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DIREITO FUNDAMENTAIS À SÁUDE

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1 
 
REDE DE ENSINO DOCTUM 
FACULDADE DOCTUM DE VITÓRIA 
CURSO DE DIREITO 
 
 
ALGEANE DAMASCENA DA VITORIA 
AMILTON CARLOS BANHOS JÚNIOR 
CARLOS HENRIQUE BORGES RIBEIRO 
GABRIEL BARBOSA 
HERICK FREIRE DA SILVA 
WEVERTON DE SOUZA TELES 
 
 
 
GDI – DIREITO FUNDAMENTAIS À SÁUDE 
 
 
 
 
 
 
 
 
VITÓRIA 
 2017 
2 
 
ALGEANE DAMASCENA DA VITORIA 
AMILTON CARLOS BANHOS JÚNIOR 
CARLOS HENRIQUE BORGES RIBEIRO 
GABRIEL BARBOSA 
HERICK FREIRE DA SILVA 
WEVERTON DE SOUZA TELES 
 
 
 
OS DIREITOS FUNDAMENTAIS E SOCIAIS À SAÚDE, TRATAMENTO DE ALTO 
CUSTO E PAPEL DO PODER JURÍDICO NA GARANTIA À SAÚDE. 
 
 
Trabalho apresentado à Faculdade DOCTUM de 
Vitória, a disciplina Teoria da Constituição e 
Projeto Integrador II, assunto abordado os direitos 
fundamentais e sociais à saúde, tratamento de alto 
custo e papel do poder jurídico na garantia à 
saúde. Como requisito parcial para obtenção do 
titulo de Bacharel em Direito. 
 
Orientador: Dra.: Prof..: Letícia de Oliveira 
Ribeiro e Dr.: Prof.: José Eduardo Balikian. 
 
 
 
 
 
VITORIA 
2017 
3 
 
SUMÁRIO 
 
 
1. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ART. 5º CF DE 1988 .............................. 4 
2. DIREITOS SOCIAIS ART. 6º CF .................................................................................... 9 
3. TRATAMENTO DE ALTO CUSTO. .............................................................................. 10 
4. DEFENSORES DO ORÇAMENTO DO ESTADO X DEFENSORES DO DIREITO DO 
PACIENTE. ......................................................................................................................... 11 
5. RESERVA DO POSSIVEL X MINIMO EXISTENCIAL .................................................. 13 
6. PROTESTOS E PASSEATAS PELOS MEDICAMENTOS ........................................... 16 
7. O DIREITO CONSTITUCIONAL DA SAÚDE E O DEVER DO ESTADO DE 
FORNECER MEDICAMENTOS E TRATAMENTOS. .......................................................... 17 
a. O direito à saúde na constituição federal. As faces do direito à saúde ................ 17 
b. O dever do Estado de garantir o direito à saúde ......................................................... 18 
8. CARACTERÍSTICAS DAS DECISÕES JUDICIAIS ..................................................... 23 
9. ANÁLISE DAS DECISÕES JUDICIAIS ........................................................................ 28 
10. ATUAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO NA JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE COMO 
GARANTIA CONSTITUCIONAL ......................................................................................... 40 
11. LEI DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – LEI Nº 8.080/90 ............................................ 42 
12. ATUAÇÃO JUDICIAL NA ASSISTÊNCIA À SAÚDE ................................................... 43 
13. CONCLUSÃO .............................................................................................................. 45 
14. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 46 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
4 
 
1. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS ART. 5º CF DE 1988 
O homem como ser social por natureza fez sociedades, que se tornaram 
cidades, estados e países que por muita das vezes não conseguiram viverem em 
comum acordo, assim que dando origem a varias guerras principalmente em séculos 
passados, mas houve duas grandes guerras mundiais que nunca antes na historia 
da humanidade havia morrido tanta gente e que causou dor, injustiça, desigualdades 
entre raças e etnias, então através de tratados internacionais entre países se 
consolida ainda mais Os Direitos e Garantias fundamentais que são imutáveis na 
Constituição Federal brasileira de 1988, por serem clausulas pétreas. 
Art. 60 CF 
§ 4° Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: 
I - A forma federativa do Estado 
II- O voto direto, secreto, universal e periódico 
III- A separação dos Poderes 
IV- Os direitos e garantias individuais 
Ou seja, as clausulas pétreas não podem sofrer qualquer tipo de discussão 
para passarem por projeto de emenda que terá como intuito tirar algum desses 
incisos. Os direitos e garantias fundamentais não foram criados na constituição 
vigente, mas sim vem passando por momentos históricos nas constituições 
passadas. 
O tema dos direitos e garantias individuais está presente em nosso 
ordenamento constitucional desde nossa primeira Constituição. Apesar disso, ao 
longo da história, sofreríamos períodos de retrocesso, com ditaduras que ignorariam 
por completo tais direitos. É o que veremos a seguir, ao observarmos a progressiva 
aceitação e incorporação dos direitos humanos nas Constituições de nosso país, 
desde a Constituição de 1824 até a nossa Constituição atual, vigente a partir de 
1988. 
Na Constituição de 1824 era um documento de um regime monárquico, ela foi 
outorgada pelo Imperador D. Pedro I, que não estava satisfeito com um projeto 
5 
 
revolucionário trazido pela Constituinte de 1823, decompondo a Assembleia 
Constituinte, surge uma grade revolta no Nordeste do Brasil, conhecida como 
Confederação do Equador. Destacando nesta Constituição a criação do Poder 
Moderador exclusivo do Imperador. 
Era um poder quase absoluto, pois se sobrepunha aos demais, interferindo 
em suas atuações. Mesmo assim, em seu art. 179, esta Constituição traz uma 
declaração de direitos individuais e garantias que, nos seus fundamentos, 
permaneceu nas constituições posteriores. São, basicamente, os direitos de primeira 
geração ou dimensão (direitos civis e políticos). Pode-se dizer que a Constituição 
imperial consagrou os principais Direitos Humanos, como então eram reconhecidos. 
Seguindo os passos da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, a 
Constituição imperial brasileira afirmou que a inviolabilidade dos direitos civis e 
políticos tinham por base a liberdade, a segurança individual e a propriedade (art. 
179). 
A Constituição de 1891 depois da queda da monarquia havia a necessária de 
criar uma nova Constituição. O texto foi encomendado a uma comissão composta 
por lideranças do movimento republicano, entre um dos mais famosos, Ruy Barbosa 
que era Ministro da Fazenda da época, então Congresso vota o texto da 
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, que foi promulgada em 24 
de fevereiro de 1891, texto muito semelhante à Constituição norte-americana em 
suas ideias como presidencialismo o federalismo, da do poder tripartite e acabando 
com o Poder Moderador. 
O voto permanecia, porém, aberto, e os fortes economicamente continuavam 
detendo a política local. Não fazia referência ao voto feminino, nem o proibia, mas 
este só passou a ocorrer a partir de 1920, sendo consagrado na Constituição 
seguinte. Não obstante essa realidade, que restringia o poder a camadas 
privilegiadas, a primeira Constituição republicana ampliou os Direitos Humanos, 
além de manter as franquias já reconhecidas no Império. Entre as conquistas, estão 
as seguintes: a) separou-se a Igreja do Estado; b) estabeleceu-se a plena liberdade 
religiosa; c) consagrou-se a liberdade de associação sem armas; d) assegurou-se 
aos acusados a mais ampla defesa; e) aboliram-se as penas de galés, banimento 
judicial e morte; f) criou-se o habeas corpus com a amplitude de remediar qualquer 
6 
 
violência ou coação por ilegalidade ou abuso de poder (depois se restringe o uso 
deste remédio processual a casos relacionados à liberdade de locomoção); g) 
instituíram-se as garantias da magistratura (vitaliciedade, inamovibilidade e 
irredutibilidade de vencimentos),mas, expressamente, só em favor dos juízes 
federais. 
No Brasil, na Constituição 1934 o Brasil começa a superar a Revolução de 
1930 e o conflito da Revolução Constitucionalista de 1932, quando grande parte dos 
Estados brasileiros e a União entraram em guerra com São Paulo. Sobe ao poder o 
líder civil da Revolução de 1930, Getúlio Vargas que se luta para a questão social 
para o populismo e a ditadura, o texto da nova Constituição era Alemã que deixa de 
ser uma democracia liberal e se torna democracia social. 
A partir de 1934, verifica-se maior inserção dos direitos sociais (direitos de 
segunda geração) nas Constituições brasileiras. Eles exigem do Estado mais 
participação para que possam ser implementados, ou seja, há a necessidade de 
uma atuação estatal positiva. Tais direitos estavam nos art. 115 e seguintes da 
Constituição. Inovando no Direito brasileiro, a Constituição de 1934 estatuiu normas 
de proteção ao trabalhador. Podem-se citar alguns dos princípios aceitos: a) salário 
mínimo capaz de satisfazer as necessidades normais do trabalhador; b) repouso 
semanal e férias anuais remuneradas; c) proibição de diferença de salário para um 
mesmo trabalho, por motivo de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil; d) criação 
da Justiça do Trabalho, vinculada ao Poder Executivo. Esta Constituição também 
cuidou dos direitos sociais e culturais, aceitando os seguintes princípios, entre 
outros: direito de todos à educação; obrigatoriedade e gratuidade do ensino primário, 
inclusive para os adultos; e tendência à gratuidade do ensino ulterior ao primário. 
Além disso, a Constituição de 1934, entre outras coisas, explicitou o princípio da 
igualdade perante a lei, estatuindo que não haveria privilégios, nem distinções, por 
motivo de nascimento, sexo, raça, profissão própria ou dos pais, riqueza, classe 
social, crença religiosa ou ideias políticas; manteve o habeas corpus, para proteção 
da liberdade pessoal, e instituiu o mandado da segurança, para defesa do direito, 
certo e incontestável, ameaçado de autoridade; vedou a pena de caráter perpétuo; 
proibiu a prisão por dívidas, multas ou custas; criou a assistência judiciária para os 
necessitados. Nesta Constituição, as mulheres foram brindadas com uma grande e 
7 
 
merecida conquista: o direito ao voto. Além disso, foi nele que a Justiça Eleitoral foi 
instituído (art. 82 e seguintes). e o voto secreto, assegurado (art. 52, § 1º), iniciando 
o declínio da influência do coronelismo. 
Na Constituição de 1937, Getúlio Vargas impôs a ordem ditatorial no Brasil, 
denominada Estado Nova, revogando a Constituição anterior e promulgando, uma 
nova Carta Constitucional, influenciada pelos grupos nacionalistas que estavam em 
vários países no período anterior à Segunda Guerra Mundial. 
[...] as garantias do Estado Democrático de Direito não eram 
respeitadas. A magistratura perdeu suas garantias. A magistratura 
perdeu suas garantias (art. 177) Um tribunal de exceção, o Tribunal de 
Segurança Nacional, passou a ter competência para julgar os crimes 
contra a Enfim, muitas garantias individuais, até mesmo aquelas que 
não representavam risco nenhum ao regime vigente, perderam sua 
efetividade. 
 A Constituição de 1946 com o final da Segunda Guerra com o surgimento de 
um movimento que buscava os Direitos Humanos e o fim dos regimes de fascista, a 
Ditadura do Estado Novo não continuaria, o povo fez pressão com que o Presidente 
iniciasse a expedição da Lei Constitucional fevereiro de 1945 para a recomposição 
do quadro institucional do estado brasileiro assim foram convocadas eleições para 
Presidente e para Deputados Federais. 
Os direitos sociais foram ampliados, sendo estatuídos, entre outros: a) 
salário mínimo capaz de atender às necessidades do trabalhador e de 
sua família; b) participação obrigatória e direta do trabalhador nos 
lucros da empresa; c) proibição de trabalho noturno a menores de 18 
anos; d) assistência aos desempregados; e) obrigatoriedade da 
instituição, pelo empregador, do seguro contra acidentes de trabalho; f) 
direito de greve; g) liberdade de associação profissional ou sindical. 
Ainda no campo dos direitos sociais, houve sensível ampliação, sendo 
assegurada a gratuidade do ensino oficial ulterior ao primário para os 
que provassem faltas ou insuficiência de recursos. 
Constituição de 1967 No início dos anos 60, no Brasil o clima político estava 
intenso e as forças mais conservadoras clamavam por intervenções, e as forças de 
inspiração socialista e comunista buscavam chegar ao poder então aproveitando 
desse clima de instabilidade política, os militares dão golpe de Estado em 1964, 
8 
 
iniciando-se um período caracterizado por um regime de força, dirigido por um 
governo militar, a constituição sofre inúmeras emendas e teve muitos de seus 
artigos suspensos. A Constituição de 1967 teve um grande retrocesso, se 
comparada com sua antecessora. Entre os prejuízos aos direitos fundamentais, 
destacam-se: a supressão da liberdade de publicação de livros, restrição ao direito 
de reunião, criação da pena de suspensão dos direitos políticos e a manutenção de 
todas as punições, perseguições e exclusões políticas decretadas pelos atos 
institucionais. 
No que diz respeito aos direitos sociais, a Constituição de 1967 inovou 
em alguns pontos, para o bem e para o mal. Primeiro, destaquem-se os 
retrocessos relativos aos direitos do trabalho: a) a redução para 12 anos 
da idade mínima de permissão do trabalho; b) restrições ao direito de 
greve; c) a supressão da proibição de diferença de salários, por motivo 
de idade e nacionalidade, a que se referia a Constituição anterior. 
Apesar dos retrocessos, algumas vantagens foram garantidas, entre 
elas: a) salário-família, em favor dos dependentes do trabalhador; b) 
proibição de diferença de salários também por motivo de cor, 
circunstância a que não se referia a Constituição de 1946; c) 
participação do trabalhador, eventualmente, na gestão da empresa; d) 
aposentadoria da mulher, aos trinta anos de trabalho, com salário 
integral. A Constituição de 1967 representou um esforço pouco eficiente 
de redução do arbítrio contido nos atos institucionais que se seguiram à 
Revolução de 1964. Tentou não se distanciar em demasia do texto 
constitucional de 1946. Pode-se afirmar que a Constituição de 1967 não 
se harmonizou com a doutrina dos Direitos Humanos, pelas seguintes 
razões: restringiu a liberdade de opinião e expressão; deixou o direito 
de reunião sem proteção de garantias plenas; fez recuo no campo dos 
direitos sociais; mantiveram as punições, exclusões e marginalizações 
políticas decretadas sob a égide dos atos institucionais. 
Com os atos institucionais da Constituição anterior que marcou a forma da 
política brasileira com sangue, ao elaborar a Constituição de 1988, o constituinte 
pensava urgentemente em buscar ao máximo constitucionalizar os direitos e 
garantias fundamentais, pois o constituinte via que era de extrema importância para 
o Estado que tais princípios eram mais que necessários para um país que buscava a 
democracia. 
9 
 
2. DIREITOS SOCIAIS ART. 6º CF 
Os direitos sociais são de muita importância para a formação democrática de 
um Estado de direito, e sua manutenção deveria ser de obrigação no país que busca 
a justiça e a democracia em seu povo e no seu território, tais direitos devem ser 
respeitados e cumpridos sendo eles, o direito a saúde, a alimentação, ao trabalho, a 
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à 
maternidade e à infância, e a assistência aos desamparados, que está composto no: 
Caput do art. 6° da Constituição Federal do Brasil. 
A teoria dos direitosfundamentais vem se consolidando a partir da 
Segunda Guerra Mundial em virtude da crença de que a dignidade da 
pessoa humana é um valor que deve fundamentar e orientar todo e 
qualquer exercício do poder. Tal teoria passou a ter relevância no Brasil 
especificamente com o advento da Constituição Federal de 1988. A 
Constituição Cidadã rompeu de vez com o passado autoritário e, no 
lugar da supressão de liberdades imposta durante a ditadura militar, fez 
surgir novos valores, favoráveis à redução das desigualdades sociais, 
aos direitos fundamentais, à democracia e a todos os valores ligados à 
dignidade da pessoa humana. 
Existe um grande descompasso do texto da Constituição e o viver da 
sociedade Brasileira. Vemos que muita das vezes a sociedade não esta tendo seus 
direitos resguardados, como se é dito no texto constitucional, pois vemos que muitas 
pessoas não conseguem ter acesso a uma saúde digna, ficando exposta a situações 
de indignidade ao ser humano, exemplo mais corriqueiro que se tem visto no serviço 
publico de saúde, são milhares de pessoas que tem que ficar em corredores de 
hospitais esperando por atendimento, e muitas das vezes vindo ao óbito pela falta 
de uma boa estrutura na unidade hospitalar. 
 
 
 
 
 
10 
 
3. TRATAMENTO DE ALTO CUSTO. 
A Justiça tem concedido liminar em média em 87% dos casos. Estudo realizado 
pela Interfarma mostrou que a causa da crescente judicialização da saúde são os 
cortes nos orçamentos da saúde pública e o demorado processo de incorporar 
novas drogas ao rol de medicamentos do SUS. O Supremo Tribunal Federal está 
analisando dois casos em que um processo foi instaurado para o fornecimento de 
medicamentos de alto custo, que ainda não tem registro no Brasil e que não estão 
disponíveis no SUS. Os casos reavivam o debate sobre o direito ao acesso à saúde 
e de que forma esse direito deve ser garantido, considerando o impacto que podem 
trazer aos orçamentos dos governos estaduais e governo federal. 
O julgamento foi iniciado em setembro, mas foi suspenso no final do mês, para 
melhor análise do processo. A decisão final criará jurisprudência, que servirá de 
referência para outros casos no Brasil. 
Está em jogo o conceito de Direito à saúde, que é considerado direito 
fundamental pela Constituição de 1988, em seu Art. 196. A lei determina que a 
saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido pelas políticas sociais e 
econômicas que tenham como objetivo a redução do risco de doença, e acesso 
universal igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação 
da saúde. 
Quando a garantia ao tratamento não é respeitada, existe a busca pelo acesso a 
tratamento através de medicamento através de ações judiciais, que obrigam o 
Estado a fornecer os remédios necessários. 
O debate envolve a obrigação do Estado em fornecer remédios de alto custo e 
que não fazem parte dos disponíveis no SUS, a pacientes que não têm condições de 
comprá-los e o fornecimento de remédios que não têm registro na Anvisa (Agência 
Nacional de Vigilância Sanitária). 
Os dois casos que estão sendo analisados pelo STF e que vão balizar as 
decisões para essa questão se referem a uma paciente com mio cardiopatia e 
hipertensão arterial pulmonar, que entrou com ação contra o governo do Rio Grande 
do Norte para obter medicamento de alto custo, que recorreu ao STJ. O outro caso é 
de uma paciente com doença renal crônica e outras complicações, que busca um 
11 
 
remédio sem registro na ANVISA. A paciente é de Minas Gerais e com as negativas 
do estado, recorreu ao STF em 2009. 
O ministro relator, Marco Aurélio Mello, entendeu em seu parecer que o Estado 
brasileiro deve fornecer remédios de alto custo, desde que tais medicamentos 
tenham registro na ANVISA. Aguarda-se agora o voto dos demais dez ministros. 
4. DEFENSORES DO ORÇAMENTO DO ESTADO X DEFENSORES DO 
DIREITO DO PACIENTE. 
Para os representantes do poder executivo, os governos não têm condições 
orçamentárias para fornecer medicamentos que não fazem parte do rol do SUS. Se 
não há recursos por parte do estado para fornecer esses medicamentos, a solução 
seria o aumento de impostos. Torna-se claro que a questão é puramente de ordem 
financeira. 
São usados como argumentos os estudos que demonstram que 70% de todos os 
recursos previstos para compra de medicamentos estão sendo utilizado em casos 
específicos, para remédios de alto custo, que são exigidos através de ações 
judiciais. Apenas os 30% restantes são destinados ao atendimento das 
comunidades. 
Segundo o ministro da Saúde, Ricardo Barros, a demanda para atender as ações 
judiciais cresceram 797% de 2010 a 2015. A Advocacia Geral da União, AGU, 
defende o governo e só deve fornecer os medicamentos que estiverem disponíveis 
no SUS. 
A defensoria pública geral da União, entretanto, afirma que os processos judiciais 
não devem ser vistos apenas do ponto de vista financeiro, mas acolher a perspectiva 
dos doentes que precisam. As demandas judiciais serviram para que alguns 
tratamentos fossem incorporados ao SUS, fazendo com que seus preços fossem 
reduzidos. 
Segundo esse ponto de vista, a exigência pela obtenção dos medicamentos de 
alto custo contribui para melhorar a política de saúde para todos. Por esse motivo a 
questão não deve ser examinada como um problema para o Estado, mas como 
contribuição para o aprimoramento das políticas públicas de saúde. O fato do 
12 
 
medicamento não ter sido ainda registrado na ANVISA não deve impedir que os 
casos fossem atendidos pelo Judiciário. 
É o caso dos pacientes com fibrose cística, uma doença rara, que precisa de 
medicamentos importados. São drogas não registradas pela ANVISA, mas que 
precisam ser compradas pelo Estado e fornecidas aos pacientes, segundo declarou 
o presidente da Abram (Associação Brasileira de Mucoviscidose), que representa 
esses pacientes. 
Em um outro processo que está no Supremo Tribunal Federal e que já se arrasta 
há sete anos, Alcirene de Oliveira, de 37 anos, exige um medicamento para uma 
doença renal crônica, com enfraquecimento dos ossos, o Distúrbio Mineral Ósseo, 
que avança até provocar a morte. Ela precisa do "Cinacalcete", remédio fabricado no 
Canadá. Durante um ano, entre 2008 e 2009, ele conseguiu o remédio com ordem 
judicial, mas depois disso o estado de Minas Gerais suspendeu o fornecimento do 
medicamento. 
O tratamento custa R$2,3 mil por mês e Alcirene não tem condições de comprar 
as três caixas que precisa. 
Existem 23 mil ações semelhantes que estão nos tribunais do país e que serão 
influenciadas pela decisão do STF. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
5. RESERVA DO POSSIVEL X MINIMO EXISTENCIAL 
Em linhas gerais, o principio da reserva do possível, originou-se em um 
julgamento promovido pelo Tribunal Constitucional Alemão no processo judicial 
proposta por estudantes que não haviam sido admitidos nas escolas de Medicina de 
Hamburgo e Munique, em face da limitação do número de vagas em cursos 
superiores adotada pelo país em 1960, com fundamento no artigo 12 da Lei 
Fundamental alemã, que garantia a livre escolha de trabalho, ofício ou profissão. 
A reserva do possível entendida no Brasil é a limitação orçamentária do Estado 
ao promover plenamente a efetivação de um direito fundamental social, garantidos 
constitucionalmente. Desta forma, deve-se fazer uma análise entre as possibilidades 
do ente público e a urgência da pretensão pleiteada, sob pena de, se manejada a 
situação de forma incorreta, causar grave lesão à economia pública ou ferir direitos 
garantidos constitucionalmente que consagram a dignidade da pessoa humana. Tal 
princípio só poderáser invocado pelo Estado quando restar objetivamente 
comprovada a inexistência de recursos financeiros para a realização de determinado 
fim. 
É visto na realidade do Brasil a aplicação de forma errada das verbas pelo 
Estado, em conjunto com a criação de políticas públicas insuficientes para toda a 
população brasileira. Além do espaço que a corrupção tomou em nosso país 
colocando em comprometimento a manutenção da qualidade de vida da população. 
Estes desvios de interesses, bem como a ausência de recursos financeiros, no 
entanto, não podem ter o condão de comprometer o mínimo necessário para a 
existência digna da pessoa humana. 
Contudo, não é possível deixar a mercê do Estado a decisão de implantar ou não 
ao menos uma parcela mínima de cada direito fundamental social necessária para 
garantir a vida digna de cada indivíduo, sob pena de atentar diretamente contra os 
direitos e garantias constitucionais. Esta parcela mínima dos direitos fundamentais é 
chamada Mínimo Existencial, que, no entendimento de Rocha (2005, p. 445) foi 
criado “[...] para dar efetividade ao princípio da possibilidade digna, ou da dignidade 
da pessoa humana possível, a ser garantido pela sociedade e pelo Estado”. 
Conceitua a dignidade da pessoa humana Sarlet (2001, p. 60): 
14 
 
“Temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e 
distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e 
consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste 
sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que 
assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho 
degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições 
existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e 
promover sua participação ativa co-responsável nos destinos da própria 
existência e da vida em comunhão dos demais seres humanos.” 
Portanto, os direitos fundamentais sociais ao serem retidos só são justificáveis 
quando não há violação o mínimo existencial, independente de limitação 
orçamentária por parte do Estado. Vale destacar que o objetivo maior do Estado é 
sempre concretizar integralmente os direitos fundamentais sociais, pois estes são 
indispensáveis para a vida humana digna. Não sendo possível, em razão de 
ausência de recursos, invocando-se neste caso a Reserva do Possível, pelo menos 
o Mínimo Existencial de cada um desses direitos dever ser garantido, porque possui 
prioridade nas destinações orçamentárias. 
Após uma breve análise, percebe-se que o simples fato de um medicamento e/ou 
tratamento de alto custo ou não estar incluído no protocolo do SUS não é justificativa 
para a sua não concessão. Visto que está previsto no art. 6º da CF o direito a saúde 
como um direito social, complementando com o art. 196 dizendo ser dever do estado 
e direito pertencente a todos, no tocante aos recursos que devem ser destinados 
para a viabilização do direito à saúde no país, a Emenda Constitucional n° 29, de 13 
de setembro de 2000, “acrescentando o § 2° ao art. 198, estabeleceu a 
obrigatoriedade da aplicação, anualmente, de recursos mínimos pela União, os 
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, em ações e serviços públicos de saúde. 
No que se refere a integração da pessoa portadora de deficiência, de acordo com o 
Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, possibilitando a reabilitação a 
concessão de órteses, próteses, bolsas coletoras e materiais auxiliares. 
Nesse entendimento, Paranhos (2007) leciona que: 
Extrai-se do art. 1°, inciso III, da Constituição da República Federativa do 
Brasil, de 5 de outubro de 1988, que a dignidade da pessoa humana é 
um dos fundamentos da República Federativa do Brasil. Logo, não há 
como recusar que um dos requisitos para a existência dessa dignidade 
15 
 
de que trata a Constituição Federal, é a saúde pública (PARANHOS, 
2007, p. 155). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16 
 
6. PROTESTOS E PASSEATAS PELOS MEDICAMENTOS 
Vem acontecendo vários protestos em estados do Brasil, numa mobilização com 
o tema "Minha vida não tem preço". O objetivo é sensibilizar os ministros do 
Supremo Tribunal Federal para a causa dos pacientes. 
No final de setembro, houve manifestação na Avenida Paulista, com famílias e 
portadores de síndromes raras. Também no Rio de Janeiro, houve protesto em 
frente à Igreja da Candelária, onde, com chuva, os pacientes reivindicaram a saúde 
como um dever do estado. Em Porto Alegre, a manifestação aconteceu no centro 
histórico, como familiares e pacientes defendendo o direito a tratamento. Os 
protestos pediram apoio da população para que o SUS forneça os medicamentos de 
alto custo para aqueles que deles dependem para sobreviver. 
Na véspera da votação do dia 28 de setembro, que foi posteriormente suspensa, 
pacientes e familiares fizeram vigília em frente ao edifício do STF. Em Recife, 
famílias de crianças com microcefalia e outras doenças raras, se organizaram em 
grupo, porque os remédios que precisam são caros e não estão nas farmácias 
públicas. Há casos, por exemplo, de pacientes que sofrem de convulsão, cujo 
tratamento é indispensável e de alto custo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17 
 
7. O DIREITO CONSTITUCIONAL DA SAÚDE E O DEVER DO ESTADO DE 
FORNECER MEDICAMENTOS E TRATAMENTOS. 
Recentemente, o Supremo Tribunal Federal começou a definir as regras básicas 
e os parâmetros a serem adotados para a concessão de medicamentos ou 
tratamentos de saúde não oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nem 
integrantes do protocolo de alto custo. A questão da “judicialização” da saúde já dura 
anos e ainda persistirá, em razão da contínua e reiterada omissão do Estado em, 
efetivamente, garantir a saúde digna dos cidadãos. Neste contexto, pertinente uma 
reflexão acerca deste dever do Estado, face à Magna Carta de 1988. 
a. O direito à saúde esculpida na constituição federal. As faces do 
direito à saúde 
O direito à saúde se insere na órbita dos direitos sociais constitucionalmente 
garantidos. Trata-se de um direito público subjetivo, uma prerrogativa jurídica 
indisponível assegurada à generalidade das pessoas. In verbis: 
“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido 
mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução dos 
riscos de doença e de outros agravos e o acesso universal e igualitário 
às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. 
Tal preceito é complementado pela lei 8.080/90, em seu artigo 2º: 
“A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado 
prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”. 
Para uma perfeita análise da questão, imperiosa a própria definição de saúde. Nos 
dizeres de Henrique Hoffmann Monteiro Castro, a saúde (2005): 
“Corresponde a um conjunto de preceitos higiênicos referentes aos 
cuidados em relação às funções orgânicas e à prevenção das doenças. 
"Em outras palavras, saúde significa estado normal e funcionamento 
correto de todos os órgãos do corpo humano", sendo os medicamentos 
os responsáveis pelo restabelecimento das funções de um organismo 
eventualmente debilitado”. 
 
18 
 
O autor mencionado (2005), ainda complementa que a tutela do direito à 
saúde apresentaria duas faces – uma de preservação e outra de proteção. Enquanto 
a preservação da saúde se relacionaria às políticas de redução de risco de uma 
determinada doença, numa órbita genérica, a proteção à saúde se caracterizaria 
como um direito individual, de tratamento e recuperação de uma determinada 
pessoa. 
Ademais, também é interessante a definição proposta por HewerstonHumenhuk (2002): 
“A saúde também é uma construção através de procedimentos. (...) A 
definição de saúde está vinculada diretamente a sua promoção e 
qualidade de vida. (...) O conceito de saúde é, também, uma questão de 
o cidadão ter direito a uma vida saudável, levando a construção de uma 
qualidade de vida, que deve objetivar a democracia, igualdade, respeito 
ecológico e o desenvolvimento tecnológico, tudo isso procurando livrar 
o homem de seus males e proporcionando-lhe benefícios”. 
A Lei Fundamental não faz qualquer distinção no que tange ao direito à 
saúde, englobando expressamente o acesso universal a ações de promoção, 
proteção e recuperação de saúde, nos âmbitos individual e genérico. Seguem-se as 
linhas traçadas pela Organização Mundial de Saúde, segundo a qual, a saúde se 
caracteriza como o completo bem estar físico da sociedade e não apenas como a 
ausência de doenças. 
A questão do fornecimento de medicamentos e tratamentos pelo Estado se inclui, 
obviamente, na faceta de proteção à saúde. 
b. O dever do Estado de garantir o direito à saúde 
Uma vez que a saúde se tipifica como um bem jurídico indissociável do direito 
à vida, é certo que o Estado tem o dever de tutelá-la. Consoante André da Silva 
Ordacgy (2007): 
“A Saúde encontra-se entre os bens intangíveis mais preciosos do ser 
humano, digna de receber a tutela protetiva estatal, porque se 
consubstancia em característica indissociável do direito à vida. Dessa 
forma, a atenção à Saúde constitui um direito de todo cidadão e um 
19 
 
dever do Estado, devendo estar plenamente integrada às políticas 
públicas governamentais”. 
A Constituição Federal, em seu supracitado artigo 196, contém uma norma de 
natureza programática, demandando complementação legislativa ordinária. Assim, 
como pondera Henrique Hoffmann Monteiro Castro, (2005) “o Estado assume a 
responsabilidade na criação dos serviços necessários à saúde e o faz por via de 
normas infraconstitucionais”. 
Neste contexto, houve a edição da lei 8.080/90, regulamentando o Sistema 
Único de Saúde, bem como estabelecendo princípios e diretrizes para a saúde em 
nosso país. 
Mediante a criação do SUS, foram definidos os papéis das esferas 
governamentais na busca da saúde, considerando-se o município como o 
responsável imediato pelo atendimento das necessidades básicas. Explicita 
Henrique Hoffmann Monteiro Castro (2005): 
“Nesse âmbito, estabeleceu-se uma divisão de tarefas no que tange ao 
fornecimento de medicamentos, de maneira que o sistema básico de 
saúde fica a cargo dos Municípios (medicamentos básicos), o 
fornecimento de medicamentos classificados como extraordinários 
compete à União e os medicamentos ditos excepcionais são fornecidos 
pelos Estados. Percebe-se, claramente, a composição de um sistema 
único, que segue uma diretriz clara de descentralização, com direção 
única em cada esfera de governo”. 
Na realidade, para os cidadãos, deve ser indiferente como o Estado se 
organiza para promover o direito à saúde. O importante é que efetivamente o 
assegure. Subsiste o direito das pessoas de exigir que o Estado intervenha 
ativamente para garanti-lo. Não é passível de omissão. 
O Poder Público, qualquer seja a esfera institucional no plano da organização 
federativa brasileira, não pode se mostrar indiferente ao problema da saúde da 
população, sob pena de incidir, ainda que por censurável omissão, em grave 
comportamento inconstitucional. 
20 
 
A interpretação da norma constitucional não pode se dar no sentido de uma 
simples promessa inconsequente. O SUS não deve atuar como uma rede sem 
sentido, sem compromisso social. 
Do dever do Estado de fornecer medicamentos e tratamentos não oferecidos 
pelo Sistema Único de Saúde. A “judicialização” da saúde 
A precariedade do sistema público de saúde, aliada ao insuficiente 
fornecimento de remédios gratuitos ocasionou no nascimento do fenômeno da 
“judicialização da saúde”. Nas palavras de André da Silva Ordacgy (2007): 
“A notória precariedade do sistema público de saúde brasileiro, bem 
como o insuficiente fornecimento gratuito de medicamentos, muitos dos 
quais demasiadamente caros até paras as classes de maior poder 
aquisitivo, têm feito a população civil socorrer-se, com êxito, das tutelas 
de saúde para a efetivação do seu tratamento médico, através de 
provimentos judiciais liminares, fenômeno esse que veio a ser 
denominado de “judicialização” da Saúde”. 
O caráter programático da regra expressa na Lei Fundamental tem sido 
complementado pelas decisões do Judiciário, evitando que o Poder Público fraude 
as justas expectativas nele depositadas pela coletividade. 
Ora, em sendo o direito à saúde indissociável do direito à vida, torna-se 
inconcebível a recusa no fornecimento gratuito de remédios e/ou tratamentos a 
paciente em estado grave e sem condições financeiras de custear as respectivas 
despesas. 
Complementa André da Silva Ordacgy (2007), que é “inquestionável que esse 
direito à saúde deve ser entendido em sentido amplo, não se restringindo apenas 
aos casos de risco à vida ou de grave lesão à higidez física ou mental, mas deve 
abranger também a hipótese de se assegurar um mínimo de dignidade e bem-estar 
ao paciente”. 
As recentes decisões judiciais determinando o fornecimento de remédios e/ou 
tratamentos não oferecidos pelo Sistema Único de Saúde, inclusive a título de tutela 
antecipada e mediante a cominação de multa diária, tem representado um gesto 
solidário de apreço à vida e à saúde das pessoas, especialmente daquelas que nada 
21 
 
tem, exceto a própria vida e dignidade. O Estado começou a ser obrigado a fornecer 
gratuitamente remédios de alto custo que não constam da lista do SUS àqueles que 
os reclamarem. 
A busca de parâmetros para o fornecimento de medicamentos e/ou 
tratamentos não oferecidos pelo Sistema Único de Saúde 
O fenômeno da judicialização da saúde, que se intensificou nos últimos anos, 
ocasionando a expedição mensal de milhares mandados em todo o país, tornou-se 
preocupante para o Estado. De acordo com Miriam Ventura (2007), em reportagem 
publicada pelo Centro Brasileiro de Estudos de Saúde, a judicialização envolveria a 
eterna dicotomia entre o individual e o coletivo, sendo que, ao mesmo tempo em que 
o Judiciário evitaria violações de direito por parte do Estado, favoreceria o 
individualismo e a noção de que o Sistema Único de Saúde não funciona. 
André da Silva Ordacgy (2007) pondera que “os entes públicos muito têm 
criticado a “judicialização” da Saúde, principalmente sob a alegação de que essa 
intromissão “indevida” do Judiciário irá acarretar, num futuro próximo, na inoperância 
total do sistema público de saúde, haja vista os representativos gastos financeiros 
disponibilizados para a cobertura das decisões judiciais, que consomem uma boa 
parte do orçamento da Saúde”. E, no mesmo sentido, Morton Scheinberg (2009) 
assevera que, embora os entes públicos afirmem que o orçamento estaria 
prejudicado com as liminares concedidas, não se atentam que o imbróglio é causado 
justamente em razão da excessiva lentidão na incorporação de avanços médicos 
pelo sistema básico. 
A celeuma ganhou grandes proporções e a questão foi, recentemente, 
enfrentada pelo Supremo Tribunal Federal. 
O Pretório Excelso reconheceu a obrigação do Estado em promover a saúde, 
mas, concomitantemente, aduziu também a impossibilidade do Estado de custear 
tratamentos e medicamentos ainda em fase experimental pelos laboratórios ou em 
casos em que não se reste comprovada a inviabilidade da utilização de 
medicamentos do SUS. 
Segundo reportagem de Luiza de Carvalho, quando da negativa dos pedidos 
liminares, o ministroGilmar Mendes considerou se tratarem de casos que envolvem 
22 
 
os únicos medicamentos eficientes para as moléstias apresentadas e que não são 
oferecidos pelo SUS, apesar de terem registro na ANVISA. Para ele, o alto custo do 
medicamento não seria motivo para a recusa no fornecimento e, ademais, os 
protocolos clínicos do SUS não seriam inquestionáveis, admitindo a contestação 
pela via judicial. 
Por outro lado, visando limitar o fenômeno da judicialização, o ministro Gilmar 
Mendes ponderou que o Estado não seria obrigado a custear todos os tratamentos e 
remédios em havendo equivalentes no sistema de saúde brasileiro. 
A seu turno, o ministro Ricardo Lewandowski apregoou que o Judiciário deve 
conter as situações de fornecimento de medicamentos não autorizados pela ANVISA 
e de tratamentos em fase experimental no país ou exterior. 
Noutras palavras, privilegiou-se o direito à saúde, sopesando-se o direito individual 
com o direito coletivo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
23 
 
8. CARACTERÍSTICAS DAS DECISÕES JUDICIAIS 
Os pacientes com câncer podem encontrar certo conforto na legislação brasileira. 
O leque de direitos de pessoas portadoras de tal doença procura garantir assistência 
integral tanto pelo Sistema Único de Saúde (SUS) como pelos planos de assistência 
médica. Desse modo, a lei assegura que o paciente tenha acesso a todos os 
mecanismos - procedimentos, medicamentos e equipamentos - necessários à 
manutenção de sua vida e de sua saúde, não somente de forma curativa, mas 
preventiva também. 
Além da assistência integral existem outros direitos não atrelados diretamente à 
saúde, tais como: aposentadoria por invalidez, auxílio-doença, amparo assistencial, 
levantamento do FGTS, do PIS e do PASEP, isenção de imposto de renda na 
aposentadoria, isenção de ICMS, IPI, IPVA na compra de veículos adaptados, 
cirurgia de reconstituição mamária, quitação de financiamento imobiliário, processo 
judicial prioritário, transporte, hospedagem e alimentação durante tratamento fora do 
domicílio. 
A Lei 10.173, de 9/1/2001, acrescentou artigo ao Código de Processo Civil para 
determinar a prioridade na tramitação de procedimentos judiciais em que seja parte 
pessoa com 65 anos ou mais. Esta mesma lei é hoje usada com sucesso, como 
parâmetro para que o paciente de câncer possa requerer também a prioridade no 
andamento de seus processos. Para a obtenção do benefício, deve o paciente, por 
meio de seu advogado, em qualquer fase do processo, requerer isonomia ao juiz da 
causa, baseando-se na fragilidade do estado de saúde e na menor expectativa de 
vida. 
Como acontece na maioria das questões normativas, o que está escrito pode 
gerar diferentes interpretações e, por isso, pacientes com câncer submetidos a 
tratamento com quimioterapia oral esbarram, com frequência, na negativa ao 
fornecimento do medicamento solicitado. 
Que o cidadão tem direito à saúde e o Estado um dever de prestá-la é inegável. 
Mas o reconhecimento deste fato como premissa válida não significa sua 
materialização efetiva. 
24 
 
As implantações das políticas sociais que concretizam os direitos desta natureza 
carecem de recursos que, na realidade, são escassos. Diante das necessidades 
crescentes e dos escassos recursos, surge o problema da escolha de quais casos 
serão atendidos. Quem vai a juízo com uma pretensão, exercendo direito de ação, 
não busca meramente uma decisão judicial, mas sim um efeito fático-jurídico 
concreto. A pretensão relativa a um medicamento ou tratamento não terá seu direito 
atendido com uma mera declaração judicial acerca de sua existência. Busca-se uma 
tutela condenatória ou mandamental, isto é, uma tutela marcada pelo 
sancionamento. O problema maior reside em fazer incidir o sancionamento sobre o 
Estado. 
A primeira questão surge no definir a espécie de obrigação, se de dar ou de 
fazer, pois os meios de coerção já são determinados a partir dessa especificação. A 
fixação de multa diária, por exemplo, é própria das obrigações de fazer e não de dar 
coisa certa ou incerta. A obrigação de fornecer um medicamento é, em linha de 
princípio, de dar coisa certa, mas envolve também a obrigação de disponibilização, 
que em última análise é de fazer algo. Considerá-la obrigação de dar reduz os meios 
de coerção e conduz à ineficácia prática da tutela jurisdicional. 
Qualquer dos meios de coerção apresenta problemas sérios frente ao Estado. A 
pena pelo crime de desobediência, mais própria da tutela mandamental, encontra 
grave óbice na consideração de que a falta de recursos não pode ser diretamente 
imputada ao administrador e a escolha de atendimento de um caso em detrimento 
de outro se encontra em um nebuloso campo próximo ao mérito administrativo. 
A multa diária é um mecanismo normalmente eficaz, mas no caso da Fazenda 
Pública, onera os contribuintes, agravando a carência do Estado, e se fixada em 
patamar elevado, gera o paradoxo de ser mais vantajoso para o beneficiário o 
descumprimento da decisão do que a seu pronto acatamento, já que a multa pode 
lhe fornecer recursos que lhe permitam suprir suas necessidades e ainda restar 
saldo, gerando verdadeiro enriquecimento ilícito. 
Logo, uma das soluções é o bloqueio de valores do erário a fim de custear 
tratamento médico ou fornecimento de medicamento, com estrita fiscalização da 
destinação dos recursos, que podem ser disponibilizados ao próprio beneficiário, 
25 
 
seja ela a parte processual ou não, cumprindo-lhe comprovar os gastos nos autos. A 
medida evita o excesso e permite presteza. 
Nas demandas judiciais que visam compelir o Estado a fornecer determinado 
medicamento encontram-se questões muito amplas no que diz respeito até onde é 
lícito ao Poder Judiciário interferir em ações do Poder Executivo. 
O princípio da separação de poderes é outro argumento a que alguns se apegam 
ao se colocarem opostos ao fornecimento estatal de medicamentos. No entanto, 
entende-se que o Judiciário tem efetivamente poderes para deferir uma ação 
ordinária ou, até mesmo, um mandado de segurança, mediante omissão de políticas 
públicas, a fim de garantir remédios de caráter essencial integrantes da noção de 
mínimo existencial. 
"A jurisprudência tem admitido a intervenção jurisdicional a fim de determinar o 
fornecimento de tratamento médico ou medicação em casos individualizados, 
não obstante as limitações financeiras e orçamentárias". 
As limitações orçamentárias são repelidas como justificativa para o 
indeferimento dos pleitos relativos à saúde pública ao argumento de que prover 
receitas também representa uma obrigação do Estado. 
Qualquer cidadão pode mover demanda judicial buscando tutela condenatória 
ou mandamental a fim de obter prestação positiva do Estado relativa ao direito à 
saúde. Assim, o Judiciário tem filtrado possíveis excessos e concedido apenas os 
remédios indispensáveis à preservação da vida e à manutenção da qualidade de 
vida do doente. 
O Poder Judiciário pode ser demandado a compelir qualquer dos entes 
públicos, União, Estados ou Municípios a prestações positivas na área de saúde, 
desde que fundamente suas decisões. 
O acolhimento de tais pretensões levadas a juízo, na maioria das vezes, 
baseia-se no argumento de que se trata de um direito fundamental, não podendo um 
mero conjunto de leis e atos normativos da Administração Pública ou percalços 
processuais se erigir como obstáculo a efetivação de uma norma constitucional. 
Sustenta-se, geralmente, que existe uma responsabilidade solidária entre 
Municípios, Estados e União. 
26 
 
Um dos principais problemas das ações judiciais é que não se observam os 
regimes de pactuação daassistência farmacêutica, o que pode resultar na 
responsabilização indevida de um ente federado, que terá de arcar com as despesas 
provenientes de liminar judicial até que o caso seja sentenciado. 
O bom senso recomenda que seja observada, como orientação não 
vinculativa, a distribuição de atribuições, pois medicamentos ou tratamentos de alta 
complexidade ou custo pleiteados em vista de um pequeno município poderiam 
consumir significativa parcela do orçamento da saúde. Melhor será acionar o Estado 
Federado ou a União neste caso. 
Havendo solidariedade, surge a questão da possibilidade de o ente acionado 
judicialmente promover a intervenção forçada de outra esfera. Ao invocar as regras 
administrativas de atribuição de competências para afirmar que não está obrigado à 
prestação postulada, o ente administrativo busca a nomeação à autoria de outro 
ente, colocando como alternativa a denunciação à lide para dividir a 
responsabilidade, se reconhecida a solidariedade. 
Cada demanda nova que poderia ter sido evitada representa um entrave à 
rápida solução dos conflitos que efetivamente têm no Poder Judiciária sua única 
solução. Além disso, cada nova demanda que poderia ser evitada através de um 
pedido administrativo representa mais honorários a serem pagos pelo Estado, 
inclusive com defensores nomeados, e tempo com defensores de carreira a quem 
incumbe ordinariamente propor estas ações. 
Contudo, critérios devem ser utilizados a fim de garantir, como disposto na 
Constituição, acesso universal e igualitário. Os tratamentos custeados pelo Poder 
Público devem ser realizados em estabelecimentos nacionais, de preferência ligados 
ao Sistema Único de Saúde (SUS) e, os medicamentos devem ser os genéricos, 
mais baratos e de eficácia comprovada. Outro fator importante é priorizar as 
medidas que visem a prevenção e que sejam indispensáveis para a vida do 
indivíduo. 
Para a imposição de determinada prestação ao Estado, deve-se verificar 
efetivamente se o beneficiário realmente é carente de recursos. Apesar do direito à 
saúde garantida a todos ser dever do Estado, também deve ser suportado pelo 
27 
 
particular, sua família ou pela comunidade, a fim de evitar gastos de recursos, 
comprovadamente escassos, que objetivam reduzir as desigualdades sociais. 
Negar o fornecimento de medicamento sob o argumento de inexistir 
capacidade econômica para ressarcimento ao erário em caso de improcedência do 
pedido, configura latente ofensa ao princípio da dignidade da pessoa humana. O 
perigo da irreversibilidade corre contra o paciente e não contra o Estado, pois uma 
vez ofendida a sua vida ou a sua saúde é que estará configurado o fato realmente 
irreversível. 
A necessidade de estabelecer um padrão de rotina das decisões judiciais é 
também de extrema importância para que os administradores públicos tenham 
previsão das prestações que podem, ou não, ser concedidas pelo Poder Público. 
A fim de oferecer uma forma científica de se garantir o direito à saúde, 
visando o acesso universal e igualitário, defendem-se os chamados Protocolos 
Clínicas e Diretrizes Terapêuticas. Esses protocolos objetivam estabelecer 
claramente os critérios de diagnósticos de cada doença, o tratamento preconizado 
com os medicamentos disponíveis, as doses corretas, os mecanismos de controle, o 
acompanhamento e a verificação de resultados, e a racionalização da prescrição e 
do fornecimento dos medicamentos. 
Os protocolos, as listas de medicamentos que são fornecidos gratuitamente e 
os procedimentos que são cobertos pelo SUS, portanto, são instrumentos para a 
aplicação racional do direito à saúde. Estes devem ser utilizados objetivando garantir 
o direito à saúde para todos, com tratamentos e medicamentos específicos já 
certamente previstos, disponíveis e dentro do orçamento elaborado pelo Poder 
Executivo. Todavia, em se tratando de medicamentos e tratamentos fora da lista 
oficial do Ministério da Saúde, deve-se postular ação oponível ao Estado deixando o 
Poder Judiciário decidir, seja para determinar o fornecimento, seja para eximir de tal 
obrigação, considerando a reserva do possível e a garantia do mínimo existencial. 
 
 
 
 
28 
 
9. ANÁLISE DAS DECISÕES JUDICIAIS 
A questão da existência de um direito à saúde, com correlata obrigação do 
Estado, encontra-se mais ou menos pacificada nos tribunais de todo o país. 
Os autores das ações judiciais afirmam ser portadores de uma doença, no caso o 
câncer, que coloca em risco a sua vida e a sua saúde. Alegam não possuírem 
condições financeiras para adquirir o medicamento e que a assistência farmacêutica 
integral é direito fundamentais garantidas pela Constituição. Argumentam ainda que 
as leis que subsidiam o direito à saúde e à assistência farmacêutica compreendem o 
fornecimento do medicamento por ele necessitado, que estes direitos não dependem 
de regulamentação infraconstitucional para serem exercidos e não podem ser 
condicionados por políticas públicas de saúde ou por questões orçamentárias. 
Do outro lado, os réus (União, Estados e Municípios) defendem que o direito à 
saúde deve ser interpretado em consonância com os demais preceitos 
constitucionais, de forma a atender os interesses de toda a coletividade e que 
atender a pretensão do autor é sobrepor o individual ao coletivo e, que o Poder 
Judiciário não pode ser transformado em um co-gestor dos recursos destinados à 
saúde pública, por afrontar o princípio da separação dos poderes. Argumentam que 
o pedido do autor não se enquadra na padronização da Política de Assistência 
Farmacêutica, que o medicamento pleiteado não possui registro na ANVISA e, que 
principalmente, o Estado possui limitações legais e orçamentárias que obstam a 
garantia da pretensão do autor. 
Em suas decisões os juízes fundamentam que a atuação do Poder Judiciário não 
interfere no princípio da separação dos poderes, mas apenas resguarda um direito 
constitucional. Afirmam, principalmente, que o direito à saúde deve ser garantido 
integralmente, a despeito de questões políticas, orçamentárias ou entraves 
burocráticos. 
As decisões têm como base a afirmação do direito à saúde e à assistência 
farmacêutica como direitos integrais e universais dos cidadãos brasileiros contida na 
Constituição Federal e na Lei Orgânica da Saúde. 
O indeferimento de um pedido para fornecimento de um medicamento, quando 
requisitado junto à esfera de poder inadequada, não significa negar o direito à 
29 
 
proteção da saúde, mas resguardar o interesse do paciente, com procedimentos de 
fiscalização necessários, dentro dos limites para o funcionamento do Sistema Único 
de Saúde. Não é prudente compelir o ente político estadual a realizar vultosos 
gastos, em detrimento daqueles que legalmente lhe competem, para atendimento de 
pleito que extrapola sua seara de atuação no SUS. 
A ameaça de realização de gastos exorbitantes, em decorrência do desrespeito 
aos diplomas normativos consolidados sobre o tema de acesso à saúde, é um risco 
que pode ser minimizado pela observância das normas do Sistema Único de Saúde, 
emanadas de leis e atos normativos pertinentes. Somente assim, mantém-se um 
sistema regido pelo interesse público e balizado, por um lado, pelas exigências da 
universalidade e da equidade e, por outro, pela própria limitação de recursos, que 
deve ser programaticamente respeitada. 
O fornecimento de medicamentos pelo Estado é determinado de forma iterativa 
pelos tribunais de todo o país. Seguem algumas decisões proferidas por diversos 
tribunais. 
EMENTA: AGRAVO – AÇÃO ORDINÁRIA DE FORNECIMENTO 
DE MEDICAMENTO COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE 
TUTELA – FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO AO 
PORTADOR DE NEOPLOASIAMALIGNA PRIMÁRIA – 
PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA – DIREITO 
Á SAÚDE – POSSIBILIDADE. 
1. Necessário é o fornecimento de medicamento, pelo Estado de 
Minas Gerais, ao portador de câncer de cérebro, tendo em vista 
o caráter relevante do direito constitucional protegido (art. 196 da 
CF). 
2. Recurso parcialmente provido. 
(Agravo nº 1.0024.06.215408-3/001, 2ª Câmara Cível do TJMG, 
Belo Horizonte, Relatora: Nilson Reis, julgado em 03/04/2007). 
Trata-se de Agravo de Instrumento interposto pelo Estado de 
Minas Gerais em face da decisão proferida nos autos da Ação 
30 
 
Ordinária de Fornecimento de Medicamento com Pedido de 
Antecipação de Tutela, que concedeu a tutela pretendida e 
determinou que o Estado disponibilizasse imediatamente o 
medicamento relacionado ao autor, na dosagem constante no 
receituário médico, sob pena de multa diária de R$500,00 
(quinhentos reais). 
No recurso, o Estado aduz que o autor não logrou comprovar a 
verossimilhança de suas alegações, uma vez que as provas que lastreiam a peça de 
ingresso não podem ser qualificadas como prova inequívoca do suposto direito 
pleiteado judicialmente. Acrescenta que a despeito de ter sido receitado o 
medicamento solicitado, a responsabilidade pelo seu fornecimento não é do Estado. 
O relator considerou que restava, de forma evidente, ser ilegal e injusta a 
recusa ou omissão no fornecimento do medicamento pretendido pelo autor e a ele 
receitado por profissional médico regularmente credenciado para o exercício da 
medicina, não podendo o autor ficar a mercê do desinteresse das autoridades e da 
insensibilidade dos homens públicos. 
No caso em tela, foram devidamente preenchidos os requisitos necessários 
para a concessão da tutela pretendida. Deu-se, então, parcial provimento ao 
recurso, apenas para decotar a multa diária arbitrada, confirmando, quanto ao mais, 
à decisão "a quo". Contudo, ressalvou-se ao Poder Público, a substituição do 
medicamento por genérico, caso sobrevenha aos autos prescrição médica oficial e 
da ANVISA. 
No mesmo sentido já decidiu o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo: 
MANDADO DE SEGURANÇA. FORNECIMENTO DE 
MEDICAMENTO PELO ESTADO. IMPETRANTE PORTADORA 
DE "CÂNCER DE MAMA". MEDICAMENTO PRESCRITO POR 
MÉDICO OFICIAL E DISPONÍVEL NA REDE PÚBLICA 
ESTADUAL. APELAÇÃO E REEXAME NECESSÁRIO NÃO 
PROVIDOS. (Apelação Cível nº 867.146.5/0-00, 2ª Camada de 
Direito Público do TJSP, São José do Rio Preto, Relator: Corrêa 
Vianna, julgado em 03/03/2009). 
31 
 
No caso em tela, a autoridade coatora informou estar disponível na rede 
pública de saúde a medicação pleiteada, pugnando pela desnecessidade de tutela 
jurisdicional. Logo, não se está diante, como em tantos outros casos, de um pedido 
de caríssimos medicamentos que sequer se encontram previstos nas listas oficiais 
do Sistema Único de Saúde. O que se pretende é simplesmente a entrega do 
remédio já previsto em programa estadual, existindo prova inequívoca nos autos de 
que a Administração havia negado requerimento administrativo de fornecimento do 
medicamento formulado pela impetrante. 
A Carta Magna diz que a saúde é direito de todos e dever do Estado, 
cumprindo desenvolver políticas que visem ao bem-estar do indivíduo e à 
preservação e recuperação de sua saúde. Se o Estado, com verbas oriundas do 
Sistema Único de Saúde, comprometeu-se a dar amparo à saúde, com políticas que 
visem integral assistência à população, o fornecimento de medicamentos aos que 
não possuem condições de adquiri-los é providência de maior relevância. 
No entanto, o direito constitucional de obter tratamento médico tem como 
limite os recursos orçamentários do Poder Público. De fato tem o Estado a obrigação 
de fornecimento de medicamentos, embora restrita somente à verbas repassadas 
pelo Sistema Único de Saúde. E, para que forneçam os remédios, o interessado terá 
que exibir requisição firmada por médico da rede pública, que prescreverá os 
produtos e a dosagem adequada para o paciente, desde que aprovados pelo 
Ministério da Saúde e que estejam disponíveis no país. 
Diante de tal situação a solução a ser dada pelo Poder Judiciário não poderia 
ser outra que não a garantia do acesso da requerente, acometida por enfermidade 
gravíssima, à medicação já distribuída pelo Estado em seu programa oficial. Assim, 
negou-se provimento à apelação e ao reexame necessário, mantendo a concessão 
da segurança. 
O Tribunal de Justiça do Estado de Goiás também já proferiu decisão 
deferindo o fornecimento de medicamentos: 
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO DE DECISÃO QUE 
CONCEDE LIMINAR EM MANDADO DE SEGURANÇA. 
32 
 
PRESENÇA DOS PRESSUPOSTOS AUTORIZADORES DA 
DECISÃO MANTIDA. 
1.Para a concessão da medida liminar deve o juiz examinar a 
presença simultânea de dois pressupostos: se existe relevância 
jurídica no pedido do impetrante e se, em decorrência da 
demora no julgamento da causa, possa resultar a ineficácia da 
ordem judicial, caso só venha a ser concedida ao final. 
2.No caso dos autos, foi a impetrante submetida a uma cirurgia 
para a extirpação de um tumor cancerígeno na mama, 
necessitando, no pós-operatório, de medicamento prescrito por 
profissional da medicina, sob pena de insucesso no tratamento. 
Extrai-se daí que, sendo a saúde um direito constitucional do 
cidadão, não se pode negar que, em casos como este, em que a 
urgência do tratamento PE fundamental para a obtenção de 
resultado satisfatório, agiu com acerto o julgador de primeiro 
grau ao deferir a medida. 
(Agravo de Instrumento nº 67.303-8/180, 2ª Câmara Cível do 
TJGO, Comarca de Rio Verde, Relator: Des. Zacarias Neves 
Coelho, julgado em 03/02/2009). 
Cuida-se de Agravo de Instrumento interposto pelo município de Rio Verde da 
decisão proferida nos autos do Mandado de Segurança em que figura como 
autoridade coatora o Secretário da Saúde do Município de Rio Verde. 
Por meio da referida decisão, o juízo a quo, ao apreciar o pedido de 
concessão de liminar, deferiu-o, ordenando que a autoridade coatora fornecesse a 
medicação solicitada pela impetrante, de forma continuada e permanente, com a 
periodicidade prescrita por seus médicos. 
Nas razões recursais, o agravante sustenta que não está obrigado a fornecer 
medicamentos de alto custo à população carente, não disponível na rede municipal 
de saúde, os quais devem ser adquiridos e fornecidos pela União ou pelo Estado de 
Goiás. 
33 
 
A agravada, quando da impetração da segurança, ponderou que a obtenção 
do medicamento pretendido é um direito assegurado pela Constituição, 
acrescentando que o não-atendimento imediato dessa pretensão representaria 
danos irreparáveis a sua saúde, por já ter sido submetida a uma cirurgia para a 
retirada de um tumor cancerígeno (câncer de mama) sendo a urgente utilização do 
medicamento necessária para o sucesso do tratamento. 
Diante destes fatos, restou evidenciada a presença dos pressupostos 
justificadores da concessão da medida, não havendo razão para modificar a decisão 
de primeiro grau. Por unanimidade de votos, negou-se provimento ao recurso. 
O Egrégio Superior Tribunal de Justiça também já decidiu nesse sentido: 
EMENTA:PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO EM 
MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO LÍQUIDO E CERTO. 
DIREITO FUNDAMENTAL À VIDA E À SAÚDE. 
FORNECIMENTO DE MEDICAÇÃO. CÂNCER. DIGNIDADE 
HUMANA. 
1.A ordem constitucional vigente, em seu art. 196, consagra o 
direito à saúde como dever do Estado, que deverá, por meio de 
políticas sociais e econômicas, propiciar aos necessitados não 
"qualquer tratamento", mas o tratamento mais adequado e 
eficaz, capaz de ofertar ao enfermo maior dignidade e menor 
sofrimento.2.In casu, a impetrante demonstrou necessitar de medicamento 
para tratamento de câncer, nos termos do atestado médico (...) 
3.Extrai-se do parecer ministerial litteris: ainda que não tenha 
havido recusa formal ao fornecimento de medicamentos pela 
autoridade impetrada, o cunho impositivo da norma insculpida no 
art. 196 da Carta Magna, aliado ao caráter de urgência e à 
efetiva distribuição da droga pela Secretaria de Saúde, 
determinam a obrigatoriedade do fornecimento, pelo Estado do 
Paraná, da medicação requerida. 
34 
 
4.As normas burocráticas não podem ser erguidas como óbice à 
obtenção de tratamento adequado e digno por parte do cidadão 
carente, em especial, quando comprovado que a medicação 
anteriormente aplicada não surte o efeito desejado, 
apresentando o paciente agravamento em seu quadro clínico. 
5.Recurso ordinário provido. 
(Recurso ordinário nº 20.335 - PR, 1ª Turma do STJ , 
Relator:Min. Luiz Fux, julgado em 07/05/2007). 
Cuida-se de Recurso Ordinário em Mandado de Segurança interposto em 
face de acórdão prolatado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, que 
extinguiu o processo sem resolução de mérito, nos autos do Mandado de Segurança 
impetrado contra o Secretário Estadual da Saúde, visando a obtençao de 
medicamentos quimioterápicos, para tratamento de câncer. 
A autoridade coatora informou que não houve qualquer pedido administrativo 
de entrega de medicamento por parte do impetrante ou de seu médico, nem 
tampouco qualquer negativa para o seu fornecimento por parte do impetrado. 
O Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade, negou 
a segurança, sob o fundamento de que é imprescindível a existência de ato ilegal ou 
abusivo da autoridade coatora para a concessão do mandamus, o que não foi 
verificado nos autos por ter a impetrante alegada que os órgãos públicos não teriam 
dado as informações denegatórias por escrito. 
Inconformada com o acórdão que indeferiu a petição inicial do Mandado de 
Segurança, a impetrante recorreu ao Superior Tribunal de Justiça. 
O parecer ministerial demonstrou que, no mérito, o recurso merece 
provimento, mesmo que não tenha havido recusa formal ao fornecimento do 
medicamento pela autoridade impetrada, pois o cunho impositivo da norma 
constitucional determina a obrigatoriedade do fornecimento, pelo Estado do Paraná, 
da medicação requerida. A ausência do procedimento administrativo mencionado 
pela impetrada, supostamente necessário à dispensação do medicamento, não 
35 
 
obsta o fornecimento da droga prescrita, eis que o moroso trâmite burocrático não 
pode sobrepor-se ao direito à vida da recorrente. 
Neste diapasão o Superior Tribunal de Justiça decidiu pelo provimento do 
recurso para conceder a impetrante o fornecimento do medicamento requerido. 
O Egrégio Supremo Tribunal Federal também tem proferido decisões nesse 
sentido: 
EMENTAS: 1. RECURSO. EXTRAORDINÁRIO. 
INADMISSIBILIDADE. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS. 
DIREITO À SAÚDE. JURISPRUDÊNCIA ASSENTADA. 
AUSÊNCIA DE RAZÕES NOVAS. DECISÃO MANTIDA. 
AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. Nega-se provimento ao 
agravo regimental tendente a impugnar, sem razões novas, 
decisão fundada em jurisprudência assente na Corte. 
2. RECURSO. AGRAVO. REGIMENTAL. JURISPRUDÊNCIA 
ASSENTADA SOBRE A MATÉRIA. CARÁTER MERAMENTE 
ABUSIVO. LITIGÃNIA DE MÁ-FÉ. IMPOSIÇÃO DE MULTA. 
Aplicação do art. 557, § 2º, c/c arts. 14, II e III, e 17, VII do CPC. 
Quando abusiva a interposição de agravo, manifestamente 
inadmissível ou infundado, deve o Tribunal condenar o 
agravante a pagar multa ao agravado. 
(Agravo Regimental no Recurso Extraordinário 534.908-0, 2ª 
Turma do Supremo Tribunal Federal, Min. Rel. Cézar Peluso, 
publicado em 22/02/2008). 
Trata-se de Agravo Regimental interposto contra decisão que condenou o 
Estado de Pernambuco a fornecer medicamento para tratamento de paciente que 
não pode suportar o seu custo. 
A recusa do Estado em fornecer o medicamento coloca em risco a saúde de 
paciente necessitado e representa desrespeito ao disposto na Constituição Federal. 
O direito público subjetivo à saúde representa prerrogativa jurídica indisponível 
assegurada à generalidade das pessoas pela própria Constituição. 
36 
 
O direito á saúde, além de qualificar-se como direito fundamental que assiste 
a todas as pessoas, representa consequência constitucional indissociável do direito 
á vida. O Poder Público, qualquer que seja a esfera institucional de sua atuação no 
plano da organização federativa brasileira, não pode mostrar-se indiferente ao 
problema da saúde da população, sob pena de incidir, em grave comportamento 
inconstitucional. 
O agravante requereu o provimento do recurso sob a alegação de que não se 
trata de negar tratamento ao paciente, mas sim de fazê-lo de maneira com que se 
garanta a universalidade do fornecimento de medicamentos, mediante a correta 
alocação de recursos. 
O ministro relator, em seu relatório afirmou que o referido agravo não traz 
razões novas para ditar eventual releitura da orientação assentada pela Corte, não 
sobrando, senão, caráter abusivo. Afirmou ainda, que a litigância de má-fé não é 
ofensiva apenas à parte adversa, mas também á dignidade do Tribunal e à alta 
função pública do processo. 
Nestes termos, negou-se provimento ao agravo, por unanimidade de votos, 
mantendo a decisão agravada por seus próprios fundamentos, e condenou a parte 
agravante a pagar à parte agravada multa de 5% (cinco por cento) do valor corrigido 
da causa, ficando condicionada a interposição de qualquer outro recurso, ao 
depósito da respectiva quantia. 
Apesar de teoricamente não ser o Judiciário a esfera adequada para a 
solução de conflitos envolvendo a alocação de recursos na área da saúde, os dados 
mostram que os conflitos judiciais versando sobre o direito à saúde, especialmente 
sobre o fornecimento de medicamentos, cresceram nos últimos anos. 
No mês de abril do corrente ano, o Supremo Tribunal Federal realizou uma 
audiência pública sobre os conflitos ocasionados pelas decisões judiciais para 
discutir a intervenção da justiça no sistema de saúde pública do Brasil, com o 
objetivo de buscar informações que pudessem subsidiar as várias ações que 
tramitam no Tribunal envolvendo, entre outras questões, o fornecimento de 
medicamentos, por ser uma das questões mais sensíveis que hoje afeta as decisões 
não só do Supremo, mas de todo o Judiciário brasileiro. 
37 
 
O Judiciário se manifesta quando há um déficit na prestação do serviço pelo 
Estado. Não se trata de substituir a administração pública pelo Judiciário, mas de 
atuar em situações específicas, quando há falta de vontade ou planejamento. 
Nesses casos, o Judiciário pode e deve intervir para corrigir defeitos na 
administração pública. Culpar o sistema de justiça por falhas de saúde é culpar o 
cidadão que recorre ao Judiciário para resolver seu problema. Não é possível 
justificar para um cidadão que a ação dele não será deferida porque a doença dele 
não está prevista no sistema de saúde ou no orçamento. Essa justificativa é muito 
cruel. 
O financiamento do Sistema Único de Saúde não é de responsabilidade 
exclusiva da União, mas também de Estados e Municípios, cujas parcelas de 
participação serão estabelecidas em leis complementares que ainda tramitam no 
Congresso Nacional. 
É claro que o Estado não pode ser negligente frente a indivíduos que correm 
risco de vida iminente. No entanto, como o direito à assistência farmacêutica 
depende de uma política pública para ser garantido, sob a perspectiva da justiça 
distributiva, é preciso que as necessidades individuais sejam contextualizadas 
dentro da política públicade medicamentos. 
Já que o Judiciário não pode deixar de julgar, nos termos do artigo 126 do 
Código de Processo Civil, deverá aparelhar-se para melhor decidir os conflitos desta 
natureza. 
A decisão jurídica do caso individual, portanto, posta a quem teve a 
oportunidade de acesso ao Judiciário, não pode desconsiderar a política pública 
destinada a garantir o mesmo direito de toda uma coletividade, sob pena de 
privilegiar os interesses de uma pequena parcela da população. 
Os argumentos apresentados nas ações que chegam ao Poder Judiciário são 
tecnicamente questionáveis e sem sustentação científica robusta. Isto porque muitos 
solicitam medicamentos sem comprovação de eficácia e eficiência, sem a adequada 
relação custo-benefício e sem o reconhecimento do Conselho Federal de Medicina. 
Ainda assim o Judiciário acaba por conceder o acesso obrigando o gestor a fornecê-
lo mediante punições. 
38 
 
O sistema jurídico deve garantir a existência de uma política pública de 
medicamentos pautada pela universalidade e equidade, que vise à assistência 
segura e eficaz à saúde dos cidadãos. Também, deve garantir a prestação 
ininterrupta de um serviço público de assistência farmacêutica para todos que dele 
necessitarem. 
A descentralização das decisões no sistema de saúde não pode servir como 
argumento para deixar de atender o cidadão. Quando não houver políticas públicas 
de atendimento à população, há uma responsabilidade solidária dos entes 
federativos (União, Estados e Municípios) de garantir o fornecimento do serviço, sob 
o risco de frustrar o direito de muitos cidadãos que vivem em regiões pobres do país. 
É de suma importância para a manutenção do equilíbrio social que o direito 
reconheça as políticas públicas, devidamente formalizadas. É mister que o sistema 
jurídico garanta que os indivíduos tenham acesso ao serviço público de assistência 
farmacêutica ofertado pelo Estado e padronizado pela respectiva política pública. 
Ou, no caso da inexistência do serviço ou da política, que garanta a assistência 
farmacêutica e determine a prestação do serviço. Para que este direito seja 
garantido de forma adequada para toda a coletividade, é necessário que o sistema 
jurídico conheça os elementos da política pública de medicamentos. 
O ideal seria que as normas do Ministério da Saúde sobre a padronização de 
medicamentos estivessem consolidadas em um único documento para facilitar o 
trabalho dos magistrados e dos profissionais que lidam com o assunto. 
É necessária, também, uma conscientização dos profissionais de saúde 
prescritores dos medicamentos no que se refere à padronização dos itens pelo 
Ministério da Saúde e à promoção do uso racional de medicamentos. 
Estimaram-se em R$ 48 milhões os gastos do governo federal, no ano 
passado, em cumprimento das decisões judiciais na área de saúde pública em favor 
dos pacientes. 
Esta situação pode levar a um desequilíbrio no Sistema Único de Saúde e 
também a uma violação ao princípio da isonomia, previsto na Constituição, visto que 
o fornecimento de determinado medicamento não padronizado para um indivíduo 
pode representar a falta de outro para o restante da coletividade. 
39 
 
Além disso, a dispensação de medicamentos pelo Poder Judiciário sem 
observância da padronização oficial compromete outras diretrizes da Política 
Nacional de Medicamentos, traçadas pela Portaria nº 3.916/98, tais como a garantia 
da segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos e a promoção de seu uso 
racional. 
Há, portanto, dois problemas distintos. De um lado o problema na efetivação 
do direito à saúde por parte do competente órgão do Executivo, no que se refere ao 
fornecimento de medicamento. Por outro lado, há o excesso de intervenção do 
poder Judiciário na política de saúde. 
O segundo problema ocorre porque o Judiciário, visando sanar as possíveis 
omissões dos demais poderes na efetivação do direito à saúde, passou a deferir 
todos os pedidos formulados nas ações judiciais. Isso significa que o Poder 
Judiciário está, de certa forma, sensibilizado com as questões sociais do país e 
procura dar efetividade aos direitos sociais previstos na Carta Magna. 
A intervenção do Judiciário é necessária, principalmente, para coibir abusos 
das autoridades públicas na saúde, devendo atuar no controle da legalidade, 
verificando se estão sendo aplicados os recursos financeiros de acordo com os 
percentuais mínimos constitucionais, se a execução dos serviços está fundada nos 
princípios do Sistema Único de Saúde e conforme as políticas traçadas pelo 
Executivo, se as unidades de saúde estão devidamente abastecidas e, se as listas 
de medicamentos estão sendo revisadas periodicamente. 
 
 
 
 
 
 
 
40 
 
10. ATUAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO NA JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE 
COMO GARANTIA CONSTITUCIONAL 
O acesso universal e integral as ações de saúde foram promovidas pela União 
Estados, Distrito Federal e Municípios com a promulgação da constituição da 
republica federativa do Brasil de 1988. 
Deste modo a constituição da República Federativa do Brasil de 1988 firmou 
expressamente o compromisso do Estado em conceder a toda população um 
acesso pleno e igualitário á saúde. Ilustrando o dever do Estado de promover a 
garantia, convém transcrever excelente ponderação feita por Marcos Salles, 
representante da Associação dos Magistrados Brasileiros, no primeiro dia da 
Audiência de Saúde Pública realizada pelo STF: 
a busca da cura é uma das situações da condição humana em que por 
infelicidade se procura e por felicidade se encontra. Mas a vida, por mais 
fé que se tenha em alguma dogmática religiosa, não pode, no Estado 
democrático de Direito, ser entregue à própria sorte (SALLES, 2009). 
Para fazer cumprir a imposição, a própria Constituição Federal elaborou 
diretrizes a serem cumpridas pelo poder público, estando estampadas nos incisos I a 
III do artigo 198 que assim previu: 
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede 
regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de 
acordo com as seguintes diretrizes: 
I – descentralização, com direção única em cada esfera de governo; 
II – atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem 
prejuízo dos serviços assistenciais; 
III – participação da comunidade (BRASIL, 1988). 
Como bem expresso, o principio básico da saúde é a supervalorização das 
medidas preventivas, sem causar danos e prejuízos aos serviços assistenciais. Por 
tanto, o Estado institui entidades públicas, criando ferramenta de cooperação entre 
estas e o setor privado, visando a garantia da saúde mais igualitária e universal, 
observando as diferenças regionais e sociais existentes no país. 
41 
 
Conforme evidenciado alhures, a Constituição Federal vigente abordou a 
saúde de maneira singular, figurando o rol dos direitos sociais e fundamentais, além 
de diversos dispositivos constitucionais espalhados por todo seu texto legal, que, 
ainda que indiretamente, aludem à saúde. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
11. LEI DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – LEI Nº 8.080/90 
O Sistema Único de Saúde, foi instituído através da Lei nº 8.080 de 19 de 
setembro de 1990, regularizando o artigo 196 da Constituição Federal. 
O Estado deve prover as condições necessárias para que a saúde possa ter o 
seu exercício pleno haja vista, ser um direito fundamental. 
O Estado ainda deve garantir políticas sociais e econômicas que tenham por 
objetivo reduzir riscos de doenças e agravos, ademais devem os estabelecimentos 
de saúde, terem condições para a promoção, proteção e recuperação

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