o valor dos peixes subtraídos da propriedade da vítima - mais de 200 quilos ou o equivalente a R$ 808,00 não permitem acolher a alegação de estado de necessidade. Estado de necessidade putativo – imaginário Minorante do art. 24, § 2º, do CP LEGÍTIMA DEFESA 1. Agressão injusta, 2. Atual ou iminente; 3. A direito próprio ou alheio; 4. Meios necessários; 5. Uso moderado. Excesso doloso e culposo; Legítima defesa real X Legítima defesa putativa; Legítima defesa real X Estado de necessidade; LD recíproca e sucessiva; LD e erro de execução. Legítima defesa putativa Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei Descriminantes putativas § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo. http://ricardo-gama.blogspot.com.br/2010/05/o-soldado-do-bope-que-confundiu- uma.html Estrito cumprimento do dever legal ECDL é o dever que decorre da lei: funcionário público ou quem lhe auxilia: prisões, MBA, apreensões, interdições de estabelecimentos, etc.; Exercício regular de um direito. são condutas permitidas em outros ramos do direito: cirurgias não emergenciais, tatuagens, poder correcional dos pais e professores, violência esportiva, etc.; Ofendículos Exercício regular de um direito ou Legítima defesa predisposta. Proporcionalidade, avaliação técnica e bomsenso. CONCURSO DE AGENTES Crimes monossubjetivos: podem ser cometidos por uma só pessoa. Concurso eventual. Plurissubjetivos: devem ser cometidos por duas ou mais pessoas. Concurso necessário. Teoria monista: exceções pluralísticas. PARTICIPAÇÃO LATO SENSU Principal Autor Co-autor Acessória: participação stricto sensu Participação principal Autor: é quem realiza sozinho o verbo nuclear do tipo; Autoria mediata: é autor quem realiza a conduta por meio de incapaz; Co-autor: todos que realizam o verbo nuclear do tipo. Requisitos da co-autoria: 1. Vontade livre e consciente de colaborar na ação de outra pessoa; 2. Homogeneidade de elemento subjetivo: todos agem com dolo ou todos com culpa. Autoria colateral e incerta. Participação acessória (stricto sensu) É preciso que a conduta principal seja típica e antijurídica, mas não é necessário que o seu autor seja culpável. Modalidades (de participação em sentido estrito): a) Moral: é psicológica, instigação, induzimento e determinação; b) Material: auxílio material ao(s) autor(es). Requisitos: a) Vontade livre e consciente de participar da ação criminosa de outrem; b) Homogeneidade de elemento subjetivo (dolo) ou normativo (culpa): não há participação dolosa em crime culposo e vice-versa. Em tais casos um responde por dolo e outro por culpa. Punibilidade no concurso de agentes Embora partícipes e co-autores incorram nas mesmas penas, cada um deverá responder no limite de sua culpabilidade: é a individualização da pena. Participação de menor importância: cabe apenas ao partícipe em sentido estrito. Cooperação dolosamente distinta Cooperação dolosamente distinta: a) desvio qualitativo b) desvio quantitativo c) previsibilidade do resultado mais grave. Participação impunível: Art. 31 CP Comunicabilidade das circunstâncias do crime Condições pessoais: relações do sujeito com o mundo exterior, v. g., profissão, parentesco, reincidência, semi-imputabilidade, inimputabilidade, etc. Podem ser acidentais ou elementares. Circunstâncias acidentais: não alteram a figura típica, podem apenas aumentar ou diminuir a pena (agravante de cometer o crime contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge). Circ. Elementares: são os elementos do fato típico tanto podem ser circunstâncias objetivas como condições pessoais (subjetivas). Comunicabilidade das circunstâncias pessoais elementares Condições pessoais: a) Elementares: Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. A condição de funcionário público está explícita no art. 312 e por isso é uma elementar. Condição pessoal elementar § 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos b) Condição pessoal não elementar: são por exemplo os casos a seguir. Em tais casos as condições pessoais não integram tipos penais incriminadores. Art. 61, I – reincidência; Art. 181 - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em prejuízo: I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural. Ex. Agente reincidente pratica lesões corporais contra ascendente. Requisitos para comunicação da condição pessoal ao co-autor ou partícipe: a) Que seja elementar; b) Que seja de conhecimento do co-autor ou partícipe.
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